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EXTENSÃO E

APERFEIÇOAMENTO

“TÓPICOS DE ÉTICA”

GUIA DE ESTUDO

Autora: José Benedito De Almeida Júnior

Coordenação Pedagógica
Instituto Prominas

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e
Editoração
2

SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 3
UNIDADE 1 - A ÉTICA DO DEVER .................................................................................................................. 6
UNIDADE 2 - O UTILITARISMO.................................................................................................................... 12
UNIDADE 3 - OUTRAS OPÇÕES ÉTICAS PARA ALÉM DA TELEOLÓGICA E DEONTOLÓGICA 17
UNIDADE 4 - ÉTICA EMPRESARIAL ........................................................................................................... 23
UNIDADE 5 - BIOÉTICA .................................................................................................................................. 34
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................................. 39

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INTRODUÇÃO

Ética teleológica e ética deontológica

A ética teleológica pode ser compreendia como uma ética dos “fins” (télos em
grego). Essa corrente pressupõe que uma ação ética é aquela que foi orientada por
uma finalidade inabalável. Para ela, “os fins não justificam os meios” justamente
porque, os fins da ação estão presentes em todo o seu decorrer. Em nenhum
momento, pode-se abandoar os princípios da consciência ou do dever. A ética
deontológica pode ser compreendida como a ética do “conveniente”; neste caso, a
ação é orientada pela busca do prazer e a fuga da dor e que não lance mão,
apenas, dos apelos da consciência ou do dever. A seguir analisamos mais
detidamente essas duas correntes.
Em relação ao termo valor podemos entender que se trata de um referencial
importantíssimo do estudo da ética. Em linhas gerais, qualquer que seja a corrente a
qual nos apeguemos, todas estabelecem seus valores, ou seja, seus critérios de
análise dos fatos e circunstâncias. Conforme Sgreccia:

Historicamente, o conceito de valor se constitui na linguagem filosófica por


meio de uma transposição da linguagem econômico-financeira na reação ao
positivismo. O positivismo reconhecia apenas os fatos; o pensamento
fenomenológico (Husserl e Scheler) afirma a relevância na vida do homem
daquilo que se apresenta como tensão, aspiração e dever em relação ao
que simplesmente existe nos fatos. (1996, p. 152).

Não existem somente fatos ou circunstâncias na vida dos homens e das


sociedades, existem igualmente, valores; tais valores, porém, não são somente os
econômicos, mas culturais, morais e religiosos. O problema, então, é o choque
constante entre os fatos e as exigências que eles fazem aos homens e a tentativa de
viver esses valores, segundo Paul Ricoeur: “o valor aparece na encruzilhada de
nosso desejo infinito de ser com as condições finitas de sua realização” (RICOEUR
apud SGRECCIA, 1996, p. 152).
Do ponto de vista de Sgreccia, o estudo dos valores deve proporcionar a
passagem de uma perspectiva do personalismo subjetivista para um personalismo
ontológico. O personalismo é uma corrente filosófica que coloca como principal tema

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de estudo da ética o próprio homem e todos os valores que representam sua vida
ou, em outras palavras, a dignidade da pessoa humana. A ética personalista
encontra raízes na filosofia antiga, especialmente no estoicismo e em Santo
Agostinho. Os referenciais contemporâneos mais significativos são a obra de
Levinas, Mounier e Ricoeur,

Mas o esclarecimento mais importante no terreno dos valores vem do


problema de seus fundamentos, ou seja, se têm eles uma origem e uma
justificativa puramente subjetiva, como simples transcendência do sujetio
sobre a realidade material, da vivência para além da vida orgânica, ou se
têm uma correspondência com a realidade. Também aqui confrontam-se o
subjetivismo e o ontologismo, o personalismo subjetivista e o personalismo
ontologicamente justificado. (1996, p. 152).

Enfim, para Sgreccia, os valores que devem nortear a avaliação ética


contemporânea devem derivar do personalismo, mas não como uma doutrina do
individualismo – personalismo subjetivista – e sim de uma compreensão do
personalismo ontológico, buscando compreender a natureza do homem.
Nesse sentido, pode surgir uma dúvida: quem deve orientar nossas ações, a
lei moral ou a lei civil? Em outras palavras, trata-se de refletir sobre as relações entre
ética e direito. A esfera moral – a ética – não pode ser delimitada pela lei, não pode
ser abrangida pelo direito, porque se tivéssemos que traduzir em códigos de lei
todos os valores morais que norteiam nossas ações tais códigos tornar-se-iam
volumosos demais e sempre insuficientes. Lembremo-nos, como exemplo, que os
dez mandamentos regulavam a vida moral no antigo Israel, mas foram necessários
inúmeros outros códigos para regular as questões civis.
Por outro lado, a lei civil tem uma relação profunda com os valores morais. As
leis civis, direta ou indiretamente, têm por objetivo tornar obrigatoriamente comum
algum valor moral que a subjaz. Isso não significa que é o Estado quem deve dizer o
que é bem e o que é mal, sobre todos os assuntos morais, mas alguns valores são
considerados indispensáveis e necessários para a garantia do bem comum e devem
ser enunciados em forma de lei. Sgreccia, em um movimento radical, inverte essa
relação afirmando: “quando a lei não tutela um bem essencial à convivência e ao

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bem comum a lei não é lei, deve ser mudada e pode ser objeto de ‘objeção da
consciência’” (1996, p. 83).
Esse debate entre ética laica e ética religiosa. Em geral, afirma-se que a ética
laica está fundamentada na razão e nos valores da consciência ao passo que a ética
religiosa estaria fundamentada nos dogmas e na fé. Ora, nem a ética laica é senhora
da razão e da consciência e nem somente a ética religiosa prescinde
necessariamente da razão e da consciência. Proposto dessa forma, dá-nos a
impressão de que a ética religiosa, por ter como valores fundamentais o dogma e a
fé, não reconhece ou não utiliza os princípios da racionalidade e os chamamentos
da consciência. Por outro lado, por não se fundamentar na fé, a ética laica não é,
necessariamente, anti-religiosa, ao contrário, há muitos pontos de convergência de
ambas as éticas.

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UNIDADE 1 - A ÉTICA DO DEVER


1
Por José Benedito de Almeida Júnior

Entende-se por ética do dever aquela corrente de pensamento que propõe


como princípio ético, fundamental, determinados valores considerados corretos e os
quais não podem ser violados. Quaisquer que sejam as circunstâncias, deve-se
sempre utilizar, como parâmetro para definir a ação, os valores éticos fundamentais.
Essa corrente de pensamento toma como modelo, para a ética, os
fundamentos epistemológicos da matemática e da geometria clássicos, os quais
partem dos axiomas para o desenvolvimento de raciocínios dedutivos. Os valores
éticos pré-determinados seriam como tais axiomas, por isso, alguns estudiosos
também denominam essa corrente de pensamento como axiomática.

Aristóteles
Aristóteles (384 – 322 a.C.) pode ser considerado um dos fundadores dessa
forma de pensamento. Escreveu algumas obras sobre ética, sendo a mais
conhecida a Ética a Nicômacos.
Aristóteles divide as ciências em três partes: a teorética, as poéticas e as
práticas. As ciências teoréticas (como a Filosofia Primeira ou Metafísica) são
aquelas cujo objeto de estudo são puramente intelectuais ou, sob outro ponto de
vista, é a ciência da sistematização de todo o saber. As ciências poéticas são
aquelas do “saber fazer”, cujo objeto de estudo é a ciência da produção, a estratégia
militar, as artes, em geral, são exemplos dessas ciências. As ciências práticas são
aquelas que têm, por objeto de estudo, a conduta dos homens e os fins que
pretendem atingir. Nesse sentido, duas são as ciências práticas: a ética e a política.
Todas as ações humanas tendem a atingir determinados fins. Esses
fins particulares tendem, por sua vez, a um fim supremo que é a felicidade. Ou seja,
todas as ações humanas têm por objetivo último atingir a felicidade. Aristóteles,
porém, observa que a felicidade não se encontra no prazer físico, pois isto nos
tornaria semelhante aos animais; também não se encontra nas honrarias, no

1
José Benedito de Almeida Júnior é professor de Filosofia na Universidade Federal de Uberlândia;
mestre e doutorando em Ética e Filosofia Política pela Universidade de São Paulo.

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entanto, o título de honra é menos valioso do que os atos que levam a recebê-lo; as
riquezas também não são a felicidade, porque a riqueza deve ser considerada um
“meio para os fins”, não sendo um fim em si, não pode ser a verdadeira felicidade.
Resta-nos, então, compreender que a felicidade deve ser buscada naquilo
que é essencialmente humano, em algo intrínseco ao homem e que seja um fim em
si mesma. Para Aristóteles, viver conforme a razão é a realização plena do ser
humano e a forma de atingir a felicidade. Adverte, porém, que a felicidade não será
conhecida por um único dia, mas só poderemos ter idéia do que é ser feliz ao final
de nossas vidas.
Para Aristóteles há três espécies de amizade. A primeira, é aquela na qual a
amizade é baseada no interesse que une duas pessoas, ou seja, estão juntas no
trabalho ou na escola, conversam, mas gostam mais do que uma pode ser útil à
outra do que da pessoa mesmo. Para Aristóteles, esse tipo de amizade não é falsa
ou ruim, só não é perfeita. Por exemplo, o aluno não precisa ser amigo do diretor da
escola para terem relações cordiais e de respeito mútuo.
A segunda é aquela na qual a amizade é baseado no prazer de conviver com
a pessoa, não por ela mesma, mas porque ela é agradável e gostamos de seu jeito
agradável. Um exemplo é gostar de um cantor famoso. Nós gostamos de ouvir suas
músicas, principalmente porque elas nos trazem boas recordações de nossas
próprias vidas. Para Aristóteles, esse tipo de amizade, como a primeira, não é falsa
ou errada, só não é perfeita.
A terceira espécie é a amizade verdadeira, isto é, aquela que está baseada
no gostar da outra pessoa pelo que ela é e não pelo que ela faz que seja útil ou
agradável para nós. Diz Aristóteles:

“A amizade perfeita é a existente entre as pessoas de boas e semelhantes


em termos de excelência moral; nesse caso, cada uma das pessoas quer
bem à outra de maneira idêntica., porque a outra pessoa é boa, e elas são
boas em si mesmas. Então, as pessoas que querem bem aos seus amigos
por causa deles são amigas no sentido mais amplo, pois querem bem por
causa da própria natureza dos amigos, e não por acidente”. (1996, p. 263)
Para Aristóteles, este tipo de amizade é perfeita, mas não seremos amigos
de toda a humanidade desta forma, a amizade verdadeira é sempre de um
número pequeno de pessoas.

Aristóteles considera que o homem é essencialmente razão, mas não é


somente razão. Os desejos do homem, muitas vezes se opõem à razão e, por isso,

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devem ser moderados por meio do hábito. Portanto, a ética não trata somente do
conhecimento e distinção do bem e do mal, mas também do meio pelo qual se
atinge a felicidade. Nossas “paixões” ou “desejos” nos levam ao excesso ou à falta
em nossas ações e a razão deve fazer com que permaneçamos no “meio termo”.
Por exemplo, a mediania entre a temeridade e a covardia é a coragem,
porque é preciso saber atacar quando se pode, e também recuar, quando se deve; o
excesso de medo e a falta de medo não são característicos do homem que vive
conforme a razão. A mediania entre a avareza e a prodigalidade é a liberalidade,
porque o excesso de apreço pela riqueza e o absoluto desprezo pela riqueza são
dois extremos que devem ser evitados. Assim, a maior das virtudes éticas é a
justiça, pois segundo ela se distribuem os bens, os ganhos, as vantagens e os
contrários disso.
Há ainda as virtudes “dianoéticas”, que são a sabedoria (phrónesis) e a
sapiência (sophia). A sabedoria é saber deliberar corretamente sobre o que é bem
ou mal para o homem. A sapiência é o conhecimento das realidades que se
encontram acima das questões materiais concretas. É a contemplação das verdades
que a razão pode atingir.
A ética de Aristóteles influenciou de modo decisivo todo o pensamento do
período helenístico e cristão. No entanto, acrescentou-se à sua filosofia, as virtudes
cristãs: a humildade, a caridade, a piedade etc. A filosofia cristã desenvolveu o
campo da ética acrescentando as contribuições que recebeu da antiguidade à moral
provinda da Bíblia e das comunidades cristãs.
Pode também ser considerada uma “ética do dever” porque a ética no
cristianismo é caracterizada por princípios fundamentais que não são questionáveis
(como a caridade) e que devem orientar a ação independentemente das
circunstâncias. Dentre os vários aspectos da ética cristã, destaquemos a resposta
de Santo Agostinho ao paradoxo socrático de que é “impossível conhecer o bem e
praticar o mal”.
Santo Agostinho

Para Santo Agostinho (354 – 430 d. C.), a liberdade não está relacionada à
razão, mas à vontade. A razão pode nos fazer distinguir o que é bem e o que é mal,

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mas é a vontade que nos leva a decidir por um ou por outro. Portanto, a razão pode
nos dar a conhecer as opções de escolha, mas é a vontade que nos fará decidir.
Como se vê, Santo Agostinho é partidário da doutrina do livre-arbítrio, ou seja,
Deus não pré-determina o que o homem irá fazer ou deixar de fazer. Assim, recai
sobre o homem o direito e o peso da escolha. Mas a doutrina da graça divina
equilibra essa situação de direito e responsabilidade ao propor que a graça não
suprime a vontade do homem, mas tem o poder de torná-la boa. O ponto supremo
da liberdade é poder fazer o mal, mas não fazê-lo, por escolher o bem.

Immanuel Kant

A ética de Immanuel Kant (1724 – 1804) é caracterizada por dois


conceitos fundamentais: os imperativos categóricos e os imperativos hipotéticos.
Sua doutrina foi fundamentada na obra Crítica da Razão Prática e mais tarde numa
outra obra intitulada Metafísica dos Costumes. Para Kant, a razão humana não é
somente teórica, ou seja, não tem por capacidade somente determinar como
podemos conhecer, mas também é prática, ou seja, capaz de determinar a vontade
e, conseqüentemente, a ação moral.
Tanto no que se refere ao campo teorético (aqui, Kant utiliza as mesmas
divisões da ciência de Aristóteles) quanto ao campo prático, Kant toma como
modelo, para elaborar sua obra filosófica, o sucesso que Newton teve no campo da
física, isto é, descobrir leis gerais que possuem valor universal. Na Crítica da Razão
Prática, seu objetivo é descobrir as leis morais que tenham valor universal, que
sejam válidas para todo ser racional.
Os princípios práticos são regras gerais, determinações da vontade. Alguns
exemplos são: “cuida de tua saúde”, “evita o cansaço excessivo” entre outros
semelhantes. Note que esses princípios são válidos para todos os seres humanos,
mas há ainda certa confusão em suas proposições. Por isso, Kant distingue os
princípios práticos em máximas e imperativos.
As máximas são subjetivas, portanto valem somente para o homem que a
propõe, por exemplo, “vinga-te de quem te ofende.” Essa máxima não pode se impor
a todo ser humano, porque não é um princípio racional. Os imperativos, por sua vez,

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são princípios práticos objetivos e possuem validade universal (como as leis de


Newton). Evidentemente, a intervenção de fatores emocionais e empíricos pode
modificar a vontade, mas se a razão for o único guia da ação, os imperativos
deveriam ser atendidos.
Os imperativos, por sua vez, são divididos em dois grupos: os imperativos
hipotéticos e os imperativos categóricos.
Os imperativos hipotéticos são regras válidas para a ação humana, mas sua
maior característica é a de que são meios para atingir determinado fim. Por exemplo,
“se queres ir bem nas provas, estuda”. Um imperativo desse tipo visa atingir um
determinado fim, por isso é hipotético, mas é válido para todo aquele que quer
atingir esse fim, por isso, é imperativo, ou seja, necessário. Os imperativos
hipotéticos, por sua vez, são divididos ainda em dois grupos: as regras de habilidade
e os conselhos de prudência. As regras de habilidade são imperativos hipotéticos
que visam atingir um determinado fim preciso ou específico, o exemplo acima ilustra
esse modo; os conselhos de prudência, também são hipotéticos na medida que
visam um fim determinado, mas não têm um objeto específico, por exemplo, a
felicidade. Para atingi-la “deve ser cortês com todos”.
O imperativo categórico determina a vontade sem possuir um fim específico a
ser atingido, trata-se de cumprir a regra pelo estrito dever de cumpri-la. São leis
práticas que valem para todo ser racional, incondicionalmente. O exemplo mais claro
do imperativo categórico pode ser enunciado da seguinte forma: “age de tal modo
que todos possam agir da mesma maneira e manter a ordem”. Ora, se nossa ação,
repetida por outro, pode trazer prejuízo para nós mesmos, então, ela não pode ser
um imperativo categórico.
Kant acreditava que a humanidade deveria caminhar da heteronomia para a
autonomia. Heteronomia significa viver conforme as normas ou regras alheias
(hetero = diferente, alheio; nomos = lei, norma). A autonomia, por sua vez, significa
viver sob suas próprias leis ou normas. Ora, Kant não estava propondo que se
abandonassem as leis civis, ao contrário, quando essas leis estão de acordo com a
ordem, devemos perceber que são boas e assumi-las como nossas. Quando uma lei
fere nosso interesse particular imediato, mas traz um benefício maior, inclusive para
nós, então a admitimos como boa, passamos da heteronomia para a autonomia. Por

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exemplo, se não tenho dinheiro e penso em roubar para obtê-lo estou ferindo um
direito de propriedade. Ora, a mesma lei que me impede de roubar para obter o que
preciso, protege-me contra quem deseje tirar o que não tenho alegando que
necessita desses bens. Quando percebo que essa lei é boa e assumo como
fundamental para a sociedade, ultrapasso os limites da heteronomia e caminho na
direção da autonomia.

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UNIDADE 2 - O UTILITARISMO

Conforme Abbagnano: “Embora se possa dizer que a identificação do bom


com o útil remonte a Epicuro, do ponto de vista histórico, o Utilitarismo é uma
corrente do pensamento ético, político e econômico inglês dos séculos XVIII e XIX”.
(2003, p. 986). Há uma estreita ligação entre o pensamento empirista inglês,
especialmente nas filosofias de John Locke e David Hume, cujo fundamento é o
princípio que nossas idéias primárias derivam dos sentidos e as secundárias, são
desdobramentos destas. Assim, não há qualquer crença em idéias inatas ou
verdades metafísicas que estejam além do limite da razão humana. A influência do
empirismo, portanto, será fundamental para definir o conteúdo ético do utilitarismo
sob dois pontos de vista: o primeiro, como uma busca por uma ética sustentável do
ponto de vista lógico, quanto do ponto de vista da teoria do conhecimento; o
segundo, retirando a importância de valores metafísicos que não forem claramente
definidos pela razão. Mais tarde, com Stuart Mill, o utilitarismo também receberá
influência do positivismo de Augusto Comte.
Em geral, destacam-se cinco características do pensamento utilitarista:
a) Em relação à economia, o pensamento utilitarista recebeu a
influência direta de Malthus (1766 – 1834) e David Ricardo (1772 – 1823) os quais
também podem ser considerados utilitaristas e foram amigos pessoas de James Mill;
b) Em relação à ética, caracterizou-se por ser uma tentativa de
transformar a ética em uma ciência. No século XVIII isto significava dar o rigor que a
matemática e a física newtoniana alcançaram em outros campos;
c) Abandona qualquer pretensão de fundamentar a ética em princípios
metafísicos e toma como referência o hedonismo, isto é, de que a vida humana tem
como finalidade o prazer e a felicidade;
d) Do ponto de vista político, parte do princípio de que é possível fazer
com que haja coincidência entre o interesse ou a utilidade individual e o interesse ou
utilidade pública, desde que mediado pela ação do governo;
e) A doutrina utilitarista tinha por objetivo promover reformas no campo
político e social, especialmente por meio da educação, a fim de melhorar as
condições de vida e o bem-estar e felicidade dos homens.

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Jeremiah Bentham

Jeremiah Bentham (1748 – 1832) pode ser considerado o fundador da


doutrina utilitarista. Partindo do princípio enunciado por Cesare Beccaria em Dos
Delitos e das Penas 1764, § 3) “a máxima felicidade possível compartilhada pelo
maior número possível de pessoas”. Sobre o aspecto jurídico de sua obra, afirma
que as leis civis não são como as leis naturais, pois enquanto essas são imutáveis,
aquelas devem ser constantemente aperfeiçoadas, pois as circunstâncias se
modificam.
No domínio da moral, os únicos fatos importantes são o prazer e a dor. Pois a
natureza humana “pôs o homem sob o império do prazer e da dor” por isso, o juízo
moral torna-se um juízo sobre a felicidade, para a qual, o bem é o prazer e o mal é a
dor.
As ações devem receber um cálculo que tem por objetivo avaliar como atingir
o máximo de felicidade e o mínimo de dor. Conclui-se, disto, que o sábio é aquele
que sabe renunciar a um prazer imediato por algum benefício futuro. A moral
utilitarista, portanto, pressupõe a admissão de algum mal, renunciando a um prazer
imediato, para garantir uma felicidade maior no futuro.
O pensamento utilitarista apresenta uma perspectiva educacional, pois
acreditava que os homens poderiam ser educados a ter um comportamento ético.
Por isso, afirma Bentham: “A tarefa do deontólogo, é ensinar ao homem como dirigir
suas emoções de tal modo que as subordine na mediada do possível, a seu próprio
bem-estar”. (2002, p. 240)
No plano da política se passa mais ou menos a mesma coisa, quando o
governo age deve levar em conta o que é o bem e o que é o mal maiores e, caso
seja necessário, assumir algum mal presente, renunciando a felicidade pública
imediata, em troca de um bem maior futuro. Assim, a tarefa da política é harmonizar
os interesses particulares e os públicos. No entanto, como o interesse particular é o
motivo mais forte da ação é preciso que haja leis seguras e eficazes que
reequilibrem o balanço de bem e de mal, pois se violar o interesse público em favor
de si mesmo resultar em benefícios, será sempre vantajoso priorizar o interesse
próprio, a despeito do interesse público, tornando o convívio social insustentável.

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Mas se a punição for severa e tão eficaz que não compense violar o bem público,
então é uma boa lei. Bentham acreditava que a lei deveria ser mais segura do que
severa, porque não importa a severidade prescrita se não há meios de ser cumprida,
por outro lado, mesmo sendo branda, se for segura, significa a certeza de punição.

James Mill

James Mill (1773 – 1836) foi o principal seguidor da doutrina de Bentham e,


em sua obra, deu ênfase aos estudos dos fenômenos da mente humana, estudando
a origem das idéias e como estas podem influenciar a ação. Para ele, a razão
deveria ser a guia de nossas ações e os sentimentos e as emoções passionais não
deveriam nos servir de guias. Apregoava a necessidade da educação para educar
não somente o indivíduo, mas toda a sociedade e, tal educação, deveria se basear
pela razão.
Interessante é sua concepção sobre o egoísmo e o altruísmo. Para ele, era
possível compreender a passagem da conduta egoísta para a conduta altruísta. O
altruísmo é, em última instância, o resultado de uma conduta egoísta. Mas mesmo
assim, não deixa de ser benéfico para a sociedade, assim como a gratidão e a
generosidade. Ainda que os motivos últimos da conduta altruísta sejam o “prazer
individual em ajudar” não significa que o altruísmo seja inútil.

John Stuart Mill

John Stuart Mill (1806 – 1873), filho de James Mill, acreditava que estava
nascendo uma nova ciência, a qual denominou a etologia, termo cujo significado é
“estudo do caráter”. Com o apoio de outras ciências, como a lógica e a psicologia,
acreditava que era possível encontrar uma forma científica de educar tanto o caráter
do indivíduo como o da sociedade.
Quanto ao problema da liberdade, acredita ser a liberdade individual um dos
fundamentos da sociedade. Para ele, a liberdade de cada indivíduo viver do modo
que melhor lhe aprouver era fundamental para o desenvolvimento não somente dele

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próprio, mas de toda a sociedade, porque da possibilidade de decidir o que era


melhor para si, a natureza humana manifestava toda sua fecundidade.
Evidentemente, a liberdade do indivíduo não deveria prejudicar os interesses
alheios, especialmente aqueles estabelecidos pela lei ou por tácito consenso.
Podemos afirmar que a liberdade, para ele, é a maior “liberdade possível para cada
indivíduo”. Ora a introdução da palavra possível já denota que a liberdade irrestrita
não pode combinar com a vida em sociedade. Portanto, conclui que a liberdade civil
apresenta três aspectos.
Em primeiro lugar, a liberdade civil implica a liberdade de pensamento, de
religião e de expressão; em segundo lugar, liberdade de gostos e liberdade para
projetar a vida segundo o caráter; liberdade de associação. Voltaire já elogiara a
liberdade com a qual se professava, na Inglaterra, as mais diversas religiões. Apesar
de haver uma religião oficial (o anglicanismo, cujo chefe supremo é o monarca
britânico) a liberdade de culto tornara-se uma característica deste povo. Segundo
Mill, o Estado tende a enfraquecer o valor dos indivíduos para torná-los meros
instrumentos de seus próprios interesses. Assim, diminuindo o valor do espírito
humano não teria, mais, grandes homens e esse projeto de Estado fracassaria por
falta de homens de valor.
Mill não aceitava o princípio de Bentham pela igualdade absoluta na
sociedade, justamente porque quando o Estado aspira tornar todos iguais é obrigado
a inibir a liberdade dos indivíduos não somente a respeito dos três aspectos acima
levantados, mas também do ponto de vista do desenvolvimento pessoal. O problema
é que inibir os talentos individuais de se desenvolverem, inibe o próprio
desenvolvimento da sociedade.
Os utilitaristas, portanto, acreditavam que a experiência histórica da
Revolução Francesa fora um fracasso, pois ao querer tornar todos iguais, acabou
com a liberdade dos indivíduos e condenou a França ao retrocesso. Assim, a
proposta do positivismo de Augusto Comte de controlar toda a sociedade por meio
de um governo burocrático não deveria ser considerada correta e, tal como seu pai,
foi um dos mais ferozes combatentes da vertente política do positivismo na
Inglaterra.

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O liberalismo inglês encontrou, no discurso positivista de Augusto Comte,


uma fundamentação teórica que sustentava suas teses. Em linhas gerais, Comte
afirmara que a humanidade caminhava em três etapas: a religiosa, a metafísica e a
positiva. Esta última era marcada pelo domínio da racionalidade e, por isso, deveria
a razão ser o juiz de todas nossas ações. No entanto, depois de certo tempo,
Augusto Comte desenvolveu as idéias de uma Religião Positiva e o desejo de que
uma burocracia estatal organizasse a sociedade de modo vertical. Este é o ponto de
sua teoria que desagradou os liberais que tinham na memória a luta contra o
absolutismo que pretendia, por outras vias, a mesma coisa, isto é, o domínio da
sociedade e da liberdade dos indivíduos por um governo centralizado.

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UNIDADE 3 - OUTRAS OPÇÕES ÉTICAS PARA ALÉM DA


TELEOLÓGICA E DEONTOLÓGICA

ÉTICA E CONSCIÊNCIA EM JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) é conhecido por ser um dos mais


importantes filósofos do período conhecido como Iluminismo. No entanto,
contrariamente aos seus contemporâneos Voltaire, Diderot, D’ Alembert e,
poderíamos dizer, ao pensamento de Kant (sendo posterior ao seu, Rousseau não o
conheceu), Rousseau não considerava a razão como guia suficiente para conduzir
os homens em suas ações. Ao contrário, suspeitava dos limites da razão.
Em várias obras desdenhou este projeto dos “moralistas” de escreverem seus
livros, de refletirem sobre a moral e suporem que esses seriam elementos
suficientes para a condução dos homens. Não critica exatamente a filosofia, mas o
que fizeram dela ao dar-lhe uma roupagem que a afasta da moral e da virtude. No
Discurso Sobre as Ciências e as Artes afirma:
“Como seria doce viver entre nós, se a contenção exterior sempre
representasse a imagem dos estados do coração, se a decência fosse a virtude. Se
nossas máximas nos servissem de regra, se a verdadeira filosofia fosse inseparável
do título de filósofo! Mas tantas qualidades dificilmente andam juntas e a virtude nem
sempre se apresenta com tão grande pompa. A riqueza do vestuário pode denunciar
um homem opulento, e a elegância, um homem de gosto; conhece-se o homem são
e robusto por outros sinais – é sob o traje rústico de um trabalhador e não sob os
dourados de um cortesão, que se encontrarão a força e o vigor do corpo. A
aparência não é menos estranha à virtude, que constitui a força e o vigor da alma”.
(1973, pp. 343 – 344).
Os filósofos, portanto, emprestaram à filosofia uma roupagem artificial – cheia
de ouros e brilhos – mas que servia para ocultar um interior já corrompido. A razão,
ao contrário de ser um guia seguro para a virtude, tornara-se vítima de um
sentimento vicioso e serviu de instrumento para uma vontade egoísta. Sobre esse
egoísmo, Rousseau nos diz que deve ser compreendido como amor-próprio que é
diferente do amor de si. O amor de si é um sentimento natural e bom que é o

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instinto que nos leva a amar a vida e desejarmos sempre preservá-la. Esse
sentimento não tem nada de ruim e estamos às voltas com grandes problemas
quando nós o abandonamos. Muito diferente é o amor próprio. Surgido deste
primeiro ele representa uma degeneração dos sentimentos humanos e transformou-
se no que conhecemos hoje por egoísmo. O amor próprio é um sentimento que está
envolvido com os desejos de fortuna, poder, privilégios, luxo e em nada lembra o
sentimento natural que tende a apagar.
Então, se a razão não é o critério para nos levar a um comportamento
virtuoso, qual será? Rousseau não é um crítico cego da razão. Não acredita que os
homens sejam corrompidos por ela, como disseram alguns de seus críticos, ao
contrário é um dos primeiros filósofos modernos a destacar a importância da
educação pública para todos os cidadãos a fim de que pudessem ser mais senhores
de sua vida. Ora, tal educação implica necessariamente no desenvolvimento da
razão. Só não acredita que a razão seja nosso mestre em assuntos de moral e
virtude. Para ele a consciência deveria ser nosso maior guia. No Emílio ou da
Educação afirma:
Consciência! Consciência! Instinto divino, voz celeste e imortal; guia seguro
de um ser ignorante e limitado, mas inteligente e livre; juiz infalível do bem e do mal,
que tornas o homem semelhante a Deus, és tu que fazes a excelência de sua
natureza e a moralidade de suas ações; sem ti nada sinto em mim que me eleve
acima dos bichos, a não ser o triste privilégio de me perder de erro em erro com a
ajuda de um entendimento sem regra e uma razão sem princípios. (1992, p. 338).
Como vimos, Rousseau acredita que a razão é importante para a ética, mas
não acredita que somente ela possa ser guia suficiente. Ora, como tanto o
utilitarismo como a ética kantiana apostam na racionalidade contra as emoções,
podemos dizer que a ética rousseauísta considera importante não exatamente os
sentimentos, mas principalmente a consciência.

A Transvaloração dos valores

Um dos autores mais influentes do pensamento contemporâneo é Friedrich


Nietzsche (1844 - 1900), cuja obra é hoje objeto de análise de estudiosos em todo

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o mundo. A respeito da ética, sua obra propõe a “transvaloração dos valores”, isto
é, não somente uma mudança na definição de quais valores deveriam ser
predominantes, mas superar a própria fonte dos valores ocidentais.
Para ele, os valores do ocidente receberam duas influências nefastas: a
filosofia de Sócrates, Platão e do cristianismo. Ambas tenderam a reduzir a
importância do homem e relevar determinados valores “metafísicos” que tornam o
homem seu escravo, um ser limitado. Ainda que pareça uma postura semelhante
a do utilitarismo, Nietzsche também vê nestes filósofos uma evidente influência do
cristianismo e considera que sua filosofia em nada muda a raiz principal dos
valores da ética do dever.

O dionisíaco e o apolíneo

Em O Nascimento da Tragédia (1872) Nietzsche demonstra que a


civilização grega anterior a Sócrates era marcada por um sentido trágico da vida,
que tinha como característica, a aceitação da vida, coragem diante do destino. A
tragédia de, por exemplo, Ésquilo se opõe as de Eurípedes. Para demarcar essa
oposição, Nietzsche define dois conceitos: o dionisíaco e o apolíneo: conforme
ele:
O desenvolvimento da arte está ligado à dicotomia do apolíneo e do dionisíaco,
do mesmo modo como a geração provém da dualidade dos sentidos, em
contínuo conflito entre si e em reconciliação meramente periódica (...) em suas
(dos gregos) duas divindades artísticas, Apolo e Dionísio, baseia-se a nossa
teoria de que no mundo grego existe enorme contraste, enorme pela origem e
pelo fim, entre a arte figurativa, a de Apolo, e a arte não figurativa da música, que
é especificamente a de Dionísio. Os dois instintos, tão diferentes entre si, vão um
ao lado do outro, as mais das vezes em aberta discórdia (...) até que, em virtude
de um milagre metafísico da ‘vontade’ helênica, apresentam-se por fim acoplados
um ao outro. E nesse acoplamento final gera-se a obra de arte, tão dionisíaca
quanto apolínea, que é a tragédia Ática”. (NIETZSCHE, apud REALE, 1990, p.
426).

Nietzsche denuncia justamente o fato de Sócrates e Platão terem combatido o


aspecto dionisíaco do espírito grego e terem sobrelevado o apolíneo, em outras

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palavras, terem tentado domar o impulso para a vida, para a festa e a alegria com
uma ética racionalista. O engano dos filósofos moralistas, portanto, foi o de querer
retirar a humanidade de sua decadência moral ressaltando os valores que levaram à
decadência moral ocidental. Ora, como vimos acima, tanto a ética do dever, como a
ética do utilitarismo pretendem-se racionais, pretendem domar os instintos pela
razão e, a partir daí, construir um projeto de sociedade comandado pela razão.
Para Nietzsche, a filosofia dos pré-socráticos era marcada pela interação
entre vida e pensamento: enquanto a vida estimula o pensamento, esse afirma a
vida. Mas houve uma degeneração dessa integração a qual, conforme Torres Filho:
“essa degeneração, afirma, Nietzsche, apareceu claramente com sócrates,
quando se estabeleceu a distinção entre dois mundos, pela oposição entre
essencial e aparente, verdadeiro e falso, inteligível e sensível. Sócrates
“inventou” a metafísica, fazendo da vida aquilo que deve ser julgado, medido,
limitado, em nome de valores superiores como o Divino, o Verdadeiro, o Belo, o
Bem. Com Sócrates, teria surgido um tipo de filósofo voluntário e sutilmente
“submisso”, inaugurando a época da razão e do homem teórico, que se opôs ao
sentido místico de toda a tradição da época da tragédia.” (1999, p. 9).

A genealogia da Moral

A crítica feroz de Nietzsche à moral da sociedade européia ocidental, por


vezes, é compreendida como um elogio à imoralidade, mas não se trata disso, e
sim, uma reflexão sobre quais são os valores que nortearam a moral, a definição
do que é bom e do que é mau; do que é bem e do que é mal. Além da filosofia
socrático-platônica, Nietzsche observa que a moral cristã é a outra referência dos
valores que devem ser transformados.
Para Nietzsche, o cristianismo defende tudo o que é nocivo ao homem.
Seus valores são contrários à vida, pois sua moral é a de controle dos instintos,
tal como a filosofia, mas por outros meios. O prazer na Terra é considerado
pecado e: “tomou partido de tudo o que é fraco, abjeto e arruinado; fez um ideal
de contradição contra os instintos de conservação da vida forte; desgastou até a
razão das naturezas intelectualmente mais fortes, ensinando a sentir os supremos
valores da intelectualidade como pecaminosos como fontes de desvio como
tentações. O exemplo mais censurável foi a ruína de pascal, que acreditava na

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corrupção de sua razão por causa do pecado original, quando fora apenas o
cristianismo a corrompê-la!” (NIETZSCHE apud REALE, p. 432).
A igreja cristã perverteu os princípios que deveriam ter sido valorizados
pelo homem, pois para ele, a igreja era contrária a tudo o que é beleza, saúde, a
valentia do espírito, a bondade da alma, enfim, tudo o que é amor à vida. Mas não
foi somente a igreja católica quem degenerou os valores, até mesmo ao contrário
disso, as igrejas protestantes significaram, de certa forma, um recuo ainda maior
na transvaloração dos valores: “um monge alemão, Lutero, veio a Roma.
Trazendo dentro do peito todos os instintos de vingança de padre mal-sucedido,
esse monge, em Roma, indignou-se contra o Renascimento (...) Lutero viu a
corrupção do papado, quando se podia tocar com a mão justamente o contrário:
na cadeira papal, não estava mais a antiga corrupção, o peccatum origniale, o
cristianismo! Que boa é a vida! Que bom o triunfo da vida! Que bom o grande sim
a tudo o que é elevado, belo e temerário! (...) E Lutero restaurou novamente a
Igreja( ...) Ah, esses alemães, quanto nos custaram” (idem)
Para Nietzsche, o cristianismo é a religião dos escravos ou a moral dos
ressentidos. Os fracos, não podendo subjugar os fortes inverteram os valores e
transformaram a moral dos senhores em pecado e vergonha. O certo é ser fraco,
oprimido, abnegado. Errado é ter desejos, instintos ou em palavras nietzschianas,
“vontade de poder”, como a alegria, a saúde, o amor, a intelectualidade superior.
A moral do senhor é a do orgulho, da generosidade, do individualismo; a moral do
escravo é a da democracia e do socialismo, aquela que demonstra profundo
desinteresses pelas coisas deste mundo, demonstra profundo desinteresse pelas
circunstâncias, mas ao final de contas, demonstrar desinteresse é uma forma de
desvalorizar tudo o que é a moral do senhor e, assim, tenta subjugar os outros.
O super-homem é um de seus conceitos mais caros. Formulado em várias
obras ganhou no Assim Falou Zaratustra sua mais refinada elaboração. Ele é a
superação de todos os valores metafísicos do cristianismo e da filosofia socrático-
platônica, pois “permanece ligado à terra” não busca em um outro mundo os
princípios que nortearão sua moral e portanto suas ações. Esse novo homem, ou
além do homem, ama a terra e os valores que dela brotam: a saúde, a vontade
forte, o amor, a embriaguez dionisíaca, o novo orgulho. Para ele, o super-homem

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deve superar aquela máxima que conduziu a moral à escravidão, trata-se da


expressão “Tu Deves” a qual deve ser substituída pelo “Eu quero”. A nova moral
segue a máxima de Protágoras, poderoso inimigo de Sócrates e Platão, detratado
por este último no diálogo que leva seu nome: “o homem é a medida de todas as
coisas, das que são pelo que são, das que não são pelo que não são”. Nada de
buscar os valores em verdades que não estejam ligadas ao valor da vida. “Deus
morreu: agora, nós queremos que viva o super-homem”.
Em Schopenhauer como Educador Nietzsche descreve a comparação entre
as concepções dos antigos e modernos sobre a existência: “O juízo dos antigos
filósofos gregos sobre o valor da existência diz tão mais do que um juízo moderno
porque eles tinham diante de si e em torno de si a vida mesma em uma exuberante
perfeição e porque neles o sentimento do pensador não se confunde, como entre
nós, no dilema entre o desejo e a liberdade, beleza e grandeza da vida e o impulso à
verdade, que pergunta somente: o que vale em geral a existência?” (1999, p. 290).

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UNIDADE 4 - ÉTICA EMPRESARIAL

Qual é o papel das empresas públicas ou particulares na sociedade? Essa


pergunta torna-se o fundamento de nossos questionamentos sobre a
responsabilidade ética das empresas. O problema agora seria afirmar:
responsabilidade ética em relação a quem? Todos os que estejam envolvidos direta
ou indiretamente com as ações da empresa.
Conforme os princípios do liberalismo, as empresas privadas representam a
dinâmica da própria sociedade ocidental, pois são elas que deram impulso a uma
série de transformações sociais e melhorias que podem ser observadas e
aproveitadas por todos, trata-se, especificamente, dos bens de consumo. Além
disso, essas empresas são geradoras de renda direta para seus funcionários e, por
meio dos impostos, para toda a sociedade. Seu maior fundamento era a liberdade
de mercado, acreditando que ele se auto-regulasse e quanto mais liberdade as
empresas tivessem maiores seriam os benefícios para todos. Tal postura foi
contraditada com a Crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929, a qual foi o resultado
inevitável da ausência de regulamentação do mercado. A solução do presidente
Roosevelt foi o “New Deal” que representava, na prática, a intervenção do Estado
nas regras do mercado.
Conforme os princípios do socialismo as empresas particulares caracterizam-
se por explorar a mão de obra dos trabalhadores, por meio da mais – valia e causam
uma série de problemas estruturais na sociedade que resultam em miserabilidade.
Assim, ao invés de produzirem lucro e riqueza para a sociedade como um todo, as
empresas privadas concentram renda e não representam nenhum papel significativo
para a melhoria da sociedade. A idéia, portanto, era de que o Estado deveria ser o
único proprietário dos meios de produção e, com essa centralização, poderia evitar
os males gerados pelas empresas privadas, trata-se da ditadura do proletariado. As
experiências socialistas na antiga União Soviética, China, Cuba e outros países,
mostraram que a centralização do poder nas mãos de um governo de partido único
resultaria numa exploração do trabalho semelhante ou pior do que no caso das
empresas privadas. Conforme Ivan-Illich: “A propriedade coletiva dos instrumentos
de poder pode ter dois efeitos diametralmente opostos: pode subordinar as relações

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sociais às exigências dos instrumentos, pondo os homens a serviço das máquinas,


de modo mais eficaz ainda do que o capitalismo. Tal é a essência do stalinismo. Ao
contrário, a propriedade coletiva dos instrumentos pode significar que a comunidade
se empenha em utilizá-los de modo a promover as relações sociais de convivência.”
(GORZ, 1996, p. 17), porém, não se viu isto ocorrer.
A social-democracia apresentou-se como uma solução intermediária para
essas duas posturas radicais. Consideram legítima a iniciativa privada, mas as
empresas devem dar o retorno social correspondente ao lucro que obtém com a
exploração do trabalho e dos recursos naturais. Na década de 1970, a contrapartida
das empresas era a geração de empregos e o pagamento de impostos, havia pouca
preocupação efetiva com os aspectos de responsabilidade social que analisaremos
a seguir.
Quando falamos em responsabilidade social, das empresas, nos referimos a
diversos temas, tais como: condições de trabalho dos empregados, impacto
ambiental dos processos de produção e dos produtos finais, retorno social dos
lucros, ações de responsabilidade ambiental e outros. Aos poucos, o empresariado
toma consciência de que quanto mais investem em responsabilidade social, maiores
são os retornos para as próprias empresas.
Para muitos, no entanto, a única responsabilidade das empresas é para com
os acionistas, aqueles que investiram na empresa em busca de lucro e devem ter
seus interesses atendidos, custe o que custar, em termos sociais e ambientais.
Porém, conforme Mattar (2006):
Nas últimas décadas, constitui-se uma noção mais ampla de responsabilidade
social das organizações capitalistas, que enfatiza os valores dos stakeholders, que
incluiriam todo grupo ou indivíduo que podem afetar ou são afetados pelas ações,
decisões, práticas e objetivos da organização. O stakeholders seria, então, todos
aqueles que tem algum tipo de stake (risco, participação ou interesse) naquilo que a
organização faz e em seus resultados (...) As empresas teriam, então,
responsabilidade social para com as comunidades e nações em que estão inseridas,
com o meio ambiente, com seus clientes, com seus distribuidores, seus
fornecedores, seus empregados e até mesmo com seus concorrentes. A noção de
responsabilidade corporativa é aqui claramente expandida – as organizações não

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são responsáveis por proteger apenas seus acionistas, mas também os interesses
de todos aqueles que com ela interagem e que são por ela afetados. (2006, p. 317).
Em relação à comunidade, quando uma empresa instala-se em um
determinado bairro provoca um impacto social e ambiental. Uma série de atividades
surgem em seu entorno, sua presença altera o funcionamento do transporte público;
os empregos diretos por ela gerados, geram os empregos indiretos e ela mesma é
uma consumidora de produtos e serviços locais. Assim, quando se instala, apesar
de supostamente pagar impostos e taxas públicas, também está se beneficiando de
uma infra-estrutura (muitas vezes precária) anterior a ela.
Em relação aos trabalhadores toda empresa deve cumprir seus deveres.
Ainda que se argumente que a legislação brasileira é ultrapassada (a Consolidação
das Leis do Trabalho é da década de 1940) descumprir as leis não se justifica. Em
escala maior, há uma série de problemas relativos ao trabalho escravo e ao
subemprego. Em ambos os casos, a exploração da mão de obra nessas condições
leva a uma extrema redução dos custos de produção, mas as conseqüências para
os trabalhadores são as mais nefastas.
Em todo o planeta há uma série de campanhas e investigações que tem por
objetivo erradicar o trabalho escravo no mundo, pois essa prática além de gerar
miséria e tratar seres humanos de modo cruel, ainda provoca o fenômeno da
concorrência desleal. No Brasil há notícias semanais sobre a descoberta de
fazendas, no interior e, de pequenas fábricas, nas grandes cidades, onde a prática
do trabalho escravo continua sendo realizada. É obvio que nenhuma empresa (nem
consumidores) que tenham pretensão de ter responsabilidade social pode adquirir
produtos elaborados dessa forma.
Em relação à nação a empresa também possui uma série de
responsabilidades sociais e ambientais, pois parte da mão de obra especializada
pode vir das Universidades Públicas ou das Escolas Técnicas, também públicas,
além disso, por mais que pague pelo fornecimento de energia e água, tais empresas
se beneficiam de infra-estrutura já previamente instalada, aliás, esse muitas vezes é
um dos critérios que as levam a escolher um lugar e não outro para se instalarem.
Em relação ao meio ambiente deve-se lembrar que todas as empresas geram
impactos ambientais! Não somente pelos gases e efluentes emitidos, ou pelos

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resíduos sólidos produzidos, mas também pelo descarte de seus produtos ou de


suas embalagens após o consumo final, como no caso das garrafas plásticas e dos
pneus de automóveis. O impacto ambiental também se dá pela poluição visual e
sonora nos locais onde se instalam.
As preocupações com o meio ambiente tomaram espaços na imprensa e nas
universidades, especialmente a partir da década de 1970, quando os resultados das
primeiras pesquisas alarmaram a todos para as conseqüências que a sociedade
industrial estava provocando no meio ambiente. Em 1972 ocorreu em Estocolmo, na
Suécia, a Conferência sobre o Homem e o Meio Ambiente; nela destacaram-se
posições antagônicas entre os países industrializados – que destacavam a
importância de não se expandir as áreas industriais indiscriminadamente – e os
países subdesenvolvidos que alertavam para o fato de que os maiores poluidores
eram os países industrializados. Em 1987 foi publicado o relatório da ONU Nosso
Futuro Comum no qual se forjou, pela primeira vez, a noção de desenvolvimento
sustentável: O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem
suas próprias necessidades. Tal definição significa que era necessário rever os
padrões de produção e consumo para que as futuras gerações possam desfrutar
das mesmas benesses que nós e que, para o momento atual, se minimize as
desigualdades entre ricos e pobres, no planeta.
Não se tratava, porém de impedir o desenvolvimento econômico, mas
reorientá-lo: uma correção, uma retomada do crescimento, alterando a qualidade do
desenvolvimento, a fim de torná-lo menos intensivo de matérias-primas e mais
eqüitativo para todos (...0 um processo de mudança na qual a exploração dos
recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico
e a mudança institucional estão de acordo com as necessidades atuais e futuras.
Em 1992 ocorreu a conferência Eco-92 organizada no Rio de Janeiro, que foi
a maior conferência sobre o meio ambiente até então realizada. Com o
amadurecimento das discussões, ao longo de 20 anos, vários temas foram tratados
tais como: clima, biodiversidade, água, pobreza e tudo o mais. Dez anos depois
ocorreu mais uma conferência sobre o meio ambiente na qual foram definidos os

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parâmetros da Agenda – 21, a qual ficou seriamente prejudicada pela ausência dos
Estados Unidos.
Em 2007, o ex-vice-presidente americano Al Gore percorreu o mundo com
uma série de conferências sobre o Aquecimento Global e seu filme Uma Verdade
Inconveniente. Esse era apenas mais um dos temas discutidos nas conferências
anteriores, mas desde que o aquecimento global tornou-se o mais grave problema
ambiental da atualidade, a preocupação com ele ganhou destaque.
Portanto, as empresas atuais não podem deixar de lado as preocupações
com o meio ambiente e as ações de responsabilidade ambiental como a implantação
de sistemas de filtragem de gases; sistemas de tratamento de efluentes; correta
destinação dos resíduos sólidos da empresa e todos os recursos que possam ajudar
no cuidado ao meio.
Em relação à sociedade as responsabilidades são muitas. Um caso que ainda
gera muita polêmica é a rígida seleção e controle dos seus fornecedores. O Instituto
Ethos de Responsabilidade Social Empresarial (www.ethos.org.br) afirma a
importância de as empresas não consumirem produtos de outras empresas que não
os produzam com rígidos controles sociais e ambientais. Em outras palavras, não se
deve comprar um determinado produto elaborado por uma empresa que não recolhe
encargos trabalhistas, que não respeita as leis ambientais poluindo de modo
ostensivo o meio ambiente, que sonega impostos e taxas.
A argumentação fundamenta-se no custo social. Empresas que postem-se da
maneira descrita acima, ou seja, sem responsabilidade social, geram um custo social
caríssimo para toda a sociedade. Uma série de conseqüências, decorrentes de
ações desse tipo, pressionam enormemente os gastos públicos tais como:
empregados mal remunerados, gastos com saúde e educação pública sem a
contrapartida do recolhimentos dos impostos e taxas, poluição ambiental que geram
problemas de saúde na população. Essas práticas além de não gerarem riquezas,
ao contrário, geram miserabilidade e em nada contribuem para melhorar as
condições de vida daqueles que estão envolvidos com esse tipo de produção.
Se tais empresas conseguem lucratividade evitando uma série de “despesas”
cujos custos finais recairão sobre a própria sociedade, provocam prejuízos para
todos, inclusive para as empresas que consomem seus produtos. Recentemente, o

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escândalo do “leite batizado” (com água não potável, água oxigenada e soda
cáustica) é um exemplo sintomático desse tipo de resultado. Não somente houve
prejuízo para os consumidores, mas também para as empresas – cujas marcas são
nacionalmente conhecidas – que compravam os produtos daquelas que fraudaram o
leite, tiveram prejuízos não somente materiais ao terem de recolher e destruir os
produtos que já estavam nas prateleiras para comercialização, mas também para
sua imagem.
Assim, empresas que burlam leis com o objetivo de reduzirem seus custos e
aumentarem a lucratividade praticam a concorrência desleal. A respeito desse termo
Mattar nos afirma: “A expressão concorrência desleal tem dois sentidos de certa
forma distintos: macroeconômico em que represente os atos decorrentes do abuso
do poder econômico, e microeconômico, em que representa os atos praticados pela
indústria ou comércio que prejudicam os concorrentes”. (2006, p. 319).
O intervencionismo tem por objetivo evitar a concorrência desleal no plano
macroeconômico, especialmente no que se refere às associações conhecidas como
cartéis que provocam sérios danos à economia, pois eliminando a possibilidade de
concorrência fazem com que os consumidores – finais ou intermediários – não
tenham opção de escolha de preço ou de qualidade de produtos. Por outro lado, os
órgãos de fiscalização oficial e institutos como o IDEC (Instituto de Defesa do
Consumidor) tem por objetivo proteger os consumidores da concorrência desleal
muitas vezes praticada, como vimos, ao arrepio da lei.
O princípio que norteia ações como as do grupo Ethos, é o de que se as
empresas que possuem ações de responsabilidade social e ambiental não
comprarem produtos de empresas que não tenham ações deste tipo, forçarão todas
as empresas a agirem de modo responsável. Por isso, podemos dizer que não se
deve reduzir a noção de responsabilidade da empresa somente com o lucro
imediato, mas seu papel de responsabilidade para toda a sociedade.
Hoje é difícil não vermos, nos sites das empresas, declarações sobre as
ações de responsabilidade social que fazem. Nos jornais e revistas de informação
também são constantes as propagandas que têm por objetivo divulgar as ações das
empresas. Isto demonstra que as idéias pioneiras deixaram de sê-lo, tornaram-se
uma realidade a qual nenhuma empresa, que queira ter forte projeção social e

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comercial, que deseje vincular seu nome à essas ações, pode deixar de se
preocupar.
Mattar analisa e propõe alguns temas que podem ser referenciais para a
análise do problema ético na administração. Assim afirma:

Podemos discutir ética em relação a produtos. Pensemos por exemplo, nos


produtos que viciam ou fazem mal. São eticamente questionáveis as
decisões de promover e vender produtos de segurança ou valor
questionáveis para o consumidor, como cigarros, chicletes, balas, álcool etc.
Deveríamos, nesse caso, respeitar a liberdade de mercado e de escolha
individual do consumidor ou o governo deveria restringir o que pode ser
comprado ou vendido?E como devemos encarar eticamente questões
relativas ao design de produtos, como nos caso de obsolescência
planejada?
Questões relativas à propaganda enganosa são também em geral
abordadas em Ética da Administração. Se de um lado podemos encarar a
propaganda como criadora de necessidades, de outro lado temos de
reconhecer que a propaganda é também um veículo de informação para a
sociedade. (2006, p. 313)

Não se trata somente de indústrias que produzidos os bens, mas também de


empresas fornecedoras de serviço. Por exemplo, a ética na propaganda passa por
profundas transformações decorrentes de um conflito elementar: por um lado alega-
se a liberdade de comunicação, por outro, a exposição de crianças e adolescentes a
produtos e imagens não recomendadas. Por exemplo, as propagandas de bebidas
alcoólicas tiveram horário mínimo para ser exibida. Além disso, não se pode mais
criar símbolos com forte apelo infantil e associá-lo a uma marca desse tipo de
bebida, como ocorreu há anos atrás quando foi utilizada uma tartaruga de imagem
completamente infantilizada como símbolo de uma cervejaria.
O aspecto interessante, porém, é que as restrições à propaganda partiram da
sociedade civil, mas não houve coerção governamental, o Conselho de Auto-
Regulamentação Publicitária tem por objetivo discutir os parâmetros éticos para a
veiculação de anúncios comerciais de propaganda e marketing e recomendar
normas de conduta. O objetivo de uma associação como essa é, justamente, evitar a

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necessidade de uma intervenção dos órgãos governamentais o que caracterizaria a


censura na propaganda.
Há problemas a respeito dos padrões éticos da propaganda que ainda estão
em aberto, como por exemplo, a veiculação de comerciais destinados ao público
infantil. Para alguns, é fundamental apresentar os produtos para as crianças, afinal
de contas, elas são o público alvo; para outros, a exposição de crianças a
comerciais intensivos estimulam um comportamento consumista o qual é bem
conhecido por todos.
Há ainda um debate a respeito desse assunto que se situa no campo da ética.
Para alguns, quando as empresas fazem tais ações e divulgam que o fazem não
estão agindo com eticidade, pois seu interesse é somente reforçar seus produtos ou
sua marca para os consumidores. Outros consideram que independentemente do
que possam ganhar em termos de retorno mercadológico com suas ações, as
empresas estão agindo corretamente, com ética.
O primeiro grupo baseia-se no princípio da ética do dever. Devemos agir de
modo correto porque temos o dever de fazê-lo, não se deve esperar nenhum outro
retorno de uma ação que é ética em si mesma. Tal grupo pensa tanto do ponto de
vista aristotélico quanto do ponto de vista kantiano. A respeito do ponto de vista
aristotélico, considera que uma ação ética verdadeira é aquela que é um fim em si, e
não um fim para; a amizade, a justiça, a lealdade não devem ser ações que tenham
por objetivo, por exemplo, demonstrar publicamente o quanto se é bom. Do ponto de
vista kantiano, diriam que quando uma empresa possui ações de responsabilidade
social e divulga estas ações com o intuito de demonstrar uma imagem de empresa
correta, está agindo segundo os princípios do imperativo hipotético, ou seja, que
está utilizando uma ação como meio para outro fim.
O segundo grupo parte do princípio da ética do utilitarismo. Sua máxima nos
dizia: alcançar o maior bem possível para o maior número possível de pessoas. Ora,
trata-se de afirmar que, independentemente das ações de responsabilidade social e
ambiental serem divulgadas e que, portanto, foram feitas somente com vistas a
melhorar a imagem da empresa diante do público, o fato é que tais ações são
praticadas e que seus resultados trazem benefícios para toda a sociedade, seja de
forma direta com ações sociais na comunidade na qual a empresa está inserida,

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apoio às ONG’s, seja de forma indireta ao não consumir produtos de empresas que
desrespeitem as leis ambientais, trabalhistas, civis etc. Portanto, se uma ação não
visa um fim em si, mas é um meio para atingir outro fim, deve-se considerá-la tão
ética como qualquer outra.

Ética e Liderança

Com o avanço da democracia no Brasil as posturas autoritárias encontram


cada vez menos apoio no seio da sociedade. O abuso do poder tem sido coibido não
somente com manifestações culturais, mas até mesmo juridicamente os assédios
moral e sexual têm sido interpelados. Assim, há uma nova tendência por aqui, que
tem muito a aproveitar das pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Europa.
A postura ética de uma empresa depende, em grande parte, das lideranças.
Conforme Mattar: “Liderança e ética são temas estreitamente conectados. O líder
determina o tom moral da organização, representando e reformulando seus valores”.
(2006, p. 326). Ora, independentemente do estilo de liderança devemos atentar para
o fato de que a postura ética talvez não possa mais ser uma recomendação, mas
uma exigência.
Segundo Bennis (1999), em seu artigo, A Ética Não é Opcional, a exigência
ética não é uma mera formalidade que pode ou não ser cumprida. Verdade,
lealdade, honestidade e outras virtudes não são meras palavras, ao contrário,
quando postas em práticas são capazes de fazer de um grupo disperso uma equipe
ou uma sociedade. Analisando o que chama de “déficit ético” nos Estados Unidos
propõe o seguinte: “A ética e a consciência não são opcionais. São a cola que une a
sociedade – são as qualidades que nos distinguem dos canibais. Sem consciência e
ética, talento e poder não servem para nada”. (1999, p. 163).
Hitt identifica quatro tipos de lideranças: o manipulador, o administrador
profissional, o administrador burocrata e o transformador. Para ele, o manipulador
falta, evidentemente, com a ética, pois seu único objetivo é manter-se no poder. Ele
considera que os subordinados estão sempre tentando ludibriá-lo e procura mantê-
los ocupados com inúmeras tarefas mesmo que sejam completamente inúteis. Não

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têm colaboradores ou amigos, mas concorrentes sempre prestes a derrubá-lo do


cargo que ocupa.
O administrador burocrático atende os requisitos delineados pelos estudos de
Max Weber. Esse tipo de administrador procura definir uma série de regras e normas
que formem uma estrutura administrativa autônoma de tal forma que as lideranças
tenham pouco impacto pessoal, pois devem, a todo instante apenas cumprir as
normas ou regras pré-determinadas. Podemos dizer que seu paradigma é a
eficiência. A idéia desse tipo de liderança é a de que a organização dependa cada
vez menos, dos talentos individuais. Esse tipo de líder considera que ética é uma
administração que seja regulada por normas. Dois problemas podem ser levantados
sobre esse tipo de liderança.
O primeiro problema é relativo à suposição de que tais normas ou regras são
neutras, isto é, que não são o resultado de interesses ou paixões particulares, de
uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Assim, quando proclamam a necessidade
de segui-las impõe, sutilmente, sua concepção de mundo, vida e seus próprios
princípios sobre a organização. O segundo problema que enfrenta, em uma
sociedade de mudanças como a industrial, é que as normas rígidas impedem a
adaptação da organização às novas exigências do mercado, dos consumidores, dos
fornecedores etc.
O administrador profissional tem como objetivo o melhor para a organização,
por isso, também é conhecido como líder situacional, porque as circunstâncias são
mais importantes do que as normas rígidas e a finalidade última de sua ação são o
bem maior da própria empresa. Podemos dizer que seu paradigma é a eficácia.
Percebe-se, portanto, que se trata da perspectiva da ética utilitarista, pois sua meta
é atingir “o maior bem possível, para o maior número possível de pessoas”.
Dois problemas podem ser levados em conta a respeito desse tipo de
liderança. O primeiro é relativo ao risco de haver uma falta de compromisso com
determinadas normas e regras fundamentais o que daria, por conta das
circunstâncias, licença para determinadas práticas anti-éticas. Outro problema é
determinar os critérios últimos de análise que permitiriam definir o que pode e o que
não pode mudar nas regras e normas conforme as circunstâncias.

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O administrador transformador seria o perfil típico de liderança, pois sabe que


ela não pode ser definida como um cargo ou função burocraticamente estabelecida.
Para ele a liderança é uma postura. Consciente dos fatores que promovem de fato a
motivação das equipes procura acionar os elementos fundamentais da motivação
que, para Herzberg: atribuir responsabilidade às funções exercidas; que tais
funções permitam a realização pessoal; essa realização profissional deve canalizar
a possibilidade de desenvolvimento e aprendizagem; o reconhecimento pelas
tarefas cumpridas, entre outras.
Esse tipo de liderança enfrenta seus problemas, pois se não é tão apegadas
às normas como os burocratas, também não toma o tema do “bem maior” para as
empresas fazendo dos funcionários marionetes nas mãos dos líderes sem
considerar suas perspectivas pessoais no trabalho. Assim, não possui estes dois
caminhos seguros para a administração. O fato, portanto, de ser líder e não gerente,
de buscar a eficácia e não somente a eficiência, faz com que a liderança
transformadora tenha que superar os limites do senso comum, sem perder de vista
as exigências éticas da sociedade contemporânea.

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UNIDADE 5 - BIOÉTICA

A produção de alimentos transgênicos, a possibilidade de se escolher a cor


dos olhos dos filhos que se deseja ter, abortos seguros para a mãe, tecnologias de
esterelização, eutanásia, experimentos envolvendo o ser humano, são algumas
questões sobre as quais a bioética se debruça.
Esse é, sem dúvida nenhuma, o tema mais atual sobre ética. O termo bioética
foi utilizado pela primeira vez por Van Rensselaer Potter num artigo intitulado The
science of survival (A ciência da sobrevivência) e mais tarde em um livro intitulado
Bioethics: bridge to the future (Bioética: ponte para o futuro). Durante a década de
70 ocorreram inúmeros movimentos ambientais que tinham por objetivo chamar a
atenção para o impacto que a transformação da natureza estava provocando sobre
os ecossistemas, a Reunião de Estocolmo, Suécia, em 1972 foi um marco desses
movimentos.
Para Potter, a visão mecanicista-reducionista que vê os fatos biológicos ou a
própria natureza, apenas como objeto sobre o qual os homens podem exercer sua
ação de modo indiscriminado. Para essa visão, a natureza é um mero mecanismo,
objeto inanimado e, principalmente, sem qualquer valor ontológico, isto é, não é
considerada um ser. Essa concepção põe em risco a sobrevivência da própria vida
sobre a Terra.
Duas culturas separaram-se por conta da concepção mecanicista: a
humanística que desenvolve as reflexões sobre os valores éticos e a científica, a
qual desenvolve pesquisas científicas. O resultado foi o desenvolvimento de
pesquisas científico tecnológicas sem qualquer parâmetro ético. Portanto, a bioética
deve ser tornar a ponte entre essas duas culturas. Conforme Sgreccia:
“É interessante sublinhar o núcleo conceitual que ele situa na raiz do
nascimento da bioética: a necessidade de que a ciência biológica se faça perguntas
éticas, de que o homem se interrogue a respeito da relevância moral de sua
intervenção na vida. Trata-se de superar a tendência pragmática do mundo
moderno, que aplica imediatamente o saber sem uma mediação racional e muito
menos moral: a aplicação de todo conhecimento científico pode ter, de fato,

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conseqüências imprevisíveis sobre a humanidade, até por efeito da concentração do


poder biotecnológico nas mãos de poucos”. (2002, p. 24).
Os avanços da engenharia genética proporcionaram possibilidades de
manipulação da vida humana, animal e vegetal em níveis que se pode investigar até
que ponto o conceito de “vida” pôde ser alterado. Além disso, em virtude desses
mesmos avanços, uma série de “armas genéticas” e “bioquímicas” tornaram-se
viáveis levando à necessidade de uma reflexão sobre o limite dos avanços da
ciência, não do ponto de vista tecnológico, mas ético.
Hoje, todas as universidades que desenvolvem pesquisas devem constituir
um Conselho de Ética responsável por avaliar os projetos que envolvem seres
humanos. Esses conselhos não têm por objetivo analisar somente os projetos que
tratam de intervenções medicinais ou psicológicas, mas intervenções de qualquer
natureza, por exemplo, entrevistas sociológicas e levantamentos de opinião. Muitas
revistas científicas só aceitam artigos que envolvam pesquisas com seres humanos
se tiverem a aprovação desses conselhos, pois divulgar pesquisas feitas sem um
padrão ético constituiria um apoio à pesquisas feitas desse modo.
Além disso, as pesquisas envolvendo animais também devem ser submetidas
a esses conselhos, pois há muito se denuncia a crueldade com as cobaias que são
vítimas em nome da ciência. Os “direitos dos animais” são reinvindicados não
somente no âmbito científico, mas também cultural, a “farra do boi” em Santa
Catarina, os rodeios de Peões de Boiadeiro, as “rinhas” de galos, cães e outros
animais são motivo de debate entre os defensores da manutenção dessas
manifestações e os defensores de uma postura ética dos seres humanos frente aos
animais.
Para essas discussões não se estabeleçam somente no nível do senso
comum foi preciso utilizar os referenciais teóricos da filosofia para se encontrar os
fundamentos que sustentariam as novas posturas. Dessa forma, estudos sobre as
relações entre a lei moral e a lei civil se fizeram necessárias para que se pudesse
mediar os debates entre as posturas de uma ética laica e a ética religiosa.
Em outro caso, quando se trata de pesquisas envolvendo o ser humano,
pode-se pensar em, antes de mais nada, definir o que é o ser humano. Por isso, os
referenciais teóricos do personalismo tornaram-se importantes para a ciência

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médica. Portanto, estudar o ser humano tanto do ponto de vista da antropologia


filosófica, como da ética fazem-se necessários para a formação dos profissionais
que mais tarde terão de enfrentar o problema da intervenção sobre seres humanos.
Analisemos agora, de maneira sucinta, alguns dos principais temas da
bioética.

a) Bioética e Genética
Esse é, sem dúvida, um dos temas mais candentes da bioética, pois a
engenharia genética deu origem à uma série de especulações sobre o limite da
ciência. O contexto de incerteza que envolve as pesquisas em engenharia genética
gera uma série de manifestações que chama à vigilância.
Há um problema inicial que é o de definir os termos que estão no centro do
conflito. Por “manipulação genética” entende-se um termo muito amplo que envolve
uma série de procedimentos que significa qualquer forma de intervenção no
patrimônio genético, ao passo que “engenharia genética” é um termo mais
específico que significa: o conjunto das técnicas que tendem a transferir para a
estrutura da célula de um ser vivente algumas informações genéticas que de outro
modo não teria tido.
Há duas posturas fundamentais frente ao campo de experimentação da
engenharia genética. O primeiro é o grupo dos otimistas, biólogos moleculares e
geneticistas que estão convictos das possibilidades terapêuticas da genética,
portanto, da criação da geneterapia. Esse grupo quer plena liberdade e não quer ser
limitado por uma série de empecilhos impostos por lei, que tolham os meios que
empregam em suas pesquisas, como é o caso de pesquisas com embriões. Em
geral, transferem o problema ético para um problema técnico. Como alegam ser
impossível definir quando começa a vida consideram isso uma autorização para a
pesquisa com embriões. Seus adversários alegam que após a concepção, já há um
ser humano ontologicamente formado e não um simples aglomerado de moléculas.
Outro grupo formado, via de regra, por juristas e moralistas (nesse caso,
estudiosos da moral) considera um risco a livre manipulação genética,
especialmente em experiências com seres humanos, pois novamente o homem
torna-se objeto da ciência e não o seu sujeito.

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Conforme Sgreccia: “Jamais a ética foi tão importante na medicina, na


biologia e na sociedade: as descobertas científicas fizeram com que a moral, a que
se preocupa com a vida, se tornasse de interesse para todos, problema de
importância prioritária na sociedade, e da sociedade em nível mundial”. (1996, p.
215).

b) Bioética e Aborto
O tema do aborto gera inúmeros debates e posições antagônicas. Alguns
utilizam argumentos históricos, lembrando como ele era concebido em outras
culturas; outros usam dados estatísticos, mostrando que a proibição do aborto a não
ser em casos muito específicos, gera um outro tipo de problema, isto é, os abortos
clandestinos que condenam à morte milhares de mulheres pelo mundo. Psicólogos
se debruçam sobre o tema da motivação para o aborto; sociólogos, para as causas
sociais e seus efeitos; filósofos e teólogos debruçam-se sobre o tema da vida
humana e a exigência da definição sobre o que é o ser humano.
Para Sgreccia: “O primeiro dado incontestável, esclarecido pela genética, é o
seguinte: no momento da fertilização, ou seja, da penetração do espermatozóide no
óvulo, os dois gametas dos genitores formam uma nova entidade biológica, o zigoto,
que carrega em si um novo projeto-programa individualizado, uma nova vida
individual”. (1996, p. 342). Assim, cai por terra a dúvida de alguns juristas e a
certeza de muitos cientistas de que o termo pessoa não poderia ser aplicado a um
embrião, argumentando que há dúvidas se nos diferentes estágios de
desenvolvimento embrionário encontra-se um ser humano. Ora, é claro que não é
um ser humano completo, mas sem dúvida nenhuma é o mesmo indivíduo que mais
tarde será definido como pessoa.
Há correntes, porém que discordam desse ponto de vista. Para tais correntes,
por exemplo, a da “linha primitiva”. Para essa corrente, há um momento de
passagem do pré-embrião ao estágio de embrião; até esta passagem o aborto seria
possível, pois o pré-embrião ainda não seria uma pessoa. Essa linha primitiva seria
atingida no 6º dia de fecundação, quando, no momento da implantação o blastócito
passaria do estado de totipotência para o de unipotência.

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Outra corrente considera fundamental para a delimitação da pessoa a


formação do sistema nervoso e o início da vida cerebral; o que nos levaria a
conceber como ser humano o espaço de tempo entre o início e o fim da vida
cerebral. Para essa corrente, sem a presença de um cérebro funcional não há, no
sentido médico, um ser humano.

c) Bioética e Eutanásia
Como pudemos ver, a definição de ser humano como o indivíduo que possui
pleno funcionamento do sistema nervoso e do cérebro. Assim, o tema da eutanásia
se segue ao do aborto, porque também prescinde da compreensão do que é o ser
humano. O tema fundamental que percorre o debate é o de “humanização da morte”
ou dignidade da morte”.
Em primeiro lugar, a definição de eutanásia nos é oferecida por Marcozzi:
“Eutanásia é a eliminação indolor ou por piedade de quem sofre ou presume-se
estar sofrendo e possa sofrer no futuro de modo insuportável” (1975, IV, p. 322).
Ora, os que argumentam a favor da eutanásia procuram idéias que justifiquem a
abreviação do sofrimento ou da vida vegetativa quando não há mais esperança de
um outro estado. Porém, o que se questiona é, novamente, supor que o ser humano
se limite ao funcionamento do sistema nervoso e do cérebro. Além disso, recusa-se
os termos eutanásia ativa e eutanásia passiva, pois em última instância, a ação
médica ou a inação resultam na mesma conclusão.
Sgreccia considera a eutanásia uma prática condenável sob todos os
aspectos e recorda o juramento de Hipócrates: “Não me deixarei induzir pelo pedido
de ninguém, quem quer que ele seja, a dar de beber veneno ou a dar o meu
conselho numa contingência dessa”. (1996, p. 602).

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2004.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus,
1990, volumes III.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
Sugerimos como bibliografia complementar a obra dos autores citados neste
trabalho publicados pela coleção os Pensadores

ARISTÓTELES. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


BEAUCHAMP, T. L. e CHILDRESS, J. F. Princípios de Ética Biomédica. São
Paulo: Loyola, 2002.

EPICURO Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


GUTHRIE, W. K. C. Os Sofistas. São Paulo: Paulus, 1995.
HERZBERG, F. Novamente: como se faz para motivar os funcionário? In:
Psicodinâmica da Vida Organizacional: Motivação e Liderança. São Paulo, Atlas,
1996.

HITT, Willian. Ethics and leadership: putting theory into pratictice. Columbus,
Ohio: Battelle Press, 1990.

MAQUIAVEL. O Príncipe. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,


1973.

MOREIRA, L. Com Habermas, Contra Habermas: direito, discurso e democracia.


Tradução de ensaios de Karl Otto Apel. São Paulo: Landy, 2004.

KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Bauru: Edipro, 2003.


MARCOZZI, V. Il Cristiano di fronte all´eutanasia. “La Civilita Cattolica”, VI. 1975.
PLATÃO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
ROUSSEAU. Do Contrato Social e outras obras. Coleção os Pensadores. São
Paulo: Abril Cultural, 1973.

Emílio ou da Educação. Bertrand Brasil, 1992.


SANTO TOMÁS DE AQUINO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1973.

SANTO AGOSTINHO. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


SGRECCIA, E. Manual de Bioética: fundamentos e ética biomédica. São Paulo:
Loyola, 2002.

SENECA Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.


SOCRATES . Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

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