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[LEGENDA DA OBRA]
BIOGRAFIA DO ARTISTA
Édouard Manet nasceu em uma família abastada de Paris. Seu pai, Auguste (1797-1862) foi
um juiz de prestígio no Ministério da Justiça e sua mãe, Eugenie-Marie (1811-1885), era
filha de um vice-cônsul da Suécia. Sua família idealizou um futuro diferente para o seu
primogênito: inicialmente uma carreira no direito e, quando isso falhou, sua integração à
Marinha francesa. Após uma segunda tentativa frustrada no projeto de ser aceito pela
Escola Naval, em 1849, sua família finalmente aceitou seu desejo de ser artista, um anseio
que nutria desde tenra idade e cuja inclinação havia sido adquirida pelas visitas ao Museu
do Louvre na companhia do tio. Com o apoio da família, ele entra para o ateliê do pintor
classicista Thomas Couture, um mestre radicado na Escola de Belas Artes de Paris,
aprofundando seus conhecimentos e técnicas de pintura ao longo de seis anos. Para
incrementar seu repertório, Manet realizou também diversas viagens pela Europa e teve
contato com vários estilos de arte. Em 1856, Manet decidiu deixar o ateliê de Couture por
divergências artísticas, optando por criar seu próprio espaço de produção. Seus trabalhos
nessa época possuíam características próximas ao realismo de Gustave Coubert (1819-
1877) e retratavam cenas cotidianas da contemporaneidade, como touradas, pessoas em
cafés e outros artistas. Suas obras apresentavam pinceladas soltas, com detalhes
simplificados e sem transição tonal entre luz e sombra. Outras influências nesses trabalhos
foram Ticiano (1489-1576), Caravaggio (1571-1610), Diego Velázquez (1599-1660),
Rembrandt (1606-1669) e Johannes Vermeer (1632-1675).
LINHA DO TEMPO
Ao longo do século XIX na França, havia uma relação intrínseca entre a arte e o Estado,
sendo este patrocinador e comprador de obras expostas no Salão de Paris. O Estado
também exercia controle sobre a Escola de Belas Artes e sobre a Academia Francesa, duas
instituições referenciais de técnica na produção artística da época e pilares da pintura
classicista. A exatidão do desenho, a erudição do tema escolhido e a articulação
compositiva do quadro eram o resultado de um rigor técnico quanto à racionalidade e
requisitos da boa arte.
Existia uma hierarquização de importância dos temas abordados nas obras: os temas
históricos, passíveis de representação em telas de grandes dimensões; retratos; de
gênero/cotidiano; de paisagem; e por último de natureza morta.
Nas composições mais prestigiadas no Salão, existia a recorrência de temas relacionados à
História Clássica, como as cenas relacionadas à mitologia greco-romana e a religião cristã.
Isso porque, haveria uma percepção geral de que determinadas escolhas estilísticas, como
representações de nudez, violências ou tópicos ligados à sexualidade, só seriam razoáveis
se apresentadas com distanciamento temporal, associando-a um passado clássico ou da
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religião. Diante de fortes protestos de artistas que foram impedidos de participar do Salão e
por determinação do imperador Napoleão III, foi organizada uma exposição paralela: o
Salão dos Recusados.
VER A OBRA
O primeiro aspecto mais notável desta obra são suas dimensões, com mais de dois metros
de altura e largura. De acordo com o rigor academicista da época, tais dimensões somente
seriam razoáveis em uma pintura de tema histórico e não uma pintura do cotidiano, como é
o caso. A paleta utilizada por Manet contempla cores fortes e outonais, em tons de preto,
marrom, verde escuro, verde claro, azul claro acinzentado, vermelho, rosa claro, amarelo
pálido e branco. A composição apresenta contrastes intensos de luz brilhante e sombra, com
figuras mais bem delineadas no primeiro plano e pinceladas rápidas, imprecisas e sem
muitos detalhes no segundo plano.
Inicialmente denominada “O Banho”, a obra de Manet criou forte repercussão na sociedade
com uma representação de quatro personagens contemporâneas à época, duas femininas e
duas masculinas em um cenário quase bucólico e emoldurado por árvores. Essas
personagens estão dispostas em um agrupamento triangular no centro da tela, sendo que
cada delas está voltada para uma direção diferente e não direcionada umas às outras. O
mais desconcertante na representação é o fato de que, enquanto as figuras masculinas estão
completamente e cuidadosamente vestidas, as personagens femininas trajavam apenas
vestes íntimas ou se encontravam totalmente nuas.
A composição pode ser dividida em planos e em três faixas horizontais. No primeiro plano
na diagonal inferior esquerda (faixa horizontal próxima a base da tela) existem
representações de natureza morta classicamente executadas: sobre o que aparenta ser o
vestido azul claro da personagem nua e suas roupas íntimas brancas, jaz uma cesta de
piquenique contendo pêssegos e ameixas. Ao lado desta, cerejas, um brioche e uma garrafa
transparente vazia repousam sobre a relva. Próximo a estes, um chapéu de palha com uma
fita na mesma cor do vestido. Na faixa horizontal central, a mulher completamente nua
reluz na tela, sentada sobre parte de seu vestido, com um discreto adorno preto na cabeça a
prender os cabelos. Sua tez branca é muito iluminada, e sua postura é prostrada a fitar o
observador com um olhar direto. Em um plano um pouco mais afastado, ao lado direito da
mulher, existem dois homens elegantemente trajados com chapéu casquete, paletó escuro,
gravata, camisa, calças, sapatos e uma bengala. Os detalhes e a nitidez dessas figuras são
menos trabalhados que os da personagem feminina do primeiro plano. No segundo plano,
ainda mais afastado, na terceira faixa horizontal, existe a segunda mulher, também
intensamente iluminada, trajando roupas íntimas brancas, ela se apresenta agachada em um
raso trecho de água, a segurar suas vestimentas para possivelmente não se molhar em
demasia. Acima desta mulher, é possível visualizar um limitado fragmento de horizonte,
com o céu azul e água esverdeada.
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Por fim, existem ainda distribuídos pela tela um sapo verde (próximo ao vestido da
mulher), um pássaro vermelho em pleno voo sobre a mulher que se banha na água e um
pequeno barco marrom, ainda com os remos, atracado na beira do rio.
2. Interpretação
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personagens, remete a uma impressão de que o plano de fundo não passa de uma tela
criada em forma de cenário.
O humor e a ironia de Manet ficam ainda mais evidentes quando observados o sapo e o
pássaro. O sapo camuflado na relva seria algo sensato para a ambientação, porém,
representa um toque muito ordinário para uma peça de rigor com homenagens e inspirações
clássicas. E o pássaro em vôo alto, emulando a postura da pomba do espírito santo, seria
um outro traço de sarcasmo, já que essa iconografia era usada em obras religiosas cristãs,
com a personagem pairando por cima dos acontecimentos sagrados.
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REFERÊNCIAS
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BOIS, M. C. M. S. (2008). “Charles Baudelaire e Édouard Manet: Por uma arte da vida
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Disponível em https://www.musee-orsay.fr/fr/oeuvres/le-dejeuner-sur-lherbe-904. Acesso
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