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Fontenelle
OS CICLOS TERMODINÂMICOS DE POTÊNCIA
MOTORES DE COMBUSTÃO INTERNA
Orientações gerais:
Este conteúdo tem por finalidade suprir a fundamentação teórica das aulas presenciais
previstas para os dias 25/26/03/2020 e 01/01/04/2020, suspensas durante o período de
quarentena devido à pandemia da SARS-Cov-2 (conhecida como Covid-19)
Este conteúdo está dividido em 2 partes, sendo a parte 1 referente à aula do dia 25/26
de março/2020 e a segunda parte referente à aula do dia 01/02 de abril/2019.
Juntamente com esse material, será disponibilizado no portal Acadêmico, como
material didático, um conjunto de exercícios de fixação, com algumas perguntas e
alguns cálculos a serem resolvidos.
As respostas aos cálculos deverão ser enviadas ao professor no prazo máximo de 48
horas após o término da aula. Os acadêmicos que não enviarem as respostas, não
terão presença nas aulas.
Como enviar a respostas? Resolva os cálculos e responda às perguntas em papel,
manuscrito e envie uma (ou quantas forem necessárias) fotografias nítidas, das
resoluções
O professor estará disponível para esclarecimentos de dúvidas durante o período das
aulas (das 19:00 até as 22:30), pelas ferramentas disponíveis (Chat do Uceff Conect e
por e-mail, uma vez que devido ao alto tráfego na internet durante este tempo de
quarentenas, o chat pode não funcionar à contento, assim o bom e velho e-mail pode
nos ajudar).
Sugiro evitar o uso do WhatsApp para tirar dúvidas comigo, pois devido à grande
quantidade de pessoas em quarentena, o tráfego nesta ferramenta anda bastante
congestionado.
O conteúdo da próxima aula está sendo disponibilizado juntamente com o conteúdo
desta semana, mas as perguntas a serem respondidas somente serão disponibilizadas
no dia 01/04.
Ainda segundo Carnot, o rendimento de um ciclo termodinâmico (h) será dado pela
relação entre o trabalho produzido (W) e o calor cedido pela fonte quente (Qq).
𝑊
𝜂𝑇 =
𝑄𝑞
Como o trabalho (W) é a diferença entre o calor cedido (Q q)e o calor recebido (Qc),
temos:
𝑄𝑞 − 𝑄𝑐
𝜂𝑇 =
𝑄𝑞
Logo:
𝑄𝑐
𝜂𝑇 = 1−
𝑄𝑞
Conceitos básicos:
Num motor de combustão interna, a fonte quente é o calor produzido pela oxidação
(combustão) do combustível, e a fonte fria é o meio ambiente, que recebe o calor
remanescente do processo, presente nos gases da combustão ou absorvido pelas
partes do motor e irradiado para o meio pelo sistema de refrigeração do motor.
Os motores de combustão interna operam segundo dois ciclos termodinâmicos:
O ciclo Otto e o ciclo Diesel.
Primeiramente vamos nos familiarizar com alguns termos que iremos empregar nos
nossos estudos, de agora em diante. As duas figuras abaixo mostram detalhes de um
cilindro de um motor e os principais elementos do sistema.
No início do processo o pistão está no seu ponto morto superior, ou seja o espaço entre
o pistão, as paredes do cilindro e o cabeçote (que forma a tampa do cilindro) é mínimo.
No início do 1o tempo (admissão) a válvula de admissão abre, permitindo a entrada de
ar e combustível e o pistão inicia o movimento descendente, até o ponto morto inferior,
que é o ponto onde o espaço entre o pistão, as paredes do cilindro e o cabeçote é
máximo. Durante este movimento o espaço entre o pistão, o cilindro (camisa) e o
cabeçote é preenchido por uma mistura de ar e combustível.
No 2o tempo (compressão) a válvula de admissão é fechada e o pistão descreve o
movimento ascendente, até o seu ponto morto superior, comprimindo a mistura ar e
combustível. Com a compressão a temperatura dessa mistura aumenta, propiciando
uma combustão mais rápida.
Neste ponto, o volume formado entre o pistão, a camisa e o cabeçote é chamado de
câmara de combustão.
No início do 3o tempo (expansão) é gerada a centelha, provocando uma combustão
muito rápida. Com a combustão, a temperatura dos gases da combustão aumenta,
provocando sua expansão e produzindo um aumento significativo da pressão no interior
da câmara de combustão.
Esta pressão exercida instantaneamente sobre o pistão provoca o seu movimento
descendente, até o seu ponto morto inferior.
No 4o tempo (descarga) a válvula de descarga é aberta, liberando a passagem dos
gases da combustão, diminuindo a pressão remanescente dentro do cilindro. O pistão
descreve um movimento ascendente, terminando de expulsar os gases da combustão
de dentro do cilindro.
Já por sua vez, o funcionamento básico de um motor que opera segundo o ciclo Diesel
tem algumas peculiaridades em relação ao que vimos no ciclo anterior
Funcionamento de cada tempo um motor ciclo Diesel é mostrado na figura abaixo:
No gráfico que descreve as relações entre pressão e volume no ciclo Diesel, podemos
observar que a pressão dentro da câmara de combustão permanece constante, durante
todo o tempo da combustão, mesmo com o pistão já se deslocando do ponto morto
superior ao ponto morto inferior. A posição do pistão ao fim da combustão dependerá
do projeto de cada motor especificamente. Também temos uma rápida queda da
pressão interna no momento da abertura da válvula de descarga, similar ao que ocorre
no motor ciclo Otto.
Como temos apenas ar comprimido dentro da câmara de combustão e como o
combustível utilizado tem velocidade de chama mais baixa, no ciclo Diesel podemos
operar com pressões mais elevadas (e consequentemente temperaturas mais altas)
dentro da câmara de combustão, ao final do processo de compressão.
Vale observar que, termodinamicamente em ambos os ciclos, as transformações dos
gases nos tempos de compressão (linha 1-2) é considerada uma compressão
adiabática e o de expansão (linhas 3-4) é considerada uma expansão adiabática, ou
seja, com entropias constantes.
Obs: Foi postado juntamente com este material um vídeo bastante didático, de
autoria do prof. Stefanelli, mostrando os gráficos P x V simultâneos para os dois
ciclos termodinâmicos, e a posição do pistão em cada etapa do ciclo.
Este vídeo também está disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EriMTRQnXSE
Taxa de compressão: ( r ) ou ( r )
Uma das características mais importantes do funcionamento de um motor, seja qual for
o seu ciclo de funcionamento, é a taxa de compressão. Mais adiante veremos a
influência desta característica no rendimento e no desempenho de cada motor.
O volume entre o pistão, o cilindro e o cabeçote quando o pistão está posicionado no
ponto morto superior é chamado de VPMS ou V2.
O volume entre o pistão, o cilindro e o cabeçote, quando o pistão está posicionado no
ponto morto inferior é chamado de VPMI ou V1.
A relação entre o volume no ponto morto inferior e o volume no ponto morto superior é
chamada de taxa de compressão (r ou r)
Prof.Me. Eng. Marcellus Fontenelle
marcellus.fontenelle@gmail.com
𝑉𝑃𝑀𝐼
𝑟=
𝑉𝑃𝑀𝑆
Ou
𝑉1
𝑟=
𝑉2
Relações Volumétricas em Motores de Combustão Interna.
Quando buscamos dados técnicos de um motor, o fabricante irá informar a cilindrada
total, a taxa de compressão, o curso do pistão, o diâmetro do pistão e o número de
cilindros. Onde essas informações são utilizadas?
Anteriormente falamos no Ponto Morto Superior e Ponto Morto Inferior, como
referências no movimento do pistão em um motor de combustão interna.
Pois bem, em motores que operam segundo os dois ciclos, quando o pistão está em
seu ponto morto superior (é o ponto onde termina o movimento ascendente do pistão e
ele inicia o movimento descendente e neste ponto o pistão está parado) o espaço entre
o pistão, o cilindro (ou camisa) e o cabeçote (tampa do cilindro) é chamada de câmara
de combustão e recebe o nome de Vpms ou V2.
Por sua vez, quando o pistão estiver no seu ponto morto inferior (é o ponto onde termina
o movimento descendente do pistão e ele inicia o movimento ascendente e neste ponto,
também a velocidade é zero, ou seja, ele também estará parado) o volume
compreendido entre o pistão, o cilindro e o cabeçote é chamado Vpmi ou V4.
𝑉𝐷 = 𝑉 𝑃𝑀𝐼 − 𝑉𝑃𝑀𝑆
Ou:
𝑉𝐷 = 𝑉 1 − 𝑉2
𝑉1 = 𝑉 𝐷 + 𝑉2
Sabendo-se que a taxa de compressão é dada por:
𝑉1
𝑟=
𝑉2
Podemos substituir:
𝑉 𝐷 + 𝑉2
𝑟=
𝑉2
Ou :
𝑉𝐷
𝑟= +1
𝑉2
𝐶𝑖𝑙 = 𝑛 . 𝑉𝐷
A energia absorvida pelo ciclo é fornecida pelo calor da combustão (Qe), e no gráfico
essa energia é representada pelas linhas 2-3 e o calor dissipado ao meio (Q s) é
representado pelas linhas 4-5 dos gráficos.
1
𝜂𝑇 = 1 −
𝑟 𝑘−1
Onde k é a relação entre o calor específico a pressão constante (cp) e o calor específico
a volume constante (cv) da mistura ar + combustível.
𝑐𝑝
𝑘=
𝑐𝑣
Para uma gasolina de boa qualidade (PCI = 10.500 kcal/kg), os calores específicos da
mistura podem ser obtidos pelas formulas:
𝑐𝑝 = 0,230 + .0,000075. (273 + 𝑇)
𝑐𝑣 = 0,161 + 0,0000075. (273 + 𝑇)
Onde T é a temperatura média do combustível no interior do cilindro, desde a aspiração
até antes de iniciar a combustão. Esta temperatura pode ser calculada à partir da
equação geral dos gases e da taxa de compressão do motor:
𝑃 .𝑉 = 𝑛 . 𝑅 .𝑇
Podemos concluir que a eficiência final de um motor de combustão interna será muito
menor que o rendimento termodinâmico do ciclo. Atualmente a engenharia mecânica
busca reduzir as perdas nestes aspectos, uma vez que o rendimento termodinâmico é
determinado apenas pelas relações volumétricas do ciclo e não permitem muitas
variações que sejam tecnicamente viáveis.
Independentemente do número de cilindros e da disposição destes cilindros, na
construção do motor, o rendimento termodinâmico deste motor irá depender destas
relações volumétricas (taxa de compressão) de apenas 1 pistão e de cada ciclo.
Conforme a quantidade de cilindros, disposição destes cilindros, e muitos outros
fatores, teremos variações significativas nas outras perdas envolvidas no
funcionamento de um motor de combustão interna.
Considerações:
Como já foi visto, os motores ciclo Otto operam com combustíveis mais voláteis e
consequentemente com maior propensão a iniciar a combustão em condições não
muito diversas das condições ambientais. Isto limita a taxa de compressão utilizada em
motores ciclo Otto a valores pouco superior a 11 (a Ferrari F355 Spider F1 tem taxa de
compressão 11) Com taxas de compressão elevadas, temos pressões mais
significativas na câmara de combustão, e consequentemente maiores temperaturas.
Uma vez expostos a temperaturas mais altas e na presença do ar, a maioria dos
combustíveis iniciarão a combustão sem a presença da faísca e provavelmente antes
do ponto correto.
Um dos parâmetros de qualidade de um combustível para motores ciclo Otto é a sua
capacidade de suportar pressões e temperaturas mais altas sem entrar em auto-
detonação. Esse parâmetro é medido pelo seu Número de Octanas (NO) do
combustível. Quanto menor o número de octanas deste combustível, menor será a taxa
de compressão do motor que utilizará este combustível.
Por sua vez, os motores ciclo Diesel operam com combustíveis de maior tensão
superficial e menos voláteis, que podem ser expostos à pressões e temperaturas mais
altas, sem iniciar a combustão. Por esta razão os motores ciclo Diesel conseguem
operar com taxas de compressão mais altas, podendo chegar a 21, em alguns casos.
Estas taxas de compressão mais altas, via de regra, fazem com que os motores ciclo
Diesel apresentem rendimentos termodinâmicos superiores aos apresentados pelos
motores ciclo Otto.