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UNIFIEO – CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

BRUNO CÉSAR TEIXEIRA e DAVID BALBINO DE OLIVEIRA

O EFEITO DOS SOLVENTES ORGÂNICOS NA PERDA DE AUDIÇÃO


EM AMBIENTE DE TRABALHO

Osasco
2015
UNIFIEO – CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

BRUNO CÉSAR TEIXEIRA e DAVID BALBINO DE OLIVEIRA

O EFEITO DOS SOLVENTES ORGÂNICOS NA PERDA DE AUDIÇÃO


EM AMBIENTE DE TRABALHO

Monografia de conclusão de
curso apresentada à banca
examinadora do Centro
Universitário FIEO – UNIFIEO,
para obtenção dos títulos de
Bacharel e Licenciado em
Química do Centro
Universitário FIEO – UNIFIEO
Orientador: Msc. Marcelo
Rodrigues

Osasco
2015
BRUNO CÉSAR TEIXEIRA e DAVID BALBINO DE OLIVEIRA

O EFEITO DOS SOLVENTES ORGÂNICOS NA PERDA DE AUDIÇÃO


EM AMBIENTE DE TRABALHO

Monografia de conclusão de
curso apresentada à banca
examinadora do Centro
Universitário FIEO – UNIFIEO,
para obtenção dos títulos de
Bacharel e Licenciado em
Química do Centro
Universitário FIEO – UNIFIEO
Orientador: Msc. Marcelo
Rodrigues

Conceito: _____ aprovado em ______________________

Osasco, _____ de ____________ de 2015

Banca examinadora:

____________________________________________________
Prof. Msc. Marcelo Rodrigues
(Presidente/Orientador)

____________________________________________________
Prof. Dra. Celize Maia Tcacenco

Osasco, 11 de Junho de 2015.


i
Dedicamos esse trabalho à nossos familiares que, de uma maneira ou outra, estão
presentes em cada linha aqui escrita. Em especial à minha mãe Luci por me apoiar,
não só moral mas financeiramente (algumas vezes). À minha líder Patricia, pelo
apoio incondicional e compreensão. Não posso deixar de citar minha amiga e colega
de trabalho Aline, que nesses últimos meses trabalhou dobrado para cobrir minhas
saídas mais cedo, obrigado. Aos nossos amigos. E a todos, que direta ou
indiretamente, contribuíram para a realização de mais esse sonho em nossas vidas.
Não podemos esquecer de agradecer a Deus, por nos banhar com saúde, paz e
sapiência, nessa de muitas empreitadas que virão.

ii
AGRADECIMENTOS

Ao nosso orientador, Professor MARCELO RODRIGUES, pela


compreensão e pelo senso crítico.

À Professora CELIZE MAIA TCACENCO, pela honra concedida em


participar da Banca Examinadora.

À Doutora RENATA RODRIGUES MOREIRA, que, sem querer, nos


abriu os olhos para um tema tão importante.

Ao Professor CLÁUDIO HIROYUKI FURUKAWA, pelo exemplo de


educador que é. E que, gentilmente, revisou uma parte desse trabalho.

Ao Professor REINALDO ROMERO VARGAS, pelo exemplo de


educador. Levaremos valiosas lições, não somente como Químicos,
mas como pessoas melhores.

À Professora HELENICE MARIA SBROGIO MURAMOTO, pela valiosa


experiência na área acadêmica socializada conosco.

À Professora SOLANGE ALVES SILVA BACIEGA, pelas discussões


calorosas e sempre esclarecedoras. Essas discussões não tiraram a
leveza da aula, graças ao amor em educar demonstrado por ela.

À Professora ELLÍS REGINA NEVES PEREIRA, por fazer questão de


nos mostrar alguns pensadores da área de Licenciatura.

À todos os Professores que, de alguma maneira, contribuíram para o


nosso aperfeiçoamento profissional e pessoal, por meio da socialização
do conhecimento.

À ELBA que sempre compreendeu e valorizou o esforço realizado


durante esses anos e serviu de inspiração e incentivo para ir até o fim.

À MARINA (minha joaninha) que, sem querer, me deu a lição mais


valiosa (até agora) ... a paternidade.

iii
“Que ninguém se engane, só se consegue
a simplicidade através de muito trabalho”
Clarice Lispector

iv
v
Resumo

Diariamente, são sintetizadas e/ou extraídas da natureza aproximadamente quinze


mil novas substâncias, cujas propriedades toxicológicas, incluindo a otoxicidade,
serão estudadas somente a longo prazo. Assim, muitos indivíduos poderão sofrer
danos se forem expostos a tais substâncias sem proteção. Ruídos causam danos à
cóclea. Solventes orgânicos causam danos à cóclea, ao aparelho vestíbulo-coclear,
ao oitavo nervo craniano e ao sistema nervoso central. Esse trabalho explora os
efeitos da exposição ocupacional a solventes orgânicos no sistema auditivo do
profissional. Nos Estados Unidos, pelo menos um milhão de trabalhadores da
indústria tem algum tipo de dano no sistema auditivo e, em pelo menos metade dos
casos, o dano vai de moderado a severo. Os solventes que causam mais dano ao
sistema auditivo são: tolueno, estireno, tricloroetileno, xileno, dissulfeto de carbono,
puros, em misturas, ou diluidos em outros solventes. Há também o problema da
sinergia que ocorre quando o profissional é exposto ao agente ototóxico e ao ruído.
Maiores pesquisas devem ser feitas nesse quesito, para que se comprove que a
perda de audição do profissional não é somente associada à um ambiente de
trabalho ruidoso.

Palavras – chave: ototoxidade, solventes, perda de audição.

vi
Abstract

Annually are synthesized and / or extracted from nature about fifteen thousand new
substances each day whose toxicological properties will be studied only in the long-
term, which greatly increases the chance of some of these substances have ototoxic
effect, since the evidential of ototoxicity study also requires very time. Noise causes
damage to the cochlea, however, organic solvents cause damage to the cochlea, the
vestibular-cochlear apparatus on the eighth cranial nerve and central nervous
system. This paper explores the effects of occupational exposure to organic solvents
in the ear of the professional system. In the United States, at least one million
industrial workers have some kind of damage to the auditory system and in at least
half of the cases the damage ranges from mild to severe. Solvents which cause more
damage to the auditory system are: toluene, styrene, trichlorethylene, xylene, carbon
disulfide and solvent mixture. There is also the problem of the synergy that occurs
when the professional is exposed to ototoxic drug and noise. Further research should
be done in this regard so that the professional hearing loss is not only associated
with a noisy work environment.

Key words: ototoxicity, solvents, hearing loss.

vii
Sumário
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1
2. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 2
3. DISCUSSÃO TEÓRICA ....................................................................................... 2
3.1. Toxicologia ..................................................................................................... 2
3.1.1. Intoxicação .............................................................................................. 3
3.1.2. Fases da intoxicação ............................................................................... 4
3.2. Interações entre substâncias ......................................................................... 5
3.2.2. Efeito Sinérgico........................................................................................ 5
3.2.3. Potencialização........................................................................................ 5
3.2.4. Antagonismo ............................................................................................ 5
4. FÍSICA DO SOM .................................................................................................. 5
5. APARELHO AUDITIVO ........................................................................................ 7
5.1. Orelha externa ............................................................................................... 7
5.2. Orelha média .................................................................................................. 8
5.3. Orelha interna ................................................................................................ 9
6. TOXICOLOGIA OCUPACIONAL ......................................................................... 9
6.1. Reconhecimento .......................................................................................... 10
6.2. Avaliação...................................................................................................... 10
6.3. Controle........................................................................................................ 10
6.4. Limite de Tolerância (LT) ............................................................................. 10
6.5. Limites de Tolerância Biológica (LTB) .......................................................... 11
7. VIAS DE ABSORÇÃO ........................................................................................ 11
7.1. Absorção através da Pele ............................................................................ 11
7.2. Absorção Gastrintestinal .............................................................................. 12
7.3. Absorção através dos pulmões .................................................................... 12
8. OTOTOXICIDADE ............................................................................................. 13
8.1. Principais solventes orgânicos ototóxicos .................................................... 13
8.1.1. Tolueno C7H8 ......................................................................................... 14
8.1.2. Xileno (C8H10) ........................................................................................ 15
8.1.3. Estireno (C8H8) ...................................................................................... 15
8.1.4. Tricloroetileno (C2HCl3).......................................................................... 15
8.2. Legislação brasileira em vigor ...................................................................... 16
8.3. EXAMES OCUPACIONAIS PARA DETECÇÃO DOS SOLVENTES
OTOTÓXICOS, SEGUNDO MICHEL (2000)............................................................. 17
8.3.1. Ácido hipúrico urinário (para o tolueno)........................................................ 17
8.3.2. Ácido metilhipúrico (para os xilenos) ........................................................ 18
8.3.3. Ácido fenilglioxílico urinário (para o estireno)............................................ 18
8.3.4. Ácido mandélico (para o estireno) ............................................................ 18
9. ESTUDOS COMPROBATÓRIOS DE OTOTOXICIDADE .................................. 19
11.1 Tolueno ..................................................................................................... 19
9.1. Xileno e Estireno .......................................................................................... 20
9.2. Tricloroetileno (TCE) .................................................................................... 20
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 22
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 23
1

1. INTRODUÇÃO

Segundo CORRÊA (2005), a exposição a substâncias químicas que causam


danos ao sistema coclear e/ou vestibular é definida como ototoxicidade. Os agentes
tóxicos podem atingir a orelha interna pelas vias hematogênica, liquórica, linfática
ou, diretamente, via perfuração da membrana timpânica. A perda auditiva
sensorioneural de início nas frequências agudas, evoluindo para as médias e
graves, é a manifestação auditiva mais comum.
De acordo com AZEVEDO (2004), existem mais de 750.000 substâncias
químicas, das quais 85.000 são usadas rotineiramente. Acrescente-se ao primeiro
número cerca de 15.000 novas substâncias registradas no Chemical Abstracts
Service por dia (CAS, 2015). Por outro lado, tem-se somente pouco mais de 7.000,
substâncias com a toxicidade conhecida.
Produtos químicos fazem com que tenhamos conforto, bem-estar, qualidade de
vida, entre outros. Na contramão, esses mesmos produtos, se utilizados de maneira
equivocada e/ou displicente, podem causar danos muitas vezes irreversíveis à
saúde do profissional. É o caso dos solventes orgânicos.
Conforme explica BOTELHO (2009), alguns produtos químicos são estudados
por serem potenciais agentes ototóxicos, tais como: solventes, metais pesados, e
gases asfixiantes. Mais recentemente, passaram a figurar nessa lista os pesticidas
organofosforados.
A classe dos solventes orgânicos é exaustivamente estudada, em especial o
tolueno, xileno, estireno, n-hexano, tricloroetileno e etanol. Esses são ototóxicos de
alta prioridade. Têm-se outros de menor ototoxidade, entre eles o, acetato de etila e
o dissulfeto de carbono (BOTELHO et al., 2009).
O presente trabalho de conclusão de curso (TCC), do curso de Licenciatura
Plena e Bacharelado em Química, deu-se após uma colaboração realizada com a
Dra. Renata Rodrigues Moreira, fonoaudióloga do Hospital Universitário da
Universidade de São Paulo (HU-USP). A Dra. Renata queria auxílio na revisão de
um questionário que seria aplicado aos profissionais da USP. Foi assim que veio ao
nosso conhecimento que a via auricular é uma “porta” de entrada para produtos
perigosos.

Neste trabalho, não abordaremos o mecanismo de ação dos solventes orgânicos


2

na perda de audição do profissional. Daremos, sim, uma visão da parte ocupacional,


ou seja, a causa e o efeito.
A maioria dos profissionais se preocupa em proteger as vias aéreas, olhos,
mãos, etc. Porém, a via auricular só é levada em consideração em casos que o
profissional está exposto a ruídos.
Esse trabalho mostra que, independentemente de exposição a ruído, haverá
perda de audição quando o profissional está somente exposto a alguns solventes
orgânicos (tolueno, por exemplo). Mostra também que, quando o profissional está
exposto ao tolueno e ruído, o tolueno age como um catalisador, fazendo com o que
as vias auriculares do profissional sejam danificadas num espaço de tempo menor.
O objetivo geral do presente trabalho é apontar a ototoxidade de alguns
solventes orgânicos. Já o objetivo específico é mostrar que não é somente a
exposição ao ruído que causa perda de audição no trabalhador. Alguns solventes
orgânicos são extremamente danosos às vias auditivas do trabalhador.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Para a concretização desse trabalho uma revisão bibliográfica foi feita. Para tal,
foram utilizados: revistas, artigos científicos, livros e legislação brasileira em vigor.

3. DISCUSSÃO TEÓRICA

3.1. Toxicologia

A toxicologia é uma ciência que estuda efeitos causados por interações de


substâncias químicas com o organismo.
O objetivo principal da toxicologia é prevenir estes efeitos estabelecendo
parâmetros seguros para o uso das substâncias químicas (RUPPENTHAL,
2013).
A toxicologia é uma ciência multidisciplinar que engloba uma enorme área
de conhecimento, relacionando-se com outras ciências, pois, sem utilizar
conhecimentos inter-relacionados, seria muito difícil atingir seu objetivo de
prevenir, diagnosticar e tratar.
As substâncias químicas, estranhas ao organismo e sem valor nutritivo, são
conhecidas como xenobióticos, e aquelas que são capazes de causar dano a
3

um sistema biológico, alterando uma função ou levando-o a morte, sob certas


condições de exposição, são chamadas de agentes tóxicos. De modo geral, a
intensidade da ação do agente tóxico é proporcional a concentração e ao tempo
de exposição. Essa relação de proporcionalidade, por sua vez, varia de acordo
com o estágio de desenvolvimento do organismo e de acordo com seu estado
de funcionamento biológico. A intoxicação é a manifestação desse efeito tóxico e
é correspondente ao conjunto de sintomas e sinais que revelam a existência de
desequilíbrio pela interação do agente tóxico com o organismo ( RUPPENTHAL,
2013).
Toxicidade é a capacidade e potencial do agente tóxico de promover efeitos
nocivos em organismos vivos. O efeito tóxico é normalmente proporcional a
concentração do agente tóxico ao nível do tecido alvo (sitio de ação). A ação
toxica é a forma através da qual um agente tóxico atua sobre as estruturas do
tecido.
Dose Letal 50% (DL50) ou dose letal média de uma substância expressa o
nível de toxicidade aguda de substâncias químicas. Correspondem às doses que
matariam 50% dos animais de um lote utilizados para experiência. São valores
estatisticamente calculados a partir de dados obtidos experimentalmente. A
partir das DL50 de várias substâncias, são estabelecidas classes toxicológicas
de produtos químicos e farmacológicos. Entretanto, para se dizer se uma
substância é tóxica ou não para o ser humano, deve-se também optar por
critérios que avaliem se uma substância oferece risco ou perigo para um
determinado sistema biológico, para um determinado indivíduo ou para a saúde
pública (LEITE & AMORIN, 2003).

3.1.1. Intoxicação
A intoxicação é um processo patológico causado por substâncias
endógenas ou exógenas. Caracteriza-se por promover desequilíbrio
fisiológico, consequente das alterações bioquímicas no organismo. O
processo é evidenciado por sinais e sintomas ou mediante dados laboratoriais
(RUPPENTHAL, 2013).
4

3.1.2. Fases da intoxicação


O processo de intoxicação pode ser classificado e dividido em quatro
fases.

3.1.2.1. Fase de Exposição

É a fase em que as superfícies externa ou interna do organismo


entram em contato com o agente tóxico. É importante considerar nesta
fase a via de introdução, a frequência e o tempo de duração da
exposição, as propriedades físico-químicas, assim como também a dose
ou a concentração do xenobiótico e a susceptibilidade do indivíduo
(RUPPENTHAL, 2013).

3.1.2.2. Fase de Toxicocinética

Inclui os processos envolvidos na relação entre a


disponibilidade química e a concentração do fármaco nos tecidos
diferentes do organismo. Intervêm nesta fase a absorção, a distribuição, o
armazenamento, a biotransformação e a excreção das substâncias
químicas. As propriedades físico-químicas dos agentes tóxicos
determinam o grau de acesso aos órgãos-alvos, assim como também a
velocidade de sua eliminação do organismo (RUPPENTHAL, 2013).

3.1.2.3. Fase de Toxicodinâmica

Compreende a interação entre as moléculas do agente tóxico e


os sítios de ação, específicos ou não, dos órgãos e, consequentemente, o
surgimento de desequilíbrio homeostático (RUPPENTHAL, 2013).

3.1.2.4. Fase Clínica

É a fase onde há evidências de sinais e sintomas, ou ainda,


alterações patológicas detectáveis através de provas diagnósticas,
caracterizando os efeitos danosos provocados pela interação do
organismo com o agente tóxico (RUPPENTHAL, 2013).
5

3.2. Interações entre substâncias


A exposição simultânea a várias substâncias pode alterar uma série de
fatores (absorção, ligação proteica, metabolização e excreção) que influenciam
na toxicidade de cada uma delas em separado.
Assim, a resposta final a substâncias tóxicas combinadas pode ser maior ou
menor que a soma dos efeitos de cada um deles, podendo-se ter:
3.2.1. Efeito Aditivo
O efeito aditivo que seria um efeito final igual à soma dos efeitos de
cada um dos agentes envolvidos;

3.2.2. Efeito Sinérgico


Efeito esse que viria a ser um efeito maior que a soma dos efeitos de
cada agente em separado;

3.2.3. Potencialização
Que é o efeito de um agente é aumentado quando em combinação
com outro agente;

3.2.4. Antagonismo
Ocorre quando o efeito de um agente é diminuído, inativado ou
eliminado quando se combina com outro agente (RUPPENTHAL, 2013).

4. FÍSICA DO SOM

NISHIDA (2012) explica que o som comprime e descomprime as moléculas do


meio pela ação de uma onda mecânica longitudinal. Uma amplitude (intensidade) e
frequência (número de oscilações por unidade de tempo), assim é composto o
fenômeno ondulatório. Existe o que chamamos de “tom puro”, que são expressos
em ciclos por segundo (cps) ou hertz (Hz). Sons de um instrumento musical ou sons
que emitimos não são puros, uma vez que são compostos por várias frequências.
Seres humanos ouvem na faixa frequencial de 20 a 20000Hz; abaixo disso chama-
se “infra-sons” e acima “ultra-sons”. Nós não ouvimos em nenhuma dessas duas
faixas. Morcegos e cães ouvem numa faixa muito acima da nossa e, com isso, pode-
se dizer que somos surdos se comparados a morcegos e cães. Sons de alta
frequência são reconhecidos como agudos e de baixa frequência como graves, já o
6

que entendemos por som alto ou baixo, nada mais é que amplitude alta ou baixa
respectivamente.
Nota-se que, apesar de limitado, o ser humano tem um ouvido extraordinário no
quesito acuidade auditiva. Na Figura 1, têm-se a curva de audibilidade, que mostra a
nossa alta detecção de sons dentro de uma ampla gama de intensidades, dentro do
espectro audível. Nota-se, também, que foi usada uma escala logarítmica de 10
(dB), ou seja, a variação é de 100 vezes!
Os três ouvidos (externo, médio e interno) revelam-se um sistema auditivo
engenhoso e muito refinado, feito para romper a impedância física ar-líquido.
Quando o som se propaga do ar para a água, 99% das ondas são refletidas. Isso
justifica o sistema de amplificação das energia mecânica do ouvido médio (ROMÃO,
2009). Caso não existisse um mecanismo de “compensação”, os seres humanos,
seriam um pouco surdos, tendo em vista que as ondas mecânicas que “vem” do ar
são transmitidas para um local cheio de líquido (cóclea), onde ficam as células
transdutoras, conclui NISHIDA (2012).

Figura 1 Curva de audibilidade. FONTE: NISHIDA, 2012.


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5. APARELHO AUDITIVO

Figura 2 Anatomofisiologia do aparelho auditivo. FONTE: NISHIDA, 2012.

O aparelho auditivo (Figura 2) é um órgão importante à comunicação humana,


uma vez que constitui a base natural da comunicação humana.
Um órgão vestibulococlear, esse é o nome que se dá à orelha. É composta por
um complexo “aparato” responsável pela sensibilidade ao som, movimento e efeitos
gravitacionais. Está contida no osso temporal e pode ser dívida em: orelha interna,
média e externa, segundo RIVEIRO (2010). O aparelho auditivo nessa configuração
não é exclusividade do ser humano, mas sim, de todos os mamíferos, explica
NISHIDA (2012).

5.1. Orelha externa


O pavilhão auricular e o meato acústico (ou auditivo) compõem a orelha
externa, conforme mostrado na Figura 3. O pavilhão tem forma de concha
acústica e é responsável por coletar as ondas sonoras. O meato é composto por
um tubo rígido e tem a função de direcionar as ondas sonoras até o membrana
timpânica que vibra em ressonância. A orelha externa capta sons de uma área
vibratória muito grande e os transmite para uma área menor. Nesse ponto o sinal
é amplificado, melhorando-se a pressão sonora que incidirá no tímpano,
8

particularmente aqueles sinas sonoros que estão na faixa de frequência da


linguagem falada (de 2500 a 3000Hz). A membrana timpânica é acinzentada, as
fibras concêntricas regulam a tensão, isso lhe confere elasticidade e muita
resistência mecânica. No meato, a temperatura sempre é estável, de modo que
as propriedades físicas das ondas não são alteradas (NISHIDA, 2012).

Figura 3 Anatomia funcional da orelha. FONTE: NISHIDA, 2012.

5.2. Orelha média


A orelha média também é chamada de caixa timpânica. Ela se comunica
anteriormente com a tuba auditiva (antigamente chamada de trompa de
Eustáquio) que está localizada na nasofaringe e posteriormente com a cavidade
mastoideana. A tuba estabelece o equilíbrio da pressão dos dois lados do
tímpano.
Duas aberturas são responsáveis pela comunicação com a orelha interna,
são elas: janela oval e a janela redonda, conforme mostrado na Figura 4. Existe
um sistema com três ossículos articulados na orelha média: o martelo, a bigorna
e o estribo. O martelo está em contato íntimo com a membrana timpânica e a
base do estribo está na janela oval. Quando as ondas sonoras chegam à
membrana timpânica, essa vibra. O martelo também vibra em ressonância e o
sinal mecânico chega até a base do estribo que vibra empurrando sua base para
dentro da janela oval, segundo NISHIDA (2012).
9

Figura 4 Orelha média. FONTE: NISHIDA, 2012.

5.3. Orelha interna

Situada na porção petrosa do osso temporal está a orelha interna, que é


formada por uma organização complexa, composta pela cóclea (que possui
células sensoriais auditivas) e pelo sistema vestibular (canais semicirculares,
utrículo, sáculo que possuem células sensoriais associadas ao sentido do
equilíbrio). Cada uma dessas estruturas possui três partes: o labirinto ósseo, o
labirinto membranoso e o espaço entre eles, explica NISHIDA (2012).

6. TOXICOLOGIA OCUPACIONAL

Toxicologia ocupacional é a área da toxicologia que identifica e quantifica as


substancias químicas presentes no ambiente de trabalho e os riscos que elas podem
oferecer, com o objetivo de prevenir e minimizar riscos à saúde do trabalhador. São
estudados os agentes tóxicos de matérias-primas, produtos intermediários e
produtos acabados quanto a: aspectos físico-químicos, interação entre agentes no
ambiente e no organismo, as vias de introdução, a toxicidade, a ocorrência de
intoxicação em curto, médio e longo prazos, os limites de tolerância na atmosfera e
no sistema biológico e os indicadores biológicos de exposição. Pode-se prevenir a
intoxicação ocupacional seguindo-se 3 etapas fundamentais que são:
10

reconhecimento, avaliação e controle (RUPPENTHAL, 2013).

6.1. Reconhecimento
Através do conhecimento dos métodos de trabalho, processos e operações,
matérias-primas e produtos finais ou secundários, pode ser identificada a
presença do agente em determinado local de trabalho ou em determinado produto
industrial. Também procura-se a caracterização das propriedades químicas e
toxicológicas do agente (RUPPENTHAL, 2013).

6.2. Avaliação
É realizada por meio da medição instrumental ou laboratorial do agente
químico, comparando-se os resultados com os limites de tolerância no ambiente
e no sistema biológico. Na etapa da avaliação, observam-se, entre outros fatores,
a delimitação da área a ser avaliada, o número de trabalhadores expostos, a
jornada de trabalho, a ventilação, o ritmo de trabalho, os agentes a serem
pesquisados e outros fatores que poderiam interferir na avaliaçãp. Os resultados
encontrados vão mostrar se a etapa de controle precisa ou não ser executada
(RUPPENTHAL, 2013).

6.3. Controle
É a etapa que pretende eliminar ou reduzir a exposição do trabalhador ao
agente toxico. São medidas administrativas e técnicas que limitam o uso de
produtos e técnicas de trabalho, o tempo de exposição e o número de
trabalhadores expostos. Também existem comissões técnicas de controle, que
disciplinam o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), melhoram as
condições de ventilação e treinam os trabalhadores (RUPPENTHAL, 2013).
Por intermédio do cumprimento dessas etapas, torna-se possível estabelecer
parâmetros de exposição, seja no ambiente do trabalho ou seja no organismo
dos trabalhadores. São limites de tolerância acima dos quais as atividades são
consideradas insalubres.

6.4. Limite de Tolerância (LT)


O Limite de tolerância trata-se da concentração máxima que uma substância
pode alcançar no ambiente de trabalho sem que represente um dano a saúde do
trabalhador. Os limites de tolerância hoje relacionam-se apenas a intoxicação
11

por via respiratória e não consideram outras vias de penetração. Além disso, não
contabilizam a exposição que ocorre fora do ambiente de trabalho. Observando-
se pelo ponto de vista da monitorização da saúde, observar apenas a
intoxicação por via respiratória e apenas no ambiente de trabalho não é eficaz,
pois isso não contempla o somatório de exposições a que um indivíduo é
suscetível e não leva em consideração os hábitos individuais. Para
complementar os dados obtidos na monitorização ambiental é necessário o
estabelecimento de limites biológicos para a identificação de diferenças
individuais (RUPPENTHAL, 2013).

6.5. Limites de Tolerância Biológica (LTB)


Limite de tolerância biológica é a quantidade limite do agente ou seu produto
de biotransformação encontrado em material biológico (ar exalado, urina,
sangue). Assim como também as alterações bioquímicas e fisiológicas
decorrentes da exposição a determinado agente tóxico, sem que haja o
aparecimento de sinais clínicos de intoxicação ou efeitos irreversíveis
(RUPPENTHAL, 2013).

7. VIAS DE ABSORÇÃO

No sentido fisiológico, um material é considerado como absorvido somente


quando ele tiver entrado na corrente sanguínea e, consequentemente, tiver sido
carregado para todas as partes do corpo. Algo que foi engolido e que é
posteriormente excretado nas fezes mais ou menos sem mudanças não foi
necessariamente absorvido, mesmo que possa ter permanecido no sistema
gastrintestinal por horas ou até mesmo dias. A toxicologia ocupacional se refere
primeiramente a três rotas de absorção ou portas de entrada que os materiais
podem utilizar para atingir a corrente sanguínea: a pele, o trato gastrintestinal e os
pulmões (MUNHOZ, 2011).

7.1. Absorção através da Pele


A absorção através da pele tem como maior importância a relação com
solventes orgânicos. É geralmente reconhecido que quantidades significativas
destes compostos podem entrar na corrente sanguínea através da pele tanto
como resultado de contaminação direta acidental ou quando o material tenha
12

sido espirrado sobre as roupas. Uma fonte adicional de exposição é encontrada


na prática muito comum de usar solventes industriais para remoção de graxas e
sujeira das mãos e dos braços, em outras palavras, para propósitos de lavagem
(MUNHOZ, 2011).

7.2. Absorção Gastrintestinal


Segundo MUNHOZ (2011), o fato de que algo tenha sido colocado na boca e
engolido não significa necessariamente que tenha sido absorvido pelo
organismo. Naturalmente, quanto menos solúvel o material, menor é a
probabilidade de absorção. Não há dúvidas de que alguns materiais tóxicos,
utilizados na indústria, podem ser absorvidos através do trato intestinal, mas é
agora genericamente acreditado que, com certas exceções, esta rota de entrada
é de menor importância. Um caso ocorrido no Brasil há alguns anos, em Franca
(SP) teve o trato gastrintestinal como rota de penetração de um agente tóxico
(chumbo). Foi constatado que as vítimas, algumas fatais, colocavam pregos para
sapatos nos lábios, estando desta maneira ingerindo quantidades muito
elevadas de chumbo que se encontrava presente nos pregos. Ingestão acidental
de quantidades perigosas de compostos venenosos em uma única dose tem
também sido registradas nos últimos anos.

7.3. Absorção através dos pulmões


Novamente, de acordo com MUNHOZ (2011), a inalação de ar contaminado
é, de longe, o mais importante meio pelo qual os venenos ocupacionais ganham
entrada no corpo. Ele afirma ser seguro estimar que pelo menos 90 por cento de
todo envenenamento industrial (excluindo dermatites) podem ser atribuídos à
absorção através dos pulmões. Substâncias perigosas podem estar suspensas
no ar na forma de pós, fumos, névoas ou vapores, e podem estar misturadas
com o ar respirável no caso de verdadeiros gases. Desde que um indivíduo, sob
condições de exercício moderado, respire cerca de 10 metros cúbicos de ar no
curso normal de 8 horas de trabalho diário, é prontamente entendido que
qualquer material venenoso presente no ar respirável ofereça uma séria
ameaça.
13

8. OTOTOXICIDADE

Substâncias ototóxicas são todas as substâncias que são tóxicas ao aparelho


auditivo. Ototoxicidade é então definida como dano aos sistemas coclear e/ou
vestibular resultante de exposição a substâncias químicas. As substâncias tóxicas
geralmente exercem sua ação predominante em uma das porções da orelha interna,
mas podem agir em mais de um local. Os três principais sítios de ação são as
células ciliadas na cóclea, o vestíbulo e a estria vascular (QUEIROZ, 2005). Há um
vasto número de medicamentos e produtos químicos que podem causar problemas
funcionais e degeneração celular dos tecidos da orelha interna, especialmente nos
órgãos sensoriais e neurônios da cóclea e aparelho vestibular. Em geral, causam
surdez progressiva ou súbita bilateral, podendo ser temporária ou permanente.
(BERTONCELLO 1999).

8.1. Principais solventes orgânicos ototóxicos

Os solventes orgânicos são substâncias químicas de natureza orgânica


ou uma mistura líquida de substâncias químicas, capazes de dissolver outro
material de utilização industrial (LOBATO & LACERDA, 2013). Os solventes
orgânicos possuem características diversas. Geralmente os solventes são
líquidos à temperatura ambiente. Por isso, são facilmente volatilizados. Também
apresentam como características serem incolores, possuirem forte odor, além de
serem inflamáveis na maioria das vezes (FUENTE, 2013).
Segundo explica LOBATO & LACERDA (2013), a exposição aos
solventes orgânicos ocorre geralmente pelas vias respiratória e cutânea, e os
órgãos mais afetados são a pele e o Sistema Nervoso Central.
Os solventes orgânicos são usados em todo o mundo e diversos
processos industriais diferentes requerem sua utilização como por exemplo:
construção civil, de produtos químicos, de impressão, de borracha, de plásticos,
de produtos farmacêuticos, de calçados, de têxteis, de alimentos, de madeira, de
limpeza, de pintura e na fabricação de tinta (LOBATO & LACERDA, 2013).
Um dos primeiros relatos dos efeitos adversos de solventes na audição
humana veio de Szulck-Kuberska, que estudaram um grupo de trabalhadores
14

expostos ao tricloroetileno e notaram o surgimento de problemas auditivos. A


evidência científica atual de modelos animais indica que solventes tais como
tolueno, estireno, xileno, tricloroetileno, entre outros, têm efeitos ototóxicos. O
cenário mais provável do processo tóxico de solventes aromáticos é um
envenenamento químico de células ciliadas resultando em desorganização das
suas estruturas membranosas, e isto pode provocar a morte destas células. A
perda de células ciliadas é irreversível porque o órgão de Corti (o órgão de Corti,
com seus órgãos receptores, imersos na endolinfa, é o responsável pelas
sensações auditivas e as máculas e cristas ampulares, pela sensação de
posição do corpo no espaço, vivem em um permanente equilíbrio pressórico,
bioquímico e bioelétrico que se interligam) não é capaz de substituir as células
neurosensoriais (CAMPO et al., 2009). Segundo BERTONCELLO (1999),
problemas vestibulares causados pelos solventes orgânicos ototóxicos podem
aumentar a incidência de acidentes de trabalho em locais onde eles não são
utilizados adequadamente, ou seja, sem o uso de equipamentos de proteção e
segurança, uma vez que são absorvidos por via cutânea e respiratória. Sendo
assim, os solventes orgânicos ototóxicos ora citados afetam de alguma forma o
sistema nervoso, causando sintomas como: depressão do Sistema Nervoso
Central, incoordenação, perda de memória, prejuízo na capacidade de
concentração, dano no Sistema Nervoso Central e Periférico. Neste trabalho
mencionaremos alguns efeitos dos solventes listados abaixo:

8.1.1. Tolueno C7H8

É um hidrocarboneto aromático obtido do petróleo bruto, também


conhecido como metilbenzeno, metilbenzol, fenilmetano ou toluol; é composto
por um grupo metil ligado ao benzeno. É incolor, de odor característico e volátil
(com pressão de vapor a 25°C = 28 mmHg), com ponto de ebulição igual a
110,6ºC e significativa lipossolubilidade. Sua fórmula é C6H5CH3 e possui
massa molar de 92,15 g/mol. Se auto inflama a 480°C e o limiar de odor dos
vapores de tolueno ocorre entre 0,04 e 1 mg/L na água e 8 mg/m 3 no ar
(FORSTER et al., 1994). Industrialmente está presente em: gasolina, agentes
de limpeza, colas, preparo de verniz, explosivos, borracha sintética, além de
ser um dos principais solventes da indústria gráfica, presente tanto nas tintas
15

como no thinner e, naturalmente, também está presente no petróleo (LOBATO


& LACERDA 2013). A intoxicação geralmente ocorre por via respiratória
(inalação) ou contato direto do líquido com a pele causando depressão do
Sistema Nervoso Central (BERTONCELLO, 1999).

8.1.2. Xileno (C8H10)

Xileno é um hidrocarboneto aromático que é conhecido como dimetil


benzeno, metil tolueno e xilol. É um líquido incolor, de lipossolubilidade
altíssima, com ponto de ebulição por volta de 140ºC, pressão de vapor a 25ºC
= 8,9 mmHg. Muito usado em indústrias químicas, de explosivos, de couro,
tecidos, papéis, perfumes, inseticidas e na elaboração de resinas sintéticas e
plásticas (LOBATO & LACERDA, 2013). A contaminação também ocorre por
inalação e contato com a pele (BERTONCELLO, 1999).

8.1.3. Estireno (C8H8)

Também chamado de Feniletileno, Estirol e Vinilbenzeno. É um líquido


viscoso, pouco volátil (pressão de vapor a 25ºC de 6,54 mmHg), de ponto de
ebulição 145,2ºC e de baixa solubilidade em água. É usado como
intermediário para sínteses químicas, como solvente para resinas sintéticas e
é utilizado também na produção de poliésteres para a fabricação de
embalagens plásticas e materiais descartáveis, de borracha sintética, em
isolamento térmico e resinas para fabricação de barcos, chuveiros, acessórios
para automóveis e, principalmente, na elaboração de fibra de vidro em função
de suas propriedades elásticas. O estireno tem como matéria-prima em sua
produção o benzeno (BERTONCELLO, 1999). A principal rota de exposição
da população geral ao estireno é o ar de ambientes internos. A exposição de
curto prazo pode irritar os olhos e produzir efeitos gastrintestinais. A
exposição de longo prazo pode afetar o sistema nervoso central, com sinais e
sintomas de cefaléia, fadiga, fraqueza, depressão, perda auditiva e neuropatia
periférica. (CETESB, 2012).

8.1.4. Tricloroetileno (C2HCl3)

O tricloroetileno (TCE) é usado em larga escala nos processos


16

industriais pela sua propriedade de dissolver graxa e gordura. Noventa por


cento de sua produção é consumida em operações de limpeza de peças,
decapagem de materiais para processos de eletro deposição, entre outras
aplicações. A lavagem a seco de roupas (dry-cleaning) e a extração seletiva
de determinados alimentos e drogas (como por exemplo a remoção da
cafeína do café) é responsável por outros cinco por cento, e o restante de sua
produção é utilizada em várias outras aplicações e operações como em
resinas, pesticidas, colas tintas e vernizes (Stettiner H.M.A et al. 1977).

Tem uso restrito como anestésico e analgésico e sua intoxicação


ocorre através de inalação.

Trabalhadores expostos a níveis médios de tricloroetileno, estimados


de 100 a 200 ppm, têm relatado crescente incidência de fadiga, vertigem,
tontura, dor de cabeça, perda de memória e prejuízo na habilidade de
concentração (BERTONCELLO, 1999).

8.2. Legislação brasileira em vigor

Os limites de tolerância são encontrados na Legislação Brasileira em


vigor: Lei nº 6514, de 22 de dezembro de 1977 – Altera o Capítulo V do Título II
da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do
Trabalho.

A Portaria nº 3214, de 08 de junho de 1978 – Aprova as Normas


Regulamentadoras - NR – do Capítulo V do Título II, da Consolidação das
Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho.

A NR - 15 – Atividades e operações insalubres, Anexo nº 11 – Agentes


químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e
inspeção no local de trabalho.

É importante ressaltar que os limites de tolerância relacionados na


Tabela 1, são válidos para absorção apenas por via respiratória.
17

AGENTES ABSORÇÃO TAMBÉM PELA ppm mg/m³


QUÍMICOS PELE

Estireno Não 78 328

Tolueno Sim 78 290

Tricloroetileno Não 78 420

Xileno Não 78 340

ppm – partes de vapor ou gás por milhão de partes de ar contaminado


mg/m³ - miligramas por metro cúbico de ar

Tabela 1Tabela de limites de tolerância FONTE: ANEXO 11 da Norma Regulamentadora nº15.

Na coluna “ABSORÇÃO TAMBÉM PELA PELE”, os agentes químicos


com “SIM” podem ser absorvidos por via cutânea, e, portanto, exigem, na sua
manipulação, o uso de luvas adequadas, além do EPI necessário à proteção
de outras partes do corpo.

8.3. EXAMES OCUPACIONAIS PARA DETECÇÃO DOS SOLVENTES


OTOTÓXICOS, SEGUNDO MICHEL (2000)

8.3.1. Ácido hipúrico urinário (para o tolueno)

O ácido hipúrico é o principal metabólito para o tolueno. Porém, esse


ácido também é um metabolito natural do nosso organismo. Dietas ricas em
ácido benzóico (mostardas, refrigerantes, alguns tipos de pães, massa de
tomate, frutas (pêssegos e ameixas) e alimentos conservados com benzoatos)
também podem contribuir para o aumento desse ácido na urina analisada.
Além disso, a ingestão de paracetamol, álcool e tabaco inibe a
biotransformação hepática do tolueno. Esses fatores dificultam a detecção de
exposições a tolueno.
18

• Indicador biológico de exposição: ácido hipúrico urinário (Hip).


• Coleta: uma amostra de urina pré-jornada e outra pós-jornada de
trabalho (20mL cada), coletadas após no mínimo dois dias seguidos
de exposição.
• Conservação: geladeira a 4ºC.
• Valor de Referência (V.R.): até 1,5g/g de creatinina. (NR-7).
• Índice Biológico Máximo Permitido (I.B.M.P.): 2,5g/g de creatinina.
(NR-7).
• Método analítico: cromatografia líquida de alto rendimento (HPLC).

8.3.2. Ácido metilhipúrico (para os xilenos)

• Indicador biológico: ácido metil hipúrico.


• Coleta: coletar urina no final da jornada de trabalho. 50 mL em frasco
âmbar ou de polietileno.
• Conservação: manter sob refrigeração a 4ºC.
• Método analítico: cromatografia gasosa.
• Valor de referência da normalidade: geralmente não encontrado na
urina de indivíduos não expostos (NR-7).
• I.B.M.P.: até 1,5 µg/g de creatinina (NR-7).

8.3.3. Ácido fenilglioxílico urinário (para o estireno)

• Indicador biológico de exposição: ácido fenilglioxílico urinário (Glioxil).


• Coleta: uma amostra de urina pós-jornada de trabalho (20mL), coleta
após no mínimo dois dias seguidos de exposição.
• Conservação: geladeira a 4ºC.
• V.R.: Não Referenciado (NR-7).
• I.B.M.P.: 240 mg/g de creatinina (NR-7).
• Método analítico: cromatografia líquida de alta desempenho (HPLC).

8.3.4. Ácido mandélico (para o estireno)

• Indicador biológico de exposição: ácido mandélico urinário (Mandel).


19

• Coleta: uma amostra de urina pós-jornada de trabalho (20 mL),


coletata após no mínimo dois dias seguidos de exposição.
• V.R.: N.R. (NR-7)
• I.B.M.P.: 0,8 g/g de creatinina (NR-7).
• Método analítico: cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC).

8.3.5. Triclorocompostos totais urinários (TCC) para o tricloetileno

• Indicador biológico de exposição: triclorocompostos totais urinários


(TCC).
• Coleta: uma amostra de urina pós-jornada (20 mL), coletada no útlimo
dia da semana de trabalho.
• Conservação: geladeira a 4ºC.
• V.R.: N.R. (NR-7)
• I.B.M.P.: 300 mg/g de creatinina.
• Método analítico: espectrofotometria visível.

9. ESTUDOS COMPROBATÓRIOS DE OTOTOXICIDADE

11.1 Tolueno

A exposição ao tolueno causou danos periféricos permanentes nas


células ciliadas externas na cocléa em ratos expostos à esse solvente, como
sugerido por BERTONCELLO (1999).

Visando estudar a relação entre tolueno, ruído e a perda de audição,


MORATA (1997) citou um estudo efetuado com um grupo de trabalhadores de
uma indústria gráfica de rotogravura. Este grupo foi subdividio em outros quatro
e o estudo fei feito com base em entrevistas.

Os quatro grupos eram: grupo dos trabalhadores não expostos (N=50),


expostos somente a ruído (N=50), grupo exposto a tolueno e ruído (N=51) e
trabalhadores expostos somente a mistura de solventes (N=39), onde “N” é o
20

número de trabalhadores envolvidos. Como esperado, o risco de perda auditiva


foi maior nos grupos que tiveram algum tipo de exposição. Com relação ao
grupo que não sofreu nenhum tipo de exposição, o grupo exposto ao ruído
apresentou quatro vezes mais chances de perda de audição, para o grupo
exposto a uma mistura de solventes orgânicos o risco foi de cinco vezes, já para
o grupo exposto ao tolueno e ao ruído esse número subiu para onze vezes.

Os resultados sugerem que a mistura de solventes orgânicos e o


tolueno são tóxicos ao sistema auditivo, e que, quando o trabalhador está
exposto ao ruído e ao tolueno, a ototoxicidade do tolueno tem seu efeito
potencializado pela sinergia com o ruído.

9.1. Xileno e Estireno

Após associarem a perda de audição com a exposição ao tolueno,


pesquisadores resolveram testar a ototoxicidade de outros solventes orgânicos,
escolhendo os xilenos (orto, meta e para) e o estireno por conta de sua
“similaridade estrutural” com o tolueno. Tanto os xilenos quanto o estireno
causaram algum dano ao sistema auditivo de ratos. As quatro moléculas se
mostraram muito mais ototóxicas que o tolueno. Comparativamente, num estudo
entre trabalhadores expostos a baixo nível de estireno, não foi detectada perda
auditiva com relação aos que não tiveram exposição ao solvente. No entanto,
quando comparou-se um grupo com pouco exposição com outro com exposição
elevada de estireno, uma diferença na capacidade auditiva foi revelada,
principalmente quando os trabalhadores foram expostos a frequências altas.
Sete entre dezoito (38,88%) dos trabalhadores de uma fábrica de barcos de
plástico apresentaram resultados anormais nos testes que avaliam o sistema
auditivo central, conclui MORATA et al, 1997.

9.2. Tricloroetileno (TCE)

BERTONCELLO (1999) diz que muitos estudos apontam o TCE como


sendo um agente ototóxico. Há um caso relatado de um trabalhador de um
indústria de lavagem a seco, que foi exposto por dez anos e sofreu perda
auditiva sensorioneural de alta frequência.
21

Num estudo de campo com 40 profissionais que foram expostos ao


TCE, 26 apresentaram perda auditiva bilateral em altas frequências. Um exame
específico (eletronistagmográfico) constatou alterações no equilíbrio desses
profissionais, relata MORATA (1997). Pode-se notar que 65% dos profissionais
expostos ao TCE, tiveram algum tipo de alteração, seja na audição seja no
equilíbrio.
22

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Várias pesquisas vêm sendo feitas dentro da área de saúde ocupacional. Uma
muito promissora é a saúde do aparelho auditivo do trabalhador. Hoje já se sabe que
até músicos após um show de rock sofrem perda auditiva temporária por conta do
ruído (PFEIFFER, 2007).

As causas de perdas auditivas são variadas, podendo ocorrer pelo uso de


medicamentos ototóxicos (estreptomicina, neomicina, tobramicina e netilmicina,
etc.), de alguns desinfetantes (etanol, propilenoglicol, iodo, benzalcônio e
clorexidine, etc.), de diuréticos (ácido etacrínico e furosemida, etc.) e anti-
inflamatórios, (como o ácido acetilsalicílico e a indapamida) (REGAZZI, 2004).
Motivos emocionais, tais como agentes estressores endógenos e exógenos
(MORATA, 1977) e tabagismo, entre outros, (FERREIRA, 2012) também são causas
de perdas auditivas.

O objetivo desse trabalho foi compilar informações sobre os danos causados por
solventes orgânicos ototóxicos ao sistema auditivo do trabalhador. Não focamos no
ruído, mas é sabido que a perda de audição causada pelo ruído quando associada a
solventes ototóxicos é sinérgica, e, com isso, a perda de audição é potencializada,
conforme salientado por LOBATO & LACERDA (2013).

O termo “perda auditiva ocupacional” não deveria ser associado unicamente a


“perda auditiva induzida por ruído”, seria simplificar demasiadamente o problema. Há
casos de perdas auditivas por exposição somente a solventes ototóxicos, o que
independe da presença de ruído (MORATA, 1997).

São extremamente complexos e necessários os estudos sobre exposições


ocupacionais combinadas (MORATA, 1997). Não basta apenas um “Dia Nacional de
Prevenção de Surdez” (10 de novembro). Somente com a divulgação dos resultados
obtidos em pesquisas, com a conscientização das autoridades que têm o poder de
mudar a legislação, dos empresários que têm o poder de alterar o ambiente de
trabalho do colaborador e dos profissionais de Segurança do Trabalho, que podem
extinguir ou minimizar as fontes de lesões auditivas, só assim, a saúde auditiva do
trabalhador estará um pouco mais preservada.
23

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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gênese de perda auditiva ocupacional, 2004. Dissertação (Mestre em Saúde
Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Fundação Oswaldo Cruz – Rio de
Janeiro.

BERTONCELLO, Ligia. Efeito da exposição ocupacional a solventes orgânicos,


no sistema auditivo, 1999. Monografia (Especialização em audiologia clínica) –
Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Rio de Janeiro.

BOTELHO, Carla Tomaz; PAZ, Anna Paulla Maia Lopes; GONÇALVES, André
Martins; FROTA, Silvana. Estudo comparativo de exames audiométricos de
metalúrgicos expostos a ruído e ruído associado a produtos químicos. Revista
Brasileira de Otorrinolaringologia, Rio de Janeiro, n. 75, p. 51-57, 2009.

BRASIL. Portaria nº 3214, de 08 de junho de 1978. Aprova as Normas


Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do
Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União.
Brasília, 06/07/1978.

BRASIL. Lei nº 6514, de 22 de dezembro de 1977. Altera o Capítulo V do Título II da


Consolidação das Leis do Trabalho, relativo a segurança e medicina do trabalho e
dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, 23/12/1977.

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24

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