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“Estandarte” de Ur - cemitério real - c.

2600 (WA 121201 British Museum)

Erick Yuji Yamachi - nº USP 9340288 (Noturno)


Sabrina de Almeida Santos - nºUSP 11324433 (Noturno)
Disciplina: História Antiga I
Prof: Dr. Marcelo Rede

Introdução

Inicialmente, enquanto contexto geral e como exposição simplificada, observamos que


o Estandarte de Ur foi encontrado no Cemitério Real de Ur. A denominação referente ao
artefato é disposta em termos em função de se tratar de uma hipótese de Sir Charles Leonard
Woolley, que imaginou ser o objeto carregado em uma estaca enquanto um estandarte.1
A análise de fonte se iniciará pelo que se convencionou chamar “face da guerra”.2
De início, notamos a composição organizada do artefato por meio da técnica que se
convencionou chamar de mosaico. A partir da utilização de materiais diversos, i. e., conchas
(que podem nos remeter à cor esbranquiçada das peças), calcário vermelho (que remete à cor
avermelhada/alaranjada) e o lápis lázuli (rocha metamórfica de cor azulada), constitui-se um
conjunto de figuras, unidas por betume, envoltas por um quadro de madeira.
Abaixo, pode ser observada tal faceta na íntegra.

(​https://apaixonadosporhistoria.com.br/artigo/60/os-achados-do-cemiterio-real-de-ur​)

1
No que concerne à hipótese de Sir. Woolley (2016, p. 101), o trecho a seguir remete ao comentário
descritivo que daria origem a essa análise: “Si tratta di due pannelli principali, ciascuno dei quali è un
rettangolo di cinquantacinque centimetri per ventidue, c di due pezzi triangolari ; i primi erano disposti
a guisa di una tenda capovolta, di cui i secondi chiudevano le due estremità, e il tutto era fissato
all'estremità di un'asta e, a quanto sembrerebbe, veniva portato in processione; quando lo trovammo
era adagiato contro la spalla di un uomo, forse l'alfiere del re.” Há hipóteses diversas no sentido de o
Estandarte de Ur se tratar de uma caixa de som para ressonância de um instrumento de corda.
2
Em relação ao artefato no qual estão dispostas as figuras do referido “estandarte”, caracteriza-se
por um objeto tridimensional, de formato trapezoidal, com bases menos largas (apesar de
apresentarem mesma extensão que a faceta na qual estão inscritas ambas as “face da guerra” e
“face da paz”. Referido artefato apresenta 21,7cm de altura por 50,4cm de comprimento.
Com o intuito de analisar referida faceta do artefato, podemos notar duas
segmentações que dividem o “estandarte” em três grandes momentos. De fato, a narrativa que
trataremos adiante poderia se iniciar com o conjunto superior de figuras, no entanto, tal lógica
não poderia ser lastreada em decorrência da figura hierarquicamente superior
(rei/general/divindade), afinal o caráter pacificador que tal figura apresenta não incorreria em
grande significação na nossa análise, caso se iniciasse pela faixa superior.

Faixa inferior

Enquanto aspecto descritivo da faixa inferior, notamos alguns elementos que se


repetem no decorrer da cena. São, basicamente, quatro: ​(i) duas figuras humanas
(aparentemente guerreiros, um conduzindo os animais e outro em riste, preparado para o
combate); ​(ii) animais quadrúpedes, aparentemente da família dos equinos, isto é, animais
adestrados e capazes de empregar a tração; ​(iii) ​um carro/carruagem, que, por lógica, podem
ser apontadas como tais em decorrência da figura circular que dá a entender que são rodas; e
(iv) as armas pontiagudas, localizadas entre (i) e (ii), que se assemelham a dardos/lanças e que
são empregados pela figura humana mais distante dos equinos.
Dito isso, na faixa inferior, que dará início à narrativa, haveríamos de considerar duas
hipóteses: i) é um movimento uniforme, em um só tempo; e ii) são momentos (quatro) que
poderíamos segmentar ainda nessa linha, ou seja, os carros puxados pelos animais na verdade
representam um mesmo carro, mas em momentos distintos. Haveria, entretanto, sentido em
levar em consideração a primeira hipótese, mas veremos a seguir que há motivação para
acreditarmos que a segunda hipótese seja a que deve ser seguida.
Ora, haveria certo sentido em se admitir que se trata de apenas uma cena congelada de
um conflito em que a violência predomina, se compararmos com as outras duas faixas acima.
Contudo, os indícios que podemos endossar diante da segunda hipótese (movimento) é
evidenciada tomando como ponto de partida a ilustração dos animais equinos.
Na faixa inferior, o movimento de aumento de tensão parece se iniciar na esquerda e
encontrar seu cume na direita da faixa, visto que o animal à esquerda aparentemente está se
locomovendo a passo, isto é, através de um andamento natural, a quatro tempos; tal situação,
entretanto, começa a ganhar agilidade, um certo teor de agressividade, a partir do momento
em que a imagem retrata o que se chama de trote, que envolve um andamento simétrico, a
dois tempos, a partir da segunda ilustração, e ganha, por fim, maior intensidade na última
linha, em decorrência do movimento corporal do equino, que se assemelha a um salto, desde
que consideremos a disposição da figura por meio de uma distância das patas dianteiras do
equino em relação ao paralelismo quanto ao solo (o que a diferencia dos outros três recortes
anteriores à esquerda da referida linha,
Notamos, todavia, quais foram os elementos que se repetiram no decorrer da linha
inferior: ​a) a posição que traz o braço elevado da figura do guerreiro que se distancia mas do
equino, ou seja, face aos membros tensionados, observamos que em dois momentos
intercalados (o segundo e o quarto recorte) o referido guerreiro está com uma posição de
preparo para o arremesso do dardo/lança; ​b) ​os corpos estirados no que poderia ser chamado
de chão, representado no artefato, muito provavelmente mortos devido ao combate.
Se levarmos em consideração que se trata efetivamente de apenas uma só carruagem
na linha inferior3, podemos afirmar que o movimento das imagens constantes no artefato é
afirmado a partir de um deslocamento no espaço, visto que na imagem - em certo sentido
estática - remete à temporalidade (diversidade de tempos/cenas) em decorrência
especialmente do efeito trazido pela disposição das representações das patas dos equídeos.

Faixa intermediária

No que podemos depreender de uma breve análise acerca da faixa intermediária,


observamos: ​(i) ​do lado esquerdo a presença de figuras paramentadas (elmo, capa, armadura,
além de uma arma preparada para utilização), possivelmente preparadas para entrar em
combate; ​(ii) ​do lado esquerdo, notamos figuras potencialmente em debandada, visto que se
direcionam em sentido contrário aos dos guerreiros em (i), mas que estão armadas, como se
pode notar pelas três figuras mais próximas ao canto direito da faixa intermediária; e ​(iii)​, no
centro, em que temos figuras semelhantes aos guerreiros mencionados em (i), com armamento
em punho, além de algo que se assemelha a um escudo.
Diante do que é apresentado nesta faixa, o movimento tensional que podemos observar
de pronto aponta ao centro, em que há um conflito armado em evidência. A tensão ganha

3
Caso se considere que são carruagens diferentes, podemos notar na fonte que se trata de, ao
menos, quatro carros, além de que são guerreiros e animais distintos, desde que levemos em conta
que o que está sendo representado é uma cena única, um só tempo.
força por ser pertinente visualizar que provavelmente os mesmos membros pertencentes ao
grupo (aglutinando os indivíduos dispostos no chão em um grupo) da faixa inferior do
estandarte novamente restam em derrocada, em uma evidente diferença de força se
comparado com o grupo dito paramentado. Cumpre afirmar que a tensão, diferentemente da
faixa anterior, encontra o ápice na parte central da referida linha, não se enveredando a uma
das laterais, como foi o caso há pouco relatado.
Enfim, o combate não parece mostrar um massacre total, conforme será possível
depreender da descrição a seguir acerca da última faixa referente à “face da guerra”.

Faixa Superior

A análise feita anteriormente sobre a faixa inferior e intermediária nos faz ter alguma
dimensão do que a cena tem a nos mostrar: um cenário de guerra e grande tensão, a qual, ao
longo das faixas, vai perdendo sua força. Assim, partiremos para a faixa superior.
A princípio, logo quando olhamos a imagem, notamos: ​(i) ​uma figura central, maior
que o restante das outras figuras humanas representadas (até mesmo ultrapassando a
moldura), a qual também se difere por meio de outras características, como: seu vestuário,
sendo mais comprido e o objeto em sua mão. Além disso, o destaque da centralidade dessa
figura vem por parte dos outros elementos que compõem a faixa: todos estão direcionados a
ela, tanto o lado esquerdo quanto o direito. Evitaremos entrar no mérito de quem seria essa
representação central, talvez um rei ou um sacerdote. Considerando que fosse um rei,
observariamos: ​(ii) ​o lado esquerdo representaria a corte do rei. Mesmo que não fosse um rei,
esse lado diz respeito aqueles que acompanham a figura central. Entre todas as representações
humanas que possuem o mesmo tamanho, há apenas uma exceção, que se encontra embaixo
do quadrúpede. De uma forma geral, esses “acompanhantes” possuem espécies de lanças nas
mãos, a não ser o que está guiando o carro/ carruagem, que aparenta ser o mesmo já analisado
quando tratamos sobre a faixa inferior, mas sem o elemento que parece ser uma arma, um
artifício de guerra. Por fim, temos: ​(iii) ​o lado direito. Nele, observamos homens sem
vestuário que são levados por outros homens, os quais se encontram vestidos, em direção a
figura central. Podemos pensar que seriam aqueles que possivelmente venceram o conflito
retratado na faixa inferior e os seus prisioneiros (os perdedores).
A faixa superior retrata um momento em que tudo parece já estar controlado, não há
mais a grande tensão vista na faixa inferior, e há mais estabilidade em relação a intermediária.
A figura central parece apaziguar e trazer certa segurança, uma espécie de confirmação da
vitória e controle sob o grupo perdedor.
Diante do exposto, a “face da guerra” se dá por três momentos distintos, representados
pela faixa inferior, intermediária e superior. A primeira mostra o confronto, cena de grande
tensão; a segunda já retrata uma situação menos tensionada e com um maior controle; por fim,
a terceira traz uma situação estável, de controle. Assim, o “Estandarte” de Ur em sua “face de
guerra” trabalha uma relação entre tempo e tensão.

REFERÊNCIAS

Fonte primária

“Estandarte” de Ur - cemitério real - c. 2600 (WA 121201 British Museum).

Fontes secundárias

WOOLLEY, Leonard. ​Ur dei Caldei​ - i misteri di un’antica città della Mesopotamia.
Milão: Ghibli, 2016.

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