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Capítulo VIII – Sistemas de Potência a Gás

9.1 – Apresentação da terminologia do Motor.


O calibre do motor é o seu diâmetro. O curso é a distância que o pistão que se
move em uma direção. Diz-se que o pistão está no ponto morto superior quando ele se
moveu até uma posição em que o volume do cilindro é um mínimo. Esse volume
mínimo é conhecido como volume morto. Quando o pistão se moveu até a posição de
volume máximo do cilindro, ele se encontra no ponto morto inferior. O volume
percorrido pelo pistão quando se move do ponto morto superior ao ponto morto inferior
é o volume morto de deslocamento. A taxa de compressão (r) é definida como o
volume no ponto morto inferior dividido pelo volume no ponto morto superior.
Em um motor quatro tempos o pistão executa quatro cursos distintos dentro do
cilindro para cada duas rotações do eixo de manivelas.

1. Com a válvula de admissão aberta, o pistão executa um curso de admissão quando


aspira uma carga fresca. No caso de motores com ignição, a carga, é uma mistura de
ar e combustível. Para motores com ignição por compressão a carga é somente ar.

2. Com ambas as válvulas fechadas, o pistão passa por um curso de compressão,


elevando a temperatura e a pressão da carga. Esta fase exige o fornecimento de
trabalho do pistão para o conteúdo do cilindro. Inicia-se então um processo de
combustão que resulta em uma mistura gasosa de alta pressão e alta temperatura. A
combustão é induzida através da vela próxima ao final do curso de compressão nos
motores com ignição. Nos motores com ignição por compressão, a combustão é
iniciada pela injeção de combustível no ar quente comprimido, começando próximo ao
final do curso de compressão e continuando através da primeira etapa da expansão.

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3. O curso de potência vem em seguida ao curso de compressão, durante o qual a
mistura gasosa se expande e é realizado trabalho sobre o pistão a medida que este
retorna ao ponto morto inferior.
4. O pistão então executa um ciclo de escape no qual os gases queimados são
expulsos do cilindro através da válvula de escape aberta.

OBS: Embora os motores de combustão interna percorram ciclos mecânicos, o


conteúdo do cilindro não executa um ciclo termodinâmico, uma vez que é introduzida
matéria com uma composição e essa matéria é posteriormente descarregada com
uma composição diferente.

A pressão media efetiva (pme) é a pressão constante teórica que, se atuasse


no pistão durante o curso de potência, produziria o mesmo trabalho líquido que é
realmente produzidoem um ciclo. Ou seja,

ANÁLISE DE AR-PADRÃO

É uma simplificação que possibilita uma análise termodinâmica elementar de


motores de combustão interna. Considerações,

1. Uma quantidade fixa de ar modelado como gás ideal é o fluido de trabalho.


2. O processo de combustão é substituído por uma transferência de calor de uma
fonte externa.
3. Não existem os processos de admissão e descarga como no motor real. O ciclo se
completa comum processo de transferência de calor a volume constante enquanto o
pistão está no ponto morto inferior.
4. Todos os processos são internamente reversíveis.

Além disso, em uma análise de AR-PADRÃO FRIO, os calores específicos são


considerados constantes nos seus valores para temperatura ambiente. Com uma
análise de ar-padrão, evitamos lidar com a complexidade do processo de combustão e
com a mudança de composição durante a combustão.
Uma análise ar-padrão permite que os motores sejam examinados apenas
qualitativamente.

9.2 – Ciclo de Ar-Padrão Otto.


É um ciclo ideal que considera que a adição de calor ocorre instantaneamente
enquanto o pistão se encontra no ponto morto superior. Consiste em quatro processos
internamente reversíveis em série:

O processo 1-2 é uma compressão isoentrópica do ar conforme o pistão se move do


ponto inferior para o ponto superior.
O processo 2-3 é uma transferência de calor a volume constante para o ar a partir de
uma fonte externa enquanto o pistão está no ponto superior. Esse processo tem a
intenção de representar a ignição da mistura ar-combustível e a queima rápida que se
segue.
O processo 3-4 é uma expansão isoentrópica (curso de potência)
O processo 4-1 completa o ciclo através de um processo a volume constante no qual
o calor é rejeitado pelo ar conforme o pistão está no ponto morto inferior.

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ANÁLISE DO CICLO

As expressões para as transferências de energia são obtidas pela simplificação


do balanço de energia do sistema fechado desprezando variações de EC e EP.
Resultando em,

OBS: Ao escrever as eqs. 9.2, nos afastamos da nossa convenção de sinais habitual
para calor e trabalho. Assim W 12 /m é um número positivo que representa o trabalho
fornecido durante a compressão e Q 41 /m é um número positivo que representa o
calor rejeitado no processo 4-1. O trabalho do ciclo é expresso por

ou

A eficiência térmica é a razão entre trabalho líquido do ciclo e o calor


adicionado.

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Para resolver as eqs anteriores há duas opções,

I- Tabelas de ar - As relações a seguir baseadas na eq. 6.42 aplicam-se aos


processos isoentrópicos 1-2 e 3-4. O parâmetro v r é tabelado versus a temperatura
para o ar nas tabelas A-22.

II – Análise em uma base de ar-padrão frio – Utiliza-se expressões baseadas nas eqs
6.44 parra os processos isoentrópicos.

EFEITO DA TAXA DE COMPRESSÃO NO DESEMPENHO

No diagrama T-s, abaixo, vemos que um aumento na taxa de compressão


muda o ciclo de 1-2-3-4-1 para 1-2’-3’-4-1. Uma vez que a temperatura média de
fornecimento de calor é maior no último ciclo e ambos os ciclos têm o mesmo
processo de rejeição de calor, o ciclo 1-2’-3’-4-1 teria a maior eficiência térmica.

Para c v constante, a eq 9.3 fica

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das eqs. 9.6 e 9.7,

então

A eq. anterior sugere que é vantajoso para os motores de combustão interna


possuírem razões de compressão elevadas, e este é o caso. Porém a possibilidade de
auto-ignição ou “detonação”, estabelece um limite superior para a taxa de compressão
de motores com ignição por centelha. Depois de a centelha incendiar uma parte da
mistura ar-combustível o aumento da pressão que acompanha a combustão comprime
o resto da carga. A auto-ignição pode ocorrer se a temperatura da mistura não
queimada torna-se muito alta antes de a mistura ser consumida pela frente de chama.
Uma vez que a temperatura atingida pela mistura ar-combustível durante o curso de
compressão aumenta conforme a taxa de compressão aumenta, a possibilidade de
ocorrência de auto-ignição aumenta com a taxa de compressão. A auto-ignição pode
resultar em ondas de alta pressão no cilindro (manifestada por um som de batida) que
pode levar a perda de potência , bem como a danos no motor. Os combustíveis
formulados com chumbo tetraetila são resistentes a auto-ignição e assim permitem
razões de compressão relativamente altas. A gasolina sem chumbo, de uso comum
hoje em dia, devido a preocupações ambientais acerca da poluição do ar, limita as
taxas de compressão de motores com ignição por centelha a aproximadamente 9.
Taxas de compressão mais elevadas podem ser obtidas em motores de ignição por
compressão porque somente ar é comprimido. Taxas de compressão na faixa de 12 a
20 são típicas. Os motores com ignição por compressão podem também usar
combustíveis menos refinados que possuem maiores temperaturas de ignição do que
os combustíveis voláteis requeridos pelos motores de ignição por centelha.

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9.3 – Ciclo de Ar-Padrão Diesel.

O ciclo de ar-padrão Diesel é o ciclo ideal que considera que a adição de calor
ocorre durante um processo a pressão constante. Consiste em quatro processos
internamente reversíveis em série. Os processos 1-2 e 4-1 são os mesmos do ciclo
Otto. O processo 2-3 também constitui a primeira parte do curso de potência. Uma
expansão isoentrópica, processo 3-4 é o restante do curso de potência.

ANÁLISE DO CICLO

O processo 2-3 envolve tanto trabalho como calor,

Aplicando um balanço de energia para sistema fechado, temos

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Como no ciclo Otto, o calor rejeitado no processo 4-1 é dado por

A eficiência térmica é a razão entre o trabalho líquido do ciclo e o calor


adicionado

OBS: Da mesma forma que para o ciclo Otto, a eficiência térmica do ciclo Diesel
aumenta com a taxa de compressão.
Para resolver a eq. anterior devemos encontrar u1, u 4, h2 e h 3. Para uma dada
temperatura T 1 e taxa de compressão, r , T 2 pode ser pode ser encontrada por meio
da seguinte relação isoentrópica e dados para ur .

Para p3= p2 a eq de estado de gás ideal resulta em,

onde r c =V 3 /V 2 é a razão de corte.

Em uma análise do ar-padrão frio, temos

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EFEITO DA TAXA DE COMPRESSÃO NO DESEMPENHO

Em uma base de ar-padrão frio, a eficiência térmica pode ser expressa como

A eq 9.13 difere da eq. 9.8 apenas pelo termo entre colchetes, o qual para r c >1
é maios que a unidade. Assim, quando a taxa de compressão é a mesma, a eficiência
térmica do ciclo de ar-padrão frio Diesel seria menor que aquela para o ciclo ar-padrão
frio Otto.

9.5 – Modelando Instalações de Potência com Turbinas a Gás.

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Uma idealização frequentemente utilizada no estudo de instalações de potência
com turbina a gás é a de uma análise de ar-padrão. Considerações,

1. Ofluido de trabalho é o ar, o qual se comporta como um gás ideal.


2. O aumento de temperatura que resultaria da combustão é realizado através de uma
transferência de calor de uma fonte externa.

OBS: Este modelamento fornece apenas Indicações qualitativas do desempenho de


instalações de potência.
9.6 – Ciclo de Ar-Padrão Brayton

Com as idealizações do ar-padrão, o ar entraria no compressor no estado 1 a


partir das vizinhanças e mais tarde retornaria para as vizinhanças no estado 4 com

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uma temperatura maior do que a temperatura ambiente. Após interagir com as
vizinhanças, cada unidade de massa do ar descarregado finalmente retornaria ao
mesmo estado do ar que entra no compressor, de forma que podemos pensar no ar
que passa através dos componentes da turbina a gás como se ocorresse um ciclo
termodinâmico. Uma representação simplificada dos estados percorridos pelo ar, em
um ciclo como este, pode ser imaginada considerando-se o ar de saída da turbina
como retornando ao estado na entrada do compressor por intermédio de sua
passagem através de um trocador de calor, onde ocorre rejeição de calor para as
vizinhanças. O ciclo resultante dessa idealização complementar ,e chamado de ciclo
de ar-padrão Brayton.

9.6.1 – Calculando as Transferências de Calor e Trabalho Principais

Em regime permanente, por simplificação dos balanços das taxas de energia e


de massa do volume de controle temos

onde bwr é a razão de trabalho reverso.

OBS: Para o mesmo aumento de pressão, um compressor de uma turbina a gás


necessitaria de um fornecimento muito maior de trabalho por unidade de massa
escoando do que a bomba de uma instalação de potência a vapor, porque o volume
médio do gás que escoa pelo compressor seria muitas vezes maior que o do líquido

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que passa pela bomba. Razões bwr típicas para turbinas a gás variam de 40 a 80%.
Em comparação, bwr para turbinas a vapor são normalmente 1 ou 2% apenas.

Nas eqs. anteriores as entalpias podem ser encontradas a partir das tabelas A-
22 se as temperaturas forem obtidas para cada estado. Alternativamente,
considerando calores específicos constantes, podemos utilizar a analise de ar-padrão
frio.
Como as eqs. 9.15 a 9.20 foram desenvolvidas a partir de balanços das taxas
de massa e de energia, elas se aplicam igualmente quando irreversibilidades estão
presentes e na ausência de irreversibilidades.

9.6.2 – Ciclo de Ar-Padrão Ideal Brayton.

Ignorando as irreversibilidades associadas à circulação do ar pelos vários


componentes do ciclo Brayton, não há perda de carga por atrito e o ar escoa a
pressão constante pelos trocadores de calor. Se perdas por transferências de calor
para o ambiente também forem ignoradas, os processos através da turbina e do
compressor são isoentrópicos, fig. 9.10 abaixo,

Para os processos isoentrópicos,

Quando um ciclo Brayton ideal é analisado com base em ar-padrão frio

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EFEITO DA RELAÇÃO DE COMPR
ESSÃO SOBRE O DESEMPENHO

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