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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista

em Gestão de Negócios – 2016

Capacidade operacional e viabilidade econômica do uso de pulverizadores


autopropelidos em plantios de eucalipto

Arthur Dias Cagnani¹; Juliana Ramiro2


1 Suzano Papel e Celulose Ltda – Analista de Excelência Operacional – Avenida Dr. José Lembo, 1010 –
Jardim Bela Vista – CEP 18207-780 - Itapetininga (SP), Brasil
2 Instituto PECEGE – Pesquisadora Associada, Doutora em Ciências (Fitopatologia) – Rua Alexandre

Herculano, 120 – Vila Monteiro – CEP13418-445 - Piracicaba (SP), Brasil

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Capacidade operacional e viabilidade econômica do uso de pulverizadores


autopropelidos em plantios de eucalipto

Resumo

O uso de autopropelidos para pulverização é muito difundido no meio agrícola,


porém não existem parâmetros para sua utilização em atividades silviculturais. Neste
estudo foi desenvolvida uma análise de capacidade operacional de pulverizadores
autopropelidos em áreas de reforma de eucalipto com uma alta incidência de resíduos
florestais no intuito de analisar a viabilidade econômica do equipamento nessas
situações. O estudo se deu na cidade de Lençóis Paulista (SP), analisando os
indicadores financeiros do Valor Presente Líquido [VPL], Taxa Interna de Retorno [TIR]
e Payback. O equipamento apresentou possibilidade de uso, porém os recursos
técnicos se mostraram limitados nas situações observadas e necessitam de
intervenções estruturais para se tornarem mais atrativos operacionalmente. No
demonstrativo de resultados financeiros o cenário apresentou VPL igual a
R$318.250,11, TIR de 27,12% ao ano e Payback de 3,06 anos.
Palavras-chave: indicadores financeiros, setor florestal, tecnologia silvicultural

Operational capacity and economic feasibility of the use of self-propelled sprays


in eucalyptus plantations

Abstract

The use of self-propelled spray is widespread in the agricultural environment,


but there are no parameters to be used in silvicultural activities. This study developed
an operational capacity analysis of self-propelled sprayers in eucalyptus reform areas
with high incidence of forest residues in order to analyze the economic feasibility of the
equipment in these situations. The study took place in the city of Lençóis Paulista (SP),
analyzing the financial indicators of Net Present Value [NPV], Internal Rate Return
[IRR] and Payback. The equipment presented possibility of use, but the technical
resources have proved limited in the observed situations and need structural
assistance to become more attractive operationally. In the statement of financial results
the scenario presented NPV of R$ 318,250.11 IRR of 27.12% per annum and payback
of 3.06 years.
Keywords: financial indicators, forest industry, forestry technology.

Introdução

O setor florestal do Brasil possui ainda um grande potencial a ser explorado


devido a sua grande extensão de áreas, condições edafoclimáticas favoráveis para o
desenvolvimento de florestas plantadas, tecnologia silvicultural avançada e materiais
genéticos adaptados e com rápido crescimento. O fornecimento de matéria prima para
atender o setor florestal origina-se de florestas plantadas e, em sua maioria, plantios
de Eucalyptus spp (Almeida, 2016).
O Brasil possui cerca de 7,74 milhões de hectares de florestas plantadas, o que
corresponde a apenas 0,9% do território nacional. Destes quase 8 milhões de florestas

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91% da madeira é produzida para fins industriais, enquanto as demais 9% são


oriundas de florestas nativas legalmente manejadas. Em 2014, o Produto Interno Bruto
[PIB] do setor brasileiro de árvores plantadas cresceu 1,7%, número esse que foi baixo
quando comparado com o crescimento histórico do setor nos últimos anos (3,8% a.a.),
porém excelente resultado (17 vezes maior) quando comparado ao crescimento do
PIB brasileiro, que foi de 0,1% (IBÁ, 2015).
O setor apresentou em 2014 receita bruta de R$ 60 bilhões (5,5% do PIB
Industrial), exportações de U$ 8,4 bilhões (3,8% das exportações do País), gerando
cerca de 4,2 milhões de empregos diretos, indiretos e resultados do efeito renda da
atividade florestal e contará ainda com investimentos na ordem de R$ 53 bilhões até
2020 (IBÁ, 2015).
O cenário há anos aponta para uma redução na disponibilidade de mão de
obra no campo, abrindo espaço para as ferramentas de tecnologia para otimizar
recursos dentro das empresas. Segundo Staduto et al. (2004) nas Regiões Centro-
Oeste, Sudeste e Sul, os impactos da intensificação da mecanização e utilização de
insumos modernos sobre o mercado de trabalho foram mais intensos em relação às
demais regiões. Nessa linha segue ainda a corrente de redução de custo, gestão das
atividades e de garantia de qualidade das atividades.
A demanda é crescente por sistema de manejo de produção integrado, que
monitorem o tipo e a quantia de insumos, fazendo uma relação com a produtividade,
indicando ao gestor onde e quanto atuar no manejo e na operação, dando base para
tomada de decisão, para corrigir desvios ou potencializar os ganhos da sua cultura.
A silvicultura de precisão baseia-se na coleta e análise de dados geoespaciais
e viabiliza intervenções localizadas na floresta, com exatidão e precisão adequadas.
As técnicas de geoprocessamento fornecem subsídios para a identificação e
correlação das variáveis que afetam a produtividade florestal por meio da
sobreposição, cruzamento e regressão de mapas digitais do relevo, atributos do solo e
capacidade produtiva dos povoamentos em Sistemas de Informação Geográfica [SIG]
(Vettorazzi e Ferraz, 2000).
O preparo de solo para o plantio comercial de eucalipto segue o processo do
cultivo mínimo, em que é feito somente as intervenções necessárias para o plantio em
uma pequena parte do solo. Geralmente, no processo de cultivo mínimo
primeiramente é realizada uma dessecação em área total, garantindo que camada de
matéria orgânica permaneça no solo. Essa atividade é importante pois viabiliza todas

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as atividades subsequentes do preparo do solo e reduz a competição por nutrientes e


espaço das mudas de eucalipto que serão plantadas.
A utilização de pulverizadores autopropelidos tem como objetivo aumentar a
eficiência da operação ao aliar agilidade, rapidez e funcionalidade. Tradicionalmente
funcional em culturas agrícolas, o sistema ainda não possui parâmetros para
comparação em áreas florestais.
Mesmo com ferramentas disponíveis, os desafios na gestão são grandes, pois
sai-se cada vez mais de um sistema produtivo uniforme e passa-se a lidar com
inúmeras variáveis, demandando-se análise aprofundada dos fatores de produção, de
custo e de qualidade.
A medida que cresce a necessidade por informações mais detalhadas na
condução do empreendimento florestal, consolida-se também a utilização dos
preceitos da silvicultura de precisão, pois esta auxilia na redução de custos em função
do correto manejo das atividades florestais (Ribeiro, 2002).
A análise econômica por meio de critérios financeiros é fundamental para se
definir qual o melhor projeto ou decisão a ser tomada (Rezende e Oliveira, 2001).
Diversos projetos florestais vêm sendo realizados baseados em análises
econômicas, utilizando-se critérios como: Valor Presente Líquido [VPL], Taxa Interna
de Retorno [TIR], Payback, razão Benefício/Custo [B/C], Valor Anual Equivalente
[VAE] e Custo Médio de Produção [CMP] (Nautiyal, 1988; Silva et al., 1999).
A partir desses desafios o objetivo dessa análise foi avaliar a capacidade
operacional e analisar a viabilidade econômica de pulverizadores autopropelidos em
áreas de reforma de eucalipto em substituição ao uso de tratores convencionais na
mesma atividade.

Material e Métodos

O trabalho em questão foi baseado na atividade de dessecação em área total


realizada no início do preparo do solo em uma empresa de chapas de fibra localizada
no interior do estado de São Paulo.
O pulverizador autopropelido testado foi o BS3020H da Valtra©, emprestado
para testes pelo período de 40 dias. Foi selecionada uma área para testes no estado
de São Paulo na latitude -22.814357 e longitude -48.800657 na cidade de Lençóis
Paulista em uma região com a topografia pouco ondulada.

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O equipamento utilizado era dotado com um motor diesel de 200 cv


responsável por movimentar quatro motores hidráulicos independentes nas rodas. A
barra de pulverização possuía 25 m na versão canavieira testada.
A máquina possuía computador de bordo integrado, modelo C3000, com
controle de taxa de aplicação, regulador de vazão, GPS integrado, controle de
bordaduras, corte automático de seção, entre outras configurações. O sistema
também possuía piloto automático, mas não foi objeto dos testes.
O computador de bordo C3000 funcionou com sistema de posicionamento por
GPS e auxiliou nas operações ao mostrar as linhas já pulverizadas. O controle de
bordadura garantiu que o pulverizador só fosse acionado dentro da área delimitada e o
corte automático de seção evitou sobreposições superiores a 0,5 m.
O sistema possuía telemetria opcional, os dados eram enviados por Serviços
Gerais de Pacote por Rádio [GPRS], sigla da expressão em inglês “General Packet
Radio Services” de qualquer empresa de telefonia celular disponível e acessados pela
internet. Em caso de falta de sinal o C3000 armazenava os dados referentes a até 20
horas de trabalho.
Foi obtido um arquivo em PDF contendo diversos dados e mapas de aplicação
para análise. O arquivo apresentou datas de início e término, área coberta, área da
bordadura, total de horas, horas produtivas e distância percorrida
Foram gerados dois mapas, um de área de cobertura da aplicação e outro de
taxa de aplicação de líquido (Figura 1).

Figura 1. Mapas gerados para a área de cobertura (verde) e taxa de aplicação (azul)
Fonte: Dados originais da pesquisa

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Em tom verde, o primeiro mapa mostra as faixas de pulverização


demonstrando áreas com falhas de aplicação ou aplicações fora da bordadura, o que
auxiliou na análise da qualidade da pulverização. O segundo, em tom azul, representa
um mapa de taxa de aplicação de líquido pela área trabalhada, ele mostra a variação
da taxa de líquido ao longo da pulverização e possui uma escala de taxa mínima e
máxima, demonstrando áreas em que a taxa não foi suficiente ou foi excedente, o que
poderia ter acarretado em uma aplicação ineficiente ou em um maior gasto de produto.

Capacidade operacional do equipamento

Para a avaliação da capacidade operacional, foi realizada uma comparação


com um trator BM110 CV da Valtra© acoplado a um implemento tipo pulverizador de
barra longa, equipamento sem marca, de confecção encomendada pela própria
empresa, por ser o equipamento padrão de pulverização da empresa.
Para realizar a análise comparativa de resultados entre os rendimentos dos
equipamentos e a tradução econômica de tais indicadores foram realizados alguns
testes com o pulverizador autopropelido a título de conhecimento de suas capacidades
no diferente cenário apresentado.
A capacidade operacional do BM110 já é de amplo conhecimento da empresa,
o trator apresenta uma barra fixa de 9 m e consegue aplicar em três linhas de
eucalipto na configuração de plantio de 3 m entre linha e 2 m entre planta.
O BS3020H possuía barra móvel com 25 m, sendo 19 m linear e as duas
ponteiras da barra com 3 m cada uma, nessa condição o equipamento aplicou em oito
linhas. Essas ponteiras podem ser recolhidas para a aplicação somente com os 19 m
da barra linear, nessa condição foram aplicadas em seis linhas. No total foram
realizadas 73 h e 25 min de testes e foram aplicados 245,37 ha, incluindo aplicações
com as barras abertas em 25 m e ponteiras fechadas com 19 m.
Foi realizado um intenso estudo de tempos e movimentos da máquina em
questão, identificando quais as manobras em que mais é desperdiçado tempo e qual o
tempo efetivo de trabalho.
O Pulverizador BS3020H possuiu um tanque com 3.000 L de capacidade de
calda, e para o abastecimento do produto foram necessários 20 min, incluindo vestir e
retirar todos os EPIs e a tríplice lavagem de todas as embalagens. Já para o
abastecimento do tanque com água foram necessários 10 min, incluindo o

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alinhamento com o caminhão e acoplagem da mangueira. Totalizando, portanto, 30


min para o preparo desses 3.000 L de calda.
A máquina foi testada nas mais diversas situações encontradas em plantios de
eucalipto, destacando: alta incidência de tocos, realinhamento de plantio, média
declividade, curvas de nível, alta incidência de resíduos florestais, entre outras
situações incomuns para o uso de tal equipamento. Devido a esses fatores, a
manutenção do pulverizador autopropelido foi levada em consideração na análise
econômica de viabilidade do equipamento.
A máquina apresentava como componente de fábrica um pneu agrícola 18.4-26
de 12 lonas e existiam opções de pneus florestais nessa configuração.
Foram disponibilizadas chapas de proteção para toda a parte de baixo da
máquina, no intuito de proteger todas as tubulações e encanamentos.
O autopropelido seguiu o padrão das máquinas de silvicultura, com vida útil de
12 mil horas ou quatro anos.

Viabilidade econômica do equipamento

A partir dos dados de capacidade operacional levantados foi possível realizar


um estudo de viabilidade econômica do autopropelido para ser utilizado em
comparação com os dados já conhecidos do BM110. Essa comparação permitiu
observar qual equipamento é mais interessante em cada cenário apresentado.
Foi considerado como investimento inicial o preço completo da máquina,
R$480.000,00, pois os demais investimentos (pessoal, produtos, EPI, refeições,
mecânicos, administração, estoque, logística) já fazem parte do escopo da empresa
por possuir a operação totalmente primarizada. Não foi descontado nenhum valor
referente aos tratores e implementos substituídos na operação por entender que eles
já foram adquiridos, portanto o investimento já foi realizado. Estes tratores seriam
aproveitados em outras atividades e poderiam realizar a operação de capina química
pré-plantio em locais de difícil acesso ao autopropelido ou em situações de
emergência.
Para o cálculo dos indicadores foi elaborada uma planilha em Excel, que
referenciou as informações técnicas com o cálculo dos indicadores. Essa planilha
calcula automaticamente os impostos incidentes em cada etapa de gastos e finaliza
informado o custo horário de cada equipamento levando em consideração a
quantidade de turnos de operação (Anexo 1). Essa planilha foi a mesma utilizada para

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o planejamento do orçamento da empresa, pois indica o custo horário em cada


atividade.
A partir do conhecimento operacional do equipamento e de posse do custo
horário foi possível realizar uma prospecção de qual o investimento seria necessário
para a realização de toda a atividade de capina química pré-plantio de todo o ano para
o autopropelido BS3020H em comparação com o planejado para o BM110.
Essa comparação permitiu a realização de um fluxo de caixa anual para cinco
anos de uso do autopropelido, extraindo nesse processo o VPL, TIR e Payback. As eq.
(1) e eq. (2) foram as equações utilizadas para os cálculos de VPL e TIR,
respectivamente.

Ci
VPL = − C0 + ∑Ti=1 (1+r)i (1)

onde, VPL: é o valor presente líquido, em R$; C0: é o fluxo de caixa no período 0, em
R$; Ci: é o fluxo de caixa no período i, em R$; i: é o período, em anos; r: é a taxa de
desconto, em decimal.

Ci
VPL = 0 = Invest. Inicial + ∑N
t=1 (2)
(1+TIR)i

onde, TIR: é a taxa interna de retorno, em decimal ou porcentagem.

De posse de todos os indicadores econômicos e com um estudo de capacidade


operacional do equipamento foi analisada a viabilidade do uso do autopropelido
BS3020H na atividade de capina química pré-plantio em plantios de eucalipto.

Resultados e Discussão

Capacidade operacional

O pulverizador BS3020H na configuração canavieira atual não estava


preparado para atividades em áreas com tantos resíduos florestais, o que ocasionou
em algumas quebras e inconvenientes. Os problemas apresentados possuíam
solução, somente sendo necessário o desenvolvimento de proteções específicas ou
melhorias nas proteções já existentes.

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Um ponto de atenção foram as capas de proteção dos motores hidráulicos das


rodas e os para-lamas, pois os mesmos foram confeccionados em polietileno e se
danificaram muito durante os testes realizados. Provavelmente para um melhor
aproveitamento do equipamento seria necessário adaptar uma peça com o mesmo
design, mas feita com um metal resistente.
O autopropelido demandou uma velocidade de deslocamento de pelo menos
10 km h-1 para conseguir garantir uma boa homogeneidade em taxas de aplicação
abaixo de 200 L ha-1. Nos testes obteve-se uma média de 7 km h-1 no deslocamento,
situação que exigiu uma aplicação mínima de 250 L ha-1 para garantir homogeneidade.
O equipamento não apresentou problemas de deslocamento em áreas planas,
porém teve dificuldade para deslocar num trecho com inclinação de aproximadamente
18º, situação que inviabilizou a continuidade dos testes no local.
Não se sabe se as condições de trabalho em áreas florestais podem afetar a
vida útil dos componentes estruturais do quadro da barra. A princípio não se obteve
problemas de desgaste dos componentes, mas é um possível problema a longo prazo
devido ao intenso movimento de pêndulo enfrentado em áreas com muitos resíduos
florestais.
Foi testado qual o comportamento do pulverizador se as ponteiras de 3 m da
barra fossem fechadas, totalizando 19 m de extensão total de aplicação. O movimento
de pêndulo diminui sensivelmente, sendo muito mais eficaz e seguro para a máquina
durante o trabalho em áreas com muitos resíduos ou já subsoladas. O tempo de
aplicação aumentou em aproximadamente 20%, mas as chances de quebra da barra
por impacto no solo diminuíram muito.
Observou-se que a disponibilidade operacional do pulverizador foi de 85%
devido a sua necessidade de manutenção e regulagens. A eficiência da máquina
sofreu influências das condições climáticas devido a especificidade do equipamento
em não operar durante chuvas fortes ou ventos intensos. A eficiência operacional foi
de 63% para três turnos.
Para uma aplicação com a barra totalmente aberta em 25 m foi necessário
aproximadamente 1 h para usar todo o tanque, incluindo as manobras e
deslocamentos dentro do talhão. Para uma aplicação com as ponteiras fechadas, o
aumento de tempo de aplicação foi de aproximadamente 20% do tempo da barra com
25 m. Nesse caso o tempo de aplicação aumentaria aproximadamente 12 min. Já para
uma aplicação utilizando as ponteiras abertas ou fechadas conforme a necessidade do

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momento o aumento seria proporcional à quantidade de tempo utilizando as ponteiras


fechadas.
Um acréscimo de 10% foi necessário para garantir que os dados estivessem
mais próximos da realidade. Portanto o tempo de aplicação total de um tanque
(incluindo preparo do tanque) foi de: 1 h e 39 min com as ponteiras abertas, 1 h e 53
min com as ponteiras fechadas e aproximadamente 1 h e 45 min com elas abertas ou
fechadas conforme a necessidade.
Com uma eficiência de 63% o autopropelido ficou disponível para operar por 3h
e 45 min a cada turno (Tabela 1).

Tabela 1. Comparação destacando quantidade de hectares pulverizados e relação h


ha-1 de cada configuração do equipamento BS3020H com o equipamento BM110
Tempo
Tempo de Quantidade Tempo por
Configuração eficiente Área
aplicação aplicações área
por turno
------h------ ------h------ tanque turno-1 ha turno-1 ----h ha-1----
Ponteiras abertas
1,65 3,73 2,26 24,89 0,15
(25 m)
Ponteiras
1,88 3,73 1,98 21,81 0,17
fechadas (19 m)
Ponteiras abertas-
fechadas (19 - 25 1,74 3,73 2,13 23,47 0,16
m)

BM 110 (9 m) 4,19 4,10 0,98 3,90 1,05


Fonte: Resultados originais da pesquisa

O rendimento apresentado pela máquina foi de 0,15 – 0,17 h ha-1 com uma
média ponderada de 0,16 h ha-1, variando conforme a configuração de barra escolhida
e contrastando muito do rendimento do trator convencional que fica em 1,05 h ha-1.
Foi aferida uma média de 11,38 l h-1 de consumo de Diesel para o
autopropelido BS3020H, o que a princípio pareceu ser um consumo alto. Porém, ao
ser calculado o rendimento (h ha-1), o BS3020H demonstrou ser uma máquina com
ótimo consumo de combustível (l ha-1) em comparação com o BM110 utilizado nessa
operação (Tabela 2).

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Tabela 2. Comparação entre rendimento médio e consumo de combustível


Equipamento Rendimento Médio Consumo
---------h ha-1-------- ---------l h-1--------- ---------l ha-1--------
BS3020H 0,16 11,38 1,82
BM110 1,05 3,50 3,68
Fonte: Resultados originais da pesquisa

Mensalmente o BS3020H teria capacidade para pulverizar aproximadamente


1400 ha, já incluso o tempo necessário para seu transporte entre as glebas ou
fazendas. Nas condições apresentadas, a máquina estaria trabalhando com 35,28%
da sua capacidade efetiva.
Um ponto de atenção foi que o BS3020H possuía 3,40 m de largura
ultrapassando, portanto, da faixa regulamentada de 3,20 m para transporte de cargas
em rodovias. Seria necessária uma autorização especial para o transporte, além de
um caminhão prancha adaptado e de batedores na estrada, o que aumentaria muito
os custos de transporte entre as unidades e dificultaria a logística. Dessa forma os
cálculos de transporte foram feitos com base nos dados apresentados pelo BS3020H,
porém, utilizando o custo de um caminhão prancha regular da empresa autorizado a
transportar cargas de até 3,20 m. Isso ocorreu por existir no mercado diversos
modelos de pulverizadores autopropelidos com configurações similares ao BS3020H,
porém com uma largura igual ou inferior a 3,20 m.
Para a análise financeira foram utilizados os resultados encontrados na análise
de viabilidade técnica do equipamento.

Viabilidade econômica

O VPL da máquina foi de R$318.250,11 para uma vida útil de quatro anos, com
uma taxa de juros de 11,60% a.a. O VPL, obtido por meio da diferença existente entre
as saídas de caixa (investimentos) e as entradas de caixa, descontados a uma
determinada taxa de juros, geralmente utiliza-se a taxa mínima de atratividade.
Considera-se viável um projeto que possui um VPL igual ou maior do que zero
(Wernke, 2000).
A TIR nessas condições ficou em 27,12% com uma taxa mínima de
atratividade de 11,60%, o que mostra que o projeto é viável. A TIR é a taxa que produz
um VPL igual a zero. A TIR tem a função de descontar um valor futuro ou aplicar um
determinado fator de juros sobre um valor presente, trazendo o valor do fluxo de caixa

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para uma data base de comparação, que geralmente é a data de início da operação
(momento zero). Para um determinado projeto se mostrar financeiramente atraente, a
TIR deve ser maior do que a taxa mínima de atratividade, mostrando que o projeto é
interessante (Hoji, 2006).
Para a atividade de capina química pré-plantio prevista no planejamento da
empresa, o Payback seria realizado em aproximadamente três anos levando em conta
a utilização do BS3020H em três “sites” próximos entre si, no estado de São Paulo. O
Payback é um indicador que determina o prazo de recuperação de um determinado
investimento. É o tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o
lucro líquido acumulado se iguala ao valor desse investimento. O Payback pode ser
nominal, quando calculado com base no fluxo de caixa com valores nominais, ou
presente líquido, quando calculado com base no fluxo de caixa com valores trazidos
ao valor presente líquido (Motta e Callôba, 2002).
A partir da intensa produtividade observada no equipamento definiu-se uma
necessidade de 450 ha como área mínima de trabalho para garantir a viabilidade
econômica do equipamento. Para o cenário apresentado foram definidos três “sites”,
com uma distância média entre si de 47,5 km, como área para utilização de um
equipamento. O deslocamento entre os “sites” pode ser feito com o uso de caminhão
prancha.
De acordo com Anexo 1, na operação de capina química mecanizada o custo
de um trator convencional para operações em 21 h dia-1 ficou em R$76,06 h-1 incluindo
depreciação. Já para o BS3020H o mesmo custo ficou em R$171,57 h-1. O rendimento
dos tratores convencionais foi de 1,05 h ha-1, o que significou um gasto de R$79,86 ha-
1
. Já a pulverização autopropelida possuiu um rendimento de 0,16 h ha-1, o que
resultou em um custo de R$27,45 ha-1. Esse cenário extrapolado para os três “sites”
gerou uma diferença anual de R$255.008,36 (Tabela 3).

Tabela 3. Diferença de custo total anual entre trator de pneu e autopropelido (capina
química pré-plantio prevista)
Custo total Custo total anual Diferença
Previsto
anual BM110 BS3020H anual
-----ha---- -------R$------ --------R$-------- -----R$-----
Site 1 2.209,75 164.620,57 60.657,64 103.962,93
Site 2 2.055,46 144.258,52 56.422,38 87.836,14
Site 3 1.657,00 123.813,93 45.484,65 78.329,28
Transporte - - 15.120,00 -
Total 5.922,21 432.693,02 177.684,66 255.008,36
Fonte: Resultados originais da pesquisa

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Utilizando os dados previstos para a atividade de capina química pré-plantio


anual e a diferença de custos anual entre o equipamento BS3020H em comparação
com o BM110 foi realizado um fluxo de caixa simplificado para um período de cinco
anos, extraindo nesse processo o VPL, TIR e Payback (Tabela 4).

Tabela 4. Fluxo de Caixa simplificado da operação da aquisição do equipamento


BS3020H para a atividade de capina química mecanizada
Unidade
Descrição de 2016 2017 2018 2019 2020
Medida
Meses de
mês 12 12 12 12 12
Produção
Produção ha 0 5922 5922 5922 5922
Fluxo de
R$ -480.000,00 -166.621,28 146.757,28 460.135,92 773.514,57
caixa
Fonte: Resultados originais da pesquisa

A partir dos resultados apresentados ficou claro que as necessidades técnicas


do terreno, a quantidade mínima de área aplicável e as adaptações necessárias do
equipamento forem satisfeitas, existe grande viabilidade econômica no uso de
autopropelidos em áreas de reforma de eucalipto (Tabela 5).

Tabela 5. Indicadores econômicos de viabilidade financeira


Indicador Unidade
Previsão de capinas químicas mecanizadas nos 3 sites ha 5922,21
Economia anual Autopropelido R$ 255.008,36
Investimento R$ 480.000,00
Payback anos 3.06
VPL R$ 318.250,11
TIR % 27,12
Fonte: Resultados da pesquisa

Além de todos os custos envolvidos existem critérios imponderáveis a serem


considerados, como conforto e bem-estar do operador, e a sensação de ser valorizado
pela empresa a partir do investimento feito. Tais critérios produziram um importante
impacto positivo sobre os operadores de campo, pois reforçam os valores da empresa
perante os funcionários aliando agilidade na operação, corte de gastos e melhora na
condição de trabalho dos operadores.

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Conclusões

O pulverizador autopropelido BS3020H é viável tecnicamente para o uso no


setor da silvicultura, porém demanda especial atenção aos componentes estruturais
da barra de pulverização e proteções dos motores dos rodados, exigindo adaptações e
modificações mecânicas quando em ambiente desfavorável (presença de muitos
resíduos florestais).
O pulverizador autopropelido BS3020H é economicamente viável desde que
satisfeita a condição técnica exigida, quando comparado com o trator convencional
BM110.

Agradecimento

Agradeço a minha família pelo apoio incondicional. A minha namorada Nayane


por todo o companheirismo durantes esses anos e por me encorajar em realizar esse
MBA. Também agradeço a minha orientadora Juliana Ramiro pela dedicação e auxílio
na elaboração da presente monografia.

Referências

Almeida, B. O. 2016. Viabilidade do aproveitamento de resíduos florestais. Tese de


Mestrado em Silvicultura e Manejo Florestal. Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP, Brasil.

Hoji, M. 2006. Administração financeira: uma abordagem pratica. 5ed. Editora Atlas,
São Paulo, SP, Brasil.

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Trabalho apresentado para obtenção do título de especialista
em Gestão de Negócios – 2016

Anexo

Anexo 1. Tabela de custos operacionais do BM110 e BS3020H na operação de


Capina Química Mecanizada
Trator Trator Trator Pulverizador Pulverizador Pulverizador
ITEM UNID. BM 110 BM 110 BM 110 Autopropelido Autopropelido Autopropelido
4x4 4x4 4x4 BS3020H BS3020H BS3020H
Dias Úteis Mês nº 21 21 25 21 21 25
Turnos de Trabalho nº 1,0 2,0 3,0 1,0 2,0 3,0
Horas por Turno h 8,8 8,0 7,0 8,8 8,0 7,0
Eficiência do Equipamento Prevista % 75% 72,5% 70% 78% 68,0% 63%
Operador por Equipamento nº 1,0 2,0 3,0 1,0 2,0 3,0
OPERACIONAIS

Índice de Férias + Absentismo % 10% 10% 10% 10% 10% 10%


Consumo de Combustível l/h 3,5 3,5 3,5 11,4 11,4 11,4
Durabilidade do Equipamento (técnica) h 8.316 12.000 12.000 8.649 12.000 12.000
Durabilidade do Implemento (técnica) h 8.316 12.000 12.000 0 0 0
Vida Útil do Pneu Novo h 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000 10.000
Pneus por Equipamento nº 4 4 4 4 4 4
Transporte de Pessoal km/mês
Quilometragem p/ adm. da Operação km/mês 500 500 500 500 500 500
PREMISSAS

Transporte de equipamentos km/mês


Supervisão Técnica (Administração) nº 1 1 1 1 1 1
Administração de Operação R$/equi/mês 1.312 1.312 1.312 1.344 1.344 1.344
Salário do Operador R$/mês 1.576 1.576 1.576 1.576 1.576 1.576
Taxa de Encargos Sociais % 33,5% 33,5% 33,5% 33,5% 33,5% 33,5%
Preço do Combustível R$/l 1,950 1,950 1,950 1,950 1,950 1,950
Índice Custo Lubrif/Combustível % 20% 20% 20% 18% 18% 18%
ECONÔMICAS

Preço Equipamento Novo (sem impostos) R$/unid 118.913 118.913 118.913 480.000 480.000 480.000
Valor Residual do Equipamento % 17% 17% 17% 17% 17% 17%
(
Preço Implemento Novo R$/unid 30.000 30.000 30.000 0 0 0
Preço do Pneu Unid. 4.700 4.700 4.700 6.500 6.500 6.500
Preço do Veiculo Transp. Pessoal R$/KM 0,68 0,68 0,68 0,68 0,68 0,68
Preço do Veiculo Administração R$/KM 0,68 0,68 0,68 0,68 0,68 0,68
Preço do Veiculo Transp. Equipam. R$/KM 6,10 6,10 6,10 6,10 6,10 6,10
Índice de Manutenção Equipamento índice 0,80 1,50 1,80 0,80 1,50 1,80
Índice de Manutenção Implemento índice 0,50 1,00 1,50 0,00 0,00 0,00
Despesas Sociais (Rest/Unim/Seg/Cesta/Transp) R$/Func 1.090,00 1.090,00 1.090,00 1.090,00 1.090,00 1.090,00
Horas Disponíveis por Equipamento h/mês 138,60 243,60 367,50 144,14 228,48 330,75
Consumo de Diesel l/mês 485 853 1.286 1.640 2.605 3.771
FÍSICOS

Vida Útil do Equipamento (Técnica) mês 60 49 33 60 53 36


Vida Útil do Implemento (Técnica) mês 60 49 33 0 0 0
Operadores nº 1,11 2,22 3,33 1,11 2,22 3,33
Técnicos nº 1 1 1 1 1 1
Mão-de-obra R$ 16,87 19,19 19,08 16,22 20,46 21,20
Combustível R$ 8,19 8,19 8,19 26,19 26,23 26,23
Depreciação Equipamento R$ 11,87 8,22 8,22 46,07 33,20 33,20
RESULTADOS

Depreciação Implemento R$ 3,61 2,50 2,50 0,00 0,00 0,00


Manutenção Equipamento R$ 11,44 14,86 17,84 44,40 60,00 72,00
Manutenção Implemento R$ 1,80 2,50 3,75 0,00 0,00 0,00
ECONÔMICOS

Pneus R$ 1,88 1,88 1,88 2,60 2,60 2,60


Transporte de Pessoal R$ 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Transporte de Equipamentos R$ 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Administração de Operações R$ 15,09 8,59 5,69 14,80 9,34 6,45
Despesas Sociais R$ 7,86 8,95 8,90 7,56 9,54 9,89
Custo Final (Produção) R$ 78,61 74,89 76,06 157,83 161,38 171,57
Margem 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Impostos (COFINS, PIS, INSS) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Custo Final R$/h 78,61 74,89 76,06 157,83 161,38 171,57
Custo Cash R$/h 63,14 64,16 65,33 111,77 128,18 138,37

Fonte: Resultados da pesquisa a partir de tabela base da área de fomento florestal da


empresa

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