Você está na página 1de 7

Regulamentos:

1. Conceito de regulamento:
São atos normativos, ou seja, atos jurídicos que contém normas jurídicas, gerais e abstratas,
que são emanados no exercício da função administrativa, no exercício de poderes jurídico-
administrativos, que visam a produção de efeitos externos. O regulamento é fonte de direito:
contém disposições com caráter geral e abstrato é inerente uma pretensão de validade para
todos os casos da mesma espécie, dentro do respetivo âmbito temporal e espacial de
aplicação.
Generalidade: aplicável a um conjunto indeterminado ou indeterminável de destinatários´
Abstração: suscetibilidade de aplicação sucessiva no tempo

Regulamento vs. Ato administrativo vs. Atos híbridos


Regulamento:
 Gerais e abstratos
 Aplicação a um conjunto indeterminado de destinatários e de aplicação sucessiva no
tempo
Atos administrativo:
 Individuais e concretos
 Aplicação a um conjunto determinado de destinatários e esgotar-se na produção de
um único efeito jurídico
Atos Híbridos1:
 Atos gerais e concretos - equiparação a ato administrativo
 Atos individuais e abstratos – equiparação a regulamento

Fundamento do poder regulamentar:


Os regulamentos são a forma de a Administração poder prosseguir com eficiência e justeza os
interesses públicos, sobretudo em áreas em que a dinâmica da sociedade não se compadece
com inevitáveis entraves do procedimento legislativo parlamentar.

Titularidade do poder regulamentar:


Existem vários órgãos com poder regulamentar:
 Governo- principal órgão com poder regulamentar- art. 199º al. c). O governo tem
poder administrativo e legislativo e exerce-o em concorrência com a AR- art. 198º CRP
 Regiões autónomas: Assembleias Legislativa Regionais e Governo Regionais;
 Autarquias Locais: Assembleia de Freguesia e Assembleias Municipais;
 Associações Publicas e IP`s.

1
Para Mário Aroso de Almeida, o critério a prevalecer nos atos híbridos deve ser o de saber se ele tem
um conteúdo abstrato ou concreto
Critérios que diferenciam matéria de lei e matéria de regulamento:
 A lei pode esgotar a regulamentação de determinada matéria normativa;
 Não existe uma reserva de regulamento constitucionalmente assegurada para o
governo. Mas há reserva regulamentar em favor das regiões autónomas- art. 227º CRP,
das autarquias locais- art. 241º CRP, das universalidades e das associações profissionais
(algum grau de autonomia)
 Critério formal: o Governo chamar DÇ ou regulamento;
 Art. 112º/6 CRP: regulamentos independentes tem de ser precedidos de uma norma
legal de habitações, que fundamente a competência objetiva e subjetiva.

Forma e publicidade dos regulamentos:


1.Decreto regulamentar- art. 112º/6 CRP
É a forma mais solene que podem revestir os regulamentos do governo- art. 112º/6, 134º/b),
137º e 140º.
Está sujeito a controlo por parte do PR (art. 134º CRP) e referenda do PM (140º CRP)
Porque é que o regulamento independente tem de tomar a forma de decreto regulamentar?
Porque tem conteúdo inovador e há uma necessidade de controlo por parte do PR.
É aprovado em Conselho de Ministros, assinado pelo PM e pelos Ministros competentes em
razão de matéria a que diz respeito.
Deve ser publicado na I Série do DR (à semelhança dos decretos regulamentares regionais dos
Governos Regionais)

2.Resolução do Conselho de Ministros


Regulamentos provenientes e aprovados em Conselho de Ministros, mas apenas assinados
pelo PM- não estão sujeitas a promulgação ou veto e refenda.
Ex: RCM nº 130/2019, de 2 de agosto, aprova o Programa para a Adaptação as Alterações
Climáticas (P-3AC)

3.Portaria
É assinada por um ou mais ministros em norma do Governo “manda o governo”
Ex: Portaria nº 326/2015, de 2 de outubro, que fixa os requisitos e condições de exercício a
atividade de verificador de pós avaliação de projetos sujeitos a AIA

4.Despacho (normativo)
O autor é um membro do Governo (nos outros é o Governo como órgão colegial) e é assinada
pelo Ministro e em nome do mesmo ou por um Secretário-Estado.
Todos os regulamentos têm de ser publicados

Todos os regulamentos têm de ser publicados (139º CPA)


A CRP obriga a que alguns sejam publicados no Diário da República (119º CRP)
5.Classificação dos regulamentos:
 Regulamentos externos vs. Regulamentos internos
o Externos: visam produzir efeitos jurídicos externos à AP;
o Internos: esgotam os seus efeitos dentro da AP
o Mistos: norma que tem eficácia jurídica interna e externa (regulamento de
uma escola);
 Regulamentos gerais vs. regulamentos especiais
o Gerais: dirigem-se à generalidade dos cidadãos
o Especiais: surgem no contexto de relações administrativas especiais e têm
cimo destinatários aqueles que se encontram numa relação com a AP (ex.
funcionário público)
 Regulamentos de execução vs. Regulamentos independentes

Re g u l a m e n t o s d e
exe c u ç ã o e m
s e n ti d o e s t r i t o
Re g u l a m e n t o s d e
exe c u ç ã o
Re g u l a m e n t o s
c o m p l e m e n t a re s
( fo ra d a re s e r va
l e g i s l a ti va )

Dependência em Re g u l a m e n t o s
re l a ç ã o à l e i independentes
go v e r n a m e n t a i s
( 1 3 6 º / 2 / 3 C PA )

Re g u l a m n e t o s
Re g u l a m n e t o s autónomos
independentes (227º/1/d) e
241ºCRP)

Re g u l a ç ã o
independente

Qual a relação entre regulamentos?


 Regras de prevalência em regulamentos governamentais- art. 138º CPA
 Estatuto de superioridade- art. 143º/ 2 CPA
o Regulamentos emanados por órgãos hierarquicamente superiores ou dotados
de poder de superintendência SUPERIORES AOS regulamentos emanados por
órgão hierarquicamente ou sujeitos a poderes de superintendência
o Regulamentos de órgãos delegantes SUPERIORES AOS regulamentos de órgãos
delegados
6.Prodecimento dos regulamentos:
Audiencia dos Decisão do
Projeto de interessados/ prodecimento
Iniciati va
Regulamento consulta e omissão do
pública regulamento

Procedimento Administrativo: sucessão ordenada de atos e formalidades relativos à formação


manifestação e execução da vontade dos órgãos da Administração Pública- art. 1º/1 do CPA.

1.Fase de iniciativa
 Art. 97º e ss. CPA: possibilidade de qualquer particular apresentar uma petição para
que um regulamento seja elaborado, modificado ou revogado, juntos dos órgãos
administrativos competentes.
 O procedimento é de iniciativa oficiosa da Administração Pública
 Publicitação do início do procedimento- art. 98º CP

2.Fase preparatória- projeto de regulamento


 Art. 99º CPA: elaboração e aprovação de um projeto de regulamento
 Aplicação subsidiária dos artigos 55º e ss. Do CPA
 A direção do procedimento cabe ao órgão competente para a decisão final, mas tem de
delegar o poder de direção noutro órgão, salvo disposição legal em contrário
 Respeito pelos princípios de adequação procedimental e do inquisitório (art. 56º e 58º
CPA)
 O projeto é aprovado pelo órgão responsável pela direção do procedimento que, por
regra, não é o órgão competente para aprovar o regulamento.

3.Fase de audiência dos interessados/ de consulta pública


 Dever de ouvir os interessados- 100º CPA
 Art. 68º e 100º CPA: quem é interessado?
 Art. 100 CPA: Regulamentos imediatamente operativos
 Art. 101º CPA: possibilidade de consulta pública
 Publicação no Diário da República, podendo ser enviadas sugestões no prazo de 30 dias

4.Fase Constitutiva
 Fase de aprovação do regulamento
 Prazo de 90 fias para aprovação no caso dos regulamentos necessários para dar
execução à lei (regulamento de execução): art. 137º/1 CPA- nestes casos, têm de ser
emitidos no prazo de 90 dias (art. 87º/c) regra da contagem dos prazos)
 Omissão de regulamento- art. 137º/2
7.Eficácia dos Regulamentos:

 A eficácia dos regulamentos está dependente de publicação- 139º CPA


 Os regulamentos entram em vigor no 5º dia após publicação ou na data por eles
estabelecidos- 140º
 Proibição de eficácia retroativa autónoma de regulamentos lesivos- art. 141º CPA
 Os regulamentos favoráveis podem ter eficácia retroativa desde que não anterior à norma
habilitante- art. 141º/2
 Princípio de inderrogabilidade singular dos regulamentos- 142º/2 CPA

8.Invalidade dos regulamentos:


 Art. 144º CPA- regime de invalidade
A invalidade pode ser invocada a qualquer tempo, por qualquer interessado, e poder declarada
também pelas autoridades administrativas, com exceção das ilegalidades formais e
procedimentais, que devem ser invocadas no prazo de 6 meses- art. 144º/2- a não ser que esta
ilegalidade seja também uma inconstitucionalidade e, aí, também pode ser invocada a todo
tempo.
A declaração de invalidade produz efeitos desde a data de emissão do regulamento,
determinado a repristinação das normas que ele haja revogado (art. 144º/3 CPA).
A retroatividade da declaração de invalidade não afeta os casos julgados nem os atos
administrativos que se tenham tornado impugnáveis, salvo, neste último caso, quando se trate
de atos desfavoráveis para os destinatários (art. 144º/4 CPA)

 Art. 145º CPA- caducidade


Verificação do termo ou condição resolutiva
Caduca com a revogação da lei de execução das situações em que o regulamento é compatível
com a nova lei e ainda não há regulamentação da mesma;

 Art. 146º CPA- revogação


Órgão competentes para emissão do regulamento
Se o regulamento e, se isto for desrespeitado, o regulamento mantém-se em vigor.
Casos práticos:
O Decreto-Lei 350/2007, de 19 de outubro, estabelece o quadro legal relativo à produção e
comercialização do sal destinado a fins alimentares. Incluem-se no âmbito desta disciplina
legislativa aspetos relativos ao conceito de sal alimentar, bem como às suas formas e tipos de
comercialização.
Este diploma não inclui, contudo, qualquer disciplina atinente às exigências técnicas,
características e condições a observar na produção, valorização e comercialização do sal
alimentar, o que se remete para regulamentação posterior.
Em face da factualidade descrita, admita, agora, que o Ministro da Agricultura decidiu, em 1 de
outubro de 2020, desencadear um procedimento tendo em vista produzir aquela mesma
regulamentação. No dia 15 de novembro de 2020, o referido Ministro assina e envia para
publicação um diploma no qual consta introdutoriamente:
“Manda o Governo, pelo Ministro da Agricultura, o seguinte:
[…]”
António, produtor de sal alimentar e seu amigo, entra em contacto consigo e transmite-lhe o
quão indignado se encontra, uma
vez que não teve conhecimento sequer de que estava em preparação a regulamentação
mencionada.
Acresce que António desejava ter-se constituído como interessado num tal procedimento,
designadamente com o objetivo de
ser ouvido em sede de audiência dos interessados
Na conversa, António pede-lhe para se pronunciar sobre o seguinte:
1. A classificação, no plano da tipologia dos regulamentos administrativos e da respetiva
forma, do ato
R: Está em causa uma portaria (forma de regulamento), uma portaria é um regulamento
assinado por um ou mais ministros em nome do governo. Trata-se de um regulamento externo,
pois visa produzir efeitos para fora da administração e geral, pois aplica-se de uma forma geral
aos cidadãos (tipologia). Regulamento de execução
jurídico regulamentar produzido pelo Ministro, tendo em conta os dados apresentados.
2. A conduta do Ministro na elaboração da regulamentação referido, à luz das disposições
pertinentes do Código do Procedimento Administrativo.
R: Faltou ao ministro, a publicitação do início do procedimento e a audiência dos interessados-
art. 98º e 100º CPA
3. As condições de viabilidade da pretensão em ser ouvido em sede de audiência dos
interessados.
R: Regulamento imediatamente operativo (mediante este há lugar para uma audiência de
interessados e tinha de se constituir como um interessado, com base no art. 68º, nº1
4. A validade do ato jurídico regulamentar assim elaborado.
R: Não é valido, pois existem vícios procedimentais, art. 143º, nº1
5. A validade dos atos administrativos praticados ao abrigo de um regulamento inválido,
perguntando-lhe, designadamente, se o órgão da Administração está obrigado a desaplicar o
regulamento.
R: estamos perante uma invalidade subsequente, por isso, são também inválidos
Imagine que o regulamento em causa, não obstante elaborado, assinado e comunicado aos
serviços pelo Ministro, não foi publicado.
1. Enquadre juridicamente uma tal questão
R: Eficácia jurídica de um regulamento administrativo, 139º quando um regulamento que não é
publicado, não pode produzir efeitos, logo não é eficaz
2. Quais as consequências jurídicas daí advenientes se António fosse destinatário de um ato
administrativo praticado ao abrigo de um regulamento não publicado?
R: Não produz efeitos, logo não tem consequência jurídicas nenhumas na esfera do
interessado.

Você também pode gostar