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Prova 2

Arte e história I (2018.1)

Mariana Monteiro de Pinho / Turma C

1. Rembrandt, Ronda noturna (1642)


A “Ronda noturna” de Rembrandt é uma das obras primas do barroco protestante.
Nela, estão retratados guardas civis holandeses. Em primeiro plano estão o capitão e o
tenente e, dispostos atrás e ao redor, o restante do grupo. Além disso, existem
“coadjuvantes”: uma menina à esquerda iluminada de forma a parecer dourada, angelical e
preciosa; um cachorro latindo; um homem tocando tambor; algumas figuras de costas ou
que aparecem parcialmente. O capitão está falando com o tenente e parece lhe dar ordens,
enquanto o grupo se organiza para executá-las preparando suas armas de fogo,
empunhando lanças, hasteando bandeiras e orientando uns aos outros; suas vestes pretas
lhe conferem aspecto austero e rico, além do contraste com a gola branca iluminar e atrair
os olhos a seu rosto, assim como o punho da camisa e a iluminação da mão estendida
fazem com que esta pareça estar saindo do quadro. Os homens ao redor estão dispostos
de forma dinâmica na tela, com linhas de força concorrentes e organização em geral não-
harmônica; eles parecem absortos nas próprias tarefas ou em pequenos grupos, se
ocupando de seus ofícios (vemos um homem preparando a arma, outro soprando-a,
homens empunhando lanças em direções difusas como a organizá-las). Todos eles estão
em movimento, dando à obra (junto à composição), um aspecto dinâmico e muito parecido
com uma cena real. Apesar do título atribuído posteriormente e da iluminação teatral, a
cena não é noturna.
O grupo retratado é a guarda civil de Amsterdã, mais especificamente de
mosqueteiros. No século XVII na Holanda esses grupos eram compostos, em geral, por
burgueses ricos e sua função era, basicamente, policiar a cidade e os portões e manter a
ordem geral. Esses grupos tinham uma sede onde se reuniam e um local onde praticavam
com a arma característica do grupo, e essa obra em específico foi encomendada para estar
na sede, junto com mais 5 retratos do grupo executados por diferentes artistas. Esses
retratos que adornavam a sede tinham como objetivo não apenas guardar a memória
desses homens mas também serviam como símbolos de poder e influência. Existem
símbolos pelo quadro que compõe tais objetivos, como a placa no portão onde está escrito
o nome dos presentes na pintura, e a menina à esquerda, que é uma personificação da
guarda.
A pintura apresenta elementos tipicamente barrocos mas também características
específicas do movimento na Holanda. Como características gerais identificamos o forte
contraste entre claro e escuro, com predominância do último; a iluminação estratégica,
teatral e narrativa, que guia o olhar de forma a “passear” pela cena (percebe-se que a cena
é iluminada como se houvesse um holofote no canto superior esquerdo); o tenebrismo, com
as figuras que parecem emergir da escuridão; a composição complexa. Ao mesmo tempo, a
diferenciamos como holandesa por se tratar de um retrato de burgueses (coisa atípica nos
países católicos) e pela gestualidade menos dramática e teatral característica de
Rembrandt.
2. Fragonard, O balanço (1767)
Nesta icônica obra de Fragonard vemos três figuras principais: uma jovem no
balanço como figura central, com seu vestido rosa pomposo atraindo de primeira o olhar e
evidenciando sua origem nobre e rica; um rapaz também ricamente vestido está recostado
nos arbustos do canto inferior esquerdo, como se escondido, a olhar arrebatado a moça
balançando e o que o movimento revela sob a roupa; um homem mais velho empurra a
jovem no balanço, ocupando uma área menos iluminada do quadro e aparentemente
ignorante da presença do rapaz a admirar. Esses três estão inseridos em um jardim de
vegetação abundante e exuberante, cuja atmosfera parece de sonho e leveza dadas as
cores pálidas e a presença de uma sutil névoa que permeia a cena. Além disso, existem
duas esculturas, uma à esquerda de uma figura angelical fazendo gesto de silêncio e outra
abaixo da jovem, que retrata personagens também angelicais (provavelmente em referência
a cupidos) se abraçando e observando a cena. O movimento da moça é divertido e
sugestivo ao mesmo tempo, estando sua perna levantada revelando os pés e as meias e
até parte da coxa, além do sapato ter sido lançado graciosamente do pé; suas mãos
seguram suavemente nas cordas e seu semblante é divertido e despreocupado. Ao
examinarmos mais de perto, percebe-se que o rapaz está deitado em um canteiro com uma
pequena cerca, ou seja, ele se posiciona em lugar proibido.
A cena retrata, portanto, um casal de amantes e um suposto marido mais velho. Os
dois jovens se deliciam em revelações bastante eróticas para o período enquanto o marido
ali se diverte com a esposa sem ter conhecimento do amante e do que se passa com sua
esposa. Os semblantes de alegria e prazer exaltam o amor jovem e secreto. A paisagem e
as esculturas são colocadas como cúmplices dos amantes, acolhedoras ao amor proibido e
ao prazer, e iluminada onde o hedonismo se encontra (no rapaz, na moça, nas folhagens
exuberantes das árvores).
Esse tema é bastante típico do movimento Rococó, o contraponto leve e
descontraído da densidade teatral Barroca, que surge na corte francesa e valoriza a arte
palaciana e temas mundanos. A representação do prazer, da juventude, da diversão, do
erotismo e da paisagem idílica são características fundamentalmente Rococós, assim como
a exaltação da vida hedonista de corte dos nobres franceses e a busca por uma atmosfera
agradável e suave. A forma de representar também é característica, com as cores claras, a
iluminação bem mais suave do que a Barroca e a forma minuciosa com a qual os elementos
mais decorativos são pintados (as roupas pomposas e detalhadas, a vegetação abundante,
as flores e as esculturas). Além disso, temos também as formas e linhas de ação orgânicas
e fluidas que garantem leveza à obra.
“O balanço”, portanto, é representativo do Rococó e sintetiza em uma tela os valores
desse movimento que serve de passagem entre dois outros conturbados: a fervorosidade
barroca e a sobriedade demandada posteriormente pela Revolução Francesa.
3. Jacque Louis David, O juramento dos horácios (1784)
Nessa obra de David, vemos um grupo de pessoas vestidas como romanos
inseridos em um espaço arquitetônico também aos moldes antigos. À esquerda, três
homens, vestidos para batalha, erguem os braços em saudação formando um movimento
ascendente; a postura altiva das figuras, com linhas de força verticais e bem marcadas,
reforçam a sobriedade e coragem dos homens; seus rostos estão virados para a frente e
focados nas espadas. Ao meio, há um homem mais velho, que segura as espadas e ergue
os braços; chama atenção o tecido vermelho forte de sua roupa, e também a barba e
cabelos grisalhos que sugerem sua idade mais avançada, sabedoria, autoridade. À direita,
está um grupo de mulheres e crianças, apoiando-se uns aos outros, com posturas caídas e
feições tristes e cansadas; suas roupas são predominantemente em tons de azul e cinza, e
as linhas de força que os orienta são bem mais orgânicas e vão em direção ao chão. O
espaço no qual estão inseridos remete às construções romanas antigas, com arcos e
colunas; a composição é construída de forma a encaixar cada grupo dentro de um arco, e a
narrativa parece ser toda construída em grupos de três: dentro de três arcos estão três
grupos compostos por três irmãos, um homem segurando três espadas e três mulheres com
crianças. A perspectiva usada no quadro é linear e tem o ponto de fuga bem marcado nas
espadas; essa construção é evidenciada pelas linhas no chão.
A cena representada por David faz parte da história antiga de Roma, quando a
cidade entrou em guerra com Alba e decidiram não mandar exércitos mas sim três irmãos
de cada cidade para lutar. Quem saísse vivo seria vitorioso por sua cidade. Roma escolhe
os Horácios e Alba os Curiácios. Os irmãos à esquerda são, portanto, os Horácios jurando
perante o pai lutar até a morte por Roma. As mulheres à direita e à frente são diretamente
afetadas por tal batalha, pois uma é da família Curiácea e casada com um dos Horácios e a
outra uma dos Horácio casada com um Curiáceo. Dessa forma, as famílias serão afetadas
independente do resultado da batalha mas mesmo assim colocam Roma acima de sua vida
pessoal.
A forma com que o pintor retrata a cena claramente evidencia os irmãos e o pai,
enobrecendo o juramento de vida pela glória e poder de Roma. Primeiramente, eles são ⅔
de todo o quadro; em segundo lugar, percebemos que na parte superior da composição
aparecem os braços erguidos, os rostos dos homens, as espadas, e são excluídas desse
espaço as mulheres que lamentam, sendo subjugadas à parte inferior como menos
valorosas; finalmente, a postura deles também reforça essa hierarquia, uma vez que as
mulheres estão mais prostradas, inertes, de olhos fechados e eles estão ativos, eretos,
erguidos e focados. Vemos, portanto, a valorização extrema dos princípios de sacrifício,
luta, sobriedade e patriotismo, tudo isso está alinhado com o movimento Neoclássico e a
insurgente Revolução Francesa. David era um revolucionário, e pintou em “O juramento dos
Horácios” tudo aquilo que estava em voga, quebrando com a estética hedonista e luxuosa
do Rococó e indo de encontro aos valores da própria nobreza. Em questões plásticas a
obra também está inserida no Neoclássico, com a perspectiva linear, a geometrização das
formas e composições, o estilo de pintura que torna a cena “impressa” na tela, sem marcas
evidentes de pinceladas, a estética romana. O estilo sóbrio que começa a ser valorizado no
fim do século XVIII tem aqui, portanto, um grande expoente.

4. Michelangelo, Pietà (1498-1499)


O conjunto escultórico da “Pietà” é formado por duas figuras: a Virgem e Jesus,
morto. Ele está posicionado deitado no colo da mãe, cuja mão direita está estendida ao
espectador, como se apresentando o filho aos fiéis como sacrifício e ao mesmo tempo
buscando ainda entender. Maria está sentada e aparenta apoiar uma perna em um local
mais alto de forma a sustentar o corpo do filho; seu semblante é gracioso e imaculado, e o
corpo apresenta uma distorção entre a parte do tronco e o quadril e pernas, estando os
últimos bem maiores do que o normal, e fazem Jesus parecer menor. Ele está com o braço
segurado pela mãe colado no corpo e as pernas soltas. Tudo é esculpido em mármore de
forma a aparentar muito natural, tanto pele e corpo quanto tecidos. A composição geral da
escultura é piramidal, aspecto garantido pelo aumento da parte inferior do corpo de Maria e
a diminuição do corpo de Cristo. Além disso, a linha de força descendente criada pelo braço
pendente de Cristo sugere sua falta de vida.
A cena trata-se de Maria segurando Jesus após sua crucificação, morte e retirada da
cruz porém ainda antes de ir ao túmulo. A idealização se faz presente, pois ainda que os
corpos estejam esculpidos de forma a parecerem muito fiéis à realidade, não aparentam ser
pessoas que passaram por enormes sofrimentos. Pelo contrário, Jesus parece estar
dormindo e Maria o observando silenciosamente, com seu rosto liso e proporcional
representando sua sagrada pureza e quase a aceitação da morte do seu filho como plano
divino. Ela não encosta no corpo diretamente visto que sua mão é forrada por um pano,
simbolizando o quão sagrado é Jesus.
A Pietà de Michelangelo é uma obra representativa do renascimento, e foi a que o
alçou à fama. Encomendada por um cardeal, a escultura apresenta elementos típicos do
resgate clássico do Renascimento italiano, como a atenção à anatomia e à forma humana,
as feições plácidas -e de certa forma genéricas- muito semelhantes a estátuas gregas
clássicas, a composição piramidal (também apreciada por Leonardo da Vinci), porém tudo
isso inserido em uma temática católica. A forma exemplar com que os tecidos e os
músculos são esculpidos, além da graciosidade que passam mesmo sendo esculpidos em
pedra, revela a maestria com que Michelangelo trabalhava com o material e que o tornou
um dos mais importantes artistas do movimento e impressionou o público na Pietà.

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