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MARIA

GORETTI
VITIMA PURA

«Que cotovia que varre o ar


Cantando primeiro, e então ela ica em silêncio feliz
Da última doçura que a satisfaz... ».
(Dante-Paradiso-C.XX-vv. 73-75)
ELVIRA CAÇADA
Doutor de Filoso ia
MARIA GORETTI
vítima pura
II EDIÇAO
ROMA 1965
ÍNDICE
Para SS Pio XII
Introduçã o
Prefá cio da primeira ediçã o
Capı́tulo I - UMA GAROTA MARAVILHOSA
Bem-vindo
O primeiro sacrifı́cio
No campo traiçoeiro
Forte na dor
Terno educador de irmã os
Ciê ncia Divina
Fé verdadeira
Pena ardente
Amor por Jesus Cruci icado
Capı́tulo II - "PUREZA A TODO O CUSTO"
Preparaçã o sé ria para a Primeira Comunhã o
Pureza
Com Jesus
Capı́tulo III - DOAÇAO DE SANGUE
A sombra na luz
Lá grimas secretas
Em direçã o à vı́tima
Convidar!
Na Cruz: perdã o heró ico
Morte preciosa
Capı́tulo IV - PODER DO MARTIRIO
Apostolado do martı́rio
Proteçã o do cé u
Perdã o e favores para Alessandro
Capı́tulo V - O CAMINHO DA GLORIA
Processos para promover a Causa
Declaraçã o de martı́rio para beati icaçã o
A "gló ria" de Bernini
Triunfo sobre o Celio
Viajando
Capı́tulo VI - PAPAI NOEL!
No Registro dos Santos
Em Santa Maria d ele Angeli
Depois de cinquenta anos
Capı́tulo VII - A SABEDORIA DOS HUMILDES
A santidade é fruto da preparaçã o
Educaçã o familiar
Fundaçã o sobrenatural da famı́lia
A obediê ncia é a base da ordem
Liberdade
Vida agitada na famı́lia
Correspondente aos dons divinos - Graça
Efeitos da Graça
Os talentos
Missã o social
CONCLUSAO
Para Maria Goretti
Algumas resenhas da primeira ediçã o
Para SS Pio XII
O "Doce Cristo na terra",
humildemente te ofereço
estas pá ginas escritas com a alma,
querendo agradar
a Vossa Santidade
e para minha mã e
que, quando esteve na terra,
contemplando de seu leito de dor
sua imagem venerá vel,
repetiu com grande con iança:
«Santo Padre, rogai pela minha ilha!».
Introdução
Depois de quinze anos, para aderir às solicitações benevolentes de
pessoas que vêem em este livro a possibilidade de fazer o bem às almas,
tanto dos jovens como dos educadores, Trago a vida de Santa Maria
Goretti para a reimpressão, com os devidos retoques.
Resolvi então escrever sobre o Pequeno Santo porque foi
instantaneamente convidado pelo Pe.
Aurélio Passionista, de venerável memória, que publicara uma vida
do Mártir com uma riqueza de informações históricas e com uma
intenção popular. Através dele eu conheci
"Manetta" quando, em 1931, ele me incentivou a escrever as linhas
inseridas no presente volume, impresso num único número publicado em
Nettuno pelo Santuário de S. Maria delle Obrigada. Segundo ele, eu tinha
que escrever uma vida da Donzela que pudesse interessá-la pessoas
educadas e, pelos consentimentos recebidos, acredito ter, de alguma
forma, pago à necessidade que me foi apontada, apesar de ter havido
tantas outras vidas do Santo Publicados.
A tarefa não foi fácil: tivemos que lidar com uma história que tinha a
aparência de um feita de notícias policiais, em que a protagonista era
uma menina analfabeta, que cresceu em no meio de um pântano, morto
por uma mão armada de paixão insana ... A história, que aconteceu
rapidamente com um epílogo trágico, teve que ser considerado em sua
complexidade integral de seus elementos, através de uma análise
psicológica que não deveria ter pesado, com delicados con idencialidade e
consideração cuidadosa dos fatos incluídos nos desígnios da Providência,
como emergiram dos testemunhos recolhidos pelos processos canônicos.
Apesar das sombras, era preciso perceber quanta beleza e poesia
havia Pequeno Papai Noel, que lembra a imagem de uma cotovia ao
chilrear ao qual o sorriso do céu claro e sereno e os raios ardentes do sol
dão alegria, empurrando-o para voar cada vez mais acima. Por outro
lado, não podemos estragar a simplicidade das poucas novidades que a
vida oferece de uma menina de apenas doze anos: é precisamente essa
simplicidade que imediatamente conduz à Verdade e à Beleza daquela
fonte divina, da qual Maria Goretti em grande parte para encontrar a luz
da fé para o intelecto, o amor inextinguível por Jesus que ele se alimentou
de sua Paixão e fez sua vontade inabalável.
Do humilde fato surgem razões que nos revelam profundas verdades
divinas e humanas, rica naqueles ensinamentos que ajudam a elevar a
dignidade humana.
Hoje a sociedade está perturbada por paixões alimentadas por falsas
ideologias, pelo desenvolvimento da técnica dirigida mais a ins
materialistas e por uma carência cada vez mais acentuada de uma
contenção sensata para o respeito da moral comum e da verdadeira arte:
nega os eternos e ideais nobres preferindo a expressão crua de um
realismo descarado ou usando o uma mentira que envolve consciências
fracas, cuja cegueira as torna instrumentos de desordem sociais, de
crimes horrendos. Sangue também é derramado, mas não é o sangue do
santo martírio, sendo derramado em ódio para alimentar con litos
incuráveis.
O martírio da Santa Donzela atesta a verdade da palavra divina,
fundamento de paz entre os homens que acreditam e trabalham para
chegar ao Fim, eles estão chamados, com a consciência de que a vida das
pessoas é uma missão que se realiza em harmonia com a dos outros,
visando o bem comum.
O livro, nesta reimpressão, é apresentado em uma tipogra ia bem
diferente da anterior, depois editado por outros, com intenções não
correspondentes à gravidade do conteúdo e no inal sobrenatural que o
inspirou.
As ilustrações, retiradas do ilme «Sky over the swamp», foram todas
substituídas por imagens que evocam a verdade histórica e estão em
sintonia com a seriedade da assuntos abordados.
Conservo a dedicatória a Santidade Pio XII, cujo ponti icado
comemora a Beati icação e a canonização do nosso santo. Também me é
muito caro associar a memória deste grande Pontí ice na venerável
memória de minha Mãe e cumprir o dever de honrar um Papa, a quem é
devido profundo respeito e gratidão, especialmente por ele italianos,
tendo sido o «Defensor Civitatis».
O autor tem a honra de relatar a carta recebida em 1950, após sua
publicação da primeira edição, por Dom GB Montini, então Suplente da
Secretaria de Estado, hoje Sumo Pontí ice com o nome de Paulo VI,
con irmando sinceramente a profunda veneração e gratidão de coração.

Do Vaticano, 5 de julho de 1950


Prezada Senhorita
Recebi dois exemplares do seu interessante livro intitulado "Maria
Goretti pura vı́tima", e nã o deixei de cumprir o desejo que expressou,
apresentando, em seu nome, um exemplar a Sua Santidade, como sinal
de sua profunda devoçã o a o Papa.
O augusto pontı́ ice acolheu com satisfaçã o a amá vel e ilial
homenagem desta publicaçã o que, ilustrando a vida simples e
espiritualmente grandiosa do pequeno Má rtir de pureza, magnı́ ico
exemplo de força cristã , só pode fazer bem, de modo especial, a muitos.
jovens, minados em todos os sentidos em sua virtude nos tempos
tristes que vivemos.
Por isso, o Santo Padre, com alma agradecida, de todo o coraçã o vos
envia a Bê nçã o Apostó lica in iorata como penhor das graças mais
eleitas do Senhor para vó s e para os vossos entes queridos.
Acrescento de bom grado, com bons votos, os meus sinceros
agradecimentos pelo exemplar que me é dirigido, ao mesmo tempo que
me declaro com um sentimento de distinta estima.
sua
dev.mo no Senhor
Prezada Senhorita
Senhorita
ELVIRA CAÇADA
Via Mirandola 50
ROMA
Prefácio da primeira edição
Bruxelas, 6 de julho de 1949
Prezada Senhorita Hunt,
Ela, portanto, queria recorrer ao seu antigo Bispo para ter alguma
linha de apresentaçã o da Vida de Maria Goretti, que ela escreveu.
Eu poderia tê -lo negado a você , dado o vı́nculo que, como seu
pastor, governando a diocese de Acireale, me ligava a você e sendo a
glori icaçã o de uma criatura angé lica, a maior honra da minha marca
natal?
Ao lado de outras já merecidamente apreciadas, a sua biogra ia
també m pode agradá -lo e fazer um grande bem, especialmente no
campo das pessoas instruı́das, pelo qual você está particularmente
interessado. Na verdade, é escrito com uma verdadeira compreensã o do
amor: a admiraçã o que ela tem por "Marietta" é insensivelmente
transfundida no leitor. Admiraçã o, aliá s, tã o plenamente justi icada e já
tã o difundida universalmente.
E, de fato, "Em que terras selvagens, alé m de quais mares seu nome
é desconhecido hoje?"
Nú ncio Apostó lico em vá rias naçõ es, alé m e deste lado do oceano,
posso testemunhar, com conhecimento certo e direto, que em toda
parte o nome de Inê s de nosso tempo já é aclamado e venerado: parece,
de fato, que neste caso a apoteose do mundo cató lico precedeu a o icial,
decretada pela Igreja.
Uma profecia muito estranha ousou, há cerca de um sé culo, Ernesto
Renan. “Santidade, assim ele, é um gê nero de poesia (sic) que
desapareceu como tantos outros; ainda haverá alguns santos
canonizados por Roma, mas nã o haverá mais canonizaçã o do povo”.
E, no entanto, o Cura d'Ars e Dom Bosco, Teresa de Lisieux e Maria
Goretti... E precisamente o caso de repetir: "Oh, de inteligê ncia humana
você nã o será um mentiroso!"
Pois bem, suas pá ginas simples e francas, fervorosas de comovente
ternura, contribuirã o efetivamente, nã o duvido, para que essa igura tã o
radiante, cercada pelo duplo halo da virgindade e do martı́rio, seja
ainda mais conhecida e ainda mais amada.
Com este desejo, certamente o mais agradecido e aceito por você ,
abençoo-o cordialmente.
+ Fernando Cento
Arquiv. Nú ncio Apostó lico
Roma, 14 de setembro de 1965
Prezada senhorita,
Ela me pede para poder reproduzir na segunda ediçã o de sua bela
Vita di Maria Goretti o prefá cio que ela me pediu, entã o seu Bispo, para
a primeira.
Aceito de bom grado o seu desejo, tanto mais de bom grado quanto,
perante a onda de lama que nos nossos dias avança de forma tã o
preocupante e ameaça esmagar sobretudo os jovens, é particularmente
oportuno assinalar-lhes a exemplo da heroica Donzela, a que preferiu a
morte ao pecado.
Espero que a reimpressã o de seu livro també m tenha uma recepçã o
ampla e benevolente: realmente merece, també m pelo estudo diligente
que ela fez para melhorá -lo.
Com este voto, abençoo-vos paternalmente em Nosso Senhor.
Fernando Card. Cento
Parma, 19 de janeiro de 1950
Prezada senhorita,
Sou muito grato a você pela có pia que me enviou de seu belo
volume sobre B. Goretti.
Li-o com verdadeira satisfaçã o, e vou guardá -lo com cuidado,
dando-o també m a conhecer à s pessoas a quem tanto pode fazer bem.
Agradeço-lhe també m por ter ainda recordado o seu antigo Bispo,
que guarda gratas recordaçõ es de si e do seu trabalho. Com os mais
sinceros votos e as melhores bê nçã os, Seu mais devotado
(assinado) + Evasio Colli
Bispo de Parma
Capítulo I.

GAROTA MARAVILHOSA
Bem-vindo
ela Presagna, em Corinaldo d'Ancona, dentro de uma casa pobre,
Maria Goretti nasceu, no sereno silê ncio dos campos, quando a terra é
mais pró diga no N para dar seus frutos, no mê s consagrado a Maria,
Rainha da Vitó rias. Foi 16
outubro de 1890.
Os pais de sabedoria esclarecida quiseram chamá -la Maria em
homenagem à Mã e do Redentor, que do Cé u teria abençoado esta
menina terna que um dia seria uma heroı́na invencı́vel para defender a
virtude mais querida da Virgem das virgens.
Acolheram esta terceira ilha em sua casinha onde seu amor terno e
simples era uma riqueza imensurá vel, iluminada pela fé cristã , animada
pelo sorriso do sol e da terra fé rtil. Fié is à Lei divina, sem que a pobreza
os intimidasse, con iantes na Providê ncia, aceitaram com alegria o
nascimento de sete ilhos.
Este precioso depó sito, con iado a eles por Deus, foi ocasiã o para
novas consolaçõ es e con iança mais viva: cada dom aumentou seus
esforços e sacrifı́cios, mas expandiu suas almas na fé e no amor.
O Padre, Luigi Goretti, foi para todos um exemplo de honestidade,
diligê ncia e tenacidade nos puros afetos da famı́lia.
Sua mã e, Assunta Carlini, ainda jovem esposa, aceitou com ardor e
con iança os sofrimentos que seus deveres lhe impunham: ela foi, pode-
se dizer, treinada para sofrer. Ela havia sofrido muito desde a infâ ncia,
tendo icado ó rfã quando criança. A sua peregrinaçã o em busca de
trabalho no campo fora um lento martı́rio diá rio, obrigada a servir a
vá rios senhores, em meio a perigos dos quais se libertara pela
prudê ncia que é fruto da fé : Deus a guiou e ela resistiu em meio à s lutas
de vida, sustentada pelo medo de ofender o seu Divino Benfeitor e pela
prá tica constante dos Sacramentos, juntamente com uma ardente e
terna devoçã o a Maria Santı́ssima, venerada em Corinaldo sob o tı́tulo
de "Rainha dos Má rtires". Assunta, amparada pela graça divina,
conformou-se com o que a Igreja invoca para cada uma das suas ilhas
que escolheu o caminho da maternidade, e fez da sua pobre quinta um
templo de paz onde Deus se assentava, onde havia trabalho e oraçã o, fé
simples mas profundamente sentida , vivi icado pela escrupulosa
observâ ncia da lei divina. Apó s o dia cansativo, o jantar frugal e, antes
do descanso, a recitaçã o do Santo Rosá rio com as habituais oraçõ es.
Nos dias de festa, Jesus esperava o casal no altar.
Esses jovens humildes, de mã os endurecidas, mas de alma re inada
pela virtude endurecida na fé , prepararam a verdadeira famı́lia cristã da
qual saem os santos e os heró is, as gló rias invictas da Igreja e da pá tria.
Quando Maria nasceu, todos os cuidados mais delicados de Assunta
se voltaram para a educaçã o de seu primeiro ilho com a esperança de
que fosse a ajuda mais vá lida para ela. Ele a via já grande quando ainda
estava aparando, via-a sá bia quando ainda gaguejava: Maria nã o
decepcionou suas ansiedades maternais.
Cresceu como uma lor do campo que o sol ilumina, que o cé u cobre,
que os zé iros acariciam: percorreu a terra, saltou nos prados, gorjeou
docemente, sorriu ao mais puro azul como um anjo: era mais do Cé u do
que da terra, e ningué m percebeu.
Sua disposiçã o era dó cil, mas sua bondade era fruto de um exercı́cio
contı́nuo de sua vontade. «Sempre, sempre, sempre Maria me
obedeceu», disse a mã e em louvor à Filha num acesso de emoçã o, e foi o
maior elogio que ela poderia dar.
Maria obedeceu desde cedo e na obediê ncia sacri icou a sua
vontade: este sacrifı́cio diá rio voluntá rio do melhor de si, o mais
aceitá vel a Deus, foi uma preparaçã o para o amor incondicional à sua
pureza. mas mais tarde ela reconheceu que as meninas geralmente
diferiam de sua Mary. Hoje, infelizmente, uma educaçã o, errô nea em
seus princı́pios, que faz dos pais servos de seus ilhos, os torna
caprichosos, descontentes ainda que acariciados, amantes apenas de si
mesmos, sempre interessados em seus afetos, incapazes de renú ncias e
até sacrifı́cios mı́nimos.
Maria, obrigada a viver no meio do campo, nã o pô de ir à escola: nã o
aprendeu nada do conhecimento humano, aprendeu apenas as oraçõ es
e as principais verdades da religiã o de Cristo, recolhendo-as dos lá bios
de sua mã e, na verdade esculpindo-os indelevelmente em seu coraçã o.
Aproveitando-se desses ensinamentos, ela os assimilava para ensiná -
los aos irmã os menores.
Aos seis anos, recebeu em Corinaldo os dons do Espı́rito Septiforme
com o Sacramento da Con irmaçã o das mã os de Dom Giulio Boschi,
entã o Bispo de Senigallia, depois Cardeal e Arcebispo de Ferrara, o
Espı́rito Santo a investiu de sua luz e força, ciê ncia e piedade, de amor
ardente e temor por seu Deus, para fazê -la amadurecer
prematuramente.

O primeiro sacri ício

Em 1896, imediatamente apó s a sua Con irmaçã o, inicia-se um novo


perı́odo de vida para Maria, no qual o sofrimento é o pã o de cada dia
para ela e sua famı́lia.
Quando nasceu o quarto ilho, o bom Luigi percebeu que nã o
poderia sustentar sua famı́lia com o que seu pequeno campo produzia,
apesar de nã o poupar os braços exercitados do cansaço.
Resolveu, poré m, emigrar, levando consigo sua pequena famı́lia, da
qual jamais sairia. No ano de 1896, abandonou dolorosamente seu
Corinaldo, as encostas verdes de sua risonha Marche, e foi para o Agro
romano, entã o entristecido e envenenado pelos pâ ntanos.
A pequena Maria viu-se sendo arrancada de sua casa de fazenda em
Presagna, de seu pequeno campo onde as plantas corteses haviam
crescido com ela para oferecer a sombra, para fazer os frutos caı́rem em
seu colo. De Corinaldo, para quem a santa casa da escura Madona sorria
de longe, como exilada ela vagava pelo traiçoeiro Agro que iria matar
seu pai. Era uma outra vida para ela.
Sentiu a dor e compreendeu que a pobreza paci icamente aceita
levara os pais a deixarem o sorriso da pá tria; Seus olhos se abriram: ela
sentiu o peso do cansaço para o pai, o quanto custava à mã e o cuidado
da casa e dos ilhos, e em meio ao sacrifı́cio ela se tornou uma mulher
prematuramente, despertando em todos uma inusitada admiraçã o por
sua compostura e seriedade extraordiná ria. "Ela parecia uma velha!"
Exclamou uma das pessoas que a conheceram e testemunhou por sua
glori icaçã o. E, depois de tantos anos, ela se lembra de como andava
rapidamente pela rua, mantendo-se de um lado da estrada, andando em
linha reta com a cesta de compras, sem se importar com os fatos
alheios. Lá estava sua mã e em casa esperando por ela, sua mã e que à s
vezes a seguia olhando complacentemente para ela do patamar no topo
da escada.
Permanece uma vı́vida lembrança da modé stia de Maria, e em 1929
havia quem ainda se lembrasse de tê -la visto em Netuno vendendo
pombas com tanta seriedade que suscitou admiraçã o.
Escondeu a terna beleza de seu corpo cobrindo-se com diligê ncia,
sabendo pela boca de sua mã e que a menina cristã deve se manifestar
como tal por fora com a modé stia do vestido, por dentro buscando
apenas o que é santo e nã o nos torna corar.
Na modé stia, de fato, há algo mais extenso e mais penetrante do que
a pró pria modé stia: isso se opõ e à açã o desonesta, nã o busca senã o a
simples beleza na verdade, que nos liberta dos falsos preconceitos do
mundo e é capaz de escolher a vontade . de Deus em humilde auto-
esquecimento, para possuir o que ele levanta sobre as misé rias
humanas.
Maria nã o pertencia a si mesma: ela era toda para os outros. A
Providê ncia permitiu-lhe ser mais iel a esta auto-dedicaçã o: na sua
casa viu exemplos de trabalho incessante de abnegaçã o generosa. A
mã e nã o podia fazer seus vestidos novos e ela nã o os pedia: contentava-
se com o que a obrigavam a vestir.
As vezes havia algué m que lhe oferecia um pouco e ela icava feliz,
como o pá ssaro que canta sacudindo as penas multicoloridas que lhe
foram dadas pelo bom Deus. Ele vivia na famı́lia, onde o amor era a
ú nica alegria, o ú nico refrigé rio, a maior riqueza , e sua vida foi
temperada no sacrifı́cio de amar os outros. Ele tinha uma imensa
ternura por seus pais e irmã os.
No campo traiçoeiro

Luigi Goretti, que havia encontrado trabalho em Collegianturco,


perto de Paliano, nas fazendas do senador Selsi, acreditando que
poderia melhorar suas condiçõ es inanceiras, por sugestã o do pró prio
dono da fazenda, irmou parceria com um certo Giovanni Serenelli,
viú vo com dois ilhos: Gaspare e Alessandro. Apó s quatro meses,
poré m, todos foram demitidos por culpa do só cio que nã o quis observar
os termos do contrato. Luigi e Assunta eram tã o bons que nã o
perceberam que o homem nã o foi feito para ter interesses com eles.
Assunta teve entã o que reconhecer que nã o era um verdadeiro cristã o e
mostrava apenas uma "forma externa de religiosidade": ia à missa
dominical, recitava o Rosá rio à noite junto com os Goretti, mas era
intemperante na bebida e nã o era preocupado com sua alma e com a
educaçã o de seu ilho Alexandre, que havia permanecido com ele.
De Collegianturco, as famı́lias Goretti e Serenelli, fazendo
companhia, mudaram-se para a propriedade Ferriere, de propriedade
do Sr. Attilio Mazzoleni. Sua casa era a "antiga casa de fazenda".
Mas depois de um ano Luigi, consumido pelo cansaço, nã o
conseguiu vencer o ataque de quatro males terrı́veis que o atingiram ao
mesmo tempo: malá ria, meningite, tifo, pneumonia.
Quando o pobre pai foi seduzido a nã o se levantar, Maria correu
pelos campos para chamar pessoas conhecidas, procurar um mé dico,
buscar o que pudesse aliviar a doença. O pai, embora em estado grave,
percebeu um dia que sua ilha estava pingando de suor, com o rosto
vermelho, e mostrou que estava ciente disso, mas ela insiste, superando
o constrangimento que a levou a recorrer a um lamentá vel mentira:
"Pai, nã o se preocupe - disse ela - estou pegando fogo porque estava...
perto do fogo". Ele rezou tanto para que seu pai icasse bom, mas
depois de apenas dez dias ele deixou sua amada companheira e seis
ilhos em prantos para subir ao cé u, sem nenhuma ajuda humana. Viveu
para a famı́lia e foi de fato vı́tima de seu dever de pai: se nã o tivesse
deixado o ar saudá vel de sua regiã o de Marche, talvez nã o tivesse
morrido aos quarenta e um. Resignado à Vontade divina, poré m, nã o
escondeu suas preocupaçõ es quando, nas ú ltimas horas de sua vida,
repetiu:
"Assunta deve voltar para a cidade"! Talvez tivesse entendido, mas
tarde demais, que as duas Serenellis nã o podiam ser uma empresa
lucrativa para Assunta e seus ilhos. E nã o se enganou: quando Luigi
morreu, Giovanni e Alessandro, apesar de estarem na mesma casa, "nã o
mostraram interesse ou falaram palavras de conforto"
para a pobre viú va.
Assunta partiria para as Marchas, iel aos desejos do marido, mas a
idé ia da misé ria terrı́vel que encontraria a detinha. Ela nã o estava
sozinha: seus ilhos -
e havia seis – eles nã o teriam, por tempo inde inido, o pã o e a casa.
Nã o lhe restava outra coisa senã o continuar o trabalho do marido
sozinha, até que se apresentasse a ocasiã o propı́cia para realizar a
ú ltima vontade de seu Luigi. Com a permissã o do Sr. Mazzoleni, ela
permaneceu na sociedade com os Serenelli assumindo suas obrigaçõ es:
nã o era uma tarefa pequena para ela, mas Deus lhe teria dado forças
para suportar a dor, o cansaço e as lutas inevitá veis.

Forte na dor

Maria perdeu o pai quando tinha apenas dez anos: teve que se
preparar para novos sofrimentos e a gló ria que vem da dor. Sua
inteligê ncia precocemente esclarecida percebeu que di iculdades mais
difı́ceis se apresentavam à sua famı́lia. Ele redobrou seus cuidados
delicados com sua mã e, enquanto intensi icava suas oraçõ es por seu
pai, com o desejo de que ele logo iria para o Cé u se estivesse no
Purgató rio.
Para nã o deixar faltar pã o aos ilhos, a pobre Assunta teve que agir
como pai. Ela era de temperamento forte, mas quantas vezes,
lembrando-se da bondade de seu companheiro desaparecido, chorou
inconsolavelmente; quantas vezes, vendo seu trabalho em vã o pela
ganâ ncia de quem a tratava, sentiu um grande desâ nimo ao se ver
pobre como se nada tivesse feito pelos ilhos. Quem a apoiou em sua
dor, em suas angú stias maternais? Lá estava sua Maria que se apertava
contra ela, acariciando-a: «Vamos, mã e, do que você tem medo?
Estamos crescendo agora.
Basta que o Senhor nos dê saú de. A Providê ncia nos ajudará :
viveremos, viveremos! ». E Assunta lembra que o disse com o coraçã o
con iante em Deus.
Ersilia tinha cerca de dois anos e Teresina alguns meses: quem os
teria guardado? Havia sua Marietta que era a mã e dos irmã os. E na casa
havia muito o que fazer: limpar, preparar o jantar, consertar, obedecer
à s ordens dos Serenellis, que icavam com eles. «Mã e, estou aqui: vai
com calma... Mã e, eu vou... vou fazer». A Donzela, aos dez anos, como a
pró pria mã e repetia em lá grimas, era quem governava a casa.
Nos episó dios simples de sua vida, nas frases curtas pronunciadas
por você , você sente uma força espiritual que supera a da mã e nã o
fraca. Assunta lembra que, quando ia para o campo, tinha medo de
cobra, e Maria lhe dizia: "Vou em frente, mã e: você tem medo, eu nã o".
Na verdade, continuou e as cobras fugiram.
A generosidade era realmente incrı́vel para a idade dela. E
comovente o que Assunta Goretti nos deu a conhecer ao depor nos
processos canô nicos. Na hora do jantar, ele primeiro fazia porçõ es para
sua mã e e irmã os, satisfazendo-os em seus gostos; reservou para si o
que restava e foi o ú ltimo a começar.
Enquanto isso, tudo era feito por ela com uma simplicidade tã o
espontâ nea, tã o humilde a ponto de esconder dos olhos de sua famı́lia o
que havia de extraordiná rio na conduta de uma jovem.
Maria era ó tima apesar de seus onze anos, porque se comportava
como uma mulher madura.
Ela també m teve de suportar as frequentes censuras dos Serenellis,
que tinham tantas pretensõ es e nã o entendiam os sacrifı́cios da
Donzela, que, no entanto, permanecia quieta e continuava a servi-los
com diligê ncia e solicitude igual à que mostrava para sua famı́lia. Maria
conquistou a todos com sua mansidã o e com seu amor.
Terno educador dos irmãozinhos

Ele amava muito seus irmã os mais novos, mas queria que fossem
bons e obedientes, e quando os corrigiu encontrou palavras que
tocaram seu coraçã o. Ao irmã o mais velho, que dava algum desagrado,
dizia: «Você deixa a mamã e chateada porque o papai nã o tem mais. O
que você faria se sua mã e nã o estivesse lá ? ».
Os irmã os sabiam que deviam ser obedecidos, mas sobretudo
compreendiam que a doce irmã os amava com ternura, que quando
eram bons sempre tinha algo para dar que guardava privando-se disso
com alegria. Se a mã e os repreendia ou batia, eles se voltavam para ela,
exclamando: "Marietta, mamã e me conduz!" Nesta invocaçã o há toda
uma compreensã o do amor por parte das almas infantis, que sã o mais
capazes de reconhecer quem as ama verdadeiramente. Maria os
acolheu em seus braços, mas os convidou a pedir perdã o à mã e e a nã o
repetir as faltas que haviam cometido.
Ele foi um vigilante guardiã o do coraçã o de seus irmã os menores,
sempre inspirado por Deus, para quem seus ensinamentos e seu
exemplo foram orientados. Ensinava-lhes oraçõ es, explicava as
verdades da fé como sua mã e izera com ela e, depois das tarefas
ordiná rias, era sua imensa alegria falar de Deus, acender chamas de
amor divino em coraçõ es ternos.

Ciência Divina

Maria nã o sabia ler e escrever: morava em um lugar onde nã o havia
escolas e as igrejas eram distantes. Ele nã o teve outras professoras alé m
da mã e analfabeta, que deu mais exemplos do que palavras e lançou as
bases de seu trabalho educativo na obediê ncia, que ela obteve de seus
ilhos com força viril combinada com ternura. Era tã o dó cil em realizar
os ensinamentos maternos que a pró pria Assunta Goretti reconheceu
que nã o merecia uma ilha tã o boa.
O que a menina sabia e ensinava foi aprendido misteriosa e
efetivamente das fontes da ciê ncia divina, que se derrama clara e
abundantemente na alma que ora. Nã o é sabedoria humana, e
queremos dizer isso. Na "Imitaçã o de Cristo" é Deus quem fala assim:
"Depois de ter lido e aprendido muito, basta voltar a este princı́pio: Eu
sou Aquele que ensina ciê ncia aos homens, dou à s crianças uma
inteligê ncia mais clara do que o que pode ser comunicado por qualquer
homem. Aquele com quem falo logo se tornará sá bio e fará grandes
progressos no espı́rito ». Mas com quem Deus está falando? Aquele que
o busca e o escuta, que faz dos ensinamentos divinos sua pró pria vida,
tendo-os aprendido nã o por palavras, mas por obras, nã o na letra
inerte, mas no espı́rito que move todo o ser, nã o como erudiçã o, mas
como exercı́cio constante segundo os Mandamentos de Deus. Agora
Maria buscou a Deus como os sá bios do mundo nã o sabem em sua
maioria: com humilde submissã o à sua Lei e com o desejo de conhecer
a Verdade eterna. Para ela, seus pais eram mensageiros divinos e,
quando os obedecia, pensava com alegria que estava cumprindo as
ordens de Deus. Se nã o recebeu a recompensa merecida, nã o se
arrependeu de ter cumprido seu dever.
Pouco a pouco ele foi se desprendendo do que era terreno.
Renunciou à satisfaçã o dos sentidos com a simplicidade de quem nã o se
ama, mas vive apenas para os outros: as melhores porçõ es para sua
mã e e irmã os, enquanto na sua idade nã o se pode conter facilmente a
garganta sem uma força para sustentar a vontade .contra os sentidos;
ela nã o pediu um vestido novo, enquanto suas companheiras apareciam
aos domingos em vestidos lamejantes e gostavam de ser admiradas.
Ela nã o queria ser elogiada: escondia o rosto com o xale atado à
maneira de Marche "como uma freira", tã o graciosa quanto com os
olhos grandes, profundos e expressivos, o cabelo castanho claro
esvoaçante, bonito e bastante desenvolvido .para sua idade.
A sua vida de sacrifı́cio ajudou-a a desprender-se das coisas da
terra, para depois vir a desprezá -las com a renú ncia total ao seu ser.
Mas enquanto a alma se esvazia do amor-pró prio, abre-se ao amor das
coisas eternas, deixa que Deus penetre e dê a conhecer os arcanos
divinos, as alegrias celestes que quem busca satisfaçõ es terrenas, vazias
e passageiras, nã o consegue compreender.

Fé verdadeira

Sua mã e lhe falava de Deus desde criança e a ensinara a crer com a
fé de uma mente humilde, "sem clamor de palavras, sem confusã o de
opiniõ es, sem confrontos de disputas": a verdade, a inal , é isso que é , e
é a vida que é transfundida. Esta é a verdadeira sabedoria e nã o a dos
falsos profetas, dos orgulhosos iló sofos, que acreditam raciocinar
enquanto renunciam aos direitos de sua razã o, insistindo em negar que
a verdade eterna nos vem de Deus e que o homem abdica de sua
dignidade somente quando se desprende de seu Princı́pio, pretendendo
ser autossu iciente e encontrar sozinho a força para nã o cair no mal. Se
a experiê ncia mostra que uma fé fraca nã o basta para que a vontade
observe as mesmas leis humanas, quando esta fé está completamente
ausente, nã o se pode obter um controle justo e severo da consciê ncia, o
que só é possı́vel se a vontade se puser a lei divina. .como termo de
comparaçã o.
A pequena Maria guardava no coraçã o os ensinamentos maternos e
cada ideia, que era a luz do intelecto, tornava-se uma nova força para a
vontade. As verdades divinas constituı́am seu patrimô nio cultural, e ele
se tornou sá bio e forte, como provaram até agora aqueles que obtê m
sua sabedoria apenas do mundo.
Deus era para ela uma realidade presente: em cada açã o ela nunca
se sentia sozinha, e nessa certeza ela encontrava forças para ser melhor.
"Deus está comigo, Ele vê tudo o que faço: devo fazer o que Ele gosta".
Assim Mary repetiu para si mesma.
Por uma falha involuntá ria sua mã e a repreendeu, e ela
humildemente reconheceu seu erro: nã o se desculpou, mas pediu
perdã o e prometeu nã o repetir o mesmo erro, sempre com uma doçura
singular.

Pena ardente

Mesmo antes de fazer a Primeira Comunhã o, ela pediu à mã e que a


acompanhasse quando ela fosse se confessar. Nã o nos surpreende ouvir
da pró pria mã e e de alguns amigos da famı́lia que se confessaram
muito. voluntariamente e provou aproveitá -lo cada vez para se tornar
melhor. O divino Sangue de Jesus em uma lavagem mı́stica caiu sobre
sua alma no exato momento em que recebeu o perdã o do Sacerdote:
nã o deveria ter caı́do em vã o.
As prá ticas de piedade preferidas eram aquelas essenciais para uma
vida verdadeiramente cristã : participar do Santo Sacrifı́cio da Missa em
todas as festas, recitar o Rosá rio, amar Jesus contemplando-o
cruci icado e desejar comê -lo no Sacramento da Eucaristia. Ele sabia
que a Missa é o maior ato de religiã o, o mais agradá vel a Deus, o mais
meritó rio e, bem ciente de que com sua presença ele teria participado
da açã o do Sacerdote na imolaçã o da Divina Vı́tima, ele teria ouvia
todos os dias; mas ele nã o podia. Durante as fé rias ia a Conca ou
Campomorto e até a Nettuno, percorrendo muitos quiló metros sem
cansaço. E quando estava na igreja, despertava admiraçã o por uma
meditaçã o verdadeiramente rara, mesmo entre aqueles que nã o sã o
crianças. Este respeito pela casa de Deus foi o efeito de sua grande fé na
presença de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, no
Sacramento da Eucaristia, encerrado no taberná culo. "Nã o havia chance
de ele ter se virado" -
depois de tantos anos se lembraram de sua mã e e amiga Teresa
Lungarini.
A devoçã o a Maria Santı́ssima, manifestada com a recitaçã o do
Santo Rosá rio, era como a vida de sua alma. "Ave, Maria..." - repetia com
ardor cada vez mais forte, e seu amor pela Virgem Mã e crescia sem
reservas, enquanto meditava sobre sua vida nos quinze misté rios da
coroa mı́stica. Sentiu todo o encanto da pureza e santidade da Mã e de
Deus com a feliz intuiçã o das almas simples, capazes de ascender à s
sublimes alturas da Verdade.
Ele quis dizer que a misteriosa beleza de Maria Santı́ssima consistia
em sua pureza imaculada, e ela se colocou sob sua proteçã o, imitando-a
no amor por tudo o que é puro e no ó dio contra as má s armadilhas do
demô nio. Um estudo cuidadoso foi feito por ela para remover o que de
alguma forma poderia ter contaminado sua alma. A irme piedade dos
pais deixara na ilha traços profundos: nenhuma superstiçã o, mas uma
prá tica iel da Lei de Deus. A menina ia até as ú ltimas consequê ncias
por sua disposiçã o de re letir sobre os fatos, nela singulares e
infelizmente incomuns. na maioria dos homens. , desprovidos de força
moral, embora dotados de cultura. "Melhor morrer"
o que dizer certas palavras; "Melhor morrer" do que cometer um
pecado; "Melhor morrer" do que ofender a Deus; «Melhor morrer...» -
repetiu Mary: as suas palavras nã o foram em vã o.

Amor por Jesus Cruci icado

Mas de onde vem essa força na fé e no sofrimento? Um pequeno


episó dio sugere que este seja o resultado de sua devoçã o à Paixã o de
Jesus: na Sexta-feira Santa de 1901 ela foi a Netuno acompanhada por
Teresa Lungarini para assistir à s Trê s Horas de Agonia de Jesus. Ela
tinha ouvido falar sobre o que Jesus sofreu. ame-nos, para nos libertar
da escravidã o do inferno, para merecer a alegria eterna do P aradiso.
Nessa circunstâ ncia ela compreendeu toda a beleza da Cruz, a ú nica
esperança, a ú nica força nas lutas da vida, e foi entã o que a alma
simples da Donzela se uniu mais intimamente ao seu Senhor
Cruci icado.
Ela voltou para casa com o rosto corado, cheia de fervor e
entusiasmo e foi ao encontro de sua mã e dizendo: "Querida mã e, que
belo sermã o o Arcipreste nos deu!" Nada passou em vã o pelo coraçã o
de Marietta. Jesus morreu amando para nos redimir do pecado:
també m ela se sentiu disposta a morrer para retribuir o amor de Jesus
com a prá tica das virtudes cristã s, evitando o pecado a todo custo. E
entã o ele repetiu que seria "melhor morrer" do que pisar no Sangue
divino pecando.

Capítulo II

"PUREZA A TODO CUSTO"


Preparação séria para a Primeira Comunhão
Na vida de Maria Goretti colocou um fato decisivo como selo de suas
santas aspiraçõ es: era sua Primeira Comunhã o.
O evento foi de singular importâ ncia para a mã e e para a Donzela.
Assunta sentiu toda a sua grave responsabilidade em providenciar à
ilha uma preparaçã o adequada: a Marietta devia estar bem disposta a
receber Jesus no coraçã o!... O pá roco de Netuno superou todas as suas
hesitaçõ es com este argumento: o manto e depois nã o tenha medo ".
E Marieta? Como ele sentiu a solenidade da ocasiã o! Ele teve que
unir sua alma com Jesus, receber seu pró prio Sangue divino, alimentar-
se de sua carne imaculada, viver naqueles momentos felizes da pró pria
vida de Jesus; nã o mais ela, mas somente Jesus nela... Oh, alegria santa e
inefá vel!... Ela teria experimentado a mesma alegria dos Santos... ela
poderia, portanto, antecipar o Cé u na terra!... Oh, misté rio de amor
in inito: Jesus que se torna alimento para as almas!... Mas era preciso
preparar a alma de maneira adequada para ser a morada do divino
Hó spede!...
Aonde você vai ir longe para aprender a doutrina cristã , mas aceitou
com alegria os desconfortos que nã o eram poucos e leves.
As instruçõ es catequé ticas foram seguidas por ela com vivo
interesse: a sabedoria divina começou a brilhar na Donzela, que já
possuı́a o segredo do amor divino: para agradar a Deus ela deve ser
pura. Ele é a Pureza in inita e nã o pode gostar de nada alé m da
brancura da alma, semelhante à s neves cintilantes que só a luz do sol
alcança. E para con irmar esta conclusã o, parecia-lhe que nunca havia
feito o su iciente para se puri icar de seus pecados (que pecados havia
naquele anjo?). Ela confessou, é verdade, que obteve o perdã o por meio
de seu ministro legı́timo, mas sentiu o desejo de expiar com humilhaçã o
e, antes de ir receber seu Deus, pediu perdã o por suas faltas à mã e, aos
amigos, até a os Serenellis, pai e ilho.
Era 29 de maio de 1902. Naquela manhã Marietta estava vestida de
branco e usava um vé u que uma boa vizinha havia preparado para ela. A
mã e recorda com emoçã o um episó dio digno de nã o ser negligenciado.
Ele queria adorná -la com seus brincos, mas para colocá -los teve que
furar suas orelhas novamente. Maria obedeceu sem gemer durante a
dolorosa operaçã o.
Para a solene cerimó nia, na qual participaram catorze
comungantes, o Padre Girolamo di S. Michele Arcangelo, P assionista do
Santuá rio de Nostra Signora delle Grazie em Nettuno, celebrou a Missa
na igreja de Conca. Este digno ilho de Sã o Paulo da Cruz foi dotado de
uma aptidã o singular na preparaçã o para a Primeira Comunhã o.
Falando à s crianças que esperavam por Jesus, entre as quais Maria,
recomendou-lhes que nunca se esquecessem do propó sito: " Pureza a
todo o custo".
Pureza

Pureza a todo custo! Sua mã e lhe dissera em outras ocasiõ es que
uma menina deve ser pura em pensamentos, palavras, açõ es, ou seja,
deve preferir apenas o que Deus quer. Esta foi a razã o poderosa que
Assunta apresentou para Maria regular sua vida: inspirar em ilha o
amor de Deus, ela obteve uma custó dia zelosa da mente, do coraçã o, da
vontade, ela obteve mais do que é possı́vel obter do raciocı́nio.
A educaçã o da pureza sempre foi um grave problema familiar e
social, que os pais devem propor com seriedade, e que infelizmente é
tratado por nã o poucos com uma leveza muito dolorosa ou com
excessivos escrú pulos que o desviam de tratá -lo.
O exemplo dado por um humilde camponê s deve confundir muitas
mã es que nã o sentem a ansiedade de resolvê -lo com serenidade e
e icá cia. Cultivar a modé stia é uma tarefa muito delicada que exige fé
viva e bom senso. E uma virtude que preserva o que é sagrado e
precioso no homem.
A educaçã o da pureza nã o tem um objeto especı́ ico a dar a
conhecer, mas tem a tarefa primordial de defender o que se sente
profundamente na misteriosa intimidade da natureza humana. Nã o se
trata de descrever o que é impuro, mas de inspirar o gosto pelo que é
puro, realizando essa tarefa no complexo quadro de uma educaçã o
integral, na qual se trata sobretudo de cuidar da educaçã o da vontade
em para obter o domı́nio perfeito da alma sobre a maté ria. Para
alcançar este resultado, a vontade deve ser exercitada no sacrifı́cio e
nas renú ncias impostas pela vida cotidiana, e na humildade que torna
leve a obediê ncia a quem pode nos ajudar a escolher aquele Bem que
dá à vida o esplendor da pureza.
Se Maria soube defender a sua pureza até ao heroı́smo, que nã o se
improvisa, a sua pobreza sustentada pela serena e feliz con iança na
Providê ncia, a guia ené rgica de sua mã e que a ajudou a obedecer
mansamente, muito poderia fundar-se na desejo vivo de conhecer as
verdades divinas, no desejo ardente de se unir a Jesus na Eucaristia.
Quando Maria com a sua alma simples e sincera, sempre aberta à
mã e, manifestou a sua ná usea por ter ouvido certos companheiros que
falavam sem escrú pulos e conversavam pouco reservados com os
jovens, já demonstrava o fruto da educaçã o que recebera. A Donzela
sentiu espontaneamente, sem que ningué m a induzisse a apontar, o
contraste com o que sempre vira e ouvira em sua casa pelos familiares.
Assunta nã o tinha estudado tratados sobre a educaçã o da castidade,
mas apreendeu o sinal com sabedoria: sabia que devia educar a
vontade de um modo particular e o fez inspirada na doutrina cristã que
oferece as razõ es da açã o e se dispõ e a receber e manter a Graça, que
permite aplicar essas razõ es de maneira decisiva. Essa mã e exigia
pronta obediê ncia, e a vontade da ilha foi assim exercida para se
superar, para dominar todos os instintos que predispõ em ao mal e que
in lamam a imaginaçã o; na verdade, vai mais longe: chega a esquecer-se
de si para agradar a Deus.
A educaçã o materna, exercendo a vontade da ilha, procurava com
escrupulosa circunspecçã o tirar-lhe tudo o que pudesse ofender a
delicada virtude. Ele nã o permitia que seus irmã os menores se
despirassem ou guardassem imagens indecentes em casa, tanto que
certa vez disse a Alessandro Serenelli que retirasse as que mantinha
nas paredes de seu quarto. E a menina cresceu "inocente como a á gua":
o pró prio Alexandre a irma isso depois de tantos anos.
Maria sempre sentira uma rejeiçã o espontâ nea e invencı́vel pelo
que constituı́a um perigo para sua pureza. Quando no domingo ela foi à
capela rural de Campomorto e, passando pelos jovens que costumavam
parar para observar as moças que iam à missa, ouviu sua beleza ser
elogiada, corou e endireitou-se, sem demora, como os outros faziam ,
agradando-a.
Sua mã e sempre o aconselhara a nã o imitar aqueles que paravam
para conversar com os jovens, e Marietta escapou da companhia deles.
Quando ela foi tirar á gua da nascente, onde era fá cil encontrá -los, ela se
apressou para que todos os membros da famı́lia icassem surpresos ao
vê -la voltar para casa tã o cedo. Os avisos maternos foram su icientes
para fazê -la evitar o que de alguma forma poderia obscurecer a
brancura de sua alma. Ele sabia que a garota tinha que se considerar
como um vidro transparente que embaça facilmente: se algué m se
aproxima e o toca, ele nã o manté m mais sua pureza original. E entã o
nã o havia outra razã o para ela alé m desta: Deus quer que toda garota
seja modesta e pura.
Ela mesma nã o havia escolhido Maria Santı́ssima como seu modelo
e escudo? Nã o levava sempre consigo a arma da Virgem Mã e, o rosá rio?
"Pureza a todo custo!" Quantas vezes ele repetiu essas palavras em
seu coraçã o! Era como a aliança da primeira uniã o com Jesus: ela queria
apresentar-se pura a Ele, mas sabia que, para manter a pureza, tinha
que procurar sempre fazer o que Deus quisesse. Assunta lembra que na
manhã da Primeira Comunhã o sua irmã ozinho, comunicando també m:
«Ele fez um capricho em casa e ela o repreendeu dizendo:« Pense em
quem você vai receber: você deve ser sempre melhor».
Com Jesus!

O que a pequena Maria disse a seu Jesus em seu primeiro encontro?


Este idı́lio divino entre o Amor eterno e a alma pura nã o pode ser
traduzido com pobres meios humanos...
Mesmo depois da missa ela permanecia serena, silenciosa, mas uma
alegria incomum irradiava de seus olhos, de seu rosto. O que aconteceu
foi o que Santa Maria Madalena, uma carmelita lorentina, viu possı́vel:
que a uniã o eucarı́stica com Jesus bastaria uma vez para que a alma
subisse ao sublime cume da santidade. A Teresa Cimarelli a Donzela
disse algumas palavras que nos fazem compreender muitas coisas: -
Teresa, quando voltamos? - Oh, fome mı́stica de Jesus!... Tã o doce foi
este primeiro encontro com Jesus que ele já sentiu um forte desejo de
se juntar a ele novamente, de sentir uma nova vida dentro de si, um
fogo que puri ica, uma alegria nunca experimentada.. E ela tinha razã o:
havia provado o Cé u por alguns momentos e nã o podia icar sem ele.
Maria era a noivinha de Jesus, e talvez nem soubesse que era; vivia
ansiando por Ele, e nã o sabia como dizê -lo. Tudo o que era bom na terra
estava descolorido em seus olhos, o que era ruim a fazia sentir-se
espontaneamente doente. Ele ardia com um amor que nã o era feito de
palavras, mas era toda a sua vida.
Ela acabava de voltar de ter feito sua primeira comunhã o, e sua mã e
disse a ela e seu irmã o mais novo: "Você já recebeu Jesus e deve estar
melhor". E Maria imediatamente: «Sim, mã e, sempre serei melhor».
Esta promessa é a expressã o do amor verdadeiro. Devia ser melhor
agradar a Jesus: prometeu-lhe "a todo o custo"...
Ele vivia com o desejo de nutrir sua alma com o divino P an, mas
queria que Jesus o encontrasse melhor a cada encontro. A comunhã o
para ela seria a recompensa de uma vitó ria conquistada sobre si
mesma. Portanto, ainda mais cuidadoso na obediê ncia, ainda mais
cuidadoso em rejeitar de si mesmo tudo o que poderia, mesmo que
minimamente, desagradar a Deus.
O pequeno pote de alabastro permaneceu bem fechado, e ningué m
conhecia o precioso bá lsamo que havia nele, até que ele se quebrou, e o
perfume se espalhou, e o vento o levou para terras distantes, por toda a
terra.

Capítulo III

PRESENTE DE SANGUE
A sombra na luz
A pureza da noivinha de Jesus nã o poderia agradar ao diabo,
inimigo de Deus e das almas, a quem tende a enlaçar tanto mais forte
quanto mais sã o queridas ao Divino Redentor. Marietta nã o tinha que
amar Jesus com seu coraçã o puro, nã o tinha que desprezar os exemplos
daquelas meninas licenciosas, daqueles jovens cujos elogios a faziam
corar: muito rabugenta, muito intransigente ela era para o inferno... Era
necessá rio tentar dissuadi-la dessa idelidade excessiva à s advertê ncias
maternas, para que sua consciê ncia perdesse de vista a razã o de todas
as suas açõ es: fazer o que agrada a Deus... Usaremos a persuasã o,
també m recorreremos à força... só precisava de um instrumento do
diabo... Logo foi encontrado: Alessandro Serenelli.
Ele nã o era ruim, mas o que era desprezı́vel nele vinha das
circunstâ ncias de sua vida.
Era respeitoso com o pai e com Assunta, ia à missa todos os
feriados, todas as noites rezava o Rosá rio com os outros: isso també m é
atestado pela mã e e pelo irmã o de Maria Goretti.
Apesar disso, pode-se cair em crimes que, segundo o pró prio
Alexandre: "nunca sã o pagos o su iciente".
Ele nã o tinha uma consciê ncia clara da vida: aceitava tudo, o mal e o
bem, com super icialidade, nã o tendo tido um guia amoroso e sá bio em
sua tenra idade, iluminado pela sabedoria divina. Ele nã o conhecia sua
mã e. Ele foi assistido primeiro por dois anos pela esposa de um primo,
depois pela esposa de seu irmã o. Ningué m tinha que ela cuidasse dele
com amor maternal. Nã o conhecer a mã e na mulher já é um argumento
que explica por que o sagrado nã o é respeitado na mulher. Por tudo
isso, deve-se observar que quanto mais profunda a veneraçã o pela mã e,
mais elevado é o conceito em que a mulher é tida.
O pai era incapaz de dar ao ilho uma educaçã o moral e religiosa: as
ocupaçõ es muitas vezes o afastavam, e entã o - é preciso reconhecer -
dedicado como estava a satisfazer as necessidades da vida material, ele
nã o conseguiu curar a alma do ilho .
Alessandro recebeu a Con irmaçã o em Paterno aos doze anos e na
Torrette d'Ancona fez sua Primeira Comunhã o. Aprendeu muito pouco
de catecismo: a boa semente foi logo sufocada por há bitos que o
distraı́am da prá tica dos ensinamentos religiosos.
Com um cará ter fechado e silencioso; quando estava sozinho no
Agro Romano, sentia desejos ansiosos em seu coraçã o que tornavam
sua labuta diá ria mais sé ria e o tornavam cada vez mais taciturno.
Nos dias abafados de junho, ainda mais tristes naqueles bairros
insalubres, onde os poços pú tridos exalavam morte e melancolia
sombria, Alessandro sentia com grande tormento o contraste entre sua
juventude vigorosa e a natureza que o cercava. Nele era a vida que
gemia, que se rebelava contra aquela solidã o, aquela uniformidade
melancó lica dos dias passados entre o campo e a casa.
Buscava algo que tornasse sua vida menos triste e,
inconscientemente, seguia as insinuaçõ es do espı́rito infernal que aos
poucos o enredava e o fazia voltar sua atençã o para a pequena Maria.
Alexandre nã o encontrou paz e, cautelosamente, procurou o momento
oportuno para sacri icar uma vı́tima. A Donzela tentou pela primeira
vez, o que
- como ele mesmo a irmou - "mostrou que nã o conhecia o mal", mas
se rebelou para nã o cometer pecado. Uma segunda vez a pomba pura
escapou da garra do papagaio com uma força que o deixou espantado e
furioso. Nã o achava que encontraria tanta resistê ncia: sentia as chamas
da paixã o insatisfeita e a humilhaçã o da dupla derrota. Foi justamente o
momento em que o diabo persistiu com suas insinuaçõ es naquele
pobre jovem que se tornou um bruto covarde, incapaz de medir as
consequê ncias de seus atos. Ele queria ter sucesso a qualquer custo.
Nã o era o amor que o impelia: se tivesse amado verdadeiramente a
Donzela, teria respeitado sua candura virginal com uma ternura que se
inspira no que é reconhecido como sagrado e deve ser preservado como
tal. Alessandro, desde a primeira recusa, mostrou-se ainda mais amargo
com Maria, dando-lhe ordens pesadas com a intençã o de fazê -la
despeito e medo. "Ele já nã o se sentia bem" - lembrou Assunta Goretti,
que teve que explicar a conduta de Alessandro tarde demais.

Lágrimas secretas

Maria chorou muitas vezes, incapaz de se rebelar e nã o querendo


revelar à mã e o que levou o jovem a se tornar seu inimigo. Ele,
tentando-a, ameaçara matá -la se ela o denunciasse à mã e: mas se Maria
se calasse nã o era porque tinha medo de morrer: pensava que Assunta
logo teria decidido largar tudo e fugir com os ilhos. , nã o curando a
fome e a misé ria. Mas que sofrimento teria sido para a mã e e para os
irmã os mais novos! Melhor, pois, sofrer sozinha... Con iava-se a Nossa
Senhora, que é zelosa guardiã das almas puras... Ansiava por unir-se a
Jesus, que lhe daria forças para resistir naquela dura batalha. Na
vé spera de sua morte, na mesma manhã do dia em que teve que
disputar a ú ltima luta, Maria dissera a Teresa Cimarelli: «Teresa, vamos
amanhã a Campomorto? Mal posso esperar para tomar a Comunhã o!"
Ela sentiu a necessidade de Jesus, a quem só podia con iar a dor ı́ntima
que teve de esconder de sua pobre mã e, embora nunca lhe tivesse
escondido nada. E Jesus aceitou o seu desejo concedendo-lhe muito
mais: daria-lhe a força indomá vel para vencer o laço infernal e a
acolheria na gló ria eterna, rodeada pela auré ola do martı́rio,
resplandecente de pureza virginal.
Era 5 de julho de 1902. O sol queimava as colheitas na planı́cie
silenciosa. A mã e, depois do jantar, teve que deixá -la com a pequena
Teresa para ir bater o feijã o no quintal; mas desta vez Maria nã o se
sentiu segura. Ela nã o queria icar sozinha e contou à mã e, que, nã o
conseguindo adivinhar o motivo, achou que Maria queria fazer algum
capricho e a silenciou. Nem a mã e naquele momento entendeu o
pequeno Má rtir!
Antes de ir trabalhar, Alexander havia armado a emboscada. Ele
dissera a Maria: "Tem uma camisa minha para consertar... está na minha
cama."
Maria, depois de ter arrumado a cozinha, obediente como sempre,
pegou a camisa, mas saiu no patamar, no alto da escada, segurando a
irmã de dois anos e meio perto de si, dormindo estendido em um
cobertor. A querida ilha estava à vista de sua mã e, e isso a confortou.
Mamã e tinha sido muito dura com ela, mas ela achava que estava certa,
nã o sabendo o verdadeiro motivo... Talvez ela devesse ter con iado; mas
quem teria evitado as tristes consequê ncias?... Nossa Senhora a teria
ajudado a libertar-se de todo mal, de ofender a Deus acima de tudo...
A alma tem seus profundos insights, e os temores de Maria nã o
eram sem razã o.

Em direção à vítima
Alexandre, de pé no pá tio para dirigir a carroça sob os raios do sol
escaldante, vê de longe a Donzela com a intençã o de costurar a camisa
deixada por ele. Esse pensamento, que nã o lhe dava descanso há cerca
de um mê s, torna-se um tormento que ele quer satisfaçã o à custa de
tudo.
Maria teve que ceder aos seus desejos e, se ela recusasse, ele a
mataria... Por que matá -la? Ele nã o poderia reduzi-la à obediê ncia com
sua força?... Ah! a triste ló gica do egoı́smo!
"Vou matá -lo, sim, se ele ainda me deixar decepcionado...".
O sol estava se pondo entre vé us de vapores. Os bois, lentos, sob a
canga, davam a volta ao pá tio, sacudindo a carroça a cada chamada.
O jovem diz a Assunta que precisa fugir e lhe dá seu lugar. Assunta
sobe na carroça e com ela até os ilhos mais novos, que com alma festiva
levantam seus gritos para empurrar os bois que rugem.
Começa quase a correr... Passa na frente do pai deitado à sombra da
casa para descansar durante um ataque de malá ria, sobe a escada que
passa na frente de Maria sem dizer uma palavra e vai para o armazé m,
onde o punhal é colocado entre ferramentas antigas. Isso deve ajudá -lo
a vencer. Ele o pega e vai até a cozinha para colocá -lo em um caixote
para que ele possa pegá -lo facilmente se precisar. Imediatamente
chame a Donzela imperiosamente:
«Maria, entra!». Continua a segurar a agulha na mã o. Ela teria
descido as escadas correndo, teria chamado a mã e... Mas nã o tem
tempo para pensar mais: uma mã o a agarra pelo braço. Maria resistiu,
mas foi arrastada à força para a cozinha, junto à entrada. A Donzela
sente que Alexandre quer voltar ao assalto e tenta libertar-se daquelas
garras repetindo: «Nã o, nã o, Deus nã o o quer; se você izer isso você vai
para o inferno!"
O jovem nã o entende: o inferno já o tem em seu coraçã o, e ele nã o
quer nada mais do que terminá -lo de uma vez por todas. Ele tenta calar
a boca dela, mas: “O que você está fazendo, Alessandro? Deus nã o
quer!..."
A paixã o infame do jovem nã o restringe. Duas vontades estã o em
con lito: Deus na Donzela, Sataná s no jovem; dois "eu quero"... mas
Deus triunfa atravé s dos fracos!

Convidar!

Ele recorre ao ferro, esperando induzi-la a ceder por medo, mas a


Donzela repete: «Nã o, nã o, nã o! Deus nã o quer!" Cego de raiva,
Alexander en ia a faca em seu abdô men e a atinge vá rias vezes "como
quando o milho é esmagado". Entã o ele se lembra depois de tantos anos
com horror. Maria ixa nele os seus grandes olhos puros e, com os
dentes cerrados pelo espasmo, murmura: «Deus, Deus, estou a morrer!
Mamã e mamã e!". Na hora suprema invoca dois nomes que ao extremo
anseiam toda a sua vida: Deus a quem jurou idelidade a todo o custo, a
mã e por quem se sacri icou no amor e na obediê ncia. Ele cai sem forças
com a barriga rasgada. Ele nã o grita mais, e entã o aquele louco deixa
sua presa sem ser convidado, retirando-se para seu quarto.
Maria ainda encontra forças para se arrastar até a entrada e chamar
o velho Serenelli: "Giovanni, venha: Alessandro me matou! ..." A mã e
estava longe para chamá -la, e ela nã o conseguia se levantar... que sua
vida estava escorregando agora, mas nela nã o era o terror da morte,
que ela mesma havia escolhido.
O velho Giovanni chamou os vizinhos Cimarelli e depois Assunta,
pensando na maneira conveniente de salvar o ilho. Ele queria fazer de
conta que ela havia sido morta por seu irmã o Alessandro recorrendo a
um mal-entendido de nomes; mas Alessandro Goretti, entã o com
apenas sete anos, estava hospedado com a mã e. Talvez ele esperasse
que Maria nã o falasse mais, mas Deus fez um grande milagre: apesar de
seu coraçã o estar dilacerado, ele ainda viveu por mais de vinte horas,
para que o mundo inteiro pudesse conhecer seu martı́rio e que seu
assassino, que mais tarde seria outra conquista da Misericó rdia divina.
Aos gritos de Maria, a pequena Teresa acordou chorando. A mã e, de
pé no carrinho, embora longe, ouviu o choro do bebê e, nã o vendo
Maria, mandou uma das crianças descobrir o que era. Sentiu um tremor
no coraçã o... uma suspeita que nunca tivera antes... Alessandro tinha
ido à casa da fazenda, e Maria nã o olhou... Viu o velho Giovanni subindo
a escada prontamente, viu os vizinhos Cimarelli pressa... O que estava
acontecendo na casa dele? Ela també m se moveu rapidamente ao ouvir
o pai do jovem chamá -la. Encontrou a ilha nos braços do bom
Cimarelli, e em que estado! Sangue pingando, as roupas rasgadas, as
entranhas torturadas... Ele nã o teve palavras ao ver sua Maria tã o
atormentada: ele deu um grito muito alto e desmaiou.
Deus nã o queria a vitó ria do mal, e Maria resistiu preferindo a
morte, amparada pela virtude divina. Seu martı́rio a torna venerada aos
olhos do pró prio assassino, que confessa:
“O mal foi todo meu, porque me deixei cegar por uma paixã o brutal,
e ela fez bem em resistir para manter sua inocê ncia. Ela era realmente
inocente... Maria era muito boa e para manter sua pureza preferia cair
nas mã os de um assassino...
Portanto, a culpa foi inteiramente minha… ».
Alessandro Serenelli, depois de tantos anos, manté m bem viva a
memó ria daquele dia em que cometeu o crime, do qual um má rtir teria
lorescido para cantar um hino imortal à mais bela virtude da vida
cristã . Ele declara: “Ela é realmente uma santa. Ela é uma verdadeira
má rtir. Muitas vezes, durante a noite, quando nã o consigo dormir,
começo a pensar: se há má rtires no cé u, ela é a primeira... membros!
Quatro feridas haviam ferido o pericá rdio, o coraçã o havia sido
perfurado na orelha direita; o pulmã o esquerdo e o diafragma també m
foram afetados; no abdome da direita para a esquerda havia quatro
grandes cortes; as costas foram cortadas nas costelas ao longo da
coluna vertebral, da oitava vé rtebra ao dé cimo primeiro espaço
intercostal.
Os ferimentos leves e hematomas nas pernas e braços nã o foram
contados, todos os sinais evidentes da luta que ele teve que suportar
para salvar sua pureza "a todo custo".
Como ele viveu? Deus queria que a vitó ria fosse completa, sobre a
carne e o espı́rito, que a Donzela pudesse em algum momento imitar o
modelo divino, que se deu por inteiro no mais doloroso dos má rtires.

Na Cruz: perdão heróico

As feridas queimaram e outras abriram quando, levada de


ambulâ ncia ao Sanató rio dos Fatebenefratelli em Nettuno, ela foi
operada para laparotomia em uma lamentá vel tentativa de salvá -la.
Ele só estendeu sua vida até o dia seguinte.
Durante este curto perı́odo puri icou-se no sofrimento e
enriqueceu-se de mé ritos. Vá rias vezes ele pediu uma gota de á gua, mas
sua sede ardente permaneceu insatisfeita, como era por seu Senhor
Cruci icado. O arcipreste de Netuno trouxe-lhe o Viá tico, e naquele
momento a alma de Maria revelou-se ardente de verdadeira caridade,
iluminada com fé viva. "Maria, você sabe quem você está prestes a
receber?" E com toda a sua força: "Aquele Jesus que em breve irei ver".
A pequena Má rtir consumiu-se perdoando. "Maria, você perdoa o
assassino do seu coraçã o?" o padre perguntou a ela. E ela está pronta:
«Sim, eu o perdô o!... Na verdade, quero-o no cé u perto de mim!».
Este é o verdadeiro heroı́smo: em Deus, na felicidade eterna, já nã o
estava o seu assassino, mas o irmã o redimido pelo Sangue de Cristo!
Conquistou o P aradiso em seu sangue unido ao Sangue do Divino
Cordeiro, pelo qual a alma de um assassino seria redimida. Na ú ltima
hora, Jesus Redentor dissera ao ladrã o arrependido: «Hoje estará s
comigo no Paraı́so».
Maria era a noiva de Jesus e podia, como pequena rainha, dizer que
queria ao seu lado o pobre Alexandre no reino do Esposo, arrependido
e puri icado das lá grimas e sofrimentos da dura prisã o. Maria poderia,
portanto, dizer: "Eu quero" como Jesus quer a salvaçã o de todas as
almas redimidas por seu Sacrifı́cio. A vida cristã havia sido na Donzela
uma sé ria imitaçã o da vida de Jesus, e em seu glorioso im Jesus quis
fazê -la semelhante a Si de maneira admirá vel...

Morte preciosa

A ú ltima comunhã o, o ú ltimo abraço com seu Senhor na terra, foi


como um impulso amoroso para apressar o casamento eterno. Nã o
havia nada alé m do P aradiso para ela agora e ela suportou alegremente
a ausê ncia da mã e na dolorosa agonia. Levava no peito a medalha com a
imagem da Mã e celeste, que o padre Guijarro lhe impô s, atribuindo-a à
Congregaçã o das Filhas de Maria, quando estava prestes a deixar a
terra. E quem melhor do que ela poderia ser digno de ter este tı́tulo?
Pela virtude acima de todas as outras queridas a Maria, ela morreu
má rtir. Nos ú ltimos espasmos repetia delirante: "Leve-me para a cama:
quero ter Nossa Senhora mais perto!" Ela queria que a levassem para
seu berço, para sua casa, junto à imagem de Maria Santı́ssima,
testemunha de suas oraçõ es ardentes.
Eram 15h45 do dia 6 de julho de 1902, quando a Madona pegou a
mais querida de suas ilhas acompanhada por uma multidã o de anjos,
enquanto o pequeno corpo lacerado jazia em repouso aguardando o
ú ltimo despertar.
Perante uma morte tã o preciosa, enquanto o Cé u canta louvores ao
Má rtir, que, rodeado pela auré ola da vitó ria, vai ao encontro do Esposo
divino, na terra nã o se deve chorar, nã o se deve amaldiçoar o assassino,
mas alegrar-se e rezar enquanto adorando os desı́gnios de Deus, que
permitiu que um crime fosse a causa de uma conquista gloriosa.
A terra venerava o corpo da pequena Maria com espanto e nã o
encontrava a maneira conveniente de expressar a terna e comovida
admiraçã o.
Assunta pela ú ltima vez pô de beijá -la Marietta, e naquele momento
de suprema dor ela se mostrou digna mã e da Filha. Com o coraçã o
partido, voltou os olhos para o cé u exclamando: «Meu Deus, eu nã o era
digno de possuir este Anjo! Você me deu e você tirou de mim: sua
vontade seja feita! ».
O corpo ainda estava dilacerado pelo bisturi para a autó psia legal:
mesmo nisso deve ter parecido o Divino Má rtir, cujo peito foi aberto
pela lança, quando já exalava a extrema saudade.
Ela foi levada em triunfo, coberta de lores, para o Cemité rio, onde a
esperava um sepulcro oferecido pela Câ mara Municipal de Netuno. Na
procissã o todas as classes sociais estavam representadas e uma imensa
multidã o seguia, comovida, reunida em um silê ncio religioso. A virtude
triunfante sobre o mal passou a ensinar aos homens que se pode
resistir à tentaçã o quando se quer, e somente com uma forte vontade na
fé . Em Maria estã o vivas as palavras do Apó stolo: "Tudo posso naquele
que me fortalece".

Capítulo IV

PODER DO MARTÍRIO
Apostolado do martírio
o ar, no entanto, nã o está morto. Ele vive no reino da Gló ria e seu
espı́rito, livre das amarras do corpo, poderoso do pró prio poder de
Deus, ao qual estava intimamente unido, nã o permanece inerte. A
menina pura deixou na terra a marca profunda do seu exemplo: do Cé u
ela ainda ensina à s almas como amar a Deus e quais as virtudes que lhe
sã o caras.
Com efeito, o Má rtir é essencialmente um apó stolo: é uma
testemunha da verdade, pela qual sacri ica a sua vida.
O apostolado que Maria Goretti havia realizado em silê ncio, na
prá tica cotidiana de virtudes humildemente ocultas, durante sua curta
vida terrena, encontra seu coroamento no glorioso martı́rio que
comoveu os povos, suscitou admiraçã o em ilustres prelados e generoso
favor dos Supremos Papas .
O primeiro entusiasmo tornou-se cada vez mais vivo, e a Donzela
apareceu como um raio de luz esplê ndida entre os brilhos sombrios das
paixõ es insanas, do egoı́smo e do ateı́smo rebelde que, no inı́cio do
sé culo XX, estava escondido no teorias do social-comunismo. Em meio
aos gritos de ameaça e ó dio que subiam das profundezas escuras dos
coraçõ es ressequidos pela incredulidade, corrompidos pela insaciá vel
â nsia de bem-estar material, divididos por lutas incurá veis, em uma
sociedade que se corrompia e semeava a morte, Maria Goretti serviu de
recordaçã o má xima à consideraçã o da virtude que triunfa sobre a
arrogâ ncia do vı́cio, impondo à natureza o sacrifı́cio que distingue o ser
humano do bruto.
Enquanto seu corpo continuava a se desenrolar sob a terra
queimada pelo sol, junto ao mar que con iou a está tua da Madonna
delle Grazie à costa netuniana, vozes de louvor se ergueram para
honrar a virtude heró ica de Maria. Compê ndios de sua vida foram
escritos, versos compostos, a musa popular derreteu suas cançõ es nas
encruzilhadas e nas praças, monumentos foram erguidos para glori icar
a memó ria do Má rtir.
Em Nettuno, depois de dois anos, em 10 de julho de 1904, no
pequeno Santuá rio de N. Signora delle Grazie, que a Santa Donzela
visitava com frequê ncia, os Padres Passionistas cuidaram da construçã o
de um monumento em homenagem a Maria Goretti, no iniciativa do
Diretor do semaná rio romano «La vera Roma», Cav. Enrico Feliziani,
auxiliado por alguns senhores romanos e pelo povo netunense. O Prof.
Raffaele Zaccagnini a esculpiu com arte animada pela fé , resumindo a
morte da pura Vı́tima, que pode ser vista deitada abaixo como a Virgem
Cecı́lia e acima atraı́da para o Cé u envolta em luz e escoltada por Anjos.
Ao fundo o assassino, a sombra do mal dominada pela luz do eterno
Bem.
Este monumento foi removido e preservado pelos Padres.
Passionistas, quando o Santuá rio que, por estar muito pró ximo do mar,
estava prestes a desabar, foi de initivamente destruı́do.
A reconstruçã o do Santuá rio foi realizada pelos Passionistas com
louvá vel força diante de muitas di iculdades e concluı́da para a proteçã o
de Sã o Pio X que o declarou Santuá rio Pontifı́cio. Assim, em setembro
de 1912, o novo Santuá rio foi erguido em homenagem a Maria SS.ma
delle Grazie. Nesta ocasiã o, a publicaçã o do perió dico "La Stella del
mare", editado pela PP. Passionistas, para quem foi um vá lido meio de
apostolado que serviu també m para tornar conhecida e amada a
Martire delle Ferriere.
O Municı́pio de Nettuno, ao qual pertencia o lugar do martı́rio na
é poca, agora sob a jurisdiçã o de Latina, honrou a virtuosa Donzela
colocando um monumento em seu tú mulo, continuamente visitado por
admiradores e ié is de toda a Itá lia. A inscriçã o sobreposta dizia que o
Corpo estava sepultado por tempo indeterminado e aguardando uma
morada mais digna no Santuá rio de Nossa Senhora da Graça, onde o
monumento já estava preparado, recolocado apó s a reconstruçã o.
O padre Romolo Allegrini esperava conseguir o transporte do corpo
de Maria para Roma, onde era pá roco, e colocá -lo na tumba da famı́lia
que havia construı́do com tanto sacrifı́cio, desejando que seus ossos
repousassem um dia ao lado daqueles da Virgem Donzela, o que lhe
daria sua proteçã o. Fortalecido pela razã o de que cabia ao corpo de um
Má rtir repousar em Roma, terra dos Má rtires, conseguiu obter
transporte e marcar a data. Faltavam quatro dias para a trasladaçã o do
venerado corpo e o bom Sacerdote foi ao encontro de Maria no Cé u,
antes que uma prová vel decepçã o o izesse sofrer tanto.
També m em Corinaldo, terra natal de Maria, o Rev. D. Marinelli
havia pedido os ossos da Donzela, mas Netuno teve a honra de guardar
o corpo da Má rtir, no templo dedicado a Nossa Senhora, onde o tú mulo
de má rmore o aguardava. para ela. Corinaldo quis entã o erguer um
monumento à ilha, do qual honra e orgulho terá ao longo dos sé culos.
A ideia també m foi acolhida com entusiasmo por Santidade Pio X, que
fez uma oferta conspı́cua para encorajar a iniciativa. O escultor calabrê s
Giovanni Scrivo deu seu admirá vel trabalho, que lembra a inspiraçã o do
monumento de Netuno.
Digno de memó ria foram as festas de Montevergine, na agradá vel
colina que se ergue na provı́ncia de Lecce. Naquele santuá rio,
consagrado a Maria Santı́ssima para uma apariçã o sua em 1595, o povo,
preparando-se para celebrar o cinquentená rio da de iniçã o do dogma
da Imaculada Conceiçã o da Mã e de Deus, pediu a bê nçã o do Sumo
Pontı́ ice Pio X , que o concedeu expressando amplamente o desejo de
que a Má rtir Maria Goretti fosse celebrada naquela ocasiã o como
exemplo de verdadeira devoçã o a Maria Imaculada. O voto do Papa foi
cumprido com entusiasmo, e as celebraçõ es foram coroadas com a
ereçã o de uma placa de má rmore que exaltava o amor à pureza virginal
e deveria servir "de grande estı́mulo para as jovens preservarem sua
dignidade em meio à s corrupçõ es". . (Discurso de Sua Eminê ncia o
Cardeal Agliardi à s comissõ es de Montevergine).
Em 1928 os Pes. Passionistas, guardiõ es do Santuá rio da Madonna
delle Grazie, estavam interessados na traduçã o do corpo da Virgem
Má rtir do Cemité rio de Netuno para o Santuá rio. Apó s cerca de um ano,
as relı́quias do Corpo de Maria foram exumadas e trazidas ao Santuá rio
da Madonna delle Grazie com uma solenidade que nunca antes havia
sido admirada. Manifestaçõ es de alegria e fé con irmaram a cada vez
mais viva e profunda admiraçã o e devoçã o pela Donzela que - segundo
as palavras do entã o Mons.
Salotti, depois ilustre cardeal e hoje cidadã o do Cé u - merecia ser
conhecido, assim como por seu martı́rio, por suas heró icas virtudes
cristã s. Na procissã o fazia parte Assunta Goretti, mã e de sorte como
Monna Lapa, que pô de presenciar o triunfo de sua ilha Catarina em
Siena, quando a cabeça da santa foi trazida de Roma. Foi entã o que se
publicou a vida da Donzela, composta por Pe Aurelio della Passione,
ilho digno de Sã o Paulo da Cruz, que, no seu zelo incansá vel e terna
devoçã o pelo Pequeno Má rtir, reunia preciosas informaçõ es que mais
tarde seria ú til para facilitar a introduçã o da causa de beati icaçã o.
O entusiasmo pelo Má rtir sempre foi crescendo diante da corrupçã o
desenfreada de um mundo pagã o, envenenado por teorias insidiosas.
Sempre foram frequentes as peregrinaçõ es ao tú mulo da Pequena
Mestra da Virtude, e ainda se vê com profunda emoçã o que o vigoroso
jovem vai ajoelhar-se para lhe pedir forças para manter-se pura em
meio aos muitos perigos do mal. . E Maria do Cé u indica o caminho pelo
qual é possı́vel recuperar a dignidade perdida pelo pecado. Ao contato
espiritual com ela, as né voas impuras desaparecem e uma onda de paz
e alegria incomum se eleva nos coraçõ es. Tã o pequena, aterrada por
ferro homicida, é , no entanto, ajuda e conforto para jovens
inexperientes, para homens tenazes nas lutas da vida, para altas
personalidades sobre as quais a responsabilidade de suas tarefas
difı́ceis nã o pesa pouco.
Em 1925 o Santo Padre Pio XI recordou a uma peregrinaçã o de
Netuno que, poucos dias antes de ir à Polô nia como Nú ncio Apostó lico,
havia meditado e rezado no monumento erguido em homenagem ao
Má rtir, no Santuá rio onde hoje se guardam as preciosas relı́quias uma
capela de má rmore decente.

Proteção do céu

Marietta, invocada, obté m favores ú nicos de Deus e os entrega a


seus protegidos, tã o solı́citos como quando cumpria as ordens de sua
mã e.
Ela esbanja sua proteçã o primeiro em sua famı́lia.
A mã e, logo apó s a morte da Filha, voltou para seu Corinaldo, com a
agonia dentro do coraçã o e ao redor a misé ria, a incerteza do amanhã e
tantos ilhos para atender em tã o tenra idade. Seus amigos nã o a
reconheceram: a dor havia mudado tanto sua aparê ncia. Mas Assunta,
que partiu do Ferriere, nunca teve que desejar o que era necessá rio
para si e para seus ilhos. A Providê ncia, que nã o abandona nenhuma
criatura, teve um cuidado ainda mais terno por esta amada famı́lia e
moveu coraçõ es generosos em seu auxı́lio. Os pró prios pontı́ ices
ofereceram sua proteçã o paterna. O Papa Leã o XIII teve Emı́lia, uma das
irmã s de Maria, hospitalizada à s suas pró prias custas no Hospı́cio dos
Religiosos
"Le Zoccolette", apesar do regulamento proibindo essas Irmã s de
aceitar meninas que ainda tinham suas mã es. SS Pio X queria que
Teresina fosse internada aos quatro anos de idade nas Franciscanas
Missioná rias de Maria em Grottaferrata, e essa menina foi entã o
chamada à vida religiosa permanecendo no mesmo Instituto.
Todos os outros irmã os, que cresceram no temor de Deus, como
recompensa pelo seu trabalho honesto, mereceram a alegria serena da
famı́lia cristã animada pelos sorrisos de numerosos ilhos.
Mas Maria tinha um olhar especial para seu assassino. Sua caridade
nã o deveria queimar mais viva e mais e icaz para a pobre alma a quem
ele havia dado seu generoso perdã o, antes de deixar a terra? Um
milagre espiritual tinha que ser realizado: transformar um bruto em
um cristã o capaz de aspirar ao Paraı́so, como sua Vı́tima ansiava por
ele, perdoando-o. Deus queria que o Pequeno Má rtir vencesse o
carrasco: ele seria o trofé u mais precioso de seu triunfo na terra. E a
hora de Deus teria soado, quando parecia que tudo estava perdido,
justamente quando o poder do Altı́ssimo deveria brilhar melhor.

Perdão e favores para Alexandre

O pobre Alexandre, tendo cometido o crime, estava bê bado com o


sangue inocente que molhava as mã os. Sacri icada a Vı́tima, sentiu a
luxú ria selvagem saciada e foi fechar-se no seu quarto como a fera que,
depois do massacre, agora satisfeita no seu instinto voraz, jaz inerte na
sua toca. Ele foi levado, amarrado e arrastado para a prisã o pelos
Carabinieri, que corriam sé rio perigo para salvá -lo da ira dos plebeus
durante a viagem.
Nã o era nele a sombra do arrependimento, nem o arrependimento
da honra e da liberdade perdidas: ele buscava apenas escapar da
puniçã o por um instinto primitivo de autopreservaçã o. Submeteu-se a
exames mé dicos que deveriam ter constatado alienaçã o mental causada
por imperfeiçõ es atá vicas; atreveu-se a mentir em seus depoimentos
que contradiziam a realidade dos fatos, alegando que havia cometido o
crime com o objetivo de ir para a cadeia e fugir da misé ria devido à
iminente demissã o do trabalho... confessado.
Quando soube da pena de trinta anos, nã o tinha queixa, sinal de dor.
Fechado em seu orgulho miserá vel, vendo-se severamente julgado
por todos, quis dar a si mesmo a vã ilusã o de conquistar a justiça
humana com uma indiferença estudada por um egoı́smo astuto.
A vida da prisã o entã o o brutalizou ainda mais e ele permaneceu
em um cinismo nauseante... Como deve ter sido terrivelmente amarga
aquela vida sem um sopro de fé , sem uma boa lá grima de
arrependimento... "Feliz, Serenelli!" ele cantava: no fundo dessas
palavras havia um sarcasmo amargo, uma dor sem esperança, um
desâ nimo que nã o encontrava descanso...
Mas sua Vı́tima estava assistindo do Cé u, e a hora da Graça chegou.
Um sonho foi para Alexandre o primeiro sinal de recordaçã o: ele viu a
Donzela de manto branco, pegando lı́rios e entregando-os a quem os
viu se transformar em suas mã os em luzes lamejantes. Foi o primeiro
sorriso na prisã o sombria, a primeira luz entre as sombras
assustadoras.
Deus preparou outros meios humanos para cooperar na conversã o
do pobre pecador.
Dom Tito Cucchi, Bispo de Senigallia, ao promover a glori icaçã o de
Maria Goretti, nã o podia esquecer a ovelha que estava longe de seu
aprisco e que queria ser salva. Ao saber que se encontrava na
penitenciá ria de Noto, na Sicı́lia, fez questã o de enviar aos condenados
papé is e jornais em que falavam do Má rtir, e apressou-se a escrever ao
Bispo de Noto, Mons. Blandini, pedindo-lhe que se aproximasse do
jovem e o ajudasse a salvar sua alma. Aquele excelente Prelado
conseguiu entrar na prisã o e falar com Serenelli. Ela o abraçou
chamando-o de ilho, lembrou-lhe a in inita misericó rdia de Deus e a
generosidade de sua pequena Vı́tima...
Sentiu uma profunda dor por seu crime atroz, reconheceu que
merecia seu castigo e chorou ... O Bispo concedeu-lhe o perdã o
sacramental depois de sua con issã o e pediu-lhe que lhe enviasse uma
carta na qual se manifestasse sua culpa e arrependimento sincero . .
Alessandro nã o conseguiu escrevê -lo, tendo cursado a segunda
sé rie, e recebeu ajuda de um amigo. Ele, pensando em "um assassinato
tã o bá rbaro", odiou
"Duplamente o mal feito", tendo a consciê ncia de "ter tirado a vida
de uma pobre mulher inocente que até o ú ltimo momento quis manter
sua honra segura sacri icando-se em vez de ceder aos desejos que o
empurraram para tã o terrı́vel passo e lamentá vel".
Para Serenelli começa uma nova vida: nã o mais a cı́nica indiferença,
mas a dor viva da contriçã o; nã o mais esquecimento de Deus, mas fé
naquele que "de boa vontade perdoa", com o desejo de expiar. A prisã o
nã o é mais difı́cil para ele: é o meio de reparaçã o. Manso como um
cordeiro, sereno no sofrimento, já nã o se reconhece. Sua conduta é
anotada e levada em consideraçã o: transferem-no para outras prisõ es
menos severas e, inalmente, concedem-lhe o perdã o de cerca de quatro
anos de pena.
Quando volta à liberdade, nã o é mais jovem, nã o tem mais pai, nã o
tem casa. Sozinho, ele vai em busca de trabalho e consegue trabalhar
como operá rio. Ocupa as horas em labuta assı́dua, em silê ncio, com o
cenho franzido, com os olhos baixos: a dor e a vergonha se manifestam.
Algué m se dirige a ele e ele responde brevemente. Reconhecido, ele é
mandado embora, mas nã o se desespera: bate à porta de um convento e
a caridade dos ilhos de Sã o Francisco o acolhe e lhe con ia trabalhos
humildes que ele faz com mansidã o, procurando icar escondido de aos
olhos dos curiosos e fugir das entrevistas. Para ele agora a vida nada
mais é do que a espera do Paraı́so onde sua Vı́tima o espera, e ele sabe
que só pode merecê -lo com expiaçã o voluntá ria. Se Deus o perdoou, se
a menina torturada por ele reza pela sua salvaçã o, se a justiça humana
foi graciosa para com ele, Alexandre, no entanto, reconhece todo o
horror de sua iniqü idade passada, mas quer se redimir no lento
martı́rio de uma vida de trabalho e de sofrimento, na oraçã o que o
fortalece e o manté m pró ximo de Deus, encontra nesta terra apenas
uma consolaçã o: a esperança de poder testemunhar a glori icaçã o da
Virgem que sacri icou.
La Fanciulla alcançou sua maior vitó ria, mas outras ainda ela trará
de volta, ao lado de Maria SS.ma, no silê ncio do Santuá rio que se re lete
no mar.
Os Padres Passionistas eram ié is guardiã es das preciosas relı́quias
e admiravam o voo do pequeno Má rtir que, como uma terna cotovia
trilante pelos caminhos silenciosos do Agro, estendia asas de á guia
rodopiando pelos cé us sem limites.
Mais de trinta anos se passaram antes de começarmos a falar
o icialmente da glori icaçã o da Donzela, mas por baixo desse aparente
abandono estava a admirá vel obra de Deus.
Sem ruı́dos, sem muitas palavras, ouviam-se aqui e ali câ nticos de
agradecimento à Pequena que, invocada com fé , obteve do seu Senhor
uma có pia maior das graças. Cada dom da Má rtir dava a oportunidade
de considerar seriamente seus ensinamentos e de escrever
extensivamente sobre Ela. Essas vozes de louvor e gratidã o foram
sempre crescendo e se impô s a necessidade de coletá -los e guardá -los:
os Pes. Passionistas, que seguiram a Má rtir com amor e paciê ncia tenaz
em sua gloriosa jornada, esperando a hora de Deus.

Capítulo V

O CAMINHO GLORIOSO

A hora de Deus foi marcada pela palavra infalı́vel da Igreja, que


segue a obra da Graça sem entusiasmo apressado, admira com
prudê ncia e se cala até que L fale com autoridade infalı́vel e aponte aos
seus ilhos os Beatos e os Santos como modelo a imitar. viver de acordo
com Deus.
A devoçã o a Maria Goretti tornava-se cada vez mais viva e profunda.
Aqueles que conheciam as circunstâ ncias do crime sentiram uma
admiraçã o espontâ nea pelo martı́rio da menina pura, cuja fama se
espalhou do Agro Romano à capital, por toda a Itá lia e també m no
exterior.
Processos para promover a Causa
Esta unanimidade de consenso e a repetiçã o frequente de favores
espirituais e materiais por intercessã o de Maria, levou o Conselho
Diocesano de Jovens da Açã o Cató lica de Albano a promover no ano de
1935 a Causa de Beati icaçã o do Servo de Deus, com autorizaçã o do
Bispo, sob cuja jurisdiçã o era o territó rio de Netuno. A guarda do
Postulador da Causa foi con iada ao P. Mauro Passionista.
Em 31 de maio de 1935, na Cú ria de Albano, na presença do Cardeal
Granito Pignatelli de Belmonte, foi instaurado o julgamento sobre a
fama de martı́rio, enquanto outro julgamento foi organizado na Cú ria
de Senigallia, ao qual a aldeia onde o pequeno Maria.
Os documentos do julgamento, que contê m os interrogató rios das
testemunhas, sã o de grande interesse, porque neles falaram a Mã e e o
matador, de cujos testemunhos destacam-se claramente as virtudes
heró icas da Donzela com as circunstâ ncias que dã o um valor
sobrenatural à o sacrifı́cio de Ela e torná -lo de modo a ser levado em
consideraçã o pela Igreja.
Entretanto, cartas postuladas por Eminentes Cardeais, pelo
Prı́ncipe Chigi-Albani Grã o-Mestre da Ordem Militar dos Cavaleiros de
Malta, pelo Bispo de Senigallia, por muitos outros Bispos e Arcebispos,
pelos Generais das Ordens, pelos Superiores das Congregaçõ es, foram
dirigidas ao Sumo Pontı́ ice pela Pontifı́cia Universidade Gregoriana,
pelo Arcipreste de Corinaldo, pelos Presidentes e Assistentes das
Associaçõ es da Açã o Cató lica e pelas Filhas de Maria.
Da Cú ria de Albano e Senigallia a Causa se desloca para Roma.
Em 31 de maio de 1938, ocorreu a primeira reuniã o ordiná ria da
Sagrada Congregaçã o dos Ritos, na qual o Eminê ncia Cardeal Salotti, de
feliz memó ria, Ponente e Relator da Causa, propô s que se resolvesse
esta dú vida: Se a Comissão pudesse ser estabelecida por a introdução da
Causa do Servo de Deus.
Tudo foi considerado cuidadosamente e decidiu-se estabelecer esta
Comissã o, se o Sumo Pontı́ ice gostasse.
No dia 1º de junho seguinte, foi publicada a aprovaçã o pontifı́cia e a
rati icaçã o da Comissã o, a quem incumbia examinar os processos de
preparaçã o da beati icaçã o.
A Comissã o imediatamente começou a trabalhar.
Foi realizado o reconhecimento canô nico do terno corpo torturado,
ao qual Mamã e Assunta estava presente, forte e resignada, com os olhos
afundados de dor e as mã os entrelaçadas em oraçã o.
Em 20 de novembro de 1940 e 25 de abril de 1941 foram
publicados os decretos a favor do valor jurı́dico dos processos: do
Apostó lico de Albano Laziale e do Ordiná rio de Albano e Senigallia.

Declaração de martírio para beati icação

Antes de decidir sobre a beati icaçã o, era necessá rio proceder a um


exame cuidadoso dos testemunhos recolhidos nos julgamentos e avaliar
convenientemente os fatos com um procedimento que nã o era curto,
mas sá bio e prudente.
Em 27 de outubro de 1942, a Congregação Antipreparatória, na
presença do Cardeal Prefeito e Ponente la Causa, se reuniu para as
primeiras investigaçõ es; em 1º de fevereiro de 1944, a Congregaçã o
Preparatória continuou o trabalho de exame cuidadoso na presença de
todos os Cardeais; inalmente, em 30 de janeiro de 1945, a Congregaçã o
Geral reuniu-se na presença de S.
Santidade Pio XII. Nesta assemblé ia solene o Cardeal Ponente
propô s decidir sobre a dú vida: se o martírio é conhecido e a causa dele e
se são reconhecidos sinais ou milagres válidos prosseguir com a
beati icação. Cada um dos Cardeais, dos Prelados O iciais, do Padri, dos
Consultores, deu sua aprovaçã o em torno do martı́rio.
O Santo Padre, tendo ouvido atentamente as opiniõ es de todos,
reservou-se o direito de proferir seu julgamento no Domingo de Ramos,
25 de março de 1945, para rezar novamente a Deus para que
iluminasse mais sua mente. E no dia designado, o Sumo Pontı́ ice,
depois de ter oferecido com muita devoçã o o Sacrifı́cio Eucarı́stico, na
presença do Cardeal Ponente e do Promotor Geral da Fé , proclamou que
o martírio e causa do martírio do Venerável Serva de Deus Maria Goretti,
e consequentemente concedeu a dispensa de milagres ou sinais
necessá rios que, segundo o Direito Canô nico, deveriam ser pelo menos
dois, e decretou que outros atos pudessem ser realizados. Digno de ser
lido e meditado é o Decreto de 25 de março de 1945 da Sagrada
Congregaçã o dos Ritos, que expõ e, com a maestria que lhe é pró pria, as
razõ es pelas quais a frá gil Donzela de Presagna pode ser declarada
má rtir . Recorda o que ensina o Angé lico Doutor Sã o Tomá s de Aquino,
em cuja autoridade todos os teó logos se apoiam, para a irmar que a
causa su iciente para a declaraçã o do martı́rio é que a con issã o de fé ou
qualquer ato de virtude só tem por im a vontade de Deus e amor ao
Cristo Redentor. Quem sofre e morre por esta ú nica razã o, toda
sobrenatural, dá testemunho de que Deus opera nele, quando manifesta
uma força que vai alé m das possibilidades naturais e é , portanto, fruto
de uma clara consciê ncia do bem e do mal, do que Deus quer e o que ele
proı́be, vigilâ ncia constante, total apego à vontade de Deus e sobretudo
um profundo amor por ele.
Quando este testemunho é acompanhado de derramamento de
sangue, se uma pessoa adulta é digna de gló ria, uma menina fraca
certamente será digna de apoteose.
A Maria Goretti nã o se podia negar uma glori icaçã o adequada à sua
generosidade.
Basta lembrar as palavras pronunciadas por ela na luta extrema e
con irmadas pelo pró prio assassino, para ter uma prova inequı́voca da
razã o totalmente sobrenatural que justi ica sua morte sangrenta. A
ordem de Deus era o pensamento dominante: “ Não, não, não, Deus não
é quer ». «Nela a consciê ncia do pecado foi identi icada com a ná usea e
a recusa lı́quida; a obediê ncia à lei divina, que se impõ e a todas as
almas, instou-a a admoestar o assassino: " Se izeres isto, pecas ". Ela
acreditava na sançã o divina, mas nã o podia temer por si mesma,
estando fortemente unida à Vontade divina; ele queria distrair o pobre
louco com a ameaça do castigo eterno que Deus reserva para aqueles
que O ofendem:
" Alexander, se você izer isso, você vai para o inferno."
Nã o o sofrimento ou a pró pria bondade de um motivo humano nos
faria realizar o martı́rio, mas precisamos de um motivo inteiramente
sobrenatural, baseado na fé em Deus, no cumprimento do que Deus
quer, no amor sem reservas que nos faz escolher a morte. ofendê -lo. E
Maria, diante da alternativa: ofender a Deus com o pecado ou morrer,
sem hesitaçã o preferiu o punhal que estava cravado em seu corpo
virgem, ileso pela contaminaçã o imunda.
Outros motivos poderiam ter levado a Donzela a uma recusa clara,
até a aceitaçã o da morte, mas nã o temos outros testemunhos alé m dos
citados e con irmados nos julgamentos pelas declaraçõ es do assassino,
da mã e Assunta e dos vizinhos, todos visando provar a razã o
sobrenatural.
Nã o podemos pensar que a pequena Maria tenha conseguido
consagrar-se a Deus desde tenra idade: nã o temos elementos para
a irmá -lo, embora seja legı́timo pensar que, no segredo do seu coraçã o,
o pudesse ter feito, como S. Catarina de Sena que aos seis anos se
consagrou a Deus.
Um amor natural pela pureza a terá tornado invencı́vel, como
lembram os jovens que souberam resistir até a morte. Este sentimento
estava indubitavelmente vivo em Maria, como evidenciado pela
preocupaçã o que ela demonstrava em cobrir-se com suas roupas
enquanto estava sendo golpeada até a morte; mas nã o pode, no entanto,
ser invocado por si só como razã o su iciente para justi icar o martı́rio.
Se a Igreja a declarou Má rtir é apenas porque sua recusa ao pecado
e a aceitaçã o da morte dolorosa tiveram como im a obediê ncia
incondicional e a dedicaçã o amorosa a Deus, que nã o a abandonou na
imensa luta.
O martı́rio de Maria foi declarado, depois de cerca de um mê s, em
24 de abril de 1945, em assembleia geral, na presença de Santa
Santidade, foi levantada a questã o se: dada a aprovação do martírio e a
causa do martírio e dispensa de milagres, pode-se proceder a solene
beati icação do Venerável.
A esta dú vida, os Cardeais, os Prelados O iciais e os Padres
Consultores deram unanimemente o seu consentimento. Mas o Sumo
Pontı́ ice, querendo implorar maior abundâ ncia de luz do Espı́rito
Divino, adiou sua sentença suprema para 21 de maio de 1945. Nesse
dia, tendo o Cardeal Ponente convocado a causa, o Promotor Geral e o
Secretá rio, ofereceu ao Divino Sacri icou com a devoçã o habitual e
inalmente decretou que era possível, ou seja, sem qualquer hesitaçã o,
proceder à beati icaçã o da Venerá vel Maria Goretti.

A " glória" de Bernini

Em 27 de abril de 1947, na imensa Bası́lica de Sã o Pedro, ocorreu a


solene beati icaçã o, cuja memó ria estará sempre viva por
circunstâ ncias excepcionais, como a presença da Mã e do Má rtir.
A a luê ncia de ié is foi maior do que se pode imaginar. In initas ilas
de moças vestidas de branco faziam-nos pensar numa milagrosa
loraçã o de lı́rios, que dava ao espetá culo um tom de pura alegria. As
arquibancadas e corredores estavam todos lotados de pessoas de todas
as classes que, apesar de se verem pela primeira vez, sentiram a
necessidade de trocar suas impressõ es, expressar seu entusiasmo,
relatar os episó dios que de alguma forma lembravam a Santa Donzela.
De repente, houve um ú nico grito imenso:
"A mã e! A mamã e! ». Em uma cadeira de rodas empurrada por
vá rias pessoas estava Assunta, a Mã e do Bem-aventurado. Vestida de
preto, com um vé u sobre a cabeça branca, ela cobriu o rosto com as
mã os enquanto passava pela multidã o delirante, que mal foi contida
pela polı́cia.
E realmente verdade que Deus exalta os humildes. Nunca tinha
acontecido que a mã e de algum Beato assistisse à glori icaçã o de seu
ilho por Sã o Pedro. Essa honra, que nã o havia sido concedida a rainhas
ou senhoras ricas, era reservada ao humilde camponê s de Presagna.
A leitura do decreto de beati icaçã o foi ouvida com vivo interesse,
mas com o coraçã o suspenso e os olhos ixos na "gló ria" de Bernini,
esperando o momento em que cairia o vé u que escondia a venerada
imagem.
E aqui está ela, ela aparece câ ndida e bela, coroada de rosas, no
meio dos Anjos, carregando um lı́rio e uma palma como cetro real.
Maria, a menininha analfabeta, vê -se agraciada com a mesma gló ria
que poucos dias antes havia coroado Contardo Ferrini, professor
universitá rio, profundo estudioso e brilhante professor da ciê ncia do
direito romano.
Os caminhos da Providê ncia sã o muitos e misteriosos. Contardo
Ferrini ao longo de sua vida demonstrou que o direito, na histó ria da
humanidade, é a aplicaçã o constante de uma lei eterna dada por Deus,
na qual é o fundamento da ordem social e a certeza de um bem
universal entre todos os povos. Maria Goretti sentiu esta lei eterna em
sua necessidade intrı́nseca e fez dela a vida de sua vida com a aplicaçã o
de uma ú nica norma: a Vontade de Deus a todo custo.
O estudioso considerava a ciê ncia "um passo para se elevar até
Deus" (Discurso de SS Pio XII de 15 de abril de 1947); a menina inculta
ixou sua alma em Deus: de Deus ela aprendeu a doutrina que é a
sabedoria da vida, e é força heró ica.
O grande mestre derramou as riquezas da ciê ncia do direito
ensinando e escrevendo; Em sua curta vida Marietta derramou os
tesouros da alma que buscava somente a Deus, e em silê ncio, na
clandestinidade, na aceitaçã o cotidiana da dor e do cansaço, escrevia
um poema com seu sangue, cuja harmonia se elevava no canto de
supremo martı́rio. .
A tarde, em S. Pietro, a multidã o voltou a crescer e a praça encheu-
se de ié is que icaram atrá s dos portõ es.
Os fó runs da diplomacia foram ocupados por representantes de
todas as naçõ es. Antes da chegada do Santo Padre, viram-se chegar os
venerá veis Cardeais, e entre eles, saudados com aplausos, o
Eminentı́ssimo Cardeal Gennaro Granito di Belmonte, Bispo de Ostia e
Albano, que nã o escondeu a alegria de ver o desejo dele e de seus
pessoas se cumpriram naquele dia.
A Mã e do Bem-aventurado voltou, saudada por uma ovaçã o
incessante. Ao passar, foi difı́cil conter a multidã o, que queria se reunir
ao seu redor, confusa em meio a tanta gló ria.
Finalmente as trombetas de prata soam ao fundo do templo sagrado
e o Santo Padre, sentado em uma cadeira de gestaçã o, passa a bê nçã o
entre seus ilhos que o saú dam agitando lenços e gritando: "Viva o
Papa!" Uma emoçã o poderosa corre entre os vá rios setores e a imensa
multidã o tem um ú nico batimento cardı́aco, um ú nico grito, um ú nico
ardor em direçã o ao "doce Cristo", Mestre da verdade, Supremo Pastor,
Defensor de seu rebanho mı́stico e da Cidade Eterna. Scaglino ainda, de
sua escuridã o, raios envenenaram os inimigos da Igreja: as portas do
inferno nã o poderã o obscurecer a autoridade divina do Sucessor de
Pedro, reprimir a comovente veneraçã o que toda alma de Cristo deseja
manifestar espontaneamente ao Pai universal.
Sua Santidade desce da cadeira de gestaçã o e ajoelha-se diante da
imagem da Virgem Santı́ssima, a estrela mais resplandecente do seu
Ponti icado.
O rito sagrado é curto e termina com a Bê nçã o Eucarı́stica.
A Mã e do Má rtir, apoiada por sua famı́lia, aproxima-se do Santo
Padre com seus ilhos e netos. Um dos irmã os Goretti apresenta um
buquê simbó lico de lores brancas e vermelhas, enquanto o Padre
Postulador e o Advogado da Causa oferecem a relı́quia do novo Beato.
O Sumo Pontı́ ice presta particular atençã o à velha Assunta e
comovido, põ e as mã os veneradas sobre os cabelos grisalhos da
sortuda, dirigindo-lhe algumas palavras, que ela nã o conseguiu repetir,
mas disse para guardá -las no coraçã o.
E o assassino? Ela rezou longe no jardim solitá rio, entre as lores
que ele cultiva para ela. A imaginaçã o de alguns já o viu em S. Pietro
desconhecido na multidã o, mas nada é verdade.
Alexandre teria gostado de participar da cerimô nia solene, mas a
Providê ncia nã o permitiu.

Triunfo sobre o Celio

A Má rtir inicia sua marcha triunfal, que avança em gló ria crescente,
sempre colhendo novas vitó rias.
Vai a todas as almas, acende o amor a Jesus e a força intré pida nos
coraçõ es puros, desperta a contriçã o humilde nas consciê ncias
obscurecidas pela culpa, inspira os pais a uma sé ria consciê ncia da sua
missã o educativa, infunde em todos um ardor mais vivo da oraçã o, uma
vontade nova procurando um perdido e nunca encontrado bem entre as
alegrias da terra.
Quando ocorreu a beati icaçã o, o venerado corpo de Maria estava
em Roma desde 1943. I Pes. Os passionistas, no inı́cio da imensa guerra,
pensaram em guardar as preciosas relı́quias e, tendo obtido a
permissã o da autoridade eclesiá stica, em silê ncio, levaram-nas a Roma
na Bası́lica de SS. Giovanni e Paolo, no Generalato. Permaneceram
escondidos até o dia da glori icaçã o, e entã o, compostos em uma
magnı́ ica urna de cristal, foram expostos à devoçã o dos ié is.
A lembrança do que aconteceu naqueles dias no silencioso Celio é
comovente.
A via di S. Paulo della Croce e a subida de Clivo di Scauro, quase
sempre solitá ria, foram atravessadas por grandes grupos de pessoas e
carros, enquanto a Bası́lica estava lotada do amanhecer ao anoitecer e o
PP. Os passionistas suportaram com alegria o esforço de ordenar a
a luê ncia dos ié is, ouvir con issõ es e distribuir o Pã o Eucarı́stico.
Sem tré gua, a multidã o passava diante do caixã o, derramando
lá grimas sinceras, rezando com fé viva, pedindo graças ansiadas no
fundo do coraçã o.
Famı́lias inteiras acorreram e os pais levantaram os ilhos nos
braços para que pudessem ver a pequena santa e nunca esquecer sua
franqueza. As crianças choraram de ternura pelo fervor com que
pararam para admirar a Má rtir, de mã os dadas e olhando para os seus
olhos claros e pensativos... A pequena Maria atrai particularmente os
pequeninos... Uma mulher simples do povo contou que seu pequeno de
cerca de cinco anos, assim que entrou na Bası́lica, soltou a mã o da mã e
e correu para a frente. Por um momento temeu perdê -lo, mas,
aproximando-se da balaustrada, viu-o ajoelhado diante da imagem do
Beato, com as mã ozinhas levantadas para ela... Que conversas
misteriosas entre Maria e almas inocentes!
Entã o os jovens, e em grande nú mero estudantes das escolas de
Roma, pararam para contemplar a pura Vı́tima, sacri icada pela turva
paixã o juvenil: confusa diante da fortaleza de uma menina fraca, com a
dor de sua misé ria, humilhada, sentiu a precisam puri icar a alma com o
Sacramento da Penitê ncia e revigorar com o Pã o dos fortes.
Tanta juventude pretendia reparar da melhor maneira o ato nefasto
do assassino e exaltar a beleza de uma vida pura, que na fé defende a
dignidade humana.
Nos dias do trı́duo solene celebrado em honra do novo Beato, a
Bası́lica nã o podia conter a multidã o que vinha venerar a Filha e prestar
homenagem à Mã e que assistiu à celebraçã o no primeiro dia.
Pensava-se que depois do trı́duo haveria algum descanso, mas a
multidã o continuou a se alternar até 15 de maio, dia da Ascensã o, já
destinada a transportar o Beato de Roma a Netuno.
A a irmaçã o unâ nime de fé e devoçã o ao Má rtir pode ser
considerada um novo milagre. O maravilhoso triunfo da virtude e da fé !

Viajando

A urna, colocada sobre um carrinho artisticamente adornado com


cortinas azuis e lı́rios brancos, passa entre duas alas do povo ao longo
da via S. Paolo della Croce, via Celimontana, via Labicana, via Merulana,
sob uma chuva de lores. A enorme Piazza S. Giovanni está cheia de
pessoas que entã o correm para a Via Appia Nuova. Diante da Igreja de
Todos os Santos, o Eminente Cardeal Canali abençoa o povo aclamado
com a relı́quia do Beato. E a saudaçã o de despedida. A procissã o acelera
e se afasta em direçã o a Albano... Mas a multidã o nã o se conforma com
o sequestro e segue a urna correndo por uma boa distâ ncia. Quando os
adultos sã o obrigados a parar e olhar para a doce visã o, grupos de
crianças com saltos á geis ainda a seguem.
- Fica conosco - todos repetem em seus coraçõ es... E, fugindo para
longe como se transportada por asas invisı́veis, Maria deixa naquelas
almas bons sentimentos, intençõ es de vida pura e o desejo de voltar a
venerá -la no Santuá rio, onde ela sempre estaria esperando por eles.
Ao longo do caminho, as populaçõ es das aldeias, à passagem da
urna, levantam gritos de jú bilo e invocaçõ es emocionadas, enquanto
atiram as lores dos campos a ela, que entre os campos cresceu como a
mais bela lor.
Albano, que promoveu a glori icaçã o do Má rtir, recebe-a com alegria
materna: os sinos tocam em festa, nuvens de lores caem sobre a urna,
as multidõ es apressadas pelas cidades da Diocese exultam de alegria.
Apó s um. solene trı́duo, é levado a Frascati por um dia, a Velletri por
outro e inalmente, em 21 de maio, ao pô r do sol, as sagradas relı́quias
repousam em Netuno na Casa da Divina Providê ncia, bem no quarto
onde o Má rtir viveu as ú ltimas preciosas horas de sua vida terrena,
transformada em capela pela muni icê ncia de SS Pio XII.
Será fá cil compreender a alegria do superior daquele jardim de
infâ ncia, que atribui à intercessã o de Maria se durante a guerra ele foi
salvo, quando correu o risco de cair sob os inexorá veis bombardeios. O
bom religioso chama a Má rtir de "seu ilho" e conta que, durante a
guerra, um o icial alemã o foi anunciar que voltaria com todo o
Comando, tendo destruı́do o pré dio que a abrigava. -
"Meu ilho, afaste o perigo" - repetiu em seu coraçã o profundamente
entristecido pelo destino que recairia sobre o jardim de infâ ncia, onde
tantas crianças sã o protegidas pela caridade do Papa.
O o icial logo voltou, mas sozinho: havia mudado de ideia re letindo
que o Hospı́cio era propriedade da Santa Sé .
Em 22 de maio, a Madonna delle Grazie dá as boas-vindas à ilha
que retorna coroada de gló ria imortal ao seu santuá rio.
Nos tempos antigos, os lı́deres vitoriosos passavam sob arcos de
triunfo, arrastando consigo os restos mortais dos inimigos mortos ou
vencidos carregados de correntes, condenados a de inhar na ignomı́nia
da escravidã o ... E quantos vencedores poderosos muitas vezes
sofreram o destino dos vencidos!...
També m Maria apresenta os trofé us do seu triunfo à Rainha do Cé u:
almas desviadas que encontraram a liberdade de sua consciê ncia no
caminho certo, vontades fracas que adquiriram um novo vigor, almas
ié is que se in lamam com ardor heró ico. E nã o faltam vitó rias sobre as
enfermidades dos pobres corpos corroı́dos por males incurá veis... A
Beata apresentou ao seu Senhor as oraçõ es e os sofrimentos de seus
protegidos, e Deus nada negou: parecia que estava com pressa
conceder.
Capítulo VI
PIEDOSOS!

O mê s de maio de 1947 foi repleto de favores singulares que o


Abençoado ofereceu do Cé u. Um trabalhador foi curado
instantaneamente de um grave hematoma no pé que o impedia de
andar; outro sentiu uma ú lcera estomacal que o atormentava há anos
desaparecer de repente; uma mulher se livrou de um mioma interno
com uma rapidez surpreendente.
Estas trê s curas foram seguidas de muitas outras e serviram para
justi icar o pronto pedido feito à Santa Sé para o restabelecimento da
Causa necessá ria à canonizaçã o, segundo as normas do Direito
Canô nico. Decretar a beati icaçã o, como já vimos, no caso de Maria
Goretti o Santo Padre dispensou a realizaçã o de milagres, tendo sido o
martı́rio reconhecido tã o evidente que é prova su iciente para declarar
bem-aventurada a Serva de Deus. , foi necessá ria a comprovaçã o de
pelo menos dois milagres ocorridos apó s a beati icaçã o.
A Beata Donzela continuou a "exercer uma força arcana no coraçã o
dos ié is" e foi invocada como protetora pelas almas individuais e pelas
Organizaçõ es que tinham o apostolado como objetivo particular.
Os milagres dignos de consideraçã o e a devoçã o contı́nua, aliá s cada
vez mais profunda e extensa, levaram, no mê s de junho de 1947, o Pe.
Postulador da Causa, os Eminentes Cardeais Gennaro Granito Pignatelli
de Belmonte Bispo de Ostia e Albano, Francesco Marchetti Bispo
Selvaggiani de Frascati e Vigá rio Geral de Sua Santidade para a Diocese
de Roma, Clemente Micara Bispo de Velletri, e o Reverendı́ssimo
Superior Geral dos P assionistas, Pe. Alberto dell'Addolorata, para pedir
ao Santo Padre a reintegraçã o do Motivo da Canonizaçã o.
Em 3 de agosto de 1947, SS Pio XII rati icou a decisã o da Sagrada
Congregaçã o dos Ritos a favor da " reassunção da Causa de Canonização
da Beata Maria Goretti, Virgem e Mártir ».
Um novo processo foi estabelecido no Vicariato de Roma para
veri icar a validade dos dois milagres escolhidos entre muitos: duas
curas instantâneas, uma de um grave hematoma no pé direito obtido
pelo operá rio Giuseppe Cupo; a segunda ocorreu na Sra. Anna Grossi
Musumarra, mã e de duas ilhas, livre de pleurisia exsudativa muito
avançada que debilitava severamente o organismo.
O exame dos milagres, longamente ponderado atravé s de
investigaçõ es clı́nicas por uma comissã o de oito mé dicos e abundantes
relatos de testemunhas oculares, deu os resultados esperados. Pode-se
a irmar com certeza irrefutá vel que os dois milagres propostos para a
aprovaçã o da Igreja pareciam ter ocorrido apenas pela concorrê ncia de
uma causa que está fora das possibilidades naturais. As duas curas
aconteceram repentinamente enquanto, de acordo com o que
aconteceria naturalmente para alcançar a cura, teria levado um longo
perı́odo de tempo em ambos os casos. Veri icado que uma causa natural
nã o pode ser aduzida para explicar os dois fatos, deve-se concluir que
uma força sobrenatural interveio, cuja origem só poderia proceder da
onipotê ncia de Deus. curso dos fatos naturais. , nos casos por ele
desejados, sem destruir as leis que ele mesmo impô s à natureza. No
milagre ica evidente a obra sá bia e onipotente de Deus e a con irmaçã o
de que Ele é o Mestre da natureza e das leis que a ordenam.
O racionalismo sem fé , como o materialismo ateu, tenta explicar o
milagre de vá rias maneiras, parando particularmente em dar valor à
histeria, auto-sugestã o e habilidades mediú nicas. Acrescentaremos que
fatos maravilhosos també m podem ocorrer por intervençã o diabó lica:
bastaria perceber as circunstâ ncias em que ocorrem e das pessoas que
se declaram capazes de fazer maravilhas por sua pró pria virtude com o
pretexto de serem investidas de um espı́rito que Envolve-os em
misté rio e que nã o é Deus.O orgulho deles també m os coloca contra a
Igreja, que, no entanto, tem a luz necessá ria para peneirar e julgar com
a infalibilidade que lhe foi conferida por Deus atravé s de seu Divino
Fundador.
O milagre, realizado por intercessã o dos santos invocados pelos
homens, serve apenas para demonstrar que Deus opera neles para
validar suas virtudes heró icas - antes de tudo a humildade - animadas
pela fé e pela caridade que constantemente os uniram a Ele. a Igreja
encontra a razã o fundamental para propor aos santos que imitem os
ié is, que encontram neles um guia seguro para formar um mundo
melhor e estender o Reino de Cristo.
Os santos sã o amigos ié is de Deus, e os homens podem pedir-lhes
ajuda e proteçã o com con iança: todos eles pertencem ao Corpo Mı́stico,
do qual Cristo é a Cabeça, e gozam da mesma vida divina.
Enquanto esperava pela canonizaçã o, Maria esbanjava seus favores
intercedendo junto a Deus, enquanto a fé nela se espalhava cada vez
mais.
Em julho de 1947, em Nettuno, por iniciativa dos Pes. Passionistas,
na Igreja onde repousam os ossos do Má rtir, foi instituı́da a "Pia Uniã o
das Goretinas" com estandartes e insı́gnias com a efı́gie da Santa.
As Associaçõ es femininas de Açã o Cató lica que, desde o momento
em que ocorreu a preciosa morte da Má rtir, a veneraram e iniciaram as
prá ticas de glori icaçã o, continuaram a manter aceso o fogo da caridade
para com a Beata.
Quando o Circolo di San Pietro celebrou o cinquentená rio da
reabilitaçã o do Agro Romano, o orador Egilberto Martire comoveu-se
ao recordar a Beata que havia dado o seu sangue no Agro por uma
virtude cristã . Nessa reuniã o o P. Emı́dio Passionista apresentou o voto
de que Maria Goretti seria declarada P atrona dell'Agro, dos habitantes
e daqueles que com tanto zelo os procuravam para a elevaçã o moral e
religiosa.
Todos aplaudiram juntos em um desejo sincero e santo.
Em setembro de 1948, foi celebrado em Roma o XI Congresso
Internacional da Associaçã o para a Proteçã o dos Jovens, com a presença
de representantes de vinte e trê s paı́ses. Estes, na ordem do dia inal,
prometeram que a autoridade eclesiá stica concederia à Beata Maria
Goretti como Padroeira das jovens a serem assistidas (Osservatore
Romano de 14
outubro de 1948). Santı́ssimo Pio XII fez responder a Eminê ncia
Cardeal Micara, com um rescrito datado de 22 de outubro de 1948, que
"aceitou de boa vontade os pedidos dos Diretores da Associaçã o
Cató lica Internacional".
Na cidade de Latina, que está no centro das aprazı́veis aldeias
construı́das nos desolados bairros do Agro, foi erigida uma paró quia
dedicada ao Má rtir, que exerce de modo particular uma in luê ncia
bené ica sobre as almas dos bons paroquianos que , unidos ao seu
zeloso pá roco, nã o deixam de comemorar todos os anos a morte
gloriosa do seu Protetor com uma solenidade digna de admiraçã o e com
comovente devoçã o.
També m em Roma, alé m da pequena capela que ostenta uma
imagem artı́stica de Maria Goretti no Santuá rio da Scala Santa, foi
erigida uma populosa paró quia com seu tı́tulo.
Pode-se dizer que a Pequena Má rtir já é conhecida em todo o
mundo e sua gló ria resplandece, trazendo por toda parte o doce
perfume da virtude e o generoso ardor da luta que nã o conhece a
derrota.
No Registro dos Santos

Apó s a aprovaçã o dos milagres, só restava proceder à canonizaçã o


do Beato, e de fato foi decretada pelo Santo Padre. Na noite de 17 de
maio de 1949, a Rá dio Vaticano anunciou que a gloriosa jornada da
Pura Vı́tima, que seria de initivamente chamada de "Santa Maria
Goretti", terminaria no Ano Santo.
Todos os ié is esperavam o Ano Santo com alegria cristã , que é
esperança de perdã o e abundâ ncia de graça.
Roma, a grande Mã e, abriu os seus braços imensos e acolheu os
peregrinos nas suas grandes bası́licas e no templo maior onde está
sentado Pedro com a sua suprema dignidade que lhe foi conferida por
Cristo, que queria dele a continuaçã o da sua obra redentora com o
magisté rio realizado por a palavra e o exemplo.
O grande Papa Pio XII nã o se cansou de receber seus ilhos que
a luı́am de todo o mundo sedentos de verdade, necessitados de
refrigé rio espiritual, doçura paterna, paz sincera.
Falava a todos com coraçã o de pai, com a lı́ngua e com a alma de
cada um dos ilhos, tentando fazer-se entender, por vezes jovial com
uma simplicidade amá vel que escondia a sua austeridade.
E todos em Roma encontraram a serena alegria do espı́rito, todos
rezaram nas ruas e nas igrejas, cantaram em grupos como fazem os
Anjos do Cé u.
O Santo Padre decretou a canonizaçã o dos Beatos no Ano Santo,
querendo proporcionar ao maior nú mero possı́vel de ié is a alegria
esperada há anos, sempre poucos se considerarmos com que alacridade
foram conduzidos os trabalhos processuais e rituais. Lá
"Criança" tocou e exortou aqueles que tinham que implementar as
leis canô nicas.
Tinha sido sabiamente designado 24 de junho, mê s consagrado ao
Amor divino, no dia que comemora o nascimento do Precursor de Jesus,
que pode ser considerado o primeiro Má rtir e defensor da pureza dos
costumes.
A presença de ié is em Roma de todas as partes do mundo fez com
que a Bası́lica de Sã o Pedro fosse reconhecida como incapaz de conter o
nú mero esperado para a solenidade da celebraçã o. Considerou-se,
portanto, necessá rio dividir a cerimô nia de canonizaçã o em dois dias:
na tarde de sá bado, 2 de junho, o decreto de canonizaçã o seria lido na
Praça de Sã o Pedro para permitir que o maior nú mero possı́vel de ié is
assistisse à cerimô nia solene, e o No dia seguinte o Santo Padre teria
celebrado a Missa que, segundo o rito habitual, é celebrada no mesmo
dia apó s a leitura do Decreto.
Assim, o trono papal foi erguido em frente à fachada da Bası́lica do
Vaticano, de onde se projetam as duas alas da colunata, como que para
abraçar a imensa multidã o, que entretanto avançava ao longo de toda a
Via della Conciliazione, amontoada até o Tibre.
Estava quente aquele pô r-do-sol claro que dourava a cú pula de
Michelangelo e espalhava um novo esplendor com seus raios ı́gneos e
luminosos.
Por horas a praça já estava lotada e houve uma longa pausa em pé
enquanto esperava, quando a sesta é desejada por todos.
Os terraços reservados à s Autoridades e ao Corpo Diplomá tico
també m estavam lotados e na primeira ila podia-se ver o Presidente da
Repú blica Italiana, Luigi Einaudi, com representantes de todos os
paı́ses.
Sem queixas dos mais desfavorecidos e dos mais cansados; todos
foram exaltados pelo maravilhoso espetá culo oferecido pela fé
triunfante e pela sensibilidade marcada por tudo o que é bom e santo,
que se manifesta em momentos particulares do fundo dos coraçõ es.
Pode-se a irmar com grande consolaçã o que os valores morais e
sobrenaturais, que tê m acolhimento conveniente na natureza humana,
foram tidos em devida conta por um nú mero imponente de pessoas: o
materialismo ateu foi novamente derrotado em contraste com a fé
"acostumada a triunfos" .
Todos os olhos estavam voltados para a parte de onde o Santo Padre
apareceria... Ele inalmente chegou na cadeira gestacional, cercado por
Bispos, Arcebispos e Cardeais, que, juntamente com o Sucessor de Sã o
Pedro, formam a Igreja Instrutora, que guia e governa a Igreja aprendiz,
formando com ela a Igreja militante, que aqui trava santas batalhas
contra o mal para o triunfo do bem.
O que aprendemos do Catecismo é vivido nestas circunstâ ncias
singulares: realmente sentimos que participamos da unidade da Igreja
de Cristo, que tem sua pró pria hierarquia e suas distinçõ es necessá rias.
Nó s, ié is batizados, sentimos que pertencemos à Igreja aprendiz e que
somos obrigados a respeitar os ensinamentos da Igreja docente, que
com sua doutrina e poder de ordem nos dispensa os bens à disposiçã o
da Igreja Universal composta pelas trê s Igrejas: o Militante, o Purgativo
e o Triunfante.
Enquanto o Pontı́ ice passava sobre a multidã o, no esplendor das
vestes litú rgicas, com um sorriso iluminado por uma clara
espiritualidade, uma poderosa aclamaçã o de jú bilo e devoçã o ilial se
espalhava pelo ar ardente e correu para anunciar a boa notı́cia ao
mundo inteiro, a convidar a terra a juntar-se ao jú bilo, no momento em
que foi decretada a inscriçã o da Pequena Vı́tima no registo celeste dos
cordeiros brancos que seguem o Cordeiro imaculado.
Quando o Santo Padre tomou assento no trono, o silê ncio que
costuma preceder momentos de excepcional solenidade estendeu-se
para aquela interminá vel maré de pessoas: uma ansiedade que era
oraçã o e emoçã o, que se exprimia em lá grimas e sorrisos, um ardor
mı́stico que fazia esquecer todas as misé rias da terra. A imensa praça
parecia um magnı́ ico templo, coberto pelos abismos do cé u, dominado
pela presença do "Doce Cristo na terra", onde, como uma ú nica alma
ardendo de fé e caridade, palpitavam milhares e milhares de almas
vindas de distritos diferentes e distantes, que falavam lı́nguas muito
diferentes e, no entanto, recebiam a mesma alegria. Nesses momentos
você vive a catolicidade da Igreja, sente profundamente um amor
imenso, um impulso in inito que o faz chamar o irmã o negro
desconhecido de seu irmã o, porque sente que Cristo e sua pró pria fé
vivem nele. Os santos, de qualquer cor que sejam, pertencem a toda a
humanidade. A Pura Vı́tima do Agro Romano esteve no coraçã o de
todos os representantes dos povos da terra, presentes em Roma para
receber os bens espirituais do Ano Santo e testemunhar a glori icaçã o
de uma virtude que nenhum homem pode ignorar e que é a defesa da
dignidade.
O Santo Padre abençoou ao passar de braços abertos, seu gesto
habitual que despertou um entusiasmo irreprimı́vel.
A leitura do Decreto de Canonizaçã o foi seguida de silê ncio
religioso. As palavras foram pronunciadas pelo Sumo Pontı́ ice em voz
clara, com entonaçã o ené rgica, com entusiasmo juvenil: «Para honra e
gló ria da Santı́ssima Trindade Individual, para exaltar a fé cató lica e
aumentar a religiã o cristã ; com a autoridade de Nosso Senhor Jesus
Cristo, dos Beatos Pedro e Paulo e Nosso; depois de madura deliberaçã o
e repetidamente implorado por ajuda divina, ouvido o parecer de
nossos Venerá veis Irmã os Cardeais da Santa Igreja Romana, Patriarcas,
Arcebispos e Bispos presentes em Roma, decretamos e de inimos que o
A Beata Maria Goretti, Virgem e Mártir, é santa e nós a inserimos no
Registro dos Santos, ordenando que sua memó ria seja lembrada com
devoçã o piedosa pela Igreja Universal todos os anos, no dia de seu
nascimento, ou seja, em 6 de julho . Em nome do Pai, do Filho e do
Espı́rito Santo».
Papai Noel! A mais alta de iniçã o que pode ser merecidamente dada
à alma cristã que alcançou a mais ı́ntima amizade com Deus, atravé s do
amor constante, uma longa prá tica de virtudes heroicamente aceitas,
um total desapego de tudo o que é interesse terreno. Santo é de fato
aquele que vive só de Deus, só para Deus, só com Deus, e assim se pode
viver sem vã s ostentaçã o, aliá s com simplicidade que tem algo de
extraordiná rio e surpreendente, como se viu no virtuoso e heró ico vida
de Mariazinha, vivida como santa, sem que ningué m a chamasse assim
até o momento do martı́rio. A santidade autê ntica só pode ser
reconhecida apó s o julgamento infalı́vel da Igreja, que é responsá vel por
de ini-la e decretar.
No entanto, é bom esclarecer que os Santos anunciados
publicamente pela Igreja nã o sã o os ú nicos Amigos de Deus: muitas
almas - e entre estas podem estar també m as dos nossos entes queridos
-
embora nã o sejam o icialmente sinalizados, pela misericó rdia
divina també m sã o chamados à felicidade eterna e a receber a
recompensa de sua idelidade a Deus.
De todos os que assistiram à cerimó nia, uma pessoa foi a mais
emocionada e a mais santa orgulhosa: a mã e da Santa, que també m
pô de assistir à canonizaçã o da ilha. Encostada a uma janela dos
Palá cios do Vaticano, cercada por pessoas que tremiam por seu coraçã o
fraco, Mamma Assunta era objeto de atençã o especial e era chamada
por todos: «Mã e de sorte!».
No domingo seguinte, 25 de junho, o Santo Padre celebrou a Missa
ritual na Bası́lica de Sã o Pedro, seguindo o decreto de canonizaçã o, e
bem se pode imaginar com que solenidade e com que alegria por parte
daqueles que, devotos do Pequeno Santo, viu o triunfo Dela, que
apareceu na tela "vestida da cor da chama viva", com a palma da vitó ria,
entre os lı́rios brancos

Em Santa Maria degli Angeli

Roma ainda podia venerar o corpo do Má rtir que foi trazido por
Netuno, remontado em uma urna magnı́ ica e vestido com um vestido
branco.
Na Bası́lica de SS. Giovanni e Paolo foi celebrada uma oitava solene,
apó s a qual a urna foi transportada para a Igreja de S. Maria degli Angeli
pelas principais ruas da cidade.
A monumental igreja foi destino de inú meras peregrinaçõ es
durante seis dias, mas teve que ser retirada para agradar os ié is de
Albano, Velletri, Frascati que queriam conservá -la para expressar sua
alegria e celebrar o esperado triunfo.
Finalmente, a Madonna em Nettuno o recebeu, onde os Pes. Os
passionistas prepararam para ela uma capela muito decente, na qual
descansará para sempre e dispensará seus sorrisos com seus favores.
Depois de cinquenta anos
Cinquenta anos logo se passaram desde o glorioso martı́rio, e em
1952 um novo triunfo foi celebrado em Netuno com excepcional
solenidade.
Mas as celebraçõ es externas nã o sã o su icientes para exaltar as
virtudes essencialmente cristã s em seu valor intrı́nseco: devemos
honrar nelas o amor sobrenatural que as informa e a vontade de imitar
ielmente o Má rtir Redentor, que com seu Sangue Purı́ssimo selou a
verdade de sua doutrina e a força divina de seu exemplo.
O entusiasmo pela Santa nã o para e torna-se cada vez mais fecundo
de trabalhos.
A velha cabana, onde a Vı́tima Pura foi sacri icada, foi reorganizada
como no momento em que o sacrifı́cio foi consumado: a cozinha com a
grande lareira, o quarto onde a Santa dormia, o quarto do assassino e o
local onde ela foi morta a tiros. , reconhecı́vel por uma placa colocada
no chã o depois que o pobre Alessandro, que foi à Siderurgia a convite
do Padre Postulador, apontou para ele, prostrado de dor e
arrependimento, relembrando os detalhes da tragé dia daquele
longı́nquo pô r do sol sangrento.
A pequena casa vizinha, entã o habitada pelos bons cô njuges
Allegrini, tornou-se um centro de educaçã o com jardim de infâ ncia e
escola de trabalho para as meninas do distrito.
Em Nettuno, o Santuá rio, apó s a construçã o da capela onde repousa
o venerado corpo da Santa, foi ampliado e restaurado para adquirir
uma aparê ncia imponente e poder acolher numerosas romarias. As
obras foram abençoadas e inauguradas no primeiro dé cimo aniversá rio
da Canonizaçã o, em setembro de 1960.
Uma cerimó nia muito sugestiva teve lugar ao pô r-do-sol, em frente
ao mar sereno e sob o cé u avermelhado pelo sol poente... Altas
personalidades religiosas e civis e um povo emocionado prestaram uma
terna e afetuosa homenagem à quela que ensina a morrer para para
alcançar a verdadeira vida.
Capítulo VII
A SABEDORIA DOS HUMILDES
A santidade é fruto da preparação
A esta altura convé m observar que a santidade nã o é efeito de uma
iluminaçã o divina gratuita, sem a cooperaçã o daquele que por ela é
enriquecido. Para uma jovem, portanto, que aceita um martı́rio
angustiante com a irme vontade de nã o violar a lei de Deus, deve-se
pensar que a escolha do sacrifı́cio é consequê ncia de uma preparaçã o
espiritual que, pensada com cuidado, pode nos oferecer ensinamentos
de inestimá vel valor.
Há dois fundamentos para esta fecunda preparaçã o: a educação
familiar, que dispõ e Maria a aceitar o sacrifı́cio de si mesma, e a
correspondência ao dons divinos, como poder concluir que Deus
trabalhou nela e foi seu ú nico guia.
(Decreto de introduçã o à Causa de Beati icaçã o).
A famı́lia que prepara os ilhos para a santidade só pode ser santa,
fundada na verdade, na boa vontade e no amor que germina no
sacrifı́cio.
E dever dos pais dar à famı́lia, em primeiro lugar, o cará ter de paz,
que é ordem, fundamento da tranquilidade, da con iança mú tua, da
idelidade incorruptı́vel.
Seu cuidado constante é manter irmes os vı́nculos de sua uniã o
para que seus ilhos vivam em um ambiente sereno que favoreça o
aprimoramento moral de todos. Mas a ordem moral deve ser integrada
pela vida sobrenatural: só entã o a pessoa humana está completa,
quando com a Graça já está pronta para alcançar o Fim sobrenatural
para o qual está destinada.
Hoje, infelizmente, a famı́lia está em grave perigo: há quem a queira
romper no seu fundamento moral e envenená -la nas suas raı́zes,
separando-a de Deus e negando a santidade e a indissolubilidade do
matrimó nio, que é uma instituiçã o divina.
Entre os inimigos da instituiçã o familiar estã o aqueles que invocam
o divó rcio a pretexto de resolver casos infelizes, que, se formos analisá -
los pela raiz, sã o provocados pelos pró prios que deles se tornam
vı́timas. Na base de tais casos está a desordem moral, em uma das
partes ou em ambas, e é sempre a cegueira egoı́sta, que esquece os
outros, que vem arrebatar o pai ou a mã e dos ilhos pobres, que se
vê em entã o disputados entre o pai e a mã e, sem poder entender qual
dos dois os ama.
Em todo o caso, invocam a paz, com a irme vontade de separar,
aqueles que um dia juraram amor e idelidade mú tua. A paz, ao
contrá rio, nã o divide, nã o desintegra, nã o desintegra: é harmonia, uniã o
ordenada de seres que estã o juntos para cumprir uma missã o, com
senso de responsabilidade, pró prio de uma consciê ncia ordenada a
uma im que eleva o homem a uma dignidade muito elevada.
Quando falta uma concepçã o exata da vida, vive-se sem perceber o
que se faz, nã o se compreende que se renuncia à pró pria dignidade,
invocando os direitos da natureza que se rebelam contra a razã o, os
direitos do coraçã o dissolvidos pelo regime da liberdade vontade, que é
a escolha da lei que protege o bem. Quando negamos a lei moral que é a
defesa da dignidade humana - nunca é demais repeti-la - vamos
vagando em busca de entendimento na tentativa de silenciar a voz da
consciê ncia; deixa-se a pá tria para buscar proteçã o de leis estrangeiras;
a tentativa de aliviar os problemas que derivam do desconforto da
consciê ncia depende de ganhos fá ceis.
Sã o tantas as misé rias que comprometem a ordem e a integridade
da famı́lia, e nã o se pode deixar de tentar novamente o perigoso
trabalho de uma imprensa pouco esclarecida que traz à tona crô nicas
inapropriadas e con issõ es desavergonhadas que apresentam, sob a
forma de ordiná rio, autê ntico fatos crimes sociais.
A educaçã o familiar, como foi considerado, encontra o seu papel
principal no exemplo e nos ensinamentos dos pais, mas cabe aos ilhos
aplicá -los e integrá -los à sua boa vontade. Há casos felizes em que os
ilhos guardam na alma as pegadas profundas deixadas pelos pais; ao
contrá rio, há resultados infelizes quando as crianças esquecem a
preparaçã o saudá vel recebida no ambiente familiar e, apesar de terem
aprendido o bem, preferem o mal.
Para validar essas verdades será ú til considerar como os pais e o
santo se comportaram para alcançar a gló ria.

Educação familiar

Maria “é fruto maduro do lar, onde rezamos, onde os ilhos sã o
educados no temor de Deus, na obediê ncia aos pais, no amor da
verdade, da veracidade e da ilicitude; onde desde a infâ ncia se
acostumam a contentar-se com pouco, a ser ú teis muito rapidamente
em casa e na fazenda, onde as condiçõ es de vida e a aura religiosa que
os cerca cooperam poderosamente para torná -los um com Cristo e
crescer em sua graça " . (Discurso de SS Pio XII de 28-4-1947). Estas
palavras, que partem da Cá tedra infalı́vel, resumem as tarefas e os
deveres da famı́lia cristã , onde nada se perde e tudo se constró i
e icazmente quando os pais conhecem a obrigaçã o de dar aos ilhos
uma educaçã o que forme o homem "como deve ser e como ele deve se
comportar nesta vida terrena para alcançar o im sublime para o qual
foi criado". (Enc. De SS Pio XI: "Divini Illius Magistri").
Os pais de Maria ensinaram como a famı́lia cristã pode dar ilhos
santos. Dois camponeses explicaram, de forma prá tica e com clareza
esclarecida, um tratado educativo de e icá cia incompará vel, que vai
alé m das doutrinas pedagó gicas inspiradas nas ideologias humanas,
esté reis porque carecem do motivo sobrenatural que eleva o homem a
Deus. os problemas educativos mais importantes que sã o conturbados
na vida familiar e que nos fazem perguntar antes de tudo: como se
forma na famı́lia uma aura que preserva o homem do mal e eleva a
dignidade humana? que relaçõ es sã o necessá rias entre pais e ilhos e,
consequentemente, qual é a concepçã o exata de autoridade e
liberdade? que ritmo deve ter a vida familiar para nã o perturbar sua
harmonia?

Fundação sobrenatural da família


Luigi e Assunta Goretti souberam dar um tom sobrenatural à vida
familiar. Deus era o verdadeiro Senhor da casa: cada coraçã o era um
altar onde ardia o amor e a generosa submissã o à vontade divina.
A iel observâ ncia da lei de Deus é o fundamento da famı́lia cristã ,
cujos pais sã o ensinados pelos pais mais pelo exemplo do que pelas
palavras.
Luigi era o bom pai de uma famı́lia que conhecia o trabalho e o lar,
que buscava alegrias no santuá rio domé stico, longe das distraçõ es do
mau gosto, como a taverna e as companhias nocivas; que morreu má rtir
do seu dever, consciente da sua responsabilidade paterna e do seu
sacrifı́cio.
Assunta foi a mulher forte e sá bia que desenhou as iguras bı́blicas
de Rebeca e Rute, amantes e trabalhadoras. Foi mestra com o que sabia
das palavras, mas o seu ensino, fundado na simplicidade e na verdade,
com o exemplo e a pronta correçã o, teve uma e icá cia segura. Poucos e
essenciais princı́pios foram a base de sua atividade educativa: crer na
presença de Deus, que també m conhece nossos pensamentos; sempre
faça o que Deus quer e teme fazer o que Lhe desagrada; sempre orando,
ou falando com Deus oferecendo-lhe o melhor que podemos fazer. Este
é o caminho mais seguro para dar uma razã o sobrenatural a todas as
nossas açõ es e tornar cada vez mais fecunda em nó s a graça que Deus
generosamente concede quando encontra a alma abandonada nele.
Neste ponto convé m observar o contraste com tantas famı́lias, nas
quais os pais, esquecidos de Deus e de sua Lei, sob o ouropel do amor e
do respeito à liberdade, dã o a vida aos ilhos sem levar em conta que
sã o almas ... ser guardado mais do que corpos a serem criados. Deixam-
se livres para escolher o mal sobre o bem, procuram poupá -los de
qualquer sacrifı́cio, tratam-se de modo a fazer desaparecer a
autoridade paterna, que deve ser levantada aos olhos dos ilhos como
um guia necessá rio e seguro proteçã o. Essa educaçã o, mal
fundamentada nem mesmo no amor natural, prepara para seus pais
ilhos ingratos e rebeldes, incapazes de respeitá -los, prontos apenas
para afastá -los, de qualquer forma, de sua vida.
A obediência é a base da ordem

Assunta era respeitada pelos ilhos que a amavam e lhe obedeciam:


soubera dar justo valor à sua autoridade e à liberdade dos ilhos,
dispondo-os à obediê ncia. Embora fosse uma velha octogená ria, de suas
olheiras afundadas mostrava as pupilas que paravam em um olhar
orgulhoso, sinal de uma vontade in lexı́vel, que contrastava com a
atitude de uma humilde camponesa.
Maria obedeceu perfeitamente a sua mã e, e essa submissã o dela a
preparou para obedecer a Deus até a morte.
Quando os pais nã o renunciam à sua autoridade para manter o
respeito da lei divina nos ilhos, sua obediê ncia é orientada para um im
sobrenatural e, portanto, nã o motivada por interesses egoı́stas ou pelo
medo servil do castigo.
Doutrinas tolas, querendo atribuir um valor absoluto à pessoa
humana, admitem que a criança deve ser deixada livre para agir
espontaneamente, livre de qualquer restriçã o, acreditando
erroneamente que ela seja capaz de operar com retidã o para uma
atividade intrı́nseca que pertence ao sujeito individual e é
incontrolá vel. Assim se admitiria no homem uma bondade inata que o
tornaria infalı́vel. Isso nã o é verdade, como mostra a experiê ncia e
como a doutrina cató lica nos ensina sobre as consequê ncias do pecado
original. Nã o esqueçamos o orgulho inauspicioso de tantos que,
acreditando-se super-homens, esmagaram a si mesmos e a povos
inteiros em ruı́nas.
Por outro lado, é necessá rio um controle contı́nuo de nossa
consciê ncia, que precisa de um ponto de referê ncia, capaz de ordenar a
vida: para os jovens será a vontade dos pais e superiores, que sã o
responsá veis por acompanhar com paciê ncia e moderaçã o, respeitando
a livre autonomia da personalidade; para os grandes será a observâ ncia
de uma lei universal que defende a dignidade humana, e esta é a lei
divina.
No homem que busca a paz interior, seu verdadeiro bem, é
inevitá vel um drama ı́ntimo, uma luta entre a "lei perversa", a triste
herança de uma natureza decaı́da, e a lei eterna, esculpida por Deus na
alma. E é pró prio do homem exercer seu domı́nio sobre as paixõ es com
o livre arbı́trio da norma que o separa das misé rias da terra e o torna
um verdadeiro senhor de si mesmo e do que o cerca.
Na educaçã o, a obediê ncia se obté m pelo exercı́cio da vontade, que
deve conformar-se a uma vontade superior livremente escolhida.
Obedecer, portanto, é fazer uso da liberdade de que dispõ e a pessoa
humana. O objeto da escolha depende entã o da autoridade que
comanda: Deus ou Sataná s, o bem que eleva ou o mal que prostra.

Liberdade

Hoje se fala demais em liberdade, mas poucos entendem o


verdadeiro signi icado desta palavra.
Para aqueles que carecem de formaçã o moral e social, a liberdade é
entendida como a atividade espontâ nea da natureza que se desenvolve
sem controle, como uma a irmaçã o instintiva da personalidade que
olha apenas para si mesma, o que justi ica a prevalê ncia das paixõ es e
torna o indivı́duo incapaz de viver. em conformidade com uma
necessidade profundamente humana, que caminha para a perfeiçã o.
Livre é o homem que sabe o que é e o que deve ser, que reconhece
em si mesmo uma Lei universal e eterna, impressa por Deus em cada
alma e revelada pelo Divino Mestre. Entã o Ele disse: "Se você s
permanecerem na minha palavra, você s serã o verdadeiramente meus
discı́pulos e conhecerã o a Verdade, e a Verdade os libertará ". (Sã o Joã o
IX-31-32). Quem possui a Verdade exerce verdadeiro domı́nio sobre si
mesmo, sobre as paixõ es e ciladas do mal. A verdadeira liberdade é ,
portanto, reconhecer o mal e ter força para superá -lo, escolhendo o
bem para traduzi-lo em açã o.
Na prá tica do bem, o ato livre é o resultado de uma visã o clara, por
parte do intelecto, da meta a que tende e, sobretudo, de uma escolha
vitoriosa por parte da vontade. O homem trabalha contra o bem,
quando sua vontade nã o exerce uma reaçã o pronta e ené rgica ao
ı́mpeto das paixõ es e se perde no abismo do mal, merecendo as
consequê ncias das açõ es pelas quais é responsá vel. Com efeito, ao
escolher o mal, renunciou à sua dignidade de ser inteligente, deixando
prevalecer os impulsos da natureza inconsciente. Nã o é raro que,
embora o intelecto reconheça o bem e o aprecie, nã o saiba praticá -lo
devido à iné rcia da vontade incapaz de lutar contra o mal, nã o tendo
sido exercitada por uma sá bia educaçã o e constante amor ao bem,
nutrido pela verdade divina.
Maria Goretti, para alcançar a vitó ria com a escolha do martı́rio,
uma escolha perfeitamente livre e, portanto, meritó ria, teve que lutar
contra si mesma muitas vezes: nã o se deve acreditar que ela nã o sentiu
os estı́mulos da fraqueza humana. Como já pudemos observar ao segui-
la em sua vida de trabalho e sacrifı́cio, ela teve que exercer
continuamente sua vontade, sustentada pela fé , viva e ativa.
No Fanciulla e no jovem Serenelli há duas maneiras de aplicar a
liberdade que cada um tem como poder de escolha. Maria escolhe a lei
suprema e morre vitoriosa; Serenelli opta pela "lei perversa" e recorre
ao ferro, com o auxı́lio da força bruta, mas continua derrotado,
decepcionado e humilhado. Infelizmente é verdade: o direito do mal é
fraco, sabe que nã o pode se impor à razã o alheia e usa a violê ncia; a
força do direito sacrossanto que está em cada consciê ncia e é uma
norma divina traduzida em vida, impõ e-se com sacrifı́cio, e vence,
triunfa e dispersa a pró pria causa do mal.

Vida agitada na família

E agora, depois de ter considerado o fundamento sobrenatural da


famı́lia, depois de ter demonstrado como a obediê ncia é a norma
constante nas relaçõ es entre pais e ilhos, nã o deixemos de destacar o
ritmo de vida na famı́lia Goretti.
De fato, todos, grandes e pequenos, trabalham por sua parte: vemos
na humilde casa do Agro Romano uma colmé ia laboriosa, onde o
trabalho dá a alegria de viver, onde a renú ncia ao bem-estar
momentâ neo obté m bens mais só lidos e duradouros.
O trabalho, ordenado para um im bom, é escola de virtude e
sacrifı́cio: a pequena Maria, sempre ativa nas mais variadas ocupaçõ es,
demonstra-nos isso admiravelmente.
Este treinamento també m é apropriado para muitas mã es de
nossos dias que nã o deixam suas ilhas trabalharem e lhes
proporcionam lazer e prazeres que nem sempre sã o bené icos.
Nã o consideram tolamente que assim preparam pobres iludidos,
que, encontrando-se entã o diante da dura realidade da vida, nã o
poderã o cumprir os deveres e suportar os sofrimentos que a mulher,
esposa e mã e nã o podem evitar.

Correspondente aos dons divinos – Graça

No entanto, a educaçã o nã o é su iciente, apesar de ser um fator de


primordial importâ ncia. O que é dado pelos meios educativos serve
para estimular a vontade, que, no entanto, necessita de uma força
superior à natureza humana, que a mantenha constante na luta pelo im
muito elevado, totalmente sobrenatural, ao qual Deus elevou o homem.
Esta força é a graça santi icante, que consiste na participaçã o da vida
divina que o pró prio Deus infunde na alma humana, elevando-a da
ordem natural à ordem sobrenatural.
A graça, que reveste a alma e a torna fecunda, atende pelo nome de
graça atual, pois move as potê ncias espirituais, o intelecto e a vontade,
comunicando a cada um deles forças e virtudes adequadas, que sã o o
princı́pio das boas obras.
Há homens que nã o sabem que possuem este dom inestimá vel de
Deus, que se multiplica em muitos outros dons, que o homem pode usar
para fazer o bem. E tê m o mesmo destino daqueles que, nã o se
importando em lucrar com os tesouros que possuem, acabam por
perdê -los e levar uma vida de misé ria. Vivem como se Deus nã o
existisse: seu intelecto nã o é iluminado pela Verdade, sua vontade sofre
o impacto das paixõ es e toda a alma se prostra, impotente para se
elevar a uma ordem superior, até perceber o seu verdadeiro ser e
vontade. nã o escute a voz da consciê ncia, que nã o morre e se cala,
mesmo quando você parece esquecido. Esta é a voz de Deus, que
estende os braços da sua misericó rdia e nã o nega a graça vivi icante à
alma que o procura, que está sempre pronto a dar e que lhe custa o
sangue e o sacrifı́cio do Calvá rio.
Conhecer os dons que o Criador dispensa à sua criatura é fonte de
alegria e, ao mesmo tempo, de profunda responsabilidade.
A santidade poderia ser considerada como a correspondê ncia
perfeita aos dons divinos, que devem ser conhecidos em sua essê ncia.
Se em Maria Goretti podemos admirar a fortaleza heroica, é porque em
sua vida, com o magnı́ ico desdobramento da intervençã o divina, houve
uma generosa correspondê ncia à açã o de Deus.
Efeitos da Graça

Maria aprendera com algumas noçõ es catequé ticas simples que


com o Sacramento do Batismo recebera a Graça santi icante, com a qual
sua alma, adquirida pureza e uniã o com o Senhor Eterno, recebera
també m a capacidade de fazer o bem, de praticá -lo e icazmente,
perseverar nela e inalmente alcançar a gló ria eterna.
Ele sabia que possuı́a com a Graça, a virtude da fé que faz o intelecto
participar do conhecimento divino, sentiu a certeza da Verdade que
está em Deus e em sua palavra infalı́vel, e com seu martı́rio deu
testemunho disso. A virtude da esperança, que torna a alma con iante
na vida eterna, prometida pela bondade de Deus, sempre foi sua força.
No fundo de seu coraçã o, ele havia nutrido a virtude da caridade, que
move a vontade para Deus e nã o busca nada alé m de descanso nele.
O batismo a regenerou para a vida sobrenatural, mas a Con irmaçã o
lhe deu Graça mais abundante, e os dons aumentaram. Maria, no dia de
seu Pentecostes, recebeu um novo vigor que a con irmou na luta contra
o mal. E ela nunca esqueceu que, com a unçã o do Santo Crisma, Deus a
consagrou e a destinou a lutar como soldado de Cristo.
Ela nã o falhou em suas obrigaçõ es: mediu-se na luta extrema
usando as armas que o Espı́rito Santo lhe dera, com uma adesã o
imediata, quase inconsciente.
sabedoria a ajudou a escolher a vontade de Deus, movida por um
amor que a impeliu para ele ; o intelecto nã o a fez perder de vista as
verdades sobrenaturais que, antes de morrer, ensinou ao assassino; o
Concílio a fez considerar as consequê ncias do pecado, o que ela
lembrou a Serenelli; a fortaleza permitiu -lhe remover resolutamente a
ocasiã o do pecado e manter-se iel a Deus, ao custo de sua vida; a
ciê ncia lhe deu um juı́zo exato para avaliar a inferioridade da vida
material em relaçã o à vida espiritual, fazendo-a preferir a morte do
corpo à ruı́na eterna da alma; a piedade a dispôs a oferecer-se como um
holocausto perfumado de pureza ao seu Senhor; o temor ilial de Deus
deu-lhe o constante desgosto pelo pecado, que ela queria evitar com o
tormento de seu corpo inocente.
E fá cil entender quantos cristã os, apesar de terem recebido o dom
septiforme do Espı́rito Santo, vivem como covardes, impotentes para
lutar contra o mundo e Sataná s, para se libertar das cadeias da paixã o, e
atribuem a causa de seus pecados a um fatalismo obscuro.
Ao contrá rio, essas sã o a triste consequê ncia da ignorâ ncia religiosa
e da falta desse senso de responsabilidade, que faz com que as pró prias
açõ es sejam avaliadas com exatidã o e dá um conhecimento claro do que
realmente somos e do que pertence a Deus em nó s.
Os culpados, conscientes do pró prio dano e dos outros, nã o
esperam a salvaçã o, porque nã o sabem que Jesus instituiu um meio de
elevaçã o à vida pura, o Sacramento da Penitê ncia. Maria sentiu o valor
deste dom divino e, sempre que podia, confessava-se quando ainda nã o
tinha recebido a Primeira Comunhã o.
Mostrou ter experimentado toda a doçura de um dom ainda mais
precioso: com os outros sacramentos ela recebeu a Graça, mas com a
Eucaristia ela se uniu verdadeiramente ao Autor da Graça. Poucas vezes
bastaram para provar que Jesus nã o se entregou em vã o à sua noivinha:
Maria viveu por Jesus que é vida, e soube opor-se ao pecado que é a
morte.
Os talentos
E agora uma re lexã o: Deus dá a todos os cristã os com a sua Graça
os mesmos dons que Maria teve e, quando abunda livremente em dar, é
movido sobretudo a fazê -lo em correspondê ncia com a idelidade que
está na alma por ele vivi icada.
O iel servo de que fala Jesus (Sã o Mateus - C. XXV), duplicou os
talentos que lhe foram deixados pelo seu senhor, que ao seu regresso
lhe fez uma promessa consoladora: a sua idelidade no pouco o tornou
digno de ter "autoridade sobre muito E ir e gozar na alegria de seu
senhor.
O servo que apresentou ao seu senhor o mesmo talento que havia
recebido e que havia escondido no subsolo, sentiu-se chamado de
"inı́quo e preguiçoso" e conheceu o severo castigo: "Jogue o servo inú til
nas trevas: haverá choro e ranger de dentes ".
Nã o esqueçamos o que Jesus diz novamente na pará bola lembrada:
«…a quem tem mais será dado e terá mais; mas aos que nã o tê m, até o
que parecem ter lhes será tirado”. E você realmente tem, quando leva
em conta o que tem; nã o temos, quando nã o damos valor ao que nos foi
dado e o negligenciamos com ingratidã o negligente.

Missão social

Em seu martı́rio, Maria deu testemunho da verdade e, como todos


os má rtires, lutou e se sacri icou nã o para seu pró prio benefı́cio, mas
para dar um exemplo saudá vel ao pró ximo.
Enquanto para si ele deseja apenas unir-se a Deus derramando seu
sangue, ele quer salvar almas e, com esse propó sito, unir-se no
sacrifı́cio à Vı́tima Redentor.
Agonizante, ele começa seu apostolado com seu pró prio assassino,
primeiro propondo argumentos que o distraiam do pecado, depois
declarando perdoá -lo e querê -lo ao seu lado no cé u. Junto com ele quis
salvar muitas almas, dirigindo cada um de seus ensinamentos com a
voz do sangue.
Maria teve poucas palavras em sua vida, mas eram tã o cheias de
signi icado que sugerem uma força de sı́ntese incomum, especialmente
em uma menina.
Com particular atençã o dirige-se à s jovens que hoje gostam de se
autodenominarem "modernas", e depois nã o passam de pobres vı́timas
de desordem moral, por falta de uma concepçã o sé ria e real da vida.
Com o pretexto de que as jovens de outrora, guardadas com exagerada
circunspecçã o, à s vezes caı́am por sua ingenuidade ou por uma
liberdade mal preparada, hoje se rebelam contra toda restriçã o e vã o
em busca de novas experiê ncias e novas emoçõ es, aceitando qualquer
companhia, ler ou mostrar. Sem escrú pulos e imprudentes, nã o sabem
que estã o perdendo a dignidade feminina, que toda mulher deve
defender para nã o se ver deformada em sua pró pria natureza.
Maria, que trabalhou e se consumiu, ensina aos jovens e mulheres
de nossos dias a considerar a vida como uma missã o e nã o como algo
que nã o sabemos o que fazer e que é desperdiçado de mil maneiras
tolas e vã s. E mostra suas feridas sorrindo alegremente para essas
pobres vı́timas de Sataná s que, desdenhosas do decoro e do sacrifı́cio,
amantes da aventura e da culpa, vivem sempre insatisfeitas.
Ele ensina a todos que apenas uma coisa é necessá ria: escolher
Deus como guia. Aqui se resolve o problema da vida interior que dá
valor à vida prá tica.
Quando a alma se volta ao seu Criador e Senhor com total
dedicaçã o, a Graça divina a penetra abundantemente e atua na criatura
de uma forma que surpreende. Se considerarmos entã o a pequenez da
criatura, diante das maravilhas que nela resplandecem, o pensamento
eleva-se à s in initas perfeiçõ es de Deus que costuma se esconder
enquanto opera divinamente.
A verdade irrefutá vel é que Deus se une aos humildes. O homem
precisa descer do cavalo, como Saulo, ou seja, renunciar ao orgulho,
sem medo de comprometer sua autonomia pessoal e, como Saulo, dizer:
"Senhor, o que queres que eu faça?"
Marietta, pequena mas tã o grande, de sua gló ria repete a cada um
de nó s: "Vire o arco para a vida, mas deixe o leme a Deus, e empurre
com o vento de sua vontade unido ao do Eterno Nocchiero".

CONCLUSÃO

Algué m pode observar que, sendo uma menina de apenas doze anos
e analfabeta, muito já foi escrito. Mas pode-se responder que quanto
mais simples o argumento, mais difı́cil é resumir as consideraçõ es que
vã o surgindo aos poucos: quanto mais se contempla a simplicidade
desta Donzela, mais se sente a imensidã o do In inito que operou em
você .
Marietta é uma pequena camponesa do Agro Romano, mas a Igreja
a coloca ao lado da aristocrá tica Agnese; a Catarina de Siena que
corajosamente escreveu e falou com macacos, prı́ncipes e rainhas; a
Francisco de Assis pregador da humildade e da caridade; a Domenico di
Guzman, professor da verdade; a Giovanni della Croce, um mı́stico
muito doce; ao lado das ileiras eleitas de Má rtires de todos os sé culos,
Confessores, Doutores, Apologistas e Fundadores de Ordens, que
escreveram e muito escreveram.
Quanto mais fraco o instrumento da Providê ncia, mais resplandece
a obra de Deus e, neste caso, muito teria que ser dito para exaltar as
maravilhas divinas. Nã o vemos mais a criatura pequena e limitada, mas
o Criador in inito em sua sabedoria, em seu poder, em sua bondade.
E é claro que Deus prefere os pequeninos: neles pode multiplicar
livremente os seus prodı́gios e tornar os humildes sá bios para dar
novos impulsos à s almas.
Ele, Sá bio, assim como usou Joana d'Arc para confundir os inimigos
de sua pá tria e despertar o antigo valor em seus compatriotas, usou
Maria Goretti para estabelecer a honra de sua pá tria prostrada na
ignomı́nia que nã o merecia , depois de uma guerra que trouxe a ruı́na
moral mais grave do que a devastaçã o material. Deus, que olha para a
Itá lia com particular predileçã o, nã o poderia permitir que a desgraça de
uma ofensa injusta contra as mulheres italianas se somasse ao dano da
derrota. Ordenou que, passado o terrı́vel lagelo, o Pequeno Má rtir
aparecesse triunfante no maior templo de Roma para dizer ao mundo
inteiro: «As mulheres da Itá lia també m sabem morrer para defender a
sua sinceridade!».
E as mulheres italianas devem assumir este grito vingativo para
serem exemplo de força cristã , proteçã o da famı́lia, dignidade da pá tria.
Este grito de vitó ria nã o deve deixar-se abafar por vozes
discordantes e, muito menos, extinguir-se na secura deixada pelo fogo
das paixõ es. A dignidade de um povo deve ser defendida antes de tudo
por aqueles que, por diversos meios, tê m a tarefa de guiar as almas. A
dignidade da pessoa humana deve ser respeitada e defendida dos
perigos que seduzem as almas à morte, mais do que o ferro assassino.
Reclamamos demais dos males que a ligem a humanidade: do
egoı́smo, do materialismo, da violê ncia, da subversã o dos valores
humanos; mas nã o queremos encontrar uma forma de opor a prá tica do
bem ao mal.
O Pequeno Santo nos ensinou como desarmar a violê ncia, como
defender os valores da vida.
Olhando para dentro de nó s encontramos Deus e é -nos fá cil
libertar-nos do nosso miserá vel egoı́smo: com Deus encontramos a
Verdade. Isso dissipa o vazio de dividir opiniõ es e na unidade universal
dá paz.
Se os homens estiverem conscientes da presença contı́nua de Deus
que governa, prontos a renunciar a dar aos que sofrem, ao sacrifı́cio que
oferece e puri ica, à generosidade que perdoa, obterã o a paz almejada
por todos, a consciê ncia de um senhorio que tudo coroa, boa vontade.

PARA MARIA GORETTI

O Marieta, lı́rio da pureza,


Flor câ ndida, cá lice vermelhã o,
Noiva pequena amante até a morte,
A Jesus no martı́rio consagrado,
Minha alma se prostra diante de Ti.
Grande Tu é s, tesouro da Igreja:
Como uma rainha você se levanta e sorri,
Voando alto pelos caminhos do Cé u.
De seus olhos brilhando mais que estrelas
Uma doçura sem nome derrama,
Que novo sol para o ar puro.
Do amor que vive você ensina a morrer,
E seus lá bios se derretem para falar:
"Olha - você diz para a garota vaidosa -
Com que beleza angelical eu brilho.
Eu, que rasguei deixei por ferro atroz
Meus membros frá geis, agora sou abençoado
De alegria eterna, perto do meu Senhor.
Você procura fel amargo por prazer
E acariciando o corpo você nã o tem paz...
O jovem fraco que você murcha
E você ica descolorido por desejos impuros,
Nã o diga, nã o, que a vida é assim:
Para de inhar na lama e delı́rio
Insano com paixã o envenenada.
Nã o diga que a natureza nã o pode ser vencida...
O terror da morte terrı́vel eu ganhei,
E, sob o ferro de uma mã o brutal,
Lutei, triunfando, no meu sangue extinto.
Eu era fraco, mas sabia ser forte
Por Jesus, com Jesus, meu ú nico Amor!
O jovem com culpa a lita,
Corra para aquele que dá força e paz,
Nele ela con ia e generoso desprezo
O falso ben que segue a morte eterna!"
Assim, Marietta, você fala do cé u.
Ouça este jovem cego,
Seguir-te no caminho puro e santo,
Com a palma dos má rtires, se necessá rio!
CE
Acireale, maio de 1931

ALGUMAS AVALIAÇÕES DA PRIMEIRA EDIÇÃO

Da Revista "La Civiltà Cattolica" - Quaderno 2399 - 3 de junho de


1950.
ELVIRA CACCIATO - « Maria Goretti: pura vítima». Prefá cio de SE
Rev.ma Mons. F.
Cento, Nú ncio Apostó lico na Bé lgica. Roma, Coletti, 1950.
«A bibliogra ia do Martire di Ferriere di Conca també m está em
expansã o. Tipogra icamente, esta é a produçã o mais esplê ndida até
agora, e é ricamente ilustrada com pinturas retiradas do ilme "Cielo
sulla palude". No que diz respeito à pró pria biogra ia, o A. demonstra
que conheceu e consultou bem os precedentes e os processos
canô nicos. Por outro lado, sabemos que antes de entregar o texto à
imprensa, ele o submeteu à revisã o do Postulador da causa, o que
oferece uma nova garantia da idelidade do relato e da veracidade de
alguns indı́cios doutriná rios que nele constam. . Mas sobretudo o A. faz
com que o leitor sinta que ama muito a pequena Má rtir, e lhe permite
compreender o imediatismo com que soube entendê -la e segui-la em
sua curta vida terrena e no heró ico episó dio que a pô s im. A delicadeza
com que este ú ltimo é lembrado deve ser notada.
«Ditado simples, fá cil, por vezes animado. Aqui e ali as re lexõ es
morais sã o inseridas na narraçã o dos episó dios reais, especialmente no
que diz respeito ao valor da educaçã o sobrenatural da famı́lia, a missã o
social do Má rtir e outras consideraçõ es piedosas que certamente
tornam a leitura mais fecunda, sem, no entanto, onerá -la. Uteis sã o as
pá ginas em que o A.
ilustra a santidade de Maria Goretti, nã o explodida apenas no
martı́rio, mas praticada na simplicidade e na idelidade da vida cristã ».
Do «Cotidiano» 14/09/1950
"OUTRA BIOGRAFIA DE MARIA GORETTI"
Entre as inú meras obras inspiradas na vida humilde e oculta de
Maria Goretti, a muito jovem heró ica má rtir da pureza, que aos doze
anos preferiu dar todo o seu sangue a perder a sua virtude, merece
especial destaque o estudo profundo que Elvira Cacciato soube
conduzi-lo com perfeita e rara competê ncia, con iando sua publicaçã o à
editora Coletti, que apresentou o volume em rica vestimenta
tipográ ica, adornando-o com belas ilustraçõ es de «Cielo sulla palude»,
o conhecido ilme que conheceu com grande sucesso em todos os
lugares.
O que o autor queria e sabia lidar nã o é a biogra ia usual de uma
criatura de exceçã o, favorecida por dons sobrenaturais, mas a histó ria
verdadeira e real, vivida em cada detalhe mais ı́ntimo, de uma famı́lia
simples e pobre, mas tenazmente guiados e sustentados por uma fé
inabalá vel, por uma con iança ilimitada na Providê ncia divina.
O ambiente sadio e sereno, no qual a famı́lia pobre realiza a luta
diá ria pela existê ncia, em meio à s angú stias e privaçõ es de todo tipo,
destaca-se nas comoventes pá ginas do escritor, que consegue destacar
as prerrogativas essenciais: em primeiro lugar, a obediê ncia
incondicional da pequena Maria, que aprendeu a sacri icar sua vontade,
submetendo-se facilmente a todos os desejos de seus pais, e dando
exemplos contı́nuos de trabalho incessante e abnegaçã o generosa.
Nesta escola de coragem e renú ncia, a menina deve se preparar
para as lutas muito mais amargas que a aguardam e que ela enfrentará
com coragem e heroı́smo muito alé m de sua idade.
Habituada a deixar o que poderia agradá -la, a conceder esse prazer
aos outros, a pequena Maria se desprenderá cada vez mais das coisas
vã s da terra, e na certeza da presença de Deus nunca se sentirá sozinha.
Essa intuiçã o serena das almas simples, que as faz compreender e
apreciar plenamente todo o encanto da pureza, deverá impulsioná -las
ao heroı́smo na con issã o da fé e na resistê ncia dos sofrimentos. Pureza
a todo custo! Este foi o irme propó sito de sua Primeira Comunhã o, tã o
profundamente enraizado em sua alma que a fez aceitar gentilmente o
martı́rio.
"Presente de sangue", escreve o autor; e a histó ria curta e concisa da
repentina e trá gica cena de agressã o perturba o coraçã o de quem lê as
pá ginas comoventes e desperta um sentimento de piedade e admiraçã o
ilimitada por uma criatura tã o grande na defesa de sua virtude, e ainda
mais sublime em seu exercı́cio de caridade, que faz o assassino perdoá -
los, protestando que o quer o mais rá pido possı́vel com ela no Paraı́so,
como Jesus, o bom ladrã o.
Nã o razõ es humanas, portanto, movem Maria Goretti a sacri icar
sua vida, mas a vontade inabalá vel de nã o ofender a Deus, e as ú ltimas
pá ginas do livro con irmam como sua santidade se fundamenta em uma
só lida preparaçã o espiritual que a dispõ e aos dons divinos e à imolaçã o
de todos de si mesma.
A Santa em seu martı́rio testemunhou a verdade como todos os
má rtires, ensinando que apenas uma coisa é necessá ria: escolher Deus
como guia.
ESTÁ EM
Da revista ilustrada «Il Croci isso» - março de 1950.
O autor aproxima a vida do Má rtir Goretti ao nosso tempo com
intençõ es sociais de tirar da existê ncia virtuosa e heró ica da Donzela
razã o e luz para curar as feridas de nossa é poca e preencher lacunas em
coraçõ es vazios de Deus e, portanto, incapazes de dar. heroı́smo.
A prosa é clara, persuasiva em suas aplicaçõ es e combinaçõ es.
Como resultado, Goretti parece ser uma garota quase imperiosamente
requisitada por nosso sé culo moralmente exausto.
A tipogra ia decorosa e as ilustraçõ es retiradas do ilme "O Cé u no
Pâ ntano" (embora nã o em sintonia com a severa historicidade do livro)
sugerem um bom sucesso.
Guido Stella Da «L'Italia illustrata» - Revista internacional mensal
multilingue - Ano IV, n.
5 - maio de 1950.
Elvira Cacciato: «MARIA GORETTI».
E uma obra-prima que todos devem ler. LA. com doçura inefá vel ele
apresenta a vı́tima pura.
Impresso em 10-12-1965 - Tipogra ia Mariapoli di Città Nuova
Editrice Grottaferrata (Roma)
Esboço do Documento

INDICE
Introduçã o
Prefá cio da primeira ediçã o
Capı́tulo I.
GAROTA MARAVILHOSA
Capı́tulo II
�PUREZA A TODO CUSTO�
Capı́tulo III
PRESENTE DE SANGUE
Capı́tulo IV
PODER DO MARTIRIO
Capı́tulo V
O CAMINHO GLORIOSO
Capı́tulo VI
PIEDOSOS!
Capı́tulo VII
A SABEDORIA DOS HUMILDES
CONCLUSAO
PARA MARIA GORETTI
ALGUMAS AVALIAÇOES DA PRIMEIRA EDIÇAO

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