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Perdas de Energia

Elétrica na Distribuição

Edição | 01/2021
(julho/2020)

ANEEL – RELATÓRIO – PERDAS DE ENERGIA NA DISTRIBUIÇÃO – 1/2021 1


1. INTRODUÇÃO
O sistema elétrico é composto por atividades de Geração, Transmissão e Distribuição.
As perdas de energia se referem à energia elétrica gerada que passa pelas linhas de transmissão e
redes da distribuição, mas que não chega a ser comercializada, seja por motivos técnicos ou
comerciais.
As perdas na Distribuição podem ser definidas como a diferença entre a energia elétrica
adquirida pelas distribuidoras e a faturada aos seus consumidores. Essas perdas podem ser técnicas
ou não técnicas.
As perdas técnicas são inerentes à atividade de distribuição de energia elétrica, pois
parte da energia é dissipada no processo de transporte, transformação de tensão e medição em
decorrência das leis da física. Essas perdas, portanto, estão associadas às características de
carregamento e configuração das redes das concessionárias de distribuição. Os montantes de
perdas técnicas são divididos pela energia injetada, que é a energia elétrica inserida na rede de
distribuição para atender aos consumidores, incluindo as perdas.
Já as perdas não técnicas, apuradas pela diferença entre as perdas totais e as perdas
técnicas, têm origem principalmente nos furtos (ligação clandestina, desvio direto da rede), fraudes
(adulterações no medidor ou desvios), erros de leitura, medição e faturamento. Essas perdas,
também denominadas popularmente de “gatos”, estão em grande medida associadas à gestão da
concessionária e às características socioeconômicas das áreas de concessão. Os montantes de
perdas não técnicas são divididos pelo mercado de baixa tensão faturado1, dado que essas perdas
ocorrem predominantemente na baixa tensão.

As perdas totais na distribuição representaram aproximadamente 14,8% do mercado consumidor


em 2020. Essas perdas representam mais do que o consumo de energia elétrica das regiões Norte e
Centro-Oeste em 2018.

Em montantes de energia, as perdas técnicas na distribuição corresponderam a cerca de 38,8


TWh e as perdas não técnicas 37,9 TWh em 2020. A Figura 1 ilustra a participação dessas perdas.

Figura 1 – Perdas sobre a Energia Injetada (2020)

1 O mercado de baixa tensão faturado representou 44,9% da energia injetada no Brasil em 2020.

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O repasse tarifário dos níveis eficientes das perdas está previsto nos contratos de concessão
e essas perdas são contempladas nos custos com compra de energia até o limite regulatório
estipulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Assim, as perdas reais das
distribuidoras não são totalmente repassadas para a tarifa.
As perdas técnicas e não técnicas regulatórias são estabelecidas nos processos de revisão
tarifária periódica de cada distribuidora, que ocorre em ciclos de 3 a 5 anos, mediante a fixação de
percentuais regulatórios nas Resoluções Homologatórias (REHs) da ANEEL.

2. PERDAS NO BRASIL

A Figura 2 apresenta a evolução das perdas técnicas e não técnicas sobre a energia
injetada no período de 2008 a 2020.

Figura 2 – Perdas sobre a Energia Injetada (2008-2020)

A Figura 3 apresenta as perdas sobre energia injetada – técnicas e não técnicas (reais e
regulatórias) - por região geográfica brasileira em 2020.

Figura 3 – Perdas Técnicas, Não Técnicas Reais e Regulatórias sobre a Energia Injetada por região (2020)

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2.1. PERDAS TÉCNICAS

O transporte da energia, seja na Rede Básica ou na distribuição, resulta inevitavelmente


em perdas técnicas relacionadas à transformação de energia elétrica em energia térmica nos
condutores (efeito joule), perdas nos núcleos dos transformadores, perdas dielétricas etc.
As perdas na Rede Básica são calculadas pela diferença da energia gerada e entregue
nas redes de distribuição. Essas perdas são apuradas mensalmente pela Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica (CCEE) e o seu custo, definido anualmente nos processos tarifários, é rateado em
50% para geração e 50% para os consumidores.
As perdas técnicas, inevitáveis em qualquer sistema de distribuição, variam conforme
as características das redes de cada área de concessão, sendo reconhecidas, nas tarifas pela ANEEL,
apenas os níveis eficientes.
O sistema de distribuição é dividido de acordo com os segmentos de rede (alta, média e
baixa tensão), transformadores, ramais de ligação e medidores. Aplicam-se modelos específicos
para cada um desses segmentos, utilizando-se informações simplificadas das redes e equipamentos
existentes, como por exemplo, comprimento e bitola dos condutores, potência dos
transformadores e energia fornecida às unidades consumidoras. Com base nessas informações,
estima-se o percentual de perdas técnicas eficientes relativas à energia injetada na rede.
O detalhamento do cálculo das perdas técnicas regulatórias encontra-se no Módulo 7
dos Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica - PRODIST2.
A Figura 4 apresenta as perdas técnicas regulatórias sobre a energia injetada em 2020
das concessionárias de distribuição, cuja média é de 7,5%.

Figura 4 – Perdas Técnicas Regulatórias / Energia Injetada – Mapa Brasil (2020)

A Figura 5 apresenta os percentuais regulatórios de perdas técnicas sobre a energia


injetada das 53 concessionárias de distribuição em 2020.

2 http://www2.aneel.gov.br/cedoc/aren2018819_Proret_Submod_2_7_V5.pdf

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Figura 5 – Perdas Técnicas Regulatórias / Energia injetada – 2020

2.2. PERDAS NÃO TÉCNICAS


As perdas não técnicas reais são apuradas pela
Regulatório x Real
diferença das perdas totais, informadas pelas
Valores regulatórios são aqueles
distribuidoras, e das perdas técnicas regulatórias,
que são reconhecidos na tarifa de
apuradas pela ANEEL.
energia, enquanto os valores reais
As concessionárias de grande porte3 são são os que efetivamente ocorrem.
responsáveis por quase a totalidade dos montantes das A diferença de custos entre o valor
perdas não técnicas no Brasil devido ao tamanho do regulatório e o real é de
mercado e à maior complexidade de se combater as responsabilidade da concessionária.
perdas.
Os níveis de perdas não técnicas dependem da gestão das concessionárias, das
características socioeconômicas e de aspectos comportamentais existentes em cada área de
concessão.
As perdas não técnicas regulatórias consideradas desde o Primeiro Ciclo de Revisões
Tarifárias, que se iniciou em 2003, têm sofrido mudanças substanciais, conforme o aperfeiçoamento
metodológico de cálculo da ANEEL. A evolução dessas metodologias é detalhada no Anexo I.
Como as concessionárias atuam em áreas de concessão com especificidades diversas,
tais como características do mercado e variáveis socioeconômicas, a comparação entre elas
considera um ranking de complexidade socioeconômica, elaborado a partir de modelos
econométricos, que permitiu a comparação do desempenho das perdas não técnicas das
distribuidoras, conforme o porte e a posição4.
Para a distribuidora cuja perda não técnica regulatória será estabelecida em processo
de revisão, esse modelo identifica a existência de uma empresa de referência (benchmark), que

3 As concessionárias de grande porte foram definidas como aquelas com mercado maior do que 1 TWh e que atendem mais
de 500 mil unidades consumidoras ou que possuem mais do que 15.000 km de rede elétrica. Entretanto, as distribuidoras
Roraima Energia, CEA CPFL Nova Santa Cruz e Energisa Sul Sudeste (ESS) foram consideradas de grande porte neste Relatório.
4 O ranking de complexidade encontra-se no Anexo II deste Relatório. Pressupõe-se que as concessões situadas em áreas de

menor complexidade socioeconômica deveriam, em tese, possuir menores índices de perdas não técnicas.

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normalmente se situa em área de maior complexidade socioeconômica, mas que pratica perdas
menores do que a distribuidora em análise. O incentivo em reduzir as perdas não técnicas é
intrínseco, ou seja, as distribuidoras devem atuar sempre no sentido de reduzi-las,
independentemente do nível regulatório estabelecido, seja para reduzir prejuízos, quando as perdas
reais estiverem acima da regulatória, ou auferir ganhos, quando acontecer o oposto.
A regulação por incentivos adotada pela ANEEL sinalizou que eventuais negligências ou
ineficiências das distribuidoras no combate às perdas não seriam mais repassadas às tarifas,
limitando-se apenas aos níveis regulatórios considerados eficientes. A expectativa era de que a
introdução dos mecanismos teóricos da regulação por incentivos, com sinalização econômica,
contribuiria para a redução das perdas não técnicas no país.
Assim, os valores regulatórios das perdas não técnicas são normalmente inferiores aos
valores praticados pelas concessionárias, pois a metodologia adotada pela ANEEL observa critérios
de eficiência, limitando o repasse das perdas não técnicas reais. Como boa parte das perdas não
técnicas ocorre no mercado de baixa tensão faturado, a ANEEL homologa as perdas não técnicas
sobre esse mercado, que é inferior ao da energia injetada, utilizado como denominador das perdas
técnicas.
A Figura 6 ilustra os níveis das perdas não técnicas reais e regulatórias sobre o mercado
de baixa tensão faturado no Brasil5.

Figura 6 – Perdas Não Técnicas Reais e Regulatórias sobre Baixa Tensão Faturado – Mapa Brasil (2020)

5Os valores foram calculados de modo simplificado por ano civil, sendo diferentes dos valores homologados pela ANEEL nas
revisões tarifárias. Além disso, foi considerado escalonamento das perdas técnicas a partir do ano de apuração pela
Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição - SRD, que difere do ano de homologação das perdas nos
processos tarifários. O mercado de baixa tensão faturado considera o mercado AS e a energia faturada de microgeração.

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A Figura 7 apresenta as perdas não técnicas reais e regulatórias sobre o mercado de
baixa tensão faturado das concessionárias de grande porte, por ano civil.

Figura 7 – Perdas Não Técnicas sobre Baixa Tensão Faturado (2020)

A Figura 8 apresenta a participação das concessionárias6 nas perdas não técnicas


observadas em 2020 em relação às perdas não técnicas totais no Brasil.

Figura 8 – Participação das Perdas Não Técnicas Reais/ Perdas Não Técnicas Brasil (2020)

Nota-se que as 10 distribuidoras com maiores montantes de perdas respondem por


68,9% das perdas não técnicas do país (apenas Light e Amazonas Energia, 30%).

6As concessionárias que não apareceram na figura apresentaram participação em relação às perdas do Brasil inferior à 0,3%,
totalizando aproximadamente 0,5% das perdas não técnicas no Brasil.

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3. EVOLUÇÃO DAS PERDAS NÃO TÉCNICAS

A Figura 9 apresenta a evolução das perdas não técnicas praticadas e regulatórias


ponderadas sobre o mercado de baixa tensão faturado, respectivamente, no período de 2008 a 2020.

Figura 9 – Perdas Não Técnicas Reais e Regulatória sobre Baixa Tensão Faturado (média ponderada)

A Figura 10 apresenta a evolução das perdas não técnicas reais e regulatórias (média
simples7)
sobre o mercado de baixa tensão faturado, o que, por não considerar os valores
ponderados daquelas empresas mais representativas em termos de perdas, resulta num
desempenho diferente da Figura 9, acima.

Figura 10 – Perdas Não Técnicas Reais e Regulatória sobre Baixa Tensão Faturado (média simples)

7Os percentuais apresentados foram obtidos com base nas médias simples das distribuidoras, ou seja, cada distribuidora
possui o mesmo peso na composição do percentual.

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Ressalta-se que o aumento das perdas não técnicas regulatórias observado de 2016 para
2017 pode ser explicado pela entrada em vigor da Lei nº 13.299/2016, cujo efeito resultou na
elevação das perdas regulatórias das concessões de distribuição, nos Estados em que as capitais não
estavam interligadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN)8, e, ainda, pela vigência da Lei nº
13.360/2016, que tratou das concessionárias designadas9.
O desempenho individual das concessionárias está disponível na página eletrônica da
ANEEL, sendo possível observar o comportamento das perdas não técnicas por concessionária de
distribuição no período de 2008 a 2020.

4. IMPACTO DAS PERDAS NAS TARIFAS DE ENERGIA ELÉTRICA

Os impactos financeiros das perdas na tarifa de energia também podem ser segregados
pelas perdas técnicas e não técnicas.
Em 2020, o custo das perdas técnicas, obtido pela multiplicação dos montantes pelo
preço médio da energia nos processos tarifários10, sem considerar tributos, é da ordem de R$ 8,5
bilhões. Essas perdas, inevitáveis em qualquer sistema de distribuição, são repassadas aos
consumidores, já se considerando a operação eficiente das redes e, portanto, não são passíveis de
maiores reduções. Os custos das perdas na rede básica considerados nas tarifas foram de
aproximadamente R$ 1,8 bilhão.
As perdas não técnicas reais no país, utilizando
o mesmo método acima, representaram um custo de R$ 5,6 bi
Perda Não Técnica
aproximadamente R$ 8,6 bilhões em 2020. No entanto, as 2,9% da tarifa

perdas não técnicas regulatórias, que são calculadas


conforme a metodologia da ANEEL, considerou um custo de R$ 8,5 bi
Perda Técnica
aproximadamente R$ 5,6 bilhões ao ano, o que representa
aos consumidores cerca de 2,9% do valor da tarifa de R$ 1,8 bi
energia elétrica, variando por distribuidora, conforme Perda Rede Básica

demonstra a Figura 11:

8 As perdas da Amazonas Energia, CEA e Roraima Energia foram estabelecidas pela REH nº 2.184/2016.
9 As perdas da Equatorial Alagoas, Equatorial Piauí, Ceron e Eletroacre foram estabelecidas pela REH nº 2.349/2017.
10 Os valores de compra de energia, Receita Requerida e Parcela B são referentes aos processos de maio de 2020 a abril
de 2021. Os montantes de perdas técnicas e na rede básica foram retirados dos processos tarifários no mesmo período.
Já as perdas não técnicas “reais” e regulatórias” apresentadas foram estimadas para o ano civil de 2020, sendo valores
aproximados em relação aos valores homologados (vide Nota de Rodapé 5).

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Figura 11 – Representatividade dos custos das Perdas Não Técnicas Regulatórias sobre a Receita Requerida (2020)

A Figura 12 apresenta, por concessionária, os valores das perdas que constam nas tarifas
e sua representação em relação à parcela destinada aos custos dos serviços de distribuição
(operação e manutenção, investimentos e depreciação), denominada Parcela B.

Figura 12 – Participação das perdas não técnicas regulatória sobre a Parcela B (2020)

Os valores das perdas não técnicas contidos nas tarifas representaram, na média Brasil
em 2020, aproximadamente 9,8% da Parcela B.

A redução das perdas pelas distribuidoras traz benefícios aos consumidores: redução dos valores regulatórios,
aumento do rateio dos demais custos (redução da tarifa), diminuição do desperdício e melhoria na qualidade
do fornecimento.
A Figura 13 apresenta, considerando o preço médio da energia nos processos vigentes
em abril/2021, os valores equivalentes glosados pela ANEEL nas tarifas dos consumidores, de 2008
a 2020, que são arcados pelas concessionárias.

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Figura 13 – Evolução da glosa da ANEEL, em milhões de reais (preços de 2020)

Os novos patamares regulatórios de perdas das concessionárias


atingidas pelas Leis nº 13.299/2016 e 13.360/2016 aumentaram o repasse R$ 2,92 bi
Perda Não Técnica
tarifário das perdas em R$ 374 milhões (2017), R$ 466 milhões (2018), R$ 368 não reconhecida

milhões (2019) e R$ 358 milhões (2020), reduzindo a glosa da ANEEL nessas


proporções.
A Figura 14 apresenta a distribuição dos valores, por distribuidora, glosados em 2020,
totalizando cerca de R$ 2,92 bilhões, conforme a aplicação da metodologia de regulação por
incentivos da ANEEL (comparação das empresas) e legislação setorial.

Figura 14 – Valores das perdas não técnicas glosadas, por distribuidora, em milhões de reais (2020)

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As informações sobre as perdas não
O consumidor regular arca parcialmente pela
técnicas das concessionárias de distribuição no fraude e furto de energia, uma vez que a ANEEL
período de 2008 a 2020, por ano civil, estão reconhece valores regulatórios eficientes. Quando
disponíveis na página eletrônica da ANEEL uma distribuidora recupera o consumo irregular,
(Tarifas - Luz na Tarifa- Perdas Não Técnicas11). os montantes faturados são incorporados no
Os processos tarifários de cada distribuidora, mercado, de modo que os custos passam a ser
também disponíveis no site, apresentam os rateados com os demais consumidores, o que
montantes exatos de perdas técnicas e não diminui a tarifa de energia.
técnicas.

11 http://www.aneel.gov.br/luz-na-tarifa

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ANEXO I
Metodologia Regulatória das Perdas

No Primeiro Ciclo de Revisões Tarifárias Periódicas – 1º CRTP, que ocorreu entre 2003 e
2006, a ANEEL propôs uma metodologia simplificada, adotando como regra geral a média histórica de
cada uma das distribuidoras com a análise de especificidades das áreas de concessão.
A metodologia regulatória das perdas não técnicas sofreu alterações significativas no 2º
CRTP (2007-2010), quando a ANEEL adotou a regulação por incentivos, com base na comparação das
distribuidoras. Essa metodologia se baseou na determinação de uma trajetória de redução das perdas
não técnicas para a distribuidora em processo de revisão tarifária, baseada no ponto de partida
(referencial regulatório inicial a ser considerado no ano da revisão da empresa) e no ponto de chegada
ao final do ciclo tarifário. Regra geral, foi considerado como ponto de partida o mínimo histórico das
perdas não técnicas observadas nos quatro anos anteriores. Já o ponto de chegada foi obtido a partir
das melhores práticas verificadas na comparação das empresas (benchmarking).
Conforme já explicado, as concessionárias atuam em áreas de concessão heterogêneas e
para tratar essa questão a ANEEL desenvolveu um ranking de complexidade socioeconômica, a partir
dos resultados de um modelo econométrico12, que permitiu a comparação do desempenho das perdas
não técnicas das distribuidoras, conforme o porte e a posição nesse ranking..
Assim, para a distribuidora cuja perda não técnica regulatória será estabelecida em processo
de revisão tarifária, esse modelo identifica a existência de uma empresa de referência (benchmark), que
normalmente se situa em área de maior complexidade socioeconômica, mas que pratica perdas
menores do que a distribuidora em análise.
As perdas não técnicas do benchmark, empresa mais eficiente no combate às perdas, são
ponderadas com as perdas não técnicas da distribuidora em processo de revisão, conforme a
probabilidade de comparação entre elas, indicadas no modelo econométrico, resultando no ponto de
chegada da empresa. Assim, definidos os pontos de partida e chegada, estabelece-se uma trajetória de
redução das perdas não técnicas regulatórias ao longo do ciclo tarifário. Nos casos em que o ponto de
partida está distante da chegada, são definidos limites de redução baseados nas melhores práticas de
combate às perdas.
A metodologia do 3º CRTP (2011-2014), manteve a essência do 2º CRTP, porém, com
aperfeiçoamentos, tais como o uso da média de três modelos econométricos para se medir a
complexidade socioeconômica13 e a flexibilização do ponto de partida quando observado
distanciamento da perda praticada e a regulatória - para os casos de piora dos indicadores
socioeconômicos ou com baixa probabilidade de comparação, ou seja, as distribuidoras situadas na
parte superior do ranking de complexidade. Além disso, foram definidos limites discretos na trajetória
de redução regulatória das perdas não técnicas, conforme a complexidade socioeconômica, nível de
perdas não técnicas e porte das concessionárias.
Já no 4º CRTP (2015-2018), utilizou-se a abordagem dos ciclos anteriores, com ajustes e
atualização das variáveis do modelo econométrico14.

12 O modelo de análise de regressão foi o de Dados em Painel com Efeitos Aleatórios. As variáveis utilizadas foram: violência
(óbitos por agressão), desigualdade (% de pessoas com renda baixa), precariedade (% de pessoas em domicílios subnormais)
e infraestrutura (cobertura de abastecimento de água).
13 As variáveis utilizadas foram: violência, desigualdade, precariedade, infraestrutura (rede de esgoto) e inadimplência.
14 As variáveis utilizadas foram: violência; pobreza (renda inferior a ½ salário-mínimo), desigualdade (índice de gini),

precariedade (% de pessoas em domicílios subnormais), infraestrutura (coleta de lixo urbano), inadimplência e participação
do mercado de baixa renda no mercado B1 e Baixa Tensão.

ANEEL – RELATÓRIO – PERDAS DE ENERGIA NA DISTRIBUIÇÃO – 1/2021 13


Adicionalmente, introduziram-se mecanismos específicos para as concessionárias com
níveis considerados baixos de perdas não técnicas15, flexibilizando o ponto de partida dessas
distribuidoras e não estabelecendo trajetória de redução. Houve também tratamento diferenciado para
as distribuidoras situadas na parte superior do ranking de complexidade. Por fim, os limites de
trajetórias de redução foram definidos conforme nível regulatório de perdas não técnicas e o porte da
concessionária, utilizando-se um critério de redução contínua ao invés de discreto, que havia no 3º CRTP.
O acompanhamento das perdas pela ANEEL é feito mediante monitoramento da evolução
das perdas reais frente às perdas regulatórias. O mecanismo adotado pela ANEEL está na fixação no nível
de perdas durante um período predeterminado, de modo que a concessionária tenha o incentivo de
reduzir as perdas para auferir ganhos adicionais de receita ou reduzir os prejuízos decorrentes do não
repasse integral das perdas.
Salienta-se que a metodologia das perdas não técnicas não estabelece sanções para as
concessionárias no caso de não atingimento dos percentuais regulatórios de perdas não técnicas (seja
com ou sem trajetória de redução), uma vez que percentuais acima dos patamares regulatórios não são
repassados para a tarifa de energia elétrica, o que implica que toda essa perda de receita seja arcada
pelo(s) acionista(s) da empresa.
Nota-se também que os valores regulatórios de perdas não técnicas não são
necessariamente menores do que os valores praticados pelas empresas. Além disso, a empresa pode
responder a incentivos de combate às perdas durante o ciclo tarifário, inclusive com mais vigor do que
os valores regulatórios estabelecidos.
Da mesma forma, não há intervenção por parte da ANEEL a respeito das ações que devem
ser desenvolvidas pela concessionária para o combate às perdas, tendo em vista que é a distribuidora
que detém as informações necessárias para identificar quais estratégias alcançarão os melhores
resultados, desde que embasadas pela regulamentação setorial vigente.
É importante mencionar também que os percentuais de perdas não técnicas regulatórias
são estabelecidos nos processos de revisão tarifária pela divisão dos montantes de perdas não técnicas
regulatórias sobre o mercado de baixa tensão faturado ao invés da divisão pela energia injetada.
O detalhamento da aplicação da regra encontra-se no Submódulo 2.6 dos Procedimentos
de Regulação Tarifária – PRORET16.
Ressalta-se também que a Consulta Pública (CP) nº 029/2020, vinculada à CP nº 018/2019,
que vigorou de 09/04/2020 a 08/08/2020, buscou obter subsídios para o aprimoramento metodológico
do tratamento das Perdas Não Técnicas e do texto do Submódulo 2.6 do PRORET. Os subsídios estão
sendo avaliados para a conclusão da metodologia.

15 Perdas não técnicas de 7,5% sobre o mercado de baixa tensão medido para distribuidoras de grande porte e 2,5% de pequeno

porte, obtidos com base nas melhores práticas.


16 http://www2.aneel.gov.br/cedoc/aren2015660_Proret_Submod_2_6_V3.pdf

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ANEXO II
RANKING DE COMPLEXIDADE DAS DISTRIBUIDORAS

Distribuidoras Grandes Índice de Demais Distribuidoras Índice de


(Grupo 1) Complexidade (Grupo 2) Complexidade

CELPA 0,503 CEA 0,457


LIGHT 0,377 EBO 0,229
AMAZONAS ENERGIA 0,364 CERR 0,181
CEMAR 0,315 SULGIPE 0,168
CELPE 0,313 ELFSM - SANTA MARIA 0,137
COELBA 0,284 COCEL 0,119
CEAL 0,266 UHENPAL 0,107
ELETROPAULO 0,265 EFLUL 0,099
CEPISA 0,257 FORCEL 0,092
COELCE 0,253 CHESP 0,090
ELETROACRE 0,243 IGUAÇU 0,076
ESCELSA 0,235 EEB - BRAGANTINA 0,075
ESE 0,224 BOA VISTA 0,074
AMPLA 0,218 CPEE - PAULISTA 0,067
EPB 0,197 CSPE 0,064
CERON 0,191 EFLJC 0,061
CEEE - D 0,179 CLFM - MOCOCA 0,060
COSERN 0,177 ELETROCAR 0,058
BANDEIRANTE 0,172 ENF 0,056
CPFL PIRATININGA 0,170 CFLO 0,056
CEB 0,166 MUX ENERGIA 0,053
CEMIG 0,147 HIDROPAN 0,052
CELTINS 0,139 CAIUÁ 0,049
CEMAT 0,122 CLFSC - SANTA CRUZ 0,049
ELEKTRO 0,106 DEMEI 0,048
COPEL 0,105 EDEVP 0,044
RGE 0,092 COOPERALIANÇA 0,044
EMG 0,091 CNEE - NACIONAL 0,037
AES SUL 0,086 DMEPC 0,037
CPFL - PAULISTA 0,080 CPFL JAGUARI 0,031
CELESC - D 0,077
CELG - D 0,075
ENERSUL 0,063

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ANEXO III
Perdas Não Técnicas em 2020
2020 (MWh) 2020 2020 (mil R$) Processos Vigentes
Perdas Perdas Não
Perda Não Perda Não Diferença Receita
Energia Perda Não Preço médio Perda Não Parcela B Não Técnica /
Distribuidora Técnica Técnica Real e Requerida - RR
Injetada Técnica Real (R$/MWh) Técnica Real (mil R$) Técnica / Receita
Regulatória Regulatória Regulatória (mil R$)
Parcela B Requerida
RGE Sul 21.484.705 795.093 515.847 224,84 178.773 115.986 62.787 2.310.061 4,7% 8.167.059 1,3%
Amazonas 11.334.545 4.257.297 2.721.304 229,78 978.228 625.293 352.935 1.061.374 61,6% 3.466.614 18,9%
Enel RJ 14.471.702 1.871.426 1.304.758 229,17 428.873 299.010 129.863 2.000.749 14,4% 6.610.028 4,4%
EDP SP 16.444.626 750.756 487.298 229,22 172.086 111.697 60.389 1.197.947 9,7% 4.861.296 2,4%
Roraima 1.266.742 171.180 166.932 255,54 43.743 42.657 1.086 190.097 23,5% 526.445 8,5%
ESS 4.870.642 43.570 21.291 206,78 9.009 4.403 4.607 399.877 1,0% 1.841.963 0,2%
CEA 2.001.105 757.321 405.577 162,90 123.367 66.068 57.299 208.334 36,9% 579.436 13,3%
Equat.Alagoas 5.045.176 667.957 519.683 189,17 126.357 98.308 28.049 703.718 16,1% 2.159.759 5,3%
CEB 7.524.976 537.162 296.702 225,59 121.181 66.934 54.246 526.860 13,2% 2.817.600 2,5%
CEEE 9.471.353 1.105.005 351.313 224,65 248.234 78.921 169.314 805.689 10,5% 3.696.438 2,3%
Celesc 27.523.293 581.587 405.518 232,98 135.497 94.477 41.020 1.718.258 5,2% 8.849.836 1,0%
Enel GO 16.330.589 331.485 379.209 222,36 73.707 84.319 - 10.612 1.753.528 4,1% 6.440.842 1,1%
Celpa 12.782.116 2.443.059 1.939.124 195,61 477.876 379.303 98.572 2.059.159 18,4% 5.115.268 7,4%
Celpe 17.331.745 1.899.149 1.047.703 235,46 447.169 246.690 200.479 1.961.197 12,5% 6.412.521 3,8%
Energisa TO 2.854.122 63.881 44.640 198,02 12.650 8.840 3.810 641.586 2,7% 1.349.444 1,3%
Equat.Maranhão 8.165.547 536.859 466.395 184,65 99.130 86.119 13.011 3.166.376 2,9% 6.983.086 1,3%
Energisa MT 11.674.422 846.303 402.299 260,66 220.601 104.865 115.736 2.384.063 4,1% 6.151.531 1,6%
Cemig 52.099.145 1.982.775 1.306.150 221,02 438.228 288.682 149.546 5.135.807 6,1% 16.674.526 1,9%
Equat.Piauí 4.893.061 458.813 404.934 185,91 85.300 75.283 10.017 847.371 14,4% 2.095.777 5,8%
Ceron 4.603.401 723.621 487.284 185,08 133.928 90.187 43.741 654.751 14,3% 1.687.932 5,5%
CHESP 138.895 2.722 1.122 185,41 505 208 297 26.070 0,8% 68.190 0,3%
CPFL Santa Cruz 3.383.893 59.425 45.000 192,22 11.423 8.650 2.773 365.611 0,7% 1.337.858 0,2%
Cocel 343.146 8.469 1.737 210,85 1.786 366 1.419 24.124 1,5% 111.278 0,3%
Coelba 24.265.024 1.519.397 800.721 202,91 308.308 162.478 145.830 4.496.925 3,5% 10.614.563 1,5%
Enel CE 14.246.653 977.830 565.922 236,07 230.838 133.598 97.240 2.304.544 3,8% 6.264.935 1,4%
Cooperaliança 244.661 1.947 285 196,88 383 56 327 23.645 0,3% 94.866 0,1%
Copel 32.753.909 658.121 686.674 218,90 144.062 150.312 - 6.250 2.698.836 5,4% 10.885.443 1,3%
Cosern 6.417.983 119.444 72.676 221,32 26.436 16.085 10.351 1.011.854 2,0% 2.721.983 0,7%
CPFL Paulista 35.237.543 1.574.888 862.320 238,68 375.889 205.816 170.073 3.590.012 5,3% 13.182.421 1,4%
CPFL Piratininga 15.359.758 568.713 272.733 225,39 128.182 61.471 66.711 1.072.724 4,4% 4.557.208 1,0%
DEMEI 151.949 - 2.112 2.928 184,62 - 390 541 - 931 17.223 4,1% 71.934 1,0%
DME-PC 542.072 7.571 1.819 184,94 1.400 336 1.064 52.109 0,6% 166.855 0,2%
Energisa BO 763.659 13.723 10.989 207,21 2.844 2.277 566 88.434 2,4% 281.630 0,8%
EFLJC 20.793 - 692 188 267,78 - 185 50 - 236 2.936 1,6% 10.058 0,5%
EFLUL 107.438 925 88 267,24 247 24 224 7.175 0,3% 30.826 0,1%
Elektro 19.270.610 524.483 414.132 212,94 111.682 88.184 23.498 1.712.264 3,1% 6.852.658 0,8%
Eletroacre 1.350.774 115.154 140.252 157,02 18.081 22.022 - 3.941 287.817 7,9% 581.296 3,9%
Eletrocar 207.820 - 15.342 1.972 198,19 - 3.041 391 - 3.431 28.211 1,4% 90.300 0,4%
Enel SP 45.178.877 2.398.536 2.000.431 216,56 519.421 433.209 86.213 3.977.323 11,2% 17.136.483 2,6%
ELFSM 585.815 191 13.647 228,91 44 3.124 - 3.080 77.831 4,4% 284.932 1,2%
Energisa MG 1.850.780 9.100 6.829 238,45 2.170 1.628 541 236.271 0,7% 756.736 0,2%
Energisa MS 6.795.372 349.814 210.854 234,64 82.082 49.476 32.606 1.338.673 3,3% 3.470.289 1,3%
Energisa NF 375.124 - 2.771 - 260,60 - 722 - - 722 49.862 0,0% 190.128 0,0%
Energisa PB 5.371.353 250.940 151.626 193,61 48.585 29.357 19.228 820.428 3,4% 2.063.689 1,4%
EDP ES 11.111.050 719.840 500.893 221,44 159.403 110.919 48.484 1.003.844 11,6% 3.859.933 3,0%
Energisa SE 3.255.811 154.752 86.542 202,65 31.360 17.538 13.823 582.361 3,3% 1.461.570 1,3%
Forcel 73.119 - 3.488 - 181,02 - 631 - - 631 11.541 0,0% 40.783 0,0%
Hidropan 122.717 - 125 177 267,07 - 33 47 - 81 13.590 0,7% 51.331 0,2%
Iguaçu Energia 323.444 1.267 3.709 211,49 268 784 - 516 21.967 4,7% 112.174 0,9%
Light 34.785.917 7.127.739 4.651.244 257,17 1.833.055 1.196.170 636.885 2.866.596 44,8% 12.842.257 10,0%
MUX Energia 81.589 - 130 683 180,52 - 23 123 - 147 5.373 2,2% 30.447 0,4%
Sulgipe 500.811 13.093 9.124 221,56 2.901 2.022 879 67.728 3,5% 171.106 1,4%
Nova Palma 89.443 - 1.705 503 186,49 - 318 94 - 412 13.584 0,7% 41.666 0,2%
TOTAL 517.480.814 37.976.013 25.191.782 223,85 8.411.172 5.549.410 2.861.762 58.624.288 9,8% 196.925.228 2,9%

ANEEL – RELATÓRIO – PERDAS DE ENERGIA NA DISTRIBUIÇÃO – 1/2021 16


Produzido por:
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica.
(SGT – Superintendência de Gestão Tarifária)

Equipe:
Luís Carlos Carrazza
Marcelo Hlebetz de Souza
Claudio Elias Carvalho
Davi Antunes Lima

Edição 1/2021: julho/2021


Dados referentes ao período de janeiro/2008 a dezembro/2020,
obtidos por meio do Sistema de Acompanhamento de
Informações de Mercado – SAMP Balanço.

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