Universidade Estadual de Campinas - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
História da América I - HH386 (2022)
Isabely Alves Pires - 244643 A conquista da América: a questão do outro, Tzvetan Todorov Publicado pela primeira vez em 1492 o livro “A conquista da América: a questão do outro”, escrito pelo filósofo e lingüista Tzvetan Todorov, tem como tema central a conquista da América, isto é, os motivos que possibilitaram que tal evento se concretizasse. Para tanto, Todorov vai se valer do debate acerca da alteridade buscando compreender a percepção que os espanhóis têm dos índios e de que maneira é construída a narrativa do “outro” nesta perspectiva. O autor aponta duas justificativas para a escolha de seu objeto de análise: a primeira delas é dada pela grandiosidade da descoberta, na qual Todorov explicita que, para os espanhóis do século XVI, a presença da Índia, da China e até mesmo da África nunca foi um fato desconhecido, já no caso das Américas, ou melhor, dos americanos, sua existência é totalmente inesperada e por essa razão o encontro se torna extremo. A segunda justificativa, não muito distante, estabelece-se a partir de um paralelo de “causalidade direta”, admitindo o evento como fundador da “nossa identidade do presente” sendo fundamental para compreensão dos homens no todo, bem como, nas palavras do autor, nenhuma data é “mais indicada para marcar o início da Era Moderna do que o ano de 1492” (TODOROV, 1982, p.6). A obra é dividida em quatro capítulos os quais se articulam e convergem para a tese do autor que, para além de agir em uma tentativa de explicar a conquista, se propõe a demonstrar que o contato desses povos distintos falhou no âmbito da compreensão do outro, acarretando na assimilação dos índios pelos conquistadores europeus. A divisão determinada por Todorov separa os quatro capítulos, I – Descobrir, II – Conquistar, III – Amar, IV – Conhecer, em mais três subtítulos em cada um destes. No capítulo inicial o autor se atém a tratar a respeito dos cem anos que seguem a primeira viagem de Colombo em 1492, limitando-se a analisar a região do Caribe e do México, assim sendo, a Mesoamérica. Buscando compreender este contato entre os espanhóis e as civilizações indígenas e as percepções extraídas a partir daí, Todorov opta por entender primeiramente, Colombo e faz isso apoiando-se sobretudo nos relatos da viagem. É interessante perceber que Todorov constrói uma análise um pouco distinta em termos de metodologia, o autor preocupa-se mais em explorar a psique de Colombo: suas motivações, interpretações e caprichos. Essa característica presente no texto pode ser justificada pelo posicionamento explicitado pelo autor logo nos momentos iniciais “meu interesse principal é mais o de um moralista do que o de um historiador” (TODOROV, 1982, p.4), desta forma encontramos na obra uma preocupação com os preceitos morais. Dentre os aspectos escolhidos para analisar o conquistador europeu me ganha a atenção as três interpretações de mundo atribuídas a Colombo. A primeira delas, pragmática e eficaz, relaciona-se a sua atuação ao que se refere à navegação, neste caso os princípios teológicos não intervêm na sua interpretação, diferente da segunda forma de interpretação, a finalista. A conduta finalista de Colombo, muito influenciada pela religião (que também vem a ser sua motivação para realização da expedição), coloca suas experiências em segundo plano quando comparadas com suas crenças e esperanças, já que prioriza sempre sua convicção e fé. Por fim, o autor aponta uma interpretação intransitiva no que diz respeito à natureza, onde o ato de apreciação do mundo natural justifica-se por si mesmo, não tem utilidade prática, portanto uma apreciação intransitiva. Em oposição a esta “admiração intransitiva”, que conta até mesmo com superlativos, nos defrontamos com um Colombo pouco interessado em compreender plenamente os signos do vocabulário indígena. O mesmo pode ser observado quando analisada sua forma de descrição das civilizações indígenas, Todorov demonstra que o conquistador não estava interessado em entender os índios, pelo contrário, ele acredita que já os entende e esse entendimento é baseado numa percepção estabelecida de antemão.