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Há muito em minhas aulas alerto do benefício de ser ler o texto mais basilar da

cultura ioguica sem comentários e, só depois, ler o que outros pensaram sobre
o que significam. Abaixo tive a paciência de transcrever todos os sutras de
Patanjali suprimindo os comentários. Por pura praticidade utilizei as traduções
de Taimni e Mehta, mas você pode e deve incluir outras.

Divirta-se!

Seção I – SAMADHI PADA

I-1)Taimni: (Será feita) agora uma exposição do Yoga

Mehta: Agora começa uma discussão sobre o Yoga

Gulmini: Agora, a instrução do Yoga

I-2)Taimni: Yoga é a inibição das modificações da mente

Mehta:Yoga é a dissolução de todos os centros de reação da mente

Gulmini: Yoga é a supressão dos movimentos da consciência

I-3)Taimni: Então, o vidente está estabelecido em sua própria natureza


essencial e fundamental
Mehta:Neste estado, o vidente está estabelecido em sua própria natureza
original

Gulmini: Isto feito, obtém-se a permanência da testemunha em sua natureza


própria

I-4)Taimni: : Nos outros estados existe assimilação (do vidente) com as


modificações (da mente)

Mehta:Com os centros de reação não dissolvidos, o vidente permanece


identificado com as tendências adquiridas da mente

Gulmini: Caso contrário, ocorre a assimilação dos movimentos

I-5)Taimni: As modificações da mente são de cinco tipos e são dolorosas ou


não-dolorosas

Mehta: Os centros de reação são os causadores da dor ou do prazer; eles


podem ser agrupados de uma maneira quíntupla

Gulmini: Os movimentos da consciência são de 5 tipos, aflitivos e não-aflitivos

I-6)Taimni: (Elas são) conhecimento correto, conhecimento errôneo, fantasia,


sono e memória

Mehta: As tendências de reação são formadas pela razão, irracionalidade,


fantasia, sono e memória

Gulmini: São eles: aferição justa, erro, composição, sono profundo e memória
I-7) Taimni: (Os fatos de) conhecimento correto (são baseados em) cognição
direta, inferência <associação> ou testemunho

Mehta: A razão tem suas raízes na cognição sensorial, na inferência e no


testemunho de autoridade reconhecida

Gulmini: As aferições justas são: percepção sensorial, inferência e cognição


verbal

I-8) Taimni: Conhecimento errôneo é uma concepção falsa de uma coisa, cuja
forma real não corresponde a tal concepção errada.

Mehta: Quando os fatos são cobertos com as super-imposições da mente, o


funcionamento da irracionalidade é visto

Gulmini: O erro é um conhecimento falso, estabelecido no que não é sua


natureza

I-9) Taimni: Uma imagem evocada por palavras, sem base em nenhuma
substância, é fantasia

Mehta: A fantasia é a imagem evocada pelo estímulo de palavras sem qualquer


realidade por trás de si

Gulmini: A composição é consequência do conhecimento pela palavra, e é


vazia de substância

I-10) Taimni: A modificação da mente baseada na ausência de qualquer


conteúdo é sono

Mehta: A atividade da mente que é desprovida de significado e conteúdo é


semelhante à condição de sono
Gulmini: Sono profundo é movimento, com suporte na cognição da ausência

I-11) Taimni: Memória é não permitir a fuga de um objeto que foi


experimentado

Mehta: Uma tentativa de dar continuidade a uma experiência, mesmo depois


que o acontecimento tenha passado, é Memória

Gulmini: A memória consiste em não permitir a evasão do domínio objetivo


apreendido

I-12) Taimni: A sua (das modificações) supressão (é obtida) pela prática


persistente e pelo desapego

Mehta: A dissolução dos centros reativos da mente é alcançada pela prática e


pelo desapaixonamento

Gulmini: A supressão destes movimentos dá-se pela disciplina e pelo desapego

I-13) Taimni: : Abhyasa é o esforço para permanecer firmemente estabelecido


nesse estado (de citta-vrtti-nirodha)

Mehta: Prática denota um esforço com o propósito de se estar firmemente


estabelecido em um estado livre de todas as tendências reativas

Gulmini: Aqui, disciplina é o esforço na estabilidade

I-14) Taimni: (Abhyasa) torna-se firmemente estabelecido pela prática por


longo tempo, sem interrupção e com reverente devoção
Mehta: A prática deve ser prolongada, ininterrupta e plena de ardor ou
entusiasmo

Gulmini: Quando cultivada por longo tempo, sem interrupção e com reverência,
torna-se firmemente consolidada

I-15) Taimni: A consciência de perfeito domínio (dos desejos) no caso de


alguém que tenha deixado de ansiar por objetos vistos ou não vistos é vairagya

Mehta: O desapaixonamento é uma condição livre de todas os motivos, sejam


aqueles que surgem de um desejo por alguma coisa que tenha sido
experimentada ou por alguma coisa que tenha sido experimentada ou por algo
que ainda não foi experimentado

Gulmini: Desapego é o discernimento sob comando daquele que está livre da


sede do domínio objetivo das coisas vistas e ouvidas por tradição

I-16) Taimni: Este é o mais elevado vairagya, no qual, devido ao percebimento


do purusa, cessa o mais leve desejo pelos gunas

Mehta: No desapaixonamento, devido ao estado de percebimento, há um


completo desapego das atividades dos três atributos ou gunas

Gulmini: Superior a este desapego é a indiferença pelos aspectos fenomênicos,


nascida da revelação do ser incondicionado

I-17) Taimni: Samprajnata samadhi é aquele que é acompanhado por


raciocínio, reflexão, bem-aventurança e sentido de puro ser

Mehta:Pensamento dialético, mentalização ativa, abundância de interesses e


individualidade distintiva são os fatores constituintes de samprajnata samadhi
ou experiência com o pensamento-hábito atuando como um centro
Gulmini: A integração denominada “com todo o saber intuitivo” é seguida pela
natureza do raciocínio, da sondagem, da felicidade sublime e do sentido de
autoafirmação

I-18) Taimni: A impressão remanescente que perdura na mente com a


supressão do pratyaya, após a prática anterior, é a outra (isto é, asamprajnata
samadhi)

Mehta: Quando a consciência retém apenas impressões dos fatos sem suas
associações psicológicas, então atinge-se asamprajanata samadhi ou uma
experiência sem qualquer centro-hábito

Gulmini: A outra integração (denominada “além de todo saber intuitivo”) é


precedida pela disciplina sobre a cognição da cessação, e extingue impressões
latentes

I-19) Taimni: Daqueles que são videhas e prakrtilayas, o nascimento é a causa

Mehta: A mediunidade, seja natural ou causada por fatores materiais ou físicos,


não deve ser confundida com samadhi ou experiência espiritual

Gulmini: A cognição dos estados da existência pertence aos incorpóreos e aos


absorvidos na matriz fenomênica

I-20) Taimni: (No caso) dos outros (upaya-pratyaya yogis), fé, energia,
memória e grande inteligência precedem e são necessárias para o samadhi

Mehta: A experiência espiritual de natureza verdadeira surge quando a


consciência está impregnada de fé, energia, reminiscência e inteligência

Gulmini: No caso dos outros (os yogin), a outra integração (“além de todo saber
intuitivo”) é precedida por: fé, força heroica, memória, integração e saber
intuitivo
I-21) Taimni: (O samadhi) está mais perto para aqueles cujo desejo (pelo
samadhi) é intensamente forte

Mehta: Tal experiência espiritual acontece com aquele que está ardente com
intensidade

I-22) Taimni: Mas uma diferenciação (surge) em razão da suave, média ou


intensa (natureza dos meios empregados)

Mehta: É a natureza da intensidade que determina o padrão para que os meios


empregados sejam suaves, médios ou fortes

I-23) Taimni: Ou pela auto-entrega a Deus

Mehta:A verdadeira espiritualidade é caracterizada por um súbito voltar-se para


a direção de Deus ou para a Realidade Última

I-24) Taimni: Isvara é um purusa particular, que é incólume ás afiliações da


vida, às ações e aos resultados e impressões produzidos por essas ações

Mehta: Deus é aquele Principio distintivo que permanece intocado pelas


aflições da vida, pelos frutos da ação, ou por qualquer motivação

I-25) Taimni: Nele está o limite mais elevado da Onisciência

Mehta: O Principio Último representa a qualidade insuperável de Onsicencia

I-26) Taimni: Não estando condicionado pelo tempo, Ele é o Instrutor até
mesmo dos Antigos
Mehta: É o antigo dos antigos, pois Ele realmente é Atemporal

I-27) Taimni: Sua designação é Om

Mehta: No campo de Tempo, Ele é simbolizado por Om ou Pranaya

I-28) Taimni: : Sua constante repetição e meditação sobre seu significado

Mehta: Na repetição de Om é preciso haver reflexão em meio à repetição

I-29) Taimni: Daí (resulta) o desaparecimento dos obstáculos e a orientação da


consciência para o interior

Mehta: É o que capacita a consciência a voltar-se para dentro, resultando na


eliminação de todos os obstáculos

I-30) Taimni: Doença, languidez, dúvida, negligência, preguiça,


mundanalidade, ilusão, não-conquista de um estágio, instabilidade, este (nove)
causam a distração da mente e são os obstáculos

Mehta: Os obstáculos são distrações causadas por doença, entorpecimento,


dúvida, negligencia, preguiça, anelo, ilusão, não-atingimento do objetivo
desejado e instabilidade

I-31) Taimni: Dor (mental), desespero, nervosismo e respiração difícil são


sintomas de uma condição mental dominada por distrações

Mehta: Os sintomas de uma mente distraída são a morbidade, o tédio, o


nervosismo e a respiração difícil
I-32) Taimni: Para remover esses obstáculos (deveria haver) a prática
constante de uma verdade ou principio

Mehta: A remoção destes obstáculos demanda atenção unidirecionada

I-33) Taimni: A mente torna-se clara pelo cultivo de atitudes de cordialidade,


compaixão, alegria e indiferença diante da felicidade, miséria, virtude e vício,
respectivamente

Mehta:Quando os obstáculos são removidos, uma nova abordagem do


relacionamento humano é revelada e é simbolizada pela amizade, compaixão,
alegria e consideração para com a felicidade ou sofrimento, virtude ou vício do
outro

I-34) Taimni: Ou pela expiração e retenção da respiração

Mehta: A tranqüilidade da atenção unidirecionada torna-se possível, em parte,


por meio de uma respiração regular

I-35) Taimni: A ativação dos sentidos (superiores) também ajuda a estabelecer


firmeza na mente

Mehta: A estabilidade da mente é também possível através da mudança dos


sentidos do sensual para o sensório

I-36) Taimni: Também (através de estados experimentados interiormente)


serenos ou luminosos

Mehta: Serenidade e uma perceção mental clara permite movermo-nos para a


atenção unidirecionada
I-37) Taimni: Também a mente fixada naqueles que estão livres de apego
(adquire firmeza)

Mehta: Somos capazes de nos mover na direção da atenção unidirecionada, ao


visualizarmos aquela condição de mente que está livre das atrações dos
opostos

I-38) Taimni: Também (a mente) apoiada em conhecimentos obtidos durante o


sono, com ou sem sonhos (adquirirá firmeza)

Mehta: Isso requer uma inquirição sobre a atividade das camadas


subconscientes e inconscientes da mente

I-39) Taimni: Ou pela meditação que se desejar

Mehta:Isso é possível apenas seguindo o caminho da meditação que se


considerar mais conveniente

I-40) Taimni: Sua maestria estende-se desde o átomo mais ínfimo até a
grandeza infinita

Mehta: Com a remoção dos obstáculos surge o domínio da cognição e da ação


que se estende do menor até o maior

I-41) Taimni: No caso de alguém cujas citta-vrttis foram quase completamente


aniquiladas, ocorre a fusão ou completa absorção recíproca do conhecedor, do
conhecimento e do conhecido, como no caso de uma jóia transparente
(colocada sobre uma superfície colorida)
Mehta: No caso de alguém cujas tendências reativas tenham sido quase
completamente eliminadas, surge uma fusão do conhecedor com o conhecido
e o conhecimento, do mesmo modo que a jóia transparente funde-se com a cor
da superfície em que repousa

I-42) Taimni: Savitarka samadhi é aquele em que o conhecimento baseado


somente em palavras, o conhecimento real e o conhecimento comum
baseados na percepção sensorial ou no raciocínio, estão presentes em um
estado de mistura e a mente passa, alternadamente, de um para outro

Mehta: No savitarka samadhi, uma experiência que tem como centro a


modificação-pensamento, observa-se uma confusão mental, porque a mente
alterna-se entre pensamento verbal e conceitual

I-43) Taimni: Na clarificação da memória, quando a mente perde sua natureza


essencial (subjetividade), por assim dizer, e somente o conhecimento real do
objeto brilha (através da mente), nirvitarka samadhi é atingido.

Mehta: Nirvitarka-samadhi – a experiência na qual não existe o centro da


modificação-pensamento – é alcançada quando, em virtude da purificação da
memória, as projeções subjetivas da mente são abandonadas

I-44) Taimni: Dessa maneira (como foi dito nos dois sutras precedentes),
samadhi de savicara, nirvicara e estágios mais sutis (I-17) também foram
explicados

Mehta:O problema do savitarka e nirvitarka samadhi – uma experiência com ou


sem centro de modificação-pensamento – indica uma investigação nas
camadas mais sutis e profundas da mente

I-45) Taimni: O domínio de samadhi, no que concerne aos objetos sutis,


estende-se ao estagio (último) alinga dos gunas

Mehta:Até mesmo o pensamento mais abstrato não pode ir além do campo de


alinga ou prakrti – ou seja, além do campo da manifestação.
I-46) Taimni: Esses (estágios que correspondem aos objetos sutis) constituem
somente samadhi com “semente”

Mehta:Mesmo este centro circunda uma semente-pensamento

I-47) Taimni: Ao alcançar a pureza máxima do estágio nirvicara (de samadhi)


dá-se o alvorecer da luz espiritual

Mehta: Na completa cessação do pensamento surge a preciosa dádiva da


iluminação espiritual

I-48) Taimni: Nesse (estágio) a consciência é portadora de Verdade e Religião

Mehta: Somente então a Sabedoria portadora da Verdade desponta na outrora


limitada consciência do homem

I-49) Taimni: O conhecimento baseado em inferência ou testemunho é


diferente do conhecimento direto, obtido nos mais elevados estados de
consciência (I-48), porque está confinado a um objeto particular (ou aspecto)

Mehta:O conhecimento direto é totalmente diferente do conhecimento derivado


da inferência e do testemunho, pois, enquanto o ultimo é conhecimento
generalizado, o primeiro é o conhecimento do único e do particular.

I-50) Taimni: A impressão produzida por ele (sabija samadhi) obstrui o


caminho de outras impressões

Mehta:Quando há um pensamento com um centro, as impressões, aderidas a


este centro, impedirão o despontar de nova luz na consciência.
I-51) Taimni: Com a supressão até mesmo daquela (impressão), devido à
supressão de todas (as modificações da mente), samadhi “sem semente” (é
atingido).

Mehta: Quando o próprio núcleo de identidade é destruído, há uma completa


cessação de todas as tendências reativas, trazendo assim à existência nirbija
samadhi, ou uma experiência na qual não há sem mesmo uma semente-
pensamento agindo como um centro.

Seção II – SADHANA PADA

II-1) Taimni: Austeridade, auto-estudo e entrega a Isvara constituem o Yoga


preliminar.

Mehta: Austeridade, auto-estudo e aspiração constituem a disciplina preliminar


do Yoga.

II-2) Taimni: (Kriya-yoga) é praticada para atenuar os klesas e produzir o


samadhi.

Mehta: Seu propósito é diminuir o impacto das aflições e levar o aspirante à


verdadeira iluminação espiritual.

II-3) Taimni: Falta de percebimento da Realidade, o senso de egoísmo ou


“egoidade”, atrações e repulsões em relação a objetos e o forte desejo de viver
são as grandes aflições ou casas de todas as misérias da vida.

Mehta: As causas das aflições residem na ignorância, falsa identificação,


atração, repulsão e desejo de continuidade.
II-4) Taimni: Avidya é a origem daqueles que são mencionados em seguida,
estejam estes no estado dormente, atenuado, alternante ou expandido.

Mehta: Avidhya ou ignorância dá origem à aflições, que podem ser latentes


tênues, intermitentes ou plenamente ativas – ou todas estas condições.

II-5) Taimni: Avidya é tomar o não-eterno, impuro, mal e não-atman como


sendo o eterno, puro, bem e atman, respectivamente.

Mehta: Avidhya ou ignorância é confundir o transitório, o composto (impuro), o


gerador da dor, o irreal (o adquirido) com o Eterno, o Puro, o Doador de
felicidade e o Real ou o Original.

II-6) Taimni: Asmita é a identificação ou mistura, por assim dizer, do poder da


consciência (purusa) com o poder da cognição (buddhi).

Mehta: Em asmita ou o sendo do eu (i-ness), o instrumento da percepção é


considerado idêntico àquele que percebe.

II-7) Taimni: A atração que acompanha o prazer é raga.

Mehta: Raga ou atração é a busca de prazer.

II-8) Taimni: A repulsão que acompanha a dor é dvesa.

Mehta: Dvesa ou repulsão é evitar a dor.

II-9) Taimni: Abhinivesa é o forte desejo de viver que domina até mesmo os
eruditos (ou os sábios).
Mehta: Abhinivesa ou ânsia de viver é o desejo de continuidade, que se
encontra em todos, até mesmo entre os eruditos.

II-10) Taimni: Esses, os (klesas) sutis, podem ser reduzidos pela sua
reabsorção de volta à sua origem.

Mehta:Para resolver todas as aflições, é necessário descobrir como elas


surgem.

II-11) Taimni: Suas modificações ativas devem ser suprimidas pela meditação.

Mehta:Apenasna meditação é possível uma completa cessação de todas as


aflições.

II-12) Taimni: O reservatório dos karmas, os quais estão enraizados nos


klesas, causa toda a espécie de experiências na vida presente e nas futuras.

Mehta: Nas aflições reside toda à base de funcionamento do karma, e é daí


que se expressa no presente e no futuro.

II-13) Taimni: Enquanto a raiz estiver ali, precisa amadurecer e resultar em


vidas de diferentes classes, duração e experiências.

Mehta: Enquanto a raiz do karma permanecer, os fatores limitantes de natureza


objetiva ou subjetiva continuarão a operar com relação a todas as experiências.

II-14) Taimni: Elas terão alegria ou tristeza como seu fruto, conforme sua causa
seja virtude ou vício.

Mehta: Devido a esses fatores limitantes, sejam agradáveis ou desagradáveis,


os frutos do karma, de felicidade ou sofrimento, precisam ser colhidos.
II-15) Taimni: Para quem desenvolveu o discernimento, tudo é miséria por
causa da dor resultante das mudanças, ansiedades e tendências bem como
dos conflitos que permeiam o funcionamento dos gunas e das vrttis (da mente).

Mehta: Para o sábio, todas as mudanças que surgem do conflito dos opostos
são repugnantes, devido à tríplice miséria que acarretam.

II-16) T: O sofrimento que ainda não chegou pode e deve ser evitado.

Mehta: O sofrimento que ainda não chegou pode ser evitado.

II-17) T: A causa daquilo que deve ser evitado é a união do vidente com o visto.

Mehta: No fenômeno obseravdor-observado encontra-se a causa do sofrimento


que pode ser evitado.

II-18) Taimni: O visto (lado objetivo da manifestação) consiste de elementos e


órgãos dos sentidos; tem por natureza a cognição, a atividade e a estabilidade
(sattva, rajas e tamas) e tem por propósito (proporcionar ao purusa)
experiências e liberação.

Mehta:O observado vem à existência quando o impacto dos sentidos é


modificado pelas gunas ou pelos três fatores condicionantes da mente por
causa da busca de preenchimento da própria mente.

II-19) Taimni: Os estágios dos gunas são o particular, o universal, o


diferenciado e o indiferenciado.

Mehta: As manifestações das gunas ocorrem em função do passivo ou do


ativo, do tosco ou do sutil.
II-20) Taimni: O vidente é pura consciência, mas, apesar de puro, parece ver
através da mente.

Mehta: O observador, ao invés de manifestar puro percebimento, vê através da


tela conceitual da mente.

II-21) Taimni: A própria existência do visto é por sua causa (Isto é, prakriti
existe somente para servir ao purusa).

Mehta: A natureza e o conteúdo do observado existem para a manutenção da


continuidade do observador.

II-22) Taimni: Embora o visto torne-se não existente para aquele cujo propósito
foi cumprido, continua a existir para os outros, por ser comum a todos (além
dele).

Mehta: Para aquele que não objetiva realizar-se através da existência do


observado, o observado não existe; mas para os demais ele continua a existir.

II-23) Taimni: O propósito da união de purusa e prakrti é a conscientização,


pelo purusa, de sua verdadeira natureza e do desenvolvimento dos poderes
inerentes a ele e a prakrti.

Mehta: O fenômeno observador-observado cria um relacionamento de possuir


e de ser possuído.

II-24) Taimni: Sua causa (da união de purusa e prakrti) é a falta de


percebimento (por parte do purusa) de sua real natureza.
M: Este desejo de possuir e de ser possuído é motivado por avidya ou
ignorância.

II-25) Taimni: A dissociação de purusa e prakrti, resultante da dispersão de


avidya, é o verdadeiro remédio e (esta dissociação) é a Libertação do vidente.

Mehta: Com a dissolução da ignorância, desaparece o fenômeno obseravdor-


observado, resultando na emergência da percepção pura.

II-26) Taimni: A prática ininterrupta do percebimento do Real é o meio para a


dispersão (de avidya).

Mehta:Um percebimento ininterrupto é a única maneira de dissolver avidya ou


ignorância.

II-27) T: Em seu caso (de purusa) o mais elevado estágio de Iluminação é


alcançando em sete estágios.

Mehta: Este percebimento deve cobrir a totalidade de nossa existência

II-28) Taimni: Da prática dos exercícios que compõem o Yoga, da destruição


da impureza, brota a iluminação espiritual, que evolui para o percebimento da
Realidade.

Mehta:O propósito da disciplina do Yoga é eliminar as impurezas causadas


pelo processo do condicionamento, de modo que a Luz do Puro Percebimento
Incondicionado possa brilhar.
II-29) Taimni: Auto-restrições, observâncias, postura, controle da respiração,
abstração, concentração, contemplação e êxtase são as oito partes (da
autodisciplina do Yoga).

Mehta: Os oito instrumentos do Yoga são abstinências, observâncias, postura,


controle da respiração, abstração, percebimento, atenção e comunhão ou
absorção.

II-30) Taimni: Os votos de auto-restrições compreendem abstenções de


violência, de falsidade, de roubo, de incontinência, e de cobiça.

Mehta: Não-violência, não falsidade, não-roubar, não-indulgência e não-


possessividade são as abstinências.

II-31) Taimni: Estes (os cinco votos) impedem de classe, lugar, tempo ou
ocasião, e, estendendo-se a todos os estágios, constituem o Grande Voto.

Mehta: Este é o Grande Voto, em cuja observância não devem interferir fatores
biológicos, nem físicos, nem sociais.

II-32) Taimni: Pureza, contentamento, austeridade, auto-estudo e auto-entrega


constituem as observâncias.

Mehta:Pureza, contentamento, simplicidade, auto-estudo e aspiração são as


regras de observância.

II-33) Taimni: Quando a mente é perturbada por pensamentos impróprios, a


constante ponderação sobre os opostos (é o remédio).

Mehta: Quando a mente está distraída por pensamentos não-desejados,


precisamos investigar a natureza do oposto.
II-34) Taimni: Uma vez que os pensamentos e as emoções (e ações)
impróprios, como os de violência etc., sejam eles gerados diretamente,
indiretamente ou aprovados, sejam eles causados por avidez, ira ou ilusão, e
ou se apresentem em grau suave, médio ou intenso, resultam em dor e
ignorância sem fim: por esta razão existe a necessidade de ponderar sobre os
opostos.

Mehta: Quando surgirem tendências indesejáveis, tais como violência, seja por
indulgência, provocação ou conivência, devido às motivações do ganho, do
ressentimento ou da ilusão, expressando-se em formas suaves, médias ou
excessivas, causando pesar e percepção distorcida, investigue o conteúdo e as
implicações do oposto.

II-35) Taimni: Estando (o yogi) firmemente estabelecido na não-violência, deixa


de existir hostilidade em (sua) presença.

Mehta: Quando nos estabelecemos em ahimsa ou não-violência, não pode


existir hostilidade ou ressentimento em suas cercanias.

II-36) Taimni: Estando firmemente estabelecido na veracidade, o fruto (da


ação) repousa somente na ação (do yogi).

Mehta: Para aquele que está estabelecido em satya ou não-falsidade, a própria


ação é sua recompensa.

II-37) Taimni: Estando firmemente estabelecido na honestidade, todas as


espécies de gemas apresentam-se (ante o yogi).

Mehta: Quando estamos estabelecidos em asteya ou não-roubar, sentimos


como se estivéssemos de posse de toda a riqueza do mundo.

II-38) Taimni: Estando firmemente estabelecido na continência sexual, o vigor


(é adquirido).
Mehta: Quando estamos estabelecidos e, brahmacarya ou não-indulgência,
somos dotados de inexaurível energia.

II-39) Taimni: Com o estabelecimento da não-possessividade, surge o


conhecimento de “como” e do “porquê” da existência.

Mehta: Quando estamos estabelecidos e, aparigraha ou não-possessividade,


começamos a compreender o significado da existência.

II-40) Taimni: Da pureza física (surge) repulsa pelo próprio corpo e


indisposição para o contato físico com outros.

Mehta: Pureza indica indiferença para com as reivindicações do eu e um retiro,


de tempos em tempos, para a reclusão ou solidão.

II-41) Taimni: Da pureza mental (surge) pureza de sattva, disposição ao


contentamento, unidirecionalidade, controle dos sentidos e aptidão para a visão
do Eu.

Mehta:Da purificação da mente surge disposição, unidireção, controle dos


sentidos e clareza de percepção.

II-42) Taimni: Superlativa felicidade resulta do contentamento.

Mehta: Quando estamos estabelecidos em santosa ou auto-suficiencia surge


uma alegria incomparável.

II-43) Taimni: Pefeição dos órgãos dos sentidos e do corpo, com a destruição
das impurezas por meio de austeridades.
Mehta: Através da remoção das impurezas chegamos à austeridade ou tapa,
onde o corpo e os sentidos adquirem grande sensibilidade.

II-44) Taimni: Do auto-estudo resulta a união com a deidade desejada.

Mehta: Através do auto-estudo ou svadhyaya, descobrimos a tendência de


nossas aspirações mais elevadas.

II-45) Taimni: Conquista de samadhi pela auto-entrega a Deus.

Mehta: A reta orientação ou Isvara-pranidhana permite-nos chegar ao estado


de contemplação.

II-46) Taimni: A postura (deve ser) estável e confortável.

Mehta: A postura dever ser firme e relaxada.

II-47) Taimni: Pelo relaxamento do esforço e da meditação no “Infinito” (a


postura é dominada).

Mehta:Deve ser conquistado por meio de um estado de passividade alerta.

II-48) Taimni: Então não há ataque dos pares de opostos.

Mehta:É aquele estado onde não há atração dos opostos.

II-49) Taimni: : Isto tendo sido (realizado), (segue-se) pranayama, que é a


cessação de inspiração e expiração.
Mehta:Tendo isso sido realizado, deve haver pranayama ou controle da
respiração, que é a criação de um intervalo entre a inspiração e a expiração.

II-50) Taimni: (Consta de) modificações externa, interna ou suprimida; é


regulado por lugar, tempo e número (e se torna progressivamente) prolongado
e sutil.

Mehta: O intervalo é regulado por lugar, tempo e número e é profundo e


silencioso.

II-51) Taimni: O pranayama que vai além da esfera do interno e do externo é a


quarta (variedade).

Mehta: Quando o intervalo não é acompanhado por inspiração e expiração,


então é um estado avançado de controle da respiração.

II-52) Taimni: A partir disso desaparece o que encobre a luz.

Mehta: No intervalo surge uma clareza de percepção.

II-53) Taimni: E a mente fica preparada para a concentração.

Mehta: Ele prepara a mente para o estado de dharana ou percebimento.

II-54) Taimni: Em pratyahara, ou abstração, é como se os sentidos imitassem


a mente, retirando-se dos objetos.

Mehta: Quando os sentidos imitam a mente em sua ação de recolhimento isso


é denominado pratyahra ou abstração.
II-55) Taimni: Segue-se então o completo domínio dos sentidos.

Mehta: Disto advém a maior elasticidade dos sentidos.

Seção III – VIBHUTI PADA

III-1) Taimni: Concentração é o confinamento da mente dentro de uma área


mental limitada (objeto de concentração).

Mehta: A definição da extensão interna de percepção é dharana ou


percebimento.

III-2) Taimni: Fluxo ininterrupto (da mente) na direção do objeto (escolhido


para meditação) é contemplação.

Mehta: Neste estado, observar o fluxo do pensamento sem qualquer


interrupção é dhyana ou atenção.

III-3) Taimni: A mesma (contemplação), quando há consciência somente do


objeto de meditação e não de si mesma (a mente), é samadhi.

Mehta: Isso é verdadeiramente samadhi, ou comunhão, onde apenas o objeto


é visto, negando-se completamente a presença do observador.

III-4) Taimni: Os três em conjunto constituem samyama.

Mehta:Os três juntos constituem samyama ou meditação.


III-5) Taimni: Pelo seu (de samyama) domínio (surge) a luz da consciência
superior.

Mehta:Através do estado de meditação, penetramos na Luz da Sabedoria.

III-6) Taimni: Sua (de samyama) aplicação (se dá) por estágios.

Mehta:A experiência de samyama ou meditação precisa comunicar-se


gradualmente em estágios ou graus.

III-7) Taimni: Os três são internos em relação aos precedentes.

Mehta: Os três (dharana-dhyana-samadhi) são internos, comparados com os


cinco instrumentos externos.

III-8) Taimni: Mesmo esse (sabija samadhi) é externo em relação ao sem-


semente (nirbija samadhi).

Mehta:No entanto, mesmo os três externos comparados ao “sem-semente”.

III-9) Taimni: Nirodha parinama é aquela transformação da mente na qual esta


é progressivamente permeada pela condição de nirodha, que intervém
momentaneamente entre uma impressão que desaparece e outra impressão
que a substitui.

Mehta: Há uma transformação na qual a mente está cônscia do intervalo entre


a cessação e o reaparecimento do processo do pensamento. Essa
transformação é chamada nirodha-parinãma ou percebimento do intervalo.
III-10) Taimni: Seu fluxo torna-se tranqüilo pela impressão repetida.

Mehta: Cresce firmemente em maior sensibilidade.

III-11)Taimni: Samadhi parinama é aquela transformação que consiste no


desaparecimento (gradual) das distrações com simultâneo surgimento da
unidirecionalidade.

Mehta: Há uma transformação na qual a mente está ciente do silencio que


surge com a cessação das distrações. Essa transformação é conhecida como
samadhi-parinãma ou o percebimento da quietude.

III-12) Taimni: Assim também, a condição da mente em que o “objeto” (na


mente) que desaparece é sempre exatamente similar ao “objeto” que surge (no
momento seguinte) é denominada ekagrata parinama.

Mehta: Há uma transformação na qual o percebimento da mente não é


submetido à mudança, quer haja ruído ou cessação do ruído. Essa
transformação é conhecida como ekagrata parinama ou percepção do silêncio
em meio ao ruído.

III-13) Taimni: Essas transformações da mente são refletidas na qualidade,


nas tendências e nos padrões de comportamento, tanto no nível estrutural
quanto funcional da existência do homem.

Mehta: Desse modo (pelo que foi dito nos últimos quatro sutras) as
transformações de prosperidade, característica e condição nos elementos e
nos órgãos dos sentidos também ficam explicados.

III-14) Taimni: O substrato é aquele no qual as propriedades – latentes, ativas


ou não-manifestadas – são inerentes.
Mehta: O Imanifesto é a Base ou substrato no qual todas as expressões do
passado, presente e fututo residem.

III-15) Taimni:A causa da diferença na transformação é a diferença no processo


subjacente.

Mehta: A causa das diferenças nas expressões deve-se ao fator da sucessão


do tempo.

III-16) Taimni: Pela aplicação de samyama aos três tipos de transformações


(nirodha, samadhi e ekagrata), o conhecimento do passado e do futuro (é
obtido).

Mehta: A mente nova, caracterizada pela tripla transformação, pode


compreender a natureza do Tempo.

III-17) Taimni: O som, seu significado (oculto), e sua idéia (presente na mente
no momento) apresentam-se juntos em um estado confuso. Aplicando
samyama (ao som) eles (o som, seu significado e sua idéia) separam-se e
surge a compreensão do significado dos sons emitidos por qualquer ser vivo.

Mehta: Através da comunhão com o significado verbal, com a significação


projetada e com o conteúdo real, a confusão entre eles é removida, o que nos
permite compreender o real significado da palavra pronunciada seja por quem
for.

III-18) Taimni: Pela percepção direta das impressões (é obtido) o conhecimento


do nascimento anterior.

Mehta:Através da comunhão com nossas próprias tendências inerentes,


podemos compreender a natureza de nossas encarnações anteriores.
III-19) Taimni: (Pela percepção direta, através do samyama), da imagem que
ocupa a mente, (é obtido) conhecimento da mente dos outros.

Mehta: Através da comunhão com as expressões do pensamento do outro,


podemos compreender como sua mente funciona.

III-20) Taimni: Não incluindo, porém, outros fatores mentais que apóiam a
imagem mental, pois este não é o objeto (de samyama).

Mehta: Isso, contudo, não nos habilita a conhecer os fatores motivadores que
sustentam e suportam aquelas imagens-pensamento.

III-21) Taimni: Aplicando samyama ao rupa (um dos cinco tanmatras), com a
suspensão do poder receptivo, o contato entre o olho (do observador) e a luz
(do corpo) é interrompido, e o corpo torna-se invisível

Mehta: Através da meditação no corpo da forma, a consciência retira-se de seu


foco físico e alcança um “estado interno”.

III-22) Taimni: Pelo que foi dito antes, pode ser compreendido o
desaparecimento do som etc.

Mehta: Isso indica que atingiu um estado interno através da meditação no som.

III-23) Taimni: O karma é de dois tipos: ativo e dormente. Aplicando samyama a


eles (é obtido) o conhecimento da hora da morte; e também (aplicando
samyama) aos presságios.

Mehta: O karma pode ser maduro bem como imaturo – aquele que produziu um
efeito, e o que não produziu. Ao entrarmos em comunhão com o efeito,
podemos compreender, através de sinais e indícios, a maneira de dissolver a
causa determinante.
III-24) Taimni: (Aplicando samyama) à amizade etc., (produz-se) o
fortalecimento (da qualidade).

Mehta:Através da comunhão com a virtude, descobrimos a nascente da força


interior.

III-25) Taimni:(Aplicando samyama) à força (dos animais), (obtém-se) a força


de um elefante etc.

Mehta: Esta força interior libera em nós um manancial inexaurível de energia.

III-26) Taimni: Conhecimento do (que é) pequeno, do (que está) oculto ou


distante, (obtém-se) direcionando a luz da faculdade superfísica.

Mehta:Ao projetarmos os poderes ampliados da percepção dos sentidos,


podemos conhecer o pequeno, o oculto e o distante.

III-27) Taimni: Conhecimento do sistema solar (obtém-se) pela aplicação de


samyama ao Sol.

Mehta: Ao refletirmos sobre as forças solares, podemos compreender a


natureza do sistema solar.

III-28) Taimni: (Aplicando samyama) à Lua (obtém-se) conhecimento em


relação à configuração das estrelas.

Mehta: Ao refletirmos sobre a Lua podemos compreender a configuração das


estrelas.
III-29)Taimni: (Aplicando samyama) à estrela polar (obtém-se) conhecimento
dos seus (das estrelas) movimentos.

Mehta: Ao refletirmos sobre a Estrela Polar, podemos compreender o Grande


Projeto subjacente ao movimento das estrelas.

III-30) Taimni:(Pela aplicação de samyama) ao centro do umbigo (obtém-se)


conhecimento da organização do corpo.

Mehta: Através da concentração no chackra do umbigo, podemos compreender


o funcionamento apropriado do mecanismo do corpo.

III-31) Taimni: (Pela aplicação de samyama) à garganta (obtém-se a) cessação


da fome e da sede.

Mehta:Através da concentração na cavidade da garganta, podemos controlar


os impulsos da fome e da sede.

III-32) Taimni: (Aplicando samyama) ao kurma-nadi (nervo específico que atua


como veículo do prana) (obtém-se a) imobilidade.

Mehta: Através da concentração em kurma nadi, o canal nervoso na região do


peito, alcançamos a estabilidade do corpo.

III-33) Taimni: Aplicando samyama) à luz sob a coroa da cabeça (obtém-se a)


visão dos Seres que atingiram a perfeição.

Mehta: Através da concentração na região da coroa da cabeça, obtemos uma


perfeita clareza de percepção.

III-34) Taimni:(Conhecimento) de todas as coisas por intuição.


Mehta:Mas a ilusão habilita-nos ao insight de todas as coisas.

III-35) Taimni:(Aplicando samyama) ao coração (obtém-se o) percebimento da


natureza da mente.

Mehta: Através da meditação no coração, surge um percebimento do


funcionamento de toda a extensão da consciência.

III-36) Taimni: Experiência é o resultado da inabilidade em distinguir entre o


purusa e o sattva, embora os dois sejam absolutamente distintos.
Conhecimento do purusa resulta de samyama (aplicado) ao Auto-interesse (do
purusa), separado do interesse de outrem (de prakrti).

Mehta: Nas experiências normais, o observador e o sujeito são indistinguíveis,


mesmo que sejam absolutamente distintos um do outro. É através da
compreensão da automotivação do observadoir que a distinção entre os dois é
conhecida e, portanto, surge o conhecimento do sujeito.

III-37) Taimni: Daí são gerados audição, tato, visão, paladar e olfato
intuicionais.

Mehta: Então confere-se às experiências dos sentidos q qualidade dimensional


da intuição.

III-38) Taimni: Eles são obstáculos no caminho do samadhi e poderes quando a


mente está voltada para fora.

Mehta: Os poderes psíquicos são um grande obstáculo quando a consciência


não está misticamente orientada.
III-39) Taimni: A mente pode entrar no corpo de outro por meio do relaxamento
da causa da escravidão e da posse do conhecimento das passagens.

Mehta: Quando somos capazes de dissociarmo-nos dos efeitos do karma de


nosso passado e quando conhecemos a requerida técnica, podemos entrar na
consciência e no corpo do outro.

III-40) Taimni: Pelo domínio de udana (obtém-se) a levitação e o não contato


com a água, o lodo, os espinhos etc.

Mehta: Através do controle sobre udana ou o prana ascendente, podemos


adquirir os poderes da levitação.

III-41) Taimni: Pelo domínio de samana (obtém-se) o aviamento do fogo


gástrico.

Mehta:Através do controle sobre samana, o alento vital que cobre a região


entre o coração e a área do umbigo, o corpo torna-se flamejante e fulgente.

III-42) Taimni: Pela aplicação de samyama à relação entre o akasa e o ouvido


(obtém-se) a audição superfísica.

Mehta: Ao estabelecer um relacionamento entre o órgão da audição e akasa ou


Espaço, podemos desenvolver os poderes da audição divina.

III-43) Taimni: Pela aplicação de samyama à relação entre o corpo e akasa e,


ao mesmo tempo, produzindo a fusão da mente com (algo) leve (como) o
algodão (obtém-se o poder de) viajar pelo espaço.

Mehta: Ao estabelecermos um relacionamento com o espaço relativo ao corpo


e ao tomarmos a mente leve como algodão, podemos nos mover no espaço
exterior
III-44) Taimni: A partir de maha-videha, que é o poder de contatar o estado de
consciência que está fora do intelecto e portanto é inconcebível, é destruído o
que encobre a luz.

Mehta: O estado em que a Mente não está presente, inconcebível por todos os
processos de mentalização, é conhecido como maha-videha. Ele remove todas
as cortinas que impedem a entrada da Luz.

III-45) Taimni: Domínio dos panca-bhutas (é obtido) pela aplicação de


samyama aos seus estados denso, constante, sutil, interpenetrante e funcional.

Mehta: Através da concentração nas expressões densas e sutis dos elementos


em suas características essenciais em que tudo penetram e no funcionamento
de seus atributos, adquire-se maestria sobre os cinco elementos.

III-46) Taimni: Daí a obtenção de animan etc., a perfeição do corpo e não-


obstrução de suas funções pelos poderes (dos elementos).

Mehta: Através disso, desenvolvemos poderes psíquicos tais como anima etc.,
alcançamos uma excelência do corpo e seu funcionamento desobstruído.

III_47) Taimni: Beleza, compleição excelente, força e solidez Adamantina


constituem a perfeição do corpo.

Mehta: A excelência do corpo consiste em beleza de forma, graça de


movimento, força da dignidade e agilidade dos membros.

III-48) Taimni: Domínio sobre os órgãos dos sentidos, pela aplicação de


samyama ao seu poder de cognição, sua verdadeira natureza, seu “senso de
individualidade”, sua penetrabilidade e suas funções.
Mehta: Surge uma maestria sobre os sentidos, que envolve sua receptividade,
sua natureza, sua nitidez, seus atributos e propósitos funcionais

III-49) Taimni: Daí (resultam) cognição instantânea, sem a utilização de


qualquer veículo, e completo domínio sobre pradhana.

Mehta: Surge então no campo dos sentidos uma velocidade comparável à da


mente, que resulta na não-dependência de instrumentos ou órgãos dos
sentidos, indicando maestria sobre as forças da natureza.

III-50) Taimni: Somente pelo percebimento da distinção entre sattva e purusa é


obtida supremacia sobre todos os estados e formas de existência (onipotência)
e conhecimento de tudo (onisciência).

Mehta: No percebimento de uma clara distinção entre sattva ou o observador e


purusa ou o sujeito, somos dotados de conhecimento e poder para tratar com
todas as situações da vida

III-51) Taimni: Pelo desapego até mesmo a isso (ao siddhi referido no sutra
anterior), sendo destruída a própria semente da escravidão, Kaivalya é
alcançada.

Mehta: Quando estamos desapegados até mesmo do percebimento do estado


incodicionado, então, devido à destruição da própria semente da corrupção,
chegamos à experiência da liberdade absoluta.

III-52) Taimni: (Devem ser) evitados o prazer ou o orgulho ao ser tentado pelas
entidades superfísicas regentes dos vários planos, porque (ainda) existe a
possibilidade da revivescência do mal.

Mehta:Se surgir um sentimento de prazer ou de orgulho ao recebermos


reconhecimento dos outros, poderá haver uma recorrência às tendências
antigas.
III-53) Taimni: Conhecimento nascido do percebimento da Realidade pela
aplicação de samyama ao momento e (ao processo de) sua sucessão.

Mehta: Quando há um percebimento do momento e também da ocorrência da


sucessão do tempo, daquele momento, então, nasce a Sabedoria.

III-54) Taimni: Daí (vivekajam-jnanam), conhecimento da distinção entre


similares que não podem der distinguidos por classe, características ou
posição.

Mehta:Na Sabedoria surge uma percepção da diferenciação das coisas que, de


outro modo, não podem ser diferenciadas seja por classe, característica ou
posição.

III-55) Taimni: O altíssimo conhecimento nascido do percebimento da


Realidade é transcendente, inclui a cognição de todos os objetos
simultaneamente, abrange todos os objetos e processos do passado, do
presente e do futuro, e também transcende o Processo Mundial.

Mehta: A Sabedoria que transcende todos os processos do conhecimento


conhece a natureza total das coisas de uma só vez e não na sucessão do
tempo

III-56) Taimni: Kaivalya é alcançado quando há igualdade de pureza entre o


purusa e sattva.

Mehta: Quando a experiência e a expressão atuam no mesmo nível e com a


mesma intensidade, nasce o estado de liberdade absoluta.

Seção IV – KAIVALYA PADA


IV-1) Taimni: Os sidhis são resultado de nascimento, drogas, mantras,
austeridades, ou samadhi.

Mehta: Os poderes psíquicos podem ser devidos à hereditariedade, drogas,


encantamentos, austeridades ou samadhi

IV-2) Taimni: A transformação de uma espécie ou tipo em outra faz-se pelo


excesso de tendências ou potencialidades naturais.

Mehta: A causa de todas as mutações reside no transbordamento da natureza.

IV-3) Taimni: A causa incidental não impulsiona ou provoca as tendências


naturais à atividade, mas, como um agricultor (irrigando um campo),
meramente remove os obstáculos.

Mehta: A causa instrumental não pode alterar os componentes hereditários;


pode apenas remover obstáculos, da mesma maneira que um agricultor irriga
seu campo

IV-4) Taimni: Mentes criadas artificialmente (procedem) somente do “senso de


individualidade”.

Mehta:Todas atitudes mentais cultivadas conscientemente surgem de um


senso de eu.

IV-5) Taimni: A mente (natural) dirige ou move as muitas mentes (artificiais) em


suas diferentes atividades.

Mehta: Há na realidade apenas uma mente atrás da multiplicidade aparente de


suas expressões.
IV-6) Taimni: Dessas, a mente nascida da meditação é livre de impressões.

Mehta: Apenas o estado nascido da meditação é completamente livre de todos


os motivos.

IV-7) Taimni: No caso dos yogis, os karmas não são nem brancos nem pretos
(nem bons, nem maus); no caso de outras pessoas, eles são de três tipos.

Mehta:O karma de um yogui não é bom nem mau; no caso dos demais, o
karma é de natureza tríplice.

IV-8) Taimni: Dentre essas tendências, somente se manifestam aquelas para


as quais as condições sejam favoráveis.

Mehta:O karma tríplice dá origem a certas tendências que se tornam ativas em


condições que lhe são favoráveis.

IV-9) Taimni: Existe a relação de causa e efeito, mesmo que separados por
classe, lugar e tempo, porque memora e impressões são o mesmo em termos
de forma.

Mehta: Embora separadas por tempo, espaço e diversidade de características,


há uma continuidade que é conferida a estas tendências pelo hábito e pela
memória.

IV-10) Taimni: Não existe um começo para eles, sendo eterno o desejo de
viver.

Mehta: Estas tendências parecem não ter começo, porque o desejo de viver
parece absolutamente não ter fim
IV-11) Taimni: Estando interligados como causa-efeito, substrato-objeto, eles
(os efeitos, isto é, vasanas) desaparecem com seu desaparecimento (da
causa, isto é, avidya).

Mehta: Sendo dependentes e sustentados pelos motivos e sua realização, eles


desaparecem quando os fatores motivadores esmorecerem.

IV-12) Taimni: O passado e o futuro existem em sua própria forma (real). A


diferença de dharmas (ou prosperidades) decorre da diferença de caminhos.

Mehta: O Passado e o Futuro existem no momento do Agora; parecem


diferentes por causa da sucessão do tempo.

IV-13) Taimni: Eles, manifestos ou não-manifestos, são de natureza dos gunas.

Mehta: Os fatores do Vir-a-ser, tangíveis ou sutis, são governados pela


atividade das gunas ou os Três Atributos.

IV-14) Taimni: A essência do objeto consiste na singularidade da


transformação (dos gunas).

Mehta: Por causa da uniformidade no movimento oscilante das gunas, não há


distorção na qualidade do ser.

IV-15) Taimni: O objeto sendo o mesmo, a diferença entre os dois (o objeto e


sua cognição) é devida aos caminhos separados (das mentes).

Mehta: É a mente fragmentada que não vê as coisas como elas são.

IV-16) Taimni: Nenhum objeto é dependente de uma mente. Que seria dele
quando não fosse por ela percebido?
Mehta: A existência de uma coisa não depende da mente percebê-la; pois o
que seria dela se a mente não a reconhecesse?

IV-17) Taimni: Um objeto será ou não concebido, em conseqüência da mente


ser ou não colorida por ele.

Mehta: De acordo com a coloração da mente o objeto é reconhecido ou não.

IV-18) Taimni: As modificações da mente são sempre conhecidas por seu


dono, em razão da imutabilidade do purusa.

Mehta: A mente tem uma possibilidade de observar seu próprio


condicionamento.

IV-19) Taimni: Nem é ela (a mente) auto-iluminativa, pois é perecível.

Mehta: A mente não é auto-resplandecente, pois ela é o campo, não o


Conhecedor do campo.

IV-20) Taimni: Além do mais, nem lhe é possível funcionar das duas maneiras
(como aquele que percebe e como aquele que é percebido) ao mesmo tempo.

Mehta: O percebimento daquele que percebe e do percebido não pode


acontencer ao mesmo tempo.

IV-21) Taimni: Se (fosse admitida) a cognição de uma mente por outra mente,
teríamos que admitir a cognição de cognições e também a confusão de
memórias.
Mehta: Se postularmos que uma segunda mente reconhece a atividade de uma
primeira, então, a proposição lançar-nos-á à postulação de uma infinidade de
mentes, uma superior a outra.

IV-22) Taimni: O conhecimento de sua própria natureza, através da


autocognição, (é obtido) quando a consciência assume aquela forma na qual
não muda de lugar para lugar.

Mehta: Quando a consciência é serena, vem a ela o percebimento de sua


verdadeira e original natureza.

IV-23) Taimni: A mente colorida pelo Conhecedor (isto é, pelo purusa) e pelo
Conhecido é oniabarcante (aquele que tudo percebe).

Mehta: Este percebimento surge unicamente quando vemos a natureza que


tudo permeia do observador e do observado.

IV-24) Taimni: Embora matizada por inúmeros vasanas, ela (a mente) age para
outro (purusa) pois age em associação.

Mehta: Embora contendo inúmeros desejos e anelos, a mente move-se apenas


com um fator motivador, qual seja, de salvaguardar o observador através de
um processo associativo.

IV-25) Taimni: A cessação (do desejo) de permanecer na consciência de atma


vem para aquele que percebeu a distinção.

Mehta: No homem de reta percepção, o sentimento de “eu sou eu” cessou


completamente.

IV-26) Taimni: É então que, na verdade, a mente inclina-se para o


discernimento e gravita em direção a Kaivalya.
Mehta: Então a mente está orientada pela sabedoria, indicando o estado de
liberdade absoluta.

IV-27) Taimni: Nos intervalos outros pratayayas surgem pela força dos
samskaras.

Mehta: Nos momentos de não-percebimento, as tendências antigas aparecem


novamente.

IV-28) Taimni: Sua remoção, como a dos klesas, consegue-se como foi
descrito.

Mehta: A eliminação destas tendências pode ser feita da mesma maneira que
se obtém a libertação dos klesas ou aflições, conforme abordado
anteriormente.

IV-29) Taimni: No caso de alguém que é capaz de manter um estado de


constante vairagya, mesmo em relação ao mais exaltado estado de iluminação,
e exercer o mais elevado tipo de discernimento, segue-se dharma-megha-
samadhi.

Mehta: Quando o estado de meditação é um fim em si mesmo e não um meio


para a realização de algum outro fim, surge aquele percebimento puro e total
no qual nasce dharma-mega-samadhi, significando uma experiência espiritual
comparável a uma Nuvem de Benção.

IV-30) Taimni: Então, segue-se a libertação de klesas e karmas.

Mehta: Então há completa libertação do karma e das aflições que surgem dele.
IV-31) Taimni: Então, em conseqüência da remoção de todas as obscuridades
e impurezas, aquilo que pode ser conhecido (através da mente) é insignificante
em comparação com o conhecimento ilimitado (obtido na Iluminação).

Mehta: Livre de todos os véus que ocultam a Realidade, compreendemos que


todo o conhecimento reunido pela mente é totalmente insignificante comparado
com a iluminação nascida da Sabedoria.

IV-32) Taimni: Tendo os três gunas cumprido seu objetivo, o processo de


mudanças (nos gunas) chega a um fim.

Mehta: Em tal Infinidade de Sabedoria, chega ao fim o processo do vir-a-ser


psicológico através das atividades funcionais das três gunas.

IV-33) Taimni: Kramah é o processo correspondente aos momentos (em


sucessão) que se torna compreensível ao final das transformações (dos
gunas).

Mehta: Mudanças ocorrem apenas nos momentos, mas tornam-se


apreensíveis na sucessão do tempo.

IV-34) Taimni: Kaivalya é o estado (de Iluminação) que se segue à reabsorção


dos gunas, por estarem destituídos do objetivo do purusa. Neste estado, o
purusa está estabelecido em sua verdadeira natureza, que é pura Consciência.

Mehta: Kaivalya ou liberdade absoluta é um estado de não-esforço onde as


três gunas, desagrilhoadas pela mente retornam a seu movimento e onde a
consciência retoma sua condição original não-modificada.

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