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Colégio Militar de Porto Alegre


Língua Portuguesa – 3º ano Base
Profª. Cláudia Farias

FUNÇÕES DO QUÊ E do SE

O quê e o se são palavras versáteis que desempenham diferentes funções na


construção frasal. Para melhor compreender as possiblidades de uso desses vocábulos,
analise os textos que seguem.

Observe que, na tirinha acima, o quê foi usado várias vezes, mas com diferentes
funções. Na primeira ocorrência da fala do personagem Manolito, o conectivo integra
uma oração substantiva, agindo, assim, como conjunção integrante. Já na segunda
ocorrência, retoma o termo anterior, atuando como pronome relativo. São os dois usos
mais recorrentes do quê. Ainda na fala do primeiro quadrinho, a terceira ocorrência do
conectivo estabelece uma relação de comparação entre os anos, constituindo-se, dessa
forma, como uma conjunção subordinativa com valor de comparação.
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Já na fala da personagem Mafalda, o quê atua, respectivamente, como conjunção


integrante, pronome relativo e conjunção integrante nas três primeiras ocorrências. No
seu último emprego, por sua vez, a expressão é que age como partícula de realce, já
que apenas ressalta a informação dada, podendo ser retirada da frase sem prejuízo para
a correção da construção do período.

Veja outras funções da palavra que, que pode ser usada nos mais diversos gêneros
textuais.

*Conjunção explicativa, quando for equivalente a pois. Veja:

“Mas é claro que o sol


Vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei...

Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem” =
(...)
(Legião Urbana, Mais uma vez)

Atenção:

└ O quê pode ser ainda conjunção subordinativa, introduzindo orações adverbiais:

a) Conjunção comparativa:
Melhor / pior que
Mais / menos que
Ex.: Brad Pitt é mais talentoso que Tom Cruise.

b) Conjunção consecutiva (consequência):


Tanto / tamanho / tão que
Ex. Brad Pitt se empenhou tanto / que fez um belo filme.

*Preposição, quando tiver o mesmo valor da preposição de. Veja:


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*Substantivo: quando agir como um nome (normalmente precedido por artigo).

*Pronome indefinido, quando tiver sentido de quanto(s) ou quanta(s).

Atenção:
Que + substantivo = pronome indefinido
Ex.: Que calor!
Que + adjetivo = advérbio
Ex.: Que bonito!

*Pronome interrogativo, quando estiver introduzindo perguntas.


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Quanto ao se, também são variadas as suas funções, que podem ser empregadas em
virtude das características de determinado gênero textual. Compare os textos abaixo.

Texto I

Texto 2

1) No primeiro exemplo, o se age como partícula apassivadora, usado na construção


da voz passiva. Nesse tipo de constução, o foco da informação recai na ação e não no
sujeito, por isso é muito usado em anúncios classificados ou em notícias de jornal. Para
se redigir textos na voz passiva, é preciso que os verbos sejam transitivos diretos ou
transitivos diretos e indiretos (VTD / VTDI).

No segundo exemplo, o se age como índice de interminação do sujeito, usado


na construção de orações com sujeito indeterminado. Nesse caso, os verbos devem ser
de ligação, intransitivos ou transitivos indiretos (VL, VI e VTI). Note que,
semanticamente, os dois empregos do se ajudam a impessoalizar o sujeito, criando
um certo distanciamento entre aquele que pratica a ação e a própria ação. Devem
ser empregados, assim, em gêneros textuais que têm esse propósito.

2) O se também pode ser usado como conjunção condicional ou integrante.


Veja a diferença.

Espatódea
(Nando Reis)
Minha cor
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Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada

Não sei se o mundo é bom


Mas ele ficou melhor
Quando você chegou e perguntou:
Tem lugar pra mim?
[...]
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoe...

O texto acima é uma canção de Nando Reis feita para sua quarta filha, chamada Zoé, que
em grego significa vida. O nome da música remete a uma árvore que gera uma flor cor
de laranja, mesma cor dos cachinhos de Zoé, sua única filha ruiva.

Na construção do texto, o autor usa o se com diferentes funções. Em “Não sei se


o mundo é bom”, o se integra uma oração subordinada substantiva, para completar o
sentido da oração principal. Nesse caso, trata-se de uma conjunção subordinativa
integrante, sem valor semântico.

Para finalizar o texto, o compositor escreve “Meu mundo não teria razão /
Se não fosse a Zoe...”. Nessa construção, o se introduz uma oração subordinada adverbial
com valor de condição, constituindo-se, assim, como uma conjunção subordinativa
condicional.

3) O se também pode exercer função de pronome reflexivo ou de partícula integrante


do verbo, sendo muitas vezes confundido.

Veja a diferença:

Ator se feriu durante as filmagens e diretor aproveitou cena em 'Herói'.

E
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No 1º exemplo acima, o ator executou a ação de ferir-se e também foi alvo dessa ação.
Assim, o verbo é reflexivo e o pronome se também, exercendo função de objeto direto
do verbo complementado. Note que, nesse caso, o pronome equivale a “a si mesmo”.
Dependendo da pessoa gramatical, pode corresponder também a “a mim mesmo” ou a
“a ti mesmo”. O mesmo ocorre no 2º exemplo, pois o sujeito desinencial você recebe o
conselho de questionar a si mesmo.

ATENÇÃO: As formas do reflexivo nas pessoas do plural (representadas pelos


pronomes “nos, vos e se”) são utilizadas também para representar a reciprocidade
da ação, ou seja, que ela é mútua entre dois ou mais indivíduos. Nesse caso,
afirmamos que se trata de um pronome reflexivo recíproco.

Veja:
Eu e ele nos cumprimentamos.
Paulo e Marcos se acusavam frequentemente pelo fato ocorrido.

Nesse caso, o pronome pode ser substituído por “um ao outro, uns aos
outros, entre si”.

*Neste exemplo, o pronome se integra um verbo essencialmente pronominal, ou


seja, aquele que necessariamente traz para junto de si um pronome oblíquo, detonando
quase sempre sentimentos e atitudes próprias do sujeito. Trata-se de uma partícula
integrante do verbo, que acompanha verbos como queixar-se, arrepender-se,
vangloriar-se, submeter-se, entre outros.

Não confundir

Pronome reflexivo x Partícula integrante do verbo


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1) O SE só pode ser considerado 100% reflexivo se a ação praticada pelo sujeito


incidir sobre si mesmo. Além disso, o verbo tem que ser necessariamenteTD ou
TDI, pois o SE pronome reflexivo sempre vai exercer função sintática de OD ou,
mais raramente, OI.

– João se feriu com a navalha. (Equivale a “João feriu João com a navalha”, que equivale
a “João foi ferido por João com a navalha”. Ele feriu a si mesmo.

– Maria se impôs uma severa dieta. (Equivale a “Maria impôs à Maria uma severa dieta”,
que equivale a “Uma severa dieta foi imposta à Maria pela Maria”. Ela impôs uma dieta
severa a si mesmo)

Nesses casos, o SE é evidentemente pronome reflexivo. Os verbos nesses casos


costumam ser chamados de “verbos pronominais reflexivos”.

2) O SE partícula integrante do verbo (PIV) é um “falso reflexivo”, pois não indica


reflexividade evidente, uma vez que não se pode imaginar que o sujeito do verbo
acompanhado de PIV exerce uma ação voluntária e intencional sobre si mesmo. Além
disso, o SE partícula integrante do verbo não exerce função sintática de nada.

– João se queixou de nós. (Equivale a “João queixou João de nós” ou “João foi queixado
de nós por João”??? Essas construções são inexistentes na língua.)

Percebeu como é impossível interpretar o SE como reflexivo? Logo, o SE é PIV,


pois ele serve de apêndice para a conjugação verbal (eu me queixo, tu te queixas, ele
se queixa, nós nos queixamos…). Chamamos a esse tipo de verbo de “verbo
essencialmente pronominal”. É importante dizer que esse tipo de verbo é
normalmente intransitivo ou transitivo indireto (raramente de ligação), mas
nunca é transitivo direto ou transitivo direto e indireto. Saber esse detalhe é
importante para diferenciar PIV de PR

O MOTIVO DA CONFUSÃO ENTRE “PR” E “PIV”

Na maioria das vezes, a dificuldade se dá porque o aluno tenta substituir o SE


por A SI MESMO. Nessa troca, às vezes, dá-se a impressão que a permuta é perfeita.
Mas não é. Por exemplo, quando se diz assim “Ele se levantou da cadeira”, muitos vão
fazer assim: “Ele levantou a si mesmo da cadeira”. E vão achar que essa é uma frase
legítima e que o SE é PR. No entanto, não é PR, e sim PIV.

Raciocine: quando se diz que alguém se levantou da cadeira, isso não quer dizer
que ele pegou a si mesmo pelos braços e se ergueu da cadeira. Não! “Levantar-se” é
uma ação espontânea e individual. Logo, não há reflexividade, pois o indivíduo não
está sofrendo a ação de ser levantado.

Sim. É uma sutileza, mas ela existe e é determinante para a classificação do SE


como PR ou PIV. Em “levantar-se”, o SE é, portanto, PIV.
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O que normalmente causa dificuldade são os verbos ACIDENTALMENTE


pronominais, como é o caso de “levantar-se”, a saber: aqueles que NÃO SÃO, POR
NATUREZA, acompanhados de SE PIV. Mas, quando mudam de transitividade —
normalmente de VTD para VI/VTI —, passam a verbos acompanhados de SE PIV. (Essa
questão da mudança de transitividade é o cerne da questão!)

Veja:

– João esqueceu a carteira. (VTD)


– João esqueceu-se da carteira. (VTI; SE PIV)
– João casou ontem. (VI)
– João se casou com Maria. (VTI; SE PIV)
– João concentrou sua energia. (VTD)
– João se concentrou para lutar. (VI; SE PIV)

Fonte: https://materiais.portuguescompestana.com.br/se-pronome-reflexivo-x-parte-
integrante-do-verbo/

Exercícios

Texto 1

Disponível em: https://www.google.com.br/search?q=fumar+é+prejudicial+ao+bolso. Acesso


em 15/9/2021.

01. Em relação ao uso do quê, observe as afirmações que seguem.

I – Caso, no anúncio da carteira de cigarros, retirássemos os dois pontos e


acrescentássemos um quê, ele teria a função de preposição, visto que ligaria as
orações.
II – O quê presente na frase do fumante é um pronome indefinido, já que desempenha
uma função de adjunto adnominal.
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III – Se a redação da primeira parte do texto que está na carteira de cigarros fosse “O
Ministério, que é da saúde, adverte:”, o quê teria a função de pronome relativo, pois
estaria retomando a palavra Ministério.

Estão corretas
(A) apenas I (D) apenas II.
(B) apenas I e II. (E) apenas II e III.
(C) apenas I e III.

Texto 2

02. Assinale a alternativa correta em relação ao uso do quê:

(A) No segundo quadrinho, o segundo quê exerce a função de partícula expletiva.


(B) Os quês do terceiro e do quarto quadrinhos desempenham a mesma função:
pronome relativo.
(C) Pode-se, sem prejuízo ao significado do texto, substituir a palavra “quanta” por
um quê, pois trata-se de um pronome indefinido.
(D) O primeiro quê, do segundo quadrinho, é uma preposição.
(E) A função sintática exercida pelo quê no último quadrinho é objeto direto.

Texto 3
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03. Na construção do texto, o autor usa o que como uma conjunção integrante. Trata-
se de uma conjunção com valor semântico? Justifique a sua resposta.
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Texto 4

04. Assinale a alternativa correta em relação ao uso do se nos quadrinhos.

(A) No primeiro quadrinho, o se é uma conjunção integrante e estabelece relação


de condição com a oração principal.
(B) O se do primeiro e do segundo quadrinhos pertencem à mesma classe de
palavras.
(C) No segundo quadrinho, o se é uma conjunção integrante que introduz uma
oração com valor de objeto direto.
(D) No terceiro quadrinho, o se é um pronome reflexivo recíproco.
(E) Todas as alternativas estão corretas.
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05. Os vocábulos que, destacados no período abaixo, podem ser classificados


morfologicamente do mesmo modo? Justifique a sua resposta.

“É por isso que se afirma que o consumismo funciona como um “vício” que
aprisiona o indivíduo pós-moderno e o ilude com promessas de felicidade, que geram
frustração e ansiedade porque não se saciam jamais.”

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Texto 5

06. Os textos 5 e 6 consistem em anúncios, mas com propósitos comunicativos


diferentes. Sendo assim, utilizam construções linguísticas diferentes para atingirem seus
objetivos. Explique essa afirmativa com base nas funções exercidas pelo se nas duas
construções.

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07. O vocábulo que possui funções distintas na estruturação dos trechos abaixo. Explique
essa diferenciação.

I- Compreendi que não nos entenderíamos.


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II- Refere-se a situações em que – tal como uma viagem, uma aventura – fale-
se de livros e de histórias.

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08. Os vocábulos se destacados podem ser classificados morfologicamente do mesmo


modo? Justifique a sua resposta.

“Ele contamina a relação entre os indivíduos, de tal forma que acaba criando
novos padrões de relacionamento: os afetos tornam-se, na ótica consumista,
descartáveis e provisórios. É como se consumíssemos também as pessoas, em relações
efêmeras que se alternam constantemente na busca de uma satisfação que não chega
jamais.”

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