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ACARAÚ
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA
PROFESSORA: MARIA ANTÔNIA VEIGA ADRIÃO
RESUMO
INTRODUÇÃO
Estimular o movimento consciente e criador dos alunos e das alunas, para conhecerem
a própria história, realizando comparações, críticas e interpretações do mundo social
são atitudes diretamente relacionadas com a formação cidadã. Sobretudo, o
conhecimento do outro através de novas interpretações pautadas na alteridade e no
respeito à diversidade foi um princípio que norteou a criação das referências
curriculares da área específica de História. (p.842)
Sendo esse conjunto de pressupostos objetos importantes na construção do saber
humano, da forma como propõe o currículo estadual amparado na BNCC, no que concerne às
propostas pedagógicas somadas ao princípio de uma Educação Integral, isto é, um modelo
educacional que forme diferentes aspectos pessoais e interpessoais da vida do educando:
Tal panorama se manifesta nas relações sociais executadas entre instituições e sujeitos
e nas relações interpessoais, formando o conjunto de sistemas sociais que regem o
comportamento dos indivíduos, podendo ser classificado enquanto um habitus escolar,
conforme presente na obra de Bourdieu.
Enquanto “força formadora de hábitos”, a escola propicia aos que se encontram direta
ou indiretamente submetidos à sua influência, não tanto esquemas de pensamento
particulares e particularizados, mas uma disposição geral geradora de esquemas
particulares capazes de serem aplicados em campos diferentes do pensamento e da
ação, aos quais pode-se dar o nome de habitus cultivado (Bourdieu,2007, p. 211).
No contexto da escola pública, tanto na unidade da atividade de campo como em
outras instituições conhecidas a partir de debates e pesquisas, observa-se o direcionamento
para a manutenção de um habitus que tem por intuito a formação não de seres humanos
emancipados seguindo alguns componentes dos modelos da educação integral anteriormente
apresentados, mas sim futuros profissionais que darão continuidade ao atual desenvolvimento
do capitalismo na periferia da globalização, o mercado neoliberal que desde a década de 1970
com a experiência chilena invade as realidades latino-americanas intensificando a condição de
dependência das economias latinas e a dominação sobre as classes historicamente oprimidas
pelo capital associado ao Estado.
A visão neoliberal de mundo procura impor uma determinada ótica sobre as relações
entre produção e educação, como se houvesse uma necessidade mecânica de
adequação do último termo ao primeiro, com a conseqüente redução do papel das
escolas a um mero atendimento da formação de mão de obra para o processo de
reestruturação das empresas modernas.
Configurando uma “nova” pedagogia do capital, de acordo com Vieira (2002), que se
sustenta na construção de uma subjetividade do trabalhador vinculada às novas características
do trabalho e do mercado, “estreita as perspectivas da formação aos ditames do mercado e do
consumo”, isto é, fornecer um processo educativo que direcione o futuro trabalhador a ser
integrado ao mercado neoliberal para garantir sua manutenção ou a continuar sua formação
aliada aos interesses mercadológicos. “Vincular o ingresso dos educandos única e
exclusivamente pela própria capacidade individual”; estimular os ideais de competitividade e
individualismo junto da individualização do próprio “sucesso” ou “fracasso” e por último a
constante desmobilização do potencial social dos sujeitos que formam uma unidade escolar.
Na Escola Padre Osvaldo Chaves, assim como em outras instituições nas suas devidas
condições, ocorre um fenômeno que pode ser interpretado sobre a lógica da constante invasão
mercadológica sobre o setor educacional, no caso as relações sociais de violência observadas.
O próprio direcionamento que o contexto político-econômico emprega sobre a escola pode ser
entendido sobre um viés cultural enquanto uma violência, ou mesmo uma violência simbólica
voltando a Bourdieu.
Abaixo de tal estrutura a cultura indígena se torna um elemento a ser substituído pela
cultura dominante, tal fato pode ser correlacionado com o que os estudantes das periferias dos
centros urbanos (como os habitantes do Dom Expedito) internalizam como práticas sociais na
realidade de seus bairros, nas vivências e interações com familiares e amigos, havendo a
necessidade de substituir esses padrões “dissonantes” através da instituição de ensino.
O que chamo de Geração N, portanto, são jovens nascidos entre 1990 e 2002,
oriundos de famílias de baixa renda, residentes na sua maioria na periferia das grandes
e médias cidades, que estão sem estudar, sem trabalhar e que, em certos casos,
desistiram até mesmo de procurar empregos. Eles vivem a margem do universo
possível que faz a distinção social no Brasil contemporâneo. (DIÓGENES, 2019, p.5 )
Além dos problemas que afetam a formação humana do jovem estudante, a lógica de
mercado implantada nas unidades escolares coloca em evidência a quebra com uma série de
pressupostos político-pedagógicos presentes nos documentos que norteiam as resoluções
curriculares da educação sobre variados níveis, como citado anteriormente a ideia de uma
Educação Integral baseada em pressupostos humanistas como o oferecimento das condições
para a manutenção da condição de humano e seu constante desenvolvimento passam a ser
instrumentalizados sobre os interesses econômicos de uma classe exterior ao educando.
Assim, também estabelecendo um desencontro com todas as resoluções referentes a
autonomia; seja a autonomia do discente, docente ou mesmo da instituição escolar conforme
estabelece o plano político-pedagógico: “Prevista desde 1996 na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, a proposta pedagógica tem como objetivo garantir a autonomia da escola na sua
gestão pedagógica, administrativa e financeira.”
O conceito de autonomia também é algo a ser destacado dado seu uso “banalizado”
nos textos oficiais, que utilizam do conceito como um elemento norteador de diferentes
aspectos do ensino e até mesmo usam como referência a obra de Paulo Freire para embasá-lo.
Formando um panorama em que teoria e prática se distanciam, ou mesmo quando
aproximados geram um problema decorrente da contextualização cultural mal executada.
Compreendendo autonomia dentro da proposta freiriana enquanto a construção e manutenção
de uma prática pedagógica dialógica entre o saber do educador e o saber do educando,
ressaltando os mecanismos sócio-culturais e sua individualidade enquanto forma de se
construir o saber.
Assim, referindo-se ao que pode ser colocado enquanto mediador dessa problemática
está o real cumprimento daquilo que está estabelecido nas diretrizes curriculares, sendo tal
ação apenas possível com uma viragem quando a influência mercadológica sobre as
instituições de ensino; através de organismo de representação profissional do professorado
atuando enquanto instrumento de luta social e reivindicação sobre as instâncias políticas. Tal
atividade além de favorecer as reformas necessárias para uma real prática de ensino alinhada
ao que o Estado brasileiro, imbuído da alcunha de um Estado democrático de direito, coloca
para a educação de sua população, também funciona como um fomentador da luta social,
desmobilizada por setores ditos progressistas mas que se alinham diretamente com a
manutenção dos mecanismo de exploração da classe trabalhadora; tornando-se efetivamente
também um instrumento de combate ao avanço do conservadorismo e da extrema-direita.
Dentro dessa perspectiva, é possível incluir enquanto uma outra proposição de ensino
contextualizada ao meio sócio-cultural dos discentes, que se confirma enquanto dissonante à
centralização empregada aos modos de aprendizagem ocidentais de raiz europeia e
instrumentalizados como ferramentas de manutenção do status quo, baseada nas relações
sociais construídas nos espaços periféricos somadas aos efeitos da globalização quanto ao
consumo midiático. Sendo possível historicizar a própria condição periférica dos discentes,
estudando os processos históricos que constroem o panorama econômico e social dos seus
cotidianos; com a possibilidade de adicionar elementos de suas realidades culturais como a
música. Referente a essa temática, é necessário destacar que esse trabalho alinha-se na
atividade de descriminalização da periferia e seus elementos culturais, como o gênero musical
do funk.
A partir disto é necessário destacar que esse conjunto de propostas podem ser
interpretadas efetivamente enquanto reformas com potencial de uma profunda transformação
social alinhadas diretamente aos interesses dos diversos sujeitos, grupos sociais que formam a
sociedade brasileira, e não aos interesses da abstração do “mercado” ou dos interesses
políticos, supostamente representantes da vontade popular.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. Coleção História, sociedade & cidadania. São Paulo: FTD, 2018.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 6ª Edição. São Paulo: Perspectiva, 2007.
DIÓGENES, Glória. Eles dizem não ao não: um estudo sobre a geração N. Edição 01. Fortaleza-CE: Instituto
Dragão do Mar, 2019.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões. 27ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1987.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 25ª Edição. São Paulo: Paz
e Terra, 1996.
OLIVEIRA, Bruna Santana de, SANTOS, Jacques Fernandes, SANTOS, Vinicius Silva. A VIOLÊNCIA
SIMBÓLICA NO CONTEXTO ESCOLAR: A transformação da sala de aula em um tribunal de exclusões nos
vereditos do juízo professoral. Revista Científica da FASETE 2017.3. p. 100 - 114. Disponível em:
https://www.unirios.edu.br/revistarios/media/revistas/2017/14/a_violencia_simbolica_no_contexto_escolar.pdf
SOUZA, Miriam Rodrigues de. Violência nas escolas: Causas e Consequências. Caderno Discente do Instituto
Superior de Educação Ano 2, n. 2. p. 119 - 136. Aparecida de Goiânia, 2008. Disponível em:
http://www.faculdadealfredonasser.edu.br/files/pesquisa/Artigo%20VIOL%C3%8ANCIA%20NAS%20ESCOL
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VIANA, Nildo et al. Educação, Cultura e Sociedade: Abordagens Críticas da Escola. Goiânia-GO: Edições
Germinal, 2002.