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Thibério Leitão
thiberioleitao@gmail.com
1 Base Teórica para Modelagem Hidrodinâmica Unidimensional e Bidimensional
2
𝛼𝑖+1 𝑉𝑖+1 𝛼𝑖 𝑉𝑖2
𝑍𝑖+1 + 𝑌𝑖+1 + = 𝑍𝑖 + 𝑌𝑖 + + ℎ𝑒 1-1
2𝑔 2𝑔
Em que:
𝑍𝑖 , 𝑍𝑖+1 : elevação do talvegue dos canais
𝑉𝑖2 , 𝑉𝑖+1
2
: velocidades médias
𝑔: aceleração da gravidade
ℎ𝑒 : perdas de carga de energia
A perda de carga de energia entre duas seções transversais é formada pelas perdas de
fricção e perdas de contração e expansão. A equação para perdas de energia é a seguinte:
Em que:
𝐿Δ𝑖 : comprimento ponderado com base na vazão
Em que:
𝐿𝑙𝑜𝑏 , 𝐿𝑐ℎ , 𝐿𝑟𝑜𝑏 : distância entre as seções transversais para planície de inundação a
esquerda, canal principal e planície de inundação a direita, respectivamente.
𝑄̅𝑙𝑜𝑏 , 𝑄̅𝑐ℎ , 𝑄̅𝑟𝑜𝑏 : média aritmética entre as seções transverais para planície esquerda,
canal principal e planície direita, respectivamente.
1
𝑄= 𝐾𝑆𝑓2 1-5
Em que:
𝐾: capacidade de transporte
𝑛: coeficiente de rugosidade de Manning
𝐴: área da seção transversal
𝑅: raio hidráulico
𝑆𝑓 : inclinação da linha de energia
Os dois métodos irão produzir resultados diferentes sempre que porções das planícies
de inundação tiverem terrenos com grandes inclinações. De forma geral, o método padrão do
HEC-RAS irá produzir resultados com menores capacidades de suporte para mesmas elevações
superfícies de água.
𝜕𝑄 Δ𝑥
𝑄− 1-6
𝜕𝑥 2
A vazão que saí do volume de controle é dada por:
𝜕𝑄 Δ𝑥
𝑄+ 1-7
𝜕𝑥 2
E a taxa de mudança no armazenamento é dada por:
𝜕𝐴𝑇
Δ𝑥 1-8
𝜕𝑡
Assumindo que Δ𝑥 é pequeno, a mudança de massa no volume de controle é dada por:
𝜕𝐴𝑇 𝜕𝑄 Δ𝑥 𝜕𝑄 Δ𝑥
𝜌 Δ𝑥 = 𝜌 [(𝑄 − ) − (𝑄 + ) + 𝑄𝑙 ] 1-9
𝜕𝑡 𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2
Em que 𝑄𝑙 é a vazão lateral entrando no volume de controle e 𝜌 é a densidade do fluido.
Simplificando e dividindo por 𝜌Δ𝑥 resulta na forma final da equação de continuidade:
𝜕𝐴𝑇 𝜕𝑄
+ − 𝑄𝑙 = 0 1-10
𝜕𝑡 𝜕𝑥
1.3.2 Conservação do momento
O princípio da conservação do momento é expresso pela segunda lei de Newton:
𝑑𝑴
∑𝑭 = 1-11
𝑑𝑡
Esse princípio aplicado para um volume de controle estabelece que a taxa líquida de
entrada no volume de controle (fluxo de momento) mais a soma das forças externas agindo no
volume de controle é igual a taxa de acumulação do momento. Esse é uma quantidade vetorial
aplicada no eixo x. O fluxo de momento é a massa do fluido multiplicado pelo vetor de
velocidade na direção do fluxo. Três forças serão consideradas: (1) pressão, (2) gravidade, (3)
força de fricção.
Força de pressão: A Figura 1-4 ilustra o caso geral de uma seção transversal irregular. A
distribuição de pressão é assumida hidrostática (varia linearmente com a profundidade) e a
força de pressão total é a integral do produto da pressão pela área em toda a área da seção
transversal. Conforme Shames(1962), as forças de pressão em qualquer ponto podem ser
escritas como:
ℎ
𝐹𝑃 = ∫ 𝜌𝑔(ℎ − 𝑦)𝑇(𝑦)𝑑𝑦 1-12
0
Em que ℎ é a profundidade, 𝑦 é a distância acima do talvegue do canal e 𝑇(𝑦) uma função
de largura que relaciona a largura da seção transversal.
Figura 1-4 - Ilustração de termos associados a força de pressão
𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃 − 1-13
𝜕𝑥 2
E a força na seção a jusante é dada por:
𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃 + 1-14
𝜕𝑥 2
Dessa forma, a soma das forças atuantes no volume de controle pode ser escrita da
seguinte forma:
𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥 𝜕𝐹𝑃 Δ𝑥
𝐹𝑃𝑛 = |𝐹𝑃 − | − |𝐹𝑃 + | + 𝐹𝐵 1-15
𝜕𝑥 2 𝜕𝑥 2
𝜕ℎ ℎ ℎ
𝜕𝑇(𝑦)
𝐹𝑃𝑛 = −𝜌𝑔Δ𝑥 [ ∫ 𝑇(𝑦)𝑑𝑦 + ∫ (ℎ − 𝑦) 𝑑𝑦] + 𝐹𝐵 1-16
𝜕𝑥 0 0 𝜕𝑥
A primeira integral na equação é a área da seção transversal, A. A segunda integral
(multiplicada por 𝜌𝑔Δ𝑥) é a força de pressão exercida pelo fluido na área lateral do canal
(banks), que é exatamente igual em magnitude, mas em sentido oposto a 𝐹𝐵 . Assim, a força de
pressão líquida pode ser escrita como:
𝜕ℎ
𝐹𝑃𝑛 = −𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥 1-17
𝜕𝑥
Força gravitacional: A força devido a ação da gravidade no fluido no volume de controle
na direção é dada por:
𝐹𝑔 = 𝜌𝑔𝐴𝑠𝑖𝑛(𝜃)Δ𝑥 1-18
Em que 𝜃 é o ângulo que o talvegue do canal faz com a horizontal. Para rios naturais 𝜃 é
𝜕𝑍𝑜
pequeno e 𝑠𝑖𝑛𝜃 = 𝑡𝑎𝑛𝜃 = − , em que 𝑍𝑜 é a elevação do talvegue. Dessa forma, a força
𝜕𝑥
gravitacional pode ser escrita como:
𝜕𝑧𝑜
𝐹𝑔 = −𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥 1-19
𝜕𝑥
Essa força será positiva para inclinações negativa.
Força de fricção: A força de fricção entre o canal e o fluido pode ser escrita da seguinte
forma:
𝜏𝑜 = 𝜌𝐶𝐷 𝑉 2 1-21
𝑉 = 𝐶 √𝑅𝑆𝑓 1-23
Substituindo as equações 1-23, 1-22 e 1-21 na equação 1-20, tem-se a seguinte equação:
𝐹𝑓 = −𝜌𝑔𝐴𝑆𝑓 Δ𝑥 1-24
Onde 𝑆𝑓 é a inclinação da linha de perda de carga, que é positiva para o fluxo na direção
positiva de x. Essa inclinação deve ser relacionada com a vazão e carga hidráulica.
Tradicionalmente, as equações de Manning e Chezy são utilizadas. Como a equação de
Manning é predominantemente usado nos Estados Unidos, é também utilizada no HEC-RAS.
Esta equação pode ser escrita da seguinte forma:
𝑄|𝑄|𝑛2
𝑆𝑓 = 4 1-25
2.208𝑅 3 𝐴2
Em que 𝑅 é o raio hidráulico e 𝑛 é o coeficiente de fricção e Manning.
Fluxo de momento: Com as três forças definidas, falta apenas o fluxo de momento. O
fluxo de momento entrando no volume de controle pode ser escrito como:
𝜕(𝑄𝑉) Δ𝑥
𝜌 [𝑄𝑉 − ] 1-26
𝜕𝑥 2
O fluxo saindo do volume de controle pode ser escrito como:
𝜕(𝑄𝑉) Δ𝑥
𝜌 [𝑄𝑉 + ] 1-27
𝜕𝑥 2
Dessa forma, a taxa líquida de momento (fluxo de momento) entrando no volume de
controle é:
𝜌𝜕(𝑄𝑉)
−
Δ𝑥 1-28
𝜕𝑥
Como o momento do fluido do volume de controle é 𝜌𝑄Δ𝑥 1, a taxa de acumulação do
momento pode ser escrita como:
𝜕(𝜌𝑄Δ𝑥) 𝜕𝑄
= 𝜌Δ𝑥 1-29
𝜕𝑡 𝜕𝑡
Lembrando o princípio da conservação do momento:
A taxa líquida de entrada do momento (fluxo de momento) entrando no volume de
controle (1-28) mais a soma de todas as forças externas agindo no volume[(1-17) + (1-19) +
(1-24)] é igual a taxa de acumulação de momento (1-29)
Logo:
𝜕𝑄 𝜌𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧𝑜 𝜕ℎ
𝜌Δ𝑥 = (− Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴𝑆𝑓 Δ𝑥) + (−𝜌𝑔𝐴 Δ𝑥) 1-30
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑧 𝜕ℎ 𝜕𝑧𝑜
= + 1-31
𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝜕𝑧
Em que 𝜕𝑥 é a inclinação da superfície da água. Substituindo (1-31) em (1-30), dividindo
por 𝜌Δ𝑥 e movendo todos os termos para esquerda, implica na forma final da equação do
momento:
𝜕𝑄 𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝑆𝑓 ) = 0 1-32
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥
1 Δ𝑥
𝑀 = 𝑚𝑉 = 𝜌∀ = 𝜌𝑄Δ𝑥
Δ𝑡
1.3.3 Aplicações das equações do regime não permanente 1D
A Figura 1-5 ilustra as características bidimensionais da interação entre o canal e a
planície de inundação. Quando o nível da água está subindo, ela move-se lateralmente,
afastando-se do canal, inundando e preenchendo áreas de armazenamento. Quando a
profundidade aumenta, a agua planície de inundação começa a ser transportada para jusante
em um caminho menor que o percorrido ao longo do canal. Quando o nível de água está caindo,
a água move-se para dentro do canal, suplementando a vazão no canal principal.
Como a direção principal do fluxo é orientada ao longo do canal, esse campo de fluxo
bidimensional pode frequentemente ser aproximado por uma representação unidimensional.
AS áreas laterais do canal principal podem ser modeladas como regiões de armazenamento
que trocam água com o canal. O fluxo na área de planície de inundação por ser aproximado
como um fluxo através de um canal separado.
Essa situação de canal/planície pode ser abordada de diferentes formas. Uma abordagem
comum é ignorar a capacidade de transporta da planície totalmente, assumindo que a planície
de inundação é utilizada somente como armazenamento. Essa hipótese pode ser razoável para
grandes rios, como o Rio Mississippi onde o canal é confinado por contenções laterais e o
restante da planície é ou densamente vegetada ou área de armazenamento. Fread (1976) e
Shames (1962) abordaram dividindo o sistema em dois canais separados e escrevendo as
equações da continuidade do momento para cada canal. Para simplificar o problema, eles
assumiram a superfície da água horizontal para cada seção transversal normal a direção do
fluxo, de tal forma que a troca de momento entre o canal e a planície de inundação seria
negligenciável e a vazão seria distribuída de acordo com a capacidade de transporte, isto é:
𝑄𝑐 = 𝜙𝑄 1-33
Em que:
𝑄𝑐 : vazão no canal;
𝑄: vazão total;
𝜙 = 𝐾𝑐 /(𝐾𝑐 + 𝐾𝑓 ) ;
𝜙 2 𝑄2 (1 − 𝜙)2 𝑄 2
𝜕 ( ) 𝜕( 𝐴𝑓 )
𝜕𝑄 𝐴𝑐 𝜕𝑧 𝜕𝑧 1-35
+ + + 𝑔𝐴𝑐 [ + 𝑆𝑓𝑐 ] + 𝑔𝐴𝑓 [ + 𝑆𝑓𝑓 ] = 0
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑐
𝑡+Δ𝑡 𝑡
𝜕𝑓 𝛥𝑡 𝑓 (𝑓𝑥+Δx + 𝑓𝑥𝑡+Δ𝑡 ) − (𝑓𝑥+Δ𝑥 + 𝑓𝑥𝑡 )
= = 1-36
𝜕𝑡 Δ𝑡 2Δ𝑡
2. Derivada espacial
𝑡+𝛥𝑡 𝑡
𝜕𝑓 𝛥𝑥 𝑓 (𝑓𝑥+𝛥𝑥 − 𝑓𝑥𝑡+𝛥𝑡 ) (𝑓𝑥+𝛥𝑥 − 𝑓𝑥𝑡 )
= =𝜃 + (1 − 𝜃) 1-37
𝜕𝑥 Δ𝑡 𝛥𝑥 𝛥𝑥
3. Valor da função
𝑡+𝛥𝑡 )
(𝑓𝑥𝑡+𝛥𝑡 + 𝑓𝑥+𝛥𝑥 𝑡
(𝑓𝑥𝑡 + 𝑓𝑥+𝛥𝑥 )
𝑓𝑥𝑡 = 𝑓 ̅ = 𝜃 + (1 − 𝜃) 1-38
2 2
Figura 1-6 - Esquema de quatro pontos (box scheme)
𝜕𝐴 𝜕𝑆 𝜕𝑄
+ + − 𝑞𝑙 = 0 1-39
𝜕𝑡 𝜕𝑡 𝜕𝑥
Em que 𝑆 é um termo associado a partes da seção transversal que não tem capacidade
de transporte.
A equação acima pode ser escrita para o canal e planície de inundação da seguinte forma:
𝜕𝐴𝑐 𝜕𝑄𝑐
+ = 𝑞𝑓 1-40
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐
𝜕𝐴𝑓 𝜕𝑄𝑓 𝜕𝑆
+ + = 𝑞𝑐−𝑓 + 𝑞𝑙 1-41
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑡
Em que 𝑞𝑓 é a troca de vazão lateral da planície para o canal principal e 𝑞𝑐−𝑓 do canal
para planície; 𝑞𝑙 é a vazão de entrada lateral por unidade de comprimento na planície de
inundação.
O sistema computacional HEC-RAS combina as propriedades das planícies de inundação
a esquerda e direita em um único elemento chamado de planície de inundação. As
propriedades das planícies são computadas combinando a parte esquerda e direita da planície
em relações: elevação vs área, capacidade de transporte e armazenamento em um único grupo
de relações para parte da planície de inundação da seção transversal. O comprimento do trecho
de rio utilizado para modelagem da planície é computado através da média aritmética das
𝐿𝑅 +𝐿𝐿
planícies a esquerda e direita = 𝐿𝐹 . Esta média é utilizada na equação da continuidade e
2
do momento par calcular os respectivos termos para a planície de inundação combinada
(planície esquerda e direita juntas). Isso é diferente do que é feito no modelo do Regime
Permanente, no qual as planícies de inundação esquerda e direita são tratadas completamente
separadas.
As equações 1-40 e 1-41 são aproximadas utilizando o método das diferenças finitas
implícito, aplicando as equações 1-36 à 1-38:
Δt 𝐴𝑐 Δx 𝑄𝑐
+ = 𝑞̅𝑓 1-42
Δ𝑡 Δ𝑥𝑐
Δt 𝐴𝑓 Δx 𝑄𝑓 Δt 𝑆
+ + = 𝑞̅𝑐 + 𝑞̅𝑙 1-43
Δ𝑡 Δ𝑥𝑓 Δ𝑡
A troca de massa entre o canal e a planície de inundação é igual em módulo, mas de sinal
oposto, de tal forma que: Δ𝑥𝑐 𝑞̅𝑐 = −Δ𝑥𝑓 𝑞̅𝑓 . Adicionando as equações acima e rearranjando os
temos, temos que:
Δt 𝐴𝑐 Δt 𝐴𝑓 Δt 𝑆
Δ𝑥𝑐 + Δ𝑥𝑓 + Δx 𝑄𝑐 + Δx 𝑄𝑓 + Δ𝑥 − 𝑄̅𝑙 = 0 1-44
Δ𝑡 Δ𝑡 Δ𝑡 𝑓
Em que:
𝑄̅𝑙 : vazão lateral média
Δ𝑥𝑓 : é o comprimento da planície de inundação entre duas seções transversais (computada como
média aritmética dos comprimentos das planícies esquerda e direita).
𝜕𝑄𝑐 𝜕(𝑄𝑐 𝑉𝑐 ) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑐 ( + 𝑆𝑓𝑐 ) = 𝑀𝑓−𝑐 1-46
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑥𝑐
𝜕𝑄𝑓 𝜕(𝑄𝑓 𝑉𝑓 ) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑓 ( + 𝑆𝑓𝑓 ) = 𝑀𝑐−𝑓 1-47
𝜕𝑡 𝜕𝑥𝑓 𝜕𝑥𝑓
Em que 𝑀𝑓−𝑐 e 𝑀𝑐−𝑓 são os fluxos de momento por unidade de comprimento trocados
da planície de inundação para o canal (𝑀𝑓−𝑐 ) e do canal para planície (𝑀𝑐−𝑓 ). Percebe-se que
nas equações 1-46 e 1-47 a elevação da superfície da água não possui um subscrito. Isso
decorre da hipótese que a superfície da água é horizontal para qualquer seção transversal
perpendicular ao fluxo. Assim, essa elevação é a mesma para o canal principal e para planície
de inundação.
Essas são aproximadas utilizando o método das diferenças finitas implícito, aplicando as
equações 1-36 à 1-38, temos que:
Δt 𝑄𝑐 Δx (𝑄𝑐 𝑉𝑐 ) Δ𝑧
+ + 𝑔𝐴̅𝑐 ( ̅ )=𝑀
+ 𝑆𝑓𝑐 ̅𝑓−𝑐 1-48
Δ𝑡 Δ𝑥𝑐 Δ𝑥𝑐
Δt 𝑄𝑓 Δx (𝑄𝑓 𝑉𝑓 ) Δ𝑧
+ + 𝑔𝐴𝑓̅ ( ̅ )=𝑀
+ 𝑆𝑓𝑓 ̅𝑐−𝑓 1-49
Δ𝑡 Δ𝑥𝑓 Δ𝑥𝑓
̅𝑓−𝑐 =
Note que, pela hipótese de mesma elevação de superfície da água, Δ𝑥𝑐 𝑀
̅𝑐−𝑓 . Adicionando as equações acima e rearranjando os termos:
−Δ𝑥𝑓 𝑀
Em que:
Δ𝑥𝑒 : o caminho de fluxo equivalente
Assim:
𝑑ℎ𝑙
𝑆ℎ = 1-56
𝑑𝑥
Adicionando esse termo na equação do momento (1-45):
𝜕𝑄 𝜕(𝑄𝑉) 𝜕𝑧
+ + 𝑔𝐴 ( + 𝑆𝑓 + 𝑆ℎ ) = 0 1-57
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑥
Para o fluxo permanente há inúmeras relações para o cálculo da variação da superfície
da água a montante da contração. Para barragens navegáveis, existem as fórmulas de
Kindsvater & Carter (1957) e Nagler (1917). Para pontes, as formulas de Yarnell (1934) e da
Agência Federal de Rodovias FHWA (1978) podem ser usadas. Essas fórmulas foram
determinadas através de experimentos e podem ser expressas na seguinte forma geral:
𝑉2
ℎ𝑙 = 𝐶 1-58
2𝑔
Em que ℎ𝑙 é a perda de carga e 𝐶 é um coeficiente. Este coeficiente é função da
velocidade, profunidade e propriedades geométricas da abertura, mas, por simplificação, é
assumido ser constante. O local em que a velocidade é estimada varia de método para método.
Normalmente, a velocidade é estimada a jusante da estrutura (tailwater) para fluxo subcrítico
e a montante da estrutura (headwater) para fluxo supercrítico na contração.
Se ℎ𝑙 ocorre ao longo de uma distância Δ𝑥𝑒 , então, ℎ𝑙 = 𝑆ℎ̅ Δ𝑥𝑒 e 𝑆ℎ̅ = ℎ𝑙 /Δ𝑥𝑒 , em que
𝑆ℎ̅ é a inclinação média ao longo de Δ𝑥𝑒 . No HEC-RAS, as rotinas para fluxo permanente ao
longo de pontes e bueiros são utilizadas para computar uma famila de curvas específicas para
estruturas. Durante a simulação, para uma dada vazão e altura a jusante, a elevação a montante
é estimada com base nas curvas. A diferença entre as elevações a montante e jusante é igual a
ℎ𝑙 e, então, 𝑆ℎ̅ é calculado. O resultado é inserido na equação do momento na forma de
diferenças finitas (1-55), resultando na seguinte forma:
𝑄𝑙 𝑉𝑙
𝑀𝑙 = 𝜉 1-60
Δ𝑥
Em que:
𝑄𝑙 : fluxo lateral entrando
𝑉𝑙 : velocidade média do fluxo lateral
𝜉: fração do momento entrando do rio receptor
O momento que está entrando é adicionado ao lado direito da equação (1-59),
resultando na equação 1-61.
𝜕𝑔 𝜕𝑔
Δ𝑔𝑗 = ( ) Δ𝑄𝑗 + ( ) Δ𝑧𝑗 1-62
𝜕𝑄 𝑗 𝜕𝑧 𝑗
3. Se o intervalo de tempo, Δ𝑡, é pequeno, então certas variáveis podem ser tratadas
explicitamente, logo:
𝐶𝑄1𝑗 Δ𝑄𝑗 + 𝐶𝑍1𝑗 Δ𝑧𝑗 + 𝐶𝑄2𝑗 Δ𝑄𝑗+1 + 𝐶𝑍2𝑗 Δ𝑧𝑗+1 = 𝐶𝐵𝑗 1-64
𝑀𝑄1𝑗 Δ𝑄𝑗 + 𝑀𝑍1𝑗 Δ𝑧𝑗 + 𝑀𝑄2𝑗 Δ𝑄𝑗+1 + 𝑀𝑍2𝑗 Δ𝑧𝑗+1 = 𝑀𝐵𝑗 1-65
Tabela 1-1 - Aproximação dos termos da equação da continuidade por diferenças finitas
Tabela 1-2 -Aproximação dos termos da equação da continuidade por diferenças finitas
Coeficiente Valor
𝜃
CQ1j −
Δ𝑥𝑒𝑗
0,5 𝑑𝐴𝑐 𝑑𝐴𝑓 𝑑𝑆
𝐶𝑍1𝑗 [( ) Δ𝑥𝑐𝑗 + ( + ) Δ𝑥𝑓𝑗 ]
ΔtΔ𝑥𝑒𝑗 𝑑𝑧 𝑗 𝑑𝑧 𝑑𝑧 𝑗
𝜃
𝐶𝑄2𝑗
Δ𝑥𝑒𝑗
1 𝜃 𝜃𝑔𝐴
𝑀𝑄2𝑗 0,5[Δ𝑥𝑐𝑗 𝜙𝑗+1 + Δ𝑐𝑗 (1 − 𝜙𝑗+1 )] ( ) + 𝛽𝑗+1 𝑉𝑗+1 ( )+ (𝑆 𝑆 )
Δ𝑥𝑒𝑗 Δ𝑡 Δ𝑥𝑒𝑗 𝑄𝑗+1 𝑓𝑗+1 ℎ𝑗+1
𝑄𝑐𝑗
𝜙𝑗 = 1-66
𝑄𝑐𝑗 + 𝑄𝑓𝑗
Fread (1976) considerou a inclinação da linha de perda de carga sendo a mesma para o
canal e a planície, portanto, a distribuição também pode ser calculada pela equação 1-67,
utilizada no HEC-RAS.
𝐾𝑐𝑗
𝜙𝑗 = 1-67
𝐾𝑐𝑗 + 𝐾𝑓𝑗
1.5 Procedimento computacional
A solução para cálculo das elevações da água em todas as seções transversais, áreas de
armazenamento 2 áreas de fluxo 2D segue o seguinte procedimento:
1. O solver faz uma estimativa inicial da elevação da água, vazão, derivadas, etc. As
equações de fluxo não permanente são resolvidas no solver de diferenças finitas
implícito (chamado de Skyline Solver) para os nós 1D. Para áreas 2D é utilizado
uma solução algoritmo implícito de volumes finitos.
2. Todos os pontos computacionais (seções transversais, áreas de armazenamento
e células 2D) são verificados para saber se o valor computado da elevação da água
menos o valor antecedente é menor que a tolerância.
3. Se o erro é menor que a tolerância numérica, então o procedimento é finalizado
para aquele passo de tempo, considerando-a como correta e seguindo para o
próximo passo de tempo.
4. Se o erro é maior que a tolerância em qualquer ponto computacional, ele realiza
novas estimativas e resolve as equações novamente. Se durante esse processo de
iteração achar uma solução (cujo erro seja menor que a tolerância em todos os
pontos), finaliza para o passo de tempo e move para o próximo.
5. Durante esse processo (até na primeira estimativa), o programa salva a solução
que possuir menor erro como a melhor solução. as elevações da superfície da
água e vazões são salvas para todo o domínio espacial.
6. Qualquer iteração que produzir melhores resultados, mas não satisfizer os
critérios de tolerância, será salva como a melhor solução.
7. Se esse processo de solução alcançar o máximo de iterações (20 por padrão),
então é mostrado um aviso. Contudo, na solução, considera-se aquela que teve
menor erro. Também apresenta o local com maior erro numérico e a magnitude
do mesmo.
8. Isso ocorre mesmo quando, durante o processo de solução, a solução faz com
que a matriz fique completamente instável. Ainda assim, normalmente, o sistema
consegue encontrar uma estimativa que não seja instável, embora não produza
um erro menor que a tolerância.
2 Base Teórica para Modelagem 2D em Fluxo Não-Permanente
As equações de Navier-Stokes descrevem o movimento do fluxo em três dimensões. No
contexto da modelagem de rios e enchentes, simplificações a essas equações podem ser
impostas. As Equações de Águas Rasas são um conjunto de equações derivadas com base em
simplificações, como:
1. Fluxo incompressível
2. Densidade uniforme
3. Pressão hidrostática
4. Equações médias de Reynolds (Viscosidade turbulenta – Eddy viscosity)
5. Dimensão vertical é muito menor que a dimensão horizontal
a. Velocidade vertical baixa, com pressão hidrostática dominante
Mais hipóteses simplificadoras podem ser aplicadas para as Equações de Águas Rasas,
como, em alguns casos, o termo gravitacional e de fricção serem dominantes nas equações do
momento, possibilitando desconsiderar os termos de aceleração e viscosidade. A equação do
momento então toma a forma bidimensional do modelo de Onda de Difusão. Combinando esse
termo com a equação da continuidade, tem-se o conhecido modelo de Onde de Difusão para
as Equações de Águas Rasas.
Além disso, para melhorar o tempo de cálculo computacional, uma abordagem com uma
malha subjacente é utilizada. A ideia por traz disso é utilizar uma malha relativamente grosseira
e detalhar a informação espacial da topografia subjacente, conforme Casulli (2008). A equação
da continuidade é discretizada utilizando a técnica dos Volumes Finitos. Os parâmetros para
malha são calculados com base em integrais dos volumes das Células e áreas das Faces. Como
resultado, o transporte de massa leva em consideração a escala detalhada em cada Célula.
Como isso é relacionado apenas com a equação da continuidade, pode ser usada
independentemente da equação do momento. Nas seções seguintes, as equações para malha
detalhada da topografia (sub-grid) são derivadas para os modelos de Águas Rasas e Onda de
Difusão.
Neste capítulo é assumido que a elevação da superfície do terreno é dada por 𝑧(𝑥, 𝑦), a
altura da lâmina de água é dada por ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡) e que a elevação da superfície da água é dada
por 𝐻(𝑥, 𝑦, 𝑡) = 𝑧(𝑥, 𝑦) + ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡).
𝜕𝐻
+ 𝛁 ∙ ℎ𝑽 + 𝑞 = 0 2-2
𝜕𝑡
𝜕 𝜕
Em que 𝑽 = (𝑢, 𝑣) é o vetor velocidade e 𝛁 = (𝜕𝑥 , 𝜕𝑦) é o operador diferencial das
derivadas parciais.
Integrando sobre uma região horizontal com vetor normal 𝒏 no contorno e usando o
Teorema da Divergência de Gauss2, a forma integral da equação da continuidade é dado por
2-3.
𝜕
∭ 𝑑Ω + ∬(𝑽 ∙ 𝒏)𝑑𝑆 + 𝑄 = 0 2-3
𝜕𝑡
Ω 𝑆
A região Ω representa o espaço tridimensional ocupado pelo fluido. As superfícies de
contorno do volume são dadas por 𝑆. É assumido que 𝑄 representa qualquer vazão que passa
pela superfície de baixo (infiltração) ou de cima (chuva ou evaporação). Esse termo também
pode ser utilizado para representar outros elementos que retiram ou jogam água do sistema,
como bombas. Convencionando-se que entradas são positivas e retiradas negativas.
A forma integral da equação da continuidade é a mais apropriada para desenvolver o
modelo de malha detalhada subjacente das seções seguintes. Nesse contexto, a região Ω irá
representar uma célula de volume finito e as integrais serão calculadas utilizando informações
da topografia detalhada.
Avanços atuais no campo do sensoriamento remoto puderam proporcionar uma alta
resolução topográfica na obtenção dos dados. Em muitos casos, os dados são muito densos
para que seja possível usar diretamente como malha no modelo. Isso representa um dilema no
qual uma malha relativamente grosseira deve produzi um resultado adequado, mas os detalhes
da topografia devem ser incorporados no modelo.
A solução para esse problema no HEC-RAS é a utilização de uma malha subjacente Casulli
(2008). As células computacionais contêm algumas informações extras, como raio hidráulico,
volume e área da seção transversal que podem ser computadas a partir da topografia
detalhada. Os detalhes de alta resolução perdidos, mas há informação suficiente para realizar
a modelagem com uma malha mais grosseira. Em muitos casos, esse método é apropriado
porque a superfície livre da água é mais suave que a da topografia, então uma malha mais
grosseira pode efetivamente ser utilizada (Figura 2-2).
2
∭Ω 𝛁 ∙ ℎ𝑽 = ∬𝑆 (𝑽 ∙ 𝒏)𝑑𝑆
Figura 2-2 - Malha computacional
A integral tripla da equação 2-3 representa o volume Ω da região que é delimitada pela
superfície da água. Assumindo que é função da elevação da superfície da água, o primeiro
termo da equação é discretizado como a equação 2-4.
Em que os sobrescritos são usados para indexar os passos de tempo e a diferença entre
dois passos consecutivos é Δ𝑡.
Se as células são consideradas como tendo faces poligonais, a integral de contorno da
equação 2-3 pode ser escrita como a soma sobre todas as faces da região volumétrica,
conforme equação 2-5.
As equações 2-5 e 2-4 podem ser substituídas na equação 2-3, resultando na equação
2-6 para conservação da massa com o método de malha subjacente.
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝜕𝐻 𝜕 2𝑢 𝜕 2𝑢
+𝑣 +𝑢 = −𝑔 + 𝜈𝑡 ( 2 + 2 ) − 𝑐𝑓 𝑣 + 𝑓𝑢 2-8
𝜕𝑡 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝜕𝑽
+ 𝑽 ∙ 𝛁𝑽 = −𝑔𝛁𝐻 + 𝜈𝑡 𝛁 𝟐 𝑽 − 𝑐𝑓 𝑽 + 𝑓 ∙ 𝒌 × 𝑽 2-9
𝜕𝑡
Cada termo da equação tem um significado físico. Da esquerda para direita, tem-se:
aceleração local, aceleração advectiva, gradiente de pressão, difusão devido a turbulência
(Eddy difusion), fricção da superfície e termo de Coriolis.
2.2.1 Aceleração
Os termos de aceleração do lado esquerdo, podem se consolidados em um único termo
chamado de derivada total, conforme 2-40.
𝐷𝑽 𝜕𝑽
= + 𝑽 ∙ 𝛁𝑽 2-10
𝐷𝑡 𝜕𝑡
O uso dessa derivada ficará evidente nas seções subsequentes quando será visto que q
discretização reduz as restrições da condição de Courant e leva a um método de solução mais
robusto.
2.2.2 Gravidade
Se a superfície da água não é horizontal, o peso contínuo das colunas de água com
diferentes alturas irá produzir um gradiente de pressão chamado, no caso de densidade
uniforme, de gradiente de pressão barotrópico. Os efeitos de latitude afetam o valor de ± 3%,
devido a rotação da Terra e sua curvatura. Conforme 2-11 da fórmula de Somigliana.
1 + 𝑘𝑠𝑒𝑛2 𝜙
𝑔 = 𝑔𝑜 ( ) 2-11
√1 − 𝑒 2 𝑠𝑒𝑛2 𝜙
Em que 𝜙 é a latitude, 𝑔𝑜 = 9,7803266615 𝑚/𝑠² é a aceleração da gravidade no
equador, 𝑘 = 0,0019318514 é a constante gravitacional normal e 𝑒 = 0,00669438 é o
quadrado da excentricidade da Terra.
2.2.3 Viscosidade turbulenta (Eddy Viscosity)
Turbulência é um fenômeno complexo do movimento caótico dos fluidos, com escalas
de análise com grande variância. Muitas das escalas são muito pequenas para serem possíveis
de resolver com um modelo numérico discreto, de forma que o fluxo turbulento é modelado
como um processo de gradiente de difusão. Nesse processo, a taxa de difusão é convertida em
um coeficiente de viscosidade turbulenta 𝑣𝑡 .
Este coeficiente pode ser parametrizado conforme a equação 2-12.
𝑣𝑡 = 𝐷ℎ𝑢∗ 2-12
|𝑉| 𝑛√𝑔
= 1 |𝑉|
𝑢∗ = √𝑔𝑅𝑆 = √𝑔 2-13
𝐶
𝑅 6
Em que 𝑅 é o raio hidráulico e 𝑆 é a inclinação da linha de energia, que pode ser
computada usando a formula de Manning.
A difusão é considerada isotrópica. Os valores empíricos 𝐷𝐿 e 𝐷𝑇 são considerados
idênticos. O coeficiente de mistura 𝐷 é um valor empírico que varia conforme a geometria e
superfície em contato com a água. Alguns valores de 𝐷 estão na Tabela 2-1.
Tabela 2-1 - Parâmetro da viscosidade turbulenta
𝑔|𝑉|
(𝑐𝑓 = ) 2-14
𝐶2𝑅
𝑛2 𝑔|𝑉|
𝑐𝑓 = 4 2-15
𝑅3
2.2.5 Efeito Coriolis
O último termo na equação está relacionado com o efeito de Coriolis. Considera o fato
que a terra está em rotação ao redor de seu eixo. A componente vertical do termo de
aceleração é desconsiderada, conforme as hipóteses de água rasas. A força aparente devido a
essa rotação é dada pela equação 2-16.
𝑓 = 2𝜔𝑠𝑒𝑛𝜙 2-16
𝑛2 |𝑉|𝑉
4/3
= −∇𝐻 2-17
𝑅𝐻
Dividindo ambos os lados pela raiz quadrada da norma, a equação pode ser rearranjada
na forma clássica (equação 2-18).
2/3
𝑅 ∇𝐻
𝑉=− 𝐻 2-18
𝑛 |∇𝐻|1/2
Em que 𝑉 é o vetor velocidade, 𝑅 é o raio hidráulico, ∇𝐻 é o gradiente da elevação da
superfície da água e 𝑛 é o coeficiente de rugosidade de Manning.
Substituindo a equação 2-18 na equação da conservação da massa 2-2, tem-se a forma
final (equação 2-19) do modelo de Onda de Difusão para Equação de Águas Rasas.
𝜕𝐻
− ∇ ∙ 𝛽∇𝐻 + 𝑞 = 0 2-19
𝜕𝑡
5/3
𝑅𝐻
Em que: 𝛽 = 𝑛|∇𝐻|1/2
Essa equação pode ser substituída para obtenção da discretização da malha subjacente,
obtendo-se a equação 2-20.
Uma vez resolvida essa equação, as velocidades podem ser obtidas por meio de
substituição na equação 2-18.
2.3 Malha
De modo a eficiente utilizar os métodos numéricos disponíveis, o domínio deve ser
subdividido em polígonos sem sobreposição.
O algoritmo de solução não tem nenhum limite em relação ao número de lados, contudo,
no HEC-RAS foi imposto uma condição de no máximo 8 lados para favorecer a eficiência.
Contudo, é requerido que as células sejam convexas. Importante ressaltar que a escolha da
malha afeta a eficiência, estabilidade e precisão do modelo.
Por causa da existência de derivadas de segunda ordem e da natureza diferencial entre
as variáveis, uma malha dual será necessária para modelar numericamente as equações
diferenciais. Essa malha dual cobre todo o domínio e é caracterizada pela correspondência dual
entre os nós e as células.
𝜕𝐻 (𝐻2 − 𝐻1 )
∇𝐻 ∙ 𝑛′ = = 2-22
Δ𝑛′ Δ𝑛′
Em que Δ𝑛′ é a distância entre os centros das células.
A orientação da derivada é importante. No exemplo da Figura 2-5, a derivada é orientada
da célula 𝑖1 para célula 𝑖2 . Para reverter a orientação, basta reverter a posição dos subscritos.
Figura 2-5 - Orientação da derivada
∮𝐿 𝐻𝑛𝑑𝐿
∇𝐻 = 2-23
𝐴′
Em que 𝐿 é o contorno das Células duais e 𝐴′ é a área das Células duais, conforme a Figura
2-6. Como as células duais formam um polígono, a integral no contorno pode ser escrita como
a soma sobre todas as Faces das Células duais. A Face dual 𝑘 ′ que junta dois nós 𝑗1 e 𝑗2 contrinui
com o termo 𝑛𝑘 ′ 𝑙𝑘 ′ (𝐻1 + 𝐻2 )/2 para a integral de caminho, em que 𝑙𝑘 ′ é o comprimento da
Face dual 𝑘 ′ , 𝑛𝑘 ′ é o vetor normal para Face dual 𝑘 ′ e 𝐻1 e 𝐻2 são as elevações da superfície
da água no centro da células 𝑗1 e 𝑗2 , conforme imagem da esquerda na a Figura 2-6.
Agrupando os termos pelo índice da Célula j, a aproximação por volumes finitos do
gradiente é dada equação 2-24.
∇𝐻 ≈ ∑ 𝑐𝑗 𝐻𝑗 2-24
𝑗
Em que a soma é realizada sobre as Células duais (nós) ao redor da Face, 𝐻𝑗 é o valor da
elevação da água na Célula j e o vetor de constantes 𝑐𝑗 = (𝑛𝑘1′ 𝑙𝑘1′ + 𝑛𝑘2′ 𝑙𝑘2′ )/2𝐴′ depende da
geometria da malha local nas faces duais 𝑘1′ e 𝑘2′ do Nó j e da área da Face 𝐴′ , conforme visto
na Figura 2-6. Os valores 𝑙𝑘1′ e 𝑙𝑘2′ e os vetores unitários 𝑛𝑘1′ e 𝑛𝑘2′ representam,
respectivamente, o comprimento e a vetor normal às Faces duais 𝑘1′ e 𝑘2′ .
Derivadas direcionais em uma direção arbitrária 𝑇 ′ são computadas usando a equação
2-25.
𝜕𝐻
= ∇𝐻 ∙ 𝑇 ′ ≈ ∑ 𝑐𝑗′ 𝐻𝑗 2-25
𝜕𝑇 ′
𝑗
Em que 𝑐𝑗′ = (𝑛𝑘1′ 𝑙𝑘1′ + 𝑛𝑘2′ 𝑙𝑘2′ ) ∙ 𝑇 ′ /2𝐴′ .
Aplicando o desenvolvimento de maneira similar, mas para a malha em vez das Células
duais, o gradiente da velocidade pode ser computado para cada Célula. Isso pode ser realizado
de maneira sequencial para calcular os termos de ordem maior. Por exemplo, calculado o valor
de ∇𝑉, basta substituir novamente na equação para calcular ∇²𝑉.
𝜕𝐻 𝜕𝐻 𝜕𝐻
= (𝑛 ∙ 𝑛′ ) ′ + (𝑛 ∙ 𝑇 ′ ) ′ 2-26
𝜕𝑛 𝜕𝑛 𝜕𝑇
A primeira derivada no lado direito é computada usando diferenças finitas, enquanto que
a segunda derivada é computada usando volumes finitos.
Sabendo que a equação é linear para 𝐻, pode-se escrever a equação final 2-27.
𝜕𝐻
∇𝐻 ∙ 𝑛 = ≈ ∑ 𝑐𝑗′ 𝐻𝑗 2-27
𝜕𝑛
𝑗
Em que os coeficientes 𝑐𝑗′ são uma combinação dos termos de diferenças finitas ±1/∆𝑛′
e de volumes finitos 𝑐𝑗′ .
Fica evidente que malha ortonormais produzem uma discretização com base em dois
pontes, enquanto que uma malha não-ortonormal requerem uma quantidade de pontos maior.
Consequente, uma malha ortonormal leva a sistemas de equações que podem ser resolvidos
mais eficientemente. Uma rotina de pré-processamento é usada para identificar regiões com
malhas ortonormais, aplicando uma discretização de diferenças finitas.
Tem uma equação dessa forma para cada Célula do domínio. Esse sistema de equações
pode ser escrito na forma matricial:
𝛀(𝑯) + 𝚿𝑯 = 𝒃 2-30
Em que 𝛀 é o vetor de volumes das Células, 𝑯 é o vetor das elevações da água nas Células
no passo de tempo 𝑛 + 1, 𝚿 é a matriz de coeficientes do sistema e 𝒃 um vetor de parâmetros
conhecidos.
O Jacobiano (matriz de derivadas) de 𝛀 em relação a 𝑯 é dada pela diagonal da matriz
de superfície de água 𝑷(𝑯) para cada Célula.
Com base nisso, um sistema de iteração com base no método de Newton-Raphson 3pode
ser aplicado para resolver o sistema de equações, resultando em:
Δ𝑡 1
2
< 2-32
Δ𝑥 2 − 4𝜃
3 𝑓(𝑥𝑛 )
𝑥𝑛+1 = 𝑥𝑛 −
𝑓 ′(𝑥𝑛 )
2.4.5 Esquema de Solução Numérica para Águas Rasas
As equações de Navier-Stokes descrevem a mecânica dos fluidos em três dimensões. No
contexto de modelagem de canais e inundações é possível realizar simplificações para essas
equações. Um conjunto de equações simplificadas é o das Águas Rasas. São assumidas as
seguintes hipóteses: fluido incompressível; densidade uniforme; pressão hidrostática;
aproximação da turbulência pela viscosidade turbulenta (eddy viscosity); e escala vertical muito
maior que escalas horizontais.
Além disso, é possível simplificar ainda mais as equações de Águas Rasas assumindo as
seguintes hipóteses: o fluxo é controlado pelo termo de gravidade e fricção, descontando-se
os termos de aceleração (local e advectiva) e de viscosidade. Essa simplificação forma a
equação de Onda de Difusão.
Ainda, para melhorar a eficiência computacional, o método da malha subjacente pode
ser usado. A ideia dessa metodologia é usar uma malha computacional relativamente grosseira,
mas manter a qualidade original das informações do modelo de terreno (Casulli ,2008). A
equação da conservação da massa é discretizada usando o método dos volumes finitos. Os
detalhes do terreno são computados como integrais sobre o volume ou área de face. Dessa
forma, a equação do momento leva em conta os detalhes do terreno em cada célula.
Neste capítulo será assumido que: a superfície do terreno é dada por 𝑧(𝑥, 𝑦), a altura da
água é dada por ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡) e a elevação da superfície da água 𝐻(𝑥, 𝑦, 𝑡) = 𝑧(𝑥, 𝑦) + ℎ(𝑥, 𝑦, 𝑡).
𝐷𝑉 𝑉 𝑛+1 − 𝑉𝑥𝑛
= 2-34
𝐷𝑡 Δ𝑡
Em que 𝑉 𝑛+1 está localizado na Face da Célula Computacional e 𝑉𝑥𝑛 é calculada na
posição 𝑋. Essa posição é encontrada integrando o campo de velocidades voltando no tempo,
começando pela posição da Face célula computacional. Essa posição 𝑋 normalmente não
corresponde a uma Face, portanto, uma técnica de interpolação deve ser usada. Essa
interpolação geralmente não será linear, já que as Células não precisam obedecer qualquer
restrição quanto ao número de Faces. Contudo, é necessário que o algoritmo de interpolação
dê resultados consistentes no contorno das Células, independente de qual Célula seja usada
para interpolação. Por causa disso, uma técnica baseada no sistema de coordenadas
baricêntricas é implementado.
A integração da velocidade é realizada em passos usando o campo de velocidades
interpolados para cada Célula. Na prática, isso é equivalente a subdividir o intervalo de tempo
em intervalos menores com um número de Courant igual a 1 ou menos, aumentando a
robustez dos cálculos computacionais. Em contraste com a metodologia Euleriana, a
abordagem semi-Lagrangiana permite a utilização de intervalos de tempo maiores, sem causar
problemas de instabilidade e com reduzido efeito de difusão artificial.
2.4.5.2.2 Gradiente de Pressão
Relembrando que a equação do momento é calculada nos nós, mas a elevação da
superfície da água é calculada no centro da Célula. Isso faz com que a equação 2-24 seja ideal
para discretizar o termo de gradiente de pressão, segundo 2-35.
∇𝑉 ≈ ∑ 𝑐𝑖 𝑉𝑖𝑛 2-36
𝑖
Em que a soma é realizada sobre todos os nós ao redor da célula e os coeficientes 𝑐𝑖 são
computados através das características geométricas da malha, como Área das Faces, Normais
as Faces e Comprimento das Faces. Nota-se que as velocidades são relacionados com o passo
de tempo anterior.
Uma vez calculado os gradientes, o Teoria da Divergência pode ser aplicado para a Célula
Dual.
2.4.5.2.4 Fricção
O coeficiente de fricção é calculado usando a equação --. Esse irá ser dependente de
outras quantidades como a aceleração da gravidade, raio hidráulico, coeficiente de Manning e
velocidade.
Contudo, deve-se observar que esse termo será usado implicitamente na equação. Como
será utilizado o método de Crank-Nicolson, o coeficiente 𝑐𝑓 é computado baseado nos passos
de tempo 𝑡 + Δ𝑡 e 𝑡, e, portanto, deve ser computado uma vez para cada iteração necessária
para convergência.
Para cada nova iteração, um novo coeficiente 𝑆𝑓 é computado, de forma similar aos
outros termos implícitos. A velocidade utilizada na equação 2-38 é completamente implícita
por questões de estabilidade.
2.4.5.2.5 Efeito Coriolis
O termo de Coriolis é tipicamente o que tem menor magnitude nas equações do
momento, mas também é o mais fácil de calcular. O parâmetro 𝑓 de Coriolis é uma constante
pré-computada que não muda entre os passos de tempo e não depende da malha subjacente.
Conforme a formula de Crank-Nicolson aplicada para uma linha de caminho, pode ser calculado
conforme equação 2-39.
Finalmente, a componente normal (𝑢𝑁 )𝑛+1 da velocidade é obtida pelo produto escalar
com a normal da Face e substituída na equação 2-33, obtendo-se um sistema de equações.
(Δ𝑥)2
Δ𝑡 < 2-41
2𝑣
Essa condição permite a utilização de intervalos de tempo maiores do que tipicamente é
aplicável para os esquemas Eulerianos.
O esquema linearizado tem rpecisão de segunda ordem no espaço. A precisão no tempo
depende da escolha de 𝜃. Para 𝜃 = 1, tem precisão de primeira ordem, enquanto que para
𝜃 = 1/2 tem precisão de segunda ordem.
2.4.5.4 Procedimento Computacional
O procedimento de solução é resumido a seguir:
1. A geometria, ortonormalidade local e malha subjacente são obtidos e pré-
processados
0
2. A solução começa com 𝐻 0 e 𝑢𝑁 dados como condições iniciais para passo 𝑛 = 0
3. Condições de contorno são fornecidas para 𝑛 + 1
𝑛+1 𝑛
4. Estimativa inicial 𝐻 𝑛+1 = 𝐻 𝑛 e 𝑢𝑁 = 𝑢𝑁
5. Computar os termos explícitos que permanecem constantes para o passo de
tempo
6. Computar a elevação da água ponderada em 𝜃 𝐻 = (1 − 𝜃)𝐻𝑗𝑛 + 𝜃𝐻𝑗𝑛+1 e
variáveis da malha subjacente que dependem dela (Área da Face, Área da
Superfície da Água, Raio Hidráulico, Manning’s, etc.)
7. Montar o sistema de equações
8. Resolver o sistema de equações de forma iterativa utilizando o método de
Newton-Raphson
𝑛+1
9. Computar as velocidades 𝑢𝑁
10. Se o resíduo corrigido for maior que a tolerância admitida, voltar para o passo 6;
senão, continuar par ao próximo passo
11. A solução é aceita
12. Se não tiver chegado ao último passo de tempo, incrementar 𝑛, e voltar para o
passo 3.
A repetição dos passos 6-10 tem como objetivo atualizar os coeficientes do sistema de
equações, de modo que seja obtida a solução do sistema não linear das equações (em vez do
sistema linearizado) para cada passo de tempo. Como esperado, a solução totalmente não
linear tem características desejáveis como preenchimento de várias células e propagação das
ondas através de várias células em um único intervalo de tempo.
Assim como o Solver para o modelo de Onda de Difusão (DSW), o algoritmo usa como
vantagem a possibilidade de vetorização e paralelização dos processos. Vetorização é usada
extensivamente em termos que utilizam uma discretização explícita, como os coeficientes para
difusão, Coriolis e fricção da superfície. Os passos de operações algébricas como os passos 4, 6
e 9 são completamente vetorizados. Paralelização é implementada em termos com uma
descrição mais construtiva como algoritmos e condicionais.
3 Referências
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Hydraulics Division (ASCE), v. 96, n. HY12, p. 2481–2500, 1970.
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CASULLI, V. A high-resolution wetting and drying algorithm for free-surface
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CHEN, Y. . . Mathematical Modeling of Water and Sediment Routing in Natural Channels,
1973. Colorado State University.
FHWA. Hydraulics of Bridge Waterways. , , n. March, 1978.
FREAD, D. L. Numerical properties os implicit four-point finite difference equations of
unsteady flow. NOAA Technical Memorandum, 1974.
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Weirs. J. Hyd. Div., 1957.
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YARNELL, D. L. Bridge Piers as Channels Obstructions. District of Columbia, 1934.