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Plano da apresentação
Princípio da continuidade..........................................................................................................................4
Princípio da prudência...............................................................................................................................5
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Texto preparado por Domingos José Cravo para servir de apoio às acções de formação levadas a cabo pela Câmara dos
Técnicos Oficiais de Contas, em Outubro de 2000. O autor não permite a utilização deste guião ou parte dele a não ser para
utilização nas citadas acções de formação.
Provisões e contingências
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Provisões e contingências
3
Provisões e contingências
O objectivo das demonstrações financeiras consiste em “proporcionar informação acerca da posição financeira,
desempenho e alterações na posição financeira de uma empresa que seja útil a um vasto leque de utentes na
tomada de decisões económicas”. Além disso, as demonstrações financeiras devem “apresentar a imagem
verdadeira e apropriada da posição financeira, do desempenho e das alterações da posição financeira”.
Constitui condição necessária, mas não suficiente, que a observância dos princípios contabilísticos conduza à
obtenção da imagem fidedigna. De facto, a circunstância de se seguirem escrupulosamente os princípios
contabilísticos apenas nos permite outorgar a presunção de imagem fidedigna. De facto, a contabilidade3 não
consegue acompanhar em simultâneo a evolução da realidade económica, pelo que não é infrequente que tenham
de ser derrogados alguns princípios contabilísticos como forma de melhor transmitir a imagem verdadeira e
apropriada.
Na busca da imagem fidedigna o reconhecimento e/ou a divulgação das contingências assumem especial
importância. No entanto, as características implícitas a esta área sensível nem sempre são compagináveis com a
aplicação rigorosa dos princípios contabilísticos. Daí a dificuldade de encontrar pontos de equilíbrio entre o
dever de informar e o risco de o produtor manipular a informação.
Analisemos seguidamente como é que alguns princípios contabilísticos podem estar intimamente ligados ao
tratamento das contingências.
Princípio da continuidade
O princípio da continuidade, também denominado princípio de gestão continuada (going concern), é claramente
um pressuposto subjacente à preparação da informação financeira. A sua verificação, ou não, vai marcar um
modelo na aplicação dos restantes princípios contabilísticos.
Quando se definem contingências como condições, situações, ou conjunto de circunstâncias existentes à data de
referência das demonstrações financeiras, cuja incidência final dependerá de que certos acontecimentos futuros
ou incertos se produzam ou deixem de produzir-se, pressupõe-se, necessariamente, a continuidade das operações,
sendo a própria dinâmica da actividade empresarial que confirmará em exercícios posteriores o acontecimento
que emergiu no presente, sem que caiba nesta definição a inclusão de circunstâncias ou acontecimentos que
possam manifestar-se no futuro.
Esta delimitação é importante, pois se uma empresa tratasse de determinar o seu valor para efeitos de liquidação
ou alienação, teria que incluir entre os seus passivos as possíveis indemnizações ao pessoal por despedimento.
Por outro lado, se a empresa considerar a sua actividade ilimitada no tempo, tal facto não será tratado até que não
2
Cravo, D. e Carmo, C., Provisões e contingências – evolução conceptual, X Encontro ADCES, Aveiro, 2000.
3
Como tantas outras disciplinas, onde provavelmente a mais emblemática, neste particular, será o Direito.
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Provisões e contingências
se evidencie alguma circunstância, condição ou situação que, a confirmar-se no futuro, dará lugar a tais
indemnizações.
Princípio da prudência
O princípio da prudência contempla a necessidade de um certo grau de precaução no exercício dos juízos
necessários ao fazer estimativas exigidas em condições de incerteza, por forma a evitar a sobreavaliação de
activos ou proveitos e a subavaliação de passivos ou custos. Porém, a aplicação da prudência não deve permitir a
criação de reservas ocultas ou provisões excessivas, ou a subavaliação deliberada de activos ou de proveitos, ou
a sobreavaliação deliberada de passivos ou custos.
A AECA4 refere-se ao princípio da prudência, dizendo que enquanto os proveitos e ganhos só são registados
quando se materializam, os custos e perdas devem ser registados no momento em que sejam previsíveis e
susceptíveis de avaliação racional. A Quarta Directiva da Comunidade Económica Europeia acrescenta a esta
afirmação o facto de se deverem considerar os riscos previsíveis e perdas eventuais com origem em exercícios
anteriores, mesmo se esses riscos forem conhecidos entre a data de referência e a data de elaboração das
demonstrações financeiras.
Mas a prudência não é mais do que uma atitude, isto é, disposição, forma ou maneira como os responsáveis pela
elaboração da informação financeira defrontam os diferentes factos. Daí que acarrete uma grande carga de
subjectividade, já que uns responsáveis são por natureza demasiado prudentes e outros pouco prudentes, e tais
atitudes, ainda que dotadas de boa fé, podem conduzir à criação de reservas dissimuladas, por exemplo, sob a
forma de provisões ou à descapitalização da empresa.
A estrita aplicação do princípio da prudência às contingências implica que se reconheçam e/ou divulguem apenas
os factos contingentes somente que possam ocasionar prejuízos. Evidentemente que esta postura provoca um
tratamento inconsistente dos ganhos e das perdas contingentes, que colocando em causa a obtenção da imagem
fidedigna, poderá levar a interrogações do tipo: Não será útil aos utilizadores conhecerem os factos contingentes
que possam ocasionar ganhos? Será que se justifica a derrogação do princípio da prudência em determinadas
situações? Quais?, cuja resposta não é fácil no quadro epistemológico e que inevitavelmente conduzirão a
incrementos de subjectividade com o inerente aumento do risco de informação.
4
AECA, 1996, Princípios Contables 1980-1995, p.51.
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Provisões e contingências
Evidentemente que o reconhecimento e/ou a divulgação das contingências deve ser efectuado no exercício em
que se verifiquem as condições que indiciam as perdas futuras, desde que estas sejam susceptíveis de avaliação
racional, sem esperar que se produza a corrente financeira consequente.
2. As regras de valorimetria
Do conjunto de princípios contabilísticos constantes do POC pode inferir-se que o modelo contabilístico é o
modelo do custo histórico, com a restrição – essencialmente introduzida pela aplicação do princípio da prudência
– da recuperação daquele custo.
Daí que se considerem basicamente dois critérios fundamentais de valorimetria: o custo e o custo ou mercado,
dos dois o mais baixo.
Obviamente que este segundo critério pode ser compaginável com o primeiro, designadamente, através do
mecanismos das provisões, como adiante se verá.
Um dos problemas emergentes em contabilidade consiste na discussão da validade dos critérios de valorimetria
acima referidos. Com efeito, começa a ganhar algum consenso a tese de que nalgumas circunstâncias é mais
apropriado adoptar o “mark-to-market” como critério de valorimetria. A discussão está lançada e, provavelmente
em futuro próximo, valerá a pena alargar a discussão no seio da classe.
6
Provisões e contingências
Por regra as normas de contabilidade não definem provisão, sendo que esta tem claramente que ver com a
postura conceptual subjacente.
Assim sendo, numa perspectiva patrimonialista, uma parcela importante da doutrina assumia uma definição
basicamente equivalente à seguinte:
“Provisão é a constatação contabilística de uma diminuição de valor de um elemento activo
(provisão para depreciação) ou de um aumento do passivo exigível a mais ou menos longo
prazo (provisão para riscos e encargos), precisa quanto à sua natureza, mas incerta quanto à
sua realização, cujos eventos supervenientes ou em curso se apresentem previsíveis à data das
demonstrações financeiras5”
embora depois considere dois tipos de provisões: provisões para depreciação de activos e; provisões de
passivos6.
5
Comissão de terminologia do Conseil Nacional de Comptabilité
6
Cravo, D. e Carmo, C., ob. cit.
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Provisões e contingências
Podem ser consideradas movimentações contabilísticas das provisões pela sua constituição, pelo reforço, pela
utilização e pela anulação, ou reposição.
3.2.1. Constituição
A constituição das provisões ocorre no momento em que é reconhecida a existência de um risco quantificável e
que, face aos princípios contabilísticos, em especial ao princípio da prudência, tal risco deva ser reconhecido nas
demonstrações financeiras.
Este reconhecimento contabilístico implica sempre o débito numa conta de custos e o crédito na correspondente
conta de provisões.
Custos
A Provisões para ...
Todavia, a selecção da conta de custos deve ter em atenção a natureza do risco a reconhecer. Assim, se o risco
estiver associado a elementos que pelas suas características devam ser considerados operacionais o custo
associado à provisão deve ser reconhecido numa conta de custos e perdas operacionais7
7
De acordo com o POC a conta a utilizar é a conta “67 - Provisões do exercício, que se subdivide da seguinte forma:
671 - Para cobranças duvidosas:
6711 - Dívidas de clientes.
6718 - Outras dívidas de terceiros.
6719 - ...
672 - Para riscos e encargos:
6721 - Pensões.
6722 - Impostos.
6723 - Processos judiciais em curso.
6724 - Acidentes de trabalho e doenças profissionais.
6725 - Garantias a clientes.
... - ...
6728 - Outros riscos e encargos.
6729 - ...
673 - Para depreciação de existências:
6732 - Mercadorias.
6733 - Produtos acabados e intermédios.
6734 - Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos.
6735 - Produtos e trabalhos em curso.
6736 - Matérias-primas, subsidiárias e de consumo.
6739 - ...
679 - ...
Ainda seguindo aquela norma “Esta conta regista, de forma global, no final do período contabilístico, a variação positiva da
estimativa dos riscos, em cada espécie de provisão, entre dois períodos contabilísticos consecutivos, que tiver características
de custo operacional”, destinando-se a subconta “672 - Para riscos e encargos - 6721 – Pensões” a agregar “as verbas
atribuídas à provisão para pensões (acumuladas na conta 291)”.
8
Provisões e contingências
67. Provisões
A Provisões para ...
enquanto que se o estiver associado a elementos que pelas suas características devam ser considerados
financeiros o custo associado à provisão deve ser reconhecido numa conta de custos e perdas financeiros8.
3.2.2. Reforço
O reforço das provisões deve ocorrer quanto se constata que a provisão existente é insuficiente face ao risco que
a mesma visa cobrir.
A variação positiva da estimativa dos riscos – em cada espécie de provisão – entre dois períodos contabilísticos
consecutivos deve, de acordo com o POC, ser avaliada qualitativamente. De tal avaliação pode resultar que a
variação dos riscos possa ter características operacionais, financeiras ou extraordinárias o que implicará o
reconhecimento, respectivamente, na correspondente conta de custos operacionais (67 – Provisões), custos e
perdas financeiros (684 – Provisões para aplicações financeiras) ou custos e perdas extraordinários (696 –
Aumentos de amortizações e provisões – 6962 – Provisões9), sempre por contrapartida da correspondente conta
de Provisões.
8
A conta a utilizar é, de acordo com o POC a conta “684 - Provisões para aplicações financeiras”, que se subdivide em
684 - Provisões para aplicações financeiras:
6841 - Títulos negociáveis.
6842 - Outras aplicações de tesouraria.
6843 - Partes de capital.
6844 - Obrigações e títulos de participação.
6845 - Empréstimos de financiamento.
6848 - Outras aplicações financeiras.
E se destina a registar, “forma global, no final do período contabilístico, a variação positiva da estimativa dos riscos, em
cada espécie de provisão, entre dois períodos contabilísticos consecutivos, que tiver características de custo financeiro”.
9
Em conformidade com o POC a conta “696 - Aumentos de amortizações e de provisões - 6962 – Provisões - regista, de
forma global, no final do período contabilístico, a variação positiva da estimativa dos riscos, em cada espécie de provisão,
entre dois períodos contabilísticos consecutivos, apenas quando deve considerar-se extraordinária”.
9
Provisões e contingências
3.2.3. Utilização
Desde a aprovação da revisão do Plano Oficial de Contabilidade, em 1989, que o conceito de utilização da
provisão deixou de ser considerado no ordenamento contabilístico nacional.
Consequentemente, não haverá que efectuar qualquer registo contabilístico no momento da ocorrência do risco
que a provisão visa cobrir. A regularização de tal ocorrência verificar-se-á apenas no momento em que for
determinada a variação do risco entre dois períodos contabilísticos sucessivos.
3.2.4. Redução
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Provisões e contingências
A provisão é genérica se o risco for avaliado em função de indicadores estatísticos gerais. É o que acontece com
a provisão para garantias a clientes, cujo montante é determinado em função da probabilidade de ocorrência e da
estimativa do custo médio de cada intervenção em garantia.
Resulta daqui que foram considerados quatro tipos de provisões de redução de activos e todos os tipos de
provisões para riscos e encargos foram incluídas numa única rubrica.
Sendo o critério de valorimetria das aplicações de tesouraria (títulos negociáveis e outras aplicações de
tesouraria) o do mais baixo do custo ou do mercado, a diferença entre o preço de custo e o preço de mercado é
reconhecido na corresponde provisão, como aliás é referido pelo POC.
A provisão para aplicações de tesouraria ”serve para registar as
diferenças entre o custo de aquisição e o preço de mercado das
aplicações de tesouraria, quando este for inferior àquele.
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Provisões e contingências
Ainda de acordo com o POC, “A provisão será constituída ou reforçada através da correspondente conta de
custos, sendo debitada na medida em que se reduzirem ou deixarem de existir as situações para que foi criada”.
Exemplo:
A sociedade Gama, S. A. apresentava no final dos exercícios de 1998 a 2002, os seguintes saldos da conta
“Títulos negociáveis - acções”.
Saldo da conta
Ano
“Títulos negociáveis”
1998 2000
1999 1500
2000 1800
2001 1700
2002 2000
Os valores de mercado da carteira de títulos possuídos, nas mesmas datas, eram os seguintes:
Valor de mercado da
Ano
carteira”
1998 2100
1999 1300
2000 1500
2001 1600
2002 2100
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Provisões e contingências
Prov.
Ano Custo Valor de mercado Prov. Exercício
Acumulada
1998 2000 2100 C<M 0 0
1999 1500 1300 C>M 200 200
2000 1800 1500 C>M 300 100
2001 1700 1600 C>M 100 (200)
2002 2000 2100 C<M 0 (100)
1998
Não havia que efectuar qualquer registo em virtude de o custo de aquisição ser menor que o preço de mercado e,
consequentemente, estar assegurada a realização daquele.
1999
Dado que o custo de aquisição é maior que preço de mercado e dado que não existe qualquer provisão transitada
de exercícios anteriores, há que constituir a correspondente provisão pela diferença:
2000
O Custo de aquisição é ainda maior que o preço de mercado, cifrando-se tal diferença em 300. Dado que existia
uma provisão anterior no montante de 200, há que reforçar aquela no presente exercício em 100.
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Provisões e contingências
2001
No exercício de 2001 o custo de aquisição é ainda maior que o valor de mercado. Esse facto implica obviamente
a necessidade de manutenção da respectiva provisão. Contudo, tal diferença (100) é menor que o saldo da
provisão já existente, o que obriga à redução da provisão em excesso.
2002
Finalmente, no exercício de 2002 o preço de mercado excede o valor do custo de aquisição. Esse facto significa
que deixaram de existir as circunstâncias que justificaram a constituição da provisão pelo que deixa de fazer
sentido a sua subsistência.
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Provisões e contingências
As provisões para cobranças duvidosas são, muito provavelmente, as mais frequentes de todas as provisões
constituídas (e mantidas) pelas empresas. Visam cobrir os riscos de cobrança de dívidas de terceiros e, de acordo
com a nota explicativa do POC “a provisão será constituída ou reforçada através da correspondente conta de
custos, sendo debitada quando se reduzam ou cessem os riscos que visa cobrir”.
Neste sentido vai a Directriz Contabilística nº 26 – Rédito, a propósito das incertezas após reconhecimento
(parágrafo 6), quando refere que
Quando a incerteza da cobrabilidade surja subsequentemente à venda
ou à prestação do serviço, é mais apropriado fazer uma provisão
específica para reflectir essa incerteza do que ajustar a quantia do
rédito originalmente registada.
Quando a incerteza se relacione com a mensurabilidade da quantia
do rédito proveniente de uma transacção, é usual não reconhecer tal
rédito até que a incerteza seja removida. Em tal caso, desde que haja
uma segurança razoável de que pelo menos os custos claramente
identificáveis com a transacção serão recuperados, é apropriado
diferir tais custos para mais tarde os balancear com o rédito.
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Provisões e contingências
Exemplo:
Admita-se que a empresa Beta, Lda. apresentava no final dos exercícios 1, 2 e 3 a seguinte decomposição da
conta de clientes:
Antiguidade
Total
até 6 meses 6>a>12 12>a>18 18>a>24 24>a
Ano 1 38500 20000 10000 5000 2500 1000
Ano 2 84000 50000 22000 7000 2000 3000
Ano 3 53000 30000 15000 6000 1000 1000
Admitindo que as dívidas com antiguidades superiores a 6 meses são dívidas com risco de cobrabilidade e que
reúnem condições para servirem de base ao cálculo da respectiva provisão, calcular a provisão de cada um dos
exercícios e efectuar os correspondentes registos no diário.
Antiguidade
Total
até 6 meses 6>a>12 12>a>18 18>a>24 24>a
Ano 1 7875 2500 2500 1875 1000
Ano 2 13500 5500 3500 1500 3000
Reforço 5625
Ano 3 8500 3750 3000 750 1000
Reposição -5000
Ano 1
67 Provisões
671 Para cobranças duvidosas
6711 Dívidas de clientes
A 28 Provisões para cobranças
duvidosas
281 Dívidas de clientes 7.875
Ano 2
67 Provisões
671 Para cobranças duvidosas
6711 Dívidas de clientes
A 28 Provisões para cobranças
duvidosas
281 Dívidas de clientes 5.625
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Provisões e contingências
Ano 3
28 Provisões para cobranças
duvidosas
281 Dívidas de clientes
A 79 Proveitos e ganhos
extraordinários
796 – Reduções de amortizações e
provisões
7962 - Provisões 5.000
Como se vê as operações com a eventual recuperação de dívidas que haviam sido consideradas de difícil
cobrança não implicou qualquer registo na conta de provisões.
Trata-se de uma provisão onde são reflectidas obrigações da empresa, sendo o seu cálculo efectuado de forma
específica para cada uma das obrigações.
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Provisões e contingências
Na conta 291 – Pensões, deve enquadrar-se o tratamento dos benefícios de reforma, nos termos que se encontram
preconizados pela respectiva Directriz Contabilística (nº 19), pelo que a nota constante da redacção inicial do
Plano se encontra em grande medida desactualizada.
A conta provisão para depreciação de existências “serve para registar as diferenças relativas ao custo de
aquisição ou de produção, resultantes da aplicação dos critérios definidos na valorimetria das existências”.
Como as demais provisões também esta “será constituída ou reforçada através da correspondente conta de
custos, sendo debitada na medida em que se reduzam ou cessem as situações que a originaram”.
O POC estabeleceu as seguintes subcontas:
39 - Provisões para depreciação de existências:
392 - Mercadorias.
393 - Produtos acabados e intermédios.
394 - Subprodutos, desperdícios, resíduos e refugos.
395 - Produtos e trabalhos em curso.
396 - Matérias-primas, subsidiárias e de consumo.
É, como já foi dito, uma conta de redução de activos. O processo de cálculo é similar ao que acima foi referido
para a provisão para créditos duvidosos, i.e., regra geral, provisão específica, sendo admissível em casos de
controlo interno eficaz uma provisão genérica.
A dificuldade de determinação – e muitas vexes, de prova – do preço de mercado à data do Balanço, leva a que
nalgumas situações ( a nossa experiência, mostra que bastantes) as empresas prefiram não constituir este tipo de
provisão, empolando deste modo os resultados.
As movimentações contabilisticas são em tudo semelhantes ao que já foi referido para a conta provisão para
créditos duvidosos.
Esta provisão tem algumas similitudes com a provisão para aplicações de tesouraria.
De acordo com o POC, esta conta serve para registar:
• As diferenças entre o custo de aquisição dos títulos e outras aplicações financeiras e o respectivo
preço de mercado, quando este for inferior àquele;
• Os riscos de cobrança dos empréstimos de financiamento.
18
Provisões e contingências
Como as demais provisões também “esta provisão será constituída ou reforçada através da correspondente
conta de custos ou de capitais próprios, sendo debitada na medida em que se reduzam ou cessem as situações
para que foi criada”.
Face à regra geral da não utilização das provisões, a disposição constante de 5.4.3.7. do POC, fica um pouco
deslocada – “As provisões referidas nos n.ºs 5.4.3.5 e 5.4.3.6 serão utilizadas à medida que se reduzam ou
cessem os riscos que visam cobrir” e, em nosso entendera expressão “serão utilizadas” tem de ser compreendida
no contexto geral do Plano, isto é, não há verdadeiramente lugar a qualquer utilização mas sim a reforços ou
anulações de provisões em função da variabilidade do respectivo risco.
Pela sua importância transcrevemos o ofício no 73/92, da Comissão de Normalização Contabilística que
responde a uma questão que havia sido formulada àquela Comissão a propósito da contabilização do usufruto de
valores mobiliários.
19
Provisões e contingências
Os Planos Oficiais de Contabilidade para o sector público – o POC-P, o POCAL e o POC-Educação – não
apresentam em matéria de provisões e contingências divergências relevantes quanto ao que foi referido para as
entidades com finalidades lucrativas.
Uma análise sumária das rubricas destinadas ao registo das provisões permite-nos alicerçar tal ideia.
POC-
POC-P POCAL
Educação
19 – Provisão para aplicações de tesouraria X X X
29 – Provisões X X X
29.1 Provisões p/ cobranças duvidosas X X X
29.2 Provisões p/ riscos e encargos X10 X11 X12
10
Não apresenta qualquer subconta, ao contrário do POC.
11
Apresenta algumas das subcontas do POC, embora sem qualquer nota explicativa.
12
Não apresenta qualquer subconta, ao contrário do POC.
20
Provisões e contingências
67 – Provisões do exercício X X X
Em síntese, pode dizer-se que, salvaguardando as peculiaridades do sector público, as regras gerais estabelecidas
para as provisões pelo POC são também aplicáveis aos planos geral e sectoriais da administração pública.
3.6. As contingências13
3.6.1 Conceito
O conceito de contingência aparece referido em várias normas14 e não apresenta divergências significativas entre
elas. Por isso analisamos apenas a definição que se encontrava contida na antiga Norma Internacional de
Contabilidade nº 1015, do Internacional Accounting Standards Committee:
- Uma contingência é uma condição ou situação cuja consequência final, ganho ou perda,
só será confirmada na ocorrência, ou na não ocorrência, de um ou mais acontecimentos
futuros e incertos (NIC nº 10, § 3º)
Da definição citada podem retirar-se as seguintes conclusões sobre contingências:
- são condições, situações ou conjunto de circunstâncias;
- existentes à data das demonstrações financeiras;
- a incidência final dependerá de certos eventos futuros e incertos, que se poderão verificar ou não;
- caso se venham a produzir, provocarão perdas de valor no activo ou o nascimento de algum passivo,
ou aumento de activos ou redução de passivos. (No primeiro caso as contingências originam perdas,
enquanto que no segundo originam ganhos).
13
Cravo, D., Contingências e Demonstrações Financeiras, in V Jornadas de Contabilidade.
14
O Financial Accounting Standards Board (FASB) define contingência no Statement of Financial Accounting Standards
N.º 5 – Accounting for Contingences (SFAS 5), § 1.º, como “uma condição, situação ou conjunto de circunstâncias
existentes envolvendo incerteza quanto ao possível ganho (ganho contingente) ou perda (perda contingente) para a empresa,
sendo no final resolvida quando um ou mais acontecimentos futuros ocorram ou deixem de ocorrer. A resolução da incerteza
confirmará o aumento de um activo ou a redução de um passivo, ou a redução de um activo ou a incorrência de um
passivo.”
15
International Accounting Standard N.º 10 – Contingences and Events Occurring After the Balance Sheet Date (IAS 10),
publicada em Outubro de 1978 e reformatada em 1994
21
Provisões e contingências
Atente-se ainda que nem todas as incertezas constituem contingências a serem relevadas pela contabilidade. Por
exemplo, ao seguir o princípio do acréscimo a empresa tem que reflectir nas suas demonstrações financeiras
algumas situações existentes cujo efeito financeiro dependerá de acontecimentos futuros. Também a
contabilidade recorre frequentemente a estimativas para lidar com algumas actividades contínuas e recorrentes
da empresa. Contudo, o facto de estar envolvida uma estimativa não pressupõe a presença duma contingência,
uma vez que o acontecimento é conhecido e o seu efeito também, apenas o montante é incerto. É o caso das
estimativas da vida útil para o cálculo da depreciação do activo, onde a incerteza quanto àquele prazo não origina
uma contingência pois a extinção da vida útil é um acontecimento certo. Da mesma forma, as obrigações de
pagar bens ou serviços já recebidos, ainda que seja necessário fazer uma estimativa dos montantes e prazos16,
não constituem contingências pois não há incerteza quanto ao facto de se ter incorrido nessa obrigação.
Por último, saliente-se que os riscos genéricos e comuns a qualquer actividade económica, apesar de
contingentes, não são objecto de relevação nas demonstrações financeiras, uma vez que por não se relacionarem
com nenhum exercício em particular, não constituem situações ou condições existentes à data das demonstrações
financeiras17.
As normas têm consagrado que no caso das contingências de ganhos as mesmas não são de reconhecer, excepto
no caso em que exista uma forte probabilidade de ocorrência, situação que implica a divulgação da mesma no
anexo.
As perdas contingentes e os custos extraordinários são realidades cuja fronteira nem sempre se encontra
perfeitamente definida. De facto, o custo ou perda extraordinário é originado unicamente por factos ou
transacções passados que, considerando o ambiente em que opera a empresa, cumprem as condições seguintes:
- caiem fora da actividade ordinária e típica da empresa;
- não se espera, razoavelmente, que ocorram com frequência, enquanto as contingências se contabilizam
quando se tem conhecimento do risco provável, com débito a resultados do exercício, ou seja, são
tratadas como um custo do exercício independentemente da data do seu aparecimento.
Outra distinção importante tem que ver com a diferença entre obrigações estimadas e obrigações contingentes.
As primeiras (obrigações estimadas) são constituídas por aquelas perdas imputáveis ao período actual e que, face
ao princípio do acréscimo, se devem incluir apesar de não se conhecerem todos os seus dados. As obrigações
contingentes são aquelas que tem uma determinada probabilidade de aparecimento, mas que ainda não são
concretas.
Esquematicamente podemos analisar, no quadro seguinte, a estrutura do Passivo - área de especial incidência das
contingências - a partir do grau de certeza ( e incerteza) associado aos seus elementos.
16
É o exemplo dos acréscimos de custos.
17
Cravo, D. e Carmo, C., Provisões e contingências – evolução conceptual, X Encontro ADCES, Aveiro, 2000.
22
Provisões e contingências
P A S S IV O S
Passi vo C ert o
S itu açõe s d e
C ert eza A créscim os de custos
Passi vo est imado
P rovisões
(p/reparações)
É claro que o tratamento contabilístico das contingências, em regime de acréscimo, arrasta consigo vários
problemas. Desde logo:
i) problemas de determinação do momento do reconhecimento do acontecimento contingente
- sendo em regime de acréscimo, os acontecimentos são reconhecidos quando ocorrem - quando é que
ocorrem os acontecimentos contingentes ?
Mas para além destes problemas outros há, e não menos importantes, como, por exemplo, os que decorrem da
importância das contingências na análise da continuidade da empresa.
23
Provisões e contingências
O tratamento convencional das contingências, de acordo com a Norma Internacional é o apresentado no quadro
infra:
O modelo apresentado não diverge de modo significativo do esquema proposto pelo SSAP nº 18, que se
apresenta de seguida18:
Risco de perda
Probabilidade de remoto
Sim
confirmação Sim
Pode ser estimada
Não
Não
Não
3.7.1. No Balanço
Vimos já que as provisões podem ser apresentadas no Balanço como menor valor das rubricas do activo, ou
como rubricas do passivo.
Encontram-se entre as primeiras
- Provisões para aplicações de tesouraria
- Provisões para cobranças duvidosas
- Provisões para depreciação de existências
- Provisões para investimentos financeiros:
Enquanto que as segundas podem ser exemplificadas pelas “Provisões para riscos e encargos”.
25
Provisões e contingências
Nota 3 - Critérios valorimétricos utilizados relativamente às várias rubricas do balanço e da demonstração dos
resultados, bem como métodos de cálculo respeitantes aos ajustamentos de valor, designadamente amortizações
e provisões.
Nota 5 - Medida em que o resultado do exercício foi afectado, com vista a obter vantagens fiscais:
a) Por valorimetrias diferentes das previstas no capítulo 5;
b) Por amortizações do activo imobilizado superiores às adequadas;
c) Por provisões extraordinárias respeitantes ao activo.
Nota 10 e 10 –A(para o ABDR reduzido) - Movimentos ocorridos nas rubricas do activo imobilizado constantes
do balanço e nas respectivas amortizações e provisões (...)
Nota 21 - Indicação e justificação das provisões extraordinárias respeitantes a elementos do activo circulante
relativamente aos quais, face a uma análise comercial razoável, se prevejam descidas estáveis provenientes de
flutuações de valor.
Na demonstração dos fluxos de caixa, embora as provisões não reflictam qualquer fluxo de caixa – como é óbvio
– as provisões são consideradas para determinação indirecta daqueles fluxos.
19
Cravo, D. e Carmo, C., ob. cit.
26
Provisões e contingências
definir contingência como “uma condição resultante de acontecimentos passados, existente à data do Balanço,
originando um activo ou um passivo cujo resultado será confirmado pela ocorrência ou não ocorrência de um ou
mais acontecimentos futuros não controláveis pela empresa.”20
O E 59 foi aprovado com algumas alterações, tendo sido publicada em Setembro de 1998 a norma definitiva
International Accounting Standard N.º 37 – Provisions, Contingent Liabilities and Contingent Assets (IAS 37).
A referida norma desenvolve essencialmente a problemática das provisões procurando dar resposta às seguintes
questões:
“ - Quando devem ser reconhecidas as provisões?
- Como devem ser mensuradas as provisões?
- Como devem ser divulgadas as provisões?”21
Por isso, não define contingência, mas esclarece que o termo é utilizado para definir passivos e activos que não
são reconhecidos uma vez que a sua existência será apenas confirmada pela ocorrência, ou não, de um ou mais
acontecimentos futuros não totalmente controlados pela empresa.
Provisões
A IAS 37 começa por delimitar o conceito de provisão a passivos de montante e prazo incertos” 22.
Assim, as provisões distinguem-se de outros passivos - como as dívidas a pagar e os acréscimos de custos - pela
incerteza inerente ao seu montante e prazo de liquidação.
Também se excluem do conceito de provisão as quantias escrituradas como ajustamentos de valores de activos,
como sejam os débitos de cobrança duvidosa, depreciação e impairment23.
O reconhecimento de um passivo contingente sob a forma de provisão exige a observância de determinados
requisitos que, a não se verificarem, poderão dar lugar apenas à divulgação desse passivo contingente24.
20
IASC, 1997, E 59 – Proposed International Accounting Standard – Provisions, Contingent Liabilities and
Contingent Assets, § 10.º.
21
LENNARD, Andrew, THOMPSON, Sandra, et al., 1995, Provisions: Their Recognition, Measurement, and
Disclosure in Financial Statements, § 1.1.º, (tradução portuguesa da CROC, 1997, Provisões: Seu
Reconhecimento, Mensuração e Divulgação em Demonstrações Financeiras).
22
IASC, 1998, IAS 37 – Provisions, Contingent Liabilities and Contingent Assets, § 10.º.
23
Esta é talvez a mais importante e, sem dúvida, a mais “revolucionária” das disposições da norma. Até aqui a
ortodoxia reconhecia através das provisões as diminuições de valor dos elementos do activo. O cumprimento
desta norma implicará que tal deixe agora de acontecer .
24
Note-se que a norma recorre à expressão «passivo contingente» especificamente para indicar os passivos
contingentes que não são reconhecidos sob a forma de provisão, por não se verificarem todas as condições
necessárias.
27
Provisões e contingências
Contingências
Como já foi referido, a norma não define contingência e trata-as por excepção, isto é, quando se constatar a
existência de um passivo contingente que não deva ser reconhecido, então o mesmo é apenas objecto de
divulgação.
Os activos contingentes nunca dão lugar ao reconhecimento de um activo, sendo apenas, sob determinadas
condições, objecto de divulgação.
Reconhecimento
O reconhecimento de um passivo contingente através de uma provisão depende da observância cumulativa das
seguintes condições:
“- a empresa tem a obrigação presente (legal ou construtiva) resultante de um acontecimento passado;
- é provável que um exfluxo de recursos incorporando benefícios económicos futuros seja exigido para
liquidar a obrigação; e
- é possível fazer uma estimativa razoável da quantia da obrigação”25.
Assim, basta que um destes requisitos não se verifique para que não haja lugar à contabilização de uma provisão,
podendo haver a divulgação de um passivo contingente.
25
IASC, 1998, IAS 37 – Provisions, Contingent Liabilities and Contingent Assets, § 14.º, (sublinhado nosso).
28
Provisões e contingências
As provisões são um custo fiscalmente dedutível, conforme resulta do artº 23º do CIRC
ARTIGO 23º
Custos ou perdas
1 – Consideram-se custos ou perdas os que comprovadamente forem
indispensáveis para a realização dos proveitos ou ganhos sujeitos a
imposto ou para a manutenção da fonte produtora, nomeadamente os
seguintes:
h) Provisões;
Todavia, aquela dedutibilidade fica condicionada à satisfação dos requisitos que se encontram descritos nos
artigos 33º e seguintes daquele Código.
Questão especialmente complexa no processo de aceitabilidade fiscal das provisões, tem a ver com o
cumprimento do Artº 18º do CIRC, que respeita à periodização dos rendimentos. De acordo com aquela
disposição
ARTIGO 18º
Periodização do lucro tributável
1 – Os proveitos e os custos, assim como as outras componentes
positivas ou negativas do lucro tributável, são imputáveis ao exercício
a que digam respeito, de acordo com o princípio da especialização
dos exercícios.
2 – As componentes positivas ou negativas consideradas como
respeitando a exercícios anteriores só são imputáveis ao exercício
quando na data de encerramento das contas daquele a que deveriam
ser imputadas eram imprevisíveis ou manifestamente desconhecidas.
Ora, a aplicação do princípio da especialização dos exercícios no que se refere às provisões é, como acima se
dizia especialmente complexa, por envolver muitas vezes, grandes doses de subjectividade e é certo que nessas
circunstâncias a existências de divergências entre os contribuintes e a Administração fiscal tende a aumentar.
Com efeito, a verificação da existência de risco constitui uma das atribuições de gerência e, como já foi dito, só
quando se verifica a existência de risco é que deverá haver lugar à constituição da provisão. Todavia, não é
invulgar constatar-se à posteriori a existência de indícios que poderiam justificar a constituição mais temporã da
provisão e, nesses casos, a Administração Fiscal vir a corrigir a matéria colectável declarada.
29
Provisões e contingências
Tem a Direcção de Serviços do IRC vindo a ser questionada sobre o tratamento dos custos
e proveitos de exercícios anteriores, nomeadamente quanto à não imputação dos custos ao
exercício a que digam respeito, quando não tenham sido aceites como componente negativa
do lucro tributável do exercício em que foram contabilizados, procedimento contrário ao
que, em regra, é adoptado quanto aos proveitos.
Considerando-se que, de tal facto resulta uma incorrecta quantificação do rendimento real
que deve constituir a base de tributação, foi submetido o assunto à consideração superior,
tendo sido por despacho de 29 de Março de 1993, de Sua Excelência o Subsecretário de
Estado Adjunto da Secretária de Estado Adjunta e do Orçamento, sancionado o seguinte
entendimento:
1. Nos termos do artigo 18º do CIRC os proveitos e custos, assim como as outras
componentes positivas ou negativas do lucro tributável são imputadas ao exercício a que
digam respeito, de acordo com o princípio da especialização dos exercícios.
2. Assim, e competindo aos Serviços de Fiscalização no âmbito da análise interna ou
externa o controlo da matéria colectável, determinada com base em declaração do
contribuinte, devem os mesmos, sem prejuízo da penalidade ao caso aplicável, fazer as
correcções adequadas ao resultado líquido do exercício a que os custos ou proveitos digam
respeito, quando, nos termos do artigo 18º do CIRC, não sejam consideradas componentes
do exercício da sua contabilização.
3. Exceptuam-se deste procedimento as provisões, reintegrações e amortizações quando não
contabilizadas como custos ou perdas do exercício a que respeitam.
As dificuldades de aplicação, do ponto de vista fiscal, do princípio da especialização dos exercícios, são
acrescidas quando existem situações de passagem de períodos de isenção fiscal para períodos de tributação
normal. Essa é a questão suscitada e a que Despacho de 11 de Agosto de 1989 (Procº 1750/89) visa dar solução
doutrinária, como seguidamente se pode ver:
30
Provisões e contingências
Como acima se referiu, a aceitabilidade fiscal das provisões encontra-se regulamentada nos artº 33 e seguintes do
CIRC.
Com a reforma fiscal de 1989, assistiu-se, em especial no domínio das provisões, à aproximação entre a norma
fiscal e a norma contabilística. Pelo menos tal é afirmado no preambulo do CIRC quando refere que “no domínio
particularmente sensível das provisões para créditos de cobrança duvidosa e para depreciação das existências
acolhem-se as regras contabilísticas geralmente adoptadas, o que permite um alinhamento da legislação fiscal
portuguesa com as soluções dominantes ao nível internacional”. Obviamente que esta circunstância não levou a
que o legislador fosse ao ponto de reduzir a base tributável do imposto, através da aceitação de alguns tipos de
provisões que tradicionalmente não eram aceites para efeitos fiscais.
Daí que, na sua essência, o artº 33º do CIRC, tenha uma elevada semelhança com a disposição análoga que
contava do Código da Contribuição Industrial, já que a única excepção se circunscreve às provisões para
recuperações paisagísticas.
Aliás esta perspectiva limitadora das provisões aceites era já explanada em jurisprudência vigente com o Código
da Contribuição Industrial, da qual o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de 12 de Junho de 1990
constitui exemplo e cujo sumário se transcreve:
31
Provisões e contingências
Outros exemplos doutrinários que correm na mesma linha podem ser o Despacho de 31 de Janeiro de 1996,
também transcrito abaixo:
Do acima analisado pode inferir-se que constitui, pois, primeiro elemento determinante para a verificação da
aceitabilidade fiscal das provisões o estabelecimento dos tipos de provisões a que a Lei confere aquela
prerrogativa. Ora, para efeitos de determinação da matéria colectável são, então, dedutíveis as seguintes
provisões:
- Para créditos duvidosos;
- Para depreciação de existências;
- Para encargos judiciais em curso;
- As que forem constituídas em conformidade com a disciplina do Banco de Portugal ou do
Instituto de Seguros de Portugal;
- As destinadas è reconstituição de jazigos das empresas que exercem a extracção do petróleo; e
- As destinadas à recuperação paisagística e ambiental dos terrenos utilizados por industrias
extractivas.
As provisões para créditos duvidosos, para depreciação de existências e para encargos judiciais em curso que não
devam subsistir por não se ter verificado o risco que as mesmas visam cobrir, bem assim como aquelas provisões
forem utilizadas para fins diversos do que levaram à sua constituição devem ser anuladas sendo o proveito
decorrente um proveito tributável.
O acima dito, decorre expressamente do artº 33º do CIRC, que seguidamente se transcreve:
ARTIGO 33º
Provisões fiscalmente dedutíveis
1 - Podem ser deduzidas para efeitos fiscais as seguintes provisões:
a) As que tiverem por fim a cobertura de créditos resultantes da
actividade normal que no fim do exercício possam ser considerados
de cobrança duvidosa e sejam evidenciados como tal na
contabilidade;
32
Provisões e contingências
ARTIGO 34º
Provisão p/créditos de cobrança duvidosa
1 – Para efeito da constituição da provisão prevista na alínea a) do nº
1 do artigo anterior, são créditos de cobrança duvidosa aqueles em
33
Provisões e contingências
Apenas são dedutíveis as provisões que satisfaçam as seguintes condições (cf. nº1 do artº 33º e nº 1 do artº 34º):
• Respeitem a créditos da actividade normal;
• O risco de cobrabilidade se considere justificado;
• Estejam evidenciadas como tal na contabilidade
Relativamente à primeira questão tem havido alguns problemas quanto à aceitabilidade de créditos resultantes de
adiantamentos a fornecedores, créditos por venda de bens do imobilizado e juros de mora debitados a terceiros,
34
Provisões e contingências
como créditos resultantes da actividade normal. A leitura que está a ser feita pela Administração é bastante
restritiva e, em nosso entendimento, perfeitamente descabida por não aderente à realidade.
Sobre as circunstâncias em que se considera o risco justificado elas encontram-se elencada no próprio artº 34º
a) O devedor tenha pendente processo especial de recuperação de empresa e protecção de credores ou
processo de execução, falência ou insolvência;
b) Os créditos tenham sido reclamados judicialmente;
c) Os créditos estejam em mora há mais de seis meses desde a data do respectivo vencimento e existam
provas de terem sido efectuadas diligências para o seu recebimento
Note-se que aquele artigo mais não faz do que considerar situação em que se presume a justificação, o que não
significa que não possam ser aceites outras justificações.
A este propósito, existe jurisprudência, designadamente, o Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 1 de
Outubro de 1999, cujo sumário transcrevemos:
Quanto ao crédito se encontrar evidenciado na Contabilidade o entendimento é que o mesmo não necessita de se
encontrar registado na conta 21.8. É aceitável qualquer outro tipo de evidenciação, designadamente através na
nota 23 do ABDR26.
26
Cf. Despacho do Exmo. Senhor Director Geral dos Impostos , de 31 de Julho de 1996.
35
Provisões e contingências
O Ofício nº 51 624 da DSIR, de 22 de Outubro de 1996, também estabelece doutrina nesta matéria.
Outra das importantes questões é a da determinação do momento em que passa a haver mora no pagamento.
Sobre esta matéria, a doutrina emanada através do Despacho do SDGCI, de 23/5/94 , refere o seguinte:
1. A constatação da existência de risco de cobrabilidade do crédito implica a sua
consideração como crédito de cobrança duvidosa e a sua evidenciação como tal na
contabilidade, conforme alínea a) do nº 1 do artigo 33º do CIRC, só sendo admissível,
nesta situação, para efeitos fiscais, a constituição da provisão para créditos de cobrança
duvidosa nos termos estabelecidos nos artigos 33º e 34º do CIRC.
2. Para efeitos fiscais, só haverá mora quando o credor não concorda com o
deferimento do prazo normalmente estabelecido para o pagamento da dívida (Ofício-
Circulado nº 023 332, de 3 de Junho de 1994, do SAIR).
Finalmente, deixamos uma nota acerca do conflito que pode existir entre a aplicação dos princípios da prudência
e da especialização, patente numa questão formulada27 e que mereceu a seguinte resposta da Administração
Fiscal.
Tendo sido facturados os juros de mora naturalmente com base em legislação geral ou
especial, incluindo o contrato estabelecido entre as partes, terão a natureza de um
proveito financeiro, devendo ser considerados proveitos para efeitos fiscais nos termos
da alínea c) do artigo 20º do Código do IRC, e por estarem associados ao decurso do
tempo, devem ser imputáveis ao exercício a que dizem respeito de acordo com o
princípio da especialização dos exercícios.
De acordo com este princípio, os proveitos devem ser reconhecidos quando obtidos
independentemente do seu recebimento, pois esta regra da imputação assenta no
critério da competência económica dos exercícios em oposição ao denominado critério
de competência financeira.
Não sendo os juros de mora debitados nas contas de clientes considerados créditos
resultantes da actividade normal não seria admissível a constituição da provisão para
créditos de cobrança duvidosa relativos aos juros de mora face ao disposto na alínea a)
do nº 1 do artigo 33º do CIRC, sendo reconhecidos fiscalmente como créditos
incobráveis se cumprirem as condições previstas no artigo 37º do CIRC.
27
In Jornal de Contabilidade - nº 230/Maio/96
37
Provisões e contingências
A Provisão para depreciação de existências encontra-se regulada pelo Artº 35º do CIRC
ARTIGO 35º
Provisão p/depreciação de existências
1 – A provisão a que se refere a alínea b) do nº 1 do artigo 33º
corresponderá à diferença entre o custo de aquisição ou de produção
das existências constantes do balanço no fim do exercício e o
respectivo preço de mercado referido à mesma data, quando este for
inferior àquele.
2 – Para efeitos do disposto no número anterior, entende-se por preço
de mercado o custo de reposição ou o preço de venda, consoante se
trate de bens adquiridos para a produção ou destinados a venda.
3 – Para os sujeitos passivos que exerçam a actividade editorial, o
montante anual acumulado da provisão corresponderá à perda de
valor dos fundos editoriais constituídos por obras e elementos
complementares, desde que tenham decorrido dois anos após a data
da respectiva publicação, que para este efeito se considera
coincidente com a data do depósito legal de cada edição.
4 – A depreciação dos fundos editoriais deverá ser avaliada com base
nos elementos constantes dos registos que evidenciem o movimento
das obras incluídas nos fundos.
5 – Esta provisão só pode ser utilizada no exercício em que o prejuízo
se torne efectivo.
Esta provisão sofreu com a reforma fiscal de 1989, uma importante modificação quanto ao seu método de
cálculo, sendo que em muitos casos se torna especialmente complexo provar o preço de mercado o que dificulta
a aceitabilidade fiscal desta provisão.
No sentido de incentivar a adopção do inventário permanente, a Lei veio permitir que os sujeitos passivos que
adoptassem aquele mecanismo, pudessem majorar em 30% o valor da provisão. É isso que é referido no artº 49º
- C do Estatuto dos Benefícios Fiscais
ARTIGO 49º-C
Utilização de inventário permanente de existências
1 – Os sujeitos passivos de IRS e IRC que adoptem o sistema de
inventário permanente poderão, a partir do exercício de 1998,
38
Provisões e contingências
A provisão para encargos judiciais em curso não tem outra regulamentação, para além daquela que decorre da
alínea c) do artigo 33º do CIRC.
A restrição à sua constituição tem a ver com a prova do montante calculado e com a circunstância de haver a
necessidade de demonstrar que o custo que decorreria do processo judicial seria aceite como custo fiscal no
exercício em causa.
Esta provisão encontra-se regulamentada no artº 36º do CIRC, que se apresenta de seguida:
ARTIGO 36º
Provisão p/reconstituição de jazigos
1 – A provisão a que se refere a alínea e) do nº 1 do artigo 33º não
poderá exceder o mais baixo dos seguintes valores:
a) 30% do valor bruto das vendas do petróleo produzido nas
áreas de concessão efectuadas no exercício a que respeita a provisão.
b) 45% do montante da matéria colectável que se apuraria sem
consideração desta provisão.
2 – A provisão deverá ser investida em prospecção ou pesquisa de
petróleo em território português dentro dos três exercícios seguintes
ao da sua constituição ou reforço.
3 – A provisão deverá ser reposta se for utilizada para fins diferentes
daqueles para que foi constituída ou se a sua aplicação se não
verificar no prazo a que se refere o número anterior.
4 – A constituição, o reforço ou a reposição da provisão têm a
natureza de correcção fiscal ao resultado líquido do exercício,
estando condicionada a sua aceitação para efeitos fiscais à não
distribuição de lucros por um montante equivalente ao saldo
39
Provisões e contingências
ARTIGO 50º
Contabilização dos investimentos
1 – Os investimentos realizados no exercício das actividades de
prospecção e pesquisa devem ser contabilizados como imobilizado
incorpóreo.
2 – O disposto no número anterior não é aplicável a elementos do
activo imobilizado corpóreo cuja vida útil não se esgote nas fases aí
indicadas.
3 – Os investimentos referidos no nº 1 nos quais não tiver sido
utilizada a provisão mencionada no artigo 36º do Código do Imposto
sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas e contabilizados como
imobilizado incorpóreo serão amortizados de acordo com o regime
previsto naquele Código, a partir do início da produção, podendo, no
entanto, os que sejam imputáveis à descoberta e sua avaliação
durante o período de prospecção e pesquisa ser integralmente
dedutíveis no primeiro exercício completo da exploração.
28
Que revogou o Decreto-Lei nº 141/90, de 2 de Maio
40
Provisões e contingências
A provisão para a recuperação paisagística de terrenos encontra-se regulamentada no artº 36-A do CIRC e traduz
uma das primeiras referências do legislador fiscal a propósito das repercussões contabilísticas da problemática
ambiental.
ARTIGO 36º-A
Provisão para a recuperação paisagística de terrenos
1 – A dotação anual da provisão a que se refere a alínea f) do nº 1 do
artigo 33º corresponde ao valor que resulta da divisão dos encargos
estimados com a recuperação paisagística e ambiental dos locais
afectos à exploração, nos termos da alínea a) do nº 3, pelo número de
anos de exploração previsto em relação aos mesmos.
2 – Poderá ser aceite um montante anual da provisão diferente do
referido no número anterior quando o nível previsto da actividade da
exploração for irregular ao longo do tempo, devendo, nesse caso,
mediante requerimento da empresa interessada, a apresentar no
primeiro ano em que sejam aceites como custos dotações para a
mesma, ser obtida autorização prévia da DGCI para um plano de
constituição da provisão que tenha em conta esse nível de actividade.
3 – A constituição da provisão fica subordinada à observância das
seguintes condições:
a) Apresentação de um plano previsional de encerramento da
exploração, com indicação detalhada dos trabalhos a realizar com a
recuperação paisagística e ambiental dos terrenos afectados e a
estimativa dos encargos inerentes, e a referência ao número de anos
de exploração previsto e eventual irregularidade ao longo do tempo
do nível previsto de actividade, sujeito a aprovação pelos organismos
competentes;
b) Constituição de um fundo, representado por investimentos
financeiros, cuja gestão pode caber à própria empresa, de montante
equivalente ao do saldo acumulado da provisão no final de cada
exercício.
4 – Sempre que da revisão do plano previsional referido na alínea a)
do número anterior resultar uma alteração da estimativa dos
encargos inerentes à recuperação paisagística e ambiental dos locais
41
Provisões e contingências
Chama-se a atenção para a circunstância de que nos termos do nº 3 do artº 44º do CIRC não ser susceptível de
beneficiar do regime de reinvestimento previstos nos nºs 1 e 2 daquele artigo, o investimento em que tiver sido
utilizada a provisão referida no artigo 36.º e 36.º.
Nas fusões e cisões impera o regime de neutralidade fiscal. Consequentemente, o artigo 62º do CIRC, estabelece
no seu nº 3, quanto a provisões que,
3 - Na determinação do lucro tributável da sociedade para a qual são
transmitidos os elementos patrimoniais das sociedades fundidas ou
cindidas:
(...)
c) As provisões que foram transferidas das sociedades fundidas ou
cindidas têm, para efeitos fiscais, o regime que lhes era aplicável
nestas sociedades.
Quanto às fusões e cisões de sociedades de diferentes Estados membros da CEE, o regime das provisões é, por
remissão, idêntica disposição, embora se encontre limitado, nos termos do nº 4 às provisões que respeitem a
estabelecimentos estáveis situados n território português.
42
Provisões e contingências
O regime especial de neutralidade fiscal vem estabelecer um regime idêntico ao das fusões e cisões, para os
casos de constituição de sociedades com património empresarial de pessoa singular.
Tal é o que decorre do disposto no artº 68-A do CIRC
ARTIGO 68º-A
Regime especial de neutralidade fiscal
1 – Quando seja aplicável o regime estabelecido no nº 1 do artigo
36º-A do Código do IRS, os bens que constituem o activo e o passivo
do património objecto de transmissão devem ser inscritos na
43
Provisões e contingências
Como ficou referido, todas as provisões constituídas pela empresa e que não se integrem no elenco das que estão
referidas no artº 34º do CIRC, não são dedutíveis para efeitos de apuramento do lucro tributável de IRC.
Nesse sentido vai a doutrina expressa através do Despacho de 31 de Janeiro de 1996 (que seguidamente se
transcreve), a propósito de uma provisão para investimentos financeiros.
44
Provisões e contingências
O regime geral dos créditos incobráveis encontra-se estabelecido no artº 37º do CIRC
ARTIGO 37º
Créditos incobráveis
Os créditos incobráveis podem ser directamente considerados custos
ou perdas do exercício na medida em que tal resulte de processo
especial de recuperação de empresa e protecção de credores ou de
processo de execução, falência ou insolvência, quando relativamente
aos mesmos não seja admitida a constituição de provisão ou, sendo-o,
esta se mostre insuficiente.
Nesta matéria, chamamos a atenção para a doutrina emanada através do ofício C 12/96 do SAIR, de 13 de
Novembro
Por vezes suscita-se a questão da aceitação do crédito incobrável, quando não se encontra constituída a
respectiva provisão. A questão tem alguma pertinência, em especial nos casos em que a entidade reunia
condições para constituir a sobredita provisão. Coloca-se neste caso a questão já acima aflorada da aplicação do
princípio da especialização dos exercícios o que, naturalmente, implicará a análise casuística de cada uma das
situações.
45