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Jorge Macaísta Malheiros

A análise das transformações ocorridas no quadro vc ou a faixa Leiría-A\'ciro) que, embora não eli-
migratôrio portugucs, tanto interno como interna- minando as tendências profundas desenvolvidas ao
cional, apôs 1974 c, em particular, a panir da se- longo de dCC3das, lhes introduzem matizes signifi-
gunda metade da década de 80, reflecle não sô o C3ti\·OS.
modo como Portugal se foi reposicionando no qua- J. Ferrão (1996) interpretou o período de 1960-
dro do sistema global de intcracçÕC'S (sobretudo de -1990. ou mais precisamente 196O-mcados da dé-
mãlrdc-obra, mas não só...), como as dinâmicas cada de 80, como a fase de consolidação do Portu-
internas de recomposição territorial. No contexto gal demogrâfico moderno. Nos quinze anos que se
destas últimas, tr.I.dicionalmentc marcadas pelas di- seguiram. o quadro dos movimentos migratórios
cotomias norte-sul e litoral-interior associadas ao do país sofreu alterações relevantes, algumas apro-
pendor bicéfaio das areas merropolitanas de Lisboa fundando dinâmicas ja pressentidas (multipolarida-
e Pono, vcm-se afinnando processos no\'os (emer- de, dcsconcentrnção dos centros das áreas metro-
gência de algumas cidades medias do interior e. politanas, atenuação dos volumes de emigraç'do num foto 31 Imagem de
por vezes, da sua cnvoh'cmc, acentuar das dinâmi- contexto dominado por movimentos temporários di\'crsidade da metrópole -
cas dos prolongamentos das áreas metropolitanas que assumem a forma de circulação migratória de operários afric:l.nos ~
europeus, em Lisboa
- por exemplo, Região Oeste, Lcziria do Tcjo c larga amplitude), outras cvidenciando fcnómcnos (Alameda Afonso Henriqucs).
dc cspaços litorais cxtcriores a estas, como o Algar- novos (diversificaç:io das origens dos imigr:mtes FOIO: Carlos Gil.

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I
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SOCIEDADE, PAISAGfNS f CIDADES 87


POPULAÇÃO ETERRITÓRIO
..........................................•...•••••••••...... o···· .................•...................................•••••••••.•........

cinco linhas de análise que emendemos sintetiza-


rem os principais pontos de convergência entre di-
nâmicas territoriais e processos migratórios:

a) a afirmação de Ponugal no âmbito do .clube


dos paises desenvolvidos., ainda que situado na pe-
riferia deste conjunto e largamente caracterizado
por elementos (capacidade de concepção e inova-
ção limitada, maior relevância dos serviços e do
.fabrico qualificado•...) que o posicionam enquanto
~país intermédio_ no contexto da denominada No-
va Divisão Internacional do Trabalho., explicitada
em finais dos anos 70 (G. Benko e A. Upietz,
1994). Ê este contexto que enquadra aspectos co-
mo a manutenção de fluxos de emigração laboral
portuguesa em direcção aos paises da Europa Cen~
trai e do Norte, o significativo incremento dos vo-
lumes da imigração na transição do milénio ou o
seu carácler assimetricamente polarizado, uma vez
que nos últimos anos as formas de inserção em
segmentos pouco qualificados do mercado de tra-
balho têm claramente prevalecido;
b) a incorporação de Ponugal no comex(o da
~globalização das migrações. (P. Stalker, 2000), o
que se traduz na emergênda de fluxos migratórios
não enquadrados pelas antigas lógicas da proximi-
dade geográfica ou histórico-cultural. A circulação
FOI:. JS Habitantes de dh-crsas num quadro de afirmação de Ponugal como pais de trabalhadores no contexto de mercados de tra-
etnias on Chclas (fcira do de imigraç'do, generali7.ação da presença de imi- balho a funcionarem à escala global, fonemente
Relógio).
Fol:O: Eduardo TomêID~. grantes a todas as regiões ponuguesas). dependente do papel de redes profissionais de
No início do século XXI, para:e claro que algu- colocação e tráfico internacional de mão-de-obra,
mas das imagens tradicionais associadas aos movi- parece constituir-se como o principal mecanismo
mentos migratórios internos e externos que en"ol- explicativo de muitas vagas de imigração contem-
\'em Portugal - o êxodo rural em dirccção ás áreas porâneas, como é o caso da recente presença de
metropolitanas, um pais de emigração - perderam trabalhadores da Europa de Leste em Portugal
a sua pertinência, cedendo lugar a lógicas aparen- a. Malheiros, 2003);
temente mais complexas. Efeçth-amente, se e ceno c) a persistência de .uma cultura migratória acti-
que emergem .ilhas. de auncçào demográfica cor- \·a. entre os Portugueses, ou, mais predsamente, en-
respondentes a cidades médias do interior e a espa- tre os naturais de algumas regiões portuguesas, que
ços litorais exteriores ás duas áreas metropolitanas, suporta uma tradição de .saber circular_ fadlitadora
estas não perderam a sua capacidade alractiva, re- da manutenção de fluxos emigratórios, mesmo que
forçando mesmo OS seus niveis de concentração em menor escala e de carácter essencialmente tem-
demográfica ao longo dos anos 90 (concentravam porário. Adicionalmente, a consolidação do .arqui-
37,3 % da população do pais em 1991 e 38,1 % em pélago migratório português. leva a que os fluxos de
2001). Adicionalmente, o elevadíssimo saldo migra- pessoas (a emigração laboral em si mesma) se tornem
tório positivo do decênio de 90, que traduz o efeito menos relevantes do que as interacções induzidas
de movimentos de relorno import'antes (F. i'vlartins, pelo fluxo emigratório (os retornos e a circulação
2003) e, sobretudo: o crescimento da imigração, dos luso-descendentes, o movimento de vai-e-vem,
não justifica que se ignore o significado de 4,3 mi- as remessas ou as \~sitas turisticas...);
lhões de ponugueses e luso-descendentes a residi- d) a flexibilização e segmentação dos processos
rem no estrangeiro, os quais continuam a enviar produtivos, que se traduz numa maior \'olatilidade
anualmente remessas monetárias que ascenderam, e preçariedade das relações laborais, associada a
em 2001, a 3700 milhões de euros (cerca de 3 % um reforço das acessibilidades e à implementação
do PIB nacional). Se, do ponto de vista dos fluxos, de equipamenlos de nivel regional ou mesmo su-
Portugal se transformou num pais de imigração, pra~regional (por exemplo, univcrsidades e institu-
em termos de slocks, os emigrantes sobrepõem-se toS politécnicos) em diversas regiões a. Fcrrão,
clarameme aos imigramcs, correspondendo os pri- 1996), facilitaram a intensificação e a di\'ersificação
meiros a cerca de 41 % dos residemes em 200 1 e dos movimentos migratórios internos;
os segundos a menos de 4 % da população residen- e) considerando os lugares e as regiões mais
te (aproximadamente 413 000 indivíduos em situa- atractivas como as elevações do mapa topográfico
ção regular, em 2002). A proposta de leitura do da demografia portuguesa, verifica-se que a ima-
quadro migratório português que apresentaremos gem dc superl1de aplanada (correspondente à
nos pontos seguintes pretende, precisamente, inter- enonue mancha das àreas repulsivas) em que se
pretar as continuidades e rupturas que se deseO\'ol- destacavam duas grandes elevações (as áreas me-
\'eram ao longo dos ultimas anos, pri\'ilegiando tropolitanas de Lisboa e Pono), transmitida pela
88 GEOGlAFIA DE PORTUGAl
3 "'~GRAÇÕES
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canografia dos movimentos migratórios dos anos
60 (L. Fonseca, 1990), cedeu o lugar a um relevo
mais complexo, marcado por alguma heterogenei-
dade interna das arcas metropolitanas (essencial-
mente, perda da metrópole e da primeira coroa,
ganho das áreas mais afastadas, algumas já situadas
fora do limite formal das áreas metropolitanas) e
pela emergência de vários ~relevos_ complementa-
res a estas. Ao longo da dêcada de 90 parece mes-
mo ter ocorrido uma tendência para a constituição
de pequenas táreas urbanas_ em tomo de algumas
cidades do interior (Evora, Castelo Branco, Vi-
seu ...), que polarizam conjuntos de concelhos en-
\'oh'entes, os quais passam a funcionar como espa-
ços de atracção demográfica.

3.1. MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS


EXTERNOS: DA EMIGRAÇÃO À IMIGRAÇÃO?
A observação dos saldos migratórios dos quatro
períodos imercensitârios ocorridos entre 1960 e
2001 permite identificar uma curiosa alternância
entre dêcadas de balanço positivo e negati\·o. Esta
situação, que poderia significar um componamemo
irregular conmirio â identificação de tendências
mais ou menos pronunciadas, ê matizado pela rela-
tiya excepcionalidade do decênio de 70. Efectiva-
mente, o processo de descolonização, responsável nomica dos anos 70 significou uma retracção do FOI. J' RelOmados de Angola
pela súbita chegada ao país de mais de 500 000 mercado de emprego dos principais paises de des- (ponte aerea) no aeroporto
da Ponela, Lisboa, em 1975.
pessoas, num período de apenas três ou quatro tino europeus (p. e. França, Alemanha) c justificou Foto: Arquil"o Diârio Ik
anos (R. Pires, 1984), significou uma situação ex- o incentivo ao retorno dos emigrantes, mas não li- NOfiâm.
cepcional que contraríou as tendências migratórias mitou os processos de reagrupamento familiar que
(de perda) \'erificadas desde os anos 50 e mesmo continuaram a ocorrer (i\'\' L Baganha e P. Góis,
antes. Na verdade, se não fosse este afluxo extraor- 1998/1999).
dinário de população, o saldo migratório teria sido Se não se considerar o efeito .descolonizaçãrn, a
certamente negatiyo, ainda que mais reduzido do C\'olução do saldo migratório portUguês entre 1960
que no decênio anterior, uma \'ez que a crise eco- e 1990 resultaria quase exclusivamente da evolução

Quadro 10
Componentes de variação demográfica - períodos intercensitários 1960-2001
População PopuJação Variação Crescimento Saldo
no inicio no fmal absoluta n,tur.oI migratório
do pttiodo do periodo

1960-1970 8889392 8663252 -226140 1072 620 - I 298 760

1970-1981 8663252 9833014 1 169762 794 194 375569

1981-1991 9833014 9867 147 34 133 349549 -315416

1991-2001 9867147 10356117 488970 84223 404747

Taxas por 1000 habitantes

Variação absoluta Crescimemo narural Migratória

1960-1970 -25,8 122,2 -148,0

1970-1981 126,5 85,9 40,6

1981-1991 3,5 35,5 -32,0

1991-2001 48,4 8,3 40,0


Fomes: INE, Cimos, 1960, 1970, 1981, 1991 e 2001; Es/olisticos Dtmogrúfims (\'ârios anos).
SOCTEDADE. PAISAGl.'lr:5 E(IDADES 89
f'()PLL~ÇÃO ETERRITÔRIO
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dos Ouxos de emigração e retorno e traduzir-se-ia clima de estagnação económica iniciado em 2001,
em valores sistematicamente negativos, ainda que que teve como consequência uma contracção do
em atenuação progressiva. Apenas na última déca- mercado de emprego e a quebra dos salários reais
da do século xx se torna clara uma alteração apa- de muitas famílias, induziu, de imediato, um acrês~
rentemente sustentada (e não decorrente de fenô- cimo da emigração, que passou de uma estimativa
menos demográficos excepcionais) do sentido do de 20 600 individuos em 200 I para 27 400 em
saldo migratório de Ponugal. É também nesta altu- 2002. Finalmente, o boom imigratório ocorrido en~
ra que o saldo migratório se torna a explicação fun~ tre 2000 e 2002, fortemente dependente das chega~
damental para a dinâmica demogrâfica portuguesa das de cidadãos da Europa de Leste e de brasilei-
(corresponde a mais de 80 % da variação absoluta), ros, tendera, prm'avelmente, a diminuir no futuro.
confirmando a tendência de com'ergência com os Para tal contribuirJo, em termos conjunturais, o
paises europeus que marca a entrada no periodo de contexto de TCtracção económica e, do ponto de
modernização consolidada, conforme mencionado "ista estrutural, a pro\'ável estabilização das econo-
antenormente. mias dos principais paises emissores, associada ao
Em suma, nos anos que antecedem o novo milê- papel de buffer que os estados de Leste aderentes á
nio, PonugaI apresenta uma situação que conjuga: UE poderão desempenhar a médio prazo. Tam~
• um ritmo de saidas relati\'amente reduzido, bém o esforço de controlo e regulação dos fluxos
mas não negligenciâ\'cl (uma média anual de apro- implementado por Ponugal no quadro da UE po-
ximadamente 2S 800 emigrantes entre 1997 e derj ter consequências no sentido da atenuação
200 I, segundo as estimativas do INE baseadas no destes, mas tal só terã um sígnificado forte se ocor~
ll/quérito aos Movimemos Migratôrios de SaMa), es- rer uma tendência para a estabilização dos movi-
sencialmenre de carãeter temporãrio e privilegian- mentos de mão-de-obra, no âmbito dos processos
do os destinos internos da UE e a Suíça; de auto-regulação marcados por \'ariáxeis econó-
• um nivel de retornos igualmente pouco eleva- micas c sociais (ni\'eis de desemprego, alteração
do (,ralor médio de cerca de 20000-22000 regres- dos diferenciaís salariais entre origem e destino,
sos anuais entre 1992 e 1997 e de aproximada~ papel das redes profissionais de auxilio à emigra-
mente 15000, entre 1997 e 2001, a que se devem ção, importância do reagrupamento familiar e das
acrescentar os familiares não activos excluídos das redes sociais de familiares e conterrâneos dos mi~
estimativas de contabilização efectuadas pelo lNE), grames...).
sobretudo quando comparado com a primeira me- Este contexto que se acaba de descre\'er ê pres-
tade dos anos 80; sentido pela sociedade portuguesa, como atestam
• uma imigração em crescendo, que conheceu as palavras de um taxista lisboeta, no âmbito de
um significati\'o incremento nos anos situados em um discurso bem menos técnico:
torno da transiç1io do século x...... para o século XXl
(178 000 esrrangeiros em situação regular em 1998; ~Sabe, já ai andam a trabalhar alguns brasilei~
mais de 413 000 no final de 2002, considerando os ros... poucos ê certo, mns já se vêem. Eu ando aqui
possuidores de autorizações de residência e de per~ há cinco anos, mas não é porque goste... tem de
manência emitidas em 2001 c 2002), momento si~ ser. Trabalhei numas firmas espanholas - com
tuado no ümbito de umn conjuntura económica fa~ "eles" -, de distribuição, mas isso não teve conti-
voriivcl, que conjugava dinâmicas importantes do nuidade. O que eu queria mesmo era emigrar, ou
investimento privado e público materializadas, entre para a Suíça, ou para Angola. Já fiz um "pedido"
outros, em grandes projectos de significado nacional numa grande empresa de construção civil... é que
(Expo 98, barragem do Aiqueva, Porto~Capital da eu também tenho uns conhecimentos nessa ârea ...•
Cultura, infra-estruturas viárias, Euro 2004...), asso~
ciadas a um processo de expansão do consumo das l\o10torista de táxi, 45 anos, Lisboa, Janeiro de
famílias. 2004.
Neste quadro, a transição de país de emigração
para pais de imigração parece, numa primeira ob~ 3.1.1. A emi&ração: de país de emigração
servação, ser bastante evidente. Contudo, alguns a país de emigrantes
aspectos justificam que tal afirmnção seja utilizada Ainda que as saidas de portugueses para o estran-
com prudência e devidamente contextualizada. geiro não se tenham extinguido, verificando~se
Em primeiro lugar, a dimensão das comunida- mesmo uma tendência para um acréscimo após
des portuguesas no estrangeiro e as práticas trans~ 2001, quando a situação de estagnação económica
nacionais que lhes estão associadas implicam que a e desemprego se acentuou, o estudo contemporâ-
imagem de Portugal como pais de emigrantes não neo da emigração de\'e ultrapassar o mero exerci-
se tenha desvanecido. Afinal, ainda em meados da cio da análise da dinâmica e das características dos
década de 90, Ponugal aparecia num dos cinco fluxos de saida. No contexto português, o desen-
primeiros lugares do ra"k;"g dos paises que maio- vol\'imemo e consolidação de uma cultura emigra~
res volumes de remessas recebiam (p. Stalker, tória ao longo de mais de 500 anos, a que se fez
,.~ .~' .~--.: um pu-
2(00). alusão no primeiro capitulo, justificou a criação de
"" Jj\,root 1.."Ml. do
- , .::) r...·-' W\Wl- Em segundo lugar, a emigração não se extin- um vasto tarquipêlago migratório., constituido pe~
___ nr ~ lI:..:n.-o lllaIll.\fU
.::- _ ~• ..;._,.;. ..:. J' q-.l.: 1lWl-
guiu. Se bem que mais atenuada e com um carac- los lugares de fixação de portugueses no exterior,
_ ~""" ~ :m~::,.'-.çom ter marcadamente temporário, o fluxo existente que se articula com a metrópole de fonoas relati\'a-
.- - ..!. ":.1:'1. "l.l Jo.." rri>- não se pode ignorar, designadamente em delermí~ mente dh'ersas e mais ou menos imensas. Efectiva-
_ v .m:.rJ ...J"....
: : r -3 nadas áreas do Norte e Centro interior. De resto, o mente, esta enorme diáspora I portuguesa no exte~
90 GroGR-V'IA Df PORTUGAl
..........................................................................................................................................
J MIGRAÇÕES

Fot. -40 Emigrantes


poffilguese5 - embarque a
caminho de LcixÕC5, donde
partirão de na\io para o
Brasil. III1SlruçQo Pcmllgrltso,
1913.
Foto: C. p~ Cardoso.

rior, ainda hoje alimentada por fluxos de saída, económica portuguesa, considerada enquanto fluxo
mas que cresceu significativamente entre 1960 e internacional de trabalho, iniciado apôs o primeiro
1973, é não só responsâve1 pelo envio das remes- quartel do século XIX e dominado pelos destinos no
sas, como também por trocas culturais relativa- continente americano, com realce para o Brasil
mente intensas (facilitadas por canais como a lele- (M. I. Baganha e P. Góis, 1998/1999), cujos con-
\'isào internacional ou a Internet...), pela circulação tornos foram aflorados no primeiro capitulo,
de bens e de pessoas (particularmente no Verão) e O segundo ciclo da emigração econômica por-
mesmo por alguma actividade de divulgação e loh- tuguesa está bem evidenciado na informação cor-
b)' pró-português no exterior. respondente ao periodo de 1960-1974, com os
Porque Portugal ainda se posiciona no centro destinos europeus a predominarem, com destaque
deste arquipêlago migratório, procurando tirar di- para a França. Em menos de 15 anos, terão emi-
údendos económicos, poJiticos e culturais dele, grado mais de 1.5 milhões de portugueses, o que
porque a estrutura de contactos se reproduz, não atesta uma significativa aceleração do fenemeno.
apenas através dos novos e dos velhos emigrantes que atingiu proporções de sangria demográfica. Do
mas também de diversos .filhos da emigração", ho- pomo de \'ista interno. as modIficações ocorridas
je designados como luso-descendentes, na análise na estrutura produtiva de Portugal. especialmente
da emigração portuguesa importa dar atenção aos nos anos 60 do século xx. não se repercutiram
fluxos contemporâneos, mas, sobretudo, reflectir num acrêscimo dos salários. tendo mesmo gerado
sobre o significado das comunidades portuguesas c1e\'adas taxas de desemprego potencial que. asso-
no exterior, na dupla dimensào de articulação entre ciadas a siruacões de subemprego e forte precarie-
si (os locais da diáspora) e de articulação com Por- dade na agriculwr:l. facilitaram significati\'amcnte
rugai, aspecto que será aqui tratado. Afinal, trata-se o acréscimo da emigração (C. Almeida e A. Barre-
de combinar a perspectiva da emigração (a análise lO. 1976; j. Barosa e P. Pereira. 1989: M. I. Baga-
de fluxos) com a perspectiva do emigrante (o sujei- nha e P. Góis. 19981999).
to aetivo deste processo) e do que lhe esUl associa- Do ponto de \'ista externo. durante o ciclo de
do, em termos de lempo e conteúdo. capitalismo feliz que dominou as economias dos
paises desem'oh'idos da Europa Ocidental enlre o
Os fluxos cOllltmpmi'meos da emigração portllgllesa - pós-guerra e 19i3,-4. tornou·se necessário recru-
da alimelllaçiio laboral do ciclo de capitalismo feliz dos tar um significativo número de trabalhadores
paises desellvolvidos da Europa Oádemal ti .livre. oriundos. sobretudo, da bacia do Mediterrâneo, de
circulação 110 comexlO do Espaço Econômico Europeu, forma a satisfazer as necessidades de mão-de-obra
CQ}I/ predolllÍlfio de movimelltos remporán"os de acti\'idades em expansão, como a indústria
transformadora e a construção civil (L. Fonseca,
A informação contida no Quadro II sintetiza 1990). Num contexto marcado por alguma relrac-
os fluxos migratórios com origem em Portugal, em ção demográfica, inicialmente devido aos efeitos da
lermos de volumes e destinos, ao longo dos últimos Segunda Guerra Mundial e posteriormente aos ní-
50 anos. veis de fecundidade tendencialmente decrescentes,
O primeiro quinquénio considerado correspon- com excepção do bab)' boom da prímeira metade
de ao encerramento do primeiro ciclo da emigração dos anos 50, as carências de mão-de-obra faziam-
SOCIEDADE, PAISAGENS ECIDADES 91
POP\..L.I"ÇÃO ETERRITÔRJO
............... , , .

Nlt. 41 Cmaz em ·se especialmente sentir nos ramos de actividade ção em massa, assente em princípios taylorislas de
;'. :\1.:gu~fnmcês junto a
:::-.... n~ anos 60 em
dotados de menor prestigio social e que exigiam organização do trabalho, na internalização de fun-
:::-:i..'t'.1. qualificações mais baixas. Efectivamente, a e1e\'a- ções e numa combinação entre intensidade do ca-
:'":, P.1u1 A1mas)·flPM. ção estrutural dos nh'eis de educação dos autócto- pital e intensidade do trabalho - que foram ocu-
For. ~~ A5peçto de wn bairro
nes traduziu-se em expectativas e formas de inser- padas, em larga medida, por emigrantes, entre os
:: , 'uburbios p:uisicnscs. ção profissional orientadas para os segmentos mais quais os portugueses.
; •• .• - 1".-.';
::...t .1 nulOl'1.3 UiI popu.... ~o qualificados do mercado de trabalho, deixando por Após 1973, os principais paises receptores da
~ ;mruguesa (anos 60). preencher vagas para os assalariados menos qualifi-
F':e- P.1U) A1m.1syJIPM. Europa encetaram uma politica de .fecho ã emi-
cados - frequentes no quadro fordista de produ- gração~ que, inicialmente, te\'e origem na situação

Quadro 11
Emigração portuguesa por países de destino (médias anuais para os períodos de
referência entre 1955 e 2002)
Períodos Brasil EUA Canadá França Outros 0,"'" Total
países da paises geral
Europa

1955-1959 18292 2 125 2270 3786 132 6493 33 098

1960-1964 11 658 3 199 3693 23047 2450 5458 49505

1965·1969 2996 10 135 6388 70566 12692 7242 110019

1970·1974 1 129 8768 7888 83370 27 662 4746 133 563

1975-1979 697 7915 3880 13603 6438 4055 36588

198()...1984 193 3254 1 520 8520 2714 5270 21471

1985-1988 69 -,
, -60 2705 1 700 3036 1 556 11626
••
1992·199-1 1000 800 8000 19500 noo 34000

1995-1997 8000 19500 2000 29500

1998·2000 6000 15000 3000 24000

2001-2002 600 6000 14000 3400 2-1000

•• A serie original ê interrompida em 1988. Após 1992 itúcia-se uma nova serie baseada em esômaÔ"as obtidas a par·
tir do inquêrito aos mo\imentos migratórios de saida (INE) e não no registo dos emigrantes.
Fontes: Baganha e Góis (1998-1999, p. 235); INE, EstiJ/islicaJ DtmogroftcQs.
92 GEOGRAfIA DE POII:TUGAl
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] MIGRAÇÕES.

de crise econômica, com fortes consequências ao giões do inlerior, numa primeira fase como resulta- 'Embora não cmum dados ux·
tos. cmmw.~ dmu.><.bs flOr M.
ni\'el do crescimento do desemprego e da atenua- do dos im'estimentos efectuados pelo poder local sm... fi aL. 198-1. p. 59. aponwn
ção do ritmO de crescimento do produto. POSte- democrãtico em infra-estruturas e equipamentos, pmI 209 000 rtÇmoI mtn: 1980
c 19&5. A aphaçio de IJDS de \'1-
riormente, o processo de reestruturação econômica a expansão do consumo individual \'eio facilitar a r\açJo aos dados 3\~ por .\1.
que se verificou e que foi impondo a deslocalização abertura de no\'as oportunidades de negócio (hote- l'\'liIDrd (1991, p. .l69) ~
llIilD-K dos 300 000 rtgltloI05 nas
de muitas unidades produtivas para países tercei- laria/restauração, comércio, reparaçõcs), em que os ..... 80, CIlnI uma incidCnciI nWor
ros, a flexibilização das formas de produção e a emigrantes regressados podiam aplicar as suas na prirncirJ meudc deslCS (I. Ma.
Ibctros. 1996, p. 73).
di\'ersificação dos produtos, a diminuição do pes- poupanças. Em finais dos anos 70 e na primeira I EnlJC o fmal do 5oéculo XIX c 19&8,
soal ao serviço em muitas fabricas e a afirmação metade dos anos 80, num momemo anterior ã rees- exi,lem rcgi~los ofKi~is rdalÍ\"J.·
mentc bons da emigraçlo legal por-
da economia dos serviços, repercutiu-se na redu- truturação do aparelho comercial nacional, muito tuguesa, baseados na ron1abilldade
ção das necessidades de mão-de-obra e, sobretu- associada ã difusão das grandes e médias superfi- dos 'pa~,apon~s de emigrante', cx·
limos em 19S8, Em ronsequcnçia
do, nos modelos de contratação (cada vez mais cies comerciais pertencentes a alguns grupos eco- desla modif~1). l;C$$.l. o processo
marcados pela curta duração, pela flexibilidade e nômicos nacionais e estrangeiros. ã concentração de rfCOlh.a de infOl'lNol;Jo Mlbrc
emigração nesu modaIi<bde. oror·
pela precariedade). E neste contexto que começa de lojas num número cada \'ez mais ele\"ado de rC!l<k> um pniodo de 3 anos 5an
a tomar forma a ideia de _Fortaleza Europeia" que centros comerciais e à emergência de processos rbJos. Ap.mir IX 1992. ~ 1JTlpbn-
UÓo> pdo I~E l:IfI _"O Y>lmlóI de
se viria a afirmar nos anos 80, e que designa um nO\'os como o !rallchúillg, a \'enda por catalogo ou .""olm ok mf,,"utio wbrc mu·
espaço relativamente fechado a imigração, apenas as lojas de descamo, as oportunidades para o pe- i".........
N>e..... , num inqutrilO
permeavel aqueles que utili7.am os instrumentos queno comércio independente e para a restaura-
anwI ~ (a pcrgunu me
a ;w.c..'U 00 cwmJ=O t roioa·
formais correspondentes ao reagrupamento fami- ção re\'ela\'am-se prometedoras. Uma \'ez que o da a f=,.JWes c \lllrIl1Oi c não:ao
rwrrio). rnhu.lo JNl'" ~an
liar e ao asilo. comércio era o ramo de actividade mais pretendi- (I."", IIOS .\/Ot_ _ .\Ilp;J1o>-
A emigração portuguesa ressentiu-se natural- do pelos emigrantes para aplicação de poupanças "'" di Saib). Como ~ rep;ws da
mugraçào pmI a Europa ler» fICa-
mente deste contexto, como se pode constatar pelo e exercicio de actividade profissional (M. Silva Cl do partiroIarmmIC suba,'lI1i;tdo$
brusco decrcscimo de saídas, identificavel no Qua- aI., 1984,1'.117 e 141), a conjuntura referida aflÓ'S a :>dcsio de Ponllpl 11 CEE,
em 19&6, intt'ITompernJo.se a stric
dro li. Claro que esta situação não se pode disso- veio, naturalmente, facilitar esta opção de investi- esla!Í,lka imedimmcn1e a seguir.
ciar das profundas transformações políticas, sociais mento e reinserção. Por último, deve relembrar-se ,·crilica·se uma allsôneia de dados
e econômicas por que passou a sociedade portu- que existem motivos individuais que justificam a
que permita l\lIliar. com rigor. °
mom~mo ~ o real signifu:ado des1a
guesa, entre 1974 e meados dos anos 80. A revolu- opção do retorno, em determinados momentos es- prO\1Í\'d relorm da ~migrn';lo"

ção de 2S de Abril de 1974, a instauração da de- pecificas. Afinal, em muitos casos, razões familia-
mocracia e o final da Guerra Colonial criaram um res, como as saudades dos parentes ou a educação
capital de esperança que contribuiu para diminuir dos filhos, constituem o fundamento do retorno à
o desejo de partida, desvanecendo moti\'os de emi- região de origem (M. Silva Cf al., 1984; F. Cravi-
gração como a deserção ao serviço militar em sede dão, 1988).
de guerra colonial ou a fuga face as perseguiçõcs Depois desla fase de retracção, alguns autores
políticas impostas pelo regime dilatoria!. (A'l. I. Baganha e P. Gôis, 1998/1999) referem-se a
Igualmente neste pcriodo teci ocorrido o maior um terceiro ciclo da emigração portuguesa para
numero de regressos de emigrantes, com destaque a Europa, que se teci iniciado na segunda metade
para os anos imediatamente subsequentes a 19802. dos anos 80.
Se os incentivos ao retomo de emigrantes concedi- Embora não existam dados que confirmem, de
dos por paises como a França e a Alemanha tcrão modo preciso, um eventual aumento das saidas a
ajudado a construir a decisão de regresso de alguns partir do supracitado moment0 3, os resultados
portugueses, foram sobretudo causas de outra na- dos Censos de 1991 e os estudos efectuados por
tureza que maior contributo deram para tal proces- autores como j. Peixoto (1993) e M. I. Baganha e FOI, ~3 c ~ Esubdccimemos
comerciais de emigrantes
so. Para além da democra(Ízação da sociedade e da J. Peixoto (1997) parecem apontar para uma re- regressados.
melhoria da qualidade de vida, sobretudo nas re- lama da emigração neste periodo. De acordo com Fotos: Clara Azevedo.

r

- SOCIEDADE, PAISAGENS ECIDADES 93


POPULACÃO ETERRITÓRIO
............... ,", .. , , , .

"
.·-. :] ~
1
manrido como importante país de atracção -
Fig. 42), como na América (Estados Unidos e Ca-
nadá, não obstante a redução dos fluxos ao longo
dos anos 90 - Quadro li).
.-
·- o -. Provavelmente mais intensa na transição dos
·
"..'"
o
~ / .,..,"\ /
• anos SO para os anos 90, a emigração portuguesa
deve ter declinado paulatinamente na segunda me-
tade da década transacta, parecendo ocorrer uma
6000 ~~~
://
~~
\7'" 'v • ,,- nova retoma, após 2000, quando a recessão econó-
mica gerou nova contracção salarial e um signifi-
'000
• rr""•
cativo acréscimo nos níveis de desemprego.
/' 9r >7 R.""., l'o,""

)( """. Conrudo, para além de se avaliar a intensidade


'000
-~l ""... e as variações dos fluxos da emigração portuguesa
O
, " ,-""",,
ao longo deste terceiro ciclo, importa destacar os

"" "
,A ,Ae'
"
AO
,Ae" ,A ," e' ,
" " -~ -",
,A , ~~ ~,
~~ novos contornos que lhe estão associados.
Em primeiro lugar, trata-se de mO\'imentos si-
tuados, maioritariamente, num espaço marcado pe-
Fig. 'l Emigração portuguesa M.I. Baganha (1991-1994), só após meados dos la _livre circulação", o que significa que os cons-
'.;unJo os principais
':=--linos - 1991-2002, anos SO se encontraram reunidas as condições trangimenros formais à circulação e os défices de
f"nle: INE. L'slatislÍ(as que possibilitaram a retoma dos movimentos mi- direitos normalmente inerentes à condição de tra-
D;IIi(l~rJfiC<ls (drios anos), gratórios com origem em Portugal: a reconstruçào balhador (ou residente) estrangeiro se reduzem
de redes migratórias que facilitassem a partida substancialmente. Ao situar os movimentos migra-
para destinos alternalivos aos dominantes nos tórios dos Porrugueses no ãmbito do processo de
anos 60, como a Suiça, e o sancionamento políti- consolidação da circulação de oconcidadãos euro-
co da emigração, tanto do lado da origem como peus·) no contexto da UE, pode-se assumir que este
do destino. fenómeno se vai aproximando, progressivamente,
Segundo M. I. Baganha, J. Ferrão e J. Malhei- da lógica das migrações internas.
ros (2002, p. 62), a sustentação da emigração por- Em segundo lugar, afirmaram-se as migrações
..\l..mo qUé o erilerio nJo po,5a tuguesa ocorrida nos últimos 15 anos parece ser temporárias~ (Fig. 43), fenómeno que se ajusta,
~: .ph':Jdo wm absoluto rigor no
" ,.:"10 do 11I~lIin"w <1<>1 J (,mille,/- suportada pelo seguinte conjumo de factores: não só às facilidades de circulação no espaço euro-
,1I:.'r.I/,;n'N dt S"iJ.J, as mignl- • a construção de redes migratórias que alimen- peu, mas sobretudo às actuais características dos
c·~~ t.-m['(lrjri" corrc;pondem às
;--":'.~ cm que os indi"iduo$ N' tam destinos "novoso>, como o Luxemburgo mercados de trabalho, marcados por l1utuações nas
::: .U-,nl<:$ do $Cu local de re'i- (30250 pessoas em 19S7; 53 100 dez anos depois necessidades de emprego e pela precarização das
.i:~,;.l J'>.'f l'~riodos compreendidos
• -:;C,' 3 rn",~\ e um ano (defLni,;;" - D. Beirão, 2002, p. 296), a Suiça (39900 indi- relações contratuais.
-_,,;, (,'mUm em termos inlernaeio- viduos de nacionalidade portuguesa, em 1995; Por último, uma parte destes movimentos mi-
C"". ~ulizadJ, poe exemplo- peta
01'1-';,' J~ Popula..'âo das :\a,<;cs 134 SOO, em 1995 - J. C. Marques, 1997) e, mais gratórios situa-se no âmbito de processos de recru-
L·~.:':",
recentemente, o Reino Unido; tamento colectivo de trabalho, desenvolvidos quer
• as facilidades de circulação de trabalhadores por empresas de outros paises da UE (Holanda,
no contexto da União Europeia e, de algum modo, Espanha) com o auxílio de engajadores nacionais,
do próprio Espaço Económico Europeu; quer por empresas portuguesas que prestam servI-
• o desenvolvimento, a nivel europeu, de pro- ços no exterior, por exemplo no sector das obras
cessos de destacamento de trabalhadores para tare- públicas. Como este sistema apresenta hiatos de
fas de caráctcr temporário, como a construção civil controlo (por exemplo, a promiscuidade enrre "em-
ou a agricultura, que facilitam a circulação de por- presas de colocação de mão-de-obra nacionais* e
tugueses. empregadores estrangeiros torna difusas algumas
Flg. J3 Emigração porlUguesa A estes factores pode acrescentar-se a manuten- responsabilidades perante os trabalhadores que,
r-:fTI1Jnentc c lemporária) - ção das fortes redes sociais e familiares que susten- muitas vezes, acabam por ficar numa espécie de
199~-~002.
f, r,le: I)';"E. j;','/illislÍ(íls tam a emigração para alguns destinos tradicionais, oterra-de-ninguém*), elementos de informalidade
/),;m"rrj(ic<ls (\"lírios anos). tanto na Europa (sobretudo a França, que se tem (e mesmo de certa ilegalidade) e alguns casos de
défice de cumprimento, tanto de empresas nacio-
nais como estrangeiras, das suas obrigações para
.l~ 000 com os estados e, sobretudo, para com os trabalha-

'",
.ltlOOO dores, têm sido relativamente frequentes as situa-
çõcs de trabalho e alojamento piores do que as ini-
35000
A
3"000

" lOO "- V / \ A .. cialmente promctidas ou os casos de salários pagos


parcialmente ou mesmo não pagos.

~"
V "- ./ Detalhando a análise dos mais importantes des-
-- 00 tinos da emigração, deve referir-se que os quatro
15000 principais paises (Fig. 42) concenrraram, em mé-
If OlO

3' 000
" _ _ TobI
__ P,,,,,,,,,,m,
To"""""",
dia, entre 75 e SO % das saídas totais, no período
de 1994-1999. As l1utuações detectadas nos fluxos
dirigidos a cada um dos países estão associadas ao
O
,
,," e' ,~, li' ,ee" ," ,A," comportamento conjuntural das economias e, fre-
" "
,Ae'
" -", ~" -~, ~' ,","' quentemente, a oscilações especificas ocorridas em
determinados sectores de actividade. O exemplo
9.t. GEOGRAFIA DE PORTUGAL
.........................................................................•................................................................
3 MIGRAÇÕES

Fot, ~s Emigrante português


YDlH'DR CALLlNG lr?balhando nUIll3 mercearia
(Arril:a do Sul),
SE CALL AGAI 1:010: Pedro
Loorciro,lKammtphoto.

mais didúctico corrcsponctc à Alemanha, que rcgis- os


E,'vIlGRA::'\'TES PORTUGUESES
ta um incremento progressivo nas chegadas de CO:-1TEMI'ORÂNEOS - NOTAS PARA U"l PERFIL
portugueses até 1996, momento em que o _proces_ SOCIAL E GEOGRÂFICO
so de rcconstrução_ de espaços c infra-eslrulUr:lS
no antigo território da RDA alingiu o auge. A par- De acordo com a informação do IN E, os emigran- ..\\ I. B4mha. J. Fmio t J- ,\b-
Iharos. 1002. p. 66-67.
tir daqui, não só o reforço dos mecanismos de re- tes portugueses do periodo de 1992-2002 conti-
gulação das acth'idadcs na construção civil tomou nuam a apresentar um perfil caracteristico da emi-
mais dificil a exploração de trabalhadores estran- gração laboral: predomínio da população jovem do
geiros (comunitârios e não comunitários), como a sexo masculino (corresponde a mais de 75 % das
dinâmica do se<:tor das obras publicas decaiu, re- saidas totais neste período) que parece inserir-sc
duzindo as possibilidades de destacamento de tra- predominamemente em actividades como a cons-
balhadores portugueses para este país que, adicio- trução civil e obras públicas (apareniememe domi-
nalmcntc, viram intcnsificar-sc a concorrência de nantes até 1996), os sen'iços pessoais e domésti-
profissionais de outras provcniências, como a Poló- cos, a hotc1aria c restauração, a agricultura e a
nia ou a Ucrânia. Não surprcendc, pois, quc o nú-
mcro de saidas em direcção a Alemanha se Icnha
. .
progn::sslvamente menos atractl\'a'.
.
indústria transformadora. ainda quc esta última

redu%ido gradualmente após 1996, transformando Relativamente aos ní\'eis de instrução dos emi- Fig. ~~ Nil'eis de inslru~ào
esle pais no destino mcnos atractivo dos quatro grames, cstes reproduzem. de algum modo, a es- dos emigr.tntcs ponugueses -
1997-2002,
principais, em 2002. trutura dominante no resto da sociedade portugue- Fonte: INE. Eslu/úli,..u
Se a Suíça e a França sc mantêm como os prin- sa, identificando-se mesmo uma c\'olução quc lXIlIogrJfKaS (\lÍrios anos),
cipais destinos - em termos médios - ao longo
deste periodo, a Inglaterra regista os \'alores mais
reduzidos enquanto área emergente para a emigra-
do nacional, o que pode decorrer quer da menor
",,>00
,,"00
, I
capacidade de suporte da rede social de apoio ã
emigração quer dc c\'cntuais defices no registo dos \
emigr:lOtes temporários quc trabalham em determi- ",,>00
nadas áreas, como as ilhas do Canal. • \ Á
Posteriormente a 1999, ocorre um incremenio ~ 25000
V /L
das saidas em direcção a OUlros destinos (Fig. 42),
com destaque para os paiscs Iradicionais da Amêri-
§
"
,!!, 20000
E ""
ca do Norte e, sobretudo em 2002, o Brasil e a
.-i.frica \usôfona. O caracter muilO receme desta no-
\'3 lemigração para sul. impede ainda uma avalia-
~

" "'"
'""'"
~

~
-
"""'-.
c
_-
_._-
.....
__ s-....... In' .......... _
--'
ção da possí\'c1 sustemabilidade destes fluxos, que
parecem apresentar caracteristicas especificas:
maior di\'ersidade etária, presença de emigrantes
mais qualificados e associação da emigração ao in-
2"'"
O --------o,,,, , •
7
... ......., --
l._J ...... _

--*-"- ...._ -
~T_

\'estimento, como ocorre no Nordestc do Brasil ou


mesmo em Angola. "" "" 2000
"'" >00'

SOCIEDADE. PAISAGENS ECIDADES 95


POPUlAçÃO ETERRITÓRIO
........ , , .
•J" :,<::~.t: ch:~JdJ. de milhan.>s de
.'" ;::-.~:<> do Le<te a I'únugal,
,,"._',~ d,:" \'<'S<uiJú:e, de qual;fi·
Quadro 12
.....~ e:~-.dJ> ao ni"el da ronna· Emigrantes segundo os níveis de instrução - 1997-2002
;: :":t"M'" e<peci.1iuda ou do en·
~ <~;>m,':. tlustrJ bem eSle
.:.-....l' _;U.'r."nto entre funçiie, (e e~· 1997 1998 1999 2000 2001 2002
" , :... ~,.l> n<l local dé origem é lo·
,.:'.., ':~mr<nhJ,h, nas regiões de
.:"":.~' Ape;4r de os eomé~IOS po-
,,,,. % ,,,,. % abs. % abs. % abs, % ,,,, %
.:.,." e sociOj;ffignificos serem di,·
::::: .... t de Jdmitir que os grupos Não sabe ler/escrerer
""....' qu.lll1kJUOS de imij;!ames
_:n.'lJ.m~ ou molunos em I'onu· ou sem nirel de instrução
:.: t:~.hJm e~re<lati\'as de !"t;me:· concluído 3685 10,0 973 4,4 2 171 7,7 2689 12,6 2284 11, I 2085 7,6
"'"'. rrofis.sirmal na origem sub,tan.
,-;",:,,,.eme distimas da sua SilUação
::n PortUgal. I." ciclo do ensino básico 15788 42,7 11 021 49,7 10 038 35,7 6741 31,6 6221 30,2 10969 40,1

2." ou lO ciclo
do ensino básico 13036 35,3 7289 32,8 14536 51,8 8781 41,2 10423 50,6 11 222 41,0

Ensino secundário
ou supenor 4426 12,0 2913 13,1 1335 4,8 3123 14,6 1662 8, I 3082 11,3

Total 36935 100 22 196 100 28080 100 21334 100 20590 100 27358 100

Fonte: INE, ESlarislicas Demagrrijitas (vários anos).

parece acompanhar as alterações ocorridas ao lon- instrução e a ser dominado pela presença em seg-
go da última década (Quadro 12 c Fig. 44). mentos pouco qualificados de ramos de actividade
Se bem que o peso relativo dos emigrantes fortemente marcados por grandes oscilações nas
analfabetos ou sem qualquer grau de instrução seja necessidades de mão-de-obra, como a construção
elevado, sobretudo quando se constata tratar-se de civil, a agricultura ou a hotelaria e restauração. Isto
uma população relativamente jovem que cresceu contraria a ideia avançada por ]. il'ialheiros (1996,
num período em que o ensino obrigatório de 4 ou p. 77-78) de que a emigração portuguesa estaria,
6 anos já vigorava, é significativo que as saidas de progressivamente, a ser dominada por individuos
indivíduos com um grau igualou superior ao 2." possuidores de qualificações intermédias e parece
ciclo passem a ser dominantes a partir de 1999, suportar a tese da sobreposição de funções entre
correspondendo, na maioria dos anos, a mais dc os portugueses que emigram e os imigrantes que
55 % do fluxo. Esta informação permite avançar chegam a Portugal, funcionando estes últimos co-
mais alguns elementos sobre o debate relativo aos mo substitutos dos primeiros nos mercados de tra-
modos de inserção dos emigrantes portugueses nos balho nacionais (.M. r. Baganha e]. Peixoto, 1996,
mercados de trabalho europeus e à concorrência p. 238).
ou complementaridade entre estes e outros grupos Não obstante a aparente linearidade da consta-
de estrangeiros não comunitários a exercerem acti- tação apresentada, alguns elementos justificam
vidade profissional nos países da União Europeia uma reflexfio mais fina. Efectivameme, o carácter
(J\-1. 1. Baganha e J. Peixoto, 1996; J. Malheiros, predominantemente temporário dos fluxos emigra-
1996; F. L. Machado, 1997 e 1999). tórios contemporâneos pode traduí:ir-se num desa-
Fig. ~5 Origens geográficas Em termos sintéticos, pode afirmar-se que o justamento entre os modos de inserção profissional
dos emigrantes ponugueses - perfil de inserção profissional dos emigr:mtes por- que os Portugueses aceitam interna e externamen-
1995-2002.
Fonte: lNE, t:lla1islical tugueses no exterior continua a integrar um con- te, designadamente no caso daqueles que possuem
DilllogrJjicas (I'ários anos). junto significativo de pessoas com baixos níveis de niveis de instrução superiores ou iguais ao 3.0 ciclo
do ensino básico. Por outras palavras, pode veri-
..o 000 ficar-se, conjunturalmente e por periodos curtos,
uma aceitação de condições de trabalho precárias
)\ no estrangeiro que possibilitam ganhos salariais ele-
35000

30 000
/ \ vados num curtO espaço de tempo. Contudo, tal si-
tuação já não é aceitável num contexto mais estru-

"-
"
~5 000
,(
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À
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__ <:...... d'",,", "oi<
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tural, situado no pais de origem, onde outras
variáveis associadas a expectativas profissionais e
familiares, estatutos de classe, propriedade de bens
"
.:; :'0000
...
A1m,<1O' AVn-'
_ _ 1l.<V><' """","",,", e à própria qualidade de vida prevalecem sobre a
- • _ _ 1'....
lógica do aforro rápido e elevad06 . Adicionalmente,

r-+? ~~
15000

" 000
:: saindo, na sua maioria, de regiões dominadas pela
pequena propriedade (Fig. 45) e por uma cultura
"'...,.-/ que valoriza a pequena iniciativa económica, mui-
5 000 tos ex-emigrantes terão a possibilidade de desen~
JI 11 • y • ., H IC volver formas de inserção profissional que não são
o possiveis no estrangeiro, beneficiando quer do ca-
1995 1996 1997 1998 1999 2000 20m 2002
pital anteriormente aforrado, quer do capital social
96 GEOGRAFIA DE PORTUGAL
3 MIGRAÇOES
..........................................................................................................................................
que esü associado aos seus contactos com as po- grantes, uma vez que os ni\"Cis salariais praticados
pulacões c as instituições locais. Infelizmente, OS e, sobretudo, os ele\'ados índices de desemprego
e..tudos sobre a emigração temporária portuguesa rcgistados para tal apontariam. Contudo, a tmdição
c(lntemporânea não são suficientemente esclarece- de emigrar para os grandes centros do continente.
d.ore~ acerca da conjugação emre os modos de in- com destaque para a Al\ lL, inibiu a formação de
serçJo socioprofissional no estrangeiro e nas re- redes de suporle à emigração e, por conseguinte, a
giões de origem'. sustenlabilidadc dos fluxos migratórios em direc-
Finalmente, se os perfis dominal1les de inserção ção ao estrangeiro, que subsistem quase exclusiva-
profissional dos Portugueses continuam a apontar mente de forma temporária. por vezes por períodos
P;}r3 a presença em segmentos profissionalmente que chegam a ser inferiores a tr':'S meses (por
pouco qualificados, os dados apontam para uma cxemplo, para a realização de colheitas de fruta).
tendência, sua,·c mas persistente, de crescimento Do ponto de ústa histórico. também os menores
do peso rciati,·o dos emigrantes mais instruidos níveis de rendimento médio registados naquela re-
3." cido ou mais), que têm como objecri,'o o de- gião, associados ao facto de a maioria da população
sempenho de funções mais qualificadas no estran- não ter bens imô\·ei~. reduziram a po~se dos capi-
geiro\ tais necessários para o arranque do processo mi-
Ao contrario do que se passava ale meados dos gratório. sobretudo quando este implica"a uma
anos 80, a informação estatística actualmente dis- desloeação longa suportada indiddualmente e a
ponível sobre emigração não possibilita uma desa- instalaç:io no estrangeiro.
gregação geográfica fina dos locais de origem dos Por último. o desenvolvimento de alguns gran-
emigmntes. Devido aos erros de amostragem. ape- des projectos, com destaque para o Alqueva, mas
n3S existe informação para as ~U'T2, sendo de re- que incluíram também obras no porto de Sincs e a
ferir que, em vários 3nos, as unidades geogdficas melhoria das infra-estruturas rodovi:irias, ajudaram
chegam mesmo a ser maiores (junção do Alentejo e a criar postOS de tmbalho e a fixar algum emprego,
do Algan'e, das duas regiões autónomas ou do actualmente eolocado em causa devido â conclusão
Centro e de Lisboa e Vale do Tejo). destas acti"idades (note-se que a emigração com
Ainda assim, é possh'e1 constatar que a Regi:io origem no Alentejo/Algarve está em crescendo,
:--Jorre é a principal fornecedora de emigrantes desde 2000). Em suma, o comportamento das re-
portugueses, correspondendo-lhe um valor um giões portuguesas face ú emigraçiio demonstra que,
pouco inferior a SO % do total. Como a Região se os motivos profundos para a said::a de portugue-
Centro ocupa a segunda posição"', em termos de ses para o estrangeiro são de natureza económica
espaço cmissor, a geografia da emigração portu- (oponunidades de tmbalho e salários), o estabeleci-
guesa mantém algumas caracteristicas idênticas as mento de movimentos migratórios significativos e
registadas nos anos 60 e 70, quando diversas :ireas sustentados depende fortemente do papel das redes
do Norte e Centro (Pinhal Litoral, Baixo Vouga, de familiares e conterr,incos que suportam a emi-
.\linho-Lima, Alto Trãs-os-Montes) assumiam pa- gração. Se o capital económico induz a emigração
pel relevante nas saídas de populaç,io para o es- é o capital social, assumido em termos da rede re-
trangeiro (L. Fonseca, 1990, p. 74-83). Refira-se lacional e dos factores que lhe são inerentes (con-
que a situação detectada não pode, de forma algu- tactos, confiança, cte.), que lhe confere sustentabi-
ma, ser considerada surpreendente, uma vez que lidade.
existe uma série de faclores que concorrem, no seu
conjunto, para criar um contexto mais favorável a NOTAS PARA UMA GEOGRAFIA .o ,.,tuoo d~ I'. ,\IJJ1J1lS (2003.
I' 315) fomott :lIgul1Lb I'i>Ln
emigração na Região Norte: um grande número CO~fEMPORÂNEA DO Rl:l"0R.'\:0 XCfQ di loi\W("lo 00s tmigr.tnto:s
Itmp."ll'ário:6 Si1ido!I 00 I'lIIh:d Im.,..
de habitantes e uma densidade populacional ele- oor Sul 2pÓO 1990. Xnlt aIO. as
"ada, sobretudo na faixa litoral entre Feira e Ca- Como foi afinnado, o relomo de emigrantes por- X1J\"ld.Idts I\ll agncuilun t I\ll
~ ci'lil I.i<> 00rmnmI~ o
minha, uma fecundidade maior que a das restan- tugueses tern atingido valores m:iximos na primei- q.x- c:ontt:Iri:a J idciJ Ik um doa-
tes regiões portuguesas, com exeepção das regiõcs ra metade dos anos 80, apontando os dados para JUSlt mll't" os nn m ok qwIif~
uma redução nos 15 anos subscquentes. Tendo dJs fUllI;.lts nnadJ> IIJ m!:C1Tl t
autónomas e de alguns concelhos da Área Metro- 00 do:stino. Olntuoh r'Iio ..; a
politana de Lisboa (AML), e a existcncia das re- em consideração as características contempor.i- aml>S1r.t ~ muit" rroulida. oomo
des sociais de apoio :'t emigração mais consolidadas neas da emigração portuguesa, a questão do retor- li;;" S(r~ f.kil StllIT.Ihl..l-la ao con-
juntO das "'Si""", IJllflUgU<:s:lI. de-
do continente. no em finais dos anos 90 e no inicio do século XXI signadamente:lllS Cmi~rJnleS saídos
As regiões autónom::as e o Sul do continente re- tem de ser colocada em moldes distintos dos tradi- ,te '"'1",,"0$ urba""" Adicionalmen-
le. n:io é ",r,'rida inf.)I'fII;lÇlo xero
"c1am níveis de participação bastante mais reduzi- cionais. Na verdade, pensar o retorno como o final da Sll\13C".... sorioproIissional OOIi:S
do ciclo migralório individual ou familiar, após mdiliduos c lbs SlW npM.llhas.
dos nos fluxos emigratórios comemponineos. Esta 'I'or n=1'b- ~1. t. lbpnha. J.
situação, que está naturalmente associ::ada ao me- uma presença mais ou menos longa no estrangei- rnr.... t J.;\bIhmll {200l. Jl65}.
IIJ m.iIisc q.x- f=m da t\ ..........
nor número de residentes nestas regiões, toma-se ro, parece uma perspccti"a redutora do signifi- m1n" 1991 t 1996.. do> pttf" dos
mais significati"a pelo facto de as contribuições re- cado destes movimentos. Por um lado, o retomo anoMVO' 3 ~"rioaclo nlmla ~

lativas para os fluxos emigratórios anuais serem, não quebra, frequentemente, as lógicas do vai- mlln>s do JEFP. dcIcwm uma
Icr>do:1ll;U cbra J>ar.I. o rtf.lrÇ1l do<.
frequentemente. inferiores ao próprio peso demo- -c-vem origem-destino dos ex-emigrantes, sobre- quadrol lollJIClioro e li-mico>. '"
tudo dos situados no quadro europeu, uma vez bem qUt tsl""' roIlUnutm I roIlll;-
gr:ifico do Alemejo, Algan'e, Açores e M.adcira no tuir UI11J min0ri3 cn1r~ '" tmisran-
conjunto do pais. Se a dinâmica económica de al- que prevalecem motivos que justificam a sua des- lO I"'lmriais.
• Sempre que 'lS dau." c.,rre<pon.
gum:ls regiões, com destaque para o Algarve, aetua locaçiio ao local de emigração, designadamente o de,,!!:s ;j Regi:;!> C~ntf<\ c à Região
como inibidora da propensão para ti emigração, se- não retomo dos filhos ou a utilização de um siste- de [jr.bo.:l t "~lc do TelO oUo dt-
~:odos. os \JIoo.'"l di rnm..~rJ
ria de esperar que regiõcs como o Alentejo geras- ma de saúde melhor do que o nacional. Por outro üo 50 lNÍS OODl!. 00 qUI: os
sem ,'olumes bastantc mais significativos de emi- lado, a dominante tempornria da emigração trans- rl'grst..b IIJ ~

SOCIEDADE, PAlSAGE.''S f CIDADES 97


--------

..........................................................................................................................................
POPULAÇÃO ETERRITÓRIO

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O.7al.l 1..1 a 5..1
l.taU 5..1 a lO•.?
1.7a2.6 _ lO.h 17.7
_1.6a4.1 .17,7a.?9..?

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Fig. -lo6 I'ercentagem de forma o retorno num movimento menos prepara- L. Fonset:a, 1990, p. 74-79). Perante o quadro
fl('f'ulaçJo com naturahdad... do e mais comum (o regresso ao fim de uma esta- apresentado, torna-se evidente uma importante
ponugucsa. residente nos
di\"Crsos concelhos em 2001. dia por seis meses ou um ano), que, de resto, concentração dos regressados n3S arcas de origem
qUl' em 1995 habit3\"a no pode ser repetido varias vezes se a emigração tem- ou na vizinhança destas, não parecendo muito sig-
,)\ra l111dro. porária corresponder a uma pratica reiterada ou nificativas 3S lógicas de forte mobilidade interna
F0n!C: INE, Cwnls, 2001.
relativamente cicliea. em contexto pós-emigratório.
Fig. 47 Percentagem de Uma am\.lise aproximativa da geografia con- Uma observação dos regressos provenientes
!X'pulação com n.:uuralidadc temporânea do retorno ê proporcionada pelos da· dos três maiores focos de origem com dados publi-
p.,muguesa. resideme nos
di\l:rsos C'OnI:clho!; em 200 I, dos do recenseamento de 2001 que se referem aos cados (França, Alemanha e EUAll) evidencia três
que em 199:5 habiID\'ll em cidadãos de naturalidade portuguesa que, em 31 padrões geogrâficos distintos, que apresentam na-
l'rJl'lÇa. de Dezembro de 1995, residiam no estrangeiro. tural paralelismo com a geografia da emigração,
Fonh:: I~E. ÚIlSM. 2001.
Como seria de esperar, o .pais dos regressos- cor- ocorrida em momento anterior:
responde, essencialmente, à Madeira, a alguns a) o padrão #frallcêsl (Fig. 47). associado ao
concelhos dos Açores. com excepção das ilhas on· maior volume de retornos, ainda que em regressão
de se localizam as cidades (São ~'ligucl, Faial e desde os anos 80 (F. Martins, 2003), que represen-
Terceira), e ao .Portugal do Norte e do Central, ta o Portugal emigratório do Norte e Centro, em
com incidência p3rticular nas grandes regiões de mancha quase continua, com excepção das areas
saida, como o Minha-Lima, Alto Trás-as-Montes, urbanas mais importantes (Ârea Melropolitana do
Rd,'morc-", 'lUC a ínfonllJ,ào
Dão-Latões ou alguns municipios do Baixo VOUg3 e Porto e cidade de Coimbra mais concelhos vizi-
0.11'<'Ill\d "lUl3. p.ro ~ nalur;lis de do Baixo lvlondego (Fig. 46). A sul do Tejo, apenas nhos), onde os regressos do estrangeiro assumem
p, rtu~J!. rl..... jd<nria no ~r:mgCllo
.m 1\1'\l~ ,"m midencia em 1',Jf\u'
um conjunto de concelhos do Algarve, sobretudo uma importànda relativa reduzida, não só devido a
c.ol .m 1'KJI (mornmto C('II\iúrio). do Sotavento, e do Baixo Alcntejo, com destaque um número de saidas menos importante, mas tam-
lU-". ~ndo l.C os indiI.iduos K- para Almodô,'ar, Castro Verde, Serpa, j\loura e bém ã perda de significado destas face a outrOS
;r. -..m ,'1.1 ~ ~ §I,I.I rqiJo de 00·
'.'l! De'" m.ili COOl o mOftO Vidigueira, assumem relevância enquanlo destinos movimentos migratórios, nomeadamente de carâc-
.1n n..... ~ d: ~ ter interno, que se direccionam para estas áreas.
r.on • '.""CI :ruUo da Nmj;em 00
dos regressados. Refira-se que, para alêm de um
.\4tl;.u lU "-,;-.m.h m:a&: dot e,·entual .efeito Alqueva. em lermos de atracção de Também o Baixo Vale do Douro (concelhos da
.Ill<"I 9ft, , 1''' ",.:I QIX ~ 0:-
<mrp2:lli.... ~.. ~ c ~ O-
regrcssados 1o, estas areas do Sul protagonizaram NUT3 do Tâmega e da parte ocidental do Douro)
"]. rutlIT~> .lo: ootn> Tqll'a w mm'imentos de saída reJati"amente importantes na se comporta como uma _ilha' com baixa intensida-
j\ü .. "'lm"xm a. ~_ de de retornos de França, o que esrá em sintonia
A ~,!,,,, rr~ d.:\~ )um....·'" ~ Sui·
fase final do segundo ciclo emigratório português
.J 'f .'Imm,. 20(3). (finais dos anos 6O/primeira metade dos anos 70 - com os também reduzidos níveis de emigração re-
98 GEOGRAFIA DE PORTUGAL
..........................................................................................................................................
3 MIGRAÇÕES

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0.6. 1.2
1.2. 2.0
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1.3 a 2.8
2.835.8
_ 3.2.6.2 _ 5.83 lt.9


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gistados nos anos 60 c 70. Ncste caso, alguma ca- o ARQUIPELA"GO ,\UGRATÓRlO PORTUGUEs l°'ig. .l8 Percentagem de
pacidade de retenção do emprego c os movimentos E AS PRÁTICAS TRA.-"::SKACIQNAIS - UMA população com naturalidade
portuguesa. residente nos
internos em direcção ao PortO parecem tcr sido do- .GRA).fDE. ).fAÇÃO PARA LA DAS FRO::'\'TEIRAS dil'i~rws concelhos em 2001.
minantes; DO ESTADO que em ! 995 habitava na
b) o padrão de retomo _alclIl(io. (Fig. 48), menos Alemanha.
Fonte: I~E, Censos, 2001.
intenso do que os regressos de França mas mais A tradição emigr:nória portuguesa, consolidada ao
uniforme no conjunto do território nacionai, atin- longo dos séculos c mais nitida nalgumas regiõcs Fig. ~9 Percentagem de
gindo tambêm áreas do Sul c do "ale do Tejo, on- do Norte e Cemro do pais, deu origem a uma diâs- populaç-jo com naturalidade
portUguesa, residente nos
de os movimentos migratórios ocorreram mais mr- para \'olumosa, que inclui cerca de 4,3 milhões de dn"tT50S concelhos em 2001,
diamcntc. Apesar dL'St3 presença _um pouco por portugueses e luso-descendentes t ! dispersos por que em 1995 h<ibit;l\'2 nos
todo o lerritório nacional_, há que destacar o Sota- Yânas dezenas de paises do mundo, embora apenas EUA.
Fonte: INE. úUJOS, 2001.
,'emo algaI"\~o, certos concelhos situados a sudoeste 30 rcgistem concentraçõcs superiores ao milhar de
do Baixo Alemejo, Viscu e a sua cn\'oh'cnte, e al- individuas (Fig. 50).
guns municipios do Alto Trãs-OS-l\lontcs. como 1\ iais interessante do que traçar o retrato geo-
espaços dc retomo principais; gráfico das comunidades ponuguesas espalhadas
c) o padrão «amen·col/O. (Fig. 49) é caractcriza- pelo mundo, importa efectuar a leitura destas no
do por manchas descontinuas no território nacional quadro dos processos transnacionais que, no prc·
que traduzem uma emigração regionalmente muito sente, estão associados a muitos grupos de migran·
mais especializada. Em termos concrctoS, para tes internacionais.
além dos regressos aos Açores, região de grande No contexto de uma nova geografia global, em
especialização na emigração para a América do que o Estado-nação é bastante pressionado e o es·
:\orte, idemificam-sc três grandcs manchas no ter- paço-rede se afirma num mundo progressivamente
ritório continental - i) uma faixa que se prolonga mais 'encolhido~ e interconectado, o vai-e-vem mi·
dos concelhos de Caminha-Ceryeira (Minho-Li- gratório e a pertença simultânea a dois ou mais es·
ma) até Cha\'es-Valpaços (Alto Trãs-OS-I\<tontes); paços parecem apontar para um crescimento das
ii) o Baixo Vouga, com prolongamento até ã serra lógicas circulatórias (dos migrantes ou dos seus fa-
da Estrela, passando por diversos municipios do miliares e descendentes), em detrimento de uma I) D~ ~z:odo< ptb Di-
Dão-Lafões e iii) a Região Oeste, com alguns pro- perspectiva clássica de imigraç-Jo, assente em dois ~ doi :'ü6unIO$ Ú'lDSU-

movimentos: uma partida c um regresso (definiti- Iam e Cornuru<b<b POOllglKSlS


longamentos para a cnvoh·cme. A estas hã que jun- do .\IUUSlmD dos l"qOOos fumn·
tar alguns concelhos do Sotavento algaryio. vo). Vem-se assistindo a um progressi\'o desen·
"""'"
SOCIEDADE, PAISAGENS E CIDADES 99
POPUlAÇÃO
,., , , ETERRITÓRIO
, , ., , , , ., , , ., , , .. ' ' , ,, .. , , .. , , ' ' ,, ,,, , .
Fir, ~O )\ um"TO de
;' :-:c.;,;.!,,'C' e
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;,:"".r..;iI'JI' I'Jbi,"~ de destino,
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.-'... ~;"m,', C,'nsul.Jres c
C :r.~rudJd~ ]'onuguesas,
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\'olvimento das praticas transnacionais de muitas ra que tal se verifique, a -comunidade imigrada.
comunidades imigradas, que en\'oh'em desde as deve respeitar o seguinte conjunto de critérios fun-
dimensões clássicas como o envio de remessas ou damentais:
as visitas (cada vez mais) frequentes á origem, mas i) lI/ovilllclI/o (vai-c-'vem regular) - circulação,
também a troca inscantânea de informaçlio (via In- relativamente frequente entre locais situados no
ternet ou tclcmóvcl), o acompanhamento diârio do pais de origem c/ou em diversos países de destino.
que se passa '·em casa~ (através das cadeias de tele- associada a uma troca de informações regular;
visão internacionais dos paises de origem) e mes- ii) C1/lllIra migratória aC/iva - existência de um
mo a sua p3rticipação politica através das possibili- -saber circular~, seja em processo de consolidação,
dadcs oferecidas pelo voto exercido :l partir do seja geracionalmente transmitido, que pressupõe a
exterior. interiorização dos mecanismos inerentes ao cruza-
O crescente envolvimento das comunidades mento de fromeiras n:lcionais, incorporando as es-
imigradas neste tipo de processos, num quadro tratégias de vida dos cidadãos, tanto as possibilida-
que facilita as interacções sociogeogrâficas à es- des oferecidas pelas localidades situadas dentro das
cala do arquipélago global de lugares, levou ao fronteiras do seu estado de origem, como as possi-
desenvolvimento da noção de comunidades trans- bilidades oferecidas pelos diferentes nós espaciais
nacionais. Em termos sinteticos pode-se afirm:lr da diáspora;
que -transmigrantcs são imigrantes cujo quotidia- iii) (!I/volvill/(!/l/o sOcletal duplo ollll/lÍ!Iiplo - do·
no depende de multiplas e constames imercone~ senvolvimento de formas de participação em pro-
xõcs atr:1\'és das frOOleiras nacionais e cujas iden- cessos económicos, políticos, cívicos e culturais,
tidades publicas são configuradas em relação a tanto no local de origem, como no de destino, \'a-
mais do que um Estado-nação. (...] ~ão são resi- riando os domínios, nh'eis e modos de envolvimen-
dentes temporários porque se fixam e são incor- tO com as pessoas;
porados na economia, instituições politicas, vida iv) collsciência de per/(:Ilça a 111110 diáspora - isto
c quotidianos locais dos paises de residência. é, consciência da penença a um grupo disperso
Contudo, em simuhãneo, estão em'olvidos com por di\'ersos locais do mundo (não apenas dois ou
outros locais, no sentido em que mantêm cone~ três). que panilha uma mesma memória ctnico-cul-
xõcs, constroem instituições, desenvolvem tran- tur:J.l colecti\'a e que mantem laços, reais ou simbô-
sacções e influenciam acontecimentos locais e na- licos, com o território de origem, seja dos próprios
cionais nos paises de onde são originarios. (N. ou dos seus antepassados (t\ 1. Bruneau, 1994;
Glick Schiller, L. Basch e C, Szanton Blanc, 1999, R. Cohen. 1997),
p. 73). Olhando para as comunidades ponuguesas no
Nem todos os grupos de imigrantes se confor- exterior. verifica-se que muitos dos critérios iden-
mam ã lógica das comunidades transnacionais. Pa- tificados acima parecem estar presentes, com des-
100 GEOGWIA DE PORTUGAl
] MJGRAÇOES
..........................................................................................................................................
uquc para os mencionados cm ii) e iv). Quanto ás lha de uma memória etnico-cultural colecti\'a (cri-
questõcs do \'ai-e-\'cm c do envol\'imento socictal tério iv) suportada pela tr:msmissào familiar de
duplo ou múltiplo, as situações são muito dispa- práticas culturais e religiosas, pelo papel das mais
re::.. \'ariando significati\'amcntc entre os dcstinos de 2000 associações portuguesas existentes no
de emigração c, também, entre as familias c os in- mundo (1\1. B. Rocha-Trindade ti aI., 1995,
dl\'iduos que compõcm a diáspora, Recorrendo á p. 180). pela difusão de noticias. em tempo muito
expressão feliz de P. Góis (2003), podemos dizer curtO, atra\'cs dos órgãos de informação sediados
que os portugueses no extcrior configurar.io uma em Ponugal ou criados pelos próprios emigrantes
comunidade transnacional de baixa intensidadc., e, também, pela circulaçiio de religiosos católicos c
m, medie13 em que as práticas identificadas ao nivel de músicos pelos vários núcleos da diáspora espa-
do quotidi:mo não se tr::lduzem, frequentcmente, lhados pelo mundo.
<:01 identidndes partilhadas e em níveis de interac- Rclativamente á dispersão geográfica, note-se
do e dependência fortes relativamcnte à origem. que apenas seis paises (EUA, Canadá, Venezucl:l,
Em termos geogrâficos, podemos também afirmar Brasil, África do Sul e França) concentram cerca
que a comunidade t1"ansnacional em'olve quer os de 80 % da diáspora ponuguesa no exterior. A im-
que partiram quer aqueles que ficaram e que man- portância dos destinos no continente americano.
:~m relações frequentes com os primeiros. Como com destaque para os EUA (1,15 milhões de indi-
,'b~er...:imos anteriormente, a intensidade emigrata- \'iduos portugueses e de ascendencia portuguesa) e
ria não c igual em todas as regiões c sub-regiões o Brasil (700 000 pessoas em circunslâncias identi-
portuguesas, pressupondo isto que o desem'ol\'i- cas), prende-se com a intensidade da emigração atê
memo de culturas migr3lórias ancoradas em pro- ao final dos anos 60 - relembre-se que estes valo-
..:e~sos de saber-circular e a implementação de res incluem portugueses e luso-descendcntes - c,
..:~tr3tégias de vai-e-vcm migratório apenas têm sig- também, com o menor número de regressos oriun-
nificado em determinadas áreas do território nacio- dos destas áreas, quando comparados com a situa-
na\. Assim sendo, o quadro territorial de suporte ção das comunidades portuguesas instaladas 0:1
do transoacionalismo porlUguês em'olve. cfcctiva- Europa.
mente e de forma direeta, as regiões autónomas e Em termos de emigração recente. os países da
.:onjumos de municípios do None e do Centro do Europa Ocidental assumem-se como os principais
.;ontinente. destinos, contribuindo em mais de 50 % para as
Efectuando uma leitura mais detalhada que comunidades portuguesas instaladas no estrangei-
procura 3\'aliar. bre\'emente, a situação da diáspora ro, após os anos 70. Uma estimativa recente dos
portuguesa ã luz dos critenos idcntificados acima, individuos com nacionalidade portuguesa residen-
..:onstatamos, de imediato, nÍ\'cis importantes de tes no esu-angeiro, baseada em informação recolhi-
J]'persão por vários territórios, bem como a parti- da pelo INE junto de dh'ersas instituições estran-

FOI. '" Grupo de crianç;as


luw-amcri= dcsfibndo
pdas ruas de ~C\\-m
(Esl:ldos Unidos da
Ammca). durante as
ÇOlJl~ do diJ de
PonugaI. de Camõcs e d:lS
Comunidades I'onuguesas.
FolO: LL;SA/STR.
SOCJEDADf, PAISAGENS ECIDADES 101
POPULAÇÃO ETERRITÓRIO
........................................•••.............••••••..............•••••..............•••.....••••....•••••...............••••...
Fir. 51 Peso rebum dos
J'mu~eses C
h.:-...-..des.ccndcntcs na
T' 'l'ullçàQ residente de
dl\-d"SOS paiscs do mundo, 12.22
2002_
F(\m~: Dirccçâo-Gcral dos
.,
I • 10

A<sumos Consulares c
C0munidades Porluguesas.

,

1
I

it

•,

geiras produtoras de estatísticas oficiais, forneee tentar os fluxos migratórios contemporjncos jã fo·
um valor situado entre 2 e 2,3 milhões (um pouco ram mencionados anteriormente, sendo suponados
mais de 20 % da população residente, segundo os por visitas frequentes ao país, sobretudo durante o
censos de 200\). Assumindo exclusivamente este Venio, pela presença nas festividades dos locais de
ultimo critério (a nacionalidade), a França concen- origem ou pela realização das celebrações do cido
trará, provavelmente, o maior numero de portu- de vida familiar (casamentos e baptizados em Por·
gueses (cerca de meio milhão). tugal) .
Para além da dimensão absoluta das comuni· Por último, ° envolvimento socictal duplo, se
dades portuguesas instaladas em diversos países, é bem que apresente grandes variações emre os di·
interessante destacar a importância do seu peso rela- versos destinos, está bem patente nas prâticas indi·
tivo, não só nalgumas regiõcs e municípios específi- viduais e colectivas dos emigrantes, de que são
cos (por exemplo, departamento de Saint-Denis, na exemplo o acompanhamento dos processos políti·
periferia de Paris; cidade do Luxemburgo e Lam- cos e desportivos à distância (em simultâneo com a
chene, no grão-ducado; cantão de Vaud, na Suiça; eventual participação em iniciativas do mesmo teor
Newark, nos EUA...), como em determinados ter- nos locais de destino), as iniciativas de algumas or-
ritórios e estados de média e pequena dimensão ganizaçõcs da diáspora cm prol dos espaços dc ori-
(Antilhas Holandesas, Suíça, Luxemburgo e An- gem c o dâssico envio de remessas.
dorra - Fig. 51). Nos ultimos três paises, os por- Embora o volume de remessas enviado pelos
tugueses correspondem, respectivamente, a 2, 13 e portugueses residentes no estrangeiro tenha um
16 % dos residentes, valores que assumem maior peso relativo inferior ao registado em décadas pas·
significado se se tiver em consideração o facto de sadas (chegaram a representar 10 % do PNB, nal·
se tratar de emigração recente, que desenvolve prâ- guns anos da dêcada de 70 13), Portugal ainda era,
ticas de vai-e-\'em frequentes e cujos níveis de assi· em meados dos anos 90, um dos cinco países do
milação são bastante reduzidos. Nestes casos, a mundo que maior quantia recebia (P. Stalker.
influência cçonómica (sobretudo ao ni\'el do em- 2000, p. 80). As remessas, que atingiram um va-
prego) e, potencialmente, política, seja em termos lor superior a 3700 milhões de euros em 200 \
locais ou nacionais, coloca desafios importantes âs (mais de 10 milhões de euras por dia), correspon-
autoridades dos países de destino, ao mesmo tem- dente a cerca de 3 % do PIB, ainda constituiam.
po que potencia a abertura de canais privilegiados em conjunto com o turismo e os fundos eSlrutu·
de cOntacto com Portugal e, em particular, com as rais provenientes da UE, um factor fundamental
D Punemel .1991. p. 102) afir_
nu qu: o Inl,i.' da dc..wa de 80 regiões de origem. para o equilibrio da balança de pagamentos. As
'""I'T.,ponJe rtl<!m.nlo em qw:
.I<) A ocorrência de vai-e-vem dos emigrantes remessas provenientcs da Europa dominam estes
\.< ~~ncluiuti,lo de Inn<ferêrlcia
(l
lU nqueu xumul1dlo pelos mn_ (critério i) e o desenvolvimento de uma cultura fluxos financeiros (cerca de 80 % do lotai), sendo
p.l~ lI.' I'r6-- migratória activa (critério ii) que continue a sus- esta situação atribuível ao predomínio destes mo-
102 GEOGRAfiA DE PORTUGAl.
..........................................................................................................................................
3 MIGRAÇÕES

·:.:nemos nos últimos anos c, lambem, á maior de estrangeiros resulta também de uma modificação " ~ nm>pIos o J'rOil'2IN Pon..
esranuâria, uma \'ez que o Decreto-Lei n. O 308-A{l5 t.M .. CÀnJfolO. qut" ~ a nni-
;:-..:opensão para o retorno (o \'ai-e-"em frequente) çmcs idosos f ~ qut"
:-;:;lStada pelos emigrantes instalados nos destinos lornou estrangeira a população natural das ex-co- nlo .isium PooupiI h3 multO ltm-
pc> u= ~ no ~ o pracnnu
~ ~;,;.ropeus. Em termos de paises, a maioria das re- lónias portuguesas em África, com excepção dos &s"p., .. ~ ~ . iI>-
.:::.:"sas pro\'ém de França (aproximadamente 40 % individuas com origem no antigo Estado da india .~ ~ qut" lkK-
itm d«tIW ~ proIiwonais
..: total. entre 1998 e 2002), seguida da Suiça (va- Portuguesa, daqueles que tinham ancestrais por· 1:11> ~ • Jn'lços pUbIicos
:- próximo dos 20 %, a apresentar uma propensão rugueses e de um conjunto suplememar de pes· ponucuoscs, ou O> IllOalnimooo de
°
,.;.;a\·e para crescimento entre 1998 e 2001), dos soas que beneficiaram da possibilidade de adquirir
wbsidUçio do 1:II>'ll"'lnlOS ponll'
gtJfSOS pobrts • !kpmdonlOS. mio
ECA (cerca de 10 % do 10lal, com tendência para a nacionalidade portuguesa, em virtude de possui· dontos fora da UE.
"PALP <:olT<'Spond. :I. sigl~ quo
d.ecrêscimo relativo), da Alemanha (entre 7 e 8 % rem uma relação particular com as instituições substitui rALOr o !ignir.c;I p.is
..: 1 valor global, no período compreendido entre portuguesas (por exemplo, funcionarios da admi- ~rric'lnO de liogu~ ponllgue!•.

: 998 e 2002) e do Reino Unido (em crescimenlo nistração colonial, ex-combatentes do exército co·
~ 'núnuo desde 1998, alingindo mais de 6 %, em lonial).
: .ot). Regressando. inicialmente, em conjunto com
Para além dos emigrantes, o próprio Estado os relornados. eSles indidduos constituiram o nu·
;' rtUguês tem promovido, sobretudo a partir da cleo inicial das grandes comunidades africanas
"-;,;unda melade dos anos 70, formas de ligação às que se iriam eSlabelecer nos anos subsequemes.
~ munidades emigradas, reconhecendo a sua im~ Assim, entre 1975 e inicias dos anos 80, a imigra·
;:' n.incia económica e, de algum modo, o seu po- ção estrangeira para Portugal ficou mais a dever-
:_:1Cial de lobby politico no exterior. Do pontO de -se ao processo de repulsão gerado pela repentina
-:.~ta politico, o Conselho das Comunidades Por· e desorganizada transferência da administração
::';Uesas e os quatro depurados dos cireulos da nas colônias do que às pressões internas dos mer-
;::nigração (Europa e Resto do }\'lundo), que re- cados sectoriais de trabalho portugueses. Os con-
;:-escntam os emigrantes na Assembleia da Repú- flitos armados que se iniciaram em Angola e em
::-:ica. constituem elos de ligação c veiculos de ex- Moçambique na sequência dos processos de inde-
;:,:-essão da vontade das comunidades portuguesas pendência contribuiram para alimentar o fluxo de
exterior, legitimados pclo voto dos membros imigrantes que chegaram a Portugal nos anos se-
":~tas, mesmo que os níveis de participação sejam guintes.
:-dJti\'amente baixos O, Malheiros, 2002/2003). Após o inicio dos anos 80, é possivel conside-
.-\dicionalmente, as celebrações do dia 10 de Ju- rar a existência de uma segunda fase no ciclo de
:-_;'10 (Dia de Portugal, de Camões e das Comuni~ imigração português. O numero de estrangeiros
..:.Ides Portuguesas) são uma forma simbólica de continuou a aumentar a um ritmo razoável, mas o
_:'CQrporar a nação ausente no quadro das cele- crescimemo relativo dos asiáticos (principalmente
-::leões nacionais de referência do Estado portu~ indianos, paquistaneses e chineses) e dos sul-ame-
;'...:~s. Tambem do pontO de vista financeiro, ainda ricanos (designadamente brasileiros) tomou-se mais
::a ~egunda metade dos anos 70, foram criados relevante (Quadro 13). Embora os nacionais dos
:-:-:ecanismos, no âmbito da banca publica e das PALpls continuem a ser dominantes no conjunto
~:..lbscrições de titulos do lesouro, destinados espe- dos estrangeiros residentes em Ponugal, também
..:1licamente li captação da poupança emigrante. neste grupo se observou um processo de diversifi- Fig. 52 Evolução do número
de estrangeiros com
Fmalmeme, nos ullimos anos foram criados díver~ cação interna, com angolanos e guineenses a regis- autorização de ~sidi:ncia em
"- .~ programas destinados a aproximar diferentes tarem um incremento relativo bastante mais signifi- Portugal, por regiões de
;rupos de emigrantes (jovens, idosos ... ) do pais cativo do que o dos cabo-verdianos. Esta tendência origem. t960-2003.
":e origeml~. para a diversificação, manifesta quer entre os gran· Fontes: L. Fonseça fi ai.
(2004), a partir de
des grupos de imigrantes quer entre os grupos informação do INE -
3.1:2. A_ afirmação de um país de mais pequenos, acabou por se repercutir no nu- bUltútkas fkmqgnifKuJ e do
Imlgraçao mero de nacionalidades de estrangeiros residentes SEF - Esta/úricoJ de
Esln/llgtilOJ. ;:':OU: não inclui
registado pelo SEF, que passou de 102 em 1981, os estrangeiros com
A I...UGR.....CÃO CO~·TEMPORÂ~EA para 129 em 1991. Todo este processo salienta :aUtCJrizaçõfs de perm:anênN.
P,\R.". PORTUGAL E AS SUAS DIFEREt....1 ES
FASES
300000
Apesar de a presença de cabo-verdianos no merca~
.; 1 de trabalho portuguC'S datar da segunda metade 250000 +--
,:"S anos 60, quando a emigração e a Guerra Colo-
200 000 -
:-..1.11 reduziram o numero de trabalhadores não
~'Jalificados em sectores como a construção civil e
150000
~ obras publicas, a visibilidade das comunidades
,:-.trangeiras sô começou a ser significativa após a 100000
_ÁSIA

"-",~"'tInda metade dos anos 70. ....\IÉRJC... CD.llt.AI. F. I>OSUL

Efeetivamente, o processo de descolonização 50000


....\ lrnCA 00 SORTI:
":;';Je ocorreu na sequencia da revolução de 1974 .ÁAtJCA
_:'1ginou um boom na chegada de africanos das an~ • Et,:ll.OPOA _

::;3S colónias portuguesas e repercutiu-se num in-


.::-ememo significatim do numero de estrangeiros
~ Portugal (Fig. 52). Este aumento do numero
- -
SOCIEDADE, PAISAGE,~ ECIDADES 103
~~~~ÇA9. ~ .~~~~l.~~~!? ", " .. " ,.. , , , " ..
uma alteração na posição de Portugal no contexto Sul (Espanha, Italia e Grécia) esta rrajeetória em
das migrações internacionais e aponta para um direcção á imigração. Os motivos para iSIO, mais
papel mais relevante das condições do mercado de precoces em Espanha e Itâlia, uma vez que a ex-
trabalho português no processo de recrutamento cepcionalidade do caso portUguês, correspondente
de tr.I.balhadores estrangeiros. A função desempe- ao pico imigratório de meados dos anos 70, rcsulLa
nhada pelo mercado de trabalho informal neste da descolonização, têm sido analisados em diversos
contexto assume. tambêm, um significado muito estudos (M. \Venh e H. Komer, 199I;j.t\talhei·
relevante. ros. 1996: R. King. A. Fielding e R. Black, 199i:
Tendo em consideração o supracitado contex- R. King, 2000). Nestes, são destacados factores
to. pode assumir·sc que a passagem dos anos 80 como a proximidade geográfica relativamente a im-
para os anos 90 corresponde a uma terceira fase no portantes paises de origem (a fronteira sul cons-
dclo imigratório contemporâneo de Portugal, mar- tituída pelo t\tediterrâneo e a fronteira sudeste.
cando, de forma mais clara, a transiç'.io da emigra- protagonizada pela Itália e pela Grécia), os laços
ç:io para a imigração. Neste momento - primeira hislóricO·culturais desem'olvidos nos contexlOS do
metade do decénio de 90 -. em que se acelera o colonialismo espanhol (América Latina, Marro-
rinno de cresdmenlO da populaçiio estrangeira, cos), italiano (Somália, Etiópia) e, sobretudo, por-
eventualmente como efeito dos processos de regu- tuguês e o efeito de diversão das correntes migra-
larização extraordinâria de 1992/93 e de 1996. ma- tÓrias tradicionais, em consequência das fortes
terializa-se um conjunto de circunstâncias externas restrições à imigração impostas pelos países do
e internas que permitem compreender o reforço da Norte e Centro da Europa, a panir de 1973174.
atracção face a cidadãos estrangeiros. Também o processo de transição demográfica.
Do ponto de vista externo. Porlugal partilha que está associado a quebras muito rápidas e
com os restantes países comunilarios da Europa do acentuadas da fecundidade ocorridas ao longo das
décadas de iO e 80, se repercutiu, em conjumo
com a emigração, no esgotamento progressi,'o das
Quadro 13 resen'as de mão-de-obra existentes nas regiões ru-
Estrangeiros com autorização de residência rais (que alimentaram o êxodo rural das dêcadas
em Portugal, por países e regiões de de 50 e 60, justificando uma maior necessidade de
origem - 1981, 1991, 2001
recrutamemo de estrangeiros). A este culminar do
processo de transição demográfica, que colocou a
Area de: origem 1981
'''I 2001
Itália e a Espanha no topo da lista de países do
mundo com taxas de fecundidade mais baixas
União Europtia 29,~
.'1". .'1 ". (1,2 filhos por mulher), têm de se associar modifi-
Europa (outros) 0,8 1,5 2,5 cações progressivas nas expectativas profissionais

África - PALP ~5,1 40,2


,."o, e sociais de muitos jovens que, ao beneficiarem do
processo de incremento estrutural dos níveis de
instrução, passaram a rejeitar formas de incorpo-
Cabo Verde 38,6 26.1 22,3 ração profissional em segmentos menos qualifica-
dos da construção civil, dos serviços pessoais, da
Angola 3,8 5,0 lO,l agricultura c mesmo do comercio e da hOlehtria.
O resultado deste processo traduziu-se no acenluar
Guiné-Bissau 1.8 4,2 7,' de uma progressiva segmentação de base étnica de
delerminados ramos de actividade ou, evenlUal·
África (outros) O,, 1,1 2,6 meme, de algumas tarefas especificas no cOntexto
do processo de produção - por exemplo, homens
Brasil 8,0 11,1 10,5 marroquinos na agricultura moderna realizada nas
estufas da Andaluzia, mulheres polacas nas eolhei·
América Latina (outros) ',1 5,3 2,' tas de morango da provincia de Huelva ou sobrer-
representação de imigrantes do sexo masculino dos
América do Norte: 8,5 S, ,
',' PALP e da Europa de Leste na construção ci,'il
portuguesa.
C_ 0,5 1,2 1,1
Por último, as modificações ocorridas na eco-
India 0,2 0,6 0,6 nomia destes países são outro fac[or que assume
particular destaque na explicação para esta transi·
Paquistão 0,6 0,6 0,5 ção da emigração para a imigraç:io. Efeetivamen-
te, o esforço de induslrialização iniciado nas déca-
Asia (outros) 0,6 1,5 1,5 das de 50 e 60 traduziu-se em ritmos médios de
crescimento económico dos mais elevados da Eu-
Outras regiões e apátridas O,, O,S O,, ropa, durante os decénios de 60 e 70, para além
de se ter operado uma progressiva abertura ao ex-
TOTAL 54414 11J978 223602 terior. O final das ditaduras portuguesa, espanho-
la e grega, em meados dos anos 70, acabou por
Fonle: SEF e INE, ESlarislicas IkmográfiCllS. acentuar, mais ainda, o processo de europeização
Nota: njo inclui os estrangcíros com autorizações de permanência destes estados, que culminou com a sua adesão fi
emitidas em 2001. CEE, nos anos 80. Os anos 80 c 90 foram marca-
1 04 GEOGRAfIA DE PORTUGAL
3 MIGRAÇÕES
..........................................................................................................................................
Foc. ~7
Fila de csuangciros :i
porta do SEF (Seniço de
Estrangciros e Fromeir:l.s).
(Regularização EXlTaemlinâm
de 1992/1993.)
Foto: Bruno PCl\:sfr\rquin)
Ditino ,k XOIiâus.

dos por um profundo processo de modernização sido incentivada pela UE c, especialmente. os re-
económica e de rcestrumração do sistema produ- formados ingleses, holandeses, alemães e de ou-
ti,'o, desem·olvendo·se o sector dos serviços (co- tras origens, s/II1-scekers que procuram beneficiar
mêrcio, turismo, sen'iços às empresas) e acen- das amenidades climáticas das praias dos paises
tuando-se a introdução de ino\'açõcs tecnológicas do Sul, num contexto de melhoria progressi,'a da
e organizacionais e a própria mobilidade interna qualidade dos serviços. públicos e prindos. pres-
do capital. Adicionalmente, os fundos comunitiJ- tados aos cidadãos, em geral, e aos idosos. em
rios facilitaram a modernização de alguns ramos particular.
da economia e contribuíram para reforçar o inves- Voltando-nos especificamente para os [lspecLOS
timento do Estado, designadamente no seCLOr das internos que contribuiram para incentivar a imigra-
obras publicas. ção para Porlugal a partir de finais dos anos 80.
Todos estes vectores de mudança transforma- den: referir-se que a economia nacional. no perio-
ram os países mediterrâneos da UE num espaço do entre meados da década de 80 e meados da dé-
atractivo para a emigração de cidadãos do Sul e. cada scguime. foi marcada por duas imponamcs
mais recentemente, da Europa de Leste. Cons- opçõcs de natureza política: liberalismo e crescente
tituindo uma 'primeira fronteira geográfica li abertura ao exterior. O desem'ol\"imemo de di"er-
imigração_, percebidos como espaços de alguma sas estratégias (contratos temporários. generaliza-
permeabilidade e tolerância face iJ presença de ção dos 'recibos '·erdes., alguma simplificação da
estrangeiros que, ademais, podem funcionar co- regulamentação dos despedimemos. entre outras)
mo uma primeira etapa num processo migratório visando aumentar a flexibilidade das regras do
mais complexo no quadro da livre circulação no mercado de trabalho acompanhou os dois princi-
território da UE, Itália, Espanha, Grécia c Por- pios fundamentais atrás enunciados.
tugal tornaram-se, nos ultimas 20 anos, impor- As duas opções politicas principais foram su-
tantes destinos imigratórios. Se a maioria destes portadas por um conjunto de medidas c iniciativas
Imigrantes são trabalhadores não comunitários com repercussões importantes nas variáveis econó-
Inseridos em segmentos indiferenciados, chegam micas e obviamente nas caracteristicas do mercado
igualmente profissionais qualificados - especial- de trabalho. O processo de repri\'atização das em-
mente da própria UE, mas tambêm none-ameri· presas nacionalizadas no periado imediatamente
canos, japoneses e outros - que acompanham os posterior à re\'olução, associado a um clima de es-
processos de internacionalização do capital elou tabilidade politica com um partido de tendência li-
procuram beneficiar das oportunidades ofereci- beraI no gO\'erno, possibilitou uma expansão do in-
das por uma circulação mais fácil e por um maior vestimento, num contexto económico internacional
conhecimento das dinâmicas económicas em cur- favorável. Além disso, a adesão formal li CEE, em
so no exterior a. Peixoto, 2000). A estes, há que Janeiro de 1986, contribuiu para acelerar o proces-
:!creseentar os estudantes, cuja mobilidade tem so de internacionalização da economia portuguesa.
SOCIEDADE. PAISAGENS E(IDADES 105
..........................................................................................................................................
POPULAÇÃO f TERRITÓRIO

Por um lado, as empresas de capitais estrangeiros sua duplicação (Quadro 14). A larguissima maio-
começaram a assumir Portugal como parte de um ria destes -oO\·os_ imigraOles entrou no pais com
mercado alargado. Por outro lado, os fluxos finan- vistos de turista emitidos por consulados de ou-
ceiros da Comunidade Europeia no ãmbilO dos tros países da UE, com destaque para a Alema-
fundos estrururais alimentaram alguns seetores de nha, tendo prolongado a sua estadia para lá da \'a-
actividadc económica, como a construção e as lidade dos documcOIos possuidos e iniciado uma
obras publicas. O dinamismo da economia, princi- actividade profissional clandestina. A visibilidade
palmente no final dos anos 80, justificou a existên- que os cidadãos do Leste europeu começaram a
cia de uma taxa de desemprego muito reduzida ler na sociedade portuguesa, por volta de 19991
(em média, próxima dos 4 %) c, em conjugação 12000, associada ás afirmações proferidas, na épo-
com outros faclOres, a necessidade de recrutar ca, por algumas associações patronais (por exem-
mão~de-obra estrangeira em alguns seClOres de ac- plo, empresârios da construção civil e obras públi-
tividade. cas; sector da hotclaria do Algarve) que clamavam
A posição de Portugal na Nova Divisão Inter- a impossibilidade de continuar as suas actividades
nacional do Trabalho e a evolução da economia, devido â inexistência de mão-de-obra nacional,
especialmente durante o periodo dourado entre foram moti\'OS fundamentais para o despoletar de
1986 e 1992, clarificam o padrão imigratório de um processo de regularização especial SI/i gmen's,
Portugal, no que diz respeilO ã população aetiva baseado na obtenção dc contratos de trabalho por
estrangeira. Este padrjo mostra uma polarização parte dos trabalhadores não comunilârios instala-
entre profissionais muilO qualificados vindos prin- dos em Portugal que se encontravam em situação
cipalmente de paises europeus e trabalhadores irregular. Foram assim criadas as autorizações de
pouco e nada qualificados oriundos, na sua maio- permanência que correspondem aos documentos
ria, dos PALP, com excepção de Moçambique atribuidos pelas autoridades portuguesas aos imi-
(R. Pires, 1993;]. j\'\alheiros, 1996). grantes que regularizaram a sua situação ao abrigo
A partir do início dos anos 90, foi-se clarifican- de um dispositivo criado pelo Decreto-Lei n. O 41
do uma tendência para a atenuação dos ritmos de 12001, de lO de Janeiro. Esta regularização tinha
crescimento de trabalhadores qualificados, a ex- como base o supracitado registo de um cOntrato
pensas do reforço da presença de estrangeiros nos válido de trabalho e OS documentos obtidos possi-
segmentos menos qualificados (M. I. Baganha, bilitam a permanência no país duranle um ano,
]. Ferrão e J. Malheiros, 2002). De facto, após a fa- renovável por quatro periodos equivalentes. A apli-
se inicial de abertura da economia portuguesa, não cação deste dispositivo foi suspensa em Novembro
só o ritmo de instalação de empresas estrangeiras de 2001 e retirada da nova lei de estrangeiros, prl)-
diminuiu, como as estratégias de educação e for- mulgada em Fe...erciro de 2003 (Decretl)-Lci n. O 341
mação profissional nacionais passaram a incorpo- 12003, de 25 de Fc\·erciro).
rar as âreas ocupacionais em défice. Pelo contrârio, A situação que se acaba de descre\'er está asso-
o dinamismo da conSlrução civil e das obras publi- ciada a uma outra caracteristica desta quarta fase
cas verificado ao longo dos anos 90 - com e\'en- que importa realçar: embora a presença dos imi-
tual excepção do periodo de crise conjuntural de grantes do Leste em Portugal se rclacione com fac-
1993-1994 - contribuiu para suportar o cresci- lores inerentes aos locais de partida como os graves
mento do número de lrabalhadores pouco e nada problemas de rendimemo c emprego associados
qualificados de origem estrangeira, não apenas no aos processos de transição política e económica,
mercado de LTabalho formal, mas igualmente no in- as formas de inserção profissional apOOlam para
formal. um envolvimento activo, mesmo que indirecto,
A chegada do final do século xx parece marcar dos empregadores portugueses no recrutameOlo
o inicio de uma quarta fase na curta história da destes trabalhadores, sobrclUdo até ao segundo
imigração para Portugal. Porque esta fase parece semestre de 2002, quando os sintomas de estagna-
conter um conjunto de diferenças importantes face ção económica se tornaram mais nitidos. Mesmo
ao percurso anterior, é pertincnte questionannl)- que os passadores e traficantes com origem na
-nos relativamente á emergência de um novo ciclo Europa de Leste tenham descoberto as oporluni-
imigratório. dades oferecidas por Portugal (e por outrOS esta-
A primeira c mais vish'el das novas cara:::teristi- dos da Europa do Sul, como a Itália) e que este
cas corresponde á transição de um tipo de imigra- pais seja percebido como um espaço de entrada
ção assente na chegada de populaçõcs oriundas, na mais fâcil no contexto da UE, as especificidades
sua maioria, da UE e dos PALP para um outro, do mercado de trabalho português têm apresenta-
com maior diversidade de origens, em que são pre- do oportunidades interessantes para a inserção de
dominantes os indivíduos provenientes da Europa activos estrangciros. Por um lado, alguns ramos
de Leste, com destaque para a Ucrânia. Apenas os de actividade que têm revelado um dinamismo
brasileiros parecem manter-se como um grupo de significativo (construção civil, hotelaria, comér-
imigrantes rele\'ante em ambos os contextos. Esta cio) incorporam bastante mão-de-obra pouco
modificação nas origens geográficas dos imigrantes qualificada, apresentam fortes flutuaçõcs sazonais
está relacionada com uma explosão no numero de (ou ciclicas) no número de trabalhadores e, sobre-
chegadas, sobretudo nos anos compreendidos entre tudo no caso da construção civil, requerem uma
2000 c 2002. Neste periodo, o número de imigran- fone mobilidade geográfica. AdicionalmeOle, estas
tes com situação regularizada passou de 207 607 tarefas, que não são susceptíveis de fâcil relocali-
para 413 304, o que corresponde, praticamente, ã zação, tendo de ser executadas in si/u, tcndem a
106 Gf(x;RAFJA DE PORTUGAL
-'"lOA
........................................................................................................................
Quadro 14
População estrangeira em situação legal, residente em Portugal em Dezembro de 2002
(principais nacionalidades)
Autorizações de permanência Autorizações de Total (2002)
residmcia

2002 2002 ,I><.


200.
"
,I><.
" "". "
,I><.
• ,I><.
"
Europa - total 71922 56,7 26~09 55,-1 72 121 30.2 170452 41,2

UEH 66002 27,6 66002 16.0

Reino Unido 15899 6,7 15899 3,'

Espanha 14587 6, I 14587 3,5

Alemanha 11 871 5,0 11 871 2,9

França 8364 3,5 8364 2,0

Holanda 4803 2,0 4803 1,2

11áIia 3762 1,6 3762 0,9

Europa de Ltste -1883 56,6 2S 395 53.3 3817 1,6 101095 24,5

Urninia -15 233 35,6 16523 ",7 285 0.1 62~1 15,0

6,5 91 0,0 12 155 2,9


.\loldil\ia
'''''' 7,1 3080

Rommia 7461 5,9 2866 6,0 611 0,3 10938 2,6

Rússia 5022 4,0 I 534 3,2 692 0,3 7248


','
Bulgària I 666 1,3 I 091 2,3 554 0,2 3311 O,,

BielolTÍlssia 783 0,6 311 0,7 42 0,0 I 136 0,3

Lituânia 680 0,5 50 0,1 22 0,0 752 0,2

Geórgia 629 0,5 285 0,6 7 0,0 921 0,2

Cazaquistão 5-1-1 0,4 236 0,5 i5 0,0 795 0,2

Africa - total 20102 15,8 7966 16.7 11-1193 -17.8 142261 34,-1

PALP 1562-1 12.3 69-18 U.6 99880 -11,8 t 22 -152 29,6

Ang~, 4997 3,9 2523 5.3 2.1638 10.3 32158 7,8

Cabo Verde 5488 ,~ 2~7 j~ 52357 21.9 60392 U,6

Guine-Bissau 3239 2,6 998 2, I 11 113 -I,; 15350 3.-

/lo \oçambique 315 0,2 147 0,3 -1882 2.0 5344 1~

São Tome e Príncipe 1 585 1.2 7JJ 1.5 6890 2,9 9208 2,2

Rcp, da Guiné 1 222 I,O 177 ,


04 777 0,3 2 176 0,5

Marrocos 1074 O,, 323 0,7 660 0,3 2057 0,5

Senegal 577 0,5 110 0,2 700 0,3 1 387 0,3


(Continua)

SOCIEDADE, PAISAGEM ECIDADES 107


.POPULAÇÃO
.
""" """
ETERRITÓRIO
" " ..
Autorizações de permanência Autorizações de Total (2002)
residência

2001 2002 2002 abs. %


,bs. % ,bs. % ,bs. % .bs. %
Amêrica Latina - total 24·451 19.3 11650 24,4 30832 12,9 66933 16,2

Brasil 23713 18,7 1i 373 23,9 24864 10,4 59950 14,5


Venezuela 93 0,1 36 0,1 3604 1,5 3;]3 o.,
Amenca do Norte - total 58 0,0 33 0,1 9955 4,2 10046 2,4

Caoada 25 0.0 4 O~ 1933 0,8 1962 0,5

EUA 33 0,0 29 0,1 8022 3,4 80&4 2,0


Ásia - total 10258 8,1 1 5-6 3~ 10 815 4,5 22649 5,5

China 3348 2.6 500 1,0 4468 I,' 8316 2,0

Índia 2828 2,2 553 1,2 I 503 0,6 488.J 1)

Paquistão 2851 2) 186 0,4 1180 0,5 4217 1,0

Bangladesh 853 0,7 52 0,1 423 O) 1328 0,3

Oceânia - total 16 0,0 5 0,0 S48 O) 569 0,1

Apátridas e dupla
nacionalidade 94 0,1 18 0,0 282 0,1 394 0,1

Fot. JS Imigrame brasileiro a


TOTAl 126901 100,0 47657 100,0 238746 100 413304 100
:r~!>JlhJr numa pasldaria.
F k': J0rgC l\lacaisla ... Não aplicál"eL
.\ialhciws. Fonte: INE, ESlalislicas Dt'lIIogrrificas 2001 e 2002; SEF.

3preSentar níveis salariais baixos c/ou um reduú-


do prestigio social.
Pemnle O rápido 3Umento dos niveis médios de
qualificações escolares e profissionais da população
autóctone verificado durante o decénio de 90, é na-
tural que se acentue o desajuste entre o tipo de
ofertas de trabalho mencionadas acima e as carac-
tcrísticas c expectath'3s da procura nacional. Neste
contexto, e perante a oferta de uma mão-de·obra
que, não obstante desconheça a língu3 portuguesa
- o que coloc3 um problcm3 no\"o no contexto da
imigração p3ra Portugal - , apresenta uma cultura
de trabalho idêntica à nacional, uma sobrequalifica-
ção para as tarefas que se dispõe a realizar e uma
situação de vulnerabilidade que, por vezes, permite
pr.i.ticas de redução salarial, é natural o interesse
revelado pelos empregadores portugueses em rela-
ção aos imigrantes oriundos da Europa de Leste e,
nalguns casos, do Brasil. Mesmo em sectores onde
se identificam processos de modernização impor-
tantes (por exemplo, indústria do calçado ou pe.
cuaria), as primeiras experiências de incorporação
de trabalhadores da Europa de Leste para fazerem
face à escassez de mão-de-obra vieram a dar ori-
gem a uma procura intencional deste tipo de imi·
grantes, vistos como mais adaptá\'eis aos processos
de rccom"ersão tecnológica do que a pTÔpria mão-
·de-obra nacional.
1 08 GEOGRAFIA DE PORTUGAl

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