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Manual de referência do HEC-RAS (Tradução parcial e não oficial)

Research · November 2018

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Francisco Thibério Pinheiro Leitão


Universidade Federal do Ceará
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MANUAL DE REFERÊNCIA
DO HEC-RAS (TRADUÇÃO
PARCIAL)
Tradução não oficial

Thibério Leitão
thiberioleitao@gmail.com
1 Base Teórica para Modelagem Hidrodinâmica Unidimensional e Bidimensional

1.1 Fluxo permanente 1D


HEC-RAS, atualmente, é capaz de realizar o cálculo dos perfis de água em 1D para fluxo
permanente gradualmente variável in canais naturais ou construídos. Regimes supercríticos,
críticos e subcríticos podem ser calculados. Tópicos discutidos nesta seção incluem: equações
básicas para o cálculo de perfis; subdivisão da seção transversal para cálculo da capacidade de
transporte; composição no número 𝑛 para o canal principal; estimativa da carga hidráulica
média da velocidade (coeficiente alpha como fator de peso da velocidade); estimativa das
perdas por fricção; perdas por contração e expansão; procedimentos computacionais;
determinação da profundidade crítica; aplicações da equação do momento; entrada de ar em
rios com altas velocidade; e limitações do modelo de fluxo permanente.

1.1.1 Equações para o cálculo dos perfis de água


Os perfis da superfície de água são computados de uma seção para outra resolvendo a
equação da energia iterativamente através do método “Standard Step”. A equação de energia
é escrita da seguinte forma:

2
𝛼𝑖+1 𝑉𝑖+1 𝛼𝑖 𝑉𝑖2
𝑍𝑖+1 + 𝑌𝑖+1 + = 𝑍𝑖 + 𝑌𝑖 + + ℎ𝑒 1-1
2𝑔 2𝑔
Em que:
𝑍𝑖 , 𝑍𝑖+1 : elevação do talvegue dos canais

𝑌𝑖 , 𝑌𝑖+1 : profundidades da água nas seções transversais

𝑉𝑖2 , 𝑉𝑖+1
2
: velocidades médias

𝛼𝑖 , 𝛼𝑖+1 : coeficientes de ponderação das velocidades

𝑔: aceleração da gravidade
ℎ𝑒 : perdas de carga de energia
A perda de carga de energia entre duas seções transversais é formada pelas perdas de
fricção e perdas de contração e expansão. A equação para perdas de energia é a seguinte:

𝛼𝑖+1 𝑉2𝑖+1 𝛼𝑖 𝑉2𝑖


ℎ𝑒 = 𝐿𝑆𝑓̅ + 𝐶 | − | 1-2
2𝑔 2𝑔

Em que:
𝐿Δ𝑖 : comprimento ponderado com base na vazão

𝑆𝑓̅ Δ𝑖 : inclinação da perda de carga por fricção entre duas seções


𝐶: coeficiente de contração e expansão
O comprimento ponderado é calculado como:

𝐿𝑙𝑜𝑏 𝑄̅𝑙𝑜𝑏 + 𝐿𝑐ℎ 𝑄̅𝑐ℎ + 𝐿𝑟𝑜𝑏 𝑄̅𝑟𝑜𝑏


𝐿= 1-3
𝑄̅𝑙𝑜𝑏 + 𝑄̅𝑙𝑜𝑏 + 𝑄̅𝑙𝑜𝑏

Em que:
𝐿𝑙𝑜𝑏 , 𝐿𝑐ℎ , 𝐿𝑟𝑜𝑏 : distância entre as seções transversais para planície de inundação a
esquerda, canal principal e planície de inundação a direita, respectivamente.

𝑄̅𝑙𝑜𝑏 , 𝑄̅𝑐ℎ , 𝑄̅𝑟𝑜𝑏 : média aritmética entre as seções transverais para planície esquerda,
canal principal e planície direita, respectivamente.

1.1.2 Subdivisão da seção transversal para calcular a capacidade de transporte


A determinação da capacidade de transporte e coeficiente de ponderação da velocidade
para uma seção transversal requer que o fluxo seja subdivido em unidades nas quais as
velocidades são uniformemente distribuídas. A abordagem utilizada no HEC-RAS é dividir o
fluxo em área de planície de inundação utilizando pontos de quebras com base no valo 𝑛
(lugares onde o valor de 𝑛 muda) como base para subdivisão. A capacidade de transporte é em
cada subdivisão através da equação de Manning:
2
𝐴𝑅 3 1-4
𝐾=
𝑛

1
𝑄= 𝐾𝑆𝑓2 1-5

Em que:
𝐾: capacidade de transporte
𝑛: coeficiente de rugosidade de Manning
𝐴: área da seção transversal
𝑅: raio hidráulico
𝑆𝑓 : inclinação da linha de energia

O programa soma todas as capacidades de suporte para a planícies para obter a


capacidade equivalente para planície de inundação esquerda e direita. O canal principal,
normalmente, é computado como uma única capacidade de suporte. A capacidade total de
suporte é a soma das três capacidades (esquerda, canal e direita).
Figura 1-1 - Composição da seção transversal – método padrão

Um método alternativo que está disponível no HEC-RAS é calcular a capacidade de


transporte entre cada coordenada da área de planície de inundação (Figura 1-2). As
capacidades individuais são somadas para obter a capacidade total para área de planície de
inundação.

Figura 1-2 - Composição da seção transversal – método alternativo

Os dois métodos irão produzir resultados diferentes sempre que porções das planícies
de inundação tiverem terrenos com grandes inclinações. De forma geral, o método padrão do
HEC-RAS irá produzir resultados com menores capacidades de suporte para mesmas elevações
superfícies de água.

1.2 Procedimento Computacional


A determinação da elevação da superfície da água é determinada através de um processo
iterativo utilizando as equações 1-1 e 1-2. O procedimento computacional é o seguinte:

1. Assumir uma elevação da superfície da seção a montante 𝑊𝑆𝑖+1 (ou jusante se
um perfil supercrítico está sendo calculado)
2. Baseado nessa elevação, determinar a capacidade de transporte e carga
hidráulica dinâmica
3. Com os valores do passo anterior, calcular 𝑆𝑓̅ e ℎ𝑒
4. Com os valores dos passos anteriores, resolver a equação 1-2 para elevação da
superfície 𝑊𝑆𝑖+1
5. Comparar o valor calculado 𝑊𝑆𝑖+1 com o valor assumido no passo inicial; repetir
os passos de 1-5 até que esteja com uma precisão de 0.003m, ou uma tolerância
definida pelo usuário
1.3 Fluxo não permanente 1D
Os princípios básicos que governam o escoamento da água em rios são os seguintes: (1)
princípio da conservação da massa, e (2) princípio da conservação do momento. Esses
princípios são expressos matematicamente na forma de equações diferenciais parciais, serão
daqui para frente referidas como equações da continuidade e do momento.

1.3.1 Equação Continuidade


Considere o elemento de volume de controle mostrado na Figura 1-3. Pela figura, a
distância é medida ao longo do canal, conforme mostrado. No ponto central do volume de
controle a vazão e a área total de fluxo são denotados por 𝑄(𝑥, 𝑡) e 𝐴𝑇 , respectivamente. A
área total de fluxo é a soma da área ativa 𝐴 e a de armazenagem fora do canal 𝑆.

Figura 1-3 - Elemento de Controle

O princípio da conservação de massa para o volume de controle estabelece a taxa líquida


de fluxo que entra no volume é igual a taxa de mudança do armazenamento no volume. A
vazão que entra no volume é dada por:

𝜕𝑄 Δ𝑥
𝑄− 1-6
𝜕𝑥 2
A vazão que saí do volume de controle é dada por:

𝜕𝑄 Δ𝑥
𝑄+ 1-7
𝜕𝑥 2
E a taxa de mudança no armazenamento é dada por:
𝜕𝐴𝑇
Δ𝑥 1-8
𝜕𝑡
Assumindo que Δ𝑥 é pequeno, a mudança de massa no volume de controle é dada por:

𝜕𝐴𝑇 𝜕𝑄 Δ𝑥 𝜕𝑄 Δ𝑥
𝜌 Δ𝑥 = 𝜌 [(𝑄 − ) − (𝑄 + ) + 𝑄𝑙 ] 1-9
𝜕𝑡 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2
Em que 𝑄𝑙 é a vazão lateral entrando no volume de controle e 𝜌 é a densidade do fluido.
Simplificando e dividindo por 𝜌Δ𝑥 resulta na forma final da equação de continuidade:

𝜕𝐴𝑇 𝜕𝑄
+ − 𝑄𝑙 = 0 1-10
𝜕𝑡 𝜕𝑥
1.3.2 Conservação do momento
O princípio da conservação do momento é expresso pela segunda lei de Newton:

𝑑𝑴
∑𝑭 = 1-11
𝑑𝑡
Esse princípio aplicado para um volume de controle estabelece que a taxa líquida de
entrada no volume de controle (fluxo de momento) mais a soma das forças externas agindo no
volume de controle é igual a taxa de acumulação do momento. Esse é uma quantidade vetorial
aplicada no eixo x. O fluxo de momento é a massa do fluido multiplicado pelo vetor de
velocidade na direção do fluxo. Três forças serão consideradas: (1) pressão, (2) gravidade, (3)
força de fricção.
Força de pressão: A Figura 1-4 ilustra o caso geral de uma seção transversal irregular. A
distribuição de pressão é assumida hidrostática (varia linearmente com a profundidade) e a
força de pressão total é a integral do produto da pressão pela área em toda a área da seção
transversal. Conforme Shames(1962), as forças de pressão em qualquer ponto podem ser
escritas como:

𝐹𝑃 = ∫ 𝜌𝑔(ℎ − 𝑦)𝑇(𝑦)𝑑𝑦 1-12
0
Em que ℎ é a profundidade, 𝑦 é a distância acima do talvegue do canal e 𝑇(𝑦) uma função
de largura que relaciona a largura da seção transversal.
Figura 1-4 - Ilustração de termos associados a força de pressão

Se 𝐹𝑃 é a força de pressão no ponto médio do volume de controle, então a força na seção


a montante é dada por:

𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃 − 1-13
𝜕𝑥 2
E a força na seção a jusante é dada por:

𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃 + 1-14
𝜕𝑥 2
Dessa forma, a soma das forças atuantes no volume de controle pode ser escrita da
seguinte forma:

𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥 𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃𝑛 = |𝐹𝑃 − | − |𝐹𝑃 + | + 𝐹𝐵 1-15
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2

Em que 𝐹𝑃𝑛 é a força de pressão líquida agindo no volume de controle, e 𝐹𝐵 é a força


exercida pela lateral do canal (banks) no fluido. Diferenciando a equação 1-12 usando a regra
de Leibnitz’s e substituindo o resultado na equação 1-15:

𝜕ℎ ℎ ℎ
𝜕𝑇(𝑦)
𝐹𝑃𝑛 = −𝜌𝑔Δ𝑥 [ ∫ 𝑇(𝑦)𝑑𝑦 + ∫ (ℎ − 𝑦) 𝑑𝑦] + 𝐹𝐵 1-16
𝜕𝑥 0 0 𝜕𝑥
A primeira integral na equação é a área da seção transversal, A. A segunda integral
(multiplicada por 𝜌𝑔Δ𝑥) é a força de pressão exercida pelo fluido na área lateral do canal
(banks), que é exatamente igual em magnitude, mas em sentido oposto a 𝐹𝐵 . Assim, a força de
pressão líquida pode ser escrita como:

𝜕ℎ
𝐹𝑃𝑛 = −𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥 1-17
𝜕𝑥
Força gravitacional: A força devido a ação da gravidade no fluido no volume de controle
na direção é dada por:
𝐹𝑔 = 𝜌𝑔𝐴𝑠𝑖𝑛(𝜃)Δ𝑥 1-18

Em que 𝜃 é o ângulo que o talvegue do canal faz com a horizontal. Para rios naturais 𝜃 é
𝜕𝑍𝑜
pequeno e 𝑠𝑖𝑛𝜃 = 𝑡𝑎𝑛𝜃 = − , em que 𝑍𝑜 é a elevação do talvegue. Dessa forma, a força
𝜕𝑥
gravitacional pode ser escrita como:

𝜕𝑧𝑜
𝐹𝑔 = −𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥 1-19
𝜕𝑥
Essa força será positiva para inclinações negativa.
Força de fricção: A força de fricção entre o canal e o fluido pode ser escrita da seguinte
forma:

𝐹𝑓 = −𝜏𝑜 𝑃Δ𝑥 1-20

Em que 𝜏𝑜 é a tensão cisalhante média agindo no contorno do fluido, e 𝑃 é o perímetro


molhado. O sinal negativo indica que quando l fluxo for na direção x, a força terá direção
contrária. Pela análise dimensional, 𝜏𝑜 pode ser escrita em termos de um coeficiente de arrasto
𝐶𝐷 , da seguinte forma:

𝜏𝑜 = 𝜌𝐶𝐷 𝑉 2 1-21

O coeficiente de arrasto pode ser relacionado com o coeficiente de Chezy da seguinte


forma:
𝑔
𝐶𝐷 = 1-22
𝐶2
Ainda, a equação de Chezy pode ser escrita como:

𝑉 = 𝐶 √𝑅𝑆𝑓 1-23

Substituindo as equações 1-23, 1-22 e 1-21 na equação 1-20, tem-se a seguinte equação:

𝐹𝑓 = −𝜌𝑔𝐴𝑆𝑓 Δ𝑥 1-24

Onde 𝑆𝑓 é a inclinação da linha de perda de carga, que é positiva para o fluxo na direção
positiva de x. Essa inclinação deve ser relacionada com a vazão e carga hidráulica.
Tradicionalmente, as equações de Manning e Chezy são utilizadas. Como a equação de
Manning é predominantemente usado nos Estados Unidos, é também utilizada no HEC-RAS.
Esta equação pode ser escrita da seguinte forma:

𝑄|𝑄|𝑛2
𝑆𝑓 = 4 1-25
2.208𝑅 3 𝐴2
Em que 𝑅 é o raio hidráulico e 𝑛 é o coeficiente de fricção e Manning.
Fluxo de momento: Com as três forças definidas, falta apenas o fluxo de momento. O
fluxo de momento entrando no volume de controle pode ser escrito como:

𝜕(𝑄𝑉) Δ𝑥
𝜌 [𝑄𝑉 − ] 1-26
𝜕𝑥 2
O fluxo saindo do volume de controle pode ser escrito como:
𝜕(𝑄𝑉) Δ𝑥
𝜌 [𝑄𝑉 + ] 1-27
𝜕𝑥 2
Dessa forma, a taxa líquida de momento (fluxo de momento) entrando no volume de
controle é:

𝜌𝜕(𝑄𝑉)

Δ𝑥 1-28
𝜕𝑥
Como o momento do fluido do volume de controle é 𝜌𝑄Δ𝑥 1, a taxa de acumulação do
momento pode ser escrita como:

𝜕(𝜌𝑄Δ𝑥) 𝜕𝑄
= 𝜌Δ𝑥 1-29
𝜕𝑡 𝜕𝑡
Lembrando o princípio da conservação do momento:
A taxa líquida de entrada do momento (fluxo de momento) entrando no volume de
controle (1-28) mais a soma de todas as forças externas agindo no volume[(1-17) + (1-19) +
(1-24)] é igual a taxa de acumulação de momento (1-29)
Logo:

𝜕𝑄 𝜌𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧𝑜 𝜕ℎ
𝜌Δ𝑥 = (− Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴𝑆𝑓 Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥) 1-30
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥

A elevação da superfície da água, 𝑧, é igual a 𝑧𝑜 + ℎ. Logo:

𝜕𝑧 𝜕ℎ 𝜕𝑧𝑜
= + 1-31
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑧
Em que 𝜕𝑥 é a inclinação da superfície da água. Substituindo (1-31) em (1-30), dividindo
por 𝜌Δ𝑥 e movendo todos os termos para esquerda, implica na forma final da equação do
momento:

𝜕𝑄 𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝑆𝑓 ) = 0 1-32
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥

1 Δ𝑥
𝑀 = 𝑚𝑉 = 𝜌∀ = 𝜌𝑄Δ𝑥
Δ𝑡
1.3.3 Aplicações das equações do regime não permanente 1D
A Figura 1-5 ilustra as características bidimensionais da interação entre o canal e a
planície de inundação. Quando o nível da água está subindo, ela move-se lateralmente,
afastando-se do canal, inundando e preenchendo áreas de armazenamento. Quando a
profundidade aumenta, a agua planície de inundação começa a ser transportada para jusante
em um caminho menor que o percorrido ao longo do canal. Quando o nível de água está caindo,
a água move-se para dentro do canal, suplementando a vazão no canal principal.

Figura 1-5 – Comportamento do fluxo no canal e na planície

Como a direção principal do fluxo é orientada ao longo do canal, esse campo de fluxo
bidimensional pode frequentemente ser aproximado por uma representação unidimensional.
AS áreas laterais do canal principal podem ser modeladas como regiões de armazenamento
que trocam água com o canal. O fluxo na área de planície de inundação por ser aproximado
como um fluxo através de um canal separado.
Essa situação de canal/planície pode ser abordada de diferentes formas. Uma abordagem
comum é ignorar a capacidade de transporta da planície totalmente, assumindo que a planície
de inundação é utilizada somente como armazenamento. Essa hipótese pode ser razoável para
grandes rios, como o Rio Mississippi onde o canal é confinado por contenções laterais e o
restante da planície é ou densamente vegetada ou área de armazenamento. Fread (1976) e
Shames (1962) abordaram dividindo o sistema em dois canais separados e escrevendo as
equações da continuidade do momento para cada canal. Para simplificar o problema, eles
assumiram a superfície da água horizontal para cada seção transversal normal a direção do
fluxo, de tal forma que a troca de momento entre o canal e a planície de inundação seria
negligenciável e a vazão seria distribuída de acordo com a capacidade de transporte, isto é:

𝑄𝑐 = 𝜙𝑄 1-33

Em que:
𝑄𝑐 : vazão no canal;
𝑄: vazão total;
𝜙 = 𝐾𝑐 /(𝐾𝑐 + 𝐾𝑓 ) ;

𝐾𝑐 : capacidade de transporte do canal;

𝐾𝑓 : capacidade de transporte da planície de inundação

Com essas considerações, as equações unidimensionais do movimento podem ser


combinadas em um único conjunto:

𝜕𝐴 𝜕(𝜙𝑄) 𝜕(1 − 𝜙)𝑄


+ + =0 1-34
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑓

𝜙 2 𝑄2 (1 − 𝜙)2 𝑄 2
𝜕 ( ) 𝜕( 𝐴𝑓 )
𝜕𝑄 𝐴𝑐 𝜕𝑧 𝜕𝑧 1-35
+ + + 𝑔𝐴𝑐 [ + 𝑆𝑓𝑐 ] + 𝑔𝐴𝑓 [ + 𝑆𝑓𝑓 ] = 0
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑐

Em que os subscritos 𝑐 e 𝑓 referem-se ao canal e à planície de inundação


respectivamente. Essas equações foram aproximadas usando o método das diferenças finitas
implícito, e o sistema foi resolvido utilizando a técnico de Newton-Raphson. O modelo foi bem-
sucedido e produziu os resultados esperados nos testes. Entretanto, oscilações numéricas
podem ocorrer quando a vazão em um nó, no contorno de uma célula, está na
ribanceira/margem (banks) e a vazão em outro nó não está.
Expandindo os trabalhos de Fread e Smith, Barkau (1982) manipulou as equações de
diferenças finitas para o canal e planície de inundação e definiu um novo conjunto de equações
mais convenientes numericamente. Utilizando um fator de distribuição de velocidade, ele
combinou os termos convectivos. Ademais, definindo o caminho de fluxo equivalente, Barkau
(1982) substituiu os termos de inclinação da fricção (linha de perda de carga) por termos de
força equivalente.
Essas equações derivadas por Barkau são a base para a solução das equações do regime
não permanente no HEC-RAS. Essas equações foram derivadas acima. A solução numérica
dessas equações é apresentada na seção seguinte.

1.3.4 Esquema de solução implícita


O método mais bem-sucedido e aceito para a solução das equações do fluxo não
permanente unidimensional é o do esquema implícito de quatro pontos, também conhecido
como box scheme (Figura 1-6). Nesse método, derivadas espaciais e valores de funções são
estimados com base em um ponto interior, (𝑛 + 𝜃)Δt. Assim, valores em (𝑛 + 1)Δt entram
em todos os termos das equações. Para cada trecho de rio, resulta em um sistema simultâneo
de equações. A simultaneidade da solução é um importante aspecto desse método, pois
permite que a informação de todo o trecho do rio influencie a solução em qualquer outro
ponto. Consequentemente, o tempo de cálculo pode ser bem maior do que os métodos
explícitos. A análise de estabilidade de Von Neumann realizada por Fread (1974) e Liggett &
Cunge (1975) mostraram que o método implícito é teoricamente incondicionalmente estável
para 0.5 < 𝜃 ≤ 1.0, condicionalmente estável para 𝜃 = 0.5 e instável para 𝜃 < 0.5. Em estudo
de convergência realizado pelos mesmos autores, foi mostrado que que há um incremento no
amortecimento numérico com a diminuição da relação 𝜆/Δ𝑥, em que 𝜆 é o comprimento da
onda hidráulica do sistema. Para problemas de propagação em rios em que os comprimentos
de onda são grandes em relação a distância espacial, convergência não é um problema sério.
Na prática, outros fatores podem contribuir para a não estabilidade do método de
solução. Entre esses fatores, incluem-se as mudanças dramáticas nas propriedades das seções
transversais do canal, mudanças abruptas de inclinação, características da onda de inundação
e estruturas hidráulicas complexas como contenções laterais, pontes, bueiros e vertedouros.
De fato, estes outros fatores normalmente superam qualquer consideração de estabilidade em
relação ao coeficiente 𝜃. Por causa desses fatores, qualquer modelo aplicado deve ser
acompanhado por um estudo de sensibilidade, em que a precisão e estabilidade da solução são
testados com vários intervalos de tempo e distâncias espaciais.
As equações gerais para forma implícita são dadas pelas equações 1-36 a 1-38, conforme Fread
(1974).
1. Derivada em relação ao tempo

𝑡+Δ𝑡 𝑡
𝜕𝑓 𝛥𝑡 𝑓 (𝑓𝑥+Δx + 𝑓𝑥𝑡+Δ𝑡 ) − (𝑓𝑥+Δ𝑥 + 𝑓𝑥𝑡 )
= = 1-36
𝜕𝑡 Δ𝑡 2Δ𝑡
2. Derivada espacial

𝑡+𝛥𝑡 𝑡
𝜕𝑓 𝛥𝑥 𝑓 (𝑓𝑥+𝛥𝑥 − 𝑓𝑥𝑡+𝛥𝑡 ) (𝑓𝑥+𝛥𝑥 − 𝑓𝑥𝑡 )
= =𝜃 + (1 − 𝜃) 1-37
𝜕𝑥 Δ𝑡 𝛥𝑥 𝛥𝑥
3. Valor da função

𝑡+𝛥𝑡 )
(𝑓𝑥𝑡+𝛥𝑡 + 𝑓𝑥+𝛥𝑥 𝑡
(𝑓𝑥𝑡 + 𝑓𝑥+𝛥𝑥 )
𝑓𝑥𝑡 = 𝑓 ̅ = 𝜃 + (1 − 𝜃) 1-38
2 2
Figura 1-6 - Esquema de quatro pontos (box scheme)

1.3.4.1 Equação da continuidade


A equação da continuidade descreve a conservação da massa para o sistema
unidimensional. Conforme desenvolvido anteriormente e adicionando um termo referente ao
armazenamento 𝑆, essa equação pode ser escrita como:

𝜕𝐴 𝜕𝑆 𝜕𝑄
+ + − 𝑞𝑙 = 0 1-39
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑥
Em que 𝑆 é um termo associado a partes da seção transversal que não tem capacidade
de transporte.
A equação acima pode ser escrita para o canal e planície de inundação da seguinte forma:

𝜕𝐴𝑐 𝜕𝑄𝑐
+ = 𝑞𝑓 1-40
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐

𝜕𝐴𝑓 𝜕𝑄𝑓 𝜕𝑆
+ + = 𝑞𝑐−𝑓 + 𝑞𝑙 1-41
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑡
Em que 𝑞𝑓 é a troca de vazão lateral da planície para o canal principal e 𝑞𝑐−𝑓 do canal
para planície; 𝑞𝑙 é a vazão de entrada lateral por unidade de comprimento na planície de
inundação.
O sistema computacional HEC-RAS combina as propriedades das planícies de inundação
a esquerda e direita em um único elemento chamado de planície de inundação. As
propriedades das planícies são computadas combinando a parte esquerda e direita da planície
em relações: elevação vs área, capacidade de transporte e armazenamento em um único grupo
de relações para parte da planície de inundação da seção transversal. O comprimento do trecho
de rio utilizado para modelagem da planície é computado através da média aritmética das
𝐿𝑅 +𝐿𝐿
planícies a esquerda e direita = 𝐿𝐹 . Esta média é utilizada na equação da continuidade e
2
do momento par calcular os respectivos termos para a planície de inundação combinada
(planície esquerda e direita juntas). Isso é diferente do que é feito no modelo do Regime
Permanente, no qual as planícies de inundação esquerda e direita são tratadas completamente
separadas.
As equações 1-40 e 1-41 são aproximadas utilizando o método das diferenças finitas
implícito, aplicando as equações 1-36 à 1-38:

Δt 𝐴𝑐 Δx 𝑄𝑐
+ = 𝑞̅𝑓 1-42
Δ𝑡 Δ𝑥𝑐

Δt 𝐴𝑓 Δx 𝑄𝑓 Δt 𝑆
+ + = 𝑞̅𝑐 + 𝑞̅𝑙 1-43
Δ𝑡 Δ𝑥𝑓 Δ𝑡

A troca de massa entre o canal e a planície de inundação é igual em módulo, mas de sinal
oposto, de tal forma que: Δ𝑥𝑐 𝑞̅𝑐 = −Δ𝑥𝑓 𝑞̅𝑓 . Adicionando as equações acima e rearranjando os
temos, temos que:

Δt 𝐴𝑐 Δt 𝐴𝑓 Δt 𝑆
Δ𝑥𝑐 + Δ𝑥𝑓 + Δx 𝑄𝑐 + Δx 𝑄𝑓 + Δ𝑥 − 𝑄̅𝑙 = 0 1-44
Δ𝑡 Δ𝑡 Δ𝑡 𝑓
Em que:
𝑄̅𝑙 : vazão lateral média

Δ𝑥𝑐 : é o comprimento do canal principal entre duas seções transverais

Δ𝑥𝑓 : é o comprimento da planície de inundação entre duas seções transversais (computada como
média aritmética dos comprimentos das planícies esquerda e direita).

1.3.4.2 Equação do momento


A equação do momento estabelece que a taxa de mudança no momento é igual às forças
externas agindo no sistema. Pelo desenvolvido anteriormente, temos que:
𝜕𝑄 𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝑆𝑓 ) = 0 1-45
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥
Essa equação pode ser reescrita para o canal e planície de inundação da seguinte forma:

𝜕𝑄𝑐 𝜕(𝑄𝑐 𝑉𝑐 ) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑐 ( + 𝑆𝑓𝑐 ) = 𝑀𝑓−𝑐 1-46
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑐

𝜕𝑄𝑓 𝜕(𝑄𝑓 𝑉𝑓 ) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑓 ( + 𝑆𝑓𝑓 ) = 𝑀𝑐−𝑓 1-47
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑥𝑓
Em que 𝑀𝑓−𝑐 e 𝑀𝑐−𝑓 são os fluxos de momento por unidade de comprimento trocados
da planície de inundação para o canal (𝑀𝑓−𝑐 ) e do canal para planície (𝑀𝑐−𝑓 ). Percebe-se que
nas equações 1-46 e 1-47 a elevação da superfície da água não possui um subscrito. Isso
decorre da hipótese que a superfície da água é horizontal para qualquer seção transversal
perpendicular ao fluxo. Assim, essa elevação é a mesma para o canal principal e para planície
de inundação.
Essas são aproximadas utilizando o método das diferenças finitas implícito, aplicando as
equações 1-36 à 1-38, temos que:

Δt 𝑄𝑐 Δx (𝑄𝑐 𝑉𝑐 ) Δ𝑧
+ + 𝑔𝐴̅𝑐 ( ̅ )=𝑀
+ 𝑆𝑓𝑐 ̅𝑓−𝑐 1-48
Δ𝑡 Δ𝑥𝑐 Δ𝑥𝑐

Δt 𝑄𝑓 Δx (𝑄𝑓 𝑉𝑓 ) Δ𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑓̅ ( ̅ )=𝑀
+ 𝑆𝑓𝑓 ̅𝑐−𝑓 1-49
Δ𝑡 Δ𝑥𝑓 Δ𝑥𝑓
̅𝑓−𝑐 =
Note que, pela hipótese de mesma elevação de superfície da água, Δ𝑥𝑐 𝑀
̅𝑐−𝑓 . Adicionando as equações acima e rearranjando os termos:
−Δ𝑥𝑓 𝑀

Δt (𝑄𝑐 Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 )


+ Δx (𝑄𝑐 𝑉𝑐 + 𝑄𝑓 𝑉𝑓 ) + 𝑔Δ𝑧(𝐴̅𝑐 + 𝐴𝑓̅ ) + 𝑔(𝐴̅𝑐 𝑆𝑓𝑐
̅ Δ𝑥𝑐 + 𝐴𝑓̅ 𝑆𝑓𝑓
̅ Δ𝑥𝑓 ) = 0 1-50
Δ𝑡
O termo final refere-se as forças de fricção do terreno sobre o fluido. Uma força
equivalente pode ser definida como:

𝑔𝐴̅𝑆𝑓̅ Δ𝑥𝑒 = 𝑔(𝐴̅𝑐 𝑆𝑓𝑐


̅ Δ𝑥𝑐 + 𝐴𝑓̅ 𝑆𝑓𝑓
̅ Δ𝑥𝑓 ) 1-51

Em que:
Δ𝑥𝑒 : o caminho de fluxo equivalente

𝑆𝑓 : perda de carga para toda seção transversal

𝐴̅: 𝐴̅𝑐 + 𝐴𝑓̅


Além disso, os termos convectivos podem ser reescritos definindo o fator de distribuição
de velocidade:

𝑉𝑐2 𝐴2𝑐 + 𝑉𝑓2 𝐴𝑓 𝑉𝑐 𝑄 + 𝑉𝑓 𝑄


𝛽= = 1-52
𝑉 2𝐴 𝑄𝑉

Assim:

Δx (𝛽𝑉𝑄) = Δx (𝑉𝑐 𝑄) + Δx (𝑉𝑓 𝑄) 1-53

Substituindo na equação do momento, temos que:

Δt (𝑄𝑐 Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 )


+ Δx (𝛽𝑉𝑄) + 𝑔Δ𝑧𝐴̅ + 𝑔𝐴̅𝑆𝑓̅ Δ𝑥𝑒 = 0 1-54
Δ𝑡
Uma forma mais familiar é obtida dividindo-se por Δ𝑥𝑒 :

Δt (𝑄𝑐 Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 ) Δx (𝛽𝑉𝑄) Δ𝑧


+ + 𝑔𝐴̅ ( + 𝑆𝑓̅ ) = 0 1-55
Δ𝑡Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒

1.3.4.3 Termo adicional de força


As forças de fricção e pressão nem sempre descrevem todas as forças que agem na água.
Estruturas como pontes, barragens navegáveis, ensecadeiras de barragens são exemplos de
elementos de comprimem o fluxo e exercem uma força externa na água oposta ao fluxo. Em
áreas localizadas, essas forças podem predominar e produzir significante aumento na elevação
da superfície da água a montante da estrutura (curva de remanso).
Para uma distância diferencial 𝑑𝑥, a força adicional na contração produz uma variação na
profundidade da água de 𝑑ℎ𝑙 . Essa variação é associada unicamente às forças adicionais. A taxa
de perda de energia pode ser expressa como a inclinação local:

𝑑ℎ𝑙
𝑆ℎ = 1-56
𝑑𝑥
Adicionando esse termo na equação do momento (1-45):

𝜕𝑄 𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝑆𝑓 + 𝑆ℎ ) = 0 1-57
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥
Para o fluxo permanente há inúmeras relações para o cálculo da variação da superfície
da água a montante da contração. Para barragens navegáveis, existem as fórmulas de
Kindsvater & Carter (1957) e Nagler (1917). Para pontes, as formulas de Yarnell (1934) e da
Agência Federal de Rodovias FHWA (1978) podem ser usadas. Essas fórmulas foram
determinadas através de experimentos e podem ser expressas na seguinte forma geral:
𝑉2
ℎ𝑙 = 𝐶 1-58
2𝑔
Em que ℎ𝑙 é a perda de carga e 𝐶 é um coeficiente. Este coeficiente é função da
velocidade, profunidade e propriedades geométricas da abertura, mas, por simplificação, é
assumido ser constante. O local em que a velocidade é estimada varia de método para método.
Normalmente, a velocidade é estimada a jusante da estrutura (tailwater) para fluxo subcrítico
e a montante da estrutura (headwater) para fluxo supercrítico na contração.

Se ℎ𝑙 ocorre ao longo de uma distância Δ𝑥𝑒 , então, ℎ𝑙 = 𝑆ℎ̅ Δ𝑥𝑒 e 𝑆ℎ̅ = ℎ𝑙 /Δ𝑥𝑒 , em que
𝑆ℎ̅ é a inclinação média ao longo de Δ𝑥𝑒 . No HEC-RAS, as rotinas para fluxo permanente ao
longo de pontes e bueiros são utilizadas para computar uma famila de curvas específicas para
estruturas. Durante a simulação, para uma dada vazão e altura a jusante, a elevação a montante
é estimada com base nas curvas. A diferença entre as elevações a montante e jusante é igual a
ℎ𝑙 e, então, 𝑆ℎ̅ é calculado. O resultado é inserido na equação do momento na forma de
diferenças finitas (1-55), resultando na seguinte forma:

Δt (𝑄𝑐 Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 ) Δx (𝛽𝑉𝑄) Δ𝑧


+ + 𝑔𝐴̅ ( + 𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ ) = 0 1-59
Δ𝑡Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒

1.3.4.4 Fluxo lateral do momento


A junção de rios, o momento assim como a massa de um rio tributário entra no rio
receptor. Se esse momento não é incluído na equação do momento, essa massa de fluído que
entra fica sem momento e, por causa disso, deve ser acelerada pelo fluxo no rio. A falta de
momento na massa que entra causa um acréscimo nos termos convectivos de aceleração
𝜕(𝑉𝑄)/𝜕𝑥. Para equilibrar a variação espacial do momento, a inclinação do talvegue do rio
deve ser suficiente para fornecer aceleração ao fluido. Assim, a superfície da água tem uma
queda ao longo do rio no qual a água entra, criando o efeito de remanso a montante da junção
no rio principal. Quando a vazão no rio tributário é grande em relação ao rio que está
recebendo, a troca de momento pode ser significante. O momento entrando é o seguinte:

𝑄𝑙 𝑉𝑙
𝑀𝑙 = 𝜉 1-60
Δ𝑥
Em que:
𝑄𝑙 : fluxo lateral entrando
𝑉𝑙 : velocidade média do fluxo lateral
𝜉: fração do momento entrando do rio receptor
O momento que está entrando é adicionado ao lado direito da equação (1-59),
resultando na equação 1-61.

Δt (𝑄𝑐 Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 ) Δx (𝛽𝑉𝑄) Δ𝑧 𝑄𝑙 𝑉𝑙


+ + 𝑔𝐴̅ ( + 𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ ) = 𝜉 1-61
Δ𝑡Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒 Δ𝑥
1.3.4.5 Forma das diferenças finitas aplicadas as equações de fluxo não permanente
As equações de conservação na forma implícita são aplicadas nas equações 1-44 e 1-55.
Se o esquema de diferenças finitas é aplicado, resulta em um sistema não linear de equações.
Amein & Fang (1970), Fread (1974, 1976) e outros resolveram esse sistema por meio do
método de Newton-Raphson. Além do fato de ser relativamente lento, o esquema iterativo
pode ter problemas de convergência nas descontinuidades do rio. Para evitar a não linearidade,
Preissman - conforme reportado por Liggett e Cunge (1975) e Chen (1973) - desenvolveu uma
técnica para linearizar as equações. A seção seguinte explica como esse procedimento foi
aplicado no HEC-RAS.
1.3.4.6 Equação de diferenças finitas linearizadas
As seguintes hipóteses são aplicadas:
1. Se 𝑓 ∙ 𝑓 ≫ Δ𝑓 ∙ Δ𝑓, então Δ𝑓 ∙ Δ𝑓 = 0 (Preissmann, conforme reportado por Liggett e
Cunge (1975)
2. Se 𝑓 = 𝑓(𝑄, 𝑧), então Δ𝑧 pode ser aproximado pelo primeiro termo da expansão da
série de Taylor, isto é:

𝜕𝑔 𝜕𝑔
Δ𝑔𝑗 = ( ) Δ𝑄𝑗 + ( ) Δ𝑧𝑗 1-62
𝜕𝑄 𝑗 𝜕𝑧 𝑗
3. Se o intervalo de tempo, Δ𝑡, é pequeno, então certas variáveis podem ser tratadas
explicitamente, logo:

𝑘𝑗𝑛+1 = 𝑘𝑗𝑛 ⇒ Δ𝑘𝑗 ≈ 0 1-63

A hipótese 2 é aplicada para a inclinação da fricção, 𝑆𝑓 , e para área 𝐴. A hipótese 3 é


aplicada para a velocidade 𝑉 no termo convectivo; o fator de distribuição de velocidade 𝛽; o
caminho de fluxo equivalente, 𝑥; e o coeficiente de distribuição de fluxo, 𝜙.
As equações de diferenças finitas são aproximadas conforme listado termo a termo para
equação da continuidade na tabela Tabela 1-1 e para a equação no momento na Tabela 1-2. Se
os parâmetros não conhecidos são agrupados no lado esquerdo, têm-se as seguintes equações
lineares:

𝐶𝑄1𝑗 Δ𝑄𝑗 + 𝐶𝑍1𝑗 Δ𝑧𝑗 + 𝐶𝑄2𝑗 Δ𝑄𝑗+1 + 𝐶𝑍2𝑗 Δ𝑧𝑗+1 = 𝐶𝐵𝑗 1-64

𝑀𝑄1𝑗 Δ𝑄𝑗 + 𝑀𝑍1𝑗 Δ𝑧𝑗 + 𝑀𝑄2𝑗 Δ𝑄𝑗+1 + 𝑀𝑍2𝑗 Δ𝑧𝑗+1 = 𝑀𝐵𝑗 1-65
Tabela 1-1 - Aproximação dos termos da equação da continuidade por diferenças finitas

Termo Aproximação por diferenças finitas


Δx 𝑄 (𝑄𝑗+1 − 𝑄𝑗 ) + 𝜃(Δ𝑄𝑗+1 − Δ𝑄𝑗 )
𝑑𝐴𝑐 𝑑𝐴
𝜕𝐴𝑐 [( ) Δ𝑧 + ( 𝑐 ) Δ𝑧𝑗+1 ]
Δ𝑥𝑐 𝑑𝑧 𝑗 𝑗 𝑑𝑧 𝑗+1
𝜕𝑡 0.5Δ𝑥𝑐𝑗
Δ𝑡
𝑑𝐴𝑓 𝑑𝐴𝑓
𝜕𝐴𝑓 [( ) Δ𝑧 + ( ) Δ𝑧 ]
Δ𝑥𝑓 𝑑𝑧 𝑗 𝑗 𝑑𝑧 𝑗+1 𝑗+1
𝜕𝑡 0.5Δ𝑥𝑓𝑗
Δ𝑡
𝑑𝐴𝑓 𝑑𝐴𝑓
𝜕𝑆 [( ) Δ𝑧 + ( ) Δ𝑧 ]
Δ𝑥 𝑑𝑧 𝑗 𝑗 𝑑𝑧 𝑗+1 𝑗+1
𝜕𝑡 𝑓 0.5Δ𝑥𝑓𝑗
Δ𝑡

Tabela 1-2 -Aproximação dos termos da equação da continuidade por diferenças finitas

Termo Aproximação por diferenças finitas


∂(Qc Δ𝑥𝑐 + 𝑄𝑓 Δ𝑥𝑓 ) 0.5
(𝜕𝑄𝑐𝑗 Δ𝑥𝑐𝑗 + 𝜕𝑄𝑓𝑗 Δ𝑥𝑓𝑗 + 𝜕𝑄𝑐𝑗+1 Δ𝑥𝑐𝑗 + 𝜕𝑄𝑓𝑗+1 Δ𝑥𝑓𝑗
𝜕𝑡Δ𝑥 Δ𝑥𝑒 𝜕𝑡
Δ(𝛽𝑉𝑄) 1 𝜃
[(𝐵𝑉𝑄)𝑗+1 − (𝐵𝑉𝑄)𝑗 ] + [(𝐵𝑉𝑄)𝑗+1 − (𝐵𝑉𝑄)𝑗
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗

(Δ𝑧) 𝑧𝑗+1 − 𝑧𝑗 𝜃 (𝑧𝑗+1 − 𝑧𝑗 )


𝑔𝐴̅ 𝑔𝐴̅ [ + (Δ𝑧𝑗+1 − Δ𝑧𝑗 )] + 𝜃𝑔Δ𝐴̅
Δ𝑥𝑒 Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗

𝑔𝐴̅(𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ ) + 0,5𝜃𝐴̅[(𝑆𝑓𝑗+1


̅ ̅ ) + (𝑆ℎ𝑗+1
+ 𝑆𝑓𝑗 ̅ ̅ )]
+ 𝑆ℎ𝑗
𝑔𝐴̅(𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ )
+ 0,5𝜃(𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ )(Δ𝐴𝑗 + Δ𝐴𝑗+1
𝐴̅ 0,5(𝐴𝑗+1 + 𝐴𝑗 )
𝑆𝑓̅ 0,5(𝑆𝑓𝑗+1 + 𝑆𝑓𝑗 )
𝑑𝐴
𝜕𝐴𝑗 ( ) Δ𝑧𝑗
𝑑𝑍 𝑗
2𝑆𝑓 𝑑𝐾 2𝑆𝑓
𝜕𝑆𝑓𝑗 (− ) Δ𝑧 + ( ) Δ𝑄𝑗
𝐾 𝑑𝑧 𝑗 𝑄 𝑗
𝜕𝐴̅ 0,5(Δ𝐴𝑗 + Δ𝐴𝑗+1 )

Tabela 1-3 - Coeficientes da equação da continuidade

Coeficiente Valor
𝜃
CQ1j −
Δ𝑥𝑒𝑗
0,5 𝑑𝐴𝑐 𝑑𝐴𝑓 𝑑𝑆
𝐶𝑍1𝑗 [( ) Δ𝑥𝑐𝑗 + ( + ) Δ𝑥𝑓𝑗 ]
ΔtΔ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 𝑗 𝑑𝑧 𝑑𝑧 𝑗

𝜃
𝐶𝑄2𝑗
Δ𝑥𝑒𝑗

0,5 𝑑𝐴𝑐 𝑑𝐴𝑓 𝑑𝑆


𝐶𝑍2𝑗 [( ) Δ𝑥𝑐𝑗 + ( + ) Δ𝑥𝑓𝑗 ]
ΔtΔ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 𝑗+1 𝑑𝑧 𝑑𝑧 𝑗+1
𝑄𝑗+1 − 𝑄𝑗 𝑄𝑗
𝐶𝐵𝑗 − +
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗

Tabela 1-4 - Coeficientes da equação do momento

Termo Aproximação por diferenças finitas


Δ𝑥𝑐𝑗 + 𝜙𝑗 + Δ𝑥𝑓𝑗 (1 − 𝜙𝑗 ) 𝛽𝑗 𝑉𝑗 𝜃 𝜃𝑔𝐴̅(𝑆𝑓𝑗 + 𝑆ℎ𝑗 )
𝑀𝑄1𝑗 0,5 − +
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑡 Δ𝑥𝑒𝑗 𝑄𝑗
𝑔𝐴𝜃 𝑑𝐴 𝜃 𝑑𝐾 𝑆𝑓𝑗 𝑑𝐴 𝑆ℎ𝑗
𝑀𝑍1𝑗 − + 0,5𝑔(𝑧𝑗+1 − 𝑧𝑗 ) ( ) ( ) − 𝑔𝜃𝐴̅ [( ) ( ) + ( ) ( )]
Δ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 Δ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 𝑗 𝐾𝑗 𝑑𝑧 𝑗 𝐴𝑗

1 𝜃 𝜃𝑔𝐴
𝑀𝑄2𝑗 0,5[Δ𝑥𝑐𝑗 𝜙𝑗+1 + Δ𝑐𝑗 (1 − 𝜙𝑗+1 )] ( ) + 𝛽𝑗+1 𝑉𝑗+1 ( )+ (𝑆 𝑆 )
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑡 Δ𝑥𝑒𝑗 𝑄𝑗+1 𝑓𝑗+1 ℎ𝑗+1

𝑔𝐴̅𝜃 𝑑𝐴 𝜃 𝑑𝐾 𝑆𝑓𝑗+1 𝑑𝐴 𝑆ℎ𝑗+1


+ 0,5 𝑔(𝑧𝑗+1 − 𝑧𝑗 ) ( ) ( ) − 𝜃𝑔𝐴̅ [( ) ( )+( ) + ]
Δ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 𝑗+1 Δxej 𝑑𝑧 𝑗+1 𝐾𝑗+1 𝑑𝑧 𝑗+1 𝐴𝑗+1
𝑀𝑍2𝑗
𝑑𝐴
+ 0,5𝜃𝑔 ( ) (𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ )
𝑑𝑧 𝑗+1
1 𝑓𝐴̅
𝑀𝐵𝑗 −[(𝛽𝑗+1 𝑉𝑗+1 𝑄𝑗+1 − 𝛽𝑗 𝑉𝑗 𝑄𝑗 ) ( )+( ) (𝑧𝑗+1 − 𝑧𝑗 ) + 𝑔𝐴̅(𝑆𝑓̅ + 𝑆ℎ̅ )
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑥𝑒𝑗

1.4 Fator de distribuição de fluxo


A distribuição de fluxo entre o canal e a planície tem que ser determinada. A porção do
fluxo que fica no canal é dada pela equação 1-66.

𝑄𝑐𝑗
𝜙𝑗 = 1-66
𝑄𝑐𝑗 + 𝑄𝑓𝑗
Fread (1976) considerou a inclinação da linha de perda de carga sendo a mesma para o
canal e a planície, portanto, a distribuição também pode ser calculada pela equação 1-67,
utilizada no HEC-RAS.

𝐾𝑐𝑗
𝜙𝑗 = 1-67
𝐾𝑐𝑗 + 𝐾𝑓𝑗
1.5 Procedimento computacional
A solução para cálculo das elevações da água em todas as seções transversais, áreas de
armazenamento 2 áreas de fluxo 2D segue o seguinte procedimento:
1. O solver faz uma estimativa inicial da elevação da água, vazão, derivadas, etc. As
equações de fluxo não permanente são resolvidas no solver de diferenças finitas
implícito (chamado de Skyline Solver) para os nós 1D. Para áreas 2D é utilizado
uma solução algoritmo implícito de volumes finitos.
2. Todos os pontos computacionais (seções transversais, áreas de armazenamento
e células 2D) são verificados para saber se o valor computado da elevação da água
menos o valor antecedente é menor que a tolerância.
3. Se o erro é menor que a tolerância numérica, então o procedimento é finalizado
para aquele passo de tempo, considerando-a como correta e seguindo para o
próximo passo de tempo.
4. Se o erro é maior que a tolerância em qualquer ponto computacional, ele realiza
novas estimativas e resolve as equações novamente. Se durante esse processo de
iteração achar uma solução (cujo erro seja menor que a tolerância em todos os
pontos), finaliza para o passo de tempo e move para o próximo.
5. Durante esse processo (até na primeira estimativa), o programa salva a solução
que possuir menor erro como a melhor solução. as elevações da superfície da
água e vazões são salvas para todo o domínio espacial.
6. Qualquer iteração que produzir melhores resultados, mas não satisfizer os
critérios de tolerância, será salva como a melhor solução.
7. Se esse processo de solução alcançar o máximo de iterações (20 por padrão),
então é mostrado um aviso. Contudo, na solução, considera-se aquela que teve
menor erro. Também apresenta o local com maior erro numérico e a magnitude
do mesmo.
8. Isso ocorre mesmo quando, durante o processo de solução, a solução faz com
que a matriz fique completamente instável. Ainda assim, normalmente, o sistema
consegue encontrar uma estimativa que não seja instável, embora não produza
um erro menor que a tolerância.
2 Base Teórica para Modelagem 2D em Fluxo Não-Permanente
As equações de Navier-Stokes descrevem o movimento do fluxo em três dimensões. No
contexto da modelagem de rios e enchentes, simplificações a essas equações podem ser
impostas. As Equações de Águas Rasas são um conjunto de equações derivadas com base em
simplificações, como:
1. Fluxo incompressível
2. Densidade uniforme
3. Pressão hidrostática
4. Equações médias de Reynolds (Viscosidade turbulenta – Eddy viscosity)
5. Dimensão vertical é muito menor que a dimensão horizontal
a. Velocidade vertical baixa, com pressão hidrostática dominante

Mais hipóteses simplificadoras podem ser aplicadas para as Equações de Águas Rasas,
como, em alguns casos, o termo gravitacional e de fricção serem dominantes nas equações do
momento, possibilitando desconsiderar os termos de aceleração e viscosidade. A equação do
momento então toma a forma bidimensional do modelo de Onda de Difusão. Combinando esse
termo com a equação da continuidade, tem-se o conhecido modelo de Onde de Difusão para
as Equações de Águas Rasas.
Além disso, para melhorar o tempo de cálculo computacional, uma abordagem com uma
malha subjacente é utilizada. A ideia por traz disso é utilizar uma malha relativamente grosseira
e detalhar a informação espacial da topografia subjacente, conforme Casulli (2008). A equação
da continuidade é discretizada utilizando a técnica dos Volumes Finitos. Os parâmetros para
malha são calculados com base em integrais dos volumes das Células e áreas das Faces. Como
resultado, o transporte de massa leva em consideração a escala detalhada em cada Célula.
Como isso é relacionado apenas com a equação da continuidade, pode ser usada
independentemente da equação do momento. Nas seções seguintes, as equações para malha
detalhada da topografia (sub-grid) são derivadas para os modelos de Águas Rasas e Onda de
Difusão.
Neste capítulo é assumido que a elevação da superfície do terreno é dada por 𝑧(𝑥, 𝑦), a
altura da lâmina de água é dada por ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡) e que a elevação da superfície da água é dada
por 𝐻(𝑥, 𝑦, 𝑡) = 𝑧(𝑥, 𝑦) + ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡).

Figura 2-1 - Notação para cotas

2.1 Conservação da massa


Considerando que o fluxo é incompressível, a forma não-permanente da equação da
continuidade é dada pela equação 2-1.
𝜕𝐻 𝜕(ℎ𝑢) 𝜕(ℎ𝑣)
+ + +𝑞 =0 2-1
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦
Em que 𝑡 é o tempo; 𝑢 e 𝑣 são os componentes da velocidade nas direções x e y
respectivamente; 𝑞 é o termo que representa a fonte/retirada de vazão.
Na notação vetorial, a equação da continuidade é dada por 2-2.

𝜕𝐻
+ 𝛁 ∙ ℎ𝑽 + 𝑞 = 0 2-2
𝜕𝑡
𝜕 𝜕
Em que 𝑽 = (𝑢, 𝑣) é o vetor velocidade e 𝛁 = (𝜕𝑥 , 𝜕𝑦) é o operador diferencial das
derivadas parciais.
Integrando sobre uma região horizontal com vetor normal 𝒏 no contorno e usando o
Teorema da Divergência de Gauss2, a forma integral da equação da continuidade é dado por
2-3.

𝜕
∭ 𝑑Ω + ∬(𝑽 ∙ 𝒏)𝑑𝑆 + 𝑄 = 0 2-3
𝜕𝑡
Ω 𝑆
A região Ω representa o espaço tridimensional ocupado pelo fluido. As superfícies de
contorno do volume são dadas por 𝑆. É assumido que 𝑄 representa qualquer vazão que passa
pela superfície de baixo (infiltração) ou de cima (chuva ou evaporação). Esse termo também
pode ser utilizado para representar outros elementos que retiram ou jogam água do sistema,
como bombas. Convencionando-se que entradas são positivas e retiradas negativas.
A forma integral da equação da continuidade é a mais apropriada para desenvolver o
modelo de malha detalhada subjacente das seções seguintes. Nesse contexto, a região Ω irá
representar uma célula de volume finito e as integrais serão calculadas utilizando informações
da topografia detalhada.
Avanços atuais no campo do sensoriamento remoto puderam proporcionar uma alta
resolução topográfica na obtenção dos dados. Em muitos casos, os dados são muito densos
para que seja possível usar diretamente como malha no modelo. Isso representa um dilema no
qual uma malha relativamente grosseira deve produzi um resultado adequado, mas os detalhes
da topografia devem ser incorporados no modelo.
A solução para esse problema no HEC-RAS é a utilização de uma malha subjacente Casulli
(2008). As células computacionais contêm algumas informações extras, como raio hidráulico,
volume e área da seção transversal que podem ser computadas a partir da topografia
detalhada. Os detalhes de alta resolução perdidos, mas há informação suficiente para realizar
a modelagem com uma malha mais grosseira. Em muitos casos, esse método é apropriado
porque a superfície livre da água é mais suave que a da topografia, então uma malha mais
grosseira pode efetivamente ser utilizada (Figura 2-2).

2
∭Ω 𝛁 ∙ ℎ𝑽 = ∬𝑆 (𝑽 ∙ 𝒏)𝑑𝑆
Figura 2-2 - Malha computacional

A integral tripla da equação 2-3 representa o volume Ω da região que é delimitada pela
superfície da água. Assumindo que é função da elevação da superfície da água, o primeiro
termo da equação é discretizado como a equação 2-4.

𝜕 Ω(𝐻 𝑛+1 ) − Ω(𝐻 𝑛 )


∭ 𝑑Ω = 2-4
𝜕𝑡 Δ𝑡
Ω

Em que os sobrescritos são usados para indexar os passos de tempo e a diferença entre
dois passos consecutivos é Δ𝑡.
Se as células são consideradas como tendo faces poligonais, a integral de contorno da
equação 2-3 pode ser escrita como a soma sobre todas as faces da região volumétrica,
conforme equação 2-5.

∬(𝑽 ∙ 𝒏)𝑑𝑆 = ∑ 𝑽𝑘 ∙ 𝒏𝑘 𝐴𝑘 (𝐻) 2-5


𝑆 𝑘
Em que 𝑽𝑘 e 𝒏𝑘 são, respectivamente, a velocidade média na direção normal a Face e o
vetor normal a área da Face; e 𝐴𝑘 (𝐻) é a área da Face “k” em função da elevação da superfície
da água, conforme metodologia da malha subjacente (sub-grid bathymetry technique). Na
Figura 2-3, a imagem da esquerda representa o formato da Face e a da direita o gráfico da
função correspondente de elevação x área.
Figura 2-3 - Perfil da Face e Curva Área x Elevação

As equações 2-5 e 2-4 podem ser substituídas na equação 2-3, resultando na equação
2-6 para conservação da massa com o método de malha subjacente.

Ω(𝐻 𝑛+1 ) − Ω(𝐻 𝑛 )


+ ∑ 𝑽𝑘 ∙ 𝒏𝑘 𝐴𝑘 (𝐻) + 𝑄 = 0 2-6
Δ𝑡
𝑘
Percebe-se que essa equação pressupõe algum conhecimento da batimetria da malha
subjacente, principalmente, o volume da Célula Ω(𝐻) e a área da Face em função da elevação
da água 𝐴𝑘 (𝐻). Contudo, se essa informação não estiver disponível, a metodologia clássica
“box scheme” pode facilmente ser recuperada fazendo Ω(𝐻) = 𝑃 ∙ ℎ e 𝐴𝑘 (𝐻) = 𝑙𝑗 ∙ ℎ, em que
𝑃 é a área da Célula e 𝑙𝑘 é o comprimento do lado 𝑘 (ambos independentes de 𝐻) e ℎ = 𝐻 − 𝑧
é altura da água.
Algumas considerações especiais serão necessárias para células secas. Nesse caso, o
volume Ω da Célula é zero, e permanecerá assim até que ganhe volume pela vazão de entrada
ou por uma fonte. Se a Face 𝑘 da Célula está seca, então a área 𝐴𝑘 é zero e o sistema de
equações estará faltando o termo 𝑉𝑘 , ficando indefinido. Contudo, conforme mostrado nas
seções subsequentes, a equação do momento para células secas irá implicar em velocidade
zero no limite. Dessa forma, o processo de secagem e enchimento é contínuo e consistente,
embora, computacionalmente, as células secas tenham que ser tratadas como casa especial.

2.2 Conservação do momento


Quando as dimensões horizontais são muito maiores que as verticais, implica que as
velocidades verticais serão pequenas. As equações do momento de Navier-Stokes podem ser
usadas com pressão quase hidrostática. Considerando a água como incompressível,
desconsiderando as forças do vento e pressões não hidrostáticas, a equação do momento
ponderada verticalmente é adequada. As velocidades verticais e derivadas em relação ao eixo
𝑧 podem ser desconsideradas (na equação do momento e da massa). As equações de águas
rasas são obtidas.
𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝑢 𝜕𝐻 𝜕 2𝑢 𝜕 2𝑢
+𝑢 +𝑣 = −𝑔 + 𝜈𝑡 ( 2 + 2 ) − 𝑐𝑓 𝑢 + 𝑓𝑣 2-7
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑦

𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝐻 𝜕 2𝑢 𝜕 2𝑢
+𝑣 +𝑢 = −𝑔 + 𝜈𝑡 ( 2 + 2 ) − 𝑐𝑓 𝑣 + 𝑓𝑢 2-8
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦

Em que 𝑢 e 𝑣 são as velocidades no Sistema Cartesiano, g é a aceleração gravitacional,


𝑣𝑡 é o coeficiente horizontal de viscosidade, 𝑐𝑓 é o coeficiente de fricção, 𝑓 é o coeficiente de
Corolis.
O lado esquerdo das equações contém os termos de aceleração (local e advectiva). O
lado direito contém as forças internas e externas agindo no fluido.
Essas equações também podem ser apresentadas na forma vetorial em uma única
equação. A vantagem disso é torna-la mais compacta.

𝜕𝑽
+ 𝑽 ∙ 𝛁𝑽 = −𝑔𝛁𝐻 + 𝜈𝑡 𝛁 𝟐 𝑽 − 𝑐𝑓 𝑽 + 𝑓 ∙ 𝒌 × 𝑽 2-9
𝜕𝑡
Cada termo da equação tem um significado físico. Da esquerda para direita, tem-se:
aceleração local, aceleração advectiva, gradiente de pressão, difusão devido a turbulência
(Eddy difusion), fricção da superfície e termo de Coriolis.

2.2.1 Aceleração
Os termos de aceleração do lado esquerdo, podem se consolidados em um único termo
chamado de derivada total, conforme 2-40.

𝐷𝑽 𝜕𝑽
= + 𝑽 ∙ 𝛁𝑽 2-10
𝐷𝑡 𝜕𝑡
O uso dessa derivada ficará evidente nas seções subsequentes quando será visto que q
discretização reduz as restrições da condição de Courant e leva a um método de solução mais
robusto.

2.2.2 Gravidade
Se a superfície da água não é horizontal, o peso contínuo das colunas de água com
diferentes alturas irá produzir um gradiente de pressão chamado, no caso de densidade
uniforme, de gradiente de pressão barotrópico. Os efeitos de latitude afetam o valor de ± 3%,
devido a rotação da Terra e sua curvatura. Conforme 2-11 da fórmula de Somigliana.

1 + 𝑘𝑠𝑒𝑛2 𝜙
𝑔 = 𝑔𝑜 ( ) 2-11
√1 − 𝑒 2 𝑠𝑒𝑛2 𝜙
Em que 𝜙 é a latitude, 𝑔𝑜 = 9,7803266615 𝑚/𝑠² é a aceleração da gravidade no
equador, 𝑘 = 0,0019318514 é a constante gravitacional normal e 𝑒 = 0,00669438 é o
quadrado da excentricidade da Terra.
2.2.3 Viscosidade turbulenta (Eddy Viscosity)
Turbulência é um fenômeno complexo do movimento caótico dos fluidos, com escalas
de análise com grande variância. Muitas das escalas são muito pequenas para serem possíveis
de resolver com um modelo numérico discreto, de forma que o fluxo turbulento é modelado
como um processo de gradiente de difusão. Nesse processo, a taxa de difusão é convertida em
um coeficiente de viscosidade turbulenta 𝑣𝑡 .
Este coeficiente pode ser parametrizado conforme a equação 2-12.

𝑣𝑡 = 𝐷ℎ𝑢∗ 2-12

Em que 𝐷 é uma constante adimensional empírica e 𝜇∗ é a velocidade de cisalhamento,


que pode ser calculada conforme a equação 2-13.

|𝑉| 𝑛√𝑔
= 1 |𝑉|
𝑢∗ = √𝑔𝑅𝑆 = √𝑔 2-13
𝐶
𝑅 6
Em que 𝑅 é o raio hidráulico e 𝑆 é a inclinação da linha de energia, que pode ser
computada usando a formula de Manning.
A difusão é considerada isotrópica. Os valores empíricos 𝐷𝐿 e 𝐷𝑇 são considerados
idênticos. O coeficiente de mistura 𝐷 é um valor empírico que varia conforme a geometria e
superfície em contato com a água. Alguns valores de 𝐷 estão na Tabela 2-1.
Tabela 2-1 - Parâmetro da viscosidade turbulenta

D Intensidade da Mistura Geometria e Superfície


0.11 – 0.26 Mistura Fraca Canal reto e superfície suave
0.30 – 0.77 Mistura Moderada Curvas moderadas e superfície com
irregularidade moderada
2.0 – 5.0 Mistura Forte Canais sinuosos e superfícies
rugosas

2.2.4 Fricção com superfície


O coeficiente de fricção com a superfície do canal pode ser calculado conforme a equação
de Chezy (2-40).

𝑔|𝑉|
(𝑐𝑓 = ) 2-14
𝐶2𝑅

Em que 𝑔 é a aceleração da gravidade, |𝑉| é o módulo da velocidade, 𝐶 é o coeficiente


de Chézy e 𝑅 é o raio hidráulico. Percebe-se que o coeficiente de Chézy não é adimensional,
sendo medido em 𝑚1/2 /𝑠 no SI.
Resultados empíricos mostraram que essa equação pode ser relacionada com a de
Manning (medido em 𝑠/𝑚1/3 ) através da seguinte formula: 𝐶 = 𝑅1/6 /𝑛 . Substituindo, obtém-
se a equação 2-15.

𝑛2 𝑔|𝑉|
𝑐𝑓 = 4 2-15
𝑅3
2.2.5 Efeito Coriolis
O último termo na equação está relacionado com o efeito de Coriolis. Considera o fato
que a terra está em rotação ao redor de seu eixo. A componente vertical do termo de
aceleração é desconsiderada, conforme as hipóteses de água rasas. A força aparente devido a
essa rotação é dada pela equação 2-16.

𝑓 = 2𝜔𝑠𝑒𝑛𝜙 2-16

Em que 𝜔 = 0.00007292115855306587 𝑠 −1 é a velocidade angular e 𝜙 é a latitude.

2.2.6 Modelo de Onda de Difusão para Águas Rasas


Na seção anterior, a formula de Manning foi utilizada para estimar o coeficiente de Chézy.
Se maiores restrições na dinâmica do fluido são assumidas, é possível obter uma relação entre
o termo de gradiente de pressão e fricção com a superfície, levando a forma da onda de difusão.
Essa forma é útil por causa de sua simplicidade. Contudo, o escopo de sua aplicabilidade é mais
reduzido em relação a equação completa de águas rasas.
Nos fluxos com predominância dos termos de fricção e gravidade, os termos de
aceleração (advectiva e local), turbulência e Coriolis da equação do momento podem ser
desconsiderados. A equação do momento fica sendo governada pelo gradiente de pressão e
pela fricção, resultando na equação 2-17.

𝑛2 |𝑉|𝑉
4/3
= −∇𝐻 2-17
𝑅𝐻

Dividindo ambos os lados pela raiz quadrada da norma, a equação pode ser rearranjada
na forma clássica (equação 2-18).
2/3
𝑅 ∇𝐻
𝑉=− 𝐻 2-18
𝑛 |∇𝐻|1/2
Em que 𝑉 é o vetor velocidade, 𝑅 é o raio hidráulico, ∇𝐻 é o gradiente da elevação da
superfície da água e 𝑛 é o coeficiente de rugosidade de Manning.
Substituindo a equação 2-18 na equação da conservação da massa 2-2, tem-se a forma
final (equação 2-19) do modelo de Onda de Difusão para Equação de Águas Rasas.

𝜕𝐻
− ∇ ∙ 𝛽∇𝐻 + 𝑞 = 0 2-19
𝜕𝑡
5/3
𝑅𝐻
Em que: 𝛽 = 𝑛|∇𝐻|1/2

Essa equação pode ser substituída para obtenção da discretização da malha subjacente,
obtendo-se a equação 2-20.

𝛺(𝐻 𝑛+1 ) − 𝛺(𝐻 𝑛 )


− ∑ 𝛼𝛻𝐻 ∙ 𝑛 + 𝑄 = 0 2-20
𝛥𝑡
𝑘
2
3 𝐴 (𝐻)
𝑅𝐻 𝑘
Em que 𝛼 = 𝑛|∇𝐻|1/2

Uma vez resolvida essa equação, as velocidades podem ser obtidas por meio de
substituição na equação 2-18.

2.3 Malha
De modo a eficiente utilizar os métodos numéricos disponíveis, o domínio deve ser
subdividido em polígonos sem sobreposição.
O algoritmo de solução não tem nenhum limite em relação ao número de lados, contudo,
no HEC-RAS foi imposto uma condição de no máximo 8 lados para favorecer a eficiência.
Contudo, é requerido que as células sejam convexas. Importante ressaltar que a escolha da
malha afeta a eficiência, estabilidade e precisão do modelo.
Por causa da existência de derivadas de segunda ordem e da natureza diferencial entre
as variáveis, uma malha dual será necessária para modelar numericamente as equações
diferenciais. Essa malha dual cobre todo o domínio e é caracterizada pela correspondência dual
entre os nós e as células.

Figura 2-4 – Malha e malha dual


Na Figura 2-4 os nós da malha e as faces são representados por pontos e linhas sólidas
azuis; já a malha dual dos nós e lados são representados por pontos e linhas pontilhadas
vermelhas.
Do ponto de vista matemático, a malha dual poderia ser estendida até o infinito.
Contudo, do ponto de vista computacional isso é impraticável. Dessa forma, a malha dual
é truncada no encontro do contorno forma pela malha original. Tem-se que os nós duais estão
em uma correspondência um para um com um conjunto de células e faces do contorno. Por
isso, as faces de contorno são consideradas como um tipo de células artificiais sem área, mas
que são extremamente úteis para aplicar as condições de contorno.
No contexto das equações descritas, é conveniente computar numericamente a elevação
da superfície da água nas células centrais (incluindo as artificiais), a velocidade perpendicular
às Faces (determinando a vazão através da mesma) e o vetor velocidades nos pontos da Face.

2.4 Métodos numéricos


Um método de discretização híbrido combinando diferenças finitas com volumes finitos
é utilizado para tirar vantagem da ortonormalidade em malhas. O sistema de equações é
resultado utilizando o método de solução do tipo Newton-Raphson.

2.4.1 Aproximação de Diferenças Finitas


Essa equação pode ser utilizada para aproximação de derivadas como diferenças
ponderadas dos valores. Essa equação já foi utilizada para aproximar a derivada do volume em
relação ao tempo na equação da massa.

𝜕Ω Ω(𝐻 𝑛+1 ) − Ω(𝐻 𝑛 )


= 2-21
𝜕𝑡 Δ𝑡
Esse método também pode ser usado para aproximação de derivadas espaciais. Dada
duas células adjacentes 𝑗1 e 𝑗2 com elevações da água de 𝐻1 e 𝐻2 respectivamente, a derivada
direncional em direção a 𝑛′ determinada pelo centro das celulas é dada pela equação 2-22.

𝜕𝐻 (𝐻2 − 𝐻1 )
∇𝐻 ∙ 𝑛′ = = 2-22
Δ𝑛′ Δ𝑛′
Em que Δ𝑛′ é a distância entre os centros das células.
A orientação da derivada é importante. No exemplo da Figura 2-5, a derivada é orientada
da célula 𝑖1 para célula 𝑖2 . Para reverter a orientação, basta reverter a posição dos subscritos.
Figura 2-5 - Orientação da derivada

Se a direção 𝑛′ for ortonormal a Face entre as Células, a malha é dita localmente


ortonormal em relação a esta Face. Essa é a situação na imagem à esquerda da Figura 2-5.
Nesse caso, a equação 2-22 é suficiente para calcular a derivada direcional da elevação da água.
No caso geral, essa condição não é satisfeita e as diferenças finitas é complementada com uma
técnica de volumes finitos.

2.4.2 Aproximação por Volumes Finitos


Esta aproximação será utilizada quando a malha não for ortonormal ou para discretização
de determinados termos.

Figura 2-6 - Célula e Células dual - Volumes Finitos

O valor do gradiente de pressão ∇𝐻 da malha na Face é aproximado como uma média


sobre as células duais, aplicando-se o teorema da divergência para obtenção da equação 2-23.

∮𝐿 𝐻𝑛𝑑𝐿
∇𝐻 = 2-23
𝐴′
Em que 𝐿 é o contorno das Células duais e 𝐴′ é a área das Células duais, conforme a Figura
2-6. Como as células duais formam um polígono, a integral no contorno pode ser escrita como
a soma sobre todas as Faces das Células duais. A Face dual 𝑘 ′ que junta dois nós 𝑗1 e 𝑗2 contrinui
com o termo 𝑛𝑘 ′ 𝑙𝑘 ′ (𝐻1 + 𝐻2 )/2 para a integral de caminho, em que 𝑙𝑘 ′ é o comprimento da
Face dual 𝑘 ′ , 𝑛𝑘 ′ é o vetor normal para Face dual 𝑘 ′ e 𝐻1 e 𝐻2 são as elevações da superfície
da água no centro da células 𝑗1 e 𝑗2 , conforme imagem da esquerda na a Figura 2-6.
Agrupando os termos pelo índice da Célula j, a aproximação por volumes finitos do
gradiente é dada equação 2-24.

∇𝐻 ≈ ∑ 𝑐𝑗 𝐻𝑗 2-24
𝑗
Em que a soma é realizada sobre as Células duais (nós) ao redor da Face, 𝐻𝑗 é o valor da
elevação da água na Célula j e o vetor de constantes 𝑐𝑗 = (𝑛𝑘1′ 𝑙𝑘1′ + 𝑛𝑘2′ 𝑙𝑘2′ )/2𝐴′ depende da
geometria da malha local nas faces duais 𝑘1′ e 𝑘2′ do Nó j e da área da Face 𝐴′ , conforme visto
na Figura 2-6. Os valores 𝑙𝑘1′ e 𝑙𝑘2′ e os vetores unitários 𝑛𝑘1′ e 𝑛𝑘2′ representam,
respectivamente, o comprimento e a vetor normal às Faces duais 𝑘1′ e 𝑘2′ .
Derivadas direcionais em uma direção arbitrária 𝑇 ′ são computadas usando a equação
2-25.

𝜕𝐻
= ∇𝐻 ∙ 𝑇 ′ ≈ ∑ 𝑐𝑗′ 𝐻𝑗 2-25
𝜕𝑇 ′
𝑗
Em que 𝑐𝑗′ = (𝑛𝑘1′ 𝑙𝑘1′ + 𝑛𝑘2′ 𝑙𝑘2′ ) ∙ 𝑇 ′ /2𝐴′ .

Aplicando o desenvolvimento de maneira similar, mas para a malha em vez das Células
duais, o gradiente da velocidade pode ser computado para cada Célula. Isso pode ser realizado
de maneira sequencial para calcular os termos de ordem maior. Por exemplo, calculado o valor
de ∇𝑉, basta substituir novamente na equação para calcular ∇²𝑉.

2.4.3 Discretização híbrida


Conforme desenvolvido em seções anteriores, as derivadas normais às Faces de uma
malha ortonormal pode ser aproximada utilizando diferenças finitas. Se a malha não for
localmente ortonormal, as derivadas normais devem ser divididas em parcelas utilizando
diferenças finitas e volumes finitos.
Seja 𝑛 o vetor direcional normal à Face e 𝑇 = 𝒌 × 𝒏 ser a direção ortonormal à n, em
que 𝒌 é o vetor unitário na direção vertical. De modo similar, seja 𝑛′ a direção determinada
pelos centros das Células de cada lado da Face e 𝑇 ′ = 𝒌 × 𝒏 a direção ortonormal a 𝑛′ .
Com base nisso, podemos desenvolver a equação 2-26 para derivada direcional.

𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻
= (𝑛 ∙ 𝑛′ ) ′ + (𝑛 ∙ 𝑇 ′ ) ′ 2-26
𝜕𝑛 𝜕𝑛 𝜕𝑇
A primeira derivada no lado direito é computada usando diferenças finitas, enquanto que
a segunda derivada é computada usando volumes finitos.
Sabendo que a equação é linear para 𝐻, pode-se escrever a equação final 2-27.
𝜕𝐻
∇𝐻 ∙ 𝑛 = ≈ ∑ 𝑐𝑗′ 𝐻𝑗 2-27
𝜕𝑛
𝑗
Em que os coeficientes 𝑐𝑗′ são uma combinação dos termos de diferenças finitas ±1/∆𝑛′
e de volumes finitos 𝑐𝑗′ .

Fica evidente que malha ortonormais produzem uma discretização com base em dois
pontes, enquanto que uma malha não-ortonormal requerem uma quantidade de pontos maior.
Consequente, uma malha ortonormal leva a sistemas de equações que podem ser resolvidos
mais eficientemente. Uma rotina de pré-processamento é usada para identificar regiões com
malhas ortonormais, aplicando uma discretização de diferenças finitas.

2.4.4 Esquema de Solução Numérica para Onda de Difusão


O método das diferenças finitas é utilizado para discretizar as derivadas em relação ao
tempo, enquanto um esquema híbrido é utilizado para derivadas em relação ao espaço. O
método generalizado de Crank-Nicolson é usado para ponderar os termos de contribuição em
cada passo de tempo. A equação 2-20 é reescrita agrupando os termos similares e
considerando a linearidade descrita na equação 2-27.

Ω(𝐻 𝑛+1 ) + ∑ 𝛼𝑗 ((1 − 𝜃)𝐻𝑗𝑛 + 𝜃𝐻𝑗𝑛+1 ) = 𝑑 2-28


𝑗
Em que a soma é sobre todas as Células ao redor da Célula na qual a equação está sendo
calculada. Os coeficientes 𝛼𝑗 são função dos termos Δ𝑡 e 𝛼 da equação 2-20 e 𝑐𝑗′ da equação
2-25. O lado direito é dado por 𝑑 = Ω(𝐻 𝑛 ) − Δ𝑡𝑄.
Agrupando os termos que se referem a mesma Célula e movendo todos os termos do
passo de tempo 𝑛 para o lado direito da equação, tem-se o seguinte:

Ω(𝐻 𝑛+1 ) + 𝜃 ∑ 𝛼𝑗 𝐻𝑗𝑛+1 = 𝑑 − (1 − 𝜃) ∑ 𝛼𝑗 𝐻𝑗𝑛 2-29


𝑗 𝑗

Tem uma equação dessa forma para cada Célula do domínio. Esse sistema de equações
pode ser escrito na forma matricial:

𝛀(𝑯) + 𝚿𝑯 = 𝒃 2-30

Em que 𝛀 é o vetor de volumes das Células, 𝑯 é o vetor das elevações da água nas Células
no passo de tempo 𝑛 + 1, 𝚿 é a matriz de coeficientes do sistema e 𝒃 um vetor de parâmetros
conhecidos.
O Jacobiano (matriz de derivadas) de 𝛀 em relação a 𝑯 é dada pela diagonal da matriz
de superfície de água 𝑷(𝑯) para cada Célula.
Com base nisso, um sistema de iteração com base no método de Newton-Raphson 3pode
ser aplicado para resolver o sistema de equações, resultando em:

𝐻 𝑚+1 = 𝐻 𝑚 − (𝑃(𝐻 𝑚 ) + Ψ)−1 (Ω(𝐻 𝑚 ) + Ψ𝐻 𝑚 − 𝑏) 2-31

Em que 𝑚 o índice de iteração.


2.4.4.1 Robustez e Estabilidade
Esse esquema linearizado é incondicionalmente estável para 1/2 ≤ 𝜃 ≤ 1. Quando 𝜃 <
1/2, o esquema é condicionalmente estável, com base na seguinte equação:

Δ𝑡 1
2
< 2-32
Δ𝑥 2 − 4𝜃

2.4.4.2 Procedimento Computacional

1. A geometria, ortonormalidade local e batimetria subjacente são obtidos e pré-


processados
2. A solução começa com 𝐻 0 pela condição inicial no passo de tempo 𝑛 = 0
3. Condições de contorno são obtidas para o próximo passo 𝑛 + 1
4. Na interação inicial, estima-se 𝐻 𝑛+1 = 𝐻 𝑛
5. Computa-se a elevação da superfície da água ponderada em 𝜃 usando 𝐻 =
(1 − 𝜃)𝐻𝑗𝑛 + 𝜃𝐻𝑗𝑛+1 e as relações batimétricas que dependem de 𝐻 (Área das Faces,
Área da Superfície da Água, Raio Hidráulico, Manning’s, etc.)
6. Os coeficientes 𝛼𝑗 são calculados e o sistema de equações 2-30 é montado
7. Esse sistema é resolvido de modo iterativo com base no método de Newton-Raphson,
obtendo-se um determinado valor para 𝐻 𝑛+1
8. Se o valor residual corrigido for maior que a tolerância, retornar para o passo 5; senão
continuar para o próximo passo
9. As velocidades 𝑉 𝑛+1 são calculados utilizando a versão discreta da equação 2-18,
usando as equações 2-22 e 2-24.
Os passos 5-8 tem o propósito de atualizar os coeficientes de 𝛼𝑗 de forma que uma
solução não-linear é obtida para cada passo de tempo.

3 𝑓(𝑥𝑛 )
𝑥𝑛+1 = 𝑥𝑛 −
𝑓 ′(𝑥𝑛 )
2.4.5 Esquema de Solução Numérica para Águas Rasas
As equações de Navier-Stokes descrevem a mecânica dos fluidos em três dimensões. No
contexto de modelagem de canais e inundações é possível realizar simplificações para essas
equações. Um conjunto de equações simplificadas é o das Águas Rasas. São assumidas as
seguintes hipóteses: fluido incompressível; densidade uniforme; pressão hidrostática;
aproximação da turbulência pela viscosidade turbulenta (eddy viscosity); e escala vertical muito
maior que escalas horizontais.
Além disso, é possível simplificar ainda mais as equações de Águas Rasas assumindo as
seguintes hipóteses: o fluxo é controlado pelo termo de gravidade e fricção, descontando-se
os termos de aceleração (local e advectiva) e de viscosidade. Essa simplificação forma a
equação de Onda de Difusão.
Ainda, para melhorar a eficiência computacional, o método da malha subjacente pode
ser usado. A ideia dessa metodologia é usar uma malha computacional relativamente grosseira,
mas manter a qualidade original das informações do modelo de terreno (Casulli ,2008). A
equação da conservação da massa é discretizada usando o método dos volumes finitos. Os
detalhes do terreno são computados como integrais sobre o volume ou área de face. Dessa
forma, a equação do momento leva em conta os detalhes do terreno em cada célula.
Neste capítulo será assumido que: a superfície do terreno é dada por 𝑧(𝑥, 𝑦), a altura da
água é dada por ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡) e a elevação da superfície da água 𝐻(𝑥, 𝑦, 𝑡) = 𝑧(𝑥, 𝑦) + ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡).

2.4.5.1 Conservação da massa


A equação da continuidade pode ser discretizada de forma similar à da Onda de Difusão,
resultando na equação 2-23.

Ω(𝐻 𝑛+1 ) − Ω(𝐻 𝑛 )


+ ∑ ±𝐴𝑘 (𝐻)((1 − 𝜃)(𝑢𝑁 )𝑛𝑘 + 𝜃(𝑢𝑁 )𝑛+1
𝑘 )+𝑄 =0 2-33
Δ𝑡
𝑘
Em que Δ𝑡 é o intervalo de tempo e as velocidades foram interpoladas usando o método
de Crank-Nicolson. Considerando que as equações do momento são invariantes em relação a
rotações, assume-se que ±𝑢𝑁 é o vetor direcional ortonormal a Face k. O sinal da soma é
escolhido conforme a orientação.
Seguindo o mesmo procedimento utilizado para o modelo de Onda de Difusão, as
velocidades serão expressas como uma combinação linear da elevação da superfície da água
nas células vizinhas e os termos serão agrupados conforme seus índices espaciais e temporais.
2.4.5.2 Equação do momento
Como as velocidades são calculadas nas Faces, a equação do momento não é localizada
nas Células, mas nas Faces da mesma. As equações são discretizadas com base em um
procedimento semi-implícito no qual somente os termos de aceleração, gradiente de pressão
e fricção contém variáveis para as quais as equações serão resolvidas. Os demais termos da
equação serão computados como base no método 𝜃, mas sua contribuição para o passo de
tempo 𝑡 + Δ𝑡 será menor, sendo considerados como função de outros termos conhecidos.
2.4.5.2.1 Aceleração
Os termos de aceleração são discretizados usando a abordagem semi-Lagrangiana. A
forma Lagrangiana da aceleração é discretizada como uma derivada ao longo do caminho
percorrido, conforme 2-34.

𝐷𝑉 𝑉 𝑛+1 − 𝑉𝑥𝑛
= 2-34
𝐷𝑡 Δ𝑡
Em que 𝑉 𝑛+1 está localizado na Face da Célula Computacional e 𝑉𝑥𝑛 é calculada na
posição 𝑋. Essa posição é encontrada integrando o campo de velocidades voltando no tempo,
começando pela posição da Face célula computacional. Essa posição 𝑋 normalmente não
corresponde a uma Face, portanto, uma técnica de interpolação deve ser usada. Essa
interpolação geralmente não será linear, já que as Células não precisam obedecer qualquer
restrição quanto ao número de Faces. Contudo, é necessário que o algoritmo de interpolação
dê resultados consistentes no contorno das Células, independente de qual Célula seja usada
para interpolação. Por causa disso, uma técnica baseada no sistema de coordenadas
baricêntricas é implementado.
A integração da velocidade é realizada em passos usando o campo de velocidades
interpolados para cada Célula. Na prática, isso é equivalente a subdividir o intervalo de tempo
em intervalos menores com um número de Courant igual a 1 ou menos, aumentando a
robustez dos cálculos computacionais. Em contraste com a metodologia Euleriana, a
abordagem semi-Lagrangiana permite a utilização de intervalos de tempo maiores, sem causar
problemas de instabilidade e com reduzido efeito de difusão artificial.
2.4.5.2.2 Gradiente de Pressão
Relembrando que a equação do momento é calculada nos nós, mas a elevação da
superfície da água é calculada no centro da Célula. Isso faz com que a equação 2-24 seja ideal
para discretizar o termo de gradiente de pressão, segundo 2-35.

−𝑔∇𝐻 = −𝑔 ∑ 𝑐𝑗 ((1 − 𝜃)𝐻𝑗𝑛 + 𝜃𝐻𝑗𝑛+1 ) 2-35


𝑗
A soma é sobre todas as Células (nós duais) ao redor do nó e os coeficientes 𝑐𝑗 são
computados conforme equação 2-24. O termo gravitacional 𝑔 leva em consideração a variação
latitudinal especificada pela equação 2-11. Como consequência da utilização do método 𝜃, o
gradiente de pressão será dividido em duas partes: tempo implícito com peso 𝜃 e termo
implícito com peso (1 − 𝜃).
2.4.5.2.3 Viscosidade turbulenta
O termo de viscosidade turbulenta é implicitamente definido em função da elevação da
superfície da água e das velocidades. Tal coeficiente deve ser atualizado a cada iteração do
procedimento de solução.
O procedimento de cálculo começa-se calculando a velocidade de cisalhamento 𝑢∗
usando a equação --. Para esse cálculo, é necessário antes realizar os seguintes procedimentos:
1. Calcular a constante gravitacional 𝑔 usando a equação - -.
2. Para cada passo de tempo e Face, o raio hidráulico é obtido através de uma tabela
relacional, pré-processada através os dados do modelo de terreno.
3. Para cada passo de tempo e Face o coeficiente de Manning é interpolado, usando
uma tabela relacionada pré-processada
4. O vetor de velocidade é do passo de tempo anterior
Uma vez que a velocidade de cisalhamento é obtida para cada Face, as equações – e –
são usadas para calcular o tensor de viscosidade turbulenta (eddy difusion tensor). Os termos
Laplacianos serão calculados como campos, em todos os nós da malha e espacialmente
interpolados na posição 𝑋 obtida da aceleração advectiva. O campos Laplaciano é uma solução
numérica explícita e, portanto, irá depender apenas de valores computados nas passos de
tempo anteriores. Como consequência, esse campo é calculado apenas uma única vez por
passo de tempo, mesmo que a solução requeira várias iterações para convergir.
Os termos Laplacianos são calculados usando a abordagem padrão de volumes finitos.
Como a velocidade é conhecida nos nós, os gradientes podem ser calculados para as Células
através do Teorema da Divergência de Gauss.

∇𝑉 ≈ ∑ 𝑐𝑖 𝑉𝑖𝑛 2-36
𝑖
Em que a soma é realizada sobre todos os nós ao redor da célula e os coeficientes 𝑐𝑖 são
computados através das características geométricas da malha, como Área das Faces, Normais
as Faces e Comprimento das Faces. Nota-se que as velocidades são relacionados com o passo
de tempo anterior.
Uma vez calculado os gradientes, o Teoria da Divergência pode ser aplicado para a Célula
Dual.

∇2 𝑉 ≈ ∑ 𝑑𝑗 ∇𝑉𝑗 = ∑ 𝑑𝑗 (∑ 𝑐𝑖 𝑉𝑖𝑛 ) 2-37


𝑖 𝑖 𝑖

Uma equação linear é obtida expressando o Laplaciano da velocidade em um nó como


uma combinação de velocidades ao redor do nó e interpolando para qualquer local da malha.
Uma vez que o campo Laplaciano é obtido, é espacialmente interpolado usando as
coordenadas baricêntricas generalizadas para obter (∇2 𝑉)𝑛𝑥 . A posição 𝑋 na qual essa
quantidade é interpolada é obtida pelo termo de aceleração advectiva.
A viscosidade turbulenta é então obtida multiplicando os coeficientes de difusão pelos
termos Laplacianos.

2.4.5.2.4 Fricção
O coeficiente de fricção é calculado usando a equação --. Esse irá ser dependente de
outras quantidades como a aceleração da gravidade, raio hidráulico, coeficiente de Manning e
velocidade.
Contudo, deve-se observar que esse termo será usado implicitamente na equação. Como
será utilizado o método de Crank-Nicolson, o coeficiente 𝑐𝑓 é computado baseado nos passos
de tempo 𝑡 + Δ𝑡 e 𝑡, e, portanto, deve ser computado uma vez para cada iteração necessária
para convergência.

𝑆𝑓 = −𝑐𝑓 𝑉 𝑛+1 2-38

Para cada nova iteração, um novo coeficiente 𝑆𝑓 é computado, de forma similar aos
outros termos implícitos. A velocidade utilizada na equação 2-38 é completamente implícita
por questões de estabilidade.
2.4.5.2.5 Efeito Coriolis
O termo de Coriolis é tipicamente o que tem menor magnitude nas equações do
momento, mas também é o mais fácil de calcular. O parâmetro 𝑓 de Coriolis é uma constante
pré-computada que não muda entre os passos de tempo e não depende da malha subjacente.
Conforme a formula de Crank-Nicolson aplicada para uma linha de caminho, pode ser calculado
conforme equação 2-39.

𝑓((1 − 𝜃)𝑣𝑋𝑛 + 𝜃𝑣 𝑛+1 )


𝑓𝑘 𝑉 ≈ { 2-39
−𝑓((1 − 𝜃)𝑢𝑋𝑛 + 𝜃𝑢𝑛+1 )
Assim como os outros termos explícitos na equação do momento, esse vetor é calculado
uma vez por iteração.
2.4.5.2.6 Velocidade normal
A solução para as equações do momento usa uma técnica de passo de tempo
particionado. A primeira parte do passo contém apenas os termos de aceleração e Coriolis. As
equações descritas levam a uma equação vetorial para velocidade. Se os coeficientes são
atrasados, a equação é linear para as velocidades 𝑉 𝑛 e 𝑉 𝑛+1 , e a elevação da superfície da água
𝐻 𝑛 e 𝐻 𝑛+1 . Agrupando os termos, tem-se a equação .

1 −𝜃Δ𝑡𝑓 𝑢∗𝑛+1 𝑢𝑛 + (1 − 𝜃)Δ𝑡𝑓𝑣𝑥𝑛


( ) ( 𝑛+1 ) = ( 𝑋𝑛 ) 2-40
𝜃Δ𝑡𝑓 1 𝑣∗ 𝑣𝑋 + (1 − 𝜃)Δ𝑡𝑓𝑢𝑥𝑛
Em que os termos do lado direito é uma fórmula linear em termos das velocidades e
elevações da superfície de água.
A segunda parte do passo adiciona os termos de gradiente de pressão, viscosidade
turbulenta e fricção, conforme as discretizações mencionadas.

Finalmente, a componente normal (𝑢𝑁 )𝑛+1 da velocidade é obtida pelo produto escalar
com a normal da Face e substituída na equação 2-33, obtendo-se um sistema de equações.

2.4.5.3 Robustez e Estabilidade


Quando não há fluxo para dentro da Cèlula, a equação da conservação da massa fico
𝐻𝑡 = 0, de modo que a superfície da água é idêntica ao passo anterior. Em particular, Células
secas permanecem secas até que a água entre dentro delas.
Na equação do momento, conforme a altura da água se aproxima de zero, todas as forças
tendem a zero. Contudo, a componente de fricção é dominante, de modo que as velocidades
também se aproximam de zero no limite. Como consequência, é consistente assumir que
Células secas tem velocidade nula. A equação do momento para este caso se torna 𝜕𝑉/𝜕𝑡 = 0
e as Faces das Células continuam a possuir velocidade zero até que a água entre nela.
Ambas equações da massa e do momento são não-lineares. Similarmente para a solução
da Onda de Difusão, um processo iterativo deve ser aplicado.
Em contraste com o esquema explícito Euleriano, o semi-Lagrangiano para o cálculo da
aceleração tem a vantagem de evitar a condição de estabilidade de Courant para velocidade.
Para 1/2 ≤ 𝜃 ≤ 1, a condição de estabilidade é resultante unicamente dos termos explícitos
de difusão, conforme equação 2-41.

(Δ𝑥)2
Δ𝑡 < 2-41
2𝑣
Essa condição permite a utilização de intervalos de tempo maiores do que tipicamente é
aplicável para os esquemas Eulerianos.
O esquema linearizado tem rpecisão de segunda ordem no espaço. A precisão no tempo
depende da escolha de 𝜃. Para 𝜃 = 1, tem precisão de primeira ordem, enquanto que para
𝜃 = 1/2 tem precisão de segunda ordem.
2.4.5.4 Procedimento Computacional
O procedimento de solução é resumido a seguir:
1. A geometria, ortonormalidade local e malha subjacente são obtidos e pré-
processados
0
2. A solução começa com 𝐻 0 e 𝑢𝑁 dados como condições iniciais para passo 𝑛 = 0
3. Condições de contorno são fornecidas para 𝑛 + 1
𝑛+1 𝑛
4. Estimativa inicial 𝐻 𝑛+1 = 𝐻 𝑛 e 𝑢𝑁 = 𝑢𝑁
5. Computar os termos explícitos que permanecem constantes para o passo de
tempo
6. Computar a elevação da água ponderada em 𝜃 𝐻 = (1 − 𝜃)𝐻𝑗𝑛 + 𝜃𝐻𝑗𝑛+1 e
variáveis da malha subjacente que dependem dela (Área da Face, Área da
Superfície da Água, Raio Hidráulico, Manning’s, etc.)
7. Montar o sistema de equações
8. Resolver o sistema de equações de forma iterativa utilizando o método de
Newton-Raphson
𝑛+1
9. Computar as velocidades 𝑢𝑁
10. Se o resíduo corrigido for maior que a tolerância admitida, voltar para o passo 6;
senão, continuar par ao próximo passo
11. A solução é aceita
12. Se não tiver chegado ao último passo de tempo, incrementar 𝑛, e voltar para o
passo 3.
A repetição dos passos 6-10 tem como objetivo atualizar os coeficientes do sistema de
equações, de modo que seja obtida a solução do sistema não linear das equações (em vez do
sistema linearizado) para cada passo de tempo. Como esperado, a solução totalmente não
linear tem características desejáveis como preenchimento de várias células e propagação das
ondas através de várias células em um único intervalo de tempo.
Assim como o Solver para o modelo de Onda de Difusão (DSW), o algoritmo usa como
vantagem a possibilidade de vetorização e paralelização dos processos. Vetorização é usada
extensivamente em termos que utilizam uma discretização explícita, como os coeficientes para
difusão, Coriolis e fricção da superfície. Os passos de operações algébricas como os passos 4, 6
e 9 são completamente vetorizados. Paralelização é implementada em termos com uma
descrição mais construtiva como algoritmos e condicionais.

3 Referências
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