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Liz Vieira Peclat, turma B

TEXTO: “O Inimigo É A Realidade”, presente no livro “Contra a realidade” de Natalia


Pasternak e Carlos Orsi
O texto “O Inimigo É A Realidade”, de autoria dos pesquisadores Natalia Pasternak e
Carlos Orsi, aborda a questão do negacionismo científico sob uma ótica crítica a respeito da
maneira como esse fenômeno se cria e ganha força na sociedade. Dessa forma, os autores têm
a pretensão de responder o questionamento: O que é negacionismo científico, por quê ele surge
no meio social e quais são as consequências desse fenômeno?
Em um primeiro momento, os autores definem o negacionismo como a própria ação do
indivíduo de negar um “consenso científico” ou um “fato estabelecido” para si e para o mundo.
Diferentemente dos “fatos estabelecidos”, que são entendidos como aspectos concretos da
materialidade, o “consenso científico” é uma teoria sobre como determinada matéria do
universo funciona, e, devido a essa característica volúvel, é passível de mudanças a partir de
estudos sólidos e metodologicamente corretos. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.7)
Nesse sentido, o negacionismo científico ocorre quando o questionamento ao consenso é
firmado em um conhecimento tênue, no qual se insiste mesmo após sua refutação. Pasternak e
Orsi apontam, ainda, que esse fenômeno se torna grave quando passa por um processo de
espetacularização, em que o negacionista transporta seu caso para o “tribunal da opinião
pública”. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.7-8)
Em um segundo momento, os pesquisadores explicam que os negacionistas estão mais
preocupados com as consequências, “reais ou presumidas”, do ato de assumir como correto um
fato ou um consenso científico do que o próprio conteúdo desses. Dessa forma, os “grupos
poderosos ou comunidades com forte senso de identidade” que se sentem ameaçados por essas
consequências promovem o negacionismo do que lhes convêm, a fim de proteger as suas
crenças, independente da sua factualidade. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.8-9)
Além disso, os autores apontam que o negacionismo tem o potencial de gerar um vínculo
identitário entre aqueles que partilham das mesmas crenças, e, por isso, torna-se mais fácil negar
um dado. Um estudo promovido por Dan Kahan e seus colegas, da Universidade de Yale,
presenta evidências de que o ser humano possui um mecanismo psíquico de defesa que o
encoraja a manter-se próximo dos “grupos de afinidade cujos membros são unidos pelo
comprometimento com ideias morais compartilhadas”, rejeitando, então, qualquer um que
poderia afastá-lo desse meio seguramente confortável. (DAWSON; KAHAN; PETERS;
SLOVIC, 2017) A criação desses laços identitários se alastrou com a criação das redes sociais
e plataformas personalizadas de conteúdo, tornando o negacionismo um fenômeno capaz de
unir pessoas de diferentes lugares. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.10-11)
Nesse sentido, Pasternak e Orsi acrescentam que o negacionismo pode ainda levar a
teorias conspiratórias quando o consenso convenientemente negado tem uma base muito firme.
Essas teorias se tornam quase inevitavelmente necessárias para explicar o elevado nível de
adesão e de confirmação desse consenso. Destaca-se que, apesar dessa consequência ser mais
recorrente entre grupos politicamente identificados a direita, ela não é exclusiva desse meio.
Evidenciando que o negacionismo e as conspirações subsequentes não se prendem a uma
orientação política. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.12-14)
Em um terceiro momento, os pesquisadores se recaem sobre as consequências sociais e
políticas do negacionismo enquanto fenômeno crescente. Tendo em vista que as pessoas agem
de acordo com as suas crenças, a negação de fatos e consensos científicos leva a ações
irresponsáveis e prejudiciais aos seus seguidores e os que os cercam, tendendo a se disseminar
e se fortalecer entre a sociedade. Sendo assim, os impactos do negacionismo ultrapassam o
âmbito individual e alcançam as esferas públicas, como a falta de políticas voltadas para a
diminuição de liberação de gases poluentes na atmosfera porque a postura ideológica dominante
nega a existência dos perigos do aquecimento global. Dessa forma, os autores expõem que a
melhor forma de combater o negacionismo é com a prevenção dele, visto seu potencial de
criação de uma identidade a sua volta. (ORSI; PASTERNAK, 2021, p.14-15)
BILIOGRAFIA

DAWSON, Erica C; KAHAN, Dan; PETERS, Ellen; SLOVIC, Paul. Motivated numeracy and
enlightened self-government. Behavioral Public Policy, New Haven, n.1, p 54-86, 2017.

ORSI, Carlos; PASTERNAK, Natalia. Contra a realidade: a negação da ciência, suas causas
e consequências. Campinas: Papirus 7 Mares, 2021.

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