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Notas sobre o regime jurídico dos fundos de investimento
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8 Tal entendimento tem origem na decisão proferida pelo Colegiado da CVM em 21.2.2006 (Processo
CVM RJ 2005/2345, Relator Presidente Marcelo Trindade) e se mantém nos dias atuais. Em decisão 9 Cf. Lei n. 8.668/1993, art. 8° e seguintes.
de 30.10.2018, o Colegiado reiterou que"( ... ) desde que seja por uma razão lícita, os participantes de 10 Acerca da natureza jurídica dos fundos de investimento, v. OLIVA, Milena Donato. Indenização
mercado podem seguir o regime das ofertas públicas de valores mobiliários, sujeitando-se a todos devida "ao fundo de investimento": qual quotista vai ser contemplado, o atual ou o da data do dano?
os ônus daí decorrentes, ainda que não venham a realizar nenhum esforço efetivo de distribuição Revista dos Tribunais, v. 6, 2011, p. 1303-1328.
pública" (Processo Administrativo CVM n. 19957.003689/2017-18, Relator Diretor Pablo Renteria).
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de atuação, estão obrigados a( ... ) exercer suas atividades buscando sempre as melhores
administrador e o gestor a regime jurídico específico, tendo por finalidade promover
condições para o fundo, empregando o cuidado e a diligência que todo homem ativo e
o alinhamento de seus interesses com os dos cotistas. 22
probo costuma dispensar à administração de seus próprios negócios, atuando com le-
A tutela dos catistas constitui finalidade fundamental da regulação dos fundos
aldade em relação aos interesses dos cotistas e do fundo, evitando práticas que possam
de investimento, muito embora o desenvolvimento da indústria tenha levado a CVM
ferir a relação fiduciária com eles mantida, e respondendo por quaisquer infrações ou
a identificar outros objetivos, de ordem mais prudencial, relacionados à higidez do
irregularidades que venham a ser cometidas sob sua administração ou gestão."
sistema financeiro, como se verifica, por exemplo, na supervisão exercida sobre a ala-
Desse comando extraem-se dois principais deveres fiduciários. De um lado, 0
vancagem dos fundos. 23
dever de diligência, usualmente entendido como padrão geral de conduta a exigir 0
Com relação à proteção dos catistas, a regulamentação se vale de três técnicas
emprego das medidas que um profissional honesto e cuidadoso adotaria diante das
principais. A primeira refere-se à edição de normas prescritivas, que obrigam deter-
mesmas circunstâncias. 25 De outro, identifica-se o dever de lealdade, que proscreve,
minados comportamentos ou proíbem certos atos. Exemplo disso é a vedação a que
em termos amplos, toda conduta deliberada do administrador ou gestor em prejuízo
o administrador ou o gestor recebam qualquer espécie de remuneração que possa
dos legítimos interesses dos cotistas.
prejudicar a sua independência na tomada de decisão de investimento em nome do
Na base da relação fiduciária se encontra o dever de diligência, que traduz obri-
fundo, constante do §2° do artigo 92 da Instrução CVM n. 555, de 2014, norma que
gação de meios, em virtude do qual compete ao administrador e, em particular, ao
se aplica à generalidade dos fundos de investimento.
gestor envidarem os seus melhores esforços em prol dos interesses dos cotistas. No
A segunda consiste na adoção obrigatória do regulamento, instrumento con-
entanto, não prometem resultado financeiro nem podem ser responsabilizados pelo
tratual que disciplina pormenorizadamente as relações entre os cotistas, o adminis-
simples fato de terem tomado uma decisão que, ao final, contrariamente às suas ex-
trador, o gestor e outros prestadores de serviços do fundo. Tal documento deve ne-
pectativas, venha a ocasionar perdas ao fundo.
cessariamente dispor sobre as matérias previstas no artigo 44 da Instrução CVM 11 •
A diligência, portanto, relaciona-se ao procedimento decisório observado pelo
555, de 2014, notadamente a política de investimento do fundo, os fatores de risco a
gestor ou administrador, e não ao mérito da decisão. Nesse tocante, ao apurar a regu-
que se sujeitam as aplicações dos cotistas e a remuneração devida ao administrador.
laridade da conduta de administradores e gestores de fundos, a CVM estabelece clara
O regulamento cumpre dupla utilidade. Ao mesmo tempo em que preserva a
distinção entre o exame de mérito das decisões de investimento e a averiguação do
autonomia negocial na definição das características do fundo, que podem ser mol-
cumprimento do dever de diligência. 26
dadas em conformidade com os objetivos de investimento, serve de instrumento de
Em definitivo, no exame do cumprimento de dever de diligência, não tem ca-
proteção do catista perante a discricionariedade do administrador e do gestor, uma
bimento a formulação de juízo de valor sobre a qualidade do trabalho do gestor ou
vez que estes se encontram vinculados ao cumprimento das suas disposições. 24
do administrador, mas averiguar se há razões objetivas para entender que não tenha
, . Por fim, a regulamentação impõe ao administrador e ao gestor deveres fiduci-
agido com a diligência devida, por ter deixado de adotar algum cuidado impositivo
anos, de sorte que, mesmo em suas respectivas esferas de discricionariedade, encon-
antes de consumar a operação.
tram-se obrigados a agir no melhor interesse dos catistas. Segundo o artigo 92, I, da
Instrução CVM n. 555, de 2014, "o administrador e o gestor, nas suas respectivas esferas
22 De acordo ~om o entendimento da CVM: "Os principais objetivos das normas que regem a 25 Ne~s: p~rticular, revela-se flagrante a influência da doutrina societária na formulação do dever de
adm1111straçao de recursos de terceiros são alinhar os interesses do investidor e daqueles que agem dihgen.c1a_cont1da no aludido art. 92, I, da Instrução CVM n. 555/2014. A menção ao "cuidado e
em seu nome, estabelecer mecanismos pelos quais os investidores possam supervisionar a gestão ª d 1!1gen~1a que todo homem ativo e probo costuma dispensar à administração de seus próprios
fe!la pelos adm1111stradores, bem como impor um regime fiduciário e de responsabilidade dos negooos guarda evidente semelhança com o enunciado legal do dever de diligência dos
ge_stores dos fundos em relação aos seus catistas. Para tanto, procuram assegurar que gestores: (i) ~dmmistradores de companhias, previsto com os seguintes termos no art. 153 da Lei n. 6.404/1976:
0 admrnistrador da companhia deve empregar, no exercício de suas funções, o cuidado e diligência
seJam pessoas qualificadas; (ii) ajam no interesse dos cotistas; (iii) cumpram O mandato estabelecido
pelo regulamento do fundo; (iv) prestem uma série de informações aos catistas do fundo; e (v) que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração dos seus próprios negócios."
submetam aos catistas alterações relevantes no regulamento e estrutura do fundo, bem como a Poi '.sso se mostra comum o recurso a conceitos e critérios desenvolvidos pela doutrina societária
prestação anual de contas" (PAS CVM n. 15/08, Rel. Diretora Luciana Dias, julg. 28.2.2012). nos Julgamentos da CVM sobre o dever de diligência dos administradores e gestores de fundos,
como pode ser observado, por exemplo, na já citada decisão proferida no âmbito do PAS CVM 11 •
23 Nessa_ pers~ectiva, confira-se WELLISCH, Julya Sotto Mayor. Merendo de Capitais: F1111dame11tos e RJ2019/1400 (Rel. Presidente Marcelo Barbosa, julg. 17.12.2019, §§ 40 a 42).
Desajws, Sao Paulo: Quartier Latin, 2018, passim.
26 ~t;ntre outros, PAS CVM RJ2005/8542, Rel. Dir. Pedro Marcílio, julg. 29.8.2006. V. ainda PAS
24 Nesse sentido, o artigo 16, III, da Instrução CVM n. 558, de 2015, estabelece que o "administrador
D· RJl005/544_2, Rel. D1r. Mana Helena Santana, julg. 23.5.2007; e PAS CVM RJ2015/12087, Rel.
de carteira de valores mobiliários" - expressão que compreende tanto o administrador como o Ir. Pablo Rentena, julg. 24.7.2018.
gestor - tem o dever primordial de "cumprir fielmente o regulamento do fundo de investimento."
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7. Bibliografia
OLIVA, Milena Donato. Do negócio fiduciário à fidúcia. São Paulo: Atlas, 2014.
OLIVA, Milena Donato. Indenização devida "ao fundo de investimento": qual quotista
vai ser contemplado, o atual ou o da data do dano? Revista dos Tribunais, v. 6, 2011.
34 Sobre o truste a relevância de sua incorporação no direito brasileiro, cf. OLIVA, Milena Donato. Do
negócio jiduciârio à jidúciu, São Paulo: Atlas, 2014, passim.
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