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HISTÓRIA

DA ARTE

Priscila Farfan Barroso


UNIDADE 1
Introdução ao
conceito de arte
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer o conceito de arte.


 Classificar os tipos de artes existentes.
 Apontar para a noção da estética na arte

Introdução
O homem registrou suas marcas ao longo do tempo por meio da arte e,
também, classificou essas artes e os símbolos para representá-las.
Neste capítulo, você irá compreender o conceito de arte, diferenciar
os seus tipos e aprofundar a sua sensibilidade para compreender a di-
mensão estética.

O que é arte?
A arte é uma área do conhecimento que analisa as obras de artes por meio de
estilos artísticos e valor estético. Dewey (2010, p. 128) complementa dizendo
que “[...] a arte, em sua forma, une a mesma relação entre o agir e o sofrer,
entre a energia de saída e a de entrada, que faz com que uma experiência
seja uma experiência.”. Assim, a arte reflete aspectos do contexto social,
econômico, político e religioso em que a sociedade vive em determinado
período. No entanto, essa não é uma área que se basta, pelo contrário, ela
conta com outras ciências para complementá-la e ampará-la nessas análises,
como história, antropologia, filosofia, arqueologia e sociologia. Observe a
pintura da Figura 1.
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Figura 1. Pintura de Leonid Afremov.


Fonte: Draw as a Maniac (2012).

Desde o início da história da humanidade, encontramos vestígios da existên-


cia de criações artísticas, sejam gravadas nas pedras ou por meio da produção
de cerâmica utilizada no cotidiano, expressando seus sentimentos e sua visão
de mundo ao modelar. No decorrer da história da arte é possível aprender um
pouco sobre o ser humano na sua evolução e com as diversas expressões e
manifestações artísticas dos diferentes povos. Se você considerar que todas as
culturas, mesmo em circunstâncias materiais muito difíceis, desenvolveram
sua forma de arte, nesse sentido, cabe a arte:

Papel de clarificação das relações sociais, ao papel de iluminação dos homens


em sociedades que se tornavam opacas, ao papel de ajudar o homem a reco-
nhecer e transformar a realidade social. Uma sociedade altamente comple-
xificada com suas relações e contradições sociais multiplicadas, já não pode
ser representada à maneira dos mitos (FISCHER, 1983, p. 1).

Podemos dizer, ainda, que a arte também pode ser pensada como disciplina,
pois se constitui de tudo o que o ser humano vem produzindo por necessidade
ou para expressar seus sentimentos e emoções, com manifestações de ordem
estéticas realizadas ao longo do tempo.
O artista é quem emprega o ato de produção e se entrega ao prazer da
criação, como explica Dewey (2010, p. 130): “[...] é alguém não especialmente
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dotado de poderes de execução, mas também de uma sensibilidade inusitada às


qualidades das coisas. Essa sensibilidade também orienta seus atos de criação.”.
Arte é um termo que vem do latim, e significa técnica e habilidade. Por-
tanto, podemos considerar que é a linguagem fundamental para estimular o ser
humano na criação das práticas culturais de seu povo, pois é por meio da arte
que se veicula à noção de estética e imprime a noção da beleza, permitindo
materializar algo que inspira.
Dessa forma, a arte passa a ser uma atribuição humana, que é produzida
em um determinado contexto social, pois, como enfatiza o crítico de arte
John Ruskin (apud PROENÇA, 2003, p. 7): “As grandes nações escrevem sua
autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de suas palavras
e o livro de sua arte.”.
Assim, podemos afirmar que, além de forma de se expressar, a arte se
apresenta também em sua finalidade, conforme nos diz Ferreira (2011, p. 67):

A finalidade da arte não se restringe a produzir o útil ou o belo, o prazer. É


mais que isso. A arte pode contribuir para a compreensão do mundo real e
expressão da verdade. O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode
protestar contra as barbáries do mundo, transformando a submissão em ato
de luta, buscando resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo
a uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam
ter acesso aos bens culturais de consumo e ao lazer.

Dentre muitas classificações possíveis, podemos dividir as manifestações


artísticas em quatro linguagens essenciais:

 Artes visuais — todos os ‘tipos’ de arte que atuam no campo da visua-


lidade, como a pintura, o desenho, a gravura, a escultura e a fotografia.
 Dança — trata da relação do corpo em movimento em um determinado
tempo e espaço.
 Teatro — se vale da representação e da encenação para contar uma
história.
 Música — atua com sons, silêncios, timbres, alturas e intensidades em
seu percurso de criação.

Não é fácil definir um critério objetivo e universal para apresentar o con-


ceito de arte ou as linguagens artísticas que nele habitam. Inicialmente, essa
definição ficou restrita às áreas do conhecimento tradicionais e consideradas
artísticas, que resultavam em uma impressão estética a seu receptor.
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Veja o documentário “Ferreira Gullar – A necessidade


da arte” (SESCTV, 2010) em que o artista Ferreira Gullar
se pergunta sobre os processos de existência da arte e
o caráter de humanidade nas obras produzidas. Além
disso, no vídeo ele reflete sobre as potencialidades de
algumas obras relacionando suas intencionalidades
aos papéis na história da arte.
Acesse em:

https://goo.gl/PvxLjU

Tipos de Artes: uma classificação possível


O intelectual italiano Ricciotto Canudo publicou, em 1923, o Manifesto das
Sete Artes, e é a partir dele que nos apoiaremos para propor uma classificação
que agrupa a arte em elementos básicos de linguagem (CANUDO, 1995).
São eles: música, artes cênicas, pintura, escultura, arquitetura, literatura e
cinema. Mais tarde, também foram consideradas mais quatro linguagens
que compõem a área: fotografia, história em quadrinhos, jogos de vídeo e
de computador e arte digital. Vamos focar nessas sete primeiras, e falar um
pouco mais de cada uma.
A forma de arte que combina sons e ritmos é nomeada música. Esta é
uma prática cultural que se dá em diferentes sociedades desde a pré-história.
Apesar de conter elementos comuns, a sua forma e seu conteúdo podem
variar de acordo com a cultura e o contexto social. Desse modo, é difícil
classificar a música em gêneros, já que existe uma grande variação musical
conforme a cultura e a época. Essas classificações também consideram
os instrumentos utilizados, as referências musicais e os envolvidos na
produção dessa arte.
O teatro é uma arte que percorre a história da humanidade. A representação
teatral era evidenciada com as pessoas imitando animais para os membros da
sua sociedade, expondo seus sentimentos e suas emoções, narrando histórias
pertinentes aos seus povos e enaltecendo seus deuses. O teatro era percebido
pelos povos de antigamente como sagrado, e, por isso, se acreditava que rituais
e cerimônias expressos com danças, músicas e encenações dos heróis locais
poderiam trazer bom agouro para o povo que o representou.
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Todo o conjunto de manifestações artísticas que utilizam tinta aplicada


em uma superfície, chamamos de pintura. Essa arte pode ser identificada
em afrescos, pintura a óleo, pintura de mural, pintura a têmpera, entre outras
técnicas. Sabe-se que essa é uma forma de expressão utilizada como repre-
sentação desde os povos medievais e até os dias de hoje. Por muito tempo,
a pintura foi a única maneira de registrar e reproduzir a imagem de pessoas
e lugares, até o surgimento de técnicas de reprodução de imagem por meio
da máquina, como a fotografia, na Revolução Industrial no século XIX, e,
posteriormente, a câmera de vídeo e o computador.

Hoje em dia, não utilizamos mais a divisão entre pintura e escultura. Ambas são classi-
ficadas como linguagens das Artes Visuais, possuem singularidades e especificidades
em seu fazer e na forma de se ver, assim como o desenho, a fotografia e a gravura,
por exemplo.

A escultura se dá por meio de modelação e transformação de materiais


que podem passar por esse processo com diferentes técnicas: moldagem,
fundição, cinzelação ou a aglomeração de partículas, entre outros. Conforme
o material utilizado, mais perene e mais durável será a obra, podendo ser eles:
pedra, mármore, calcário, granito, ouro, prata, bronze ou argilas e madeiras.
As primeiras esculturas foram encontradas na Índia e na China com alguns
vasos em bronze fundido que datam do século X a.C. e 220-206 a.C. Observe
um exemplo de escultura na Figura 2.

Figura 2. Escultura em bronze.


Fonte: bearvader/Shutterstock.com.
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A arte que projeta e constrói edificações é a arquitetura. Para realização


dessas edificações, há inspirações que consideram a harmonia das proporções,
a estética da obra, as técnicas funcionais e estruturais, o material utilizado, o
local em que será construído, entre outros fatores. Essa arte se desenvolveu
no Egito Antigo com a construção de grandes obras, como os palácios de
pirâmides e a estátua da esfinge, realizadas pelo governo dos faraós.
A poesia utiliza a linguagem humana para expressar seus sentimen-
tos e situações cotidianas, baseada em recursos linguísticos e estéticos.
Seu objetivo é retratar algo real ou imaginado, de forma lírica, veiculando
informações ao receptor sobre alguma questão pertinente à sociedade na
qual se vive. A obra produzida pela poesia é chamada de poema, e o poeta
é aquele que a realiza. Essa forma de arte foi bastante usada como técnica
de memorização e transmissão oral nas sociedades pré-históricas, quando
ainda não existia a escrita.
Mais recentemente, surge aquela que é considerada a “sétima arte”, o
cinema. Com os irmãos Lumìere, na França, em 1895, surgiu o cinematógrafo,
inspirado no domínio fotográfico com a ideia de síntese de movimento e na
proposição sonora. Aos poucos, essa arte foi envolvendo grandes eventos sociais
e também foi recebendo investimentos milionários para se aperfeiçoar. Cada
vez mais documentários e filmes transmitem e veiculam imagens e mensagens
que provocam, informam e causam sensações nos seus expectadores.

Sobre o conceito de arte nos dias atuais, é interessante assistir a um dos episódios do
Programa Estilhaços (SESCTV, 2017), chamado “O corte do poeta e a arte do açougueiro”,
que evidencia conceitos éticos dos poetas, seja na poesia de versos na rua ou no corte
do açougueiro que também desenha um pedaço de carne.

https://goo.gl/sT6toj

Noção de estética na arte


Quando falamos de arte, também atribuímos a ela noções sobre estética.
Como diz Azevedo Junior (2007, p. 7): “[...] arte é uma experiência humana
de conhecimento estético que transmite e expressa ideias e emoções.”. Logo,
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a obra realizada informa sobre elementos estéticos por meio da sua aparên-
cia, de seu conteúdo e até mesmo da sua relação com o ambiente no qual ela
está exposta. Porém, o que é acionado quando falamos de estética? Vamos
aprofundar um pouco mais esta questão!
A filosofia nos ensina que a estética é um parâmetro medido por meio de um
julgamento realizado pelo ser humano, que considera o universal e o particular
para essa análise. Portanto, ao observar uma obra, você compara o que está
vendo e percebendo ao que já conhece da sociedade em que vive. Logo, após
essa análise mais minuciosa é possível concluir nosso posicionamento sobre
a obra, ao mesmo tempo em que estabelecemos um acordo social entre os
membros da sociedade, às vezes mais inconsciente do que consciente, sobre
o que é belo e o que não é.
A arte envolve formas de registrar a imaginação ou a realidade por meio de
representações imagéticas carregadas de significados com valores artísticos.
Esses valores também estão articulados à noção de estética, uma vez que a
obra é produzida com certa intencionalidade, podendo variar conforme as
pessoas, os locais e os períodos. Conforme avalia Lacoste (1986, p. 38): “[...]
a arte, enquanto representação, contemplação por um olhar puro, responde,
de fato, a uma espécie de apelo inconsciente da vontade.”. Essa vontade está
aliada à expressão do ser humano no mundo, que ao ser realizada na arte
comunica ao outro alguma mensagem.
Essa questão é reforçada por Proença (2003, p. 8), quando ela analisa
que a arte não é algo isolado e pontual, mas que está atrelada às atividades
humanas a todo mundo, uma vez que: “[...] a preocupação do homem com a
beleza está tão presente nas culturas, que até mesmo objetos essencialmente
úteis são concebidos de forma harmoniosa e apresentam-se em cores muito
bem combinadas.”. Nesse sentido, cores, formas e conteúdo compõem essa
experiência estética do objeto artístico, voltado para o que é considerado
belo naquela sociedade e fazendo esses objetos comporem o modo de vida
de determinada cultura.
Por fim, cabe apontar que as obras de artes também carregam noções
estéticas vinculadas aos posicionamentos políticos das pessoas e dos grupos
sociais, de modo que o que é considerado belo em um contexto pode não ser
visto da mesma forma em outro. Desse modo, percebe-se que a condição da
estética é constantemente negociada, uma vez que ela revela, apresenta e in-
forma sobre elementos pertinentes a certas pessoas ou a grupos sociais. Assim,
devemos considerar essas questões como a complexidade que envolve a arte.
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AZEVEDO JUNIOR, J. G. Apostila de arte: artes visuais. São Luís: Imagética Comunicação
e Design, 2007.
CANUDO, R. Manifeste des sept arts. Paris: Séguier, 1995.
DEWEY, J. Arte como experiência. São Paulo: M. Fontes, 2010.
DRAW AS A MANIAC. The incredible art of Leonid Afremov. [S.l.], 2012. Disponível em:
<http://drawasamaniac.com/2012/12/the-incredible-art-of-leonid-afremov.html>.
Acesso em: 25 nov. 2017.
FERREIRA, R. M. R. A. Da arte e sua utilidade. Pandora Brasil, n. 34, p. 60-67, set. 2011.
FISCHER, E. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983.
LACOSTE, J. A filosofia da arte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1986.
PROENÇA, G. História da arte. 16. ed. São Paulo: Ática, 2003.
SESCTV. Documentário: Ferreira Gullar - a necessidade da arte. [S.l.]: YouTube, 2010. 1
vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yRLDFOjxRWc>. Acesso
em: 25 nov. 2017.
SESCTV. Estilhaços: o corte do poeta e a arte do açougueiro. [S.l.]: YouTube, 2017. 1
vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fUzTSv8fgkw>. Acesso
em: 25 nov. 2017.

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