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Ações de prevenção de úlceras de pressão e contraturas em pacientes


internados em unidade hospitalar

Article · June 2015

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8 authors, including:

Thais Gaiad Victor Hugo Bastos


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri Universidade Federal do Piauí
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Ana Paula Santos


Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
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Revista científica dos profissionais de fisioterapia
Ano 10 - Nº 2 - abr / mai / jun - 2015

O efeito da eletrolipofores
no fibroedemagelóide

Análise do desenvolvimento motor


em crianças institucionalizadas na
faixa etária de 0 a 18 meses

Estudo comparativo dos efeitos de


exercícios realizados com Nitendo® Wii
comparado a exercícios aeróbicos
convencionais no equilíbrio e risco de
quedas em idosos

Afetividade x efetividade:
fenômenos da fisioglobalização

O que as páginas de internet Ações de prevenção de úlceras de


brasileira disponibilizam sobre pressão e contraturas em pacientes
escoliose idiopática do adolescente? internados em unidade hospitalar
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

SUMÁRIO

ESPAÇO PARA FISIOTERAPIA AQUÁTICA


Atividades aquáticas na gestação....................................................................................................................................... 63
Sandra Jabur Wegner

ARTIGOS ORIGINAIS
Análise do desenvolvimento motor em crianças institucionalizadas na faixa etária de 0 a 18 meses ................................. 64
Bruna Bastos Peixe, Nacha Herinque Cunha, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia

Estudo comparativo dos efeitos de exercícios realizados com Nintendo® Wii comparado a
exercícios aeróbicos convencionais no equilíbrio e risco de quedas de idosos:
um ensaio clínico randomizado piloto ............................................................................................................................... 68
Jaqueline Magalhães Sales Pina, Michelly Carvalho dos Santos Santana, Gabriel Pereira Duarte, Mansueto Gomes Neto,
Nildo Manoel da Silva Ribeiro, Daniel Dominguez Ferraz

Afetividade x efetividade: fenômenos da fisioglobalização ................................................................................................ 72


Geraldo Magella Teixeira, Viviane de Lima Biana, Almira Alves dos Santos, Nildo Batista dos Santos, Maria Goretti Fernandes,
Marcus Aurélio Medeiros Costa, Brisa Caroline e Silva

Ações de prevenção de úlceras de pressão e contraturas em pacientes internados


em unidade hospitalar ....................................................................................................................................................... 76
Camila Cristina Silva, Emanuele Evany Carvalho de Oliveira, Jacqueline da Silva Soares, Paola Cristiane Andrade Amorim,
Thais Peixoto Gaiad Machado, Célio Marcos dos Reis Ferreira, Victor Hugo do Vale Bastos, Ana Paula Santos

O que as páginas da internet brasileira disponibilizam sobre escoliose idiopática do adolescente? ................................... 80
Felipe Rodolfo Pereira da Silva, Any Carolina Cardoso Guimarães Vasconcelos, Camila de Souza Machado,
Antônio de Pádua Rocha Nóbrega Neto, Daniel Fernando Pereira Vasconcelos

REVISÃO
A fisioterapia respiratória no pré e pós-operatório da gastroplastia................................................................................... 84
Tiago Del Antonio, Ana Carolina Ferreira Tsunoda

Intensidade do treinamento durante a reabilitação convencional para hemiparéticos


pós acidente vascular encefálico e estresse cardiorrespiratório .......................................................................................... 89
Janaine Cunha Polese, Giselle Silva e Faria, Thaianne Cavalcante Sérvio, Alexandra Farrapo de Souza, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela

Efetividade da eletroestimulação nervosatranscutânea (tens) na dismenorreia


secundária à endometriose ................................................................................................................................................ 92
Priscila Maria Martins Freitas, Leandro Gomes Barbieri

A relação entre o músculo íliopsoas e a mobilidade da coluna lombar .............................................................................. 96


Fábio Moraes, Fernanda Barbosa da Silva, Hugo Pasin Neto, Thais Botossi Scalha, Lauren Giustti Mazzei, Cristiane Rodrigues

Drenagem linfática manual e endermologia no tratamento do fibro edema gelóide ......................................................... 99


Ana Paula Pereira, Priscila Gama, Renata Puertas Ernandes, Cristiane Delgado Alves Rodrigues

Uso da eletroterapia associado a cinesioterapia no tratamento de pacientes com osteoartrite........................................ 103


Janaísa Gomes Dias Oliveira, Maísa Evangelista Sousa,Sâmia Maria Aguiar Coutinho, Sarah de Castro, Ingrid Maria Miranda Paulo

RELATO DE CASO
Cinesioterapia neuro-funcional associada à eletroterapia na reabilitação do paciente hemiplégico ................................. 108
Orlando L. C. L. A. Santos, Arthur S. Ferreira

O efeito da eletrolipoforese no fibroedemagelóide .......................................................................................................... 111


Lorena Maria Brito Neves Pereira Vilar, Rayanne Karolyne Gomes da Silva, Isabella Dantas da Silva, Gabriela Brasileiro Campos Mota

Intervenção na mecânica respiratória após acidente vascular encefálico .......................................................................... 115


Tiago Del Antonio, Joyce Karla Machado da Silva, Ana Carolina Ferreira Tsunoda, Amanda Santiago da Rocha, Mayra Paula de Oliveira Lima

NORMAS.......................................................................................................................................................................... 120

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A Revista Fisioterapia Ser é um periódico Técnico-científico sobre fisioterapia, registrado no International Standard Se-
rial Number (ISSN), sob o código 1809-3469, com distribuição trimestral no Brasil e na América Latina. É uma publicação di-
rigida a fisioterapeutas, professores, pesquisadores, acadêmicos de fisioterapia, empresários e demais instituições da área.

CONSELHO CIENTÍFICO
Alessandro dos Santos Pin (UFAM - Coari/AM) Júlio Guilherme Silva (UNISUAM - Rio de Janeiro)
Anke Bergmann (UNISUAM - Rio de Janeiro) Luís Guilherme Barbosa (UNEC - Minas Gerais)
Aureliano da Silva Guedes (UFPA - Belém/PA) Maria Goretti Fernandes (UNICAP - Recife/PE)
Beatriz Helena de S. Brandão (HSE - Rio de Janeiro) Mário Bernardo Filho (UERJ - Rio de Janeiro)
Dean Azeredo Rodrigues de Oliveira (UEMG - MG) Mário Oliveira Lima (UNIVAP - São Paulo)
Diego B. Colugnati (UFPI - Parnaíba/PI) Nadja de Souza Ferreira (UERJ - Rio de Janeiro)
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Fernanda Luisi (UFCSPA - RS) Sérgio Nogueira Nemer (HCN - Niterói/RJ)
Geraldo Magella Teixeira (UNCISAL - Maceió/AL) Vasco Pinheiro Diógenes Bastos (CUEC/FIC - Fortaleza/CE)
Jones Eduardo Agne (UFSM - Rio Grande do Sul) Victor Hugo do Vale Bastos (UFPI - Parnaíba/PI)

ASSESSORES
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Alexsander Evangelista Roberto (Rio de Janeiro - RJ) Leandro Azeredo (Rio de Janeiro - RJ)
Blair José Rosa Filho (UNIVERSO - Niterói/RJ) Ludmila Bonelli Cruz (UNIVERSO - Minas Gerais)
Fábio dos Santos Borges (UNESA - Rio de Janeiro) Marcelo Zaharur (FG - Guarulhos/SP)
Fábio Marcelo Teixeira de Souza (FRASCE - Rio de Janeiro) Marcos Antônio Orsini Neves (ESEHA - Rio de Janeiro)
Fernando Zanela da Silva Arêas (UFAM - AM) Maurício de Sant’ Anna Junior (UFRJ - Rio de Janeiro)
Geraldo Magela Cardoso Filho (UNITRI - MG) Nílton Petrone Vilardi Jr. (Rio de Janeiro - RJ)
Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB - Rio de Janeiro) Palmiro Torrieri (Rio de Janeiro - RJ)
Hélio Santos Pio (Rio de Janeiro - RJ) Odir de Souza Carmo (Rio de Janeiro - RJ)
Henrique Baumgarth (ABCROCH - Rio de Janeiro) Renato Campos Freire Júnior (UFAM - AM)
Jefferson Braga Caldeira (UNIGRANRIO - Rio de Janeiro) Rodrigo Cappato de Araújo (UPE - Pernambuco)
José da Rocha Cunha (UNESA - Rio de Janeiro) Rogério Eduardo Tacani (SÃO CAMILO - São Paulo)
José Tadeu Madeira de Oliveira (UNIG - Rio de Janeiro) Wagner Teixeira dos Santos (UGF - Rio de Janeiro)
Karla Maria Pereira Baraúna (Uberlândia - MG) Wellington Pinheiro de Oliveira (CESUPA - PA)

Esta revista é indexada pela CAPES com média QUALIS


B4 em Engenharia III, Interdisciplinar, Medicina II, Edu-
cação e Saúde Coletiva.

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Espaço para Fisioterapia Aquática

Atividades aquáticas na gestação

A gravidez é um estado fisiológico que acarreta algumas modificações importantes no comportamento


psicológico e no corpo, conseqüência de uma preparação para formar e receber um novo ser.
Alterações no sistema cárdio – respiratório,volume sanguíneo, diminuição da resistência vascular perifé-
rica, são comuns durante a gestação, causando modificações no metabolismo basal, na resistência à insulina e
na lipólise, provocando retenção de líquido e edemas.
Durante esse período é recomendável que a gestante pratique atividades físicas compatíveis com seu estado,
exercitando-se num meio sem impacto e que favoreça o equilíbrio a percepção deste novo esquema corporal.
A água é o meio mais propicio à gestação. Submerso, o peso corporal pode ser reduzido em até 100 %.A
pressão hidrostática que o corpo humano sofre nessa situação atua como meias elásticas, com intensidade
diretamente proporcional à profundidade que este se encontra, facilitando a circulação de retorno, diminuindo
edemas e massageando a circulação linfática. A resistência da água fortalece a musculatura de todo o corpo, e
a temperatura (em piscinas aquecidas) auxilia no relaxamento.
Após a liberação do ginecologista, que normalmente ocorre no terceiro mês de gestação, a futura mamãe
está apta a iniciar atividades aquáticas, tais como hidroginástica, natação, hidroterapia e relaxamento aquático
(Watsu e Ai Chi).
A atividade física mais popular ente as grávidas é a hidroginástica especializada para gestante, ou, sim-
plesmente, hidrogestante. Esta atividade coordena a respiração com todos os movimentos, auxiliando a circu-
lação sanguínea. Todos os deslocamentos são feitos sem impacto, mantendo estável a freqüência cardíaca e
aumentando a capacidade pulmonar, combinando estes exercícios específicos para o fortalecimento da mus-
culatura abdominal e pélvica, além de membros superiores e inferiores. No último mês, é possível treinar
exercícios respiratórios pré-natais, focando a respiração diafragmática, específicos para a hora do parto.
Existem situações especiais que cabem ao médico assistente orientar a paciente, em conjugação
com hidroterapêuta.
Durante a gestação a mulher fica mais sensível, mais feminina, mais suscetível aos acontecimentos e
mais expostas a mudanças repentinas de humor, por isso é muito importante realizar atividades que envolvam
respiração e relaxamento.
O profissional que trabalhar com as gestantes deve dar apoio emocional, além do técnico.

Sandra Jabur Wegner


Coordenadora-geral da Hidrovida

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Artigo Original

Análise do desenvolvimento motor em crianças


institucionalizadas na faixa etária de 0 a 18 meses

Analysis of motor development


in institutionalized children aged 0-18 months.

Bruna Bastos Peixe1, Nacha Herinque Cunha2, Guilherme Pertinni de Morais Gouveia3.

1. Fisioterapeuta, especialista em saúde pública Resumo


pela UECE.
2. Fisioterapeuta, docente da FANOR.
Introdução: O desenvolvimento motor infantil é um processo de aquisições
3. Fisioterapeuta, docente da UFPI, doutorando importantes no primeiro ano de vida, cujo comportamento motor está relacionado
em Cirurgia pela UFC. com a idade, tanto na postura quando no movimento do indivíduo que adquirem
habilidades locomotoras: primeiro rolando, depois rastejando, engatinhando e an-
dando com o apoio até alcançar o marco da locomoção independente. Uma boa
Endereço para correspondência: Guilherme parte das crianças institucionalizadas em abrigo e creches pode apresentar um atra-
Pertinni de Morais Gouveia – Av. São Sebastião, so no desenvolvimento motor. Metodologia: Estudo de abordagem quantitativa,
2819 – Parnaíba-PI – Fone: (86) 9993-9674 do tipo transversal de natureza observacional e descritivo com todas as crianças de
E-mail: guilherme_pertinni@ufpi.edu.br.
ambos os sexos que residem no Abrigo Tia Júlia, na faixa etária de 0 a 18 meses,
onde utilizou a Escala de Alberta Infant Motor. Resultados: A amostra foi cons-
tituída por 17 lactentes. Não havendo um predomínio no sexo e existindo uma
Recebido para publicação em 21/12/2014 e acei- prevalência da faixa etária de 41,17% em lactentes de 6-12 meses. Constatou-se
to em 11/03/2015, após revisão.
que 70,80% dos lactentes são abandonados por motivos de negligência e situação
de risco, com isso, dez lactentes 58,82% apresentam alteração no desempenho
motor, segundo a Escala de AIMS. Conclusão: Os resultados demonstram que o
ambiente e os estímulos corretos são fatores determinantes para o desenvolvimen-
to motor de uma criança.
Palavras-chave: desenvolvimento motor, aims, instituição

Abstract
Introduction: The infant motor development is a process of major acquisi-
tions in the first year of life, whose motor behavior is related with age, both in
posture when the movement of the individual who acquired locomotor skills: first
rolling, then crawling, crawling and walking support to reach the milestone of
independent locomotion. A good proportion of institutionalized children in shelter
and nurseries may have a delay in motor development. Methodology: A quantita-
tive approach, a cross-sectional observational and descriptive nature with all chil-
dren of both sexes residing in Shelter Aunt Julia, aged 0-18 months, when used the
Alberta Infant Motor Scale. Results: The sample consisted of 17 infants. Not with
the prevalence of sex and there is a prevalence of 41.17% of age in infants 6-12
months. It was found that 70.80% of infants are abandoned for reasons of neglect
and risk, with that ten infants 58.82% have changes in motor performance, accor-
ding to the Scale of AIMS. Conclusion: The results demonstrate that the environ-
ment and the right stimuli are crucial to the development of a child’s motor factors.
Keywords: motor development, aims, institution.

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Introdução
A política de atendimento a infância e a juventude em situa- os critérios de exclusão: crianças que apresentam disfunções
ções de abandono e maus tratos foram sofrendo transformações neuromotoras.
no Brasil. Que gradativamente, o domínio dessas políticas saiu Foi delimitado como campo de pesquisa o Abrigo Tia
das mãos da igreja, passando por instituição filantrópica e atual- Julia, localizado na Rua Guilherme Perdigão, 305. Bairro
mente sendo de responsabilidade do estado1-3. Parangaba no município de Fortaleza – Ceará. Trata-se de
No Brasil existem 20 mil crianças e adolescentes viven- uma instituição governamental, especializada no acolhimen-
do em 589 abrigos na faixa etária de 0 a 18 anos, sua maioria to de criança de 0 a 7 anos de idade, que foram abandonadas
meninos afrodescendentes, que residem em instituições com e/ou negligenciadas pela família.
aproximação a uma estrutura residencial, segundo o levanta- O estudo foi realizado no mês de outubro de 2009.
mento nacional de abrigos para crianças e adolescentes IPEA Foram analisados todos os prontuários das crianças ins-
2,5,6. Por essas instituições apresentarem um número maior titucionalizadas, com uma idade máxima de 18 meses. Após
de abrigados, as crianças de alto risco, assim consideradas, essa análise as crianças serão encaminhadas para o ambula-
podem demonstrar uma alteração no desenvolvimento físico, tório de fisioterapia da própria instituição.
psico e social. A examinadora utilizará a Escala de Alberta Infant Mo-
O desenvolvimento motor infantil é um processo de tor, mais conhecida por AIMS, onde são avaliadas as habili-
aquisições importantes no primeiro ano de vida, cujo com- dades motoras grosseiras em quatro posições: em prono, em
portamento motor está relacionado com a idade tanto na supino, sentada e de pé, com uma duração de aproximada-
postura quanto no movimento do indivíduo e que adquirem mente 30 minutos.
habilidades locomotoras: primeiro rolando, depois se ras- Foi respeitado o anonimato de todos os indivíduos que partici-
tejando, engatinhando e andando com apoio até alcançar o parem da pesquisa, e de acordo com os critérios éticos, a direção da
marco da locomoção independente 3-6. instituição assinará um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Acreditava-se que as mudanças no comportamento motor (TCLE), assumindo a liberação das crianças de participar da pes-
refletiam diretamente nas alterações maturacionais do sistema quisa, assim como seu total esclarecimento e sigilo. A pesquisa não
nervoso central. Hoje, porém, sabe-se que o processo de de- proporcionará nenhum prejuízo de ordem material ou emocional aos
senvolvimento ocorre de maneira dinâmica e é suscetível a ser seus participantes.
moldado a partir de inúmeros estímulos externos4, 9,13. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesqui-
O ideal seria que todas as crianças recebessem o estímu- sa (COMEPE) do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto
lo de seus pais na primeira infância que inclui o período do Studart Gomes, atendendo aos requisitos do Conselho Na-
nascimento até a criança ser capaz de ficar em pé e andar, por cional de Saúde – Ministério da Saúde, de acordo com a re-
perceberem que esses estímulos ajudam as crianças a ganhar solução 196/96 que obteve aprovação com protocolo 653/09.
novas aquisições no tempo cronológico de cada idade10,11.
No entanto, esta condição é prejudicada entre crian- Resultados
ças abrigadas em instituições no Brasil, uma vez que não No presente estudo, não se constatou prevalência do
recebem incentivos adequados das atendentes. Os estímu- sexo, onde 9 crianças (52,95%) eram do sexo masculino e 8
los necessários são apresentados por: falar com bebê, ler, crianças (47,05%) do sexo feminino (gráfico 1).
cantar para ele, olhar, acariciar, tocar, abraçar, ouvir músi-
ca, brincar, alimentar, orientar, colocar para dormir, dar-lhe Gráfico 1: Análise percentual por sexo.
aconchego, atenção, cuidados e proporcionar um ambiente
agradável. Por isso, uma boa parte das crianças instituciona-
lizadas em abrigos e creches pode apresentar um atraso no
desenvolvimento motor 15-18.
Esse estudo tem relevância a medida que a identificação
do índice de crianças institucionalizadas com atraso no de-
senvolvimento motor, poderá suscitar uma discussão em re-
lação a atenção dirigida a estas crianças. Então, para verificar
a existência de um atraso no desenvolvimento motor, será
utilizada a escala motora infantil de Alberta (AIMS – Alberta
Infantil Motor Scale) que oferece a possibilidade de detectar,
o mais cedo possível, qualquer desvio anormal, permitindo
assim uma intervenção precoce para minimizar e/ou evitar
possíveis sequelas 14,20.

Metodologia Quanto à variável do diagnóstico social, os dados obti-


Estudo de abordagem quantitativa, do tipo transversal de veram o mesmo resultado em situação de risco com 6 lac-
natureza observacional e descritivo. Adotados como critérios tentes (35,29%) e negligência com 6 lactentes (35,29%) e o
de inclusão: todas as crianças de ambos os sexos que resi- abandono com 5 lactentes (29,41%), esses motivos são co-
dem no abrigo, com faixa etária entre 0 a 18 meses. Dentre muns aos relatados em outras pesquisas (gráfico 2).

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Gráfico 2: Análise percentual por diagnóstico social. Discussão


Observa-se na análise percentual por sexo, no gráfico 1,
condiz com a literatura, pois os dados obtidos constataram
com os estudos realizados no perfil das crianças instituciona-
lizadas, ser a maioria do sexo masculino 7, 27.
De acordo, com o Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada (IPEA), onde realizou uma pesquisa nacional dos abri-
gos no ano de 2003, constataram-se cerca de 20 mil crianças
e adolescentes abrigados, apresentando maior percentual do
sexo masculino (58,5%) 2.
No gráfico 02, na análise percentual por diagnóstico
social corrobora com IPEA (2004), essas situações são fre-
quentes e têm servido como justificativa para longa perma-
nência de crianças, em instituições abertas ou fechadas, a
Quanto à variável da classificação da escala de AIMS, exemplo dos abrigos, orfanatos, internatos e hospitais. Sendo
obtivemos a prevalência da indicação de tratamento em 8 lac- a negligência, situação social mais predominante encontrada
tentes (47,05%), em seguida por desenvolvimento adequado a nessa pesquisa.
idade em 7 lactentes (41,17%) e por fim o acompanhamento Estudo relata que as crianças as quais vivenciaram ne-
representado por 2 lactentes (11,76%) (gráfico 3). gligência ou situação de risco podem apresentar problemas
psicológicos, neuroevolutivos, desordens no processo senso-
Gráfico 3: Análise percentual da classificação segundo a es- rial e entre outros. No Brasil não há dados fidedignos, apenas
cala AIMS. registros de serviços isolados ou de núcleos de atendimento
que estão longe de espelhar a realidade atual do país 30.
Segundo uma pesquisa, o motivo principal para a colo-
cação da criança em uma instituição é a negligência dos pais,
seguida de abandono, agressão física e atestado de pobreza,
por alguns pais relatarem que não tem condições de sustentar
seu(s) filho(s) 7.
Os indivíduos que durante a infância passam pela condi-
ção de “criança institucionalizada”, encontram dificuldades
em se adapta à vida social fora das instituições e torna-se
adultos que podem apresentar problemas, o que relata 10,32.
No gráfico 03, refere-se à variável da classificação da
escala AIMS, onde a literatura considera que para identificar
exatamente um atraso motor através da aplicação da AIMS,
necessitaria a criança ser submetida a uma série de reava-
Quanto à variável da relação da AIMS com faixa etária, liações que seria observado possível mudanças na evolução
constatou-se que 4 lactentes de 6-12 meses (24%), 4 lactentes motora da criança, ou seja, para confirmar o atraso motor se
de 12-18 meses (24%) e 2 lactentes de 0-6 meses (12%) neces- torna necessário várias reavaliações nos principais marcos
sitam de algum tipo de intervenção. Enquanto, que 4 lactentes do desenvolvimento 12,14,20.
de 0-6 meses (24%) e 3 lactentes de 6-12 meses (18%) estão Segundo pesquisas, o déficit motor da população estu-
com o desenvolvimento adequado à idade (gráfico 4). dada pode esta relacionada com o ambiente e a falta de es-
tímulo, que nesse caso se caracteriza em um atraso motor
Gráfico 4: Análise percentual da relação AIMS com a circunstancial que é um déficit na interferência social, ou
faixa etária. seja, quando uma criança é privada de experiências motoras
e afetivas 7,25.
A avaliação do desenvolvimento motor tem lugar im-
portante na assistência preventiva de crianças normais, com
a vantagem de ser um recurso de avaliação de baixo custo,
simples aplicação e eficiente, podendo ser incorporado no
controle dos exames periódicos de saúde 13,20.
A AIMS é uma ferramenta valiosa no procedimento de
triagem, por apresentar medidas em que pode ser aplicados
em grandes populações e em situações de observação do de-
senvolvimento infantil em ambiente natural 12.
Quanto à classificação da escala AIMS indicar tratamen-
to, não necessariamente indica atraso motor, uma vez que o
desempenho motor pode apresentar períodos de estabilida-

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de, no qual poucas habilidades motoras são adquiridas. Com 6. Campos, M.C.; Pereira, J.S. Desenvolvimento neuromotor em crianças de três a
doze meses institucionalizadas e não institucionalizadas. Temas sobre o desenvol-
isso demonstra uma alta sensibilidade para detectar os lac- vimento, 15(85-86): 57-61, 2006.
tentes de risco para alterações motoras 12,14. 7. Castanho, A.A.G.; Assis, S.M.B. Caracterização do desenvolvimento motor da
criança institucionalizadas. Fisioterapia Brasil, v.5, n.6, nov./dez. 2004.
De acordo com o gráfico 04, na variável da relação 8. Cavalcante, Lília I. C.; Magalhães, Celina M.C.; Pontes, Fernando A.R. Institucio-
AIMS com a faixa etária, concorda com pesquisas que quan- nalização precoce e prolongada de crianças: discutindo aspectos decisivos para o
desenvolvimento. Aletheia, n.25, p.20-34,jan./jun. 2007.
do a privação ocorre nos primeiros seis meses de vida, os 9. Carvalho, Criatiane V.; Pelociari, Sheila B.; Andrade, Denise E. A criança institu-
prejuízos emocionais e cognitivos tendem a serem mais cionalizada: caracterização institucional para criação de programa de estimulação.
Disponível em: www.unifran.br /2007/ processoSeletivo/ pesquisa/tcc/ Cristiane_
severos, persistentes e a reparação desses déficits pode ser Volpe_de_Carvalho _e_Sheila_ Boleli_Peliciari.pdf. Acessado em: 20/05/2009.
menor. Logo que, nessa fase é onde ocorre mais intensidade 10. Rizzin, I.; Rizzin, I.. A institucionalização de crianças no Brasil: Percuso histórico
nas interações da criança com a mãe e as ferramentas que e desafios do presente. 2ª ed. Rio de Janeiro: PUC RIO. Disponível em: http://
books.google.com.br/books. Acessado em : 04/05/2009).
possibilitam o conhecimento do mundo começam a ser ex- 11. França, D.B.; Nogueira, P. C. O abrigo, o voluntariado, a informalidade e as reais
perimentadas 5,21,26,29. necessidades da criança em situação de abrigamento. Disponível em: http//:www.
manuelpoppe.com/usuários/tborges/ong/artigos/2005. Acessado em: 12/09/2009.
A privação dos cuidados maternos após o sexto mês de 12. Darrah, J.; Hodge, M.; Evans, J. M.; Kembhovi, G. Stability of serial assessments
vida traz danos ao desenvolvimento infantil, mas as conse- of motor and communication abilities in typically developing infants- implications
for screening. Early human development 72. 97-110, 2003.
quências de longo prazo podem ser superadas ou reparadas 13. Campos, D.; Santos, D.C.; Gonçalves,V.M. et al. Agreement between seales for
por vários fatores, como a qualidade do cuidado institucio- screening and diagnosis of motor development at six months. Jornal de Pediatria,
82(6):470-4, 2006, Rio de Janeiro
nal, o tempo de convivência nesse meio e entre outros 8,19,22,23. 14. Almeida, K.M.; Dutra, M.V. P; Melo, R.R. et al. Concurrent validity and reliability
Segundo a literatura, as crianças de 10 a 11 meses de of the Alberta Infant Motor Scale in premature infantis. Jornal de Pediatria, vol.
84, n. 5, 2008.
idade apresentam grande mobilidade e dinamismo na pos- 15. Meira, B.C.; Matos, R.R.; Candido, K.T. et al O desenvolvimento motor em crian-
tura sentada, podendo assumir outras posições até a postura ças de 0 a 2 anos que freqüentam creche pública em período integral. Multitemas,
n.17. p. 56-58, out./2000.
ortostática, arriscando alguns passos com base alargada, sen- 16. Flehming, Ing. Textos e atlas do desenvolvimento normal e seus desvios no lac-
do esta uma importante etapa para aquisição da marcha inde- tente: Diagnóstico e tratamento precoce do nascimento até o 18º mês. Tradução:
Samuel Arão R. São Paulo. Ed. Atheneu. 2002.
pendente, com isso demonstra no presente estudo um atraso 17. Apolônio, A.M.; Castilho, C.; Ávila, L. et al. A intervenção precoce no desenvolvi-
desenvolvimento motor nessa faixa etária 3. mento de crianças com paralisia cerebral. Interfaces da Psicologia-volume I. 2000.
18. Fundo das Nações Unidas Para Infância (UNICEF). O município e a criança de até
6 anos: direitos cumpridos, respeitados e protegidos. Brasília, 2005.
Considerações finais 19. Lois Bly, M.A. Motor skills acquisition in the first year: An Illustrated guide to
normal development. Published by therapy skill builder a division of the psycholo-
O presente estudo permite concluir, com base na escala gical corporation,. Printed in the United States of America, 1994.
Alberta Infant Motor Scale (AIMS), que 58,82% das lac- 20. Manacero, S.; Nunes, M.L. Avaliação do desempenho motor de prematuros nos
primeiros meses de vida na escala motora infantil de alberta (AIMS). Jornal de
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precoce para que se possa fornecer um suporte adequado de Rio de Janeiro, 2008.
estimulação para essas crianças. 22. Shepherd, Roberta B. Fisioterapia em pediatria. 3° ed. São Paulo: Santos, 9 – 165
p. 2002.
A partir dos dados apresentados, é de suma importância 23. Effgen, Susan K. Fisioterapia pediátrica: atendendo às necessidades das crianças.
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caracteriza-se por aquisições motoras importantes para o seu 26. Silva, P.L.; Santos, D.C.C.; Gonçalves, V.M.G. Influência de práticas maternas no
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Com isso, demonstra a necessidade de orientações para os 27. Mancini, M.C.; Teixeira, S.; Araújo, L.G. et al. Estudo do desenvolvimento da
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cional com uma maior frequência, para que essas crianças pos- 28. Rodrigues, M.F.A.; Miranda, S.M. A estimulação da criança especial em casa: en-
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67
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Artigo Original

Estudo comparativo dos efeitos


de exercícios realizados com Nintendo® Wii
comparado a exercícios aeróbicos convencionais
no equilíbrio e risco de quedas de idosos:
um ensaio clínico randomizado piloto

Comparative study of the effects of exercises


performed with Nintendo® Wii compared to conventional
aerobic exercise in balance and risk of falls in
the elderly: a randomized pilot trial.

Jaqueline Magalhães Sales Pina¹, Michelly Carvalho dos Santos Santana1,


Gabriel Pereira Duarte2, Mansueto Gomes Neto3, Nildo Manoel da Silva Ribeiro4,
Daniel Dominguez Ferraz5

1. Discente do Curso de Fisioterapia da Univer- Resumo


sidade Federal da Bahia.
2. Fisioterapeuta do Curso de Fisioterapia da
Objetivo: Comparar os efeitos de exercícios aeróbicos convencionais e com o
Universidade Federal da Bahia. videogame Nintendo® Wii (NW) sobre o equilíbrio postural e risco de quedas em
3. Docente do Curso de Fisioterapia da Uni- idosos. Metodologia: Foi realizado um ensaio clínico randomizado, cujo grupo
versidade Federal da Bahia. Doutorado em controle foi submetido a um treino aeróbico com bicicleta estacionária e o grupo
Medicina e Saúde pela Universidade Federal
da Bahia.
experimental a exercícios com o NW. Ambas intervenções foram realizadas em
4. Docente do Curso de Fisioterapia da Univer- sessões de 30 minutos, três vezes por semana, durante oito semanas. Como instru-
sidade Federal da Bahia. Mestrado em Distúr- mentos de avaliação foram utilizados a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) e Teste
bios do Desenvolvimento pela Universidade Timed Up and Go (TUG). Resultados: Ambos os grupos apresentaram melhoras
Presbiteriana Mackenzie.
5. Docente do Curso de Fisioterapia da Uni-
significativas na EEB e no TUG. Não existiram diferenças significativas entre os
versidade Federal da Bahia. Mestrado em grupos, ou seja, ambos os recursos foram igualmente eficazes. Conclusão: Tanto
Neuroreabilitação pela Universitat Autónoma os exercícios com bicicleta estacionária, quanto os realizados com os jogos do
de Barcelona. NW são opções de treino aeróbico para melhorar o equilíbrio e risco de quedas de
Endereço para correspondência: Daniel Do-
idosos sedentários.
minguez Ferraz – Instituto de Ciências da
Saúde – Universidade Federal da Bahia – Av. Palavras-chaves: idoso, jogos de vídeo, exercício, equilíbrio postural.
Reitor Miguel Calmon s/n – Vale do Canela –
CEP: 40110-100 – Salvador – Bahia –Brasil
– Fone: (71) 91282993
E-mail: danieldf@ufba.br

Recebido para publicação em 13/01/2015 e acei-


to em 15/02/2015, após revisão.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Abstract
Objective: To compare the effects of conventional aerobic exercise and the Nintendo® Wii (NW) game on postural
balance and risk of falls in the elderly. Methodology: A randomized clinical trial, whose control group underwent an ae-
robic workout with stationary bike and the experimental group received exercise conducted with the NW. Both operations
were performed in 30-minute sessions, three times per week for eight weeks. The assessment of balance and risk of falls
were assessed by Balance Scale Berg (BSE) and Test Timed Up and Go (TUG). Results: Both groups showed significant
improvements in BSB and TUG. There were no significant differences between the groups, in others words, both features
were equally effective. Conclusion: Exercises with stationary bike and those made with the NW games are aerobic workout
options to improve balance and risk of falls among sedentary elderly.
Keywords: aged, video games, exercise, postural balance.

Introdução CONSORT (Consolidated Standards of Reporting Trials)7.


Pessoas com 60 anos ou mais de idade em 2011, repre- O estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da
sentavam 12,1% da população brasileira, crescendo 0,5% Universidade Federal da Bahia, durante o primeiro semestre
em 20121. Com o envelhecimento alterações nos sistemas de 2014, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa
somatossensorial, visual e vestibular podem contribuir a um da Faculdade de Medicina da Bahia, com o protocolo núme-
feedback reduzido ou inadequado, dificultando a atuação dos ro 506.472. A pesquisa seguiu as recomendações e aspectos
centros de controle postural predispondo alterações que po- éticos da Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
dem comprometer o seu equilíbrio postural e causar sérios Os participantes da pesquisa foram divididos de forma
impactos funcionais e um maior risco de sofrer quedas2. aleatória por um investigador mascarado, através do pro-
As quedas possuem um significado de alta relevância para grama True Random Number Service em 2 grupos, sendo
o idoso, pois podem levá-lo a incapacidade funcional, injúria o Grupo Controle (G0) e o Grupo Experimental (G1). Os
e até a morte3. As consequências mais comuns das quedas são participantes receberam orientação para permanecer com
as fraturas e o medo de cair novamente, gerando maior depen- as mesmas atividades de vida normal, sem realizar nenhum
dência para a realização das atividades de vida diária3. treinamento nem esforço adicional.
Dados do Ministério da Saúde4 mostram que quedas em
idosos são frequentes. Estima-se que há uma queda em cada Amostra
três indivíduos com mais de 65 anos, sendo que um, entre vinte A amostra foi composta por idosos com idade entre 60
dos idosos que caem, necessita de internação ou sofre alguma e 80 anos, que deambulassem de forma independentes e sem
fratura4. O envelhecimento, associado as quedas ou ao medo déficit cognitivo e emocional. Todos os participantes foram
de cair, pode gerar aumento do sedentarismo e acelerar as per- esclarecidos e os que concordaram assinaram o Termo de
das funcionais no idoso5. Com um programa estruturado de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos os indi-
exercício, pode-se observar melhora na capacidade funcional, víduos com doenças neurodegenerativas e osteomioarticulares
equilíbrio, força, coordenação e velocidade de movimento, o que impossibilitassem a prática de atividade física, doenças
que favorece uma maior segurança e prevenção de quedas5. crônicas não controladas (hipertensão, diabetes mellitus, dor
Apesar dos benefícios comprovados do exercício, existe crônica), doenças cardiovasculares instáveis (insuficiência
uma baixa adesão a programas convencionais de exercício, cardíaca aguda, infarto de miocárdio recente, angina instá-
exigindo dos profissionais a busca de alternativas e uso da vel e arritmias não controladas), que apresentassem alguma
tecnologia para desenvolver intervenções que melhorem contraindicações para a realização de exercício físico segundo
a aderência dos idosos e ao mesmo tempo proporcione os os critérios do Colégio Americano de Medicina do Esporte
efeitos terapêuticos desejados. Segundo Song et al6 os jogos (CAME)8 e que tivessem participado de algum programa de
como o Wii Fit, com a plataforma de equilíbrio do Ninten- exercício físico ou reabilitação nos últimos 6 meses.
do® Wii (NW), estão sendo utilizados no tratamento reabi- Medidas e instrumentos
litador. Essa tecnologia, inicialmente pensada para propor- Foram mensurados antes de iniciar o tratamento, após 15
cionar entretenimento, pode ajudar a melhorar os níveis de minutos de intervenção e ao finalizar cada sessão a frequên-
tolerância ao esforço e o equilíbrio6. Dessa forma, o presente cia cardíaca, a pressão arterial, com um esfigmomanômetro
ensaio clínico aleatorizado foi conduzido para testar a hipó- e estetoscópio da marca Premium, e a saturação periférica de
tese de que exercícios realizados com uso do NW pode resul- oxigênio, através de um oxímetro da marca Contec. Foi uti-
tar em melhora significante quando comparado a exercícios lizada uma Ficha de Registro para coletar os dados pessoais
aeróbicos convencionais no equilíbrio postural e o risco de e antecedentes patológicos, a EEB para avaliar o equilíbrio e
quedas em idosos sedentários. o TUG para o avaliar a mobilidade e risco de queda.
A EEB avalia o equilíbrio em 14 itens. Cada item possui
Metodologia uma escala ordinal de cinco alternativas que variam de 0 a
Desenho do estudo 4 pontos, sendo a pontuação máxima, 56. Os pontos são ba-
Foi realizado um estudo experimental do tipo Ensaio seados no tempo em que uma posição pode ser mantida, na
Clínico aleatorizado, de acordo com as recomendações do distância que o membro superior é capaz de alcançar à frente

69
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

do corpo e no tempo para completar a tarefa9. O TUG consis- Tabela 1: Características demográficas e clínicas da amos-
te em cronometrar o tempo para realizar a tarefa de levantar tra. Salvador, Bahia. 2014.
(sem apoio) de uma cadeira padrão de 45 cm de altura (tendo G0 G1
como referência a altura do chão), caminhar por três metros, N= 08 N= 08
girar, voltar e sentar na mesma cadeira10 Idade 67,2 ± 5,52 70,2 ± 7,32
Foi realizada uma avaliação inicial e ao finalizar as 8 Sexo (Homens: Mulheres) 1:7 01:07:00
semanas de tratamento e cada procedimento foi realizado Índice de massa corporal (kg.m-2) 29,1 ± 5,3 29,9 ± 5,5
sempre pelo mesmo avaliador. Foram consideradas perdas Pressão arterial sistólica 128,7 ± 16,4 133,7 ± 11,9
do estudo aqueles indivíduos que não completaram as 24 Pressão arterial diastólica 77,5 ± 4,6 85,0 ± 14,1
sessões e apresentaram mais de 1 falta por semana. EEB 54,0 ± 2,07 54,0 ± 1,48
TUG 9,5 ± 1,24 10,6 ± 1,65
Programa de treinamento
O G0 realizou um programa de treinamento aeróbico Não houve diferença estatística significativa na compa-
contínuo em bicicleta ergométrica da marca ergolife® e o ração das diferenças das médias entre os grupos para todas
G1 exercícios aeróbicos com o videogame NW. Ambos pro- as variáveis estudadas. Quando comparados os valores pré e
gramas de exercício duraram 30 minutos e foram realizados pós intervenção, houve melhora estatisticamente significati-
3 vezes por semana, durante 8 semanas. va (p<0,05) para as variáveis IMC, EEB, TUG em ambos os
O grau de resistência e a velocidade da bicicleta ergo- grupos. Houve também uma redução estatisticamente signi-
métrica foram ajustados de forma individual, segundo a ficativa para a pressão arterial sistólica no G1. Os dados das
percepção de cansaço de cada paciente de acordo escala de medias pré e pós intervenção para os grupos estão descritas
Borg. Os exercícios realizados com o NW também foram re- na tabela 2.
alizados sempre adaptando à percepção de cansaço do idoso
também segundo a escala de Borg. A intensidade de ambas Tabela 2: Média das características demográficas e clínicas
intervenções foi estabelecida com valor de 12-13 pontos da dos grupos antes e após a intervenção. Salvador, Bahia. 2014.
Escala de Borg. G0 Antes Após p
Os jogos do NW utilizados foram o boxe, tênis, corrida, IMC (kg.m-2) 29.2 ± 5.3 28.8 ± 5.2 0.04
dança e bambolê. Apenas puderam realizar os protocolos de Pressão arterial sistólica 128.7 ± 16.4 118.7 ± 8.3 0.1
exercício os idosos com pressões arteriais sistólica e diastólica Pressão arterial diastólica 77.5 ± 4.6 77.5 ± 7.1 1.04
abaixo de 140 x 90mmHg, respectivamente, de acordo às re- EEB 54,0 ± 2,07 55.6 ± 1.0 0.002
comendações da Sociedade Brasileira de Hipertensão11. Além TUG 9,5 ± 1,24 6.9 ± 0.8 0.08
disso, unicamente os pacientes que fizeram uso de suas medi- G1 Antes Após p
cações anti-hipertensivas foram submetidos ao tratamento. IMC (kg.m-2) 29,9 ± 5,5 29.1 ± 5.4 0.02
Análise estatística Pressão arterial sistólica 133,7 ± 11,9 56.01 ± 10.08 0.007
Foi realizado inicialmente testes para normalidade (tes- Pressão arterial diastólica 85,0 ± 14,1 21.54 ± 13.78 0.2
te de Shapiro-Wilk) e de homogeneidade de variância para EEB 54,0 ± 1,48 55.1 ± 1.4 0.02
todas as variáveis. Como os dados não tiveram distribuição TUG 10,6 ± 1,65 7.8 ± 1.1 0.0001
normal o teste Mann-Whitney será utilizado para comparar Todos os valores estão expressos como média ± desvio padrão e valores de p.
as diferenças das médias das variáveis entre os grupos, para
comparação dos valores pré e pos-intervenção foi realizado Discussão
o teste Wilcoxon. O nível de significância estabelecido foi de Exercícios realizados com o videogame NW e em bi-
5%. A análise estatística foi realizada com o uso do software cicleta ergométrica desenvolveram melhora no equilíbrio e
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) for Win- mobilidade dos idosos sedentários.
dows (versão 20.0). A amostra analisada foi composta de idosos com media
de IMC de 29 kg.m-2 estes dados foram similares ao do estu-
Resultados do de Cruz et al 12. Estes autores apontaram uma alta preva-
Iniciaram o estudo 23 idosos, após cumprir os critérios de lência de 59% de idosos com sobrepeso e obesidade do tipo
inclusão e exclusão, porém finalizaram o estudo 16 participan- I com maior frequência em mulheres.
tes. Ocorreram 7 perdas, sendo 3 do G0 e 4 do G1. No G0, Segundo Rossi et al 13, o desequilíbrio é um dos princi-
2 idosos abandonaram o estudo, pois apresentaram dor na ar- pais fatores que limitam a vida do idoso e está associado a
ticulação do joelho e 1 idoso sofreu fratura proximal de fêmur queda. Como forma de prevenção e reabilitação Kura et al14
por queda no domicílio. No G1, 4 idosos tiveram que abando- e Berlezi et al 15 afirmam que o exercício físico permite o
nar o estudo por apresentar mais de 2 faltas por semana. fortalecimento da aptidão física, melhora o nível de indepen-
A maioria dos participantes eram mulheres, com baixo dência, a autonomia e reduz o risco de quedas. Os exercícios
nível de escolaridade e apresentavam sobrepeso e obesidade aeróbicos devem ser aplicados de acordo com o condiciona-
tipo I (62,5%). Não houveram diferenças estatísticas sig- mento físico de cada idoso16.
nificativas (p>0,05) entre os grupos para as características Os idosos que realizaram o treino aeróbico em bicicleta
demográficas e clínicas dos participantes. As características ergométrica, apresentaram melhora no equilíbrio corrobo-
demográficas e clínicas estão descritas na tabela 1. rando com os resultados encontrados por Lee e Cho17 que

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encontraram melhora no equilíbrio de idosos, submetidos em períodos mais curtos de intervenção. Foi observado in-
ao treino aeróbico em bicicleta estacionária de 20 minutos, cremento significativo na pontuação da EEB após 3 sema-
3 vezes por semana, durante 8 semanas. nas de tratamento. É possível que essa rápida resposta seja
Como modalidade alternativa para a prática de exercício resultado da especificidade dos jogos com NW utilizados no
aeróbico, jogos com realidade virtual não imersiva do NW treinamento do controle postural.
foram utilizados e apresentaram resultados positivos. Essa A pesquisa apresentou algumas limitações, destacando-
tecnologia proporciona a captação dos movimentos huma- -se, entre elas, o reduzido número da amostra, a grande perda
nos, de forma a potencializar a interação entre o usuário e amostral e o não mascaramento dos participantes que realiza-
o contexto do jogo incorporando o fato de “mover-se para vam a terapia na mesma clínica. Deve-se portanto, dar conti-
jogar”, possibilitando a realização de atividade física18. Ao nuidade às investigações sobre o tema, realizando estudos com
mesmo tempo que se exige um alto nível de atenção aos de- um maior rigor metodológico e maior tamanho de amostra.
talhes visuais, se requer a movimentação dos membros infe-
riores e superiores para alcançar os objetivos do jogo19. Conclusão
Estudos que utilizaram o NW como tratamento do equi- Os exercícios com o videogame NW pode ser uma al-
líbrio e controle postural em idosos encontraram resultados ternativa para ajudar a melhorar o equilíbrio, e consequen-
similares. Rendon et al 20 observaram melhora da capacida- temente, prevenir o risco de quedas de idosos sedentários.
de de equilíbrio dinâmico, em 40 idosos de um ensaio clínico Durante a interação com os exergames o indivíduo realiza
sem grupo controle. Rojas et al 21 também encontraram efeitos movimentos com o objetivo de responder ao estímulo cogni-
positivos sobre o equilíbrio estático e o controle postural de tivo sempre exigido pelo jogo, ao mesmo tempo que realiza
idosos. Os tratamentos variavam entre sessões de 20 a 30 mi- ajustes posturais para manter o equilíbrio corporal. Talvez,
nutos, 3 vezes por semana, durante 6 a 8 semanas. Os pacien- essas características, somadas às possíveis mudanças sobre a
tes foram avaliados pelo Teste 8 Foot Up and Go, pela Escala aptidão física proporcionada pelo exercício físico realizado,
de confiança no equilíbrio em atividades específicas (Escala sejam os responsáveis pela melhora do equilíbrio postural e
ABC)20 e através da plataforma posturográfica estática21. risco de queda do idoso.
Entretanto Brainbridge et al. 22 não observaram melhora
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aos exercícios com o NW, uma vez que as atividades com os 23. Bateni h. Changes in balance in older adults based on use of physical therapy vs the wii fit
gaming system: a preliminary study. Physiotherapy. 2012; 98(3): 211-6.
jogos não atuam de forma específica sobre a força muscular, 24. Mussato r, brandalize d, brandalize m. Nintendo wii® e seu efeito no equilíbrio e capacidade
funcional de idosos saudáveis. R. Bras. Ci. E mov. 2012; 20(2): 68-75.
característica importante na manutenção do controle postural. 25. Sposito lac, portela er, bueno efp, carvalho WRG, Silva FF, Souza RA. Experiência de trei-
namento com Nintendo Wii sobre a funcionalidade, equilíbrio e qualidade de vida de idosas.
Spositoet al. 25, Bieryla e Dold 26 encontraram melhora Motriz: rev. educ. fis. 2013;19(2): 532-540.
26. Bieryla KA e Dold NM. Feasibility of Wii Fit training to improve clinical measures of balance
no equilíbrio de idosos tratados com jogos do NW, mesmo in older adults. Clinical Interventions in Aging. 2013; 8:775-781.

71
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Artigo Original

Afetividade x efetividade:
fenômenos da fisioglobalização

Affectivity x effectiveness:
phenomena of the globalization

Geraldo Magella Teixeira1, Viviane de Lima Biana1, Almira Alves dos Santos1,
Nildo Batista dos Santos2, Maria Goretti Fernandes3, Marcus Aurélio Medeiros Costa3,
Brisa Caroline e Silva4

1. Professores da Universidade Estadual de Ci- Resumo


ências da Saúde de Alagoas (UNCISAL);
2. Professor da Universidade Federal de São
O modelo educacional de formação superior, inclusive o modelo que forma
Paulo (UNIFESP); profissionais fisioterapeutas, contém ‘grades’ curriculares que ensina a observar o
3. Professor da Faculdade Estácio-Fal de Alagoas; objeto saúde separado de seu contexto e, por conseguinte ensina a separar, frag-
4. Acadêmica de Fisioterapia do Centro Uni- mentar o Homem. Essa separação tolhe a capacidade de observar o ‘complexus’,
vesrsitário de Formiga Mg (UniforMg)
isto é, aquilo que está tecido em conjunto, e centraliza o processo saúde/doença no
doente. Esse modelo de formação disjunto apreendido, aliado ao crescente número
de faculdades de Fisioterapia no Brasil, parece exigir do Fisioterapeuta, em prol da
Endereço para correspondência: Geraldo Ma- empregabilidade, uma busca constante pela eficiência em detrimento da afetivida-
gella Teixeira – Avenida Amazonas, 29/101
– Prado – Cep 57010-060 – Maceió / AL –
de e da humanização do atendimento.
Fone: (82) 8821-0199 Palavras-chave: fisioterapia, humanização, globalização, qualificação profissional
E-mail: magellafisio@yahoo.com.br

Recebido para publicação em 20/02/2015 e acei-


Abstract
to em 13/04/2015, após revisão. The educational model of superior formation, also the model that makes phy-
siotherapists, it contains CV that teaches to observe the object “health” and sepa-
rating Health of its context and, therefore teaching to fragmentize the Man. This
separation hinders the capacity to observe ‘complexus’, they can’t see the whole
person, just by parts, so this model of observation leads to centralize the process
healthiness/sickness in the sick person. This model of formation added to the in-
creasing number of colleges of Physiotherapy in Brazil, it seems to demand of the
Physiotherapists, afraid of losing their jobs, a constant search for the efficiency in
detriment of the affectivity and humanization in the attendance.
Keywords: physiotherapy, humanization and globalization.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Introdução Como conseqüência da Fisioglobalização observa-se um


A Fisioterapia, ao longo de sua história, tem direcionado crescente grupo de adolescentes que pretendem abraçar essa
o seu foco de trabalho para as atividades curativas e/ou re- profissão e, em razão desse pungente desejo vêm crescen-
abilitadoras (Sampaio, 2002). Tal fato se deve ao surgimen- do também, ao longo dos anos, o número de Instituições de
to dessa profissão para atender as necessidades das grandes Ensino Superior (IES) que se oferecem para formar futuros
guerras mundiais. Profissionais Fisioterapeutas.
Além das grandes guerras a crise de poliomielite que Não é objetivo desse texto tecer críticas ao modelo ne-
avassalou o Brasil nas décadas de 50 a 60 desempenhou oliberal educacional e nem discorrer sobre as instituições
grande importância na perpetuação dessa profissão no País. formadoras de fisioterapeutas; o objetivo reside, à luz da hu-
De acordo com Barros (2002), a fisioterapia vem, nos manização e da transdiscpinaridade, em discutir o papel das
últimos anos, apresentando um intenso crescimento; mas, IES na formação de futuros profissionais de fisioterapia e a
parece que tal crescimento tem acontecido de forma desor- busca, por parte desses futuros profissionais, da efetividade
ganizada, e sendo assim, pode ser pernicioso; sobretudo, se em detrimento da afetividade e da humanização.
os profissionais fisioterapeutas perderem de vista o norte hu- Dessa forma é precioso entender que o espaço do ensino
manizador que dirige essa profissão. superior deve se confundir com o próprio espaço da cultura,
É preocupante a possibilidade desse estrondoso cresci- da cooperação, das experimentações, da política, da disjun-
mento des-humanizar essa profissão e, por conseguinte, os ção, da sociabilização, da liberdade; enfim: Lugar próprio de
profissionais que a fazem. É preocupante também que esse construção do saber e da educação que surge como trunfo
crescimento, aliado ao fenômeno da globalização, que se- indispensável à humanidade na sua construção dos ideais
gundo Santos (2002) são as interações e intensificações eco- de paz, liberdade e de justiça social (Delors, 2000). As IES
nômicas, sociais, políticas e culturais; que em Fisioterapia devem criar espaços para tornar mais flexível a máxima do
prefiro chamar de Fisioglobalização, faça com que os Fisio- rendimento centrado no aprendizado técnico, e individualis-
terapeutas tenham uma visão puramente capitalista e carte- ta, para ceder espaço a construção do saber pautado na sensi-
siana do corpo; visão essa que culminará, por conseguinte, bilidade e na afetividade.
na fragmentação do Homem em um ser apenas biomecânico, De acordo com Rocha (2002), para a maioria dos cursos
capacitado ou não a realizar movimentos. de fisioterapia, parece que o doente é abordado através de
Historicamente, a fisioterapia é oriunda da medicina e a aparelhos altamente sofisticados que tentam consertar par-
visão medicocêntrica e cartesiana que se tem do corpo ain- tes do corpo com protocolos fechados de exercícios físicos,
da é muito enraizada. A fisioterapia mantém este tipo de nesse sentido parece prudente que as Instituições de Ensino
pensamento até os dias atuais e parece que as universidades Superior formadoras de fisioterapeutas abram espaço para
têm forte participação na construção dessa visão; de acordo discutir saúde como envolvimento social.
com Carvalho (1999) há falhas na formação do fisioterapeuta Em seu sentido mais abrangente, a saúde não é a antítese
quando se observa a falta de preocupação com a reintegração de doença; é algo complexo e de acordo com Minayo et alli.
social do paciente, para com a preocupação mercadológica (1992) é o resultante das condições de alimentação, habita-
com o trabalho. ção, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte,
Com raras exceções, as Universidades brasileiras são emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso
qualificadas como indiferentes às preocupações da comuni- aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das
dade (Targino, 1997). formas de organização social da produção, as quais podem
As influências do pensamento cartesiano sobre o desen- gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.
volvimento da Biologia, que compara o corpo humano a uma De acordo com Galheigo (1999), a dificuldade ou o
máquina que pode ser analisada (trabalhada) peça a peça; problema de lidar com pensamento complexo se manifes-
estudadas do ponto de vista da biologia molecular e que pode ta na Universidade a partir da forma em que se organizam
limitar o papel dos profissionais da saúde em apenas intervir seus departamentos e de como estes lidam com problemas
e consertar o mecanismo enguiçado (Capra, 1992). da coletividade.
O caráter determinante do modelo de desenvolvimento
da Biologia aplica-se as demais profissões da saúde, servin- Metodologia
do também de referência para a Fisioterapia, que representa Trata-se de um estudo retrospectivo e descritivo, tendo
o objeto desse texto. como base todo o território brasileiro, com vistas a demons-
Vive-se a era da franca expansão do saber em Fisiotera- trar a evolução de aberturas de cursos de fisioterapia no Bra-
pia; constantemente a mídia televisiva e/ou escrita divulga a sil desde 1969 até os dias atuais, bem como o papel das IES
Fisioterapia, divulgação essa muitas vezes de forma equivoca- na formação de fisioterapeutas.
da e desvinculada da realidade. Num mundo globalizado essa Por se tratar de um estudo que visa apresentar e enten-
divulgação acontece de forma, assustadoramente, rápida. der, de forma crítica, o comportamento da abertura de es-
A Fisioglobalização é sem dúvida de magna importân- colas de fisioterapia ao longo da história no Brasil, o tema
cia para o desenvolvimento, reconhecimento e crescimento fora estudado mediante uma pesquisa quantitativa e quali-
da profissão, mas parece, trazer, de forma ideológica, em tativa; pois de acordo com Bauer et al. (2002) não há, por
seu bojo uma armadilha de um sistema dogmático, totalitá- meios de análises documentais, possibilidade de quantificar
rio e dicotomizador. sem qualificar.

73
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

As hipóteses surgiram a partir da franca expansão das fissionais fisioterapeutas. Já no ano de 2014 havia no Brasil,
escolas de Fisioterapia em todo o País e a possível carnava- de acordo com dados
lização dessa profissão em busca da eficiência a todo custo, Ao longo de sua história a fisioterapia tem crescido e se
como meio de garantia de empregabilidade. estabelece ainda mais no cenário nacional; mas parece que
O texto foi desenvolvido à luz da transdisciplinaridade e tal crescimento tem acontecido de forma desordenada.
humanização da saúde e pretende abrir uma discussão sobre
o exercício do profissional de fisioterapia em decorrência do Discussão
fenômeno globalização. O aumento quantitativo de várias Instituições de Ensino
A amostra foi do tipo causal simples para análises docu- Superior (IES) em Fisioterapia deve ser aliado com a pre-
mentais semi-estruturadas. ocupação na qualidade da formação e modelo educacional
ofertado aos nossos jovens, futuros fisioterapeutas.
Resultados Preocupante também é a influência ideológica da mídia
A evolução quantitativa das escolas de fisioterapia no na tomada de decisões por partes dos jovens que pretendem
brasil. Onde iremos chegar? cursar essas Faculdades. Parece que tais escolhas sofrem
No Brasil, a fisioterapia inicia-se no final do século XIX, influências de um momento histórico neoliberal, globaliza-
com a criação do serviço de Eletricidade Médica e Hidrote- dor. Não se trata de uma decisão vocacional; vocacional no
rapia na cidade do Rio de Janeiro: Casa das Duchas, como sentido sacrossanto da verne ‘vocare’, isto é chamar; que se
era conhecida (Gava, 2004). segundo Toscano (1999) refere a sensação prazerosa de ser
Porém a profissão só vai ser reconhecida em 13 de ou- chamado, de fazer parte da escolha dos escolhidos.
tubro de 1969, data que então o fisioterapeuta passa a ser O número crescente de qualquer profissional, e não é
reconhecido como profissional de nível superior. menos diferente com a fisioterapia, o efeito da globalização e
a própria necessidade e exigência do mercado fazem suscitar
Gráfico 1: Total de cursos de graduação em fisioterapia em a necessidade da emergência de profissionais reconhecidos e
relação ao ano. destacados pela efetividade, e isso se consegue com as inú-
meras especializações e avanços tecnológicos. O relato de
Santos (2001), diz que o avanço tecnológico trouxe consigo
a despersonalização da assistência, onde as pessoas são tra-
tadas mecanicamente, como se não fossem seres humanos.
A pulverização de escolas de fisioterapia no Brasil e a
tecnificação dos serviços faz com que, por um lado haja uma
divulgação da profissão, mas por outro pode favorecer a re-
dução na credibilidade devotada no profissional.
Com a tecnificação, a população confia mais na tecno-
logia, no aparelho, do que no profissional e considera como
indiscutíveis as informações fornecidas pelos equipamentos
e depreciam as avaliações pessoais do profissional. Na mes-
ma proporção em que a tecnologia cresce em importância,
decresce o prestígio profissional (Siqueira, 2002).
Segundo Casate et al. (2005), o desenvolvimento tec-
Fontes: 1. Ministério da Educação. Disponível em: http://www.capes.gov.br. [acesso
em 3 de maio 2010].
nológico vem dificultando as relações humanas, tornando-as
2. http://ruf.folha.uol.com.br/2014/rankingdecursos/fisioterapia/. [acesso em 29 de frias, objetivas, individualista e calculista.
maio 2015].
Diante de tanto crescimento e de tanta eficiência, uma
pergunta se faz indispensável. E aí Fisioterapeutas, como
De acordo com Sanches (1984), havia no Brasil, em 1969, fica a afetividade?
ano do reconhecimento da profissão, apenas seis escolas de Ela parece não ter espaço no mundo globalizado e nem
reabilitação para a formação de fisioterapeutas, entre os anos valor de mercado no modo de produção capitalista e, por-
de 1969 a 1981 houve um aumento para vinte escolas. tanto, pode ser descartada, desprezada, injuriada, ignorada,
Nos anos seguintes novos curso são abertos; Segundo esquecida e até desprezada. Esse desprezo da afetividade
Rebelatto et al. (1999), no ano de 1984 o número de cursos não é, afinal de contas, senão o desprezo pelo ser Humano,
de graduação em fisioterapia era de 22, distribuídos nos es- transformado em objeto comercial. Segundo Minayo (1992),
tados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Paraíba, Minas quando ocorre a morte da afetividade necessariamente ocor-
Gerais, Bahia, Pernambuco e Paraná. re a morte do Homem.
Em 1998, o Brasil possuía 115 cursos de fisioterapia (Fer-
raz, 1999). No ano de 2004, havia, de acordo com guia do Conclusão
estudante (2004), 279 cursos de graduação em Fisioterapia. Esse artigo não se opõe, de modo algum, à eficiência e a
Em 2005, de acordo com dados do Instituto Nacional de incessante busca pelo saber e nem ao crescimento da profis-
Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), o Brasil possui são do fisioterapeuta; opõe-se à busca pelo saber fragmenta-
376 Instituições de Ensino Superior (IES) que formam pro- do que divide e cega.

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A eficiência conseguida pelo saber científico cartesia- 2. Bauer, Martin W., Gaskel, George. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e
Som. Manual Prático. Rio de Janeiro: Vozes. 2002.
no separa, isola e fragmenta o Ser. Faz criar uma estranha 3. Boff, Leonardo. O Despertar da Águia: O Dia-bólico e o sim-bólico na construção
e perniciosa forma de saber enciclopédico e mosaiciforme, da realidade. 17a edição. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002
4. Capra, Fritjof. O Ponto de mutação. São Paulo: Cultrix. 1992.
centrado na doença. 5. Carvalho, Cecília Barros. ‘Análise do preparo do fisioterapeuta para atuar e intervir
Em seu sentido mais abrangente, a Saúde é o resultante na área de reabilitação profissional’. Salusvita, Bauru, v. 18, n.2 p. 7-23. 1999
6. Casate, Juliana Cristina e Correa, Adriana Kátia. ‘Humanização do atendimento
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem’. Revis-
meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberda- ta Latino-Americana de Enfermagem, jan./fev. , vol.13, n°.1, p.105-111. 2005
7. Delors, Jacques. Educação: Um tesouro a descobrir. 4 ed. São Paulo: Cortez. 2000
de, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É 8. Ferraz, N.M.S. Graduação em fisioterapia, p. 2. 1999. Disponível em: http://www.
assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização fisiobrasil.com.br/arquivos/graduaçao.zip>. Acesso em: janeiro de 2005
9. Galheigo, Maria Sandra. ‘A transdisciplinaridade enquanto princípio e realidade
social da produção, as quais podem gerar grandes desigual- das ações de saúde’. Revista Terapia Ocupacional Universidade São Paulo, v.10,
dades nos níveis de vida (Boff, 2002). n.2/3, mai./dez. 1999
10. Gava, Marcus Vinícius. Fisioterapia: História, reflexões e perspectivas. São Ber-
É claro que a busca pela eficiência é responsável pela nardo do Campo: UMESP. 2004
evolução de qualquer profissão, mas é necessário e urgen- 11. Guia do estudante. São Paulo: editora abril. 2004
12. INEP-Censo da Educação Superior. Disponível em: <http://www.educacaosupe-
te que a Fisioterapia evolua fazendo religações dos saberes rior.inep.gov.br/funcional/lista_cursos.asp>. Acesso em 21 de maio de 2005
que vêem o Homem na sua dimensão material, biológica, 13. Minayo, Maria Cecília de Souza. A saúde em estado de choque. Em: Minayo, Ma-
ria Cecília de Souza (org.). A Saúde em estado de choque. Rio de Janeiro, FASE/
social, cultural, espiritual e cósmica. É preciso desenvolver, Espaço e tempo, p. 128. 1992
mas sem perder a veneração, o respeito, a piedade, o amor, 14. Rebelatto, José Rubens e SILVIO, Paulo Botomé. Fisioterapia no Brasil: Funda-
mentos para uma ação preventiva e perspectivas profissionais. 2 ed. São Paulo:
a compaixão para com todos os seres, para com a vida, para Manole. 1999
com a terra e o homem. 15. Rocha, Ana Clara Bonini. ‘Elogio à ação social fisioterapêutica’. Em Barros, Fá-
bio Batalha Monteiro (org.). O fisioterapeuta na saúde da população. Rio de Janei-
Parece que é papel das Instituições de Ensino Superior ro, Fisiobrasil, pp. 163-168. 2002
ensinar a religar o saber truncado que separa o indivíduo e o 16. Sampaio, Rosana Ferreira. ‘Promoção de saúde, prevenção de doenças e incapa-
cidade: a experiência da fisioterapia/UFMG em uma unidade básica de saúde’.
isola do meio em que vive, evoluindo do binômio doença e Fisioterapia e Movimento; 15:19-23. 2002
tratamento pora saúde e prevenção. 17. Sanchez, E. L. Histórico da fisioterapia no Brasil e no mundo. Revista Atualização
Brasileira de Fisioterapia. São Paulo: Panamed, v.6, pp.111-124. 1984
Não é só com a preocupação com a eficiência que se 18. Santos, Benedita Almeida dos Santos. A percepção da parturiente frente ao parto
prepara para trabalhar com saúde; é procurando traduzir em realizado pela enfermeira obstetrícia. Monografia de especialização em Enferma-
gem Obstetrícia. Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 2001
gestos concretos o valor da pessoa humana que estaremos 19. Santos, Boaventura de Souza. Os processos da Globalização, Em: Santos, Boaven-
preparados para cuidar da vida, com humanismo e compe- tura de Souza (Org.). A globalização e as Ciências Sociais. São Paulo:
20. Cortez, pp. 25-102. 2002Siqueira, José Eduardo. ‘A arte perdida de cuidar’. Revis-
tência técnico-científica. E nesse sentido o papel das univer- ta Bioética, vol.10, n°2. pp. 89-106. 2002
sidades brasileiras é mister. 21. SIQUEIRA, José Eduardo. ‘A arte perdida de cuidar’. Revista Bioética; 10: 89-
106. 2002
22. Targino, M. G. ‘The internet and learned helplessness in man’. Journal of abnormal
psychology, 84: 530-533. 1997
Referências 23. Toscano, Geovânia da Silva. Vestibular: a escolha dos escolhidos - Um estudo
1. Barros, Fábio Batalha Monteiro. ‘Globalização em fisioterapia. O caso do mer-
sobre a UFRN. Dissertação de mestrado, Universidade Federal do Rio Grande do
cosul’. Em Barros, Fábio Batalha Monteiro (org.). O fisioterapeuta na saúde da
Norte/UFRN. Natal/RN. 1999.
população. Rio de Janeiro, Fisiobrasil, pp. 163-168. 2002

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Artigo Original

Ações de prevenção de úlceras de pressão


e contraturas em pacientes internados
em unidade hospitalar

Actions to prevent pressure ulcers


and contractures in patients admitted to hospital
Camila Cristina Silva¹, Emanuele Evany Carvalho de Oliveira¹,
Jacqueline da Silva Soares¹, Paola Cristiane Andrade Amorim¹, Thais Peixoto Gaiad Machado2,
Célio Marcos dos Reis Ferreira3, Victor Hugo do Vale Bastos4, Ana Paula Santos5
1. Acadêmicas de Fisioterapia, Universidade Resumo
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
2. Doutora em Anatomia, Professora do Depar-
Nos pacientes acamados, os efeitos do imobilismo sobre o sistema osteomus-
tamento de Fisioterapia na Universidade Fe- cular tornam-se evidentes, as contraturas e as úlceras de pressão (UP) são com-
deral dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. plicações frequentes. Com a implantação do estágio do curso de fisioterapia da
3. Doutor em Neurociências, Professor do De- UFVJM em unidade hospitalar de referência regional pode-se observar demanda
partamento de Fisioterapia do Departamento
de Fisioterapia na Universidade Federal dos
expressiva de consultas decorrentes destas complicações. Diante deste cenário, foi
Vales do Jequitinhonha e Mucuri. criado um projeto de extensão visando colaborar com os pacientes internados e
4. Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental, Profes- cuidadores através de medidas educativas. O objetivo deste trabalho é apresentar
sor do Departamento de Fisioterapia da Uni- os dados resultantes desta experiência. De maio de 2011 a maio de 2013, dados
versidade Federal do Piauí, LAMCEF, Progra-
ma de mestrado em ciências Biomédicas
referentes a gênero, idade, diagnóstico e tempo de internação foram coletados,
5. Doutora em Neurociências, Professora do pacientes e cuidadores foram questionados e orientados a respeito das contraturas
Departamento de Fisioterapia na Universi- e UP, e a presença destas foram registradas. A idade dos pacientes variou de 13
dade Federal dos Vales do Jequitinhonha e a 91 anos (60 mulheres e 76 homens). As UP foram encontradas em 29,4 % dos
Mucuri.
pacientes, sendo a mais frequente no sacro; 24,1 % apresentaram contraturas, a
mais prevalente nos tornozelos. Sessenta por cento dos cuidadores não sabiam da
Endereço para correspondência: Ana Paula existência das contraturas e UP e 85,5 % referiram nunca ter recebido orientação
Santos: Universidade Federal dos Vales do sobre as mesmas. Demonstra-se a importância da ação preventiva desde o período
Jequitinhonha e Mucuri – Rodovia MGT 367
- Km 583, nº 5000 – Alto da Jacuba-Clínica
de internação a fim de evitar o aparecimento de UP e contraturas.
Escola de Fisioterapia – Diamantina – MG – Palavras-chave: contratura, úlcera por pressão, prevenção terciária, cuidadores.
Brasil – CEP: 39100-000 – Fone: (38) 9103-
4886.
E-mail: anapaula.santos@ufvjm.edu.br
Abstract
In bedridden patients, the effects of immobilization on the musculoskeletal
system become evident, contractures and pressure ulcers (PU) are complications
frequently found. With the implementation of the traineeship of the physiotherapy
Recebido para publicação em 25/01/2015 e acei-
to em 18/04/2015, após revisão.
course of UFVJM in the regional referral hospital can observe significant demand
of consultations for these complications. In this scenario, was created an extension
project aimed at working with hospitalized patients and caregivers through educa-
tional measures. The objective of this paper is to present the data resulting from this
experience. From may 2011 to may 2013, data regarding gender, age, diagnosis and
length of stay were collected, caregivers were questioned and counseled regarding
contractures and PU, and the presence of these were recorded. The patients’ ages
ranged from 13 to 91 years (60 women and 76 men). PU were found in 29.4% of
patients, the most frequent in the sacrum; 24.1 % had contractures, the most preva-
lent in the ankles. Sixty percent of the caregivers were unaware of the existence of
contractures and PU and 85.5 % reported never having received guidance on the
same. This study demonstrates the importance of action preventive since the hospi-
talizations period in order to avoid the appearance of PU and contractures.
Keywords: contracture, pressure ulcer, tertiary prevention, caregivers.

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Introdução principalmente prevenindo agravos, almejando qualidade de


Os efeitos da imobilização são definidos como uma re- vida; e conhecer a população sob sua responsabilidade é fun-
dução na capacidade funcional de todos os sistemas e geram damental para que objetivos e condutas possam ser melhor
complicações. A prevenção de tais complicações deve ser traçados e os resultados esperados sejam alcançados3.
o princípio básico de qualquer plano de tratamento e deve Diante disso, os objetivos deste trabalho foram: verifi-
ter início precoce1. O sistema osteomuscular geralmente é o car a prevalência de contraturas e UP em pacientes acama-
mais acometido pelo imobilismo, nos pacientes acamados, dos internados em uma unidade hospitalar; o conhecimento
tornam-se evidentes: descondicionamento, hipotrofia, atrofia dos seus cuidadores sobre estas complicações; e promover
muscular, úlceras de pressão (UP), contraturas, osteoporose, ações preventivas.
osteopenia, deterioração articular, ossificação heterotópica,
osteomielite e deformidades2. As contraturas e as UP são as Metodologia
complicações frequentemente encontradas 3,4. Esse trabalho foi realizado no hospital Santa Casa de
As contraturas ocorrem quando os músculos não têm a Caridade na cidade de Diamantina – Minas Gerais, no perío-
atividade necessária para manter a integridade de suas fun- do de maio de 2011 a maio de 2013. Todos os procedimentos
ções, quando as forças musculares não estão equilibradas, realizados com os pacientes internados e seus respectivos
na presença de espasticidade, ou sob a associação destes cuidadores respeitaram as normas da resolução 466/12 do
fatores1; além de reabilitação inadequada e posicionamento Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho foi avaliado e
incorreto no leito ou na cadeira de rodas3. Pode ser definida aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (número
como a incapacidade que uma articulação tem em completar do protocolo: 049.2.070-2012) estando de acordo com as
sua amplitude de movimento normal5. Podem envolver os normas vigentes na Universidade Federal dos Vales do Je-
músculos e outros tecidos moles que circundam a articula- quitinhonha e Mucuri (UFVJM).
ção e provocam atrofia e incompetência funcional pelo desu- Pacientes internados nas clínicas médica e neurológica,
so6 podendo impedir atividade funcional7. Também podem restritos ao leito, independente do diagnóstico foram selecio-
causar dor, favorecer o aumento de UP, infecção, disfunção nados. Esta seleção foi realizada após leitura dos prontuários
cardiovascular, depressão, osteoporose, quedas, fraturas au- e inspeção do paciente. A visita foi realizada após autoriza-
mentando a necessidade de ajuda dos cuidadores8,9. ção do paciente e do cuidador. Dados referentes a gênero,
As UP são lesões cutâneas ou de partes moles, superfi- idade, tempo de internação, diagnóstico foram registrados,
ciais ou profundas. Localizam-se, usualmente, sobre uma além disso, foram verificadas a presença de UP e contraturas
proeminência óssea10,11 tais como: o sacro, ísquio, trocânter, através de exame físico (inspeção e mobilização passiva das
calcâneo12,13. São causadas por fatores intrínsecos e extrínse- articulações). As UP foram classificadas segundo critérios es-
cos ao paciente. Existem quatro fatores extrínsecos: pressão, tabelecidos pela National Pressure Ulcer Advisory Panel, que
cisalhamento, fricção e umidade14. A pressão é considerada o discrimina quatro estágios (I a IV – em referência a profun-
principal fator causador da UP, sendo que o efeito patológico didade de acometimento tecidual) observados visualmente na
no tecido pode ser atribuído à intensidade e à duração desta evolução de uma UP2,27,28. As contraturas foram considera-
pressão e à tolerância tecidual15. Dentre os fatores intrínsecos, das após verificação de restrição de amplitude de movimento
destacam-se: idade, estado nutricional, perfusão tecidual, uso passiva em pelo menos um plano de movimento5.
de alguns medicamentos e doenças crônicas como o diabetes Os cuidadores destes pacientes responderam a questiona-
mellitus e doenças cardiovasculares16-19. É uma complicação mentos simples como: “você sabe o que é úlcera de pressão?”;
frequente em pacientes acamados e tem grande impacto sobre “você sabe o que é uma contratura?”; “você sabe quais os fato-
sua recuperação e qualidade de vida20, além disso, pode cau- res que levam a formação de uma úlcera de pressão ou de uma
sar problemas adicionais como dor, sofrimento e aumento na contratura?”; “você sabe o que pode acontecer caso haja ins-
morbimortalidade, prolongando o tempo e o custo da interna- talação destas complicações?”; você já recebeu alguma orien-
ção21. O impacto econômico do tratamento das UP é expressi- tação sobre úlceras de pressão ou contraturas?”. Após o regis-
vo22 e muito maior do que medidas de prevenção. tro das respostas, todos os cuidadores e pacientes conscientes
A adoção e implementação de medidas preventivas po- receberam orientações gerais a respeito das contraturas e UP,
dem significar medidas mais econômicas, reduzindo a ne- sua prevenção e formas de tratamento quando já instaladas. As
cessidade de uma assistência de alto padrão, equipamentos orientações foram ilustradas através de fotos explicativas das
caros e intervenções cirúrgicas23. A atenção dispensada à pre- contraturas e UP em pastas plastificadas e folders instrutivos
venção de complicações é importante para que a recupera- foram entregues, com todas as informações necessárias para
ção seja mais rápida e eficaz24. Nenhum profissional da área continuidade do trabalho tanto no hospital como em casa, após
da saúde deveria acomodar-se ou aceitar a presença dessas alta hospitalar. Os assuntos abordados nas orientações foram
complicações, tendo em vista que a prevenção é simples e cuidados com a pele, redução da umidade, mudança de de-
viável25. Uma das melhores maneiras de prevenção é a iden- cúbito, alívio da pressão, posicionamento, exercícios e alon-
tificação dos pacientes que estão sujeitos aos fatores de ris- gamentos, dispositivos auxiliares, tratamento e complicações
co que levam às contraturas e UP e orientá-los, assim como das contraturas e UP e orientações gerais.
seus cuidadores e equipe multiprofissional de saúde26. Esta A estatística foi feita através de análise descritiva (mé-
assume papel importante com os pacientes acamados, pro- dia ± desvio padrão, valores mínimos e máximos e porcenta-
porcionando tratamento para as disfunções já instaladas, mas gem), foi utilizado o programa estatístico Minitab13.

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Resultados Figura 2: Presença de úlceras de pressão e contraturas nos


O número total de pacientes abordados neste estudo foi pacientes abordados.
136; 60 do gênero feminino (44,1 %) e 76 do gênero mas-
culino (55,9 %). As idades variaram de 13 a 91 anos com
média de 62 + 22 anos. O tempo de internação no momento
da abordagem variou de 1 a 130 dias. O motivo da internação
(diagnóstico) e a presença de UP e contraturas estão eviden-
ciados nas figuras 1 e 2 respectivamente. O diagnóstico mé-
dico mais frequente foi o acidente vascular encefálico (AVE)
responsável pela internação de 34,5 % dos pacientes. Os lo-
cais acometidos pelas UP e contraturas estão demonstrados
na figura 3. O sacro foi a região mais afetada pelas UP (47,5
Figura 3: Locais acometidos pelas UP e contraturas com
%) e os tornozelos os mais suscetíveis às contraturas (71 %).
respectivo número de registro. Legenda: UP: úlceras de pres-
Dos pacientes que apresentaram UP, a maioria tinha ape-
são; D: direito (a); E: esquerdo (a)
nas uma UP (48,7 %); duas UP foram encontradas em 30,7 %
dos pacientes, três ou quatro UP em 15,4 %, e cinco ou mais
em 5,2 % dos pacientes. A maioria das UP encontrava-se no
estágio I (36,9 %), as porcentagens encontradas nos estágios
II, III e IV foram respectivamente: 28,3 %, 15,2 % e 19,6 %.
Em relação aos pacientes com contraturas, a maioria apresen-
tava duas contraturas (46,6 %), uma e três contraturas foram
encontradas em 20 %, e seis e sete em 6,6 % dos pacientes.
Sessenta por cento dos cuidadores não sabiam da existên-
cia das contraturas e UP e 85,5 % referiram nunca ter recebido
qualquer tipo de orientação sobre as mesmas. As orientações As UP e as contraturas foram selecionadas neste estudo
ofertadas no final da abordagem foram bem aceitas. A maioria pela frequência que ocorrem34,36 e pela interferência negati-
dos cuidadores demonstrou interesse sobre o assunto e preo- va que podem causar na vida do paciente, seus familiares e
cupação em evitar o surgimento das UP e contraturas. cuidadores. As contraturas dentre tantos malefícios que pode
causar, leva a perda da função. Contraturas de membro supe-
Discussão rior, em geral, limitam as atividades de autocuidado como:
Os efeitos deletérios da imobilização são conhecidos e há alimentação e higiene; já as de membro inferior, atividades
estudos sobre os mesmos nos diversos ambientes de cuidados como a deambulação5,9. As UP, da mesma forma, além de
com a saúde, como instituições de longa permanência para várias situações que podem levar a diminuição da qualidade
idosos, hospitais e unidades de terapia intensiva29-33. Entretan- de vida, aumenta o risco de morte21.
to, a prevalência de diversas complicações vindas da imobi- Este trabalho evidenciou os primeiros dados referentes
lização continua significativa e interferindo na qualidade de a presença de UP e contraturas no hospital Santa Casa de
vida dos pacientes31-34, possivelmente, pela subutilização de Caridade Diamantina/ MG. A análise não foi feita na uni-
medidas preventivas35. A prevenção é efetivamente alcançada dade de terapia intensiva (UTI), pois um dos objetivos foi
dentro de um grupo multiprofissional que tenha um objetivo abordar o cuidador, para que o mesmo possa oferecer um
comum35. Infelizmente, muitas vezes, os profissionais da saú- cuidado mais efetivo ao paciente sob sua responsabilidade,
de, preocupam-se em tratar e não prevenir. Um estudo sobre e este, não tem acesso à UTI. Isso explica a grande variação
complicações secundárias em pacientes com lesão encefálica no tempo de internação no momento da abordagem (1 a 130
expõe que muitas vezes os esforços se voltam para o trata- dias). Os pacientes que não precisaram da UTI foram abor-
mento da complicação primária (resultado da lesão que o pa- dados no máximo cinco dias após a internação. Os pacien-
ciente sofreu) e as secundárias (decorrentes, por exemplo, da tes que precisaram deste serviço foram abordados somente
permanência ao leito) que têm um grande papel no alcance da após transferência para as alas hospitalares. Entretanto, as
funcionalidade do paciente são negligenciadas36. UP apresentam um grave problema de saúde, principalmente
Figura 1: Diagnósticos médicos dos pacientes abordados. nas UTI, onde sua prevalência costuma ser mais significati-
va30,32. Protocolos de prevenção devem ser utilizados de for-
ma contínua pela equipe multiprofissional responsável por
este serviço. Devido à gravidade do problema que as UP po-
dem ocasionar, as mesmas foram incluídas pela Agency for
Health Care Polycy and Research (ACPHR) como um dos
indicadores de qualidade da assistência a saúde37.
A prevalência de UP encontrada neste estudo ficou entre
resultados de outros estudos no Brasil30,32. Da mesma forma
que o nosso estudo, da Silva Cardoso et al.30 descreveram
Legenda: AVE (acidente vascular encefálico); TCE (traumatismo crânio-encefálico);
TRM (traumatismo raquimedular). que a maioria dos pacientes (61,5%) apresentaram apenas

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uma UP, e a área sacral também foi a mais atingida (45%). A 6. Silva RL, Figueiredo NMA, Meireles IB. Feridas, fundamentos e atualizações em
enfermagem. São Caetano do Sul: Yendis; 2007.
prevalência das contraturas neste estudo foi inferior a outras 7. Davies PM. Hemiplegia: Tratamento para pacientes após AVC e outras lesões ce-
descrições, entretanto, todas as referências encontradas foram rebrais. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2008.
8. Fukuoka Y, Kudo H, Hatakeyama A, Takahashi N, Satoh K, Ohsawa N, Mutoh M,
realizadas em serviços de saúde diferentes deste. Em um es- Fujii M, Sasaki H. Four-finger grip bag with tea to prevent smell of contractured
tudo com 222 idosos institucionalizados33, 55% tinham pelo hands and axilla in bedridden patients. Geriatr Gerontol Int 2009;9:97-9.
9. Wagner LM, Clevenger C. Contractures in Nursing Home Residents. J Am Med
menos uma contratura, os que apresentaram contraturas nos Dir Assoc 2010;11:94-9.
membros superiores tinham o dobro de redução da função, por 10. Ferreira LM, Calil JA. Etiopatogenia e tratamento das úlceras por pressão. Diagn
Tratamento 2001;6:36-40.
exemplo, para alimentar-se, e os que tinham nos membros in- 11. Yarkony GM. Pressure ulcers: a review. Arch Phys Med Rehabil 1994;75(8):908-17.
feriores apresentavam mobilidade reduzida. A prevalência de 12. Brandeis GH, Morris JN, Nash DJ, Lipsitz LA. The epidemiology and natu-
ral history of pressure ulcers in elderly nursing home residents. JAMA 1990;
pelo menos uma contratura em uma UTI29 e em um centro de 264(22):2905-9.
queimados5 foi de 39 % e 38,7%, respectivamente. Uma revi- 13. Campbell RM, Delgado JP. The pressure sore. In: Converse JM. Reconstructive
plastic surgery. Philadelphia: Saunders; 1977. p.3763.
são sobre a presença de contraturas em pacientes instituciona- 14. Blanes L, Duarte IS, Calil JA, Ferreira LM. Avaliação clínica e epidemiológica das
lizados evidenciou que 70,6 % destes apresentavam esta com- úlceras por pressão em pacientes internados no hospital São Paulo. Rev Assoc Med
Bras 2004;50(2):182-7.
plicação39. Um estudo em idosos que necessitam de cuidados 15. Bryant RA, Shannon ML, Pieper B, Braden BJ, Morris DJ. Pressure ulcers. In:
contínuos evidenciou maior prevalência de contraturas nos Bryant RA. Acute and chronic wounds - nursing management. Missouri: Mosby;
1992. p.105-63.
membros superiores (32%) em relação aos inferiores (26%)40. 16. Allman RM. Pressure ulcers among the elderly. N Engl J Med 1989;13:850-3.
O diagnóstico responsável pelo maior número de internações 17. Bergstrom N, Braden BJ, Kemp M, Champagne M, Ruby E. Multi-site of inciden-
ce of pressure ulcers and the relationship between risk level, demographic cha-
neste estudo foi AVE e é sabido que aproximadamente 50 % racteristics, diagnoses, and prescription of preventive interventions. JAGS 1996;
dos pacientes desenvolvem pelo menos uma contratura dentro 44(1):22-30.
18. Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. São Paulo: Atheneu;
de seis meses após o AVE, sendo os ombros e o quadril as 1992.
articulações mais comumente afetadas41. 19. Pinchcofsky-Devin GD, Kaminski MV. Correlation of pressure sores and nutritio-
nal status. J Am Geriatr Soc 1986; 34(6):435-40.
É preciso consolidar a atuação de caráter preventivo – 20. Silva EWNL, Araújo RA, Oliveira EC, Falcão VTFL. Aplicabilidade do proto-
que diminui significativamente complicações35,42 em todos colo de prevenção de úlcera de pressão em unidade de terapia intensiva. RBTI
2010;22(2):175-85.
os níveis de atenção, promovendo saúde, prevenindo agravos 21. D’Arco C, Sassine SW, Costa MLM, Silva LMG. Úlcera de pressão em UTI. In:
e não apenas reabilitando. Treinamentos e capacitações dos Knobel E. Condutas no paciente grave. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; 2006. p.2491-501.
22. Isik FF, Engrav LH, Rand RP, Kierney P, Cardenas DD. Reducing the period of
profissionais de saúde são necessários32. E a atividade exten- immobilization following pressure sore surgery: a prospective, randomized trial.
sionista busca isso (além do apoio à comunidade): capacitar Plast Reconstr Surg 1997;100:350-4.
23. Delisa JA, Gans BM. Tratado de Medicina de Reabilitação: princípios e prática.
os alunos para que estes possam ser profissionais completos 3ªed. São Paulo: Manole; 2002.
ao concluir seu curso. A prevenção foi através da educação, 24. Boechat JCS, Manhães FC, Filho RVG, Istoé RSC. A síndrome do imobilismo e
seus efeitos sobre o aparelho locomotor do idoso. Rev Cient Int 2012;22(1):89-193.
esta realizada através de orientações claras, ilustrativas e ob- Br J Nurs 2013;22(20):S24-8.
jetivas visando o bem estar e melhoria da qualidade de vida 25. Deliberato PCP. Fisioterapia preventiva: fundamentos e aplicações. São Paulo:
de todos os envolvidos, além de minimizar custos de interna- Manole; 2002.
26. Umphered DA. Fisioterapia Neurológica. 2ªed. São Paulo: Manole; 1998.
ções e intervenções para o município. 27. Pritchard V. Calculating the risk. Nursing Times (London) 1998;19:59-61.
28. Smeltzer SC, Bare BG, Brenda G. Tratado de enfermagem médico-cirúrgico. 10ª
ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005.
Conclusão 29. Clavet H, Hébert PC, Fergusson D, Doucette S, Trudel G. Joint contracture follo-
A prevalência de UP e contraturas, em pacientes restritos wing prolonged saty in the intensive care unit. CMAJ 2008;178(6):691-7.
30. da Silva Cardoso JR, Blanes L, Augusto Calil J, Ferreira Chacon JM, Masako
ao leito, nas clínicas médicas e neurológica do hospital Santa Ferreira L. Prevalence of pressure ulcers in a Brazilian hospital: results of a cross-
Casa de Caridade de Diamantina-MG, no período de maio de -sectional study. Ostomy Wound Manage 2010;56(10):52-7.
31. Fergusson D, Hutton B, Drodge A. The epidemiology of major joint contractures;
2011 a maio de 2013 foi respectivamente: 29,4 % e 24,1 %. a systematic review of the literature. Clin Orthop Relat Res 2007;456:22-9.
O sacro foi à região mais afetada pelas UP e os tornozelos 32. Rogenski NM, Kurcgant P. The incidence of pressure ulcers after the implementa-
os mais atingidos pelas contraturas. Houve um alto índice tion of a prevention protocol. Rev Lat Am Enfermagem 2012; 20(2):333-9.
33. Yip B, Stewart DA, Roberts MA. The prevalence of joint contractures in residents
de cuidadores que nunca tinham recebido orientações e não in NHS continuing care. Health Bull (Edinb) 1996; 54(4):338-43.
sabiam da existência dos assuntos abordados, demonstrando 34. Sackley C, Brittle N, Patel S, Ellins J, Scott M, Wright C, Dewey ME. The preva-
lence of joint contractures, pressure sores, painful shoulder, other pain, falls, and
a importância de se ofertar as orientações aos mesmos, a fim depression in the year after a severely disabling stroke. Stroke 2008;39(12):3329-34.
de evitar o aparecimento das UP e contraturas, durante o pe- 35. Lavery LA, La Fontaine J, Kim PJ. Preventing the first or recurrent ulcers. Med
ríodo de internação ou até mesmo depois da alta hospitalar. Clin North Am 2013; 97(5):807-20.
36. Denéz Z. Consequence of secondary complications during the rehabilitation of
patients with severe brain injury. Orv Hetil 2009;150(4):165-9.
37. Wagner LM, Clevenger C. Contractures in Nursing Home Residents. J Am Med
Referência Dir Assoc 2010;11:94-9.
1. Raposo AC, López RFA. Efeitos da imobilização prolongada e atividade física. [ci-
tado 2002 Jul]. Disponível em URL: http://www.efdeportes.com/efd50/efeitos.htm 38. Souza TS, Maciel OB, Méier MJ, Danski MTR, Lacerda MR. Estudos clínicos
2. Silva MR, Anzolin RM, Claro TC, Medeiros TC. Efeitos deletérios: ausência da sobre úlcera por pressão. Rev Bras Enferm 2010;63(3):470-6.
cinesioterapia na mobilidade articular em politraumatizado. Fisioter Mov 2008; 39. Selikson S, Damus K, Hamerman D. Risk factors associated with immobility. J Am
21(2):39-45. Geriatr Soc 1988;36:707-12.
3. Bromley I. Paraplegia e Tetraplegia: Um guia teórico-prático para fisioterapeutas, 40. Resnick B. Restorative Care Nursing for Older Adults: A Guide for All Care Set-
cuidadores e familiares. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Revinter; 1997. tings. New York: Springer; 2004.
4. Goulart FM, Ferreira JA, Santos KAA, Morais VM, Filho GAF. Prevenção de 41. Kwah LK, Harvey LA, Diong JH, Herbert RD. Half of the adults who present to
úlcera por pressão em pacientes acamados: uma revisão da literatura. Rev Objetiva hospital with stroke develop at least one contracture within six months: an obser-
2008;1:40-56. vational study. J Physiother 2012;58(1):41-7.
5. Schneider JC, Holavanahalli R, Helm P, Goldstein R, Kowalske K. Contractures in 42. Bedo J. Reducing hospital-acquired pressure damage: an NHS acute trust initiati-
burn injury: defining the problem. J Burn Care Res 2006;27(4):508-14. ve. Br J Nurs 2013;22(20):S24-8.

79
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Artigo Original

O que as páginas da internet brasileira


disponibilizam sobre escoliose
idiopática do adolescente?

What do pages of brazilian internet


provide about adolescent idiopathic scoliosis?

Felipe Rodolfo Pereira da Silva1, Any Carolina Cardoso Guimarães Vasconcelos2,


Camila de Souza Machado3, Antônio de Pádua Rocha Nóbrega Neto4, Daniel Fernando Pereira Vasconcelos5

1. Discente do curso de Biomedicina da Uni- Resumo


versidade Federal do Piauí, Campus Ministro
Reis Velloso, Parnaíba-PI.
A forma mais utilizada de buscar informações sobre a Escoliose ocorre pela
2. Fisioterapeuta, Docente da Faculdade Mau- internet, 264.000 vezes/mês no Google. O objetivo do presente estudo foi avaliar a
rício de Nassau, Parnaíba-PI, Fisioterapeuta, qualidade, a exatidão das informações e os princípios éticos das páginas da internet
Mestre em Biotecnologia pela Universidade Brasileira (PIB) sobre o termo Escoliose Idiopática do Adolescente (EIA) voltado
Federal do Piauí, Parnaíba-PI.
3. Fisioterapeuta, Coordenadora do Curso de Fi-
para usuários da internet. Avaliaram-se 50 PIB, resultantes dos motores de busca:
sioterapia da Faculdade Maurício de Nassau, Google, Yahoo e Bing, em janeiro de 2014, baseando-se nos critérios do Manu-
Parnaíba-PI; Mestranda em Saúde da Família al de Princípios Éticos para Sites de Medicina e Saúde (MPESMS) do Conselho
pela UNINOVAFAPI, Teresina-PI. Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) e no Código de Ética
4. Fisioterapeuta, Discente do Curso de Mestra-
do da Pós-Graduação em Ciências Biomédi-
do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Observou-se que: 40%
cas da Universidade Federal do Piauí, Cam- das PIB possuíram fins educativos, igualmente para as PIB de serviços com 40%;
pus Ministro Reis Velloso, Parnaíba-PI. 14%, comerciais e 6% apresentaram outros fins. Apenas 22% das PIB apresentaram
5. Cirurgião Dentista, Especialista em Saúde exatidão no conteúdo sobre EIA de acordo com os critérios avaliados e 16% das PIB
Coletiva, Mestre e Doutor em Biologia Buco
Dental, Docente do Programa de Pós-Gradu-
apresentaram referências bibliográficas. Concluiu-se que as PIB avaliadas relaciona-
ação em Ciência Biomédicas da Universida- dos ao tema “escoliose idiopática do adolescente” divulgaram conteúdo insuficiente
de Federal do Piauí, Campus Ministro Reis quanto à qualidade da informação, não disponibilizando informações confiáveis aos
Velloso, Parnaíba-PI. profissionais da saúde e usuários da internet que buscaram pelo termo.
Palavras-chave: postura, tecnologia da informação, ética.
Endereço para correspondência: Daniel F.
P. Vasconcelos – Universidade Federal do
Piauí – UFPI – Programa de Pós-Graduação Abstract
em Ciências Biomédicas – Av. São Sebastião, The most used way to search information about Scoliosis is in internet, 264.000
2819 Parnaíba - PI – Brasil – Cep 64202-020 times per month on Google. The aim of this study was to evaluate the quality, accu-
– Fone: +55 86 3323 5297
Fax: +55 86 3323 5444 racy of information and the ethical principles of the Brazilian Internet pages (BIP)
E-mail: vasconcelos@ufpi.edu.br about the term Adolescent Idiopathic Scoliosis (EIA) directed to Internet users. We
evaluated 50 BIP, resulting from the search engines: Google, Yahoo and Bing, in
January 2014, based on the criteria of the Manual of Ethical Principles for Medical
Recebido para publicação em 17/02/2015 e acei- and Healthcare (MPESMS) Regional Council of Medicine of the State of São Paulo
to em 18/05/2015, após revisão. (CREMESP) and the Code of Ethics of the Federal Council of Physical Therapy
and Occupational Therapy. It was observed that: 40% of BIP presented educational
purposes, also for services BIP 40%; 14% commercial and 6% had other purposes.
Only 22% of BIP showed accuracy in the content about EIA in accordance with the
criteria evaluated and 16% of BIP showed references. It was concluded that the BIP
evaluated related to the theme “adolescent idiopathic scoliosis” reported insufficient
content and quality of information, not offering reliable information to health profes-
sionals and internet users who searched for the term.
Keywords: posture, information technology, ethics.

80
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Introdução as PIB. Três motores de busca foram utilizados (sites de busca


A internet cresce rapidamente, em setembro de 2014 o - “Google”, “Yahoo” e “Bing”) com o termo “Escoliose Idiopá-
número de usuários aproxima-se de três bilhões ao redor do tica do Adolescente”, que ocorreu durante julho de 2014 e foram
mundo 1. No Brasil a internet cresceu entre 2013 e 2014 a avaliadas as cem (100) primeiras PIB resultantes da pesquisa
marca de 7%, atingindo mais de 107 milhões de usuários 2. ranqueada, que são as mais visitadas pelos usuários 16.
A internet promove a comunicação, pois favorece a di- Critérios de exclusão
fusão das informações científicas na área da saúde de dife- Páginas que apresentaram conteúdos ligados ao meio aca-
rentes formas: permitindo pesquisas gratuitas de material dêmico e cunho científico (monografias, dissertações, teses ou
bibliográfico, disponibilizando periódicos em diversas subá- artigos científicos – visto que esta literatura dificilmente é veri-
reas da medicina, promovendo um fácil intercâmbio entre ficada pelos pacientes) ou que traziam apenas citações do termo
diferentes usuários da rede mundial de computadores. Além pesquisado sem explorá-lo foram excluídas da análise por não
disso, o fácil acesso às informações, na maior parte das ve- representarem fonte específica e clara de informação (fontes que
zes em provedores gratuitos, a criação de locais públicos de geralmente o público leigo ignora). Páginas que se repetiram nos
acesso à internet, permitiu que o público leigo tivesse dispo- resultados dos motores de busca não foram avaliadas duplicada-
nível todo esse conteúdo de informações, que podem orien- mente, sendo as repetidas removidas das análises.
tar sobre prevenções, diagnóstico e tratamento das doenças,
auxiliando e/ou complementando seus conhecimentos 3. Critérios de Avaliação
É comum nos sites a oferta de serviços, venda de produtos As páginas submetidas à avaliação seguiram critérios de
médicos que podem contribuir com a promoção da saúde, mas análise regidos pelo Manual de Princípios Éticos para Sites
também podem gerar danos à saúde dos usuários ou familiares, de Medicina e Saúde 15 do Conselho Regional de Medicina
se o conteúdo disponibilizado por tais páginas for de qualidade de São Paulo (CREMESP) e pelo Código de Ética 14 do Con-
ruim, com informações incorretas, propagandas desonestas, pro- selho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CO-
dutos que não trarão o real benefício atrelado a sua propaganda. FFITO), sendo tais itens caracterizados como:
Tais aspectos têm despertado o interesse de muitos es- 1. Transparência: classificou a página em educacional, co-
tudos, que mostraram preocupação com o conteúdo das pá- mercial, prestadora de serviço e publicitária e outros fins;
ginas da internet disponibilizadas na rede mundial de com- 2. Honestidade: verificou a existência real de coerência (cla-
putadores sobre diversos assuntos como: câncer 4, dores nas reza) em relação ao objetivo principal da página. Exem-
costas e problemas nas costas 5, síndrome de down6, dor de plo: se a página traz seu endereço eletrônico com um
cabeça 7, rinite alérgica 8, autoexames da mama 9. nome que sugira ser educativo, porém ao abrir a página
No Brasil, nenhum estudo investigou sobre a Escoliose nota-se que a mesma apresenta principalmente venda de
Idiopática do Adolescente (EIA), que se caracteriza pela al- produtos, esta página é desonesta.
teração tridimensional da coluna vertebral, que afeta cerca de 3. Qualidade (classificada em 4 subcritérios): i) avaliou se a
2% à 4% da população e tem maior incidência em indivíduos informação de saúde apresentada foi exata (basendo-se na
do sexo feminino, com manifestação clínica de uma curvatura seguinte literatura 10,11,17, ii) atualizada (considerou-se atual
lateral no plano frontal em pacientes de 10 a 17 anos 10,11. publicações com até cinco anos e se as datas das publica-
ções estavam presentes na página, indicando o momento de
O tratamento da EIA depende do grau de sua curvatura,
sua postagem); iii) cientificamente fundamentada e por fim,
podendo ser: cirúrgico, com a utilização de coletes, por Re-
iv) se a página apresentou referencial bibliográfico.
educação Postural Global (RPG), com Osteopatia, com Pi-
4. Consentimento livre e esclarecido (Termo de Consentimento Li-
lates e com o método Klapp 10,12. Estas e outras informações
vre e Esclarecido – TCLE): avaliou se os dados solicitados, arqui-
sobre EIA encontram-se na internet, podendo ser encontra-
vados e divulgados de casos clínicos apresentaram-se de acordo
das de forma fácil e barata, tanto que no Google, o termo
com o consentimento do paciente, que deve ter clareza sobre o
“escoliose” é pesquisado 264.000 por mês (Google Adwor- pedido e divulgação de informações clínicas específicas;
ds)13. Será que no Brasil as páginas da internet apresentam 5. Privacidade: avaliou-se se as PIB traziam uma política de
informações confiáveis e de qualidade para o usuário? privacidade, de forma clara quais foram os mecanismos
Nenhum estudo avaliou as PIB sobre o termo “Escoliose de armazenamento dos dados, códigos, contrassenhas,
Idiopática do Adolescente” em relação à qualidade da informa- certificados digitais e outras informações pessoais oriun-
ção apresentada e se as mesmas seguiram padrões éticos. Diante das dos acessos aos sites;
disso, o objetivo do presente estudo foi avaliar parâmetros éticos 6. Ética: verificou-se se as PIB seguiram os padrões éticos es-
e a qualidade das informações encontradas nas PIB, segundo o tabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, obedecendo
que preconiza o Código de Ética do Conselho Federal de Fisio- às normas éticas para o exercício profissional, sem infringir
terapia e Terapia Ocupacional 14 e o Manual de Princípios Éticos condutas que poderiam resultar em: imperícia, negligência ou
para Sites de Medicina e Saúde 15 (MPESMS) do Conselho Re- imprudência, via internet, podendo causar danos à saúde;
gional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). 7. Responsabilidade e procedência (classificada em dois sub-
critérios): i) analisou-se se as páginas apresentaram algum
Metodologia responsável técnico registrado no conselho de fisioterapia e
Mecanismo de busca das PIB terapia ocupacional ou de outra classe. ii) Como também a
O presente estudo detém caráter exploratório, classificado disponibilidade de alguma forma para contato, permitindo a
como descritivo documental tendo como universo de pesquisa emissão de opinião, crítica ou sugestão.

81
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Em relação aos critérios citados acima, os mesmos fo- Tabela 1: Distribuição das PIB segundo os critérios avalia-
ram classificados em de acordo, quando comtemplaram os dos para o termo escoliose idiopática do adolescente.
requisitos, e em desacordo, quando se apresentaram sem Critérios Sub-categoria De acordo Desacordo
contemplar os requisitos mínimos descritos acimas. com os critérios
Nº % Nº %
Aspectos éticos 1. Transparência Ver gráfico 1 - - - -
Este estudo foi aprovado em seus aspectos éticos e me- 2. Honestidade 42 84 8 16
todológicos de acordo com as Diretrizes estabelecidas na Re- 3. Qualidade i. Exatidão 11 22 39 78
solução 196/96 e complementares do Conselho Nacional de ii. Fundamentação científica
Saúde. CAAE (Certificado de Apresentação para Apreciação 22 44 28 56
Ética): 07666212.3.0000.5214. iii. Atualização 27 54 23 46
iv. Bibliografia 8 16 42 84
Resultados 4. Consentimento livre esclarecido 0* 0* 0* 0*
Foram coletadas trezentas (300) páginas, das quais cento 5. Privacidade Mecanismos de armazenamento
e onze (111) se repetiram nos três motores de busca, cen- 5 10 45 90
6. Ética 41 82 9 18
to e trinta e oito (138) apresentaram conteúdo acadêmico e
7. Responsabilidade e procedência
científico, duas (2) páginas apareceram no mesmo buscador
Página com responsável 26 52 24 48
resultando numa única análise. Após a aplicação dos crité- Registro em conselho 19 38 31 62
rios de exclusão, obteve-se o valor de cinquenta (50) páginas Contato 32 64 18 36
avaliadas segundo os critérios já descritos.
Do total das PIB avaliadas, 70% (35) foram acessadas a internet podem alterar a relação entre o clínico e o pacien-
partir da pesquisa pelo “Google”, sendo os 26% (13) e 4% te. Percebe-se dessa forma, que o impacto das informações
(2) restantes das páginas acessadas pelos, respectivamente, veiculadas na internet abrange diversos aspectos na vida dos
buscadores “Yahoo” e “Bing”. Em relação ao critério trans- usuários incluindo educação, comunicação e entretenimento19.
parência, a figura 1 ilustra a distribuição das PIB. O interesse comercial na disponibilidade de informa-
Outros
ções na internet, onde as empresas empregam estratégias de
Figura 1: Distribuição propagandas e anúncios, foi um fato salientado por Coelho
das PIB segundo o critério e Lacerda 20, que caracterizaram essas estratégias como um
Educativas
transparência. Serviços problema devido atribuírem propagandas nas páginas de for-
Comerciais ma automática, tornando as PIB muitas vezes escassas de
informação específica devido ao acúmulo de conteúdo sem
relevância. Neste sentido, nosso estudo corrobora com os es-
tudos 6,8,9 que também apresentaram distribuição das páginas
Na tabela 1, estão mostrados os valores absolutos e as
focadas em comércio eletrônico.
porcentagens de cada um dos critérios descritos na metodolo- Tal resultado que pode fazer com que o usuário que pro-
gia, classificando as PIB segundo as que estiveram de acordo curava sobre EIA, possivelmente poderia não ter encontrado
e as quais estiveram em desacordo com os critérios avaliados. o que realmente era de seu interesse. Uma resposta para isso
é a utilização da ferramenta Google Adwords 13, que permi-
Discussão te aos desenvolvedores dos sites conseguirem saber quantas
Sendo a internet uma importante difusora de informações vezes tais termos são buscados diária, mensal e anualmente
sobre saúde, tornou-se questão de saúde pública e preocupa- no Google e baseado nisso realizarem campanhas comer-
ção a análise da qualidade das informações disponibilizadas 18. ciais, que cresce no Brasil 21, associando tais termos com as
Devido ao elevado número de páginas disponíveis e sua forma palavras mais buscadas, aumentando as probabilidades de
organizacional a localização das informações na internet pode que com tais termos consigam conduzir o usuário a página
parecer uma tarefa impossível, porém com o uso dos motores de interesse da campanha comercial 22.
de busca é possível a extração de todo potencial informacional Quanto ao critério honestidade das PIB (clareza de seu
disponível na internet. Mesmo contendo diferenças entre si, objetivo: educacional, comercial, prestador de serviço ou pu-
fatores como o tamanho de suas bases de dados ou critérios blicitário) avaliadas mostrou que a maior parte das páginas
de inclusão e exclusão de páginas; os motores de busca detêm se encontraram de acordo com o preconizado pelo MPESMS
mecanismos de pesquisa semelhantes16. (tabela 1), semelhante ao encontrado por Silva et al.8 ao in-
Dessa forma, dependendo da palavra chave usada, as pá- vestigar sobre rinite alérgica.
ginas resultantes entre os buscadores podem se repetir. Fato Outro critério que a maioria das PIB apresentou em desa-
verificado na pesquisa entre os três motores de busca utili- cordo foi a exatidão das informações disponíveis na internet.
zados neste trabalho. A prestação de serviços através de in- Estudos que verificaram as informações sobre: rinite alérgica
formações veiculadas nas páginas da internet pode ter efeitos 8
, autoexames de mama 9 e leishmaniose tegumentar 23 encon-
negativos sobre os usuários, necessitando de maior atenção traram percentual de informações erradas semelhantes ao do
sobre o conteúdo divulgado. Concluíram que as informações nosso estudo. Fato justificável ao verificar que apenas 44%
disponíveis na internet voltadas para cuidados em saúde afeta- das PIB apresentaram fundamentação científica (tabela 1).
ram profundamente a relação médico-paciente, porém pouco A falta de atualização das páginas e escassez de referen-
se sabe sobre como a experiência de se obter informações na cial bibliográfico pode levar os profissionais da área a não

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estarem dispostos a recomendar a busca de informação pela a serem seguidos pelo profissional que desejar disponibilizar
internet para os pacientes, devido ao receio de que o conteú- informações na internet de modo público, evitando potenciais
do da página esteja incorreto 24. prejuízo à saúde de milhares de pessoas.
Nosso estudo não encontrou nenhum caso clínico e ne-
nhuma situação nas PIB avaliadas, que fosse necessária a Conclusão
assinatura do TCLE pelo paciente. O estudo sobre o rinite As PIB avaliadas em relação ao termo “escoliose idiopá-
alérgica8 encontrou a omissão da citação que os pacientes tica do adolescente” divulgaram conteúdo de maneira ética,
haviam assinado o TCLE disponível na página avaliada. porém com qualidade insuficiente, pois os quatro subcritérios
Ao se navegar na internet de acordo com o MPESMS as avaliados (exatidão, fundamentação científica, atualização e
páginas devem apresentar de modo claro os mecanismos de bibliografia) apresentaram baixos percentuais de páginas, que
armazenamento e seguranças dos dados, critério denomina- estavam de acordo com os critérios avaliados. As principais
do de privacidade, (códigos, contrassenhas, internet protocol falhas foram em ordem decrescente: ausência de referências
– IP, página de origem, página destino após saída do site, bibliográficas, exatidão das informações, ausência de pro-
horário e local do acesso, etc.), o que ocorreu com a minoria fissional com registro em conselho de classe, texto redigido
das PIB relacionadas ao termo EIA (10%, ver tabela 1), cor- sem embasamento científico, falta de informações atualizadas
roborando com outros estudos 8,9,23. e a não disponibilização das datas de elaboração dos textos,
Nota-se que o percentual reduzido das páginas que pos- falta de algum tipo de contato para o usuário. Além disso, a
-suem responsáveis (e que os mesmos tenham registro em maioria das PIB se apresentou classificadas como: prestadoras
algum conselho profissional) também põe em dúvida a con- de serviços e educativas. Tais características das PIB podem
fiabilidade das informações contidas nestas PIB. Páginas na potencialmente causar danos à saúde do usuário da internet
Internet que não divulgam o autor do texto ou forma de con- (paciente e ou familiares e ou estudantes da área da médica),
tato para o usuário podem ser consideradas suspeitas 25. caso informações incorretas sejam entendidas como corretas.
Nosso estudo semelhante ao que ocorreram com outros Referências
8, 9,23
verificou que menos de 50% das PIB avaliadas apre- 1. Internet Live Stats [homepage]. World Wide Web Foundation; 2014 [cited 2014 Sep 01]. Availa-
ble from: http://www.internetlivestats.com/internet-users/ .
sentaram alguma forma de contato disponível para o usuário 2. Internet Live Stats [homepage]. World Wide Web Foundation; 2014 [cited 2014 Sep 01]. Available
from: http://www.internetlivestats.com/internet-users-by-country/
poder se comunicar com o desenvolvedor da mesma. Um 3. Sonnenberg FA. Health information on the Internet. Arch Intern Med 1997; 167:151–2.
4. Biermann JS, Golladay GJ, Greenfield ML, et al. Evaluation of cancer information on the Internet.
estudo americano avaliou a comunicação entre profissionais Cancer 1999;86:381–90.
5. Li L, Irvin E, Guzman J, et al. Surfing for back pain patients: the nature and quality of back pain
de saúde e paciente e mostrou que uma forma de contato é information on the Internet. Spine 2001;26:545–57.
6. Vasconcelos ACCG, Machado MSM, Macêdo SO, Honda TSB, Silva FRP, Vasconcelos DFP.
importante nessa relação profissional versus paciente 26. Evaluation of information about down syndrome in Brazilian internet. Journal of Health Informa-
tics. 2014 (Submetido).
Para o critério ética, as PIB seguiram os princípios esta- 7. Peroutka SJ. Analysis of Internet sites for headache. Cephalalgia 2001;21:20–4.
8. Silva LVER, Mello Júnior JF, Mion O. Avaliação das informações sobre rinite alérgica em si-
belecidos pelo MPESMS e pelo código de ética do: Conse- tes brasileiros na rede mundial de computadores (Internet). Rev Bras Otorrinolaringol. 2005;
lho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional e Conse- 71(5):590-597.
9. Cubas MR, Felchner PCZ. Análise das fontes de informação sobre os autoexames da mama dis-
lho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) conforme poníveis na Internet. Ciênc. saúde coletiva. 2012;17(4); 965-970.
10. Horne JP, Flannery R, Usman S. Adolescent idiopathic scoliosis: diagnosis and management.
encontrado pelo estudo que investigou sobre rinite alérgica 8, American Family Physician. 2014;89(3):193-198.
11. Reamy BV, Slakey JB. Adolescent Idiopathic Scoliosis: Review and Current Concepts. American
no qual apenas 2% das páginas faltaram com aspectos éticos. Family Physician. 2001;64(1):111-6.
12. Iunes Denise H., Cecílio Maria B. B., Dozza Marina A., Almeida Polyanna R.. Análise quanti-
Observa-se que as PIB avaliadas disponibilizaram infor- tativa do tratamento da escoliose idiopática com o método klapp por meio da biofotogrametria
computadorizada. Rev. bras. fisioter. [serial on the Internet]. 2010 Apr [cited 2014 Sep 01] ;
mações sobre Escoliose Idiopática do Adolescente de baixa 14( 2 ): 133-140.
13. Google Adwords [homepage]. Google Adwords; 2014 [cited 2014 Sep 01]. Available from: ht-
qualidade, não apresentaram informações importantes como: tps://adwords.google.com/ko/KeywordPlanner/Home?__u=3260858733&__c=8653001853.
14. Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia. [homepage]. Conselho Federal de Fisioterapia e
autoria, referências bibliográficas, datas de postagem e/ou Terapia Ocupacional; 2014 [cited 2014 Sep 01]. Available from: http://www.coffito.org.br/conteu-
do/con_view.asp?secao=26.
atualização 27, semelhante ao estudo de Silva et al., (2008)27, 15. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP) [homepage]. Manual de
ética para sites de medicina e saúde na internet; 2014 [cited 2014 Jul 01]; Available from: http://
gerando preocupação com o impacto negativo que pode ser www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes_capitulos&cod_capitulo=26
causado ao usuário ter acesso a essas informações19. 16. iProspect.com [homepage]. iProspect survey confirms internet users ignore Web sites without top
search engine rankings; 2002 [cited 2014 Jul 01]; Available from: http://www.iprospect.com/.
Em relação ao critério ética, 82% das PIB respeitaram os 17. Schlösser TP, van der Heijden GJ, Versteeg AL, Castelein RM. How ‘idiopathic’ is adolescent
idiopathic scoliosis? A systematic review on associated abnormalities. PLoS One. 2014 May
aspectos éticos ditados pelos conselhos profissionais citados, 12;9(5):e97461. doi: 10.1371/journal.pone.0097461.
18. Eysenbach G, Powell J, Kuss O, Sa ER. Empirical studies assessing the quality of health informa-
mas nenhum deles esteve de acordo simultaneamente com tion for consumers on the world wide web: a systematic review. Jama. 2002;287(20):2691-2700.
19. Dedding C, Van Doorn R, Winkler L, Reis R. How will e-health affect patient participation in
todos os itens avaliados. the clinic? A review of e-health studies and the current evidence for changes in the relationship
between medical professionals and patients. Social science & medicine. 2011;72(1):49-53.
Desse modo, pode-se questionar sobre a credibilidade 20. Toledo, Luciano Augusto, Caigawa, Sidney Maçazzo, & Rocha, Thiago J. Reflexões estratégicas
sobre o composto promocional de marketing no contexto da internet: um estudo exploratório jun-
e qualidade das PIB que tratam sobre saúde de modo geral. to a uma instituição financeira. Revista de Administração Contemporânea.2006;10(1), 117-138.
21. Brasil. Ministério da Fazenda. O Brasil e o Comércio Eletrônico. Brasília. [homepage] em [cited
Sugere-se que medidas sejam tomadas, em diferentes segmen- 2014 Jul 01]; Available from: http://www.receita.fazenda.gov.br/Publico/estudotributarios/estatis
ticas/13BrasilComercioEletronico.pdf
tos, em relação: ao usuário, ao governo e a entidades de clas- 22. Garbin HBR, Pereira Neto AFP, Guilam MCR. A internet, o paciente expert e a prática médica:
uma análise bibliográfica. Interface Comunic Saúde Educ. 2008; 12(26):579-588.
se. Em relação ao usuário a verificação rápida dos seguintes 23. Malafaia G, Rodrigues ASL. Uma análise das informações sore a leishmaniose tegumentar dispo-
itens: a) credenciais do responsável técnico (nome, formação, nívei em websites brasileiros. Saúde & Amb. Rev. 2009; 4(1): 28-35.
24. Bernstam EV, Shelton DM, Walji M, Meric-Bernstam F. Instruments to assess the quality of heal-
profissional, registro em algum conselho de classe, b) data da th information on the World Wide Web: what can our patients actually use? International journal
of medical informatics. 2005;74(1):13-19.
elaboração e por último c) presença de referências bibliográfi- 25. Silberg WM, Lundberg GD, Musacchio RA. Assesing, controlling, and assuring the quality of
medical information on the Internet. J Am Med Assoc. 1997; 277(15):1244-5.
cas (demonstrando fundamentação científica). Em relação ao 26. Beckjord E B, Rutten, LJF, Squiers L, Arora NK., Volckmann L, Moser RP, Hesse BW. Use of
the internet to communicate with health care providers in the United States: estimates from the
governo, criação de leis específicas sobre a internet. E por fim 2003 and 2005 Health Information National Trends Surveys (HINTS). Journal of Medical Internet
Research. 2007; 9(3). doi: 10.2196/jmir.9.3.e20.
que outros conselhos de classe, como o de Medicina do Estado 27. Silva EV, Castro LLC, Cymrot R. Tratamento farmacológico da obesidade em páginas da In-
ternet brasileira: análise dos Critérios Técnicos de Qualidade. Rev Ciênc Farm Básica Apl.
de São Paulo, elaborassem um manual com preceitos mínimos 2008;29(2):159-65.

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Revisão

A fisioterapia respiratória no
pré e pós-operatório da gastroplastia

Respiratory physiotherapy
pre and post-operative of gastroplasty

Tiago Del Antonio1, Ana Carolina Ferreira Tsunoda2

1. Fisioterapeuta, Mestre em Saúde e Envelhe- Resumo


cimento pela Faculdade de Medicina de Ma-
rília (FAMEMA), docente de fisioterapia pela
A obesidade trata-se de uma epidemia global onde há o acúmulo de gordura no
Universidade Estadual do Norte do Paraná tecido adiposo, sendo esta divida em grau leve, moderado e grave. A gastroplastia
(UENP), Jacarezinho, PR – Brasil, é uma intervenção cirúrgica que visa redução de peso em obesos graves, ou seja,
2. Fisioterapeuta, Mestrando em Saúde e En- aqueles que possuem um Índice de Massa Corpórea igual ou maior que 40 kg/
velhecimento pela Faculdade de Medicina
de Marília (FAMEMA), Jacarezinho, PR –
m2, porém tal grupo de indivíduos apresenta uma série a alterações estruturais e
Brasil. funcionais em sistema cardiovascular, locomotor, endócrino e especialmente em
seu sistema respiratória, onde ocorre um grande déficit da função pulmonar. Como
agente complicador o procedimento cirúrgico compromete ainda mais sistema res-
Endereço para correspondência: Tiago –
e-mail: tiagodantonio@uenp.edu.br;
piratório acarretando o desenvolvimento de atelectasias, pneumonias, hipoventila-
Ana Carolina ção e hipoxia. O obeso necessita da atuação de uma equipe multidisciplinar para o
email: anacftsunoda@hotmail.com. sucesso de tratamento, porém cabe a fisioterapia atuar de forma efetiva na fase pré
e pós-operatória reduzindo as complicações pós-operatórias e consequentemente
os índices de morbidade e mortalidade, além de promover melhor funcionalidade
Recebido para publicação em 11/02/2015 e acei- do paciente e um tempo de recuperação e internação hospitalar menor.
to em 18/05/2015, após revisão.
Palavras-chave: obesidade mórbida, fisioterapia, gastroplastia, função pulmonar.

Abstrat
Obesity it is a global epidemic where there is fat accumulation in adipose
tissue, which is divided into mild, moderate and severe. Gastroplasty is a surgical
procedure that aims at weight reduction in severely obese, or those who have a
Body Mass Index equal to or greater than 40 kg/m2, but this group of individu-
als has a number of changes in structural and functional system cardiovascular,
musculoskeletal, endocrine, and especially in its respiratory system, where there
is a large deficit in lung function. As an agent complicating the surgical procedure
further compromises respiratory system leading to the development of atelectasis,
pneumonia, hypoventilation and hypoxia. The obese need the involvement of a
multidisciplinary team for successful treatment, but it’s up to physical therapy
work effectively in the pre-and postoperative reducing postoperative complica-
tions and hence morbidity and mortality, and promote better functionality and a
patient’s recovery time and shorter hospital stay.
Keyword: morbid obesity, physical therapy, gastroplasty, pulmonary function.

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Introdução Assim sendo a obesidade pode ser vir a ser considerada


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a obe- uma doença restritiva, onde existe a característica de uma
sidade como uma epidemia global que promove um excesso maior pressão sobre a parede alveolar proveniente ao acúmu-
de gordura corporal acumulada no tecido adiposo e que leva lo de tecido adiposo a déficit do trabalho diafragmático que
a implicações à saúde, sendo esta dividida em três graus - se encontra elevado, ocorrendo à diminuição na quantidade
leve, moderada e grave, segundo o Índice de Massa Corpó- de ar no meio intra-alveolar, provocando uma diminuição da
rea (IMC). 1, 2 ventilação pulmonar, onde pode-se concluir que para uma
O IMC quantifica o peso corporal por metro quadrado, onde adequada ventilação o obeso necessita de um maior trabalho
valores inferiores a 25 kg/m2 indicam normalidade, entre 25 a da musculatura respiratório, predispondo ao desenvolvimen-
29,9 kg/m2 sobrepeso e acima de 30 kg/m2 obesidade, porém é to da fadiga muscular devido a estresse em seu trabalho. 11
somente considerado obeso grave, mórbida ou grau III quando o Em estudo de Silva, 2009 apud Pelosi et al observou que
indivíduo atinge IMC igual ou superior a 40 kg/m2. 3,4 os obesos tem tendência a ter um padrão respiratório rápido
A obesidade predispõe ao desenvolvimento de proble- e de baixa amplitude, onde a maioria com um padrão apical,
mas psicológicos e sociais e também ao aparecimento de alguns com padrão intercostal e nenhum diafragmático, sen-
inúmeras doenças crônicas, sendo as mais frequentes, a dia- do este o mais adequado. 9
betes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, doenças osteo- Além disso os indivídiuos obesos necessitam de maior
articulares, apnéia do sono e outras disfunções pulmonares, ati¬vidade diafragmática para vencer a elastância pulmonar,
impactando a qualidade de vida e elevando os índices de o que gera maior necessidade de fluxo sanguíneo para o dia-
morbidade e mortalidade. 2,5 fragma. Os músculos dos obesos executam duas vezes mais
Segundo Sanches et al, 2007 apud Pieracci et al, 2006 a trabalho que os indivíduos não obesos. 12
obesidade é um estado de inflamação crônica, pois o tecido Cabe a fisioterapia no pré-operatório gerar melhora da
adiposo libera o fator de necrose tumoral alfa, interleucina-6 capacidade respiratória e função pulmonar capacitando o
e ativação de neutrófilos, com isso a diminuição da capaci- indivíduo para o procedimento cirúrgico e evitando o surgi-
dade imunológica quanto metabólica, gerando uma hiperco- mento de complicações no pós-operatório. 13
agulabilidade e resistência à insulina. 6 Segundo Paisani et al, 2005 aponta a realização de fi-
Nos últimos trinta anos houve o aumento drástico na sioterapia, independentemente da técnica utilizada, é mais
concentração de obesos mórbidos no Brasil, ocorrendo um eficaz em prevenir complicações pulmonares do que a sua
acréscimo de 90%. A esta população é indicada a gastroplas- não realização, sendo ideal o atendimento a cada duas horas
tia, pois em tal grupo, o acúmulo de tecido adiposo piora a na fase pós-operatória. Cabendo a ela objetivar reexpansão
qualidade de vida, aumenta a presença de co-morbidades, re- pulmonar, restaurar volumes e capacidades pulmonares, fa-
duz a expectativa de vida e além de tais indivíduos apresen- cilitar a expectoração de secreções traqueobrônquicas e me-
tarem grande propensão de fracasso nos demais tratamentos lhorar a condição de imobilidade funcional acarretada pelo
menos invasivos. 2, 7,8 repouso no leito, minimizando assim as complicações que
A cirurgia bariátrica pode ser também utilizada em indi- facilmente acometem pacientes obesos e cirúrgicos. 7, 14
víduos com obesidade moderada onde o IMC atinge entre 35
a 39,9Kg/m2, entretanto o procedimento é indicado em tais Metodologia
casos quando existem co-morbidades curadas ou melhoradas O presente estudo caracterizou-se de uma revisão da li-
com a perda de peso. 1,2 teratura especializada realizado no ano de 2014, onde foram
Contudo a intervenção cirúrgica deve ser indicada por consultados artigos científicos, por meio de busca em bancos
meio da análise de múltiplos aspectos clínicos do doente, de dados como Scielo, Bireme e Periódicos do CAPES. Para a
sendo assim necessária a atuação de uma equipe multidis- localização de tais artigos foram utilizadas as seguintes pala-
ciplinar composta por médicos, psicólogos, nutricionistas, vras-chave: gastroplastia e fisioterapia; obesidade; cirurgia ba-
enfermeiros e fisioterapeutas. 8 riátrica e função pulmonar; fisioterapia respiratória e o obeso.
O procedimento cirúrgico visa reduzir o volume da in- Foram inclusos os trabalhos que abordassem as altera-
gesta total do paciente, por meio de uma restrição gástrica ções estruturais e funcionais encontradas no obeso mórbido
mecânica, provando a sensação de saciedade, ou também e a importância da fisioterapia na fase pré e pós-operatória da
uma diminuição da absorção total ou seletiva do conteúdo gastroplastia, e os procedimentos necessários.
alimentar ingerido. No Brasil a gastroplastia com derivação Após tal fase os artigos foram analisados e foi elaborado
gástrica em Y em Roux vem sendo mais preconizada, onde um estudo visando estabelecer a necessidade da fisioterapia
é realizada uma secção do estômago, formando uma bolsa no pré e pós-operatório, abordando as principais característi-
pequena, com volume de 15 a 30 ml. 9, 10 cas encontradas neste tipo de paciente.
Durante a obesidade mórbida a o acúmulo de gordura
nas regiões peritorácica e abdominal proporcionando a di- Resultados e discussão
minuição direta ou indiretamente de volumes e capacidades Nos estudos analisados foram averiguadas quais as altera-
pulmonares, anormalidades na relação ventilação/perfusão ções que podem vir a influenciar a dinâmica respiratória e a fun-
pela hipoxemia de repouso e de decúbito dorsal provavel- cionalidade do indivíduo, buscando assim discutir parâmetros
mente devido ao fechamento de pequenas vias aéreas carac- que possam melhorar a qualidade de vida e diminuir os índices
terístico deste tipo de doente. 11 de morbidade e mortalidade que acometam esta população.

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Estudos apontam que o acúmulo de tecido adiposo na podendo assim diminuir a dor e acelerar sua recuperação,
cavidade abdominal, restringe a expansibilidade da caixa to- trazendo a este conforto respiratório e melhorando a quali-
rácica, pois leva a uma maior restrição ao trabalho diafrag- dade do pós-operatório. 5,9
mático, resultando em alterações negativas nos volumes e Porém é de clara importância as orientações para que se
capacidades pulmonares. 4 evite o surgimento de futuras complicações como a prescri-
Forti et al apud Enzi et al, também evidencia que a alte- ção de exercícios respiratórios, averiguando as característi-
ração mais importante resultante da obesidade, relaciona-se ca respiratórias já apresentadas por esse tipo de paciente e
a diminuição do Volume de Reserva Expiratório (VRE) que também as consequências de uma cirurgia abdominal alta na
leva a queda da Capacidade Residual Funcional (CRF), pro- atividade diafragmática. Outro procedimento de extrema ne-
veniente da compressão sofrida pela caixa torácica em espe- cessidade é enfatizar a importância da tosse, além a instrução
cial o diafragma, e uma redução da mesma pelo acúmulo de adequada que a tosse cause menos desconforto possível ao
tecido adiposo em seu revestimento, levando de certo modo paciente, devido a existência da ferida cirúrgica. A deambu-
a uma insuficiência pulmonar restritiva. Com isso a obesida- lação precoce deve ser considerada um fator preponderante
de leva a um aumento da resistência pulmonar e diminuição na fase de reabilitação. 5
da complacência, relutante do desequilíbrio entre o volume e Silva 2009, aponta a importância da prática de exer-
pressão existente no pulmão. 4, 13 cícios de expansão pulmonar e treinamento dos músculos
Segundo Paisani et al, 2005, a mecânica respiratória está respiratórios, por meio do trabalho de força e resistência
diretamente relacionada com a localização do tecido adipo- destes músculos baseando-se nas medidas de pressão ins-
so, sendo quanto mais central o depósito menor será a efeti- piratória máxima (PiMÁX) e pressão expiratória máxima
vidade do trabalho respiratório. 7 (PeMÁX), sendo a fisioterapia pré-operatória como uma
A obesidade propicia profundas alterações no sistema medida profilática. 9
respiratório e na demanda metabólica, pois obesos apresen- É notório que qualquer procedimento cirúrgico propi-
tam um consumo elevado de oxigênio e uma produção au- cia algum grau de disfunção respiratória, mesmo quando o
mentada de dióxido de carbono mesmo em repouso. 15 sistema respiratório não apresenta alguma patologia, já que
É notório que as ações dos músculos respiratórios e o o procedimento cirúrgico promove alterações na mecânica
posicionamento diafragmático encontram-se alterados na respiratória influenciada pela utilização de anestésicos ou até
obesidade, onde essencialmente existe um comprometimen- pela dissecção dos tecidos. 16
to na relação entre força muscular e capacidade de enduran- Segundo Caobiando et al, 2010 o evento cirúrgico oca-
ce, acarretando um maior trabalho respiratório, consumo de siona uma diminuição da complacência pulmonar, aumento
oxigênio e dispêndio energético. 4,5,7 do shunt pulmonar, aumento do trabalho respiratório, hipo-
Uma problemática que deve ser considerada é a apon- xemia, taquicardia, atelectasia e pneumonia. Isso deve-se
tada em estudo de Paisani et al, 2005 apud Eichenberg, redução dos volumes e capacidades, algumas vezes oriun-
2002, onde ao comparar obesos e não obesos submetidos a dos da diminuição da força respiratória, sendo que a redução
anestesia geral, mostrou que os obesos apresentaram maior desses valores dependem diretamente sobre o tempo de in-
incidência de atelectasias no período pós-operatório que os tervenção cirúrgica e de internação hospitalar, tipo de incisão
indivíduos não obesos. 7 e tempo de permanência sobre a ventilação mecânica. 16
Outro fator de grande importância no paciente que será Em seu estudo Souza et al 2009, constatou a importância
submetido a gastroplastia consiste no tipo de procedimen- da utilização da manobra de recrutamento alveolar na fase
to, onde a cirurgia bariátrica por ser considerada um tipo de intra-operatória, objetivando a redução de atelectasias, onde
procedimento abdominal alto com incisão mediana levando com a elevação súbita da Pressão Positiva Expiratória Fi-
um déficit na integridade da musculatura abdominal, além de nal (PEEP) para 30 cm/H2O desencadeou melhora no índice
proporcionar uma maior manipulação diafragmática levando PaO2/FiO2. 4
a um comprometimento nas hemicúpulas direita e esquerda, Quilici, 2010 aborda que na fase pós-operatória deve-se
predispondo a um maior tempo de internação e maior risco de pensar inicialmente nas complicações precoces que podem
complicações, não sendo ainda ignorado o fato da utilização surgir neste tipo de paciente, como embolia pulmonar, insufi-
de bloqueadores neuromusculares durante as anestesias e ou- ciência respiratória, atelectasias, pneumonias, broncoespas-
tros mecanismos indiretos como os processos álgicos. 9, 12,16, 17 mos, hemorragia, fístula, deiscências e estenoses. 2, 19
Moulim et al, 2009 aponta que cirurgias no andar supe- Silva et al, 2007 aponta que as complicações pós-ope-
rior do abdômen, causam alterações da função pulmonares, ratórias estão relacionadas à fatores como doença pulmonar
aumentando a frequência respiratória, redução da mobilida- anterior, alterações gasométricas, utilização de ventilações
de diafragmática e da demais musculatura respiratória, pro- inadequadas no intra-operatório, tempo cirúrgico prolonga-
movendo um déficit no controle da respiração e retenção de do, aumento do tempo de imobilização, tempo prolongando
secreção pulmonar. 17,18 sobre ventilação mecânica, entre outros. 11
Devido as características respiratórias e estruturais Como apontado por Ramos et al (2009) não deve ser
do obeso, cabe a fisioterapia pré-operatória orientar o pa- ignorado que a manipulação das vísceras durante o procedi-
ciente sobre os efeitos da anestesia, quais os eventos no mento cirúrgico, gera uma inibição reflexa do nervo frênico
procedimento cirúrgico e suas consequências, objetivando e consequente paralisia temporária do diafragma, afetando
tranquilizar e orientar o paciente, contendo sua ansiedade, assim a mecânica ventilatória. 12,20, 21

86
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Outro fator que não pode ser esquecido e de grande in- vias, pode efetivamente reduzir a ocorrência de complica-
fluência para o surgimento de complicações e a evolução do ções pulmonares. 25
paciente no pós-operatório, trata-se da idade apresentada Fontana, 2009 aborda que na fase pós-operatória a fi-
pelo paciente, pois o envelhecimento está associado à perda sioterapia deve prevenir e resolver as complicações pulmo-
de massa muscular do diafragma e músculos acessórios o nares, promovendo a reexpansão de áreas atelectasiadas,
que reduz a força de tais músculos e consequentemente a eliminação do excesso de secreção pulmonar, além do po-
capacidade de trabalho. 9 sicionamento e mobilidade no leito, diminuir o edema de
Um dos principais eventos que podem a vir ocorrer no membros inferiores e deambulação precoce. 5
pós-operatório, são as atelectasias, que em muitos casos estão Sendo assim tais atividades fisioterapêuticas podem ser
relacionada à disfunção diafragmática sendo esta oriunda de conduzidas da seguinte forma: manobras de higienização
uma inibição reflexa do nervo frênico que pode ser induzi- brônquica, por meio huffing/tosse associados a auxílio expi-
da devido aos anestésicos que contém como princípio ativo ratório e drenagem autógena, expansão pulmonar por meio
neurobloqueadores, sendo tal evento mais evidente em obe- de inspiração profunda, inspiração em tempos, sustentação
sos. Essa disfunção diafragmática pode predispor também ao máxima inspiratória, com ou sem elevação dos membros
desenvolvimento de infecções nas bases pulmonares, aumento superiores e apoio ílio-costal, exercícios respiratórios para
o risco de tais eventos durante o pós-operatório. 7,16, 22, 23 auxiliar na desinsuflação pulmonar e freno labial, treino de
É conhecido também que as intervenções cirúrgicas padrão respiratório diafragmático com comando verbal e fe-
onde o acesso é realizado com paciente em supino, promo- edback sensorial, troca de decúbito, exercícios metabólicos
verão uma maior quantidade de anormalidades respiratórias, para membros inferiores por meio da tríplice flexão, deam-
resultando uma diminuição da complacência pulmonar e um bulação, orientações sobre a prática de exercícios nos demais
aumento da resistência ao fluxo dos gases desenvolvendo horários, orientação para o paciente sobre a postura adotada
uma diminuição da ventilação pulmonar. 24 no pós-operatório visando a prevenção e o alívio da dor, tam-
No período de até duas semanas após a intervenção ci- bém orientar para que todos os exercícios que proporcionem
rúrgica ainda ocorrerá à restrição do parênquima pulmonar, o aumento da pressão intra-abdominal sejam realizados com
aumentando os riscos de complicações pulmonares, como apoio de uma almofada na região da incisão.
a retenção de CO2, atelectasias e infiltrado pulmonar. Um Para Moulim, 2009 a fisioterapia respiratória tem sido re-
método utilizado e com bons resultados para a resolução comendada como método para restabelecimento precoce da
do quadro é a utilização da Pressão Positiva Intermitente função pulmonar e prevenção de complicações pulmonares
(CPAP), por meio de tal recurso ocorrerá a restauração da no pós-operatório. Para esses objetivos, vários recursos de
capacidade funcional residual, aumento da oxigenação, me- reexpansão pulmonar, tais como a inspirometria de incentivo
lhora da potência muscular, porém o CPAP pode causar dis- e a pressão positiva expiratória (Expiratory Positive Airway
tensão gástrica. 6, 17 Pressure, EPAP), são indicados após a cirurgia abdominal. 18
Não podendo ser ignorado o achado do estudo de Souza Em seus estudos Forgiarini Júnior et al (2009), demons-
et al (2012), onde pontuam que a realização a realização de tra que a atuação fisioterapêutica no pós-operatório imediato
fisioterapia respiratória convencional de forma isolada como é benéfica para indivíduos submetidos a cirurgias abdomi-
associada ou uso de CPAP uma maior contribuição para a me- nais, pois valores referentes a função pulmonar e força da
cânica ventilatória nas primeiras 24 horas do pós-operatório. 17 musculatura respiratória dos indivíduos que sofreram fisiote-
Nas primeiras semanas após a cirurgia bariátrica, deve rapia precoce apresentam melhores valores do que indivídu-
ser analisada a evolução das feridas cirúrgicas, não poden- os que não realizaram a intervenção fisioterapêutica. 26
do ser esquecido que o procedimento cirúrgico propicia dor. Outra característica de anormalidade nos indivíduos
Com a evolução do paciente no decorrer das semanas não obesos, é que estes possuem grande propensão de desen-
pode ser ignorado à presença de dobras de pele em excesso, volverem problemas cardiovasculares, tais pacientes apre-
já que estas vão afetar a funcionalidade, além das restri- sentam uma elevação proporcional ao aumento de peso do
ções provenientes das cicatrizes que devem ser trabalhadas volume circulatório e plasmático, débito cardíaco, pressões
pela fisioterapia. 1, 2 de enchimento, sendo assim pode-se considerar que se há
Segundo Gerk, 2007 a deambulação precoce, assim um aumento do volume circulatório dentre eles o fluxo pul-
como a postura e posicionamento do paciente pós gastro- monar que predispõem ao desenvolvimento da hipertensão
plastia influencia nos baixos índices de mortalidade nos in- pulmonar em obesos e hipertrofia excêntrica do miocárdio.
divíduos com antecedentes de hipertensão arterial sistêmica, Tal aumento do fluxo sanguíneo pulmonar pode ser conside-
diabetes melittus, distúrbios respiratórios e grandes varizes rado como um dos fatores que classifica a obesidade como
em membros inferiores. 1 uma doença pulmonar restritiva, além de promover a falên-
O posicionamento corporal é um fator que age direta- cia ventricular direita em longo prazo. 6, 15, 27
mente sobre a mecânica respiratória e a distribuição do fluxo Pode-se correlacionar que a obesidade está diretamente
sanguíneo pulmonar devido à ação da gravidade, com impli- relacionada com a hipertensão arterial sistêmica, pois com o
cações diretas para a troca gasosa relevante a modificações ganho de peso o sistema vascular precisa suprir a demanda
na relação ventilação/perfusão. 9 necessária. Acredita-se que seja necessário de 2 a 3 ml de san-
As intervenções preventivas, incluindo o controle da gue para irrigar 100g de tecido adiposo, em um indivíduo que
dor, fisioterapia respiratória e pressão positiva contínua nas apresenta 100 kg em excesso, exige uma demanda proporcio-

87
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nalmente de 3 litros de sangue por minuto, ou seja, há a neces- 7. Paisani, Denise M., Chiavegato, Luciana D., FARESIN, Sônia M.. Volumes, Capa-
cidades Pulmonares e Força Muscular Respiratória no Pós-Operatório de Gastro-
sidade de se elevar a pressão para que haja força de impulsão plastia. J Bras Pneumol 2005; 31(2): 125-32.
ao sangue em um sistema vascular de maior extensão. 15, 27 8. Segal, Adriano. Fandiño, Julia. Indicações e Contra-Indicações para Realização
das Operações Bariátricas. Rev Bras Psiquiatr 2002;24(Supl III):68-72.
9. Silva, Andrea K. M. B.. Efeitos da Fisioterapia Respiratória Pré-Operatória em
Pacientes Candidatos à Cirurgia Bariátrica. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de
Conclusão Medicina de São Paulo, 2009. USP/FM/SBD-087/09.
A gastroplastia é um evento que proporciona alterações 10. Negrão, Renata J. S.. Cirurgia Bariátrica: Revisão Sistemática e Cuidados de En-
funcionais, no que se diz respeito do sistema respiratório, fermagem no Pós-Operatório. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem,
Universidade de São Paulo, 2006.
locomotor e cardiovascular, sendo assim a fisioterapia respi- 11. Silva, Áurea Maria Oliveira da; Boin, Ilka de Fátima Santana; PAREJA, José Car-
ratória e motora torna-se necessária e efetiva, independente los and Magna, Luis Alberto. Análise da Função Respiratória em Pacientes Obesos
Submetidos à Operação Fobi-Capella. Rev. Col. Bras. Cir. [online]. 2007, vol.34,
se o obeso encontra-se na fase pré ou pós-operatória. n.5, pp. 314-320.
Entretanto tais indivíduos necessitam da atuação de uma 12. Costa, D. et al.. Estudo dos volumes pulmonares e da mobilidade toracoabdominal
de portadoras de obesidade mórbida, submetidas à cirurgia bariátrica, tratadas com
equipe multidisciplinar, estando esta envolvida no processo duas diferentes técnicas de fisioterapia. Rev Bras Fisioter, São Carlos, v. 13, n. 4,
cirúrgico e nas consequências que a cirurgia bariátrica pro- p. 294-300, jul./ago. 2009
13. Tenório, Luís H. S.; Lima, Anna M. J.; Santos, Maria S. B.. Intervenção da Fi-
porciona, sendo tais alterações estruturais e emocionais, evi- sioterapia Respiratória na Função Pulmonar de Indivíduos Obesos Submetidos a
tando que ocorra uma regressão no quadro de obesidade, já Cirúrgia Bariátrica. Uma Revisão. Rev. Portuguesa de Pneumologia. Vol XVI N.º
2 Março/Abril 2010.
que este indivíduo passará por desconfortos, adaptação da 14. Cardoso FPF, Osella OFS. Manovacuometria e ventilometria de mulheres obesas
dieta e expectativa de uma nova fase em sua vida. no pré-operatório de gastroplastia redutora [dissertação]. Brasília, DF: Universida-
de Católica de Brasília; 2005.
A fisioterapia deve visar à prevenção de complicações 15. Auler Jr., José O. C.; Giannini, Cindy G.; Saragiotto, Daniel F.. Desafios no Ma-
no procedimento cirúrgico, assim como deve melhorar a fun- nuseio Peri-Operatório de Pacientes Obesos Mórbidos: Como Prevenir Complica-
ção pulmonar e reduzir os fatores percussores relacionados ções. Rev. Bras. Anestesiol. 2003; 53:2: 227-236.
16. Caobianco, Juliana D. R et al. Estudo de Revisão Sobre o Tempo de Recuperação
à morbidade e mortalidade no pós-operatório, melhorando da Função Respiratória em Pacientes Submetidos à Cirurgia Abdominal Alta. UNI-
assim a qualidade de vida do paciente, e diminuindo o perí- Ciências, v.14, n.2, 2010.
17. Souza, F.S.P. et al. Fisioterapia respiratória associada à pressão positiva nas vias
odo de internação do mesmo, pois estudos evidenciam que aéreas na evolução pós-operatória da cirurgia bariátrica. Rev. Fisioter Pesq. 2012;
o obeso apresenta maior predisposição ao desenvolvimento 19(3). 204-209.
18. Moulim, Marcela C. B.; Miguel, Gustavo P. S.; Forti, Eli M. P.; Costa, Dirceu.
de complicações pulmonares na fase pós-operatória que o Comparação Entra Inspirometria de Incentivo e Pressão Positiva Expiratória na
indivíduo não obeso. Função Pulmonar após Cirurgia Bariátrica. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo,
v.16, n.2, p.166-72, abr./jun. 2009.
Porém não deve ser negligenciado que tais pacien- 19. Eichenberger A, Proietti S, Wicky S, Frascarolo P, Suter M, Sapan DR, et al. Mor-
tes apresentam em muitos casos, doenças provenientes da bid obesity and postoperative pulmonary atelectasis: an underestimated problem.
Anesth Analg. 2002;95(6):1788-92.
obesidade como, cardiopatias, hipertensão arterial sistêmi- 20. Ramos GC, Pereira E, Gabriel-Neto S, Oliveira EC. Aspectos históricos da pressão
ca, diabetes mellitus, lesões osteo-articulares, entre outras. arterial de oxigênio e espirometria relacionados à operação abdominal. Arq Bras
Cir Dig 2009;22(1):50-6.
Contudo seu tratamento não deve ser tão somente focado no 21. Lawrence VA, Cornell JE, Smetana GW, American Collage of Physicians. Stra-
pós-operatório da gastroplastia, mas sim na análise integral tegies to reduce postoperative pulmonary complications after noncardiothoracic
do paciente. surgery: systematic review for the american college of physicians. Ann Intern Med.
2006;144(8):596-608.
22. Silva E.F., Guedes R.G., Ribeiro E.C. Estudo das Repercussões das Cirurgias Ab-
dominais sobre os Músculos Respiratórios. Fisiot Mov,16(1): 51, 2003
Referências 23. Vieira G.B, Bregagnol R.K, Santos A.C.B, Paiva D.N. Avaliação da Eficácia da
1. Gerk, P.O. Cirurgia do Contorno Corporal Após Grandes Perdas Ponderais. Rev.
Estimulação Nervosa Transcutânea Sobre a Intensidade da Dor, Volumes Pulmo-
Soc. Bras. Cir. Plást. 2007; 22(3): 143-52.
2. Quilici, m.t.v.. E Após a Cirurgia Bariátrica? Rev. Fac. Ciênc. Méd. Sorocaba, v8, nares e Força Muscular Respiratória no Pós-Operatório de Cirurgia Abdominal.
n.3, p.30-32, 2006. Rev Bras Fisiot, 8(2): 145-8, 2004.
3. Souza, A.P. et al. Análise dos Efeitos da Manobra de Recrutamento Alveolar na 24. Melo, Maria H. O.. Efeitos da Gastroplastia Redutora Sobre a Função Pulmonar
Oxigenação Sanguínea Durante Procedimento Bariátrico. Rev. Bras. Anestesiol. à Beira do Leito no Pós-Operatório de Mulheres Obesas. Dissertação (Mestrado).
[online]. 2009, vol.59, n.2, pp. 177-186. Universidade Católica de Brasília. 2006
4. Forti, e.m.p.. et al. Estudo da Função Pulmonar e Força Muscular Respiratória de 25. Tzani P, Chetta A, Olivieri D. Patient assessment and prevention of pulmonary
Obesas Móbidas Submetidas à Gastroplastia com Acompanhamento Fisioterapêu- side-effects in surgery. Curr Opin Anaesthesiol. 2011;24(1):2-7.
tico. Unimep. 26. Forgiarini Júnior, Luiz A.. et al. Atendimento Fisioterapêutico no Pós-Operatório
5. Fontana, H.B.; Jacinto, I.C.; Paulin, E. Fisioterapia Respiratória e Motora no Pós- Imediato de Pacientes Submetidos à Cirurgia Abdominal. Jornal Brasileiro de
-Operatório Imediato de Gastroplastia – Relato de Caso. Arq. Ciênc. Saúde UNI- Pneumologia. 1383 – Vol. 35/ Ed. 5/ Maio de 2009.
PAR, Umuarama, v. 13, n. 3, p. 237-242, set./dez. 2009. 27. Silva, Tiago José P. V.. et al. Hidroterapia e Reabilitação Cardiovascular: Uma
6. Sanches, G. D. et al. Cuidados Intensivos Para Pacientes em Pós-Operatório de Ci- Nova Abordagem no Pós-Operatório Tardio de Cirurgia Bariátrica. Mundo saúde.
rurgia Bariátrica. Rev. bras. ter. intensiva [online]. 2007, vol.19, n.2, pp. 205-209. 2006. 30(1):179-184.

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Revisão

Intensidade do treinamento durante


a reabilitação convencional para hemiparéticos
pós acidente vascular encefálico
e estresse cardiorrespiratório

Training intensity during conventional rehabilitation


for hemiparesis after stroke and cardiopulmonary stress

Janaine Cunha Polese1, Giselle Silva e Faria2,


Thaianne Cavalcante Sérvio3, Alexandra Farrapo de Souza4, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela5

1. Fisioterapeuta, M.Sc. e Doutoranda do pro- Resumo


grama de Pós-graduação em Ciências da
Reabilitação, Universidade Federal de Minas
Introdução: Indivíduos pós Acidente Vascular Encefálico (AVE) apresentam-
Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Ge- -se frequentemente descondicionados e a literatura aponta que grande parte desses
rais, Brasil/ Ph.D. Candidate, University of indivíduos são sedentários. Teoricamente, a reabilitação deveria ser realizada em
Sydney, Sydney, New South Wales, Australia. intensidades capazes de promover estresse cardiorrespiratório adequado e minimi-
2. Fisioterapeuta, Mestranda do programa de
Pós-graduação em Ciências da Reabilitação,
zar tal descondicionamento. O objetivo deste estudo foi revisar a literatura acerca
UFMG, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil da intensidade das sessões de reabilitação capazes de proporcionar estresse car-
3. Fisioterapeuta, M.Sc. e Doutoranda do pro- diorrespiratório em indivíduos pós AVE. Metodologia: Revisão da literatura onde
grama de Pós-graduação em Ciências da estudos que avaliaram o estresse cardiorrespiratório por meio da frequência car-
Reabilitação, UFMG, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil.
díaca alvo (FCalvo) de indivíduos pós AVE foram incluídos. A busca dos artigos
4. Acadêmica do curso de graduação em Fisiote- foi realizada nas bases de dados Medline, Scielo, Embase e PEDro no primeiro se-
rapia, Faculdades INTA, Sobral, Ceará, Brasil mestre de 2014. Resultados: Foram encontrados quatro estudos transversais, com
5. Fisioterapeuta, Ph.D., Professora Titular do a amostra total de 78 hemiparéticos pós-AVE, tendo sido três estudos realizados
Departamento de Fisioterapia, UFMG, Belo
Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
na fase aguda pós-lesão e um na fase crônica, totalizando 267 atendimentos. Em
nenhum dos estudos, a intensidade das sessões foi capaz de proporcionar estresse
cardiorrespiratório adequado. A atividade que demonstrou proporcionar um maior
Endereço para correspondência: Janaíne estresse cardiorrespiratório em todos os estudos avaliados foi a marcha. Conclu-
Cunha Polese – Departamento de Fisiotera-
pia – Universidade Federal de Minas Gerais
são: A intensidade do exercício proporcionada durante a reabilitação não é capaz
– Avenida Antônio Carlos, 6627, Campus de provocar efeitos cardiorrespiratórios adequados em indivíduos hemiparéticos,
Pampulha – CEP: 31270-901 Belo Horizonte tanto nas fases aguda quanto crônica pós lesão.
– Minas Gerais – Brasil – Fone: 55-31-3409-
7403/ Fax: 55-31-3409-4783 Palavras-chave: acidente cérebro vascular, fisioterapia (especialidade), treino
E-mail: janainepolese@yahoo.com.br cardiorrespiratório.

Recebido para publicação em 29/01/2015 e acei-


to em 19/03/2015, após revisão.

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Abstract
Introduction: Deconditioning is often observed after stroke and the literature indicates that most of the individuals with
stroke are sedentary. Theoretically, rehabilitation should have adequate intensities to provide cardiopulmonary stresses and
minimize deconditioning. The aim of this study was to review the literature regarding the intensity of the rehabilitation ses-
sions, which were able to provide cardiorespiratory stresses in stroke subjects. Methodology: This literature review included
studies which evaluated cardiorespiratory stresses based upon the target heart rates of stroke subjects. A search of the litera-
ture was conducted in the MEDLINE, SciELO, EMBASE, and PEDro databases in the first semester of 2014. Results: Four
cross-sectional studies were found, with the total sample of 78 stroke individuals; three included subjects at the acute phase
and one study included chronic individuals, totalling 267 sessions. The results of all studies showed that the intensity of the
sessions was not capable of providing adequate cardiopulmonary stresses. The activity which provided higher cardiorespira-
tory stresses was gait. Conclusion: Exercise intensity during rehabilitation is not able to provide adequate cardiorespiratory
stresses in stroke individuals, at both the acute and chronic stages.
Keywords: stroke, physical therapy (specialty), cardiorespiratory training.

Introdução 1990. Foram considerados para esta revisão apenas os arti-


O Acidente Vascular Encefálico (AVE) acarreta seque- gos publicados na íntegra, a partir dos seguintes descritores:
las, que ocasionam tanto limitações físicas, quanto limita- “stroke”, “hemiparesis” e “hemiplegia”, combinados com o
ções funcionais1. Tais limitações, por sua vez, dificultam a descritor “fitness”, “training” e “rehabilitation”, visando en-
adesão dos indivíduos à prática de atividades físicas, favo- contrar o maior número de artigos.
recendo assim o descondicionamento e o sedentarismo1. O Foram incluídos os estudos que: (1) a população-alvo
sedentarismo é altamente prevalente nessa população2, sen- foi constituída por hemiparéticos pós-AVE; (2) avaliaram
do que a literatura reporta que em ambientes hospitalares, a FCalvo durante as sessões de reabilitação; (3) incluíram
indivíduos pós AVE permanecem cerca de 77% do dia em sessões de reabilitação consideradas “convencionais” por
hábitos sedentários3. Já em ambientes comunitários, uma re- definição. Além disso, foi realizada busca manual a partir
cente revisão sistemática encontrou que indivíduos pós AVE das referências dos artigos, sendo que outros estudos foram
permanecem entre 63% a 87% do dia em tais hábitos4. utilizados para embasar as discussões pertinentes ao tema.
Em contrapartida, de acordo com o guia clínico mais
atual para indivíduos pós AVE, é recomendado que estes rea- Resultados
lizem pelo menos 30 minutos de atividades físicas com inten- Foram encontrados quatro estudos transversais, com a
sidade moderada (40% da frequência cardíaca alvo- FCalvo) amostra total de 78 hemiparéticos pós-AVE, tendo sido três
para alcançarem uma aptidão física adequada2. Adicional- estudos realizados na fase aguda pós-lesão7-9 e um na fase
mente, é reconhecido que a redução do condicionamento crônica10. As características dos estudos incluídos na pre-
cardiorrespiratório associada ao sedentarismo representa o sente revisão podem ser observadas na tabela 1.
maior fator de risco modificável para novas ocorrências de Dois estudos acompanharam somente um atendimento
lesões isquêmicas5. de cada indivíduo7,9, um observou dois atendimentos com o
Nesse sentido, a reabilitação deveria proporcionar, te- intervalo mínimo de uma semana entre eles10 e o outro estu-
oricamente, intensidades adequadas de estresse cardiorres- do observou os atendimentos a cada duas semanas por quatro
-piratório, a fim de minimizar o descondicionamento cardio- semanas8, totalizando 267 atendimentos. Dois estudos foram
vascular desses indivíduos, visto que os principais objetivos conduzidos no Canadá8,9, um na Austrália7 e um no Brasil10.
da reabilitação seriam prevenir as complicações decorrentes Em nenhum dos estudos, a intensidade das sessões foi
da inatividade, tais como fraqueza muscular, contraturas e capaz de proporcionar estresse cardiorrespiratório adequado,
deformidades, reduzir o risco de novos eventos cardiovascu- ou seja, a FCalvo não foi alcançada e mantida por pelo me-
lares e AVE; e promover o condicionamento cardiorrespira- nos 10 minutos. A atividade que demonstrou proporcionar
tório2,6. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi revi- um maior estresse cardiorrespiratório em todos os estudos
sar a literatura disponível acerca da intensidade das sessões foi a marcha.
de reabilitação capazes de proporcionar adequado estresse
cardiorrespiratório em indivíduos pós AVE.
Discussão
Os resultados desta revisão identificaram que as ses-
Metodologia sões de reabilitação não são capazes de promover estresse
Para essa revisão de literatura, estudos que avaliaram o cardiovascular suficiente em indivíduos pós AVE, indepen-
estresse cardiorrespiratório por meio da FCalvo de indivídu- dentemente da fase pós-lesão. Mesmo durante a atividade
os pós-AVE foram analisados e comparados entre si. de marcha, onde a literatura aponta existir um maior nível
Busca e seleção dos estudos de estresse cardiovascular nesses indivíduos, os resultados
Realizou-se uma pesquisa a partir das bases de dados observados não foram mantidos por tempo suficiente e/ou
Medline, Scielo, Embase e PEDro no primeiro semestre considerados adequados, ou seja, no mínimo 10 minutos,
de 2014, sem restrição de idiomas, publicados a partir de para proporcionar mudanças cardiovasculares adequadas.

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Tabela 1: Resumo dos estudos incluídos (n=4)


foram estratificadas em permanecer de
pé, treino em degraus, marcha habitual,
marcha em diferentes condições, ativi-
dades manuais com o membro par ético
e repouso, sendo que em nenhuma delas
os indivíduos atingiram a FCalvo du-
rante o tempo mínimo necessário para
promover estresse cardiorrespiratório.
Adicionalmente, não foram observadas
diferenças entre a intensidade e duração
das atividades entre a primeira e segun-
da sessão10.
Os resultados desta revisão de-
monstraram que, independentemente
da fase pós lesão ou do País (desen-
volvido ou em desenvolvimento), as
sessões de reabilitação não provocam
estresses cardiorrespiratórios suficien-
tes para proporcionar uma melhor ap-
tidão cardiorrespiratória em indivíduos
pós AVE. Apesar dos guias clínicos
apontarem a necessidade do treino car-
diorrespiratório nessa população, este
continua sendo subutilizado na prática
clínica, demostrando que esforços de-
vem ser feitos para diminuir a lacuna
existente entre a teoria e a prática2.

MacKay-Lyons e Makrides8 acompanharam o compor- Conclusão


tamento cardiovascular de hemiparéticos agudos ao longo Embora os estudos incluídos na revisão possuam diver-
de 14 semanas, durante atendimentos de fisioterapia e tera- gência entre si em relação a metodologia e análise dos dados,
pia ocupacional. Eles observaram que os atendimentos de os achados apontaram que a intensidade do exercício pro-
fisioterapia proporcionaram maior estresse cardiovascular, porcionada durante a reabilitação não é capaz de provocar
quando comparados com os atendimentos de terapia ocupa- efeitos cardiorrespiratórios adequados em indivíduos hemi-
cional. Já Kuys et al.7 observaram apenas um atendimento paréticos, tanto nas fases aguda quanto crônica pós lesão.
de fisioterapia de hemiparéticos na fase aguda estratificados
como deambuladores e não deambuladores, seguido por fil- Referências
magem de algumas atividades para possíveis análises poste- 1. Duncan F, Kutlubaev MA, Dennis MS, Greig C, Mead GE. Fatigue after stroke: a systema-
tic review of associations with impaired physical fitness. Int J Stroke 2012;7(2):157-62.
riores. Em ambos os estudos, os indivíduos não atingiram a 2. Billinger SA, Arena R, Bernhardt J, Eng JJ, Franklin BA, Johnson CM, et al. Physical
FCalvo em nenhuma das atividades, mesmo aqueles consi- activity and exercise recommendations for stroke survivors: a statement for healthcare
professionals from the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke
derados como deambuladores no estudo de Kuys et al.7, que 2014;45(8):2532-53
3. Askim T, Bernhardt J, Løge AD, Indredavik B. Stroke patients do not need to be inactive
teoricamente estariam mais aptos a realizar atividades que in the first two-weeks after stroke: results from a stroke unit focused on early rehabilita-
tion. Int J Stroke 2012;7(1):25–31.
exigissem maior demanda cardiorrespiratória. 4. English C, Manns PJ, Tucak C, Bernhardt J. Physical activity and sedentary beha-
Prajapati et al.9 avaliaram o número de passos e a FCal- viors in people with stroke living in the community: a systematic review. Phys Ther
2013;94(2):185–196
vo atingidos durante as sessões de reabilitação de indivíduos 5. Thompson PD, Buchner D, Pina IL, Balady GJ, Williams MA, Marcus BH, et al. Exerci-
se and physical activity in the prevention and treatment of atherosclerotic cardiovascular
pós AVE no período de internação hospitalar. Os resultados disease: a statement from the Council on Clinical Cardiology (Subcommittee on Exerci-
se, Rehabilitation, and Prevention) and the Council on Nutrition, Physical Activity, and
demonstraram que, além da intensidade das atividades não Metabolism (Subcommittee on Physical Activity). Circulation 2003; 107:3109–16.
ter sido considerada suficiente, o número de passos também 6. Gordon NF, Gulanick M, Costa F, Fletcher G, Franklin BA, Roth EJ, et al.. Physical acti-
vity and exercise recommendations for stroke survivors: an American Heart Association
não foi adequado. Dos oito indivíduos incluídos no estudo, scientific statement from the Council on Clinical Cardiology, Subcommittee on Exer-
cise, Cardiac Rehabilitation, and Prevention; the Council on Cardiovascular Nursing;
apenas dois atingiram 40% da FCalvo e somente um indi- the Council on Nutrition, Physical Activity, and Metabolism; and the Stroke Council.
víduo foi capaz de atingir 80% da FCalvo. No entanto, em Circulation 2004;109(16):2031-41.
7. Kuys S, Brauer S, Ada L. Routine physiotherapy does not induce a cardiorespiratory
todos os casos a manutenção do tempo foi insuficiente, em training effect post stroke, regardless of walking ability. Physiother Res Int 2006 11(4):
219–227.
torno de 3% do tempo total do atendimento nos dois primei- 8. MacKay-Lyons MJ, Makrides L. Cardiovascular stress during a contemporary stroke
rehabilitation program: is the intensity adequate to induce a training effect? Arch Phys
ros indivíduos e apenas um minuto para o segundo. Med Rehabil 2002 (83):1378-83.
Já o estudo de Polese et al.10 foi o único que acompa- 9. Prajapati SK, Mansfield A, Gage WH, Brooks D, McIlroy WE. Cardiovascular Respon-
ses Associated with Daily Walking in Subacute Stroke. Stroke Res Treat 2013:1-7.
nhou indivíduos na fase crônica pós lesão, incluindo apenas 10. Polese JC, Scianni AA, Kuys S, Ada L, Teixeira-Salmela LF. Cardiorespiratory Stress is
not Achieved During Routine Physiotherapy in Chronic Stroke. Int J Phys Med Rehabil
indivíduos com capacidade para deambular. As atividades 2014: 2-4.

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Revisão

Efetividade da eletroestimulação nervosa


transcutânea (tens) na dismenorreia
secundária à endometriose

Effectiveness of ttranscutaneouseletric nerve stimulation (tens)


in secondary dysmenorrhea of endometriosis
Priscila Maria Martins Freitas1, Leandro Gomes Barbieri2

1. Acadêmica do curso de graduação em Fisiote- Resumo


rapia, Faculdades INTA, Sobral, Ceará, Brasil
2. Fisioterapeuta, Mestre em Meio Ambiente e
Introdução: A endometriose é uma afecção crônica, comum em mulheres em
Sustentabilidade pela UNEC – Centro Uni- idade reprodutiva, que pode provocar dismenorreia progressiva, dor pélvica crôni-
versitário de Caratinga, Coordenador, Pro- ca, dispareunia e infertilidade. A eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS)
fessor e Pesquisador do Curso de Fisioterapia é uma intervençãoanalgésica, não invasiva e livre de efeitos adversos. O objetivo
do Instituto Superior de Teologia Aplicada
(INTA).Sobral (CE), Brasil.
do presente estudo foi realizar uma revisão integrativa para evidenciar a ação da
TENS no alívio da dismenorreia primária e embasar a utilização da mesma para
a dismenorreia secundária decorrente da endometriose. Metodologia: Trata-se de
uma revisão integrativa de literatura, realizada no período de outubro de 2014 a
Endereço para correspondência: Leandro
Gomes Barbieri – Av. Noemia Dias Ibiapina,
abril de 2015, foram pesquisados artigos publicados nos últimos dez anos nas
4550, apto 205 – Sobral (CE) – Brasil – CEP bases de dados PubMed, LILACS e Google Acadêmico, com os descritores: esti-
62030-240 – Fone: (088). 9658-2201 mulação elétrica nervosa transcutânea, endometriose, dismenorreia. Resultados:
E-mail: lgbarbieri@hotmail.com. Foram incluídos 6 artigos nesta revisão. Todosos estudos selecionados eviden-
ciaram o alívio da dismenorreia após a utilização da TENS. Conclusão: A TENS
é um método efetivo para o tratamento álgico da dismenorreia primária. Faz-se
Recebido para publicação em 10/01/2015 e acei- necessária a realização de pesquisas que relacionem a TENS com a dismenorreia
to em 08/04/2015, após revisão. secundária, que ocorre na endometriose, pois há uma escassez de estudos sobre
esse tema nas bases de dados pesquisadas.
Palavras-chave: endometriose, estimulação elétrica nervosa transcutânea, disme-
norreia, fisioterapia.

Abstract
Introduction: Endometriosis is a chronic condition, common in women of re-
productive age, which can cause progressive dysmenorrhea, chronic pelvic pain,
dyspareunia and infertility. Transcutaneous electric nerve stimulation (TENS) is an
analgesic intervention, noninvasive and free of adverse effects. The objective of this
study was to conduct an integrative review to highlight the action of TENS in relie-
ving primary dysmenorrhea and to support its use for secondary dysmenorrhea due
to endometriosis. Methodology: This is an integrative literature review, conducted
from October 2014 to April 2015, were surveyed articles published in the past deca-
de in the databases PubMed, LILACS and Google Scholar, with descriptors: Trans-
cutaneous Electric Nerve Stimulation, Endometriosis, Dysmenorrhea. Results: We
included 6 articles in this review. All selected studies have shown the relief of dys-
menorrhea after the use of TENS. Conclusions: TENS is an effective method for
painful treatment of primary dysmenorrhoea. It is necessary to conduct research that
relate TENS with secondary dysmenorrhea, which occurs in endometriosis, because
there is a lack of studies on this subject in the databases searched.
Keywords: endometriosis, transcutaneous electric nerve stimulation, dysmenor-
rhea, physical therapy specialty.

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Introdução ção Elétrica Nervosa Transcutânea, sendo estes utilizados de


A endometriose é uma afecção crônica, dependente do hor- formas combinadas.
mônio estrogênio, responsável pelo crescimento da camada en- Foram incluídos artigos em português, inglês e espa-
dometrial, quando ocorre de forma inadequada leva a aderência nhol, dos tipos ensaios clínicos randomizados e estudo de
de tecido endometrial no exterior da cavidade uterina1. caso, que estivessem disponíveis na íntegra e abordassem a
As mulheres em idade reprodutiva podem ser comumente utilização da TENS no tratamento da dismenorreia primária
acometidas pela endometriose, cerca de 6 a 10% de toda a po- em mulheres em idade reprodutiva.
pulação ocidental apresenta essa condição clínica ginecológica2.
A ocorrência de endometriose é mais elevada em mu- Resultados e discussão
lheres que apresentam a sintomatologia relacionada a essa Foram encontrados 73 artigos, dos quais 6 estavam de
patologia, que inclui dismenorreia progressiva, dor pélvica acordo com os critérios de inclusão estabelecidos para esta
crônica, dispareunia e infertilidade3. revisão. Os artigos inclusos nesta revisão foram publicados
A dismenorreia caracteriza-se por dor e cólicas abdomi- em periódicos nacionais e internacionais em português, es-
nais provocadas durante o período menstrual que comprome- panhol e inglês, entre os anos de 2007 e 2015, sendo um em
tem a qualidade de vida da mulher, refletindo negativamen- 2007, um em 2011, um em 2012 e três em 2013. Nota-se que
te nas suas atividades diárias. Ela pode ser classificada em houve uma continuidade de publicações a respeito do tema
primária ou secundária, dependendo de associação ou não pesquisado, fornecendo consistência nos resultados obtidos
a uma patologia de base4. A secundária refere-se a uma dor para esta revisão.
menstrual cíclica decorrente de uma patologia de base, sur- Foram utilizados ensaios clínicos randomizados e re-
gindo antes da menstruação e se estendendo após a mesma5. latos de casos. Sendo estes selecionados com base na sua
É necessário conservar a função reprodutiva na maioria abordagem sobre o tratamento fisioterápico, com a utilização
das pacientes com endometriose, sendo assim, deve-se optar da TENS em mulheres com manifestação de dismenorreia,
por uma intervenção pouco invasiva e menos dispendiosa foram incluídos apenas estudos que tratavam a dismenorreia
que seja eficaz6. primária, devido à escassez de dados relacionados à disme-
Existem medidas terapêuticas não invasivas como a norreia secundária, sendo assim, este pode ser considerado
Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), funda- um ponto de partida para a abrangência dessa pesquisa, os
mentada na teoria das comportas da dor e na liberação de estudos selecionados foram organizados no quadro 1.
opióides endógenos, utilizadas para promover analgesia7. O trabalho de Oliveira et al. (2012)10 teve como objetivo
A TENS é uma medida terapêuticalivre de efeitos ad- verificar os efeitos da TENS de alta e baixa frequência na
versos, não farmacológica, dessa forma, torna-se uma pos- redução do quadro álgico de mulheres com dismenorreia pri-
sibilidade para as mulheres que sofrem com dismenorreia maria, apresenta o conceito de dismenorreia como sendo um
recorrerem, reduzindo o consumo de medicamentos8. quadro doloroso severo, tipicamente como a cólica, que pode
O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão surgir antes da menstruação ou durante a mesma. Ainda cita
integrativa para evidenciar a ação da TENS no alívio da dis- que a dismenorreia afeta cerca de 50% a 91% das mulheres
menorreia primária e embasar a utilização da mesma para a em idade fértil, sendo destaque nas queixas ginecológicas
dismenorreia secundária decorrente da endometriose. em consultórios10.
O autor diferencia a dismenorreia primária da secundária,
Metodologia onde a primária ocorre em mulheres com anatomia pélvica
O estudo trata-se de uma revisão integrativa da litera- normal, podendo iniciar após a menarca, já a secundária con-
tura, a qual abrange a análise de estudos pertinentes para siste em dor em decorrência de uma alteração na anatomia
embasar e promover o avanço da prática clínica, através da pélvica, como ocorre, por exemplo, na endometriose, podendo
síntese de estudos já publicados sobre um assunto específico, provocar deficiências no sistema reprodutivo da mulher8.
permitindo o conhecimento dos resultados obtidos nos estu- Ainda sobre a dismenorreia, não se trata de um problema
dos posteriores e identificando as lacunas ainda existentes, isoladamente ginecológico, mas que tem relevância no esta-
que necessitem de novos estudos para uma melhor compre- do de saúde da mulher em geral, comprometendo também
ensão, validade e evolução científica9. sua produtividade e qualidade de vida11. A dor menstrual é
A presente pesquisa estendeu-se de outubro de 2014 até a causa mais importante de absenteísmo escolar e laboral
abril de 2015. Foi preenchido um formulário com as seguin- em mulheres em idade reprodutiva, gerando mal estar físico,
tes informações dos trabalhos: base de dados, título, autores, mental e social, sendo, portanto um importante problema so-
periódico (volume, número, página, ano) e objetivo. cioeconômico e de saúde12.
As bases de dados utilizadas foram:PubMed, LILACS As principais medidas utilizadas no tratamento da
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da dismenorreia primária envolvem fármacos, como os anti-
Saúde) e Google Acadêmico, publicados nos últimos dez -inflamatórios não esteroides (AINES) e anticoncepcionais
anos, ou seja, entre 2005 e 2015, utilizando os seguintes orais13.Grande parte dos pacientes que apresentam dismenor-
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Endometriosis, reia sentem alívio com a administração de AINEs. No entan-
Dysmenorrhea, Transcutaneuous Electric NerveStimulation, to, todos os medicamentos provocam efeitos indesejados a
e seus respectivos, Endometriose, Dismenorreia, Estimula- longo prazo, limitando portanto sua eficácia8.

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Quadro 1: Artigos selecionados sobre a utilização da TENS com a TENS7,8,10,11. Avaliou-se ainda a interferência da dis-
no tratamento da dismenorreia, expondo base de dados, tí- menorreia nas atividades de vida diária8.
tulo do trabalho, autores, periódico (vol., nº., pág., ano) e Os trabalhos de Oliveira et al. (2012)10, Baldan, Freitas e
objetivo do trabalho. Zambello (2013)7 e Parsa e Bashirian (2013)13, utilizaram uma
metodologia análoga, adicionando um grupo placebo para a
comparação da terapêutica. Já AlYousef et al. (2013)8 aplica-
ram a TENS em apenas um grupo, sem realizar comparações.
E Tugay et al. (2007)11 comparou a TENS com a Corrente
Interferencial, outra corrente utilizada na eletroterapia para
promover analgesia, não comparando-as com grupo placebo.
Esses aspectos metodológicos encontram-se no quadro 2.
Quadro 2: Aspectos metodológicos dos estudos seleciona-
dos, segundo critérios de inclusão de participantes, avaliação
realizada e intervenção utilizada.

Existem medidas terapêuticas não invasivas como a


Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), funda-
mentada na teoria das comportas da dor e na liberação de
opióides endógenos, utilizadas para promover analgesia7.
A TENS foi desenvolvida baseada no trabalho de Mel-
zack e Wall (Painmechanisms: A new theory 1965). Postu-
laram a Teoria das Comportas, onde a hiperestimulação das
fibras tipo A, bloqueiam a transmissão das fibras tipo C nas Todos os ensaios clínicos selecionados para esta revisão
comportas do corno posterior da medula. O neurotransmis- relataram redução significativa do quadro álgico após apli-
sor Ácido gama-aminobutírico (GABA) liberado na substân- cação da TENS, um deles avaliou ainda a interferência da
cia gelatinosa promoveria o fechamento do portão da dor14. dismenorreia nas AVDs, constatando uma limitação devido
Os estudos de Oliveira et al. (2012)10, Parsa e Bashirian a dor10. Outro estudo avaliou o efeito da TENS nas AVDs,
(2013)13, Baldan, Freitas e Zambello (2013)7, Al Yousef et demostrando uma melhora significativa pós-intervenção8.
al. (2013)8 e Tugay et al. (2007)11 apresentam aspectos se- A avaliação através da EVA, após a utilização do pro-
melhantes no que diz respeito aos critérios de inclusão das tocolo, evidenciou uma redução no quadro álgico dos dois
participantes dos estudos: mulheres em idade reprodutiva, grupos estudados, com maior destaque para o grupo em que
com manifestação de dismenorreia primária, que não faziam foi utilizado a TENS, em comparação ao grupo controle. A
uso de anticoncepcionais orais ou analgésicos, assim, exce- analgesia teve início durante a aplicação da TENS e se esten-
to com relação ao uso dos fármacos, que não foi citado no deu por cerca de 16 horas7.
último7,8,10,11. Nesses estudos utilizaram-se uma escala para Os grupos em que foram feitas intervenções com TENS
mensurar a dor das participantes, antes e após a intervenção de alta e baixa frequência obtiveram alívio da dor, com dife-

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renças significativas, diferenciando-se do grupo placebo, que por gerar desconforto por um período de tempo maior, esten-
não obteve resultado expressivo10. dendo-se além da fase menstrual.
As quinze participantes do estudo referiram um compro- Há ainda a necessidade da realização de pesquisas que
metimento significativo nas suas atividades de vida diária, relacionem a TENS com a dismenorreia secundária, que
decorrente da dismenorreia, destacando maior dificuldade ocorre na endometriose, durante a pesquisa foi constatada a
para estudar (93,3%), até mesmo caminhar foi considerada escassez de estudos sobre esse tema nas bases de dados uti-
uma limitação por 20% das mulheres, assim como realizar as lizadas. O presente estudo serve de fundamento para novas
atividades domésticas (13,33%), a prática de atividade física pesquisas que se direcionem para o alívio do quadro álgico
(13,33%), dormir (13,33%) e trabalhar (6,67%)10. provocado pela endometriose através da TENS, recurso ele-
A presença da endometriose diversifica de danos pe- troterápico da fisioterapia.
quenos, que não alteram a anatomia das vísceras pélvicas,
até mesmo alterações extensas e aderências que modificam Referências
esta anatomia6. 1. Kong S, Zhang Y-H, Liu C-F, Tsui I, Guo Y, Ai B-B, et al. The Complementary
and Alternative Medicine for Endometriosis: A Review of Utilization and Mecha-
Essas alterações decorrentes dos endométrios ectópicos nism. Evid Based Complement Alternat Med [Internet]. Hindawi Publishing Cor-
comprometem a qualidade de vida e a função reprodutora poration; 2014 Jan [cited 2014 Jun 3];2014:01–16. Available from: http://www.
pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=3950373&tool=pmcentrez&rende
dos indivíduos acometidos. Manifestando-se na maioria das rtype=abstract
vezes nos órgãos pélvicos14. 2. Shao R, Cao S, Wang X, Feng Y, Billig H. The elusive and controversial roles of
A incidência da endometriose no Brasil encontra-se em estrogen and progesterone receptors in human endometriosis. Am J Transl Res
[Internet]. 2014 Jan;6(2):104–13. Available from: http://www.pubmedcentral.nih.
uma constante crescente, em 2005 a quantidade de mulheres gov/articlerender.fcgi?artid=3902220&tool=pmcentrez&rendertype=abstract
em idade reprodutiva com manifestação dessa afecção era 3. Santos TMV, Pereira AMG, Lopes RGC, Depes DDB. Tempo transcorrido entre
o início dos sintomas e o diagnóstico de endometriose Lag time between onset of
de 5 a 10%. Atualmente a prevalência está em torno de 10 a symptoms and diagnosis of endometriosis. Einstein. 2012;10(1):39–43.
15% dessa população15. 4. Harada T. Dysmenorrhea and endometriosis in young women. Yonago Acta Med
[Internet]. 2013 Dec;56(4):81–4. Available from: http://www.pubmedcentral.nih.
Os custos anuais da doença, tanto relacionados dire- gov/articlerender.fcgi?artid=3935015&tool=pmcentrez&rendertype=abstract
tamente com tratamento, como os indiretos, que sugerem 5. Berek JS. Berek & Novak Tratado de Ginecologia. In: Rapkin AJ, Howe CN, edi-
tors. Dor Pélvica e Dismenorréia. 14th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
a perda ocasionada na produtividade dessas mulheres, foi 2012. p. 380–403.
estimado em 22 bilhões de dólares nos Estados Unidos, in- 6. Berek JS. Berek & Novak Tratato de Ginecologia. In: D’Hooghe TM, Hill III JA,
editors. Endometriose. 14th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2012. p. 842–76.
dicando um importante impacto negativo sobre os sistemas 7. Baldan CS, Freitas CD De, Zambello L. Estimulação elétrica nervosa transcutânea
nacionais de saúde16. ( TENS ) alivia a dismenorreia primária : estudo clínico , controlado e randomiza-
Os sintomas mais comuns são dismenorreia progressiva, do. J Heal Sci Inst. 2013;31(2):193–6.
8. AlYousef SA, El-Hay SAA, Mohamed NS, Baker RMA. Effect of Transcuta-
dor pélvica crônica e dispareunia. Dentre essa população, 1/3 neous Electrical Nerve Stimulation (TENS) on the Relief of Dysmenorrheal Pain
das pacientes são assintomáticas. O grau da sintomatologia among Students of Applied Medical Science College At Hafer Al-Batin. J Am Sci.
2013;9(11):225–34.
está associado ao local de fixação dos endométrios ectópicos 9. Mendes KDS, Silveira RCDCP, Galvão CM. Revisão integrativa: método de pes-
e não relaciona-se a extensão da doença17. quisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Context
- Enferm. 2008;17(4):758–64.
Uma redução nos níveis de progesterona na fase inicial 10. Oliveira RGCQ De, Silva JC, Almeida AF De, Araújo RC De, Pitangui ACR.
do ciclo menstrual, provoca a síntese de substâncias algóge- TENS de alta e baixa frequência para dismenorreia primária: estudo preliminar.
ConScientiae Saúde. 2012;11(1).
nas, estimulando os nocirreceptores peritoneais, gerando a 11. Tugay N, Akbayrak T, Demirtürk F, Karakaya IÇ, Kocaacar Ö, Tugay U, et al.
dor cíclica, explicando a ocorrência de dismenorreia. Em se- Effectiveness of transcutaneous electrical nerve stimulation and interferential cur-
guida, isso associa-se a locais sangrentos formando a longo rent in primary dysmenorrhea. Pain Med. 2007;8(4):295–300.
12. Beltrán YH, Matheu MSM, Ramos IT. Estimulación eléctrica nerviosa trans-
prazo as aderências, alterando a anatomia pélvica, provocan- cutánea y dismenorrea primaria: Un reporte de caso. Rev Ciencias la Salud.
do dores contínuas18. 2011;9(2):203–10.
13. Parsa P, Bashirian S. Effect of transcutaneous electrical nerve stimulation ( tens )
Já foi evidenciado o efeito analgésico da TENS com on primary dysmenorrhea. J Postgrad Med Inst. 2013;27(03):326–30.
baixa frequência nas cólicas menstruais, apresentando pro- 14. Nogueira Neto J, Cavalcante FLLP, Carvalho RAF, Rodrigues TGP de M, Xavier
MS, Furtado PGR, et al. Contraceptive effect of Uncaria tomentosa (cat’s claw) in
pensão para expandir seu uso em outros quadros dolorosos, rats with experimental endometriosis. Acta Cirúrgica Bras. 2011;26:15–9.
como a endometriose19. 15. Silva IIDC da, Hermoso PV, Nakatani CH, Ramos ER de P. Aspectos fisopatoló-
gicos , diagnósticos e terapêuticos da endometriose na atenção farmacêutica: um
estudo de revisão. Rev Saúde e Pesqui. 2013;6(1):99–108.
Conclusão 16. Kim SH, Chae HD, Kim C-H, Kang BM. Update on the treatment of endometrio-
Todos esses estudos apresentaram resultados significati- sis. Clin Exp Reprod Med [Internet]. 2013 Jun;40(2):55–9. Available from: http://
www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=3714429&tool=pmcentrez
vos para o alívio da dismenorreia primária apresentada pelas &rendertype=abstract
participantes após o uso da TENS. 17. Viana LC, Geber S. Ginecologia. In: Viana LC, Geber S, editors. Endometriose.
3rd ed. Rio de Janeiro: MedBook; 2012. p. 163–8.
A endometriose é considerada a afecção ginecológica 18. Girão MJBC, Lima GR de, Baracat EC. Ginecologia. In: Schor E, Sato H, Sartori
mais comum entre as mulheres de todo o mundo, um dos MGF, Girão MJBC, editors. Endometriose. 1st ed. São Paulo: Manole; 2009. p.
189–97.
seus sintomas é a dismenorreia secundária, que se diferencia 19. Telles ER, Amaral VF do. Estimulação elétrica transcutânea (TENS) em Ginecologia
da primária por ser decorrente de uma patologia de base e e Obstetrícia: alternativa nas síndromes dolorosas. Femina. 2007;35(11):697–702.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Revisão

A relação entre o músculo íliopsoas


e a mobilidade da coluna lombar

The relationship between


the iliopsoas muscle and lumbar spine mobility

Fábio Moraes1, Fernanda Barbosa da Silva1, Hugo Pasin Neto2,


Thais Botossi Scalha2, Lauren Giustti Mazzei2, Cristiane Rodrigues2

1. Fisioterapeutas graduados pela UNISO – Uni- Resumo


versidade de Sorocaba,
2. Docentes do curso de Fisioterapia da UNISO
Introdução: O homem moderno fica na posição sentada mais de um terço
– Universidade de Sorocaba de sua vida, e este fato colabora para o encurtamento da musculatura flexora do
quadril. A musculatura íliopsoas tem como ação principal a flexão de quadril e an-
teroversão pélvica. O músculo mais encurtado ou alongado em relação ao antago-
Endereço para correspondência: Fábio de
Moraes – Rua Jorge Antônio de Oliveira,
nista tende a provocar desequilíbrios posturais, levando assim, a, resultados como
330 – CEP 18195-000 – Capela do Alto/SP – limitações na mobilidade das articulações em geral. Objetivo: Analisar possíveis
Fone: (15) 99610-3947 relações entre o músculo íliopsoas e a mobilidade da coluna lombar por meio de
E-mail: fbdemoraes@gmail.com uma revisão sistemática. Metodologia: foi realizada uma revisão sistemática na
base de dados eletrônicos da SciELO, utilizando-se os descritores em Ciências da
Recebido para publicação em 16/02/2015 e acei- Saúde para identificar as publicações que abordassem do assunto. Resultados: Fo-
to em 19/03/2015, após revisão. ram incluídos na pesquisa seis estudos nos quais é apresentada a possível relação
que o músculo íliopsoas pode ter com a mobilidade da coluna lombar. Conclusão:
pode-se concluir que o músculo íliopsoas relaciona-se com a mobilidade da coluna
lombar pela posição adotada pela pelve.
Palavras-chave: dor lombar, amplitude, exercícios de alongamento muscular e
amplitude de movimento articular.

Abstract
Introduction: The modern man is seated over a third of your life, and this fact
contributes to the shortening of the hip flexor muscles. The iliopsoas muscle is
primarily the action of hip flexion and pelvic anteversion. The most shortened or
elongated compared to the antagonist muscles tends to cause postural instability,
leading thus, results as limitations on mobility of joints generally. Objective: To
analyze possible relationships between the iliopsoas muscle and mobility of the
lumbar spine through a systematic review. Methodology: A systematic review was
conducted on the basis of electronic data SciELO, using the Descriptors in Health
Sciences to identify publications that addressed the issue. Results: The study in-
cluded six studies in which is presented the possible relationship that may have
iliopsoas muscle with the mobility of the lumbar spine. Conclusion: It can be
concluded that the iliopsoas muscle is related to the mobility of the lumbar spine
for the position adopted by the pelvis.

Keyword: low back pain, range, muscle stretching exercises and range of motion.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Introdução tude de movimento articular, o artigo se repete. Isso pode


A amplitude de movimento articular da coluna lombar é de- ter ocorrido pelo fato de serem descritores parecidos, porém
finida por vários músculos. A musculatura íliopsoas tem como na pesquisa dos descritores, amplitude e amplitude de mo-
ação principal a flexão de quadril e anteroversão pélvica1. vimento articular são dados como descritores diferentes. E
O músculo ilíaco tem sua fixação proximal na fossa outra pesquisa também foi excluída por não apresentar ne-
ilíaca, já o músculo psoas na região retro peritoneal na su- nhuma avaliação quantitativa que se relacionasse diretamen-
perfície anterior do processo transverso, na borda lateral dos te com o objetivo deste estudo. Sendo assim, a amostra final
corpos vertebrais de T12 a L5, ambos tem sua fixação distal foi de seis publicações (n= 6).
no trocânter menor do fêmur 2.
O homem moderno, em média, fica na posição sentada Tabela 1: Estratégias de busca dos estudos.
mais de um terço de sua vida, e este fato colabora para o en- Descritor Descritores Nº de estudos
curtamento da musculatura flexora do quadril. Estes peque- Principal Associados encontrados na busca
nos desequilíbrios posturais acontecem de maneira rotineira, Amplitude 5*
pois, a estrutura do corpo humano não foi criada para ficar Exercícios de
em posição estática por longo período, ou seja, os músculos Dor lombar alongamento muscular 2
que permanecem constantemente encurtados ou alongados Amplitude de
em relação ao outro tendem a provocar desequilíbrios postu- movimento articular 1
*2 estudo excluído
rais, levando assim, a, resultados como limitações na mobili-
dade das articulações em geral 3.
O alongamento, o fortalecimento muscular e a mobili- Resultados
zação articular têm como objetivo restaurar o comprimento As características das publicações inclusas nesta pesqui-
fisiológico do músculo. Em apenas uma sessão em indivídu- sa estão descritas na tabela 2.
os saudáveis, estes são capazes de proporcionar a melhora na
flexibilidade, no equilíbrio corporal e na mobilidade articular Discussão
adjacente 1-4-5. A posição sentada requer a flexão de quadril. Durante um
Portanto, o objetivo desse estudo é avaliar por meio de período prolongado nesta posição a musculatura flexora dessa
revisão sistemática as relações entre o músculo íliopsoas e a articulação pode sofrer pequenas alterações e causar possíveis
mobilidade da coluna lombar. desequilíbrios posturais e diminuir os movimentos da coluna
lombar. Estudos mostraram resultados significativos na me-
Metodologia lhora da mobilidade da coluna lombar, através de exercícios
laborais em trabalhadores que permaneciam em sua jorna-
Critérios de inclusão dos estudos
da de trabalho na posição sentada. Portanto entende-se que
Foram incluídos na pesquisa os estudos aplicados em
a musculatura flexora de quadril, de fato, apresenta relações
seres humanos, estudos clínicos, transversal analítico e des-
com a coluna lombar (Barros 2011; Freitas et. al. 2011).
critivo-exploratório que relacionavam, de alguma forma, a
Outra pesquisa refere que a disfunção da articulação sa-
musculatura íliopsoas com a mobilidade da coluna lombar
cro-ilíaca está relacionada com a diminuição da flexibilidade
e ao mesmo tempo se encaixasse na busca pelos descritores
dos músculos isquiotibiais, e isso colabora com a idéia desta
da pesquisa.
pesquisa, pois quando esses músculos encontram-se encurta-
Critérios de exclusão dos estudos dos, consequentemente acontece uma retroversão de pelve,
Foram excluídos da pesquisa os estudos em língua estran- fato explicado pela fixação desses músculos nos ísquios, em
geira, os relatos de caso, as revisões sistemáticas, os estudos contrapartida, neste caso, o músculo íliopsoas encontra-se
que apresentavam animais na amostra, monografias, disserta- estirado, promovendo assim, uma retificação da coluna lom-
ções de mestrados, teses de doutorados e os estudos que após bar (Ramirez, 2010).
analisados não se relacionavam com o tema em questão. Pode-se observar que as diversas posições de alonga-
mento do músculo íliopsoas promoveram a neutralização
Estratégia de busca pélvica, ou seja, estas pesquisas corroboram com a proposta
Trata-se de uma revisão sistemática realizada na base deste estudo. O alongamento do músculo íliopsoas melho-
de dados eletrônicos da SciELO, utilizando os Descritores ra a mobilidade da coluna lombar e diminui o estiramento
em Ciências da Saúde: dor lombar, amplitude, exercícios de dos músculos posteriores do quadril pelo fato de promover a
alongamento muscular e amplitude de movimento articular. neutralização pélvica (Pinheiro, 2010; Garcia 2011).
Todos esses descritores foram combinados com o descritor Em 2011, Puppin realizou um estudo com 55 voluntá-
dor lombar na pesquisa, pois este último descritor apresenta rios com dor lombar inespecífica, divididos em dois grupos,
maior número de estudos publicados (tabela 1). E para que a mostrou que o grupo intervenção, que realizava exercícios
amostra fosse mais específica optou-se por essa estratégia. de alongamento em cadeia muscular de rotadores e flexores
Foram encontrados oito artigos (n=8), conforme estra- de quadril teve uma melhora significante nos desfechos de
tégia citada, porém um mesmo estudo foi encontrado com dor, incapacidade funcional e flexibilidade global quando
associações de descritores diferentes, ou seja, ao associar os comparado ao grupo controle, que não realizou nenhum tipo
descritores dor lombar e amplitude e dor lombar e ampli- de tratamento.

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Tabela 2: Análise dos estudos encontrados na base de dados SciELO, a partir da estratégia de busca realizada na pesquisa.

Frente ao exposto, observou-se que a mobilidade da co- Referências


luna lombar pode estar alterada diante das ações do músculo 1. Pinheiro, Igor de Matos and Goes, Ana Lúcia Barbosa. Efeitos imediatos do alongamen-
to em diferentes posicionamentos. Fisioter. mov. (Impr.) [online]. 2010, vol.23, n.4, pp.
íliopsoas, uma vez que este, encurtado, passa a exercer a an- 593-603. ISSN 0103-5150.
2. Kraychete, Durval Campos; Rocha, Anita Perpétua Carvalho And Castro, Pedro Augusto
teriorização pélvica, aumento da lordose lombar e estiramen- Costa Rebouças de. Abscesso do músculo psoas em paciente submetida à analgesia por
via peridural: relato de caso. Rev. Bras. Anestesiol. [online]. 2007, vol.57, n.2, pp. 195-
to da musculatura extensora do quadril, porém se este mús- 198. ISSN 0034-7094.
3. Barros, Suélem Silva de; Angelo, Rita di Cássia de Oliveira and UCHOA, Érica Patrícia
culo encontra-se estirado e/ou fraco a coluna lombar tende a Borba Lira. Lombalgia ocupacional e a postura sentada. Rev. dor [online]. 2011, vol.12,
n.3, pp. 226-230. ISSN 1806-0013.
se retificar pelo encurtamento predominante da musculatura 4. Freitas, Kate Paloma Nascimento; BARROS, Suélem Silva de; ANGELO, Rita di Cássia
de Oliveira and UCHOA, Érica Patrícia Borba Lira. Lombalgia ocupacional e a postura
posterior de quadril. sentada: efeitos da cinesioterapia laboral. Rev. dor [online]. 2011, vol.12, n.4, pp. 308-
313. ISSN 1806-0013.
5. Ramirez, Carolina Ramírez and LEMUS, Diana Marina Camargo. Disfunção da articula-
ção sacro-ilíaca em jovens com dor lombar. Fisioter. mov. (Impr.) [online]. 2010, vol.23,
Conclusão n.3, pp. 419-428. ISSN 0103-5150.
6. Garcia, Alessandra N. et al. Efeitos de duas intervenções fisioterapêuticas em pacientes
Conclui-se diante dos resultados encontrados que o com dor lombar crônica não-específica: viabilidade de um estudo controlado aleatoriza-
do. Rev. bras. fisioter. [online]. 2011, vol.15, n.5, pp. 420-427. Epub Oct 14, 2011. ISSN
músculo íliopsoas apresenta relações com a mobilidade da 1413-3555.
7. Puppin, Maria Angélica Ferreira Leal; MARQUES, Amélia Pasqual; SILVA, Ary Gomes
coluna lombar pela posição adotada pela pelve, alterando o da and FUTURO NETO, Henrique de Azevedo. Alongamento muscular na dor lombar
crônica inespecífica: uma estratégia do método GDS. Fisioter. Pesqui. [online]. 2011,
equilíbrio postural. vol.18, n.2, pp. 116-121. ISSN 1809-2950.

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Revisão

Drenagem linfática manual e endermologia


no tratamento do fibro edema gelóide

Manual Lymphatic Drainage and Endermologie


in the treatment of edema Fibro Gelloid

Ana Paula Pereira1, Priscila Gama1, Renata Puertas Ernandes2, Cristiane Delgado Alves Rodrigues3

1. Discente do curso de Fisioterapia da Universi- Resumo


dade de Sorocaba
2. Orientadora do curso de Fisioterapia da Univer-
O fibro edema gelóide (FEG) conhecido popularmente como celulite, afeta
sidade de Sorocaba Renata Puertas Ernandes cerca de 80 a 90% das mulheres após a puberdade. Atinge especialmente a re-
3. Docente do curso de Fisioterapia da Universi- gião glútea e as coxas, sua etiologia é complexa e envolve aspectos multifatoriais
dade de Sorocaba sendo de grande recorrência na prática clínica, sendo um dos tratamentos mais
requisitados na Fisioterapia Dermato-funcional. A endermologia é uma técnica de
Endereço para correspondência: Priscila massagem que consiste de roletes com pressão positiva em conjunto com pressão
Gama Gomes Medeiros – Rua Diniz Goes negativa aplicados na pele e tecido subcutâneo e se desponta como uma proposta
da Silva, 84 – Sorocaba – CEP 18079-360 – de tratamento não invasivo para o FEG, sendo a mesma associada à drenagem
Fone: (15) 3318-7843
Email: prigama@live.com
linfática manual. Objetivo: revisar na literatura cientifica aspectos fisiopatológi-
cos do FEG e seu tratamento com a endermologia associada à drenagem linfática
manual. Resultados: as duas técnicas atuam nas alterações promovidas pelo FEG,
Recebido para publicação em 08/02/2015 e acei- com redução visual de nódulos fibróticos e melhora na aparência da pele. Con-
to em 23/03/2015, após revisão.
clusão: através dos resultados apresentados pelos estudos, fica evidente que as
duas técnicas isoladamente não atuam de forma eficiente e duradoura, tendo que
ser utilizadas em associação a outros fatores, como a alimentação balanceada e
realização de atividade física.
Palavras-chave: fisioterapia, celulite, endermologia e lipodistrofia.

Abstract
The fibro geloid edema (EGF) popularly known as cellulite affects about
80-90% of women after puberty. It affects especially the buttocks and thighs, its
etiology is complex and involves multifactorial aspects being of great recurrence
in clinical practice, one of the most requested treatments in Dermato-functional
physiotherapy. The Endermologie is a massage technique that consists of rollers
with positive pressure along with negative pressure applied to the skin and subcu-
taneous tissue and emerges as a non-invasive treatment proposal for the EGF, and
the same associated with manual lymphatic drainage. Objective: To review the
scientific literature pathophysiological aspects of the EGF and its treatment with
endermologie associated with manual lymphatic drainage. Results: both techni-
ques work in the changes introduced by the EGF, with visual reduction of fibrotic
nodules and improved skin appearance. Conclusion: by the results contained in
the studies, it is clear that the two techniques alone do not work efficiently and
sustainably, having to be used in combination with other factors such as balanced
nutrition and physical activities.
Keywords: physical therapy, cellulite, endermologie and lipodystrophy.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Introdução Resultados
O fibro edema gelóide (FEG), popularmente conhecido No estudo 1 foi analisada a aplicabilidade do PAFEG
como celulite afeta cerca de 80-90% das mulheres. O FEG (protocolo de avaliação do fibro edema gelóide) para avaliar
não se restringe apenas a uma alteração estética, mas deve o grau do FEG e os níveis das alterações sensitivas decor-
ser considerada uma patologia, podendo gerar problemas ál- rentes desta afecção em 30 pacientes do sexo feminino, com
gicos nas zonas acometidas e diminuição das atividades fun- idade entre 20 e 69 anos e concluiu-se que o PAFEG é de
cionais. O nome celulite é uma combinação do termo francês fácil aplicação e abrange todos os aspectos do FEG, sendo de
para designar célula (Cellule) e ite que significa inflamação. fundamental importância para os fisioterapeutas que atuam
Considerando que não se trata, propriamente, de uma infla- na área da dermato-funcional.
mação, o FEG consiste em uma infiltração edematosa do No estudo 2 foi realizada uma revisão da histologia,
tecido conjuntivo, seguida de polimerização da substância etiologia e tratamento com vacuoterapia do FEG. E diante
fundamental amorfa, que se infiltrando nas tramas, produz da revisão conclui-se que o FEG é uma patologia crônica
uma reação fibrótica consecutiva. O FEG se apresenta como e complexa e a vacuoterapia tem se mostrado eficaz na re-
uma alteração da pele que adquire um aspecto em forma de versão do quadro, por incrementar a circulação sanguínea
casca de laranja com depressões irregulares sendo que os lo- e linfática, melhorar a maleabilidade do tecido conjuntivo
cais mais afetados são as coxas e região glútea. contribuindo para a diminuição da aderência.
Por ser uma afecção multifatorial há diversos tratamen- No estudo 3 foi realizada uma revisão bibliográfica com
tos fisioterapêuticos. A endermoterapia ainda é considerada o objetivo de definir melhor a área de atuação da dermato-
uma novidade nesta área é um procedimento seguro, não in- -funcional, nas patologias nas quais o fisioterapeuta pode atu-
vasivo, que utiliza o vácuo atuando na pele, camada adiposa ar. O estudo obteve como resultado as seguintes patologias:
e musculatura, promovendo melhora circulatória e drenagem fibro edema gelóide, estrias, linfedema, pré e pós-operatório
linfática. O tratamento consiste na aplicação de um equi- de cirurgia plástica, queimaduras, cicatrizes hipertróficas e
pamento que cria através do vácuo uma pressão negativa, quelóides, flacidez, obesidade e lipodistrofia localizada.
à medida que rola sobre a pele, age como uma massagem. No estudo 4 foi avaliado o uso da ressonância magnética
Esta ação cria uma dobra cutânea que é repetidamente segura em pacientes que realizam tratamento do FEG, com drena-
e solta através de uma série de manobras que irão reestrutu- gem linfática manual, foram selecionadas aleatoriamente três
rar o tecido conjuntivo, estimulando a circulação sanguínea mulheres, as pacientes foram submetidas a 20 sessões de dre-
e linfática, assim promovendo a melhora da oxigenação e da nagem linfática, três vezes por semana, 60 minutos, na região
aparência, facilitando a nutrição dos tecidos e a distribuição anterior e posterior da coxa e perna. A ressonância magnética
da gordura subcutânea. permitiu uma avaliação mais precisa e confiável do FEG.
A endermoterapia associada à drenagem linfática manual, No estudo 5 investigou a incidência do fibro edema gelói-
uma técnica muito utilizada no tratamento do FEG que consis- de em mulheres caucasianas jovens, estudo realizado com 30
te em drenar o excesso de líquido de uma área estagnada, por mulheres, ativas, não treinadas, com idade de 20, 37 anos. Con-
intermédio de manobras rítmicas, lentas e suaves, no sentido cluiu-se que 100% das voluntárias apresentaram FEG, a região
de vasos linfáticos e linfonodos, tem se mostrado um método pélvica, os membros inferiores e o abdome são descritos como
seguro e eficaz na reversão do quadro de pacientes com FEG. os locais mais comuns para o FEG, à região glútea e a posterior
O objetivo dessa revisão visa o levantamento de dados so- da coxa foram as mais acometidas e o grau I foi o mais incidente.
bre a atuação da Fisioterapia Dermato-Funcional, verificando No estudo 6 avaliou a eficácia e segurança da endermo-
a efetividade na junção das técnicas da endermoterapia asso- logia no tratamento da celulite. Foram realizadas quinze ses-
ciada à drenagem linfática manual no tratamento do FEG. sões, com 33 mulheres saudáveis com grau de celulite I ao
III. A melhoria da aparência da celulite ocorreu em apenas
Metodologia cinco mulheres (15%), as demais tiveram perda no diâmetro
Bases de dados e estratégia de busca da circunferência do corpo, portanto a eficácia da endermo-
Os descritores utilizados para a busca de artigos foram logia foi moderada em relação à redução do grau da celulite.
fisioterapia, celulite, endermologia e lipodistrofia. As bases de No estudo 7 avaliou a técnica da drenagem linfática
dados eletrônicas Bireme (Medline e Lilacs), Scielo e Pub- manual no tratamento do fibro edema gelóide, foram sele-
med. O período de pesquisa inclui estudos publicados entre cionadas 10 mulheres acima de 18 anos, sedentárias, que
2005 até 2015, nas línguas Portuguesa, Inglesa e Espanhola. apresentassem FEG entre os graus I e III, foram submetidas
à drenagem linfática manual durante 10 sessões, duração de
Tipos de estudos incluídos 60 minutos. Foi possível visualizar uma melhora clínica no
Foram incluídos revisões sistemáticas, metanálises e aspecto da pele, o protocolo de drenagem linfática manual
ensaios clínicos controlados randomizados, cujos desenhos mostrou ser uma terapia coadjuvante no tratamento do FEG.
incluíam as características especificadas na figura 1. No estudo 8 foi realizada uma análise dos efeitos do ul-
Foram excluídos os estudos que não atenderam a temáti- trassom terapêutico e da eletrolipoforese nas alterações decor-
ca proposta, os estudos publicados há mais de dez anos e de rentes do fibro edema gelóide. Foram selecionadas 22 volun-
literatura não científica, estudos que não disponibilizavam o tárias, entre 17 e 35 anos, sedentárias, presença de FEG grau
texto na íntegra, resumos de dissertações ou teses acadêmi- I e II em região glútea, as voluntárias foram randomizadas
cas e trabalhos de conclusão de curso. em dois grupos de tratamento, grupo I ultrassom terapêutico

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Figura 1: Artigos encontrados nas bases de dados


Fonte: Elaboração própria.

Tabela 1: Artigos utilizados no referencial teórico

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

(UST) e grupo II eletrolipoforese. Conclui-se que a aplicação as duas técnicas isoladamente não atuam de forma eficiente
tanto do UST como da eletrolipoforese apresentou resultados e duradoura, tendo que ser utilizadas em associação a outros
semelhantes, mostrando melhora do aspecto do FEG. fatores, como a alimentação balanceada e realização de ativi-
No estudo 9 avaliou a segurança e eficácia do tratamento da dade física.
endermologia em 118 mulheres com celulite, faixa etária de 19- Há também uma necessidade de padronização dos re-
63 anos. Foram realizadas sessões duas vezes por semana totali- cursos utilizados, já que os estudos realizados divergiram em
zando 15 sessões. Os resultados mostraram que a endermologia relação à duração das sessões. Além disso, há necessidade de
se destaca por ser uma técnica não invasiva, eficaz e satisfatória mais estudos sobre o FEG utilizando os dois recursos estuda-
para diminuir o grau da celulite e medidas do corpo. dos, pois há poucos artigos que abordam esta temática, o que
No estudo 10 investigou a eficácia e segurança da dre- resultou em uma limitação para este trabalho.
nagem linfática manual como tratamento da celulite. Foram
realizadas 14 sessões de drenagem linfática manual, com 20 Referências
1. Guirro & Guirro. Fisioterapia Dermato Funcional, 1.ed. SP-Manole. 2002.
mulheres, idade entre 20-40 anos. Os resultados mostram 2. Bolla AL, Arruda LP. A endermoterapia como tratamento fisioterapêutico na
que a drenagem linfática manual é uma técnica segura, mas lipodistrofia ginóide (LDG): uma abordagem crítica entre teoria e prática.
Phisio Café Studio.
não é eficaz de forma isolada para o tratamento da celulite. 3. Araújo, JKNA, Meija DPM. A utilização da endermologia no tratamento fi-
sioterapêutico em pacientes com fibro edema gelóide: revisão bibliográfica.
Portalbiocursos.com.br
Considerações Finais 4. Meyer PF, Lisboa FL, Alves MCR, Avelino MB. Desenvolvimento e apli-
cação de um protocolo de avaliação fisioterapêutica em pacientes com fibro
O FEG pode ser definido clinicamente como um espes- edema gelóide. Fisioterapia em Movimento, 2005; 18(1): 75-83.
5. Bacelar VCF, Vieira MES. Importância da Vacuoterapia no Fibro Edema Ge-
samento não-inflamatório das camadas subdérmicas, sendo lóide. Fisioterapia Brasil, 2006; 6(7): 440-443.
uma disfunção de etiologia complexa. Sua fisiopatologia 6. Milani GB, Amado SM, Farah EA. Fundamentos da Fisioterapia Dermato Funcio-
nal. Fisioterapia e Pesquisa, 2006; 12(3): 37-43.
envolve mecanismos multifatoriais e seu aspecto desagra- 7. Meyer PF, Martins NM, Martins FM, Monteiro RA, Mendonça KMPP. Effects
dável promove nas mulheres acometidas, uma busca para oflymphatic drainage on cellulitis assessed by magnetic resonance. Brazilianarchi-
ves of biology and technology, 2008; 51(spe): 221-224.
o seu tratamento. Sendo o FEG uma afecção que a maioria 8. Machado AFP, Tacani RE, Schwartz J, Liebano RE, Ramos JLA, Frare T. Incidên-
cia de fibro edema gelóide em mulheres caucasianas jovens. Arquivos Brasileiros
das mulheres está sujeitas a apresentar durante a vida e que de Ciência da Saúde, 2009; 34(2): 80-6.
pode provocar danos a circulação sanguínea e linfática da 9. Güleç AT. Treatment of cellulite with LPG endermologie. Int J Dermatol, 2009;
48(3): 265-70.
paciente, bem como alterações de sensibilidade e alterações 10. Brandão DSM, Almeida AF, Silva JC, Oliveira RGCQ, Araújo RC, Pitangui ACR.
na qualidade de vida, a endermologia e a drenagem linfática Avaliação da técnica de drenagem linfática manual no tratamento do fibro edema
gelóide em mulheres. Conscientiase Saúde (impr.), 2010; 9(4): 618-624.
manual são técnicas que tem se mostrado alternativas positi- 11. Machado GC, Vieira RB, Oliveira NML, Lopes CR. Análise dos efeitos do ultras-
som terapêutico e da eletrolipoforese nas alterações decorrentes do fibro edema
vas na minimização da aparência e na progressão do mesmo. gelóide. Fisioterapia em movimento, 2011; 24(3): 471-479.
Observou-se através dos resultados dos estudos apre- 12. Kutlubay Z, Songur A, Engin B, Khatib R, Calay O, Serdaroglu S. An alternative
form of treatment for cellulite: LPG endermologie. Journal of Cosmeticand Laser
sentados, que as duas técnicas atuam nas alterações promo- Therapy, 2013; 5(15): 266-270.
vidas pelo FEG, com redução visual de nódulos fibróticos e 13. Schonvvetter B, Soares JLM, Bagatin E. Longitudinal evaluation of manual lym-
phatic drainage for the treatment of gynoid lipodystrophy. An. Bras.Dermatol,
uma melhora na aparência da pele. Porém, fica evidente que 2014; 89(5): 712-718.

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Revisão

Uso da eletroterapia associado a cinesioterapia


no tratamento de pacientes com osteoartrite

Use of associated electrotherapy kinesiotherapy


in patients with osteoarthritis treatment

Janaísa Gomes Dias Oliveira¹, Maísa Evangelista Sousa²,


Sâmia Maria Aguiar Coutinho², Sarah de Castro², Ingrid Maria Miranda Paulo²

1. Doutora em Gerontologia Biomédica, PU- Resumo


CRS, professora do curso de Fisioterapia do
Instituto Superior de Teologia Aplicada –
Objetivo: Esse artigo objetiva discutir os efeitos do uso da eletroterapia as-
INTA sociada à cinesioterapia no tratamento de pacientes portadores de Osteoartrite.
2. Acadêmicas de Fisioterapia do Instituto Supe- Metodologia: Trata-se de uma revisão sistemática, realizado nas bases de dados:
rior de Teologia Aplicada – INTA. Scielo, Bireme, Pubmed, utilizando como palavras-chave: eletroterapia, cinesio-
terapia, tratamento, fisioterapia e osteoartrite (OA), utilizando artigos publicados
em Inglês e Português, no período 2005 a 2013. O critério de inclusão foi o ano
Endereço para correspondência: Janaísa Go- de publicação, os critérios de exclusão se deram a partir da avaliação do con-
mes Dias de Oliveira – Rua Coronel Antônio teúdo. Resultados: Foram selecionados três artigos sobre cinesioterapia, quatro
Rodrigues Magalhães, 359 – Bairro Dom Ex-
pedito Lopes – Sobral – CE – Cep 62050-100
sobre eletroterapia, e quatro que associavam as duas terapêuticas, totalizando
E-mail: janaisaoliveira@hotmail.com onze ensaios que se enquadraram nos critérios de inclusão. Com base na literatura
pode-se observar que a melhor conduta está na associação entre as duas terapêu-
ticas, conseguindo uma eficácia maior no tratamento desta patologia. Discussão:
Recebido para publicação em 05/03/2015 e acei-
Verificou-se que os autores dos ensaios em estudo apresentaram resultados seme-
to em 13/05/2015, após revisão. lhantes quando comparados quanto à funcionalidade, amplitude de movimento e
qualidade de vida, em relação às duas formas terapêuticas abordadas, eletroterapia
e cinesioterapia. Os aparelhos de eletroterapia apresentaram melhores benefícios
quando aplicados associados aos exercícios da Cinesioterapia, principalmente da
musculatura posterior do joelho, fortalecimento muscular, treino sensório motor,
exercícios isométricos eram mais indicados no início do tratamento, com carga e
número de repetições de acordo com a evolução e conforto do paciente.
Palavras-chave: osteoartrite, fisioterapia, eletroterapia, cinesioterapia.

103
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Abstract
Objective: This article aims to discuss the effects of the use of electrotherapy associated to kinesiotherapy in the treat-
ment of patients with osteoarthritis patients. Methodology: This is a systematic review conducted in the databases: Scielo,
Bireme, Pubmed, using as a keyword: electrotherapy, kinesiotherapy, treatment, therapy and osteoarthritis (OA) using articles
published in English and Portuguese, in the period 2005 to 2013. The inclusion criterion was the year of publication, the
exclusion criteria are given based on the evaluation of the content. Results: A total of three articles on cinesioterapia four on
electrotherapy and four that linked the two treatment total of eleven trials that met the inclusion criteria. Based on the literatu-
re it can be seen that the best approach is the association between two therapeutic, achieving greater efficacy in the treatment
of this pathology. Discussion: It was found that the authors of the tests in the study showed similar results when compared
for functionality, range of motion and quality of life, for both addressed therapeutics, electrotherapy and kinesiotherapy. The
electrotherapy devices showed better benefits when applied associated with the exercise of Kinesiotherapy, especially the
posterior muscles of the knee, muscle strengthening, sensory motor training, isometric exercises were more clear at the be-
ginning of treatment, with load and number of repetitions according to evolution and patient comfort.
Keywords: osteoarthritis, physiotherapy, electrotherapy, kinesiotherapy.

Introdução Esse artigo objetiva discutir por meio de uma revisão sis-
A Osteoartrite (OA) é definida como uma patologia ar- temática os efeitos do uso da eletroterapia associada à cinesio-
ticular, crônico-degenerativa, que acomete a cartilagem arti- terapia no tratamento de pacientes portadores de osteoartrite.
cular e o osso subcondral. Além disso, leva ao aparecimento
de osteófitos na região articular afetada e suas margens, zo- Metodologia
nas de fibrilação e fissuração, espessamento ósseo subcon- Trata-se de uma revisão sistemática, realizada nas ba-
dral e proliferações osteocondrais marginais. 1,2,3,4,5 A OA se ses de dados: Scielo, Bireme, Pubmed e artigos científicos
apresenta como uma doença comum no envelhecimento, não de periódicos impressos e digitais, utilizando como palavra-
tendo cura, mas o tratamento ajuda a diminuir seus efeitos -chave Eletroterapia, Cinesioterapia, Tratamento, Fisiote-
deletéreos; contudo, nem sempre apresente sintomas. É fre- rapia e Osteoartrite (OA), utilizando artigos publicados em
quentemente encontrada em homens adultos acima dos 40 Inglês e Português, no período 2005 a 2013. Como critérios
anos de idade e em mulheres acima dos 55 anos. 6 de inclusão determinou-se: o ano de publicação, devendo ser
Por ser uma patologia característica do envelhecimento, é datado a partir de 2005, conter informações concisas quanto
considerada uma doença comum a partir da meia idade, sen- ao tipo de tratamento, e que tenham seus artigos completos
do uma das maiores causas de incapacidade funcional. 7,8,9 Os disponíveis para leitura. Já os critérios de exclusão foram :
dados da Previdência Social confirmam um grande número inexistência de relação do tema aos objetivos desta pesquisa.
de aposentadorias por invalidez em decorrência de doenças Havendo um rigor metodológico afim buscar evidências que
degenerativas, tornando este um problema de saúde pública. 10 qualifiquem esta revisão através de estudos mais relevantes.
Há uma prevalência masculina, sendo maior em grupos Foram encontrados um total de vinte e um artigos, sendo
etários mais jovens (<45 anos de idade), enquanto para as dez que focavam somente cinesioterapia, sete artigos disser-
mulheres a faixa etária é superior a 55 anos. Fatores raciais tavam sobre eletroterapia e quatro artigos abordaram a asso-
também interferem no padrão de OA – chineses, negros jamai- ciações da cinesioterapia e eletroterapia, após a verificação
canos, negros sul africanos e indianos têm menor incidência dos artigos com base nos critérios de inclusão e exclusão pré
determinados, selecionou-se onze artigos, onde quatro des-
de OA nas articulações dos quadris que os brancos. 7, 11
tes associavam o uso da Eletroterapia a Cinesioterapia, três
Uma das formas de recurso terapêutico na Osteoartrite
artigos abordaram somente a Cinesioterapia e quatro artigos
é a eletroterapia, definida como uma forma de tratamento
focaram a Eletroterapia. A fim de complementar os conceitos
através da aplicação da eletricidade diretamente no paciente,
dos termos foram selecionados três obras bibliográficas so-
uma vez que o corpo humano se apresenta como um siste-
bre cinesioterapia e dentre estes, dois citavam a eletroterapia.
ma de células líquidas polarizadas e ricas em eletrólitos de
diferentes polaridades. Os aparelhos eletroterapêuticos indi- Referencial teórico
cados para a Osteoartrite são: emissor de corrente interfe- A fisioterapia pode ser considerada uma área profissio-
rencial, ondas curtas, tens, correntes diadinâmicas, corrente nal que oferece opções de tratamento não farmacológico
russa e ultrassom. 12 para indivíduos com OA de joelho; cujos protocolos são de
Uma outra conduta de tratamento indicada é a cinesio- grande importância para o tratamento da patologia.13
terapia, definida como forma de tratamento que utiliza a ati- O tratamento fisioterapêutico na OA de joelho tem por
vidade física ou movimentos, de modo a favorecer o retorno objetivo diminuir as algias, aumentar ou manter a amplitude
da função musculoesquelética. Esta prática pode ser classi- de movimento (ADM) da articulação envolvida, aumentar
ficada quanto à contração muscular, e quanto à execução do ou manter a força muscular para manutenção das atividades
movimento. O primeiro tipo de movimento, pode ser subdi- da vida diária (AVD’s), aumento da resistência à fadiga e
vidido em estático, dinâmico concêntrico, dinâmico excên- manutenção da marcha normal do paciente. 6
trico e isocinético. Já o segundo tipo, pode ser passivo, ativo “A eletroterapia corresponde a utilização da corrente
assistido, ativo livre, ativo resistido. 12 elétrica com fins terapêuticos, como aquecimento profundo

104
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

e superficial; efeitos mecânicos nos tecidos combatendo a “treinamento planejado e sistemático de mo-
fibrose; difusão de substâncias através da membrana celular; vimentos corporais, posturas ou atividades físicas
aumento da vasodilatação, metabolismo e nutrição tecidual; com vistas a proporcionar ao paciente meios de:
diminuição da excitabilidade motora; e aumento do limiar de tratar ou prevenir comprometimentos; melhorar,
excitabilidade nervosa” 14 restaurar ou potencializar a função física; prevenir
A escolha das modalidades a serem utilizadas são de- ou reduzir fatores de risco ligados à saúde; otimizar
terminadas de acordo com a individualidade de cada pa- o estado de saúde geral, seu preparo físico ou sen-
ciente portador de osteoartrose associado as especificações sação de bem-estar” 18
dos aparelhos, dentro dessa gama podemos citar o TENS, o A importância dos exercícios terapêuticos e terapia ma-
ondas-curtas, a corrente interferencial, a diatermia por ondas nual no tratamento de osteoartrite é primordial, destacando-
curtas, a corrente russa e a corrente diadinâmica. 14 -se a orientação ao paciente de um programa de exercícios
“As formas mais comuns de eletroterapia são ultra-som domiciliares, que executados de forma segura podem pro-
(EUA), uma modalidade de tratamento que utiliza o som das porcionar melhora na ADM (amplitude de movimento), no
ondas para gerar calor dentro de uma parte do corpo, e Esti- desempenho muscular tornando-o mais resistente à fadiga.
mulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), um método Destaca-se também a utilização de exercícios resistidos, mo-
de alívio da dor, em que um dispositivo especial transmite bilização articular e alongamento, visando melhora na mobi-
baixa tensão e impulsos elétricos através de eletrodos na pele lidade e fortalecimento muscular. Além disso, Kisner e Col-
a uma área do corpo que está em dor”. 13 by afirmam que “movimentar-se alivia a sensação de estase
A Termoterapia e a eletroterapia analgésica são efetivas e rigidez”, sendo esta última característica comum da osteo-
como fatores coadjuvantes no tratamento sintomático das artrite. Contudo, ressaltam sobre a importância de alcançar
osteoartrites. Alguns autores ainda afirmam que a aplicação um equilíbrio entre o repouso e a atividade de correção das
de calor, a partir do seu principio de elevação da tempera- sobrecargas biomecânicas, como forma de prevenção, retar-
tura subcutânea, produz o efeito de relaxamento muscular do ou correção de limitações mecânicas.18
e alivio da dor, sua aplicação é limitada e deve ser usado
“O exercício deve ser programado de forma
temporariamente, e tem contra indicação para pacientes com
a ser pessoal, ou seja, individualizado devido às
alteração na sensibilidade, déficit circulatório, sedados e em
particularidades de cada paciente, possuindo as-
pacientes com câncer. 2, 13
sim objetivos específicos de acordo com seu grau
O National Institute for Health and Clinical Excellence
de comprometimento, o mesmo deverá almejar
(NICE) recomenda aos pacientes com osteoartrose de joelho
melhoras no controle neuromuscular, equilíbrio,
a utilização do TENS para diminuição da rigidez e da dor,
força, resistência muscular, aumento da ADM, di-
principalmente quando se almeja analgesia a curto prazo,
minuição da dor e rigidez” 18.
ressaltando que a sua utilização deve ser apenas para auxiliar
o tratamento. 15 Os exercícios podem ser classificados de acordo com o
Em um estudo com Estimulação Elétrica Neuromuscular tipo de contração ou tipo de execução. 12
(EENM), definida como a aplicação de estimulação elétrica Os isométricos podem ser adaptados aos diversos ângu-
através de eletrodos de superfície colocada sobre os músculos los, contanto que não causem dor, além da utilização de pis-
esqueléticos para produzir uma contração visível através da cina, por ocasionar a diminuição da sobrecarga, favorecendo
ativação do nervo intramuscular. As metas do protocolo de re- a um “desempenho funcional” melhor. Quanto aos exercí-
abilitação que incluem EENM são fornecer estímulo adicional cios de intensidade mais baixa e menor número de repetições
para aumentar a força muscular em pacientes com OA. 16 geram melhora de aspectos como “controle muscular, força
As modalidades de tratamento que utilizam exercícios e resistência articular”; já os exercícios aeróbicos de impacto
compreendem desde exercícios de desempenho muscular, reduzido ou ausente (sem ou de baixo impacto”) oferecem
controle postural, mecânica corporal estabilização, de rela- melhorias do condicionamento físico. 18
xamento, técnicas de alongamento, dentre outros. 6 Para uma melhor compreensão, existe a necessidade de
A cinesioterapia pode ser definida como exercício que embasamento teórico dos conceitos utilizados na cinesiote-
tem por objetivo fortalecer os músculos, sendo muito impor- rapia. Assim, um dos ensaios apresenta de forma sucinta os
tante no processo de reabilitação. Além disso, esses exercícios tipos de exercícios: isométricos, isotônicos e isocinéticos.
podem ser classificados em ativos, passivos ou ativo-resisti- Nos isométricos há contração muscular, mas não há movi-
dos; considerando sua intensidade e isométricos, isotônicos ou mento articular, resultando em melhora na força muscular,
isocinéticos, quando considerado o tipo de contração. 13 indicado para a recuperar lesões ou quadros inflamatório de
A cinesioterapia é uma alternativa fisioterapêutica sendo forma imediata, além de contribuir no período de descanso e
uma base proprioceptiva ou ainda de reprogramação neuro- imobilidade para manter a força muscular. 13
motora 17. O autor trata com uma abordagem atualizada esta Os exercícios isotônicos ou dinâmicos produzem contra-
temática, mostrando que pode se haver uma reeducação/repro- ções longas, diferindo-se quanto às mudanças rítmicas entre
gramação do movimento, afirmando que o “tratamento do mo- contração e relaxamento. O exercício excêntrico acontece
vimento” tem uma compreensão do termo mais abrangente 17. quando a resistência se torna maior que a tensão muscular,
O termo exercício terapêutico ou cinesioterapia é con- ao passo que este se alonga mantendo o segmento estático e
ceituado como uma forma de: no exercício concêntrico o músculo consegue propagar uma

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tensão de modo a movimentar o segmento de forma que su- trazer, ressaltando que a sua associação a outras terapias
pere a resistência proposta.13 pode gerar resultados mais vantajosos.
O ultrassom terapêutico é um dos recursos da eletrotera-
Nos isocinéticos, “a pressão permanece cons-
pia sugerido pela Liga Européia Contra o Reumatismo e pelo
tante durante todo o movimento. Uma máquina
Colégio Americano de Reumatologia para o tratamento da
regula a quantidade de resistência e a sua veloci-
perda funcional e dor causada pela osteoartrite. Afirmam ain-
dade. Essa máquina rapidamente melhora a força
da que os estudos com ultrassom pulsado ou contínuo são es-
muscular e também funciona como coadjuvante
cassos. Em pesquisa feita por Carlos 19, um grupo foi tratado
no desenvolvimento dos exercícios. No tratamen-
com exercicios associado ao ultrassom continuo, no qual uti-
to fisioterapêutico o exercício isocinético é indi-
lizou-se o ultrassom com intensidade de 1,5 w/cm² no modo
cado para a fase de transição desde a obtenção da
contínuo (100%), o outro grupo foi tratado com exercícios
força muscular normal até que se atinja a força
associado ultra som pulsado, com intensidade do ultrassom
muscular total do paciente”. 13
a 2,5 w/cm² no modo pulsado (20%) e frequência de repeti-
Além dos benefícios da utilização de exercícios aeróbicos ção de pulso a 100 hz e no terceiro grupo usou-se exercícios
que proporcionam aumento da resistência, do fortalecimento isotônicos, respeitando os limites de cada paciente; objeti-
muscular e alongamento, da capacidade aeróbica e a perda de vando mobilidade articular e melhora. Observou-se que no
peso, sendo que este ensaio indica a hidroginastica, o ciclis- grupo de pacientes tratados com ultrassom contínuo houve
mo, a natação, a caminhada e a dança como modalidades.2 melhora nas variáveis dor e função; no grupo tratado com
ultrassom pulsado idem e no grupo que recebeu exercícios,
Resultados e discussão ocorreu melhora na mobilidade dos sujeitos. Acredita-se que
A pesquisa realizada localizou 21 artigos abrangendo o o ultrassom desencadeou a analgesia encontrada em ambos
tema central desta revisão sistemática, utilizando idiomas de os grupos que associaram este aos exercíciosressaltando a
publicação em português e inglês. Estes ensaios passaram importância da associação do ultrassom aos exercícios. 19
por critérios de inclusão e exclusão, resultando em onze pu- A Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), ou-
blicações selecionadas, especificamente três sobre cinesio- tro recurso da eletroterapia, provocante do alívio da dor, cujo
terapia, quatro de eletroterapia, e quatro associando as duas equipamento transmite baixa tensão e impulsos elétricos por
terapêuticas. Vale ressaltar que foram reprovados diante dos meio de eletrodos na pele, geralmente colocada sobre a região
critérios adotados, dez artigos, por que não correspondiam dolorosa, sendo mais utilizado com o objetivo de analgesia. 13
aos objetivos da pesquisa. Uma pesquisa realizada descrita por Silva 2 almejou
É importante ressaltar a disponibilidade em bases dados confirmar o melhor protocolo de tratamento para alívio
fidedignas de ensaios nacionais, quando comparados aos in- do quadro álgico, melhora da amplitude e funcionalidade.
ternacionais, pois foi encontrado apenas um artigo relacio- Compararam-se três grupos distintos, sendo que dois de-
nando cinesioterapia e três artigos de eletroterapia. les associavam a cinesioterapia (fortalecimento muscular
Os resultados obtidos com o uso da eletroterapia no tra- e alongamento) com eletroterapia e crioterapia respectiva-
tamento da OA são como coadjuvantes, colaborando prin- mente, e o outro grupo utilizou somente a cinesioterapia. O
cipalmente na analgesia, possibilitando o movimento sem equipamento utilizado foi o ondas-curtas que, a partir do calor
apresentar dor. Além de aparelhos que ajudam no fortaleci- profundo, proporcionando ganhos e reduzindo os sintomas.
mento da musculatura envolvida favorecendo a prevenção A partir dos resultados das avaliações realizadas, antes e de-
de agravos e manutenção da articulação. pois da aplicação dos protocolos de tratamento verificou-se
Quanto a cinesioterapia vale salientar a indicação do tipo que para alívio da dor a crioterapia associada a cinesioterapia
de tratamento de acordo com o estágio da patologia, tendo na obteve melhores resultados. Já para ganho de amplitude de
sua fase inicial evidências que justificam a utilização de exer- movimento, a eletroterapia associada à cinesioterapia e, com
cícios isométricos com evolução para outras. Sendo que diante relação à qualidade funcional, todos os grupos obtiveram bons
da evolução do quadro, há possibilidade de mudança nas indi- resultados. Além desses parâmetros, o grupo da eletroterapia
cações de exercícios dentro desta modalidade de tratamento. também apresentou ganhos na flexibilidade e força muscular.
Observou-se um consenso entre autores ao analisar os Vale ressaltar que existe uma lacuna quanto à efetividade do
resultados de suas pesquisas, no tocante aos benefícios na tratamento utilizando calor como possibilidade de analgesia. 2
funcionalidade e biomecânica que essas terapêuticas podem Em uma das obras foram citado três ensaios quanto ao
uso da cinesioterapia, sendo a primeira que compara o uso de
Tabela 1: artigos sobre osteoartrite. exercícios ativos com a manipulação e mobilização especí-
fica da articulação para OA de qua-
Nº total Artigos Artigos Artigos Artigos dril, já a segunda terapêutica apre-
de artigos nacionais internacionais excluídos selecionados sentou melhor resultado. Os ensaios
pesquisados seguintes são revisões sistemáticas:
Cinesioterapia 10 9 1 7 3 uma descreve relato de caso de pa-
Eletroterapia 7 4 3 3 4 ciente com OA de quadril e joelho; a
Associação entre eletroterapia e cinesioterapia outra revisa o caso o outro portador
4 3 1 0 4 de OA de joelho. O primeiro ensaio

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apoia o uso de exercícios aeróbicos, e de fortalecimento para Referências


diminuição da dor e incapacidade, mas devem ser respeita- 1. Barduzzi, G. de O., Júnior, P. R. R., Neto, J. C. de S., & Aveiro, M. C. (2011). Ca-
pacidade funcional de idosos com osteoartrite submetidos a fisioterapia aquática e
das as individualidades de cada paciente. 18 terrestre. Fisioterapia em Movimento, 24(1).
São raros os autores que sugerem protocolos, por se tratar 2. Silva, A. L. P.; Imoto, D. M.; Croci, A. T. (2007) Estudo comparativo entre a apli-
cação de crioterapia, cinesioterapia e ondas curtas no tratamento da Osteoartrite de
de terapias que devem considerar as particularidades de cada joelho. Acta ortopédica brasileira, v. 15, n. 4, p. 204-209.
paciente/cliente. Um outro ensaio afirma que os exercícios 3. Filho, E. T. de C., Netto, M. P. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. 5° ed.
São Paulo: Editora Atheneu, 2006.
isométricos são os mais vantajosos no início do tratamento. 2 4. Veronezi, C. C. D., Simões, P. W. T. de A., Santos, R. L. dos S., Rocha, E. L. da
Contudo, algumas revisões se propuseram a comparar R., Melão, S., Mattos, M. C. de, Cechinel, C. (2011). Análise computacional Para
auxílio ao diagnóstico de Osteoartrite de coluna lombar baseado em redes Neurais
protocolos, como a pesquisa de Silva, Imoto, Croci; já Miot- artificiais. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 46, n. 2, p. 195-9.
to apresentou diversas terapêuticas de forma bem sucinta, 5. Tamegushi, A. S., Trelha, C. S., Dellaroza, M. S. G., Cabrera, M., & Ribeiro, T.
N. (2008). Capacidade funcional de idosos com osteoartrite de joelhos e quadril.
mas afirmou ser vantajoso a associação entre cinesioterapia Espaç. saúde (Online), 9(2), 8-15.
e hidroterapia. 2,20 6. O’Sullivan, S. B; Schmitz, T. J. Fisioterapia - Avaliação e Tratamento. 5° ed. Ba-
rueri: São Paulo. Manole, 2010.
Portanto, de forma geral, há um consenso entre as publi- 7. Goldman, L. Ausiello, D. Cecil Medicina. 23° ed. Rio de Janeiro. Elsevier: 2009.
cações quanto aos benefícios funcionais que essas terapêu- 8. Souza, A. C. da S., Santos, G. M. (2012) Sensibilidade da Escala de Equilíbrio de
Berg em indivíduos com Osteoartrite. Revista Motriz, v.18 n.2, p.307-318.
ticas, quando bem aplicadas, podem proporcionar. Contudo, 9. Dadalto, T. V.; Souza, C. P. de; Silva, E. B. da. Eletroestimulação neuromuscular,
ressaltam a importância da atenção dos profissionais da área exercícios contra resistência, força muscular, dor e função motora em pacientes
com Osteoartrite primária de joelho. Fisioterapia em movimento, v. 26, n. 4, p.
a questões ligadas à relação entre as alterações estruturais, 777-789, 2013.
refletidas nas limitações das AVD’s e “participação social”, 10. Silva, L. da, Taxoto, A. N., Montalvão, E. M., Marques, A. P., Alfredo, P. P. Efeitos
da craniopuntura de Yamamoto na osteoartrite de joelho: estudo de caso. Fisiote-
reafirmando a necessidade da escolha de um bom protocolo rapia e Pesquisa, São Paulo, v.18, n.3, p. 287-91, jul/set. 2011
de tratamento.21 11. Freitas, E. V. de. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3º ed. Rio de Janeiro. Gua-
nabara Koogan, 2011.
12. Lianza, S. Medicina de Reabilitação. 4° ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
13. Mascarin, N. C., Lira, C. A. B. de, Coimbra, I. B. (2012). Effects of kinesiotherapy,
Conclusão ultrasound and electrotherapy in management of bilateral knee osteoarthritis: pros-
Concluiu-se, que o método mais eficaz no tratamento da pective clinical trial. BMC musculoskeletal disorders, v. 13, n. 1, p. 182.
14. Biasoli, M. C. Tratamento fisioterápico na terceira idade. Revista Brasileira de
Osteoartrite seria a eletroterapia associado à cinesioterapia, Medicina, v. 64, n. 11, p. 62-8, 2007.
fazendo uma combinação entre exercícios isométricos, por 15. Morgan, C. R., Santos, F. S. (2011). Estudo da estimulação elétrica nervosa trans-
cutânea (TENS) nível sensório para efeito de analgesia em pacientes com osteoar-
parte da cinesioterapia, e da eletroterapia fazer uso de alguns trose de joelho. Fisioterapia em Movimento, v. 24, n. 4, p. 637-46, 2011.
aparelhos como TENS e ultrassom. Portanto as duas terapêu- 16. Imoto, A. M., Peccin, S., Silva, K. N. G. da, Teixeira, L. E. P. de P., Abrahão, M.
I., Trevisani, V. F. M. (2013) A estimulação elétrica neuromuscular é efetiva na
ticas quando utilizadas concomitantemente tem evidencias melhora da dor, função e atividades de vida diária de pacientes com osteoartrite do
positivas quanto a sua eficácia diante do quadro patológico. joelho? Ensaio clínico randomizado. Sao Paulo Med. J., vol.131, n.2, pp. 80-87.
17. Paula, B. L. de, Soares, M. B., Lima, G. E. G. (2009). A eficácia da associação da
Diante do pesquisado, há um vasto referencial teórico cinesioterapia e da crioterapia nos pacientes portadores de osteoartrite de joelhos
sobre Osteoartrite, porém vale ressaltar a data de publicação, utilizando questionário algo funcional de lequesne. Revista Brasileira de Ciência e
Movimento, v. 17, n. 4, p. 18-26.
pois muitos ensaios ainda referem-se ao tema com publi- 18. Kisner, C., Colby, L. A. Exercícios Terapêuticos: fundamentos e técnicas. 5° ed.
cações datadas há mais de dez anos, supõe-se que este fato São Paulo: Manole, 2009.
19. Carlos, K. P., Belli, B. dos S., Alfredo, P. (2012). Efeito do ultrassom pulsado e do
ocorreu por falta de estudos publicados, pois há uma vasta ultrassom contínuo associado a exercícios em pacientes com osteoartrite de joelho:
gama de artigos do tipo revisão de literatura e. faz-se ne- estudo piloto. Fisioterapia e Pesquisa, v. 19, n. 3, p. 275-281.
20. Miotto, Cascieli et al. Physiotherapeutic treatment of arthralgias. Revista Dor, v.
cessário a publicação de trabalhos atuais sobre tratamento 14, n. 3, p. 216-218, 2013.
conservador da Osteoartrite e que façam comparativo entre 21. Sanchez, F. F., Ros, R. C. M. M., Silva, T. R., Uccio, C.B. (2007). Cinesioterapia
como tratamento para Osteoartrite no joelho. Revista Omnia Saúde, v. 4, n. 2, 1-74
possibilidades de terapias utilizadas.

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Relato de caso

Cinesioterapia neuro-funcional
associada à eletroterapia na reabilitação
do paciente hemiplégico

Functional neurological kinesiotherapy associated


to electrotherapy in rehabilitation of the hemiplegic patient

Orlando L. C. L. A. Santos1, Arthur S. Ferreira2


1. Discente do Curso de Fisioterapia da Univer- Resumo
sidade Salgado de Oliveira
2. Fisioterapeuta Especialista em Acupuntura
A proposta do presente estudo de caso foi avaliar a eficácia da associação de
e Eletroacupuntura, Doutorando em Ciências dois recursos fisioterápicos (cinesioterapia e eletroterapia) na reabilitação física,
em Engenharia Biomédica, Docente do Cur- sendo observados no tratamento do paciente acometido por um Acidente Vascular
so de Fisioterapia da Universidade Salgado Cerebral (AVC). O estudo envolveu um indivíduo do sexo masculino, com idade
de Oliveira
de 68 anos e história de AVC isquêmico com sequelas neurológicas típicas deste
distúrbio. A terapia empregada para este paciente baseou-se no uso da cinesioterapia
Endereço para correspondência: neuro-funcional visando estabelecer melhoria na organização e execução dos bons
E-mail: orlandolago@globo.com movimentos e supressão dos patológicos, tendo obtido resultado significante. Foi
também utilizada a eletroterapia como pré-cinético, com o uso da corrente de estí-
mulo nervoso transcutâneo (TENS), esta se mostrou eficiente quanto ao trabalho de
Recebido para publicação em 02/02/2015 e acei- eletro-estimulação objetivando a diminuição do quadro álgico para uma melhor rea-
to em 12/04/2015, após revisão. lização da parte posterior do tratamento, a cinesioterapia. Os resultados de melhora
funcional e de padrão demonstraram que a associação de ambos recursos fisioterá-
picos obtiveram resultados significativos quanto ao avanço no ganho de mobilidade
e amplitude articular, além da reaprendizagem de atividades da vida diária. Os mes-
mos recursos podem posteriormente serem estudados quanto à sua eficácia através
de outros distúrbios clínico-patológicos com sinais semelhantes ao AVC.
Palavras-chave: AVC, cinesioterapia, eletroterapia, hemiplegia.

Abstract
The purpose of this case study was to evaluate the efficacy of two physiothe-
rapy resources association (kinesiotherapy and electrotherapy) in physical rehabi-
litation, being observed in the treatment of patients affected by a Cerebral Vascular
Accident (CVA). The study involved a male person, aged 68 years and ischemic
stroke history with typical neurological sequelae this disorder. The maid therapy
for this patient was based on the use of neuro-functional therapeutic exercise to
establish improvement in the organization and implementation of good moves and
suppression of pathological and obtained significant results. It was also used elec-
trotherapy as pre-kinetic, with the use of transcutaneous nerve stimulation current
(TENS), this proved effective as the electrical stimulation of work aiming the re-
duction of pain symptoms to better achieve the back of the treatment, therapeutic
exercise. The results of functional improvement and pattern showed that the asso-
ciation of both physiotherapy resources obtained significant results regarding the
progress in gaining mobility and range of motion, as well as relearning activities
of daily living. The same features can then be studied for their effectiveness throu-
gh other clinical-pathological disorders with signs similar to stroke.
Keywords: stroke, kinesiotherapy, electrotherapy, hemiplegy.

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Introdução cinesioterapia a partir da segunda sessão e à eletroterapia a


A hemiplegia não é uma doença, é uma sequela neu- partir da terceira.
rológica grave devido a um comprometimento circulatório A cinesioterapia se preocupou na tentativa de melhorar
cerebral com consequências em vários níveis. Esta área é o quadro motor e consequentemente fazer com que os mo-
responsável por determinadas funções no corpo humano; en- vimentos comuns da vida cotidiana fossem reaprendidos tra-
tão, dependendo da área lesada pode-se ter quadros de com- zendo assim um ganho funcional com maior rapidez. A ade-
prometimentos sensoriais (degustação, visão, audição, tato), quação à normalidade da marcha foi também trabalhada nas
comprometimento mental (memória, raciocínio, linguagem, sessões de forma independente, pois os padrões patológicos
fala) e comprometimento físico (tônus, força, coordenação, na marcha ceifante devem ser inibidos a fim de que o pacien-
marcha, equilíbrio). Este último comprometimento é o que te possa executar uma marcha mais próxima da normalidade.
mais chama a atenção no paciente hemiplégico e que a fisio- Com isso o paciente foi orientado a executar protusão, abdu-
terapia mais se interessa em avaliar e tratar 1. ção, flexão, adução e extensão de ombros de forma ativa e
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é sem dúvida a assistida. Foi feita mobilização passiva em diversos grupos
maior causa de lesões corticais que originam uma hemiple- musculares nos membros superior e inferior, andar de uma
gia. Resulta geralmente devido a uma ruptura de um vaso distância a outra em espaços intervalados de tempo e tam-
(aneurisma, hipertensão arterial) ou por trombose arterial. bém na rampa/escada. Trabalho específico de propriocepção
Em ambas as situações há o acontecimento lesivo no cérebro também foi feito com o objetivo de estimular a área somes-
devido à isquemia 2. tésica deste paciente, pois teoricamente se estimulando tais
O quadro clínico do hemiplégico é bem específico e áreas há uma possibilidade de recuperação mais rápida do
consequentemente acomete a marcha. Há uma alteração sig- ato motor. Foram também realizados alongamentos na mus-
nificativa no tônus muscular devido a espasticidade eviden- culatura encurtada, além de coordenação e equilíbrio para
ciando a rigidez muscular e o descontrole de determinados atividades da vida diária nos dois lados do corpo.
movimentos 3. Em alguns casos, na fase inicial, o hemiplégi- O equipamento utilizado para a eletroterapia foi um
co não permanece na posição ortostática devido a um maior TENS de 4 canais, marca KLD, modelo tensys, classe 2 tipo
comprometimento motor e à hipertonia, conforme observado BF (IEC601). Foram administrados 4 eletrodos em áreas seg-
em estudos clínicos 4. mentares proximais e distais dos membros superior e inferior
A cinesioterapia é utilizada por meio de exercícios pa- do hemicorpo direito com duração de 20 minutos em todas
drões, para que determinada área do corpo seja estimulada e as sessões. Este método eletroterápico foi utilizado para ga-
desencadeie um processo sensório-motor afim de que a área nho de dinâmica muscular, fortalecimento, diminuição do
cerebral correspondente possa ser reorganizada 5. A associa- quadro álgico e normalização de contrações involuntárias.
ção com a eletroterapia tem se mostrado confiável e com re- Foram associados itens de avaliação física a cada 10
sultados significativos 6. sessões para que o quadro de evolução clínica se tornasse
O objetivo deste estudo de caso foi avaliar os efeitos da evidente em parâmetros descritivos. Usou-se na avaliação:
cinesioterapia neuro-funcional associada à eletroterapia como análise da marcha, teste manual de força muscular, exame
facilitadores para a reabilitação do paciente hemiplégico. Op- goniométrico e evolução na realização de atividades diárias
tou-se pelo uso da observação e acompanhamento do quadro simples e complexas.
de recuperação do paciente, através de dados clínicos.
Resultados
Metodologia Após a 10ª sessão desde o início do tratamento fisiote-
Este trabalho é baseado no estudo de caso de um pacien- rápico, o paciente já possuía uma melhora com relação ao
te do sexo masculino, 68 anos, apresentando história de AVC quadro inicial.
isquêmico. Apresenta marcha ceifante com acometimento de No que diz respeito à marcha, após a 30ª sessão já se
hemiplegia completa à direita; membro superior direito com locomovia sem o arrastar de pé do lado direito, tendo dis-
flexão de cotovelo, punho e mão, esta última com o típico si- sociação da cintura pélvica a fim de auxiliar a execução da
nal clínico neurológico em garra; membro inferior direito com mesma, evitando assim um padrão antálgico, conforme ob-
semi-flexão de joelho e rotação externa da articulação coxo-fe- servado durante as sessões.
mural com leve ascendência da espinha ilíaca ântero-superior. O padrão motor teve uma melhora acentuada se compa-
Refere dor forte na região do ombro direito e na articulação rado ao quadro inicial do tratamento, entretanto alguns gru-
coxo-femural direita. Foi encaminhado ao setor de fisioterapia pos musculares, principalmente os que possuem músculos
depois de 28 dias do AVC, tendo chegado com déficit tônico realizadores de grandes alavancas ainda permaneceram com
muscular proporcionado pelos dias em que esteve imóvel. padrão dinâmico funcional diminuído durante exercícios de
A este paciente foi prescrito tratamento fisioterápico de- intensidade maior, ficando evidente quando analisado atra-
pois de uma avaliação física que se preocupou com: mobili- vés do teste manual de força muscular (tabela 1).
zação das escápulas, movimentos funcionais nas articulações A coordenação para motricidade de atividades simples
de membros superior e inferior, mudança de decúbito, graus teve avanço significativo e grande participação para a dimi-
de força muscular, marcha assistida e não-assistida. O trata- nuição do quadro espástico no membro superior. A motri-
mento foi executado diariamente (segunda a sexta) durante cidade para atividades mais complexas teve pouco avanço,
2 horas num total de 40 sessões. O paciente foi submetido à pois haveria necessidade de um tempo maior de tratamento

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Tabela 1: Teste manual de força muscular. homens e que com o avanço da idade este risco aumenta e a
Sessões Avaliadas Membro Superior Membro Inferior recuperação física tende a ser mais demorada, necessitando
Direito Direito de maior tempo de tratamento 9.
1ª 2 2 Grande parte dos estudos encontrados sobre o assunto
10ª 2 3 não pode ser utilizada como parâmetros de comparação,
30ª 3 4 devido a numerosas variações como falta de referência em
40ª 4 4 relação à diminuição progressiva da dor e movimentos que
para que houvesse normalização do padrão hipertônico e envolvem o ombro, diferentes critérios de inclusão e falta de
com isso, uma possibilidade de executar movimentos com descrição detalhada do tratamento.
maior perfeição e menor grau de erro. O grau de amplitude Os resultados do nosso estudo evidenciaram uma me-
de movimento teve aumento significativo tanto em membro lhora funcional do paciente, percebida em grande parte com
superior quanto em inferior, articulações destes segmentos o auxílio direto da eletro-estimulação e pelo tratamento ser
tiveram aumento em suas angulações proporcionando uma feito diariamente.
melhoria específica para a marcha, tendo sido utilizada a go- Apesar da função neuro-motora deste paciente ter evolu-
niometria para tal análise (tabela 2). ído, é necessária a continuidade do tratamento fisioterápico,
visto que o quadro de recuperação motora dele pode melho-
Tabela 2: Grau de amplitude de movimento articular. rar gradativamente no que diz respeito a ganhos de mobili-
Sessões Ombro Referência 7 Quadril Referência 7 dade e grau de amplitude articular. O cessar deste tratamento
Avaliadas Direito Direito poderia regredir o estado de avanço 10.
(Extensão (Extensão
/ Flexão) / Flexão)
Conclusão
1ª 15° / 40° 0°-45° / 0°-180° 0° / 15° 0°-10° / 0°-125°
Os resultados desse trabalho baseado em um estudo de
10ª 20° / 65° 5° / 35°
caso com acompanhamento clínico e terapêutico sugerem
30ª 30° / 95° 5° / 50°
que a cinesioterapia e a eletroterapia quando associadas tra-
40ª 35° / 130° 7° / 85°
zem benefícios fisiológicos e de recuperação a indivíduos
A relação intelectual de reaprendizagem motora e sen- que foram acometidos por lesões neurológicas, especifica-
sória obteve avanço quando comparado ao início do trata- mente como o aqui estudado, o AVC isquêmico.
mento, tendo havido progresso na realização de atividades
da vida diária, com maior significância às de execução mais Referências
simples. 1. Cambier J., Masson M., Dehen H. Manual de neurologia. Rio de Janeiro, Guana-
bara Koogan, 1999.
2. Umphred D.A. Reabilitação neurológica. São Paulo: Manole, 2003.
3. Snell R.S. Neuroanatomia clínica para estudantes de medicina. Rio de Janeiro:
Discussão Guanabara Koogan, 2003.
O presente estudo adveio da necessidade de estabelecer 4. Lundy-Ekman L. Neurociência: fundamentos para reabilitação, São Paulo, Else-
medidas eficazes na reabilitação do paciente hemiplégico. vier, 2004.
5. Carr J.H., Shepherd R.B. Programa de reaprendizagem motora para o hemiplégico
As complicações posteriores ao evento são frequentes e suas adulto. São Paulo: Manole, 1998.
causas e tratamentos adequados ainda não estão claramente 6. Kitchen S. Eletroterapia: prática baseada em evidências. São Paulo: Manole, 2003.
7. Marques A.P. Manual de Goniometria. São Paulo: Manole, 2000.
estabelecidos 8. Além disso, resulta em grande impacto ne- 8. Greenberg D.A., Aminoff M.S., Simon R.P. Neurologia clínica. Porto Alegre,
gativo sobre a recuperação funcional de pacientes que so- Artes Médicas, 2000.
brevivem a um AVC. Devido à importância e à necessidade 9. Pires S.L., Gagliardi R.J., Gorzoni M.L. Estudo das frequências dos principais
fatores de risco para acidente vascular cerebral isquêmico em idosos. Revista de
de terapêutica específica, apontada por vários autores, o tra- Saúde Pública, 2004; 78.
tamento fisioterápico proposto para esse estudo seguiu o pa- 10. Horn A.I., Fontes S.V., Carvalho S.M.R., Silva R.A.B., Barbosa P.M.K, Durigan
A., Atallah A.N., Fukujima M.M., Prado G.F. Cinesioterapia previne ombro dolo-
drão cinesiológico convencional, conforme citado em outros roso em pacientes hemiplégicos/paréticos na fase sub-aguda do acidente vascular
estudos. Na literatura é referida maior incidência de AVC em encefálico. Arquivos de Neuro-Psiquiatria (Abneuro), 2003; 61.

110
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Relato de caso

O efeito da eletrolipoforese
no fibroedemagelóide

The effects of electrolipophoresis in edematous


fibrosclerotic panniculopathy

Lorena Maria Brito Neves Pereira Vilar1, Rayanne Karolyne Gomes da Silva2,
Isabella Dantas da Silva3, Gabriela Brasileiro Campos Mota4
1. Fisioterapeuta, Mestre em Saúde Coletiva pela Resumo
Universidade Estadual da Paraíba e especialis-
ta em Fisioterapia Dermatofuncional e Fisiote-
Introdução: O fibroedemagelóide é uma desordem localizada que afeta a pele e
rapia Neurofuncional pela Universidade Gama o tecido subcutâneo, com alterações vasculares, lipodistróficas e resposta esclerosan-
Filho. Docente da Faculdade de Ciências Mé- te, que pode ocasionar dor e perdas funcionais. Objetivo: conhecer o efeito da eletro-
dicas (FCM) de Campina Grande-PB. lipoforese no fibroedemagelóide. Metodologia: estudo de caso, longitudinal e descri-
2. Fisioterapeuta graduada pela Faculdade de Ci-
ências Médicas de Campina Grande.
tivo, de uma paciente com fibroedemagelóide grau III. Foi utilizado a eletrolipoforese
3. Fisioterapeuta, Doutora em Ciências da Saúde na região abaixo da prega glútea direita, por dez sessões, duas vezes por semana.
pela Universidade Federal do Rio Grande do Os dados foram analisados através da comparação antes e depois do tratamento, da
Norte, Mestre em Saúde Coletiva pela Uni- ficha de avaliação, registro fotográfico da região tratada e exame ultrassonográfico.
versidade Estadual da Paraíba e Especialista
em Recursos Terapêuticos Manuais pela Uni-
Resultados: ao final do tratamento não foram observadas alterações estéticas na pele
versidade Federal de Pernambuco. Docente tratada, permanecendo o mesmo grau de fibroedemagelóide. Houve diminuição da
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) de circunferência na região tratada que variou de 0,5 a 2 centímetros. No exame de ul-
Campina Grande-PB. trassonografia não foram verificadas alterações na vascularização sanguínea e septos
4. Fisioterapeuta, Doutora em Engenharia de
Processos pela Universidade Federal de Cam-
de tecidos fibrosos na pele tratada, mas foi possível verificar uma pequena redução
pina Grande, Mestre em Desenvolvimento e do tecido subcutâneo que variou entre 1,5mm a 2,9mm. Considerações finais: Foi
Meio Ambiente pela Universidade Federal da possível constatar redução da perimetria e da camada subcutânea (adiposa) na região
Paraíba e Especialista em Fisioterapia Neuro- tratada, considerada esteticamente insatisfatória. O exame de ultassonografia também
lógica pela Universidade Estadual da Paraíba.
Docente da Faculdade de Ciências Médicas
não evidenciou alteração na vascularização e fibrose do tecido.
(FCM) de Campina Grande-PB. Palavras-chave: fibroedemagelóide, tratamento, fisioterapia.

Abstract
Endereço para correspondência: Introduction: The Edematous-fibrosclerotic panniculopathy is a localized disor-
E-mail: lorenambnp@gmail.com
der that affects the skin and subcutaneous tissue, with vascular alterations, lipodys-
trophics and sclerotic response, which can cause pain and functional loss. Objective:
Cognize the effect of electrolipophoresis in Edematous-fibrosclerotic panniculopathy.
Recebido para publicação em 07/03/2015 e acei- Methodology: case study, longitudinal and descriptive, of a patient with grade III of
to em 14/05/2015, após revisão.
Edematous-fibrosclerotic panniculopathy. Was used electrolipophoresis in the region
below the right gluteal fold, for ten sessions, twice a week. The data were analyzed
through the comparison before and after of the treatment, of the evaluation form,
photographic record of the treated region and ultrasonographic exam. Results: in the
end of treatment were not observed esthetics alterations in the treated skin, remaining
the same degree of cellulite. There was a decrease in the circumference in the treated
region varied from 0,5 to 2 centimeters. In the ultrasonographic exam were not ve-
rified changes in blood vascularization and septums of fibrous tissues in the treated
skin, but it was possible to verify a small reduction of subcutaneous tissue ranging
varied from 1,5mm to 2,9mm. Final considerations: It was possible to find reduce
of the perimetry and the subcutaneous layer (adipose) in the treated area, considered
esthetically unsatisfactory. The ultrasonographic exam also not evidenced alterations
in the vascularization and tissue fibrosis.
Keywords: edematous-fibrosclerotic panniculopathy, treatment, physiotherapy

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Introdução ralela, sendo a distância entre os pares de agulhas de 5cm e


É sabido, que no mundo atual há uma crescente busca entre um eletrodo e outro de cerca de 2 cm.
por uma imagem corporal que é estereotipada pela socieda- Os resultados observados foram apresentados através da
de, com corpos esteticamente esculturais. Diante dessa reali- análise descritiva das alterações observadas na ficha de ava-
dade, uma das patologias que mais incomodam as mulheres liação, registro fotográfico e ultrassonografia.A pesquisa foi
é o fibroedemageloide (FEG). direcionada de acordo com a resolução 466 de 12 de dezem-
O FEG é uma patologia que acarreta problemas estéticos bro do ano 2012 instituída pelo Conselho Nacional de Saúde,
e dependendo do grau de acometimento do tecido, pode trazer tendo o projeto sido aprovado pelo ao Comitê de Ética em
perdas funcionais, ocasionando a diminuição das atividades e Pesquisa de Ensino Superior e Desenvolvimento da FCM e
problemas álgicos. Trata-se de uma infiltração edematosa do respeitado todos os princípios da bioética.
tecido conjuntivo, não inflamatória, seguida de polimerização
da substância fundamental amorfa e fibrose do tecido 1. Resultados
Nesse sentido, uma das técnicas utilizadas para tra- Foi acompanhada uma paciente, sexo feminino, com ida-
tar essa patologia é a eletrolipoforese (eletrolipólise), que de de 27 anos. A mesma relatou que aos treze anos iniciou a
consiste na utilização de uma corrente de baixa frequência, vida de atleta, onde começou a realizar treinos para o esporte e
aplicada ao paciente através de agulhas de acupuntura, que passou a ingerir mais alimentos, engordando cinco quilos em
devem ser posicionadas no tecido subcutâneo na área a ser poucos meses. A partir desse momento começou a perceber a
tratada. Atuam de forma direta no nível dos adipócitos, es- presença de FEG. Sentiu que a aparência da pele começou a
timulando o fenômeno de lipólise 2. Além disso, promove piorar após duas gestações, onde na primeira, engordou doze
vasodilatação e aumento do fluxo sangüíneo e metabolismo quilos, relatou nunca ter conseguido perder esse peso. Na se-
celular da região tratada 3. gunda gravidez, engordou vinte quilos. A mesma não realiza
O estudo desse recurso é necessário para que se possa atividade física, dieta e faz uso de anticoncepcionais.
conhecer sua real eficácia nessa patologia. Além disso, esta Ao exame físico foi evidenciado que a paciente possui
pesquisa pode contribuir para o conhecimento dos profissio- biotipo ginóide, Índice de Massa Corporal-IMC igual a 32,
nais que trabalham na área, além de favorecer o embasamen- indicando obesidade I. A paciente não apresenta flacidez de
to científico das técnicas utilizadas na dermatofuncional e pele, nem muscular nos membros inferiores, porém existe a
o estímulo a novas pesquisas. Portanto, a presente pesquisa presença de microvarizes na porção posterior das coxas.
apresentou como objetivo analisar os efeitos da eletrolipólise Na região escolhida para o estudo (abaixo da prega glú-
na pele do paciente com FEG. tea direita) apresenta FEG de característica compacta (dura) e
grau III. Para esse trabalho foi utilizada a classificação de FEG
Metodologia adotada por Ulrich (1982) 1 que considera o grau III como
O trabalho foi do tipo estudo de caso, longitudinal, des- sendo aquele que o acomentimento do tecido é observado o in-
critivo e de caráter qualitativo, realizado na Clínica Escola divíduo estando em qualquer posição e a pele pode está cheia
de Fisioterapia da Faculdade de Ciências Médicas de Campi- de relevos, assemelhando-se a um “saco de nozes”.
na Grande (FCM). A amostra foi definida por acessibilidade, Durante a palpação, foi realizado o estiramento da pele
composta por uma paciente, com grau III de FEG e que se na posição ortostática, no sentido longitudinal e ascendente,
adequou aos critérios de inclusão, que foram os seguintes: permanecendo o aspecto de ondulação, indicando um quadro
sexo feminino, possuir FEG, idade entre 19 e 36 anos e acei- de fibrose.
tar participar de forma voluntária do estudo. Os critérios de A perimetria da região tratada foi realizada logo abaixo da
exclusão estabelecidos foram: mulheres gestantes, que es- prega glútea e em mais dois pontos como observado na tabela
tivessem realizando dieta; apresentar distúrbios hormonais I. Após o tratamento, houve uma pequena redução na perime-
descontrolados, portadora de marca-passo, possuir cardiopa- tria, principalmente 10 cm abaixo da prega glútea direita.
tia ou insuficiência renal, trombose venosa profunda e por-
tadora de algum processo infeccioso tanto sistêmico quanto Tabela 1: Perimetria (cm) da região tratada antes da primeira
local; que estivesse realizando outro tratamento que possa sessão e ao final da última sessão.
interferir no resultado da pesquisa. Regiões corporais Antes do início Após a última
Os instrumentos utilizados para se coletar os dados foram: (lado direito) do tratamento sessão de tratamento
ficha de avaliação, arquivo fotográfico e exame de ultrassono- Abaixo da
grafia na região tratada (abaixo da prega glútea direita, com prega glútea 77 cm 76 cm
área de 15 cm de largura e 10cm de altura). Todos foram apli- 5cm abaixo
cados antes da primeira sessão e ao término da pesquisa. da prega glútea 71,5 cm 72 cm
O aparelho utilizado no tratamento foi o Neurodyn 10 10 cm abaixo
canais da marca Ibramed®. A terapia foi realizada duas ve- da prega glútea 68,0 cm 66 cm
zes por semana, com duração de 50 minutos cada sessão, Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
totalizando 10 sessões de tratamento. Foi empregada nessa
pesquisa a corrente contínua, através de quatro pares de ele- Quanto ao registro fotográfico, como pode ser visualiza-
trodos do tipo agulha de acupuntura, de 0.25 milímetros de do na figuras 1 não foi possível perceber alterações estéticas
espessura, e 3 cm de comprimento, dispostos de forma pa- na área tratada, permanecendo o mesmo grau de FEG.

112
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Figura 1: Região tratada (abaixo da prega glútea direita) an- ocasiona acúmulo de gordura, flacidez muscular, com preju-
tes/após o tratamento. ízo da circulação venosa de retorno, favorecendo a estase e o
edema, que já existem no FEG 7.
A paciente possui biotipo ginóide, característica mais
comum em mulheres, graças ao hormônio feminino estrogê-
nio que também faz com que a gordura se localize no tecido
subcutâneo, o que acaba por caracterizar o grande número de
células adiposas na região do fêmur, glúteos Estes adipócitos
são mais resistentes à lipólise 8.
A paciente possui obesidade grau I. A obesidade está
ligada ao aparecimento de FEG, uma vez que durante a fase
inicial, onde ocorre uma alteração circulatória, os adipócitos
hipertrofiados, contribuem para o edema, comprimindo os
vasos sanguíneos e linfáticos 9.
Machado et al. 6 discordam dessa relação supracitada.
No primeiro exame de ultrassonografia foi observado Em seu estudo descrevem que o grau do FEG na região glú-
que a pele (epiderme e derme) mostrou-se uniforme, sem tea parece não ter associação diretamente proporcional com
abaulamentos ou retrações. No local tratado foi visualiza- as variações da massa corporal e IMC. Mesmo as mulheres
da discreta vascularização na camada celular subcutânea e que possuem IMC considerado adequado podem apresentar
septos fibrosos em meio aos lóbulos adiposos. No exame, gordura corporal aumentada, pois este índice não analisa indi-
realizado ao final do tratamento, não houve nenhuma altera- vidualmente os compartimentos de massa magra e de gordura.
ção nesse aspecto. A eletrolipólise é realizada através de agulhas finas que são
Em relação à medição da camada subcutânea, no exame introduzidas no panículo adiposo 10. No espaço entre os eletro-
de ultrassonografia foi dividida em três porções, parte interna, dos, se origina um campo elétrico e uma consequente série de
média e externa, como pode ser visto na tabela 2, houve uma modificações fisiológicas que são responsáveis pelo processo
diminuição respectivamente de 1.5mm, 1.6mm e 2.9mm. de eletrolipólise 11. O estimulo elétrico subcutâneo ocasiona di-
minuição de medidas, melhora da aparência do FEG e a tonifi-
Tabela 2: Resultado em milímetros (mm) do tecido subcu-
cação de várias regiões corporais em que forem tratadas 8. Para
tâneo (da região tratada) antes da primeira sessão, e ao final
melhorar a tonicidade da pele a corrente de baixa frequência
da última sessão.
promove o estimulo de fibrilas do tecido conjuntivo 12. O uso
Camada celular Antes do início Após a última
desta corrente, ainda fará com que ocorra aumento do metabo-
subcutânea do tratamento sessão de tratamento
lismo celular e maior facilidade no consumo de calorias 13.
Parte interna 37 cm 35,5 cm
As agulhas podem ser de diversos tamanhos, desde
Parte média 36,1 cm 34,5 cm
0,25mm x 4cm e 0,3 mm x 7cm, ou maiores para serem uti-
Parte externa 39,4 cm 36,5 cm
lizadas em áreas de grandes extensões 14. Scorza et al. 15 re-
Fonte: Dados da pesquisa, 2014.
velam que para a obtenção de resultados mais satisfatórios
Discussão no tratamento, a distância adotada entre as agulhas não deve
O FEG afeta quase que exclusivamente as mulheres, isso ultrapassar 10 cm, devido a dissipação da corrente, enquanto
ocorre devido à presença, na hipoderme, de um septo fibroso Couto et al. 16 referem o uso de distância entre 3 e 6 cm.
fino, com projeção perpendicular, enquanto que, no homem, Sobre a disposição dos eletrodos, Borges (2010) 2 con-
existe um septo mais grosso, com projeção oblíqua, favore- corda com o posicionamento adotado nesse estudo. Ele ex-
cendo assim, a expansão do tecido gorduroso em direção à plica que a distância entre cada um dos eletrodos é de 5 cm.
profundidade no homem e, para a superfície, na mulher 4,5. Pereira 17 concorda que a distância entre uma agulha e outra
Existem alguns fatores que são predisponentes para o não deve ser superior a 5 cm, para que possa permitir a con-
surgimento do FEG. Dentre eles pode-se destacar à genética, centração de um campo elétrico otimizado.
o sexo, o biótipo, hábitos alimentares inadequados, sedenta- A frequência utilizada, no protocolo de tratamento foi
rismo, uso de anticoncepcionais e gravidez, como aconteceu de 5 Hz, uma vez que o aparelho utilizado no trabalho pos-
com a paciente desse estudo 6,7. sui essa frequência como fixa. Noble et al. 18 enfatizam que
O aparecimento ou agravamento do FEG na gravidez quando se utiliza uma corrente elétrica entre 5 e 10 Hz esti-
esta relacionado a um aumento de certos hormônios, dentre mula-se mais o sistema circulatório e os nervos simpáticos,
eles a prolactina e insulina. Além disso, o próprio útero gra- onde estes estímulos são importantes para ocorrer a lipólise.
vídico, aumentado de tamanho, dificulta o retorno venoso se O uso de frequências ao redor de 5Hz, tem o objeti-
tornando uma barreira mecânica, aumentando a estase circu- vo de aumentar a captação de catabólitos, glicerol e outros
latória nos membros inferiores e a presença de nódulos na derivados da eletrolipólise, com o objetivo de estimular sua
palpação profunda 4. excreção e impedindo sua metabolização e novamente se
Atualmente, a paciente não realiza atividade física. A agregando aos adipócitos e consequentemente a formação de
falta de exercício físico também é um fator que pode fazer gordura 19. Couto et al. 16 discordam da frequência adotada
aparecer ou piorar o quadro clínico do FEG, uma vez que nesse estudo, para eles, deve- se utilizar correntes em torno

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Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

dos 25Hz, que causam a destruição dos triglicerídeos e be- Considerações finais
neficiam a eliminação dos ácidos graxos locais através da Ao final do estudo, não foram observadas, através do
estimulação do metabolismo celular local. exame de ultrassonografia, alterações vasculares, histoló-
As intensidades escolhidas variaram de acordo com a gicas ou fisiológicas no tecido submetido a eletrolipólise,
sensibilidade individual da paciente e era aumentada durante como também não se verificou alterações estéticas no aspec-
as sessões (devido ao processo de acomodação) e entre as to da pele da região tratada. Embora, tenha sido observada
mesmas. A paciente iniciou a primeira sessão com intensida- redução na antropometria e da camada adiposa no exame de
de de 2,5µA e a mesma oscilou entre 6, 7 e no máximo 8 µA. ultrassonografia, o efeito da eletrolipólise não foi conside-
Garcia, Garcia e Borges 20 utilizaram em trabalho com rado satisfatório em virtude da pouca espessura diminuída.
eletrolipoforese frequência de 30Hz, maior que o adotado É válido salientar que os resultados desse trabalho se
nesta pesquisa. Porém adotaram intensidade e tempo seme- referem a uma única paciente, cujas características indivi-
lhantes ao deste trabalho, com a sensibilidade determinada duais podem ter induzidos nos resultados obtidos, que não
pela sensibilidade e tolerância da paciente. Paula, Pichet e podem ser transpostas para uma população. Nesse sentido,
Simões 8 utilizaram também parâmetros semelhantes quanto mais estudos devem ser realizados, com uma amostra repre-
a intensidade e duração do tratamento, divergindo na frequ- sentativa, utilizando parâmetros diversificados.
ência, que variavam na mesma sessão entre, 20, 30 e 50Hz.
Ao término da última sessão de fisioterapia, foi refeito Referências
o exame físico da paciente. Na reavaliação não foram obser- 1. Guirro E, Guirro R. Fisioterapia Dermato-Funcional. Barueri-SP: Manole, 2004.
2. Borges FS. Dermato-funcional: modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas.
vadas alterações estéticas na pele tratada, permanecendo o 2 ed. São Paulo: Phorte, 2010.
mesmo grau de FEG. Quanto a perimetria, a mesma foi rea- 3. Carpes PBM, Stumpf T, Piccinini AM, Rosa PV. A eletrolipólise percutânea como
possibilidade de diminuição da adiposidade em abdomen e flancos. Revista Bio-
lizada antes da primeira sessão de tratamento e uma semana motriz, 2012; 6(2).
após a última sessão. 4. Rossi ABR, Vergnanini AL. Celulite: A review. Journal European Academy of Der-
matology and Venereology, 2000.
O peso da paciente se manteve o mesmo durante o iní- 5. David RB, De Paula RF, Schneider AP. Lipodistrofia ginóide: Conceito, etiopatoge-
cio até o final das sessões 96Kg), portanto, não interferiu no nia e manejo nutricional. Revista brasileira de nutrição clinica. 2011;26(6):2002-6.
6. Machado AFP et al. Incidência de fibro edema geloide em mulheres caucasianas
resultado final. A antropometria foi realizada em três locais, jovens. Arq Bras Ciên Saúde. Santo André. 2009 Maio/Ago;34(2):80-6.
englobando toda região tratada. Como pode ser visto na ta- 7. Kede MPV, Sabatovich O. Dermatologia Estética, 2. ed., Rio de Janeiro: Atheneu,
2009.
bela I entre a primeira sessão e a última a paciente reduziu 8. Paula MR, Pichet G, Simões NDPS. Efeitos da eletrolipólise nas concentrações
1cm de diâmetro na região abaixo da prega glútea; 0,5cm na séricas de glicerol e do perfil lipídixo. Revista Fisioterapia Brasil. São Paulo, su-
plemento especial. 2006 Jan-Fev:5-10.
região 5 cm abaixo da prega glútea e 2 cm na região de 10 cm 9. Terranova F, Berardesca E, Maibach H. Cellulite: nature and a etiopathogenesis.
abaixo da prega glútea. Int J Cosmet Sci. 2006
10. Mello PB, Dreher PM, Piccinini AM, Da Rosa LHT, Da Rosa PV. Comparação
Garcia, Garcia e Borges 20 em seu estudo com eletrolipó- dos efeitos da eletrolipólise transcutânea e percutânea sobre a gordura localizada
lise encontrou resultado mais positivo em comparação ao da na região abdominal e de flancos através da perimetria e análise de bioimpedância
elétrica. Fisioterapia Brasil. 2010 maio/jun;11(3):198-203.
presente pesquisa. Realizou aplicação de 18 sessões de ele- 11. Soriano MCD, Pérez SC, Baques MIC. Electroestética Profissional Aplicada: Te-
trolipólise em uma mulher cuja queixa era a permanência de oria y Practica para La Utilización de Corrientes em Estética. Espanha, Sorisa,
2000:120-123.
adiposidade em flancos após lipoaspiração. Através do exa- 12. Dresch P, Carvalho T. Aplicação da Técnica de Eletrolipólise Utilizando Acupon-
me de ressonância magnética observaram que essa terapia tos. Trabalho de conclusão de curso. 2010.
13. Azevedo CJD, Zanin EC, Tolentino TM, Cepeda CC, Busnardo VL. Estudo Compa-
se mostrou eficaz, uma vez que houve redução de 19,86% rativo dos Efeitos da Eletrolipólise por Acupontos e da Electrolipólise por Acupontos
Associada ao Trabalho Aeróbico no Tratamento da Adiposidade Abdominal Grau I
do tecido adiposo local e melhora significativa no aspecto em Indivíduos do Sexo Feminino com Idade entre 18 e 25 Anos. RUBS, 2008;1(2), 8.
estético da região tratada. 14. Costa ERR. Lipodistrofia ginóide: tratamento da celulite. Rio de Janeiro: Revinter,
2009.
Lima 21 em seu estudo com eletrolipólise utilizando o 15. Scorza FA, Figueredo MM, Liao CO, Borges FS. Estudo comparativo dos efeitos
TENS realizou 10 sessões de tratamento em duas pacientes da eletrolipólise com o uso de TENS modo burst e modo normal no tratamento de
adiposidade localizada abdominal. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrá-
na região abdominal. Ao final do tratamento, a paciente de- rias e da Saúde. 2008 dez;3(2).
nominada de A, perdeu de acordo com a perimetria de 3 a 16. Couto MF, Melo CAD, Ruiz CS. Eletrolipólise mediada por TENS e Microcorrente
em associação com exercício físico. Proc. 1º ICH Gaia-Porto – Actas. 2010:402-409.
5cm e no exame de ultrassonografia a maior perda foi em tor- 17. Pereira P. Eletroterapia sem mistérios: aplicações em estética facial e corporal. 3ed.
no de 6mm. A paciente B perdeu na perimetria em torno de 5 Rio de Janeiro: Editora Rubio, 2007.
18. Noble JG, Henderson G, Cramp AFL, Walsh DM, Lowe AS. The effect of interfe-
a 10cm e na ultrassonografia a maior redução foi de 2,8 mm. rential therapy upon cutaneous blood flow in humans. Clinical Physiology. 2000;
Araújo et al. 22 também realizaram estudo com eletroli- 20(1):2-7.
19. Agne JE. Eu sei eletroterapia. Santa Maria: Pallotti, 2009.
poforese utilizando o TENS. O tratamento consistiu na apli- 20. Garcia PG, Garcia FG, Borges, FS.O uso da eletrolipólise na correção de assime-
cação desse método por 10 sessões, em sete indivíduos do tria no contorno corporal pós- lipoaspiração: relato de caso. Revista Fisioterapia
Ser. São Paulo. 2006 out/dez;1(4):145-147.
sexo feminino. A avaliação dos resultados também foi reali- 21. Lima AGS.Utilização do TENS como substituto do aparelho de eletrolipólise para
zado através de exame de ultrassonografia, que demonstrou a redução da lipodistrofia localizada. 2013. 100f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação)- Faculdade de Fisioterapia, Faculdade de Ciências Médicas de Cam-
redução da gordura localizada, mas considerada pelos auto- pina Grande- FCM, Campina Grande, 2013.
res de pequena magnitude, e que certamente não apreceriam 22. Araújo CP et al .A eletrolipólise como método de redução de adiposidade no abdo-
me inferior: estudo piloto. Revista de Especialização em Fisioterapia. São Paulo.
como resultado estético, igual ao deste trabalho. 2007 out/dez;1(2):1-7.

114
Fisioterapia Ser • vol. 10 - nº 2 • 2015

Relato de caso

Intervenção na mecânica respiratória


após acidente vascular encefálico

Intervention in respiratory function after stroke

Tiago Del Antonio1, Joyce Karla Machado da Silva2, Ana Carolina Ferreira Tsunoda3,
Amanda Santiago da Rocha4, Mayra Paula de Oliveira Lima4
1. Fisioterapeuta, Mestre em Saúde e Envelhe- Resumo
cimento pela Faculdade de Medicina de Ma-
Introdução: O Acidente Vascular Encefálico (AVE) causa alterações senso-
rília (FAMEMA), docente de fisioterapia pela
Universidade Estadual do Norte do Paraná riais, musculares e respiratórias, tais comprometimentos podem ser devido à fra-
(UENP), Jacarezinho, PR – Brasil. queza muscular e disfunções posturais do tronco. Objetivo: Averiguar se existe evi-
2. Fisioterapeuta, Mestre em Aquisição e De- dente melhora na mecânica respiratória e na função pulmonar em um paciente pós
sempenho de Habilidade Motora pela Univer-
AVE. Metodologia: A amostra constituiu-se de um voluntário, do sexo feminino,
sidade Estadual de Maringá (UEM)/Univer-
sidade Estadual de Londrina (UEL), docente pós AVE crônico, com espasticidade, hemiparesia e que possuía boa capacidade
de fisioterapia pela Universidade Estadual do cognitiva para compreensão. Foi realizada uma avaliação postural; força muscular
Paraná (UENP), Jacarezinho, PR – Brasil. diafragmática; cirtometria; Escala Modificada de Ashworth e manovacuometria. O
3. Fisioterapeuta, Mestrando em Saúde e Enve-
tratamento foi composto por 20 sessões, constituídas por exercícios de liberação dia-
lhecimento pela Faculdade de Medicina de
Marília (FAMEMA), Jacarezinho,PR – Brasil. fragmática, alongamento dos músculos respiratórios e fortalecimento diafragmático
4. Graduandas em Fisioterapia pela Universi- com a utilização do Threshold® a 30% da pressão inspiratória máxima. Resultados:
dade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Foram observados melhoras nas pressões inspiratórias e expiratórias máximas (PI-
Jacarezinho, PR – Brasil.
máx e PEmáx) na avaliação da manovacuometria, sendo Pimáx inicial de 15 e final
30 cmH20; e PEmáx inicial de 25 e final 35 cmH20. Na força muscular diafragmática
Endereço para correspondência: Tiago Del houve melhora da expansibilidade, tônus da musculatura respiratória no hemicorpo
Antonio – Fone: (43) 8424-0199 afetado e da força muscular da caixa torácica. Considerações Finais: Conclui-se
Email: tiagodantonio@uenp.edu.br
que o treinamento da força muscular respiratória com o dispositivo Threshold® em
Joyce – joy.mach@gmail.com
Ana Carolina – anacftsunoda@hotmail.com; pacientes pós-AVE favorece a melhora da mecânica respiratória.
Amanda – mandinhasrocha@hotmail.com
Mayra – mayra_lima_23@hotmail.com
Palavras-chave: acidente vascular encefálico, hemiparesia, espasticidade muscu-
lar, mecânica respiratória.

Recebido para publicação em 03/02/2015 e acei-


Abstract
to em 11/04/2015, após revisão. Introduction: The stroke causes sensory, muscular and respiratory changes,
such commitments may be due to muscle weakness and postural dysfunctions trunk.
Objective: To investigate whether there was improvement in respiratory function
and pulmonary function in a patient after stroke. Methodology: The sample consis-
ted of a volunteer, female, chronic post stroke with spasticity, hemiparesis and had
good cognitive capacity for understanding. Diaphragmatic muscle strength; cirto-
metry; Modified Ashworth Scale manometer and a postural assessment was per-
formed. Treatment consisted of 20 sessions, consisting of exercises diaphragmatic
release, lengthening of the respiratory muscles and diaphragm strengthening using
the Threshold® 30 % of maximal inspiratory pressure. Results: Were observed im-
provements in maximal inspiratory and expiratory pressures (PImáx and PEmáx) in
the manometer evaluation, being the initial PImáx of 15 and the end 30 cmH20, and
PEmáx in initial of 25 and the end 35 cmH20. In diaphragmatic muscle strength had
an improved, observing then, an improvement of expandability, the tone of respira-
tory muscles in the affected hemisphere and muscle strength of the chest. Conclu-
sion: It was concluded that training in respiratory muscle strength with Threshold®
device in post-stroke patients promotes improved respiratory mechanics.
Keywords: stroke, paresis, muscle spasticity, respiratory mechanics.

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Introdução tário foi realizado um convite formal e assinatura do paciente


O Acidente Vascular Encefálico (AVE) caracteriza-se do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os critérios
pelo déficit neurológico (transitório ou definitivo) em uma de inclusão foram: AVE crônico, espasticidade, hemiparesia,
área cerebral secundário a lesão vascular. O AVE hemor- boa capacidade cognitiva para compreensão e liberação mé-
rágico compreende o extravasamento de sangue na região dica através de um atestado. Foram excluídos os portadores
subaracnóide, tendo como principal doença associada a hi- de doença respiratória crônica, paralisia diafragmática e ou-
pertensão arterial sistêmica, já o AVE isquêmico descreve o tros comprometimentos neurológicos.
déficit neurológico resultante da insuficiência de suprimento O paciente selecionado foi do gênero feminino, com
sanguíneo cerebral, podendo ser temporário (episódio isquê- idade de 62 anos e sofreu um AVE-isquêmico a aproxima-
mico transitório) ou permanente, e tendo como principais fa- damente 30 anos, após gestação, apresentando espasticidade
tores de risco a hipertensão arterial sistêmica, as cardiopatias em hemicorpo esquerdo.
e o diabetes mellitus1. A avaliação inicial e reavaliações foram executadas
Dentre as sequelas após AVE, destaca-se a hemiparesia por um pesquisador com experiência não envolvido com a
do hemicorpo contralateral à lesão encefálica, que interferi execução do plano de intervenção fisioterapêutica, sendo
na capacidade funcional causando declínio da função respi- inicialmente realizado o teste Mini Exame do Estado Men-
ratória e consequentemente na qualidade de vida2. Contudo tal (MEEM) utilizado para avaliar a função cognitiva onde
tal lesão do neurônio motor superior, ocasiona um quadro verificou-se os domínios como: orientação espacial, tempo-
de disfunção motora que engloba posturas e padrões de mo- ral, memória imediata e de evocação, cálculo, linguagem-no-
vimentos atípicos, lentidão e coordenação pobre, fraqueza meação, repetição, compreensão, escrita e cópia de desenho.
muscular, aumento da resistência das articulações à movi- O restante da avaliação constituiu-se de identificação; anam-
mentação passiva e espasticidade3. nese; sinais vitais como pressão arterial sistêmica, frequên-
A presença da espasticidade associada à hemiparesia, cia cardíaca, frequência respiratória, temperatura corpórea;
leva a um padrão de assimetria postural, além de dificuldade avaliação postural com análise das vistas anterior, posterior
de um controle muscular isolado, fato que fará com que a e laterais direita e esquerda9; força muscular diafragmática6;
mecânica ventilatória sofra forte influência da hipertonia que cirtometria com análise axilar, mamilar e xifoidiana10; Es-
acompanha os indivíduos pós-AVE3. cala Modificada de Ashworth; e avaliação pulmonar sendo
Assim as complacências torácica e pulmonar encontram- seguimentada em ausculta pulmonar, tipo de tórax, padrão
-se diminuídas após o AVE, o que provoca uma restrição da respiratório e manovacuometria.
capacidade pulmonar total e da capacidade vital, resultando A intervenção foi composta por 20 sessões com período
em um distúrbio ventilatório restritivo, associado a este as- de 60 minutos cada, realizadas 3 vezes na semana. Foram re-
pecto o sistema muscular respiratório é capaz de gerar meno- alizados exercícios de liberação diafragmática, alongamento
res pressões respiratórias máximas3. passivo dos músculos acessórios da respiração (escalenos,
Um recurso utilizado para a quantificação da força mus- esternocleidomástoide, trapézios superiores, médios e infe-
cular é o manovacuômetro, que possui a finalidade de ava- riores, intercostais, peitoral maior e menor)11, e fortalecimen-
liar as pressões máximas inspiratória (Pimáx) e expiratória to diafragmático com a utilização do Threshold® IMT a 30%
(Pemáx)4, onde esses valores são dependentes não apenas da da pressão inspiratória máxima, avaliada pelo manovacuô-
força dos músculos respiratórios, mas também do volume metro segundo o estudo12.
pulmonar e da complacência do sistema respiratório5. Ao término da décima e vigésima sessões foram reali-
Para o treino da musculatura, o dispositivo mais usado é o zadas reavaliações idênticas à inicial averiguando se houve
Threshold® IMT, incentivador respiratório de carga pressórica efetividade no tratamento proposto e como parâmetro para
linear6, que oferece uma resistência à inspiração por meio de evolução do mesmo.
um sistema de mola com uma válvula unidirecional7. Com os dados coletados, estes foram organizados e ta-
O fortalecimento da musculatura respiratória tem como bulados em forma de tabelas e gráficos no programa Gra-
função habilitar músculos específicos a realizarem com phPad Prism®.
maior facilidade a função para qual são destinados, objeti-
vando tanto força muscular quanto endurance8. Resultados
Frente ao exposto, o presente estudo teve como objetivo O gráfico 1 representa as pressões máximas avaliadas
demonstrar a adequada atenção que deve ser dada à mecâ- respectivamente na primeira, segunda e terceiras avaliações
nica respiratória em um paciente pós-AVE averiguando se através da manovacuometria, sendo observado no eixo X os
existe evidente melhora em sua função pulmonar. valores das pressões máximas inspiratórias (PiMáx) e expi-
ratórias (PeMáx), e o eixo Y a unidade de medida do mano-
Metodologia vacuômetro em cm/H2O.
A presente pesquisa caracteriza-se por um estudo de Na avaliação inicial foi observada uma PiMáx de 15 cm/
caso que foi submetido à Plataforma Brasil conforme a re- H2O e uma PeMáx de 25 cm/H2O, após a décima sessão foi
solução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, onde sua realizado uma nova avaliação que teve como resultado PiMáx
amostra constituiu-se de um paciente com AVE crônico, que 25 cm/H2O e PeMáx 30 cm/H2O, ao término do tratamento
residia nas dependências do Asilo São Vicente de Paulo no proposto, na última avaliação observou-se um aumento nas
município de Jacarezinho-Paraná. Após a seleção do volun- pressões, sendo PiMáx 30cm/H2O e PeMáx 35cm/H2O. Por-

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Gráfico 1: Variação das pressões máximas durante as avalia- No processo inspiratório, os músculos respiratórios dos
ções com o manovacuômetro. indivíduos pós-AVE, além de precisarem vencer a resistên-
cia fisiológica dos pulmões e da caixa torácica, encontram
uma terceira resistência que necessita ser vencida para que
haja fluxo de ar no meio pulmonar, que seria decorrente a
espasticidade. No entanto, a hipertonia encontrada nos mús-
culos peitorais, somado à ineficiência dos músculos abdo-
minais contribuirá para que a caixa torácica seja mantida
em uma posição de elevação, fato que gerará resistência ao
movimento expiratório. Esse aumento da resistência imposta
aos músculos respiratórios, além de dificultar a mobilidade
tanto, foi possível observar uma crescente evolução no valores torácica exigirá um maior gasto energético, levando à fadiga
obtidos na PiMáx e PeMáx durante todas as avaliações. muscular. A afirmação se faz presente também no atual es-
Tabela 1: Análise da cirtometria nos níveis axilar, xifoidea- tudo, pois o paciente usado para amostra apresentou espasti-
na e mamilar. cidade grau 3 na escala de Ashworth e fadiga muscular res-
Axilar Xifoideana Mamilar
piratória durante todo o tempo de tratamento e avaliações15.
1ª Avaliação 3cm 7cm 4cm Indivíduos que sofreram AVE apresentam uma reduzida
2ª Avaliação 3cm 7cm 2cm capacidade aeróbica em relação a indivíduos saudáveis com
3ª Avaliação 3cm 7cm 2cm idade similar. A baixa resistência aeróbica observada nestes
indivíduos deve-se, provavelmente, a uma diminuição do
No que diz a respeito à análise de expansibilidade por recrutamento de unidades motoras durante uma atividade
meio da cirtometria, não houve alteração significativa desde dinâmica, redução da capacidade oxidativa dos músculos
a primeira avaliação. Como apresentado na tabela 1, a cir- paréticos e a uma diminuição global da resistência aeróbica.
tometria axilar teve como valor inicial e final 3 cm, a xifoi- Há um aumento do gasto energético durante a realização de
deana o valor permaneceu em 7 cm, e a mamilar o valor foi atividades de vida diária e exercícios submáximos. Pacientes
reduzido de 4 cm para 2 cm na avaliação final. hemiplégicos, particularmente aqueles com idade avançada,
Em relação ao teste de força muscular do diafragma são geralmente incapazes de manter a velocidade da marcha
e o teste de resistência abdominal, na primeira avaliação de maneira eficaz e confortável, indicando que a alta deman-
classificou-se como “regular”, mantendo-se estável durante da energética da marcha e a pobre resistência aeróbica com-
a segunda avaliação e evoluindo para “bom” na última men- prometem a mobilidade funcional16.
suração. Observa-se então, uma melhora da expansibilidade, Após um AVE, a capacidade de exercício pode estar
do tônus da musculatura respiratória no hemicorpo afetado e comprometida pela presença de comorbidades cardiovascu-
da força muscular da caixa torácica. lares em até 75% dos pacientes, sendo um problema clínico
Na escala Ashworth Modificada não foi averiguado dife- importante que afeta tanto a reabilitação como também os re-
rença, pois essa escala se refere mais diretamente ao tônus de sultados alcançados em longo prazo. Portanto, concomitante
membros. No entanto o tônus do participante se manteve no à reabilitação fisioterapêutica convencional, tendo em vista
grau 3 (aumento considerável no tônus muscular, com movi- a recuperação das sequelas motoras, deve ocorrer a reabili-
mento passivo difícil). tação cardiopulmonar e metabólica com ênfase no exercício
Na avaliação postural houve melhoras nas vistas ante- físico, visando tanto a recuperação funcional quanto o con-
rior, posterior e laterais, direita e esquerda, porém por se trole de fatores de risco17.
tratar de um método subjetivo de avaliação, não há meios Pessoas após AVE que apresentam maior capacidade
de quantificar. aeróbica provavelmente apresentarão menor cansaço após o
exercício, assim sendo, quanto maior a capacidade aeróbica,
Discussão mais rápida a recuperação após o exercício18.
O processo hemiplégico ou hemiparético instalado de- A alta demanda energética da marcha é relevante em he-
corrente a um AVE predispõe à perda de controle de tronco, miplégicos idosos nos quais o avanço da idade e os déficits
associada a esse evento há uma perda de força e tônus dos neurológicos residuais contribuem para um estilo de vida
músculos abdominais, assim tal comprometimento exacerba sedentário, declínio do condicionamento cardiovascular, fra-
uma instabilidade proximal, que juntamente com a espastici- queza e atrofia muscular por desuso. Sendo assim, ressalta-
dade distal incapacita a movimentação funcional apendicu- -se a importância do treino da musculatura respiratória para
lar, podendo assim afetar diretamente a função pulmonar13. um aumento do aporte sanguíneo devidamente oxigenado
Uma característica comum entre os indivíduos acometi- para a musculatura afetada16. Dessa forma, o treino realizado
dos por um AVE é a presença de fatores de risco, tais como com o Threshold® no atual estudo, possibilita uma melhora
sedentarismo, hipertensão arterial sistêmica (HAS), obesida- na mecânica pulmonar e consequentemente nas atividades
de, tabagismo e diestresse, os quais podem ser modificados funcionais, proporcionando assim, uma maior resistência à
por meio da intervenção sobre o estilo de vida. Tais fatores, fadiga muscular.
se não tratados, mantêm elevado o risco da reincidência do Nos achados de Ruivo et al19, houve uma diminuição
AVE nessa população14. da expansibilidade torácica quando comparados indivíduos

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jovens adultos com idosos. Afirmava ainda que a mesma au- piratório em um paciente com traumatismo raquimedular
menta dos 11 aos 34 anos e a partir de então, começa a ocor- (TRM), o método consistiu em realizar o treinamento mus-
rer uma lenta decadência no diâmetro torácico (de até 2,5 cular inspiratório através do Threshold®, realizando 14 ses-
cm) em indivíduos maiores de 74 anos. Esse estudo justifica sões e sendo realizado uma avaliação no 1º, no 7º e no 14º
o fato de nas avaliações de expansibilidade torácica através dia com o manuvacuômetro. Os resultados obtidos através
da cirtometria, não ter sido obtido resultado. do treinamento com o Threshold® foram eficazes já que a
É importante ressaltar que foi utilizado para a atual pes- PImáx e PEmáx melhoraram significativamente, mostrando
quisa o manovacuômetro analógico com adaptador bocal se- a eficiência e benefício desse programa de reabilitação, onde
mirrígido achatado acoplado internamente aos lábios, com o proporcionou força e resistência da musculatura respiratória.
que observa-se um considerável escape de ar ao redor do bo- Resultados estes também encontrados no presente estudo,
cal. Um problema também encontrado nos estudos de Fiore porém realizado com um idoso acometido por AVE com pre-
et al.20, e Carreres et al.21, especialmente quando foram ava- sença de espasticidade.
liados pacientes com patologias neuromusculares ou com al- Fernandes27, apontou que um grupo de pacientes com
terações dentárias que afetavam a oclusão labial. A paciente AVE apresentou um aumento das pressões respiratórias máxi-
em estudo além de apresentar uma patologia neuromuscular, mas em cinco dias no treinamento de força muscular respira-
faz uso de prótese dentária, o que pode ter contribuído para tória com ThresholdPEP®. Os resultados obtidos nesse estudo
o escape de ar. comprovam que o treinamento muscular respiratório se mos-
Alguns estudos que avaliaram a PImáx em pacientes tra eficaz nos valores de PImáx e PEmáx, onde em 10 sessões
com sequelas de AVE encontraram uma redução da força o paciente apresentou um aumento na avaliação do manova-
muscular inspiratória quando relacionado ao grupo de con- cuômetro de 10 cmH20 na PImáx e de 5 cmH2O na PEmáx.
trole com indivíduos normais22-23. Para Azeredo24 a PImáx Em um estudo realizado por Moreno et al, 200728 fo-
tem seu valor normal compreendido, em um adulto jovem, ram avaliados homens jovens sedentários e os efeitos de um
na faixa de - 90 a - 120cmH2O, enquanto que a PEmáx tem programa de alongamento muscular pelo método de Reedu-
seu valor normal na faixa de + 100 a + 150cmH2O . Sabe- cação Postural Global sobre a força muscular respiratória e
-se que a partir dos 20 anos de idade ocorre um decréscimo a mobilidade tóraco-abdominal. Os resultados evidenciaram
anual de 0,5cmH2O nestes valores. O que justifica os valores um aumento significativo da força muscular respiratória e
diminuídos inicialmente daPImáx e PEmáx no atual estudo, mobilidade tóraco-abdominal no grupo estudo quando com-
considerando que o participante é um idoso de 70 anos e que parado ao grupo controle. Isso mostra que o comprimento
já possui perda da capacidade pulmonar pela própria senes- muscular adequado possibilita aos músculos respiratórios
cência, além de uma espasticidade em consequência do AVE. exercerem uma capacidade contrátil mais eficaz, promoven-
O mesmo autor afirma que para a caracterização da fra- do assim melhora da mecânica respiratória. Este estudo jus-
queza muscular respiratória, a PImáx deve estar entre - 70 tifica o fato de serem usados alongamentos da musculatura
a - 45cmH2O, para fadiga os valores devem estar entre - 40 acessória para auxiliar no ganho de força muscular respira-
a - 25cmH2O, e para falência é necessário que os valores tória no atual estudo.
estejam menores do que - 20cmH2O. No presente estudo,
o paciente, inicialmente, se encontrava na fase de falência Conclusão
muscular (PImáx = 15cmH2O), e após o tratamento este en- Conclui-se com este estudo que pacientes pós AVE pos-
contra-se na fase de fadiga muscular (PImáx = 30cmH2O)24. suem uma debilidade na mecânica respiratória que pode
Em estudo de Tseng et al18 foi analisado que a fadiga ser melhorada com um treino da força muscular respirató-
encontra-se presente em 76% dos indivíduos que tiveram um ria através do Threshold®, alongamentos da musculatura
AVE no período igual ou superior a 2 anos, tal estado acarre- acessória e liberação diafragmática. Além disso durante a
ta alterações biomêcanica, psicológicas e comportamentais, intervenção o paciente não apresentou quadro de gripe e ne-
afetando assim a qualidade de vida e predispondo à poten- nhuma doença pulmonar, o que prova então uma melhora na
cias riscos de acidentes. Tal processo de fadiga pode estar mecânica respiratória tóraco-abdominal e consequentemente
ligado aos mínimos esforços como exercício, atividades do- na função pulmonar. Contudo, a técnica de mensuração das
mésticas, atividades sociais, podendo assim afetar a prática pressões respiratórias máximas nesse idoso mostrou-se pou-
e respostas às terapias funcionais aplicadas nestes pacientes. co confiável, sobretudo em relação ao adaptador bocal que
Para comprovar os benefícios do Threshold® Cardoso & permitiu o escape aéreo.
Lima25, avaliaram a força muscular respiratória comparando Notou-se também uma melhora postural, porém não foi
duas diferentes intervenções. Um grupo recebeu tratamento utilizado nenhum método de avaliação para esse item. Suge-
com Threshold® com carga de 40% da PImáx e outro grupo re-se então para os próximos estudos, amostras maiores e ho-
foi tratado com respiração diafragmática. Após as interven- mogêneas, além de aplicação de testes de qualidade de vida,
ções o grupo Threshold® apresentou melhora significativa avaliação postural por meio de um software específico, e
nas pressões respiratórias máximas em relação ao grupo tra- testes de funcionalidade para verificar se a mecânica respira-
tado com respiração diafragmática. tória pode interferir nas atividades de vida diária. Além disso
Os mesmos benefícios podem ser observados no estudo deve ser dado a adequada atenção à mecânica respiratória
de Mendes26, onde foi realizado treinamento muscular ins- dos pacientes pós AVE, nas sessões diárias de fisioterapia.

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todológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposi- palavras, seguido da versão em inglês.
ção, assim como a qualidade literária do texto. O conteúdo do resumo deve conter, de forma estruturada, introdução,
Revisão: São trabalhos que versem sobre algumas das áreas relacionadas métodos, resultados e conclusões.
à Fisioterapia, que tem por objetivo resumir, analisar, avaliar ou sintetizar Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para faci-
trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos litar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na
limites do trabalho aconselha-se o mesmo dos artigos originais. lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da
Atualização ou divulgação: São trabalhos que relatam informações ge- Saúde, que se encontra no endereço da internet seguinte: http://decs.bcvs.br.
ralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia, Na medida do possível, é melhor usar os descritivos existentes.
(novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas
de um artigo de revisão. Referências
Relato de caso: São artigos de dados descritivos de um ou mais casos ex- As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido
plorando um método ou problemas através de exemplo. Devem conter um nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser nume-
máximo de 5 páginas, 5 ilustrações, 5 autores e 15 referências. A formatação radas por numerais arábicos sobrescrito e relacionadas em ordem na qual
deve seguir o estilo artigo original. O resumo e, portanto o abstract, não aparecem no texto, seguindo as seguintes normas.
deve ultrapassar 150 palavras.
Artigos
Cartas à redação e outras contribuições Número de ordem, sobrenome(s) do autor(es), letras iniciais de seus
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, comentários a traba- nomes (sem pontos nem espaços), ponto. Título do trabalho, ponto. Título
lho já editados na revista a critério do Conselho Editorial. da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume
Texto: Recomendamos que não seja superior a três paginas, formato A4, seguido de dois pontos, paginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúscu-
fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações las ou itálicas. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas, no formato Excel e figuras lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde
digitalizadas (formato .tif ou .jpg) ou que possam ser editados em Power- (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando
-Point, Excel, etc. mais de 6, colocar a abreviação latina et al.
Referências: São aconselháveis no máximo 20 referências bibliográficas.
Resumos: Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e ar- Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para:
tigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do gusmaomachado@yahoo.com.br
Conselho Editorial, inclusive de trabalhos de outros idiomas. Stevenson Gusmão – Editora Ser

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