O documento descreve a jornada artística da autora, desde suas primeiras obras com nanquim até o uso atual da ilustração digital. Ela foi influenciada por artistas como Junji Ito, Frida Kahlo e Frank Cho, e passou a recriar personagens da cultura pop como o trabalho de Gabriel Picolo e Hirohiko Araki. Em 2020, seu mundo artístico se deslocou para o digital durante a pandemia.
O documento descreve a jornada artística da autora, desde suas primeiras obras com nanquim até o uso atual da ilustração digital. Ela foi influenciada por artistas como Junji Ito, Frida Kahlo e Frank Cho, e passou a recriar personagens da cultura pop como o trabalho de Gabriel Picolo e Hirohiko Araki. Em 2020, seu mundo artístico se deslocou para o digital durante a pandemia.
O documento descreve a jornada artística da autora, desde suas primeiras obras com nanquim até o uso atual da ilustração digital. Ela foi influenciada por artistas como Junji Ito, Frida Kahlo e Frank Cho, e passou a recriar personagens da cultura pop como o trabalho de Gabriel Picolo e Hirohiko Araki. Em 2020, seu mundo artístico se deslocou para o digital durante a pandemia.
A arte sempre foi um meio de viajar entre mundos, com
esse pensamento em mente eu comecei a criar, a desenhar,
e minha e a minha primeira forma de criação se deu através de criaturas, seres mágicos, monstros, para além do que a realidade nos permite.
Nessa primeira obra eu apresento um monstro, recorri ao nanquim
puro, sem diluições, para ter apenas o preto no branco. Gostaria de destacar aqui as hachuras, que executam o papel de sombra e destacam as feições da garota, e o contorno em branco, que não são linhas brancas propriamente ditas, e sim a ausência do preto. Neste momento reflito sobre a obra do artista japonês Junji Ito, pois foi somente após ver as criaturas dele, tão bem destacadas na dicotomia do preto e do branco, que eu decidi me utilizar do nankin e das hachuras em meu trabalho.
Sigo utilizando o nanquim puro, valorizando as linhas e o contorno,
e aqui eu gostaria de destacar as hachuras e os pontilhismos que ainda se fazem presentes em minha obra, mas também destaco o foco central, nos olhos da garota, que assume um papel de protagonista em primeiro plano, escapando dessa moldura invisível que sustenta a paisagem atrás dela. No momento dessa obra, eu me vi instigada pelo trabalho da Frida Khalo, não no estilo, mas a olhar para dentro, refletir sobre mim mesma, sobre meu mundo, sobre o meu trabalho. A garota ao centro, com tantos detalhes e coisas acontecendo atrás dela, surgiu da necessidade de me expressar, e rever o que eu estava fazendo até o momento.
E então 2020 aconteceu, e com ele o deslocamento do mundo.
Um deslocamento do mundo extremamente significativo para todos, um deslocamento de um mundo social para um mundo introvertido, individual, de um mundo físico para um mundo virtual, de um mundo afetivo para um mundo de inseguranças. Em 2020 o meu mundo se deslocou por completo do papel para a ilustração digital. Em um primeiro momento, na ilustração digital, o desenho se mostra quase imperceptível, dando palco para a pintura. Mas as linhas, o contorno, ainda assumem papel de extrema importância aqui, são elas que ditam o tom do trabalho final, elas que comandam o desenho, eu não consigo visualizar como executar a pintura sem antes ver o contorno pronto. Eu gostaria de destacar alguns detalhes que o suporte digital me permite executar, sem a necessidade constante de estar me preocupando se a tinta está acabando, se eu preciso ou não comprar um pincel específico. Aqui as possibilidades de cores e materiais são infinitas. Pensando sobre a relação entre o desenho e a pintura na ilustração digital, o meu trabalho passa a ser fortemente influenciado pela obra do Frank Cho, um quadrinista estadunidense que, ao meu ver, trabalha com maestria a dinâmica entre a linha e a cor.
E foi olhando para o trabalho dele que minha atenção se voltou
para personagens da cultura pop, passando por mais um deslocamento de mundo, me voltando para a cultura que eu consumo, algo exterior, não mais criaturas e seres que só habitavam a minha mente, mas algo comum. Passei a fazer releituras dessas personagens, transmitindo o meu olhar sobre elas, trazendo-as para uma realidade mais próxima da minha, ou levando meu traço para uma realidade mais próxima delas. Nessa obra eu destaco alguns acessórios que a personagem não possui originalmente, mas eu atribuí a ela no intuito de aproximar ela do meu mundo, no exercício de imaginar como ela seria em determinados contextos da minha realidade. E na pesquisa de recriar personagens já existentes, em contextos do meu mundo, eu me deparei com trabalho do Gabriel Picolo, que executa justamente essa ideia de pegar personagens consagrados das histórias em quadrinhos, e coloca-los em situações cotidianas, comuns da maioria dos jovens.
Me apropriando da ideia de dar uma nova roupagem as
personagens, eu me voltei para o mundo da moda. Nessa obra por exemplo, eu destaco a maquiagem e os acessórios que eu atribuo a personagem, pois estes estão em alta no momento. Principalmente entre a comunidade jovem da internet. Mas essa ideia de buscar referencias no mundo da moda já era algo que eu havia encontrado antes de executar, no trabalho do Hirohiko Araki, consagrado artista japonês que sempre se debruçou sobre a moda na hora de criar, e hoje eu me vejo fazendo o mesmo, rolando o feed do instagram para ver quais são as últimas tendências na hora de recriar algum personagem.
2020 foi um ano de deslocamento de mundo, foi um ano em que
conhecemos outra realidade, mas o deslocamento do mundo proporcionado pela arte não é algo novo a arte sempre foi uma janela para uma outra realidade, um outro tempo. Mas dessa vez até a arte teve de se deslocar das galerias para portais online, e sites. Neste ano de pandemia e isolamento é a arte que tem sustentado a humanidade no deslocamento do mundo que nos foi imposto, pois seriamos incapazes de passar por tudo isto sem poder olhar por uma janela e viajar, nem que sejam por alguns segundos, através de uma foto, um desenho ou uma música. Em 2020 o meu deslocamento de mundo ocorreu para o mundo digital, e eu encontrei nele, na ilustração digital, a minha paixão, a minha vocação, e é através dela que eu pretendo seguir a minha jornada como artista daqui em diante.