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O lugar do social na obra de

Jean Piaget: contribuições para o


estudo do desenvolvimento
cognitivo da criança
The role of the social in Jean Piaget’s work: contributions to
the study of children’s cognitive development

Flávia Eloisa Caimi*

Resumo

Reconhecendo em Jean Piaget um de sociedade e totalidade social; rela-


dos mais importantes pensadores do ções entre conhecimento individual e
século XX e, na sua obra, uma das interação social; o progresso lógico e
maiores contribuições para se com- a socialização da criança; o papel da
preender os processos de aquisição de linguagem no desenvolvimento cogni-
conhecimento, o estudo apresentado tivo infantil; possibilidades e limita-
tem o propósito de perscrutar como ções da ação do professor na aprendi-
este autor concebe as relações entre zagem da criança.
indivíduo e sociedade no processo de
desenvolvimento cognitivo. Não obs- Palavras-chave: Criança. Aprendiza-
tante o fato de Piaget não ter tomado gem. Desenvolvimento cognitivo. Re-
os aspectos sociais como fulcro de suas lações sociais.
atenções no estudo da aprendizagem e
do desenvolvimento infantil, o essen-
cial da sua teoria aponta as relações
sociais como elementos inerentes aos
processos de aprendizagem escolar e
tela de fundo sobre a qual se realiza
a construção do conhecimento. Dian-
te de tal problemática, o estudo está
organizado em seis breves seções, tra- * Professora do curso de História e da Faculdade de Edu-
tando-se nelas dos seguintes temas: cação da Universidade de Passo Fundo. Doutoranda em
Educação no Programa de Pós-Graduação da Universi-
os interlocutores privilegiados de Pia- dade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da
get no campo da sociologia; conceitos Profª Dra. Margarete Axt.

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Nos últimos anos, as discussões mento teórico de Piaget para Vygotsky
em torno de teorias cognitivistas e ocorrido no Brasil em meados do de-
construtivistas de aprendizagem têm cênio de 1970, Freitas registra outro
conquistado muitos espaços institu- depoimento em que a entrevistada
cionais, tanto no âmbito das políticas manifesta:
educacionais públicas quanto nas uni- O primeiro contato que eu tive com
versidades e escolas. Observa-se que o Vygotsky foi em 76. Eu estava nos
tais teorias situam-se muito mais no Estados Unidos, fazendo mestrado, e
ideário educacional, não raras vezes um dos professores discutia a questão
com a recepção tão-somente de frag- Piaget X Vygotsky, justamente por que
trabalhava com a linguagem. Na épo-
mentos oriundos de leituras superfi- ca predominava Piaget. Estava sendo
ciais, do que nas práticas escolares, completamente disseminado, tomava
embora muitas experiências, bem-su- conta do mercado. Só se falava em Pia-
cedidas ou não, estejam em curso em get e em construtivismo nos critérios
centenas de escolas brasileiras. de avaliação piagetiana, quer dizer, o
No contexto de tais discussões pressuposto epistemológico, a metodo-
logia de pesquisa e os procedimentos
e práticas, temos lido e ouvido duas de pesquisa sendo já transformados em
posições que consideramos precipita- procedimentos pedagógicos. O casal de
das, senão inadequadas, sobre a obra professores, os Goodman, colocava a
de Jean Piaget. A primeira delas diz perspectiva de Vygotsky em contrapo-
respeito à idéia de que o tempo de sição à perspectiva do Piaget, por cau-
Piaget no Brasil já se esgotou e que, sa das raízes genéticas do pensamento
[V] (1999, p. 56).
então, estaria “fora de moda” tomar
sua obra como referência de estudo. O trabalho de Freitas apresen-
Segundo essa concepção, o auge da ta muitos outros posicionamentos
recepção de Piaget no Brasil estaria de professores e pesquisadores que
associado a um período histórico espe- confirmam esse deslocamento de po-
cífico, as décadas de 1950-1970, quan- sições piagetianas para concepções
do as condições políticas permitiam a vygotskyanas.1 Por ora, limitamo-
interlocução com um autor que seria, nos a apresentar tais posições sem
em alguma medida, compatível com o tematizá-las e passamos à segunda
tecnicismo. indicação recorrente sobre a obra pia-
Um depoimento tomado por Frei- getiana. Trata-se da idéia genérica de
tas (1999, p. 33) expressa bem essa que a obra de Piaget tem fundamentos
posição: “Na década de 70, Piaget não aprioristas, desconsiderando comple-
ameaçava as estruturas de poder po- tamente a influência das experiências
lítico. Não discutia as contradições de sociais e da cultura sobre o desenvol-
classe. Então, não tinha por que proi- vimento cognitivo humano. Castorina
bir Piaget, pois ele não oferecia amea­ (1995, p. 12) apresenta sucintamente
ça para o sistema” (F). Na mesma essa posição nos seguintes termos:
linha, tentando demonstrar o desloca- “Em linhas gerais, a teoria piagetiana

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é apresentada como uma versão do de- O tom dos argumentos que adota-
senvolvimento cognitivo nos termos de remos não se aproxima de uma defesa
um processo de construção de estrutu- acalorada ou de uma negação radical
ras lógicas, explicada por mecanismos das suas posições, mas da intenção de
endógenos, e para a qual a intervenção sistematizar aspectos que permitam
social externa só pode ser ‘facilitadora’ identificar como Piaget entende as re-
ou ‘obstaculizadora’.” lações entre indivíduo e sociedade no
A ênfase nessa concepção de um processo de desenvolvimento cogniti-
Piaget “apriorista” fundamenta-se, vo. Para além dos modismos teóricos,
em larga medida, na sua contraposi- para além das defesas apaixonadas,
ção epistemológica, ou seja, na idéia para além dos enquadramentos con-
de que a teoria de Vygotsky, sendo ceituais, entendemos que é preciso
uma teoria histórico-cultural – e não dar voz ao autor para que ele próprio
genética – do desenvolvimento, propõe explicite seu pensamento.
que as funções psíquicas superiores
Com o propósito assim esboçado,
(memória, atenção, representação,
organizamos o texto em seis seções, que
conceitualização) são internalizadas
tratam dos seguintes temas: os interlo-
pela mediação da cultura, priorizando,
cutores privilegiados de Piaget no cam-
assim, os aspectos sociais. Nesse sen-
po da sociologia; conceitos de “socieda-
tido, perguntamos se caberia atribuir
a Vygotsky o rótulo de “empirista”, já de” e “totalidade social”; relações entre
que concede à experiência um papel conhecimento individual e interação
tão preponderante no processo cogni- social; o progresso lógico e a socializa-
tivo? Ou, ainda, se é legítimo “enqua- ção da criança; o papel da linguagem
drar” uma obra tão vasta, complexa e, no desenvolvimento cognitivo infantil;
em muitos sentidos, inacabada como é possibilidades e limitações da ação do
a de Piaget num único conceito? professor na aprendizagem da criança.
Tomando essas questões como
problemática geral, nosso propósito
neste estudo é focalizar alguns aspec- Os interlocutores
tos que possam indicar o lugar que privilegiados de Piaget no
Piaget atribui ao social na sua obra,
tomando especialmente duas publica-
campo da sociologia
ções em que essa temática se coloca
No prefácio dos Estudos sociológi-
como preocupação de pesquisa: O juí­
cos (1973) Piaget declara a necessida-
zo moral na criança (1994), publica-
de de se estabelecer uma interlocução
do originalmente em 1932, e Estudos
estreita entre a sociologia e a psico-
sociológicos (1973), cujos escritos ori-
ginais datam da década de 1940. No logia, problematizando os limites im-
percurso do texto, dialogaremos tam- postos pela ausência de diálogo entre
bém com intérpretes e pesquisadores- as disciplinas. Diz o autor:
interlocutores próximos de Piaget.

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O grande problema das ciências huma- idêntico à soma dos indivíduos que o
nas, sendo comparadas às ciências exa- compõem, pois esse todo exerce sobre
tas e naturais, é a pobreza das relações
as consciências coações que as modi-
interdisciplinares. É impossível, por
exemplo, trabalhar hoje na biologia, se- ficam” (1973, p. 166). Dessa posição,
riamente, sem uma cultura suficiente, Piaget distingue três interpretações:
não apenas de química e de física (da
microfísica quântica à termodinâmica), a) individualismo atomístico: o todo
mas também de cibernética (informação é mero resultado de atividades
e regulação) e na teoria das estruturas individuais;
algébricas gerais. Nada impede de fato, b) realismo totalitário: o todo é um
em compensação, o que é lamentável,
a um lingüista de ignorar a economia
ser que coage, impõe sua lógica e
e reciprocamente, ou mesmo a um so- mantém-se heterogêneo às cons-
ciólogo de ignorar a psicologia experi- ciências individuais;
mental e a psicologia genética, sendo c) ponto de vista das interações: o
a psicologia genética tanto sociológica
quanto psicológica (p. 11).
todo é idêntico à soma das rela-
ções entre os indivíduos.
Ao argumentar sobre a importân-
Piaget parte da terceira premis-
cia da sociologia para a epistemologia,
sa argumentando que, nesse caso, “o
Piaget enfatiza a idéia do conhecimen-
fato primitivo não é nem o indivíduo,
to humano como essencialmente cole-
nem o conjunto dos indivíduos, mas a
tivo, sendo a vida social fator essencial
relação entre indivíduos, e uma rela-
na formação e no desenvolvimento dos
conhecimentos pré-científicos e cientí- ção modificando ininterruptamente
ficos (1973, p. 17). as consciências individuais” (1973,
Durkheim é um dos principais in- p. 167).
terlocutores, no campo da sociologia, Em Pareto Piaget distingue um
com quem Piaget dialoga exaustiva- outro exemplo de explicação sociológi-
mente sobre as interações indivíduo- ca, cuja tendência é considerar como
sociedade, quase sempre refutando as inato no indivíduo o que poderia ser
posições deste autor. Para Durkheim entendido como resultado das intera-
o pensamento individual é formado ções. Para o autor, o equilíbrio social
pelo grupo, por meio da linguagem e é fruto de um equilíbrio de forças re-
das coações de gerações anteriores, as duzidas a tendências instintivas que
quais são transmitidas pela via exter- se manifestam nas consciências dos
na da educação. Conceitos, categorias indivíduos, de modo que as normas
do espírito e regras de pensamento são jurídicas e morais não desempenham
representações coletivas herdadas pe- papel essencial no equilíbrio social
los indivíduos. Existe uma consciência (1973, p. 55).
coletiva a priori, que é superior e ante- É no modelo explicativo de Marx
rior às consciências individuais. que Piaget situa a perspectiva exem-
Baseado em Comte, Durkheim plar de uma análise dirigida às intera-
afirma que “um todo coletivo não é ções, porquanto o ponto de partida da

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explicação é causal: “São os fatores de psicologia. Ainda dialogando com a
produção enquanto interação estreita sociologia da sua época, Piaget afirma
entre o trabalho humano e a natureza, que é por meio da noção de totalidade
que determinam as primeiras formas que os sociólogos durkheimianos ten-
do grupo social” (p. 55). Todavia, nesse taram suprimir os vínculos entre so-
ponto de partida também aparece um ciologia e psicologia. Para Durkheim,
elemento de implicação, já que vin- uma sociedade é um todo irredutível à
culados ao trabalho emergem valores soma das suas partes, do que decorre a
elementares, sendo o sistema de valo- idéia de que “as representações coleti-
res um sistema implicativo (p. 56). vas são irredutíveis às representações
Essa aproximação de Piaget com individuais, das quais constituem a
pontos centrais do marxismo, tais síntese” (1973, p. 23). Piaget tenta ar-
como a organização social, a dialética gumentar que a noção de totalidade é
trabalho/natureza ou a análise ideo- comum à psicologia e à sociologia e vai
lógica para compreender a ciência, além, demonstrando o interesse que o
deve muito à influência de Lucien conhecimento sociológico e o conheci-
Goldmann. Castorina esclarece que, mento psicológico representam para a
“nas primeiras obras de Piaget, as re- epistemologia genética, como se pode
lações entre indivíduo e sociedade se verificar em suas próprias palavras:
conformam por interações que variam A epistemologia genética, que estuda
de uma sociedade tradicional a uma o desenvolvimento dos conhecimentos
sociedade moderna, da pressão social sob o duplo aspecto de sua formação
à cooperação. A atividade intelectual psicológica e de sua evolução histórica,
estava associada inevitavelmente a depende tanto da sociologia quanto da
psicologia, a sociogênese dos diversos
um tipo de interação” (2002, p. 40). modos de conhecimento não se reve-
Nesse momento da obra piagetiana, lando nem mais, nem menos impor-
afirma Castorina, as ideologias ainda tante que sua psicogênese, pois estes
não desempenhavam papel relevante são dois aspectos indissolúveis de toda
no conhecimento do mundo, o que co- formação real. Sob esse ponto de vista,
meçaria a mudar com a influência do duas questões devem ser especialmen-
te discutidas, posto que de sua solução
marxismo no final da década de 1940. depende em definitivo toda a episte-
mologia genética: a da relações entre a
sociogênese e a psicogênese na forma-
Conceitos de sociedade e ção das noções na criança no processo
totalidade social de socialização e a das mesmas noções
na elaboração das noções científicas e
filosóficas que se sucederam na histó-
É nos Estudos sociológicos (1973)
ria (1973, p. 25).
que podemos encontrar sistematiza-
ções mais elaboradas acerca dos con- Piaget procura demonstrar es-
ceitos de sociedade e totalidade social, sas relações por meio do conceito de
especialmente na interface sociologia/ “construção operatória”. Assim, uma

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“mutação intelectual” não ocorre pela sociedade no seu duplo aspecto: indi-
substituição de uma idéia antiga por vidual e interindividual. Piaget supõe,
uma idéia nova, tampouco se explica então, dois tipos indissociáveis de in-
somente pela maturação nervosa ou terações: “A interação entre o sujeito e
pelas transmissões sociais. Segundo os objetos e a interação entre o sujeito
Piaget, “há uma construção operató- e os outros sujeitos. É assim que a re-
ria que traduz em estruturas mentais lação entre o sujeito e o objeto material
as potencialidades oferecidas pelo modifica o sujeito e o objeto ao mesmo
sistema nervoso, mas ela só efetua tempo pela assimilação deste àquele e
esta tradução em função de interações pela acomodação do sujeito ao objeto”
entre os indivíduos e, por conseguinte (1973, p. 35).
sob a influência aceleradora ou inibi- Cada interação modifica os sujei-
dora dos diferentes modos reais des- tos na relação com os objetos e modi-
sas interações sociais” (1973, p. 28). fica também os sujeitos individuais na
Para Piaget, o “maior defeito” relação de uns com os outros. Piaget
da maioria das explicações socioló- vê continuidade na relação entre dois
gicas foi a pretensão de constituir de indivíduos e o conjunto das relações
antemão uma sociologia da consciên- entre indivíduos de uma mesma socie-
cia, quando na vida social e na vida dade, do que conclui que “a totalidade
individual o pensamento procede da assim constituída aparece como consis-
ação. Nesse sentido, uma sociedade tindo não de uma soma de indivíduos,
“é essencialmente um sistema de ati- nem de uma realidade superposta aos
vidades, cujas interações elementa- indivíduos, mas de um sistema de in-
res consistem, no próprio sentido, em terações modificando estes últimos em
ações se modificando umas às outras, sua estrutura própria” (1973, p. 35).
segundo certas leis de organização ou
equilíbrio” (1973, p. 34). Tais leis se-
riam ações técnicas, econômicas, mo-
Relações entre
rais e jurídicas, manifestas sob todos conhecimento individual e
os matizes: coação, colaboração, críti- interação social
ca mútua, correspondência das opera-
ções etc. Piaget entende, assim, que é Nesta seção procuraremos proble­
dessas interações no comportamento matizar a questão do conhecimento in­
que devem proceder as explicações dividual e da interação social retornan­
das representações coletivas, como in- do à polêmica Piaget-Vygotsky, partindo
terações que modificam a consciência das preocupações de pesquisa e das in-
dos indivíduos. terrogações que os autores se colocaram
Desse ponto de vista, a explicação em sua época e que os levaram a cami-
sociológica e a explicação psicológica nhos e respostas diferentes para expli-
contribuem, ambas, para o esclare- car o desenvolvimento cognitivo.
cimento das condutas do homem em

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Tomemos novamente um depoi- cultura na qual vivem as crianças, não
mento apresentado por Freitas (1999, são meros ‘facilitadores’ da atividade
p. 101), que expressa a dúvida da entre- psicológica, mas seus formadores” (p.
vistada sobre as possibilidades metodo- 15). Desenvolvendo conceitos centrais
lógicas dos percursos dos dois autores: como interpsicológico, intrapsicológico,
Às vezes fico pensando se existe de fato mediação cultural, zona de desenvol-
uma grande diferença entre um bom vimento proximal, sistema de signos,
professor piagetiano e um bom pro- dentre outros, Vygotsky aproximou-se
fessor vygotskyano. Isto no sentido de da atividade escolar institucionalizada
que quando você desequilibra o aluno, para compreender “como os indivíduos
será que não está trabalhando na zona
de desenvolvimento proximal? Eu fico
pertencentes a uma determinada cul-
meio embasbacada na prática, porque tura chegam a controlar o sistema de
na teoria são muito claras as diferen- signos correspondentes e como estes
ças: o próprio vetor do desenvolvi- chegam a ser internalizados” (p. 16).
mento é distinto, um vai do individual No que se refere ao programa de
para o social enquanto o outro vai do pesquisa de Piaget, as interrogações
social para o individual. O movimento
é diferente. Mas na prática as coisas
são de outra natureza, ligadas fun-
não se mostram tão diferentes (S). damentalmente a questões epistemo-
lógicas. Segundo Castorina (1995), a
Há aqui uma premissa irrefutá- pergunta central de Piaget teria sido
vel que pode ser tomada como ponto “como se passa de um estado de me-
de partida, qual seja, a de que o enfo- nor conhecimento para outro de maior
que construtivista de interpretação do conhecimento” (p. 16). Tanto a pers-
desenvolvimento cognitivo constitui o pectiva epistemológica quanto a psico-
esforço de superar o dualismo entre o gênese seriam instrumentos adotados
sujeito e o objeto de conhecimento. Na por Piaget para compreender esse
seção anterior fica claro que Piaget processo de passagem dos estados de
não reconhece a primazia em nenhum conhecimento. Uma hipótese central
dos pólos nessa relação. É relevante, orientou todo o programa piagetiano,
então, recolocar as perguntas que con- qual seja, o mecanismo de equilibra-
duziram Piaget e Vygotsky aos seus ção entre a assimilação e a acomoda-
caminhos de pesquisa. ção é o elemento explicativo do modo
Castorina (1995) entende que o como sujeito e objeto interagem.
projeto fundamental de Vygotsky era Girod (1970, p. 297) define o pro-
“obter uma explicação sócio-histórica grama de Piaget como sendo uma so-
da constituição das funções psíquicas ciologia aberta que procura relacionar
superiores a partir das inferiores” (p. observações concretas e teoria geral,
14). Apoiado por um referencial mar- tomando como pressuposto a interde-
xista, Vygotsky defende a tese de que pendência dos seres vivos com o meio.
“os sistemas de signos produzidos na Nesse sentido, esclarece:

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El pensamiento y todas las demás ca- É preciso reconhecer, pois, que
tegorías de actividades humanas son o percurso epistemológico trilhado
formas superiores de vida, que también pelo pensamento piagetiano não le-
puedan analizarse de la perspectiva del
intercambio con el medio: las conductas
vou a respostas definitivas sobre as
se adaptan a las estructuras y a los di- influências do contexto social ou das
namismos del medio; pero, a la inversa, representações sociais na construção
el medio no es para el sujeto un dato das idéias sociais da criança. Casto-
en bruto. Por el contrario, el medio e or- rina defende como alternativa válida,
ganizado por el sujeto en un campo de nesse sentido, continuar a “estudar as
representaciones y en un terreno de ac-
ción práctica. Este doble trabajo, el del
restrições sociais operantes no interior
medio sobre el hombre y el del hombre de diversos contextos da construção de
sobre el medio, constituye el principal conhecimentos” (2002, p. 46).
objeto de la obra de Jean Piaget. Em Barrelet e Perret-Clermont
Não obstante o reconhecimento (s.d.), no artigo escrito por John
de que os fatos sociais e os componen- Rijsman, podemos encontrar referên-
tes da cultura influenciam o processo cias a esse tema no conceito de “cons-
de desenvolvimento individual, Piaget trutivismo social”. Trata-se da idéia de
não examinou esses elementos na sua que o “o conhecimento é mais fruto de
análise da formação das idéias indi- uma coordenação social do que a capa-
viduais acerca do mundo. No que se cidade de um sujeito isolado, passivo
refere ao estudo do juízo moral, por ou ativo” (p. 205). O autor entende
exemplo, Piaget não considerou que que a obra de Piaget caminhava rumo
as diversas condutas morais presen- a um socioconstrutivismo nos últimos
tes na sociedade poderiam influenciar anos, especialmente pelas investiga-
nas escolhas de valores e conteúdos ções de alguns de seus “filhos inte-
morais dos argumentos das crianças lectuais”.2 Tais estudos partiram das
ao posicionar-se sobre os problemas experiências bem conhecidas de Pia-
de natureza moral trazidos pelos pes- get sobre a noção de conservação, bus-
quisadores. Castorina evidencia que cando compreender a dimensão social
os intérpretes de Piaget mencionam própria do sujeito epistêmico. Rijsman
sobre a idéia de que “não se assimi- aponta que “aí está um sinal do novo
lam objetos puros”, de que “as repre- Zeitgeist em que Piaget ia concluir a
sentações prévias provenientes das sua carreira [...]: uma visão principal-
práticas sociais predeterminam o que mente social (e não individual) do de-
é digno ou não de ser conhecido pelos senvolvimento do conhecimento e do
indivíduos [...].” No entanto, tais con- pensamento do homem” (p. 205).
siderações “não foram empregadas Rijsman esclarece, ainda, que o
explicitamente na interpretação dos construtivismo social baseia-se num
dados empíricos pelos investigadores axioma diferente da psicologia social,
que sofreram influência da tradição que reconhece a relação entre o su-
piagetiana” (2002, p. 42). jeito epistêmico e o mundo social no

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sentido de um paralelismo e não no que não são redutíveis a processos de
papel principal. O construtivismo so- imitação; a interação social não produz
cial, por sua vez, baseia-se num axio- efeitos cognitivos ex nihilo, mas no seio
da dinâmica cognitiva existente; [...] o
ma social, conforme Rijsman: “Este reconhecimento social, em particular
fenômeno a que chamamos ‘sentido’ na escola, das condutas cognitivas, põe
ou ‘significado’ emerge apenas quan- em questão as identidades (PERRET-
do dois sujeitos (ou mais) trocam sig- CLERMONT, [s. d.], p. 3).
nos e coordenam assim as suas ativi- Na mesma época, décadas de 1970
dades. O significado resultante atri- e 1980, um trabalho em colaboração
buído ao objecto é a expressão dessa com a Seção de Ciências da Educação da
coordenação social, e não qualquer Universidade de Genebra aproximou
coisa de antecedente, uma espécie de a psicopedagoga Maria Luiza Schu-
mensagem preexistente emitida pela bauer-Leoni e a socióloga Nancy Bell
natureza” (p. 207). das pesquisas em psicologia cognitiva,
Perret-Clemont talvez seja a pes- com o propósito de analisar os processos
quisadora mais autorizada a realizar sociocognitivos e as interações sociais
uma análise crítica sobre a relação em contextos escolares. Foi necessário,
social/individual no desenvolvimento assim, “constituir um novo domínio de
cognitivo, uma vez que acompanhou estudo, o das problemáticas próprias
pesquisas dessa natureza por mais à atividade de transmissão e de apro-
de vinte anos em Genebra. A autora priação de conhecimentos nos espaços
afirma que Piaget tentara resolver as institucionais (na escola em particular)
oposições individual versus social ao que têm uma influência sobre a defini-
considerá-los como “duas faces de uma ção das relações interpessoais, da re-
mesma realidade”. Todavia, entende lação com o saber e dos conteúdos dos
que “suas proposições sobre a vida discursos” [s. d.], (p. 4).
social como coordenação de operações Deslocando-se da primeira gera-
individuais não eram suficientes para ção de pesquisa centrada na conduta
esclarecer nem a dinâmica de cada cognitiva do indivíduo, que levava em
uma dessas faces nem suas interde- conta os fatores sociais apenas como
pendências e articulações” (p. 2).3 variáveis independentes controláveis,
O enfoque principal das pesquisas as pesquisas avançam para a “intera-
de Perret-Clermont em Genebra foi a ção sociocognitiva”. Perret-Clermont
articulação entre processos cognitivos esclarece que os fatores sociais passam,
e sociais, com a testagem de novas hi- então, a ser “considerados no interior
póteses naquele cenário, quais sejam: mesmo dos processos pelos quais as
A interação social como fonte de progres- pessoas dão sentido ao seu encontro,
sos cognitivos mesmo quando os parcei- suas questões e suas respostas” [s. d.],
ros são de níveis menos avançados; a
(p. 5). Compreendendo que um proble-
aprendizagem por confrontação conduz
a respostas novas e a generalizações ma cognitivo não é somente um caso

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de lógica, as pesquisas passam a consi- buscando responder, por um lado, a
derar que as identidades, os jogos e as como se constrói a lógica no centro das
experiências sociocognitivas anteriores atividades próprias do indivíduo e, por
dos sujeitos não são apêndices, mas outro, a como se constroem as relações
parte integrante desse processo. Em de ordem intelectual com os outros in-
sala de aula, especialmente, fatores divíduos no processo de socialização.
como o diálogo entre professor e alu- Para tanto, analisa os fatores indivi-
no, as normas culturais dos grupos, as duais (indivíduo como sistema fecha-
trocas significativas de olhares levam do, nas relações com o meio físico) e
a crer que “as respostas se apresentam os fatores interindividuais (indivíduo
como passagem negociada do encontro como sistema aberto nas relações com
entre dois pontos de vista” (p. 6). o meio social).
O fundamental desse novo progra- Do ponto de vista dos fatores in-
ma de pesquisas é permitir acesso à dividuais, Piaget afirma que a lógi-
noção de “interação didática” como um ca é a “forma de equilíbrio final das
processo de relações em que o adulto – ações”, consistindo num “sistema de
seja o professor em situação de aula, operações, isto é, de ações tornadas
seja o psicólogo em situação de teste – ao mesmo tempo compostas e reversí-
não está sozinho e que a criança não veis” (1973, p. 172). Implica o raciocí-
responde apenas à tarefa solicitada; nio (reunir/dissociar) e o agrupamento
antes, ela “desenvolve igualmente das ações com reversibilidade. Assim,
uma atividade meta-sociocognitiva a lógica não é inata nem se constitui
que dá sentido ao que ela crê identi- de repente no pensamento formal; ela
ficar como êxito ou fracasso, segundo tende para o equilíbrio final, sendo
dimensões que não são somente de or- desenvolvida nas etapas da equilibra-
dem operatória” (p. 8). Vemos, assim, ção (pré-lógica). Há, segundo Piaget,
ter sido dado um passo importante no uma continuidade funcional rumo ao
sentido de se avançar para a compreen­ equilíbrio, mas uma heterogeneidade
são de um papel mais preponderante das estruturas que marcam as etapas
das relações sociais na constituição dessa equilibração.
dos processos cognitivos. Na seqüên- Do ponto de vista dos fatores in-
cia, retornemos à Piaget para seguir o terindividuais, elemento que mais nos
percurso de seu pensamento no que se importa neste estudo, Piaget pergun-
refere à construção da lógica quando à ta: “O que serão as relações de ordem
socialização intelectual da criança. intelectual com os outros indivíduos?”
Se a lógica é a organização de opera-
O progresso lógico e a ções (ações interiorizadas e reversí-
veis), “pode-se conceber que o indi-
socialização da criança víduo consegue atingir sozinho essa
Piaget apresenta uma questão organização, ou a intervenção de fato-
recorrente nos Estudos sociológicos, res interindividuais é necessária para

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explicar o desenvolvimento que aca- cas. “Um agrupamento operatório é um
bamos de descrever?” (1973, p. 178). sistema de operações com composições
Para responder a essas questões, o au- isentas de contradição, reversíveis e
tor analisa as etapas da socialização conduzindo à conservação das totalida-
intelectual do indivíduo com base nos des vistas”. O pensamento em comum
quatro estágios de desenvolvimento. favorece a não-contradição; a reversi-
No período sensório-motor não se bilidade e a conservação favorecem a
pode falar em socialização da inteli- substituição de objetos por sinais. En-
gência, mas de inteligência puramen- tão, “um agrupamento é um sistema
te individual. A imitação não influi na de conceitos (classes ou relações) im-
inteligência: “Os contatos do bebê com plicando uma coordenação dos pontos
seu meio não são trocas interessando de vista e uma posição em comum do
o intelecto como tal” (1970, p. 179). pensamento” (p. 181).
No período pré-operatório verifica- O operatório-formal, por fim, acen-
se uma transição entre “o individual tua o desenvolvimento lógico e a coo-
puro do primeiro período e a coopera- peração,4 pois implica o pensamento
ção do terceiro”. A linguagem consiste hipotético-dedutivo, que se apóia
num misto de sinais coletivos, nem numa linguagem e que é um pensa-
todos compreendidos de antemão, com- mento coletivo.
pletados por sinais individuais. As tro- Feitas essas considerações com
cas interindividuais caracterizam-se base nos estágios de desenvolvimento,
“por um egocentrismo que permanece Piaget recoloca a pergunta: “Se o pro-
a meio caminho do individual e do so- gresso lógico anda assim ao lado da so-
cial e que pode se definir por uma indi- cialização, deve-se dizer que a criança
ferenciação relativa do ponto de vista se torna capaz de operações racionais,
próprio e do ponto de vista do outro” (p. posto que seu desenvolvimento social
179). As coações intelectuais são assi- a torna apta à cooperação, ou deve ad-
miladas à mentalidade egocêntrica e só mitir-se, pelo contrário, que são estas
a transformam superficialmente. aquisições lógicas individuais que lhe
O período operatório-concreto cor- permitem compreender as outras e
responde a um “nítido progresso da que a conduzem assim à cooperação?”
socialização: a criança se torna capaz O autor responde da seguinte forma:
de cooperação, isto é, não pensa mais “As duas espécies de progresso andam
em função dela só, mas da coordenação lado a lado [...] constituem dois aspec-
real ou possível dos pontos de vista” tos indissociáveis de uma única e só
(p. 180). Esse progresso se exprime por realidade, ao mesmo tempo social e
meio da reflexão, da colaboração, de ex- individual” (p. 181).
posições ordenadas, de regras comuns, É com o conceito de agrupamentos5
de relações de reciprocidade etc. Existe que Piaget amplia a noção da indisso-
íntima correlação entre a cooperação e ciabilidade entre lógica e socialização.
o desenvolvimento das operações lógi- Do ponto de vista do desenvolvimento

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psicológico, as operações lógicas são a novo problema: “O indivíduo atingirá
forma de equilíbrio terminal das ações sozinho um equilíbrio revestindo a
atingidas nos agrupamentos móveis e forma do agrupamento ou uma coope-
reversíveis. A cooperação social é tam- ração com os outros é necessária para
bém um sistema de ações interindivi- conseguir esse efeito?” Piaget mostra
duais submetidas a todas as leis que as os limites do indivíduo para atingir
caracterizam. Essas ações são também sozinho essa condição: dificuldade de
regidas por leis de equilíbrio, que reque- conservação (ligar seu pensamento
rem sistemas compostos e reversíveis. anterior ao ulterior), incapacidade de
Piaget pergunta, desse modo, se “as atingir a reversibilidade completa sem
leis do agrupamento não seriam então a contribuição da linguagem (como fa-
simultaneamente as da cooperação e as tor social). “Logo, para tornar o indi-
das ações individuais, dirigidas sobre o víduo capaz de construir “agrupamen-
mundo físico? E a cooperação não deve, tos”, é necessário, preliminarmente,
pois, conceber-se segundo a significação atribuir-lhe todas as qualidades da
etimológica mesma do termo que a de- pessoa socializada” (1973, p. 195). Por
signa, como conjunto de cooperações?” outro lado, a cooperação não poderia
(1973, p. 182). Piaget rejeita tanto a conduzir à formação dos “agrupamen-
tese individualista (somente cooperan- tos” sem a linguagem e sem a psico-
do é que o indivíduo elabora sua lógica) motricidade individual.
quanto a tese sociológica (as relações De qualquer ponto em que a ques-
sociais constrangem o indivíduo a re- tão seja vista, sempre estarão presen-
conhecer uma lógica). Entende que “as tes as funções individuais e as funções
relações sociais equilibradas em coope- coletivas na explicação das necessá-
ração constituirão, pois, ‘agrupamentos’ rias condições ao equilíbrio lógico.
de operações, exatamente como todas
as ações lógicas exercidas pelo indiví-
duo sobre o mundo exterior, e as leis de O papel da linguagem no
agrupamento definirão a forma do equi-
líbrio ideal comum às primeiras como às
desenvolvimento
segundas” (1973, p. 183). cognitivo infantil
Pode-se dizer, para encerrar esta
seção, que para Piaget tanto as ações Um outro aspecto que merece pro­
dos indivíduos sobre o mundo exte- blematização ao tratarmos do lugar do
rior quanto de uns sobre os outros social na obra de Piaget é a linguagem,
obedecem a leis de desenvolvimento e esse tema de grande polêmica nos con-
tendem para formas de reciprocidade frontos entre Piaget e Vygotsky. Tanto
que implicam mobilidade reversível um autor quanto outro reconhece que
própria ao agrupamento. Assim, “a as funções da linguagem se modificam
cooperação só é um sistema de opera- ao longo do desenvolvimento infantil,
ções efetuadas em comum, em coope- todavia divergem naquilo que se refe-
ração” (p. 194). Nesse caso, surge um re à relação pensamento e linguagem.

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Vygotsky estudou a linguagem cognição infantil, conforme expressa
como função mediadora de organiza- em Epistemologia genética:
ção do pensamento e de comunicação, É à função semiótica em geral, resul-
tomando os signos como expressão tante dos processos da imitação (a
privilegiada de tais mediadores,6 ao conduta sensoriomotora mais próxima
passo que para Piaget a linguagem da representação, mas em atos), e não
não constitui um fator essencial na à linguagem somente, que devemos
atribuir essa mudança fundamental e
construção da lógica pelas crianças. decisiva de direção na elaboração dos
Piaget, ao tratar da construção do instrumentos de conhecimento. Em
conhecimento, enfatiza o ponto de vista outras palavras, a passagem das con-
da criança que aprende, preocupando- dutas sensoriomotoras para as ações
se fundamentalmente com o desenvol- conceitualizadas deve-se não apenas à
vimento de estruturas cognitivas. Para vida social, mas também aos progres-
sos da inteligência pré-verbal em seu
ele, o motor que impulsiona a constru- conjunto e à interiorização da imitação
ção do psiquismo, da inteligência e do em representações (2002, p. 20).
pensamento é a ação. Como vimos, o
Também em Seis estudos de psi-
conhecimento resulta de interações
cologia Piaget reflete sobre as rela-
que se produzem a meio caminho en-
ções entre pensamento e linguagem,
tre o sujeito e o objeto e que dependem,
distinguindo três momentos princi-
portanto, dos dois ao mesmo tempo. As- pais do desenvolvimento cognitivo:
sim, a ação, não a linguagem, constitui a) o da aquisição da linguagem; b) o
o mediador inicial por excelência entre da aquisição das operações concretas
o corpo e as coisas, promovendo movi- (entre 7 e 11 anos); c) o das operações
mentos para o interior e para o exterior formais (entre 12 e 15 anos). Enfatiza,
(assimilação/acomodação), elaborando assim, que a linguagem não é a úni-
solidariamente o sujeito e os objetos ca responsável pelas transformações
(PIAGET, 2002). da inteligência, uma vez que a crian-
Pode-se identificar em Piaget a ça pequena, menos socializada que a
distinção entre dois períodos sucessi- de sete-oito anos, utiliza os símbolos,
vos no desenvolvimento cognitivo no por meio do jogo simbólico, para de-
que se refere ao tema da linguagem: senvolver o pensamento, sendo esses
o primeiro corresponde às ações sen- manifestados por representações não
sório-motoras anteriores à linguagem, verbais, tais como o símbolo lúdico, a
ao passo que o segundo diz respeito às imitação retardada, a imagem mental
ações guiadas pela tomada de cons- como imitação interiorizada.7
ciência dos resultados, intenções e Tais representações constituem,
mecanismos do ato, ou seja, ao pensa- segundo o autor, posições intermediá­
mento conceitualizado. rias entre as condutas sensório-mo-
No período sensório-motor, Pia- toras e as condutas representativas
get considera que a linguagem não que independem da linguagem, mas
desempenha papel preponderante na podem contribuir para a sua aquisi-

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ção. Assim, Piaget admite que existe uma preponderância do fato lingüís-
uma função simbólica mais ampla que tico” (1999, p. 84).
a linguagem, que engloba, ao mesmo Em forma de síntese, Piaget de-
tempo, o sistema de signos verbais e o monstra que a linguagem não é sufi-
símbolo propriamente dito. Nesse sen- ciente para explicar o pensamento, en-
tido, para Piaget, tretanto é condição necessária à medida
como a linguagem é só uma forma que as estruturas de pensamento vão
particular de função simbólica e como se refinando no caminho das operações
o símbolo é individual e, certamente, lógicas. O próprio autor esclarece:
mais simples que o símbolo coletivo,
Ela é necessária, pois sem o sistema
conclui-se que o pensamento precede a
de expressão simbólica que constitui
linguagem e que esta se limita a trans-
a linguagem, as operações permane-
formá-lo profundamente, ajudando-o
ceriam no estado de ações sucessivas,
a atingir suas formas de equilíbrio
sem jamais se integrar em sistemas
através de uma esquematização mais
simultâneos ou que contivessem, ao
desenvolvida e de uma abstração mais
mesmo tempo, um conjunto de trans-
móvel (1999, p. 79-80).
formações solidárias. Por outro lado,
É no plano das operações formais sem a linguagem, as operações perma-
que Piaget destina um papel mais cen- neceriam individuais e ignorariam, em
tral à linguagem, no sentido de que as conseqüência, esta regularização que
resulta da troca interindividual e da
operações proposicionais (a lógica das
cooperação. É neste duplo sentido da
proposições) “constituem produto au- condensação simbólica e da regulari-
têntico da própria linguagem” (1999, zação social que a linguagem é indis-
p. 82). O pensamento verbal é funda- pensável à elaboração do pensamento.
mental no momento em que o pensa- Entre a linguagem e o pensamento
mento se torna hipotético-dedutivo e existe, assim, um ciclo genético, de tal
necessita da abstração e das conceitu- modo que um dos dois termos se apóia,
necessariamente, sobre o outro, em
alizações para se libertar das ligações
formação solidária e em perpétua ação
concretas. Todavia, Piaget questiona recíproca. Mas ambos dependem, no
se é o pensamento verbal que faz sur- final das contas, da inteligência, que é
gir as operações combinatórias neces- anterior à linguagem e independente-
sárias às operações proposicionais ou mente dela (1999, p. 85).
se elas se constituem independente- Nos Estudos sociológicos Piaget
mente da linguagem, sen­do esta faci- aponta a linguagem como um dos fa-
litadora apenas. tores essenciais nas trocas de pensa-
Mais uma vez Piaget apresenta mento, constituindo, mesmo, uma das
uma saída interacionista para o pro- condições de equilíbrio das trocas, na
blema, evidenciando que a resposta medida em que é necessário que as
“se orienta bem mais no sentido de pessoas possuam uma escala comum
uma interação entre os mecanismos de valores que lhes permita a compre-
lingüísticos e os mecanismos operató- ensão mútua dos sentidos das pala-
rios subjacentes, do que no sentido de
vras empregadas e das definições das

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noções que compõem tais significações. teoria de Piaget não é uma pedagogia
A comunicação verbal também é rele- e nunca pretendeu ser, isso dito pelo
vante nas trocas de pensamento, para próprio Piaget inúmeras vezes, con-
que um indivíduo lembre ao outro o forme ilustra o trecho na seqüência:
que disse anteriormente, forçando a O problema da educação interessa-me
conservação das noções e flagrando extremamente, porque tenho a impres-
as contradições. No plano apenas do são de que há muitíssimo que reformar
pensamento, os indivíduos podem se e que transformar, mas penso que o pa-
contradizer, sem que haja possibilida- pel do psicólogo é, antes de mais nada,
mostrar os fatos que o pedagogo pode
de de evidenciar as contradições. utilizar, e não se pôr em seu lugar para
lhe dar conselhos. Corresponde ao pe-
Possibilidades e limitações dagogo ver como pode utilizar o que o
psicólogo lhe oferece (apud FERREI-
da ação do professor na RO, 2001, p. 98).
aprendizagem da criança A idéia de fazer da teoria piage-
tiana um receituário para a sala de
Também aqui temos uma questão aula é uma das quatro tentações que
polêmica e, em grande medida, mal Emília Ferreiro aponta como sendo
interpretada na obra piagetiana. É muito comuns na apropriação escolar
corrente a afirmação de que a teoria da obra de Piaget. As outras são: ensi-
piagetiana estaria favorecendo uma nar as noções de conservação como se
prática escolar espontaneísta, que fossem conteúdos escolares, tomando
minimizaria a importância da ação e inclusive as situações experimentais
do papel do professor no desenvolvi- utilizadas na pesquisa como situações
mento cognitivo infantil, uma vez que didáticas; esperar que cada estágio de
partiria do pressuposto de que os pro- desenvolvimento surja por um mila-
cessos de desenvolvimento da criança groso processo de maturação, acredi-
são independentes do aprendizado. tando que as idades médias sugeridas
Diferentemente de Piaget, Vygotsky para cada estágio são tão definitivas
potencializaria a atuação do professor, quanto a ordem de progressão; consul-
apresentando-o como mediador entre tar as publicações de Piaget para defi-
a criança e os objetos de conhecimen- nir em que ano escolar pode/deve ser
to, acreditando que “o aprendizado ministrado este ou aquele conteúdo
adequadamente organizado resulta (2001, p. 95-97).
em desenvolvimento mental e põe Dessa forma, não se pode tomar
em movimento vários processos de uma teoria que foi elaborada fora de
desenvolvimento que, de outra for- situações escolares convencionais,
ma, seriam impossíveis de acontecer” cuja orientação se volta para a com-
(VYGOTSKY, 1998, p. 118). preensão dos processos de constitui-
Ao invés de entrar em tal polê- ção e desenvolvimento de estruturas
mica, seria relevante observar que a cognitivas, e fazer a transposição dire-

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ta para as práticas escolares. Há que ao mesmo tempo, uma educação mo-
considerar, fundamentalmente, que ral sem imposições exteriores. Toda-
as práticas escolares têm como um de via, Piaget defende que a(s) escola(s)
seus objetivos centrais nova(s) não pode(m) prescindir de um
a transmissão dos saberes historica- programa mínimo, superando, assim,
mente constituídos, desde a escrita até qualquer tendência espontaneísta no
a matemática e os conceitos sobre a na- processo pedagógico. Nesse sentido,
tureza e a sociedade. E esses saberes, aponta o método ativo, especialmente
ou uma boa parte deles, não poderiam o “trabalho em grupos” e o self-gover-
ser adquiridos pelos alunos sem uma in-
tervenção docente de qualidade diversa
nment8 como sendo, dentre o conjunto
da requerida para a promoção do pen- dos sistemas pedagógicos da sua época,
samento lógico (CASTORINA, 1995, aqueles que melhor corresponderiam
p. 25). aos resultados psicológicos alcançados
Mais uma vez, passemos a pala- por suas pesquisas.
vra ao próprio Piaget para esclarecer a No final da década de 1950 Pia-
questão das possibilidades e limitações get escreveu um artigo intitulado
da ação do professor no processo de “Comentários de Piaget sobre as ob-
aprendizagem da criança em situações servações críticas de Vygotsky concer-
escolares, segundo a ótica da epistemo- nentes a duas obras: A linguagem e o
logia genética. Nas conclusões de O juí- pensamento da criança e O raciocínio
zo moral na criança, contrapondo-se a da criança,” no qual analisa as críticas
Durkheim, que defende a imposição da de Vygotsky ao seu trabalho, tomando
autoridade do adulto sobre a criança, como base as suas obras mais recen-
Piaget esclarece sua posição sobre essa tes. No artigo Piaget é mais taxativo
relação nas palavras que seguem: nas suas posições, reafirmando a idéia
de que a escola9 ignora o desenvolvi-
O adulto deve ser um colaborador e não
um mestre, do duplo ponto de vista, mo- mento espontâneo da criança, organi-
ral e racional. Mas, inversamente, seria zando os programas de modo oposto
imprudente contar só com o duplo pro- ao que seria o seu desenvolvimento
gresso da consciência e da inteligência, cognitivo. Também reafirma a sua di-
quando constatamos como toda norma vergência em relação à ênfase na ins-
moral tanto quanto toda lógica são pro- trução escolar proposta por Vygotsky:
dutos da cooperação. Então, realizemos
na escola um meio tal que a experimen- Em alguns casos, o que é transmitido
tação individual e a reflexão em comum pela instrução é bem assimilado pela
chamem uma à outra e se equilibrem própria criança, porque representa
(1994, p. 300). uma extensão de algumas de suas con-
tribuições espontâneas. Mas em ou-
Com isso Piaget revela que acredi- tros casos, as dádivas da instrução são
ta no método ativo, postulado pela edu- apresentadas ou muito cedo, ou tarde
cação nova, segundo o qual as crianças, demais, ou de uma maneira que torna
ativas e vivas, constroem uma ordem impossível a assimilação porque não
social nas suas relações e adquirem, são adequadas às construções espon-

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tâneas da criança. Então, o desenvol- é relevante considerar que a obra de
vimento é impedido, ou até desviado Piaget tanto aponta temas perma-
para a aridez, como sucede geralmente nentes, os quais são coerentemente
no ensino das ciências exatas. Por isso
não creio, como parece fazer Vygotsky,
perseguidos num longo percurso,
que novos conceitos, mesmo em nível quanto giros teóricos que representam
escolar, possam ser adquiridos sempre abandono de posições ou reorientação
por meio da intervenção didática dos dos rumos da teoria. Assim, é funda-
adultos (PIAGET, 1990, p. 74-75). mental estudá-la como obra aberta,
Pode-se entender, dessa forma, compreendendo o seu percurso, valo-
que a intervenção do professor, postu- rizando os conceitos e premissas que
lada por Piaget, diz respeito à neces- se mostram ainda profícuos, revisan-
sidade de suscitar os conflitos cogni- do os que produziram efeitos incon-
tivos no trabalho das crianças com os sistentes, conceitos contraditórios ou,
objetos de conhecimento, o material mesmo, equivocados. Aliás, essa era
escolar, nesse caso, fornecendo infor- uma prática muito própria de Piaget.
mações que possibilitem a reorgani- É difícil ler conclusões absolutas nos
zação das idéias prévias das crianças, seus escritos, como exemplifica o tre-
rumo ao saber a ser aprendido. A cho do texto em que responde, muito
aprendizagem escolar pode ser conce- tardiamente, às críticas de Vygotsky,
bida, nesse sentido, como um processo esboçando como propósito “ver se as
de reconstrução que leva em conta o críticas de Vygotsky são ou não justi-
desenvolvimento intelectual. ficadas à luz dos meus mais recentes
trabalhos”. Piaget diz que “a respos-
ta é, ao mesmo tempo, sim e não. So-
Considerações finais bre alguns pontos concordo hoje com
Vygotsky mais do que o teria feito em
Sabemos que, no esforço de elen- 1934, enquanto sobre outros pontos
car alguns aspectos que evidenciam penso que poderia encontrar agora,
como Piaget concebe as relações indi- melhores argumentos para responder-
víduo/sociedade no seu vasto progra- lhe” (PIAGET, 1990, p. 68).
ma de pesquisa, muitas questões dei- Para concluir, manifestamos ape-
xam de ser contempladas pelos limites nas uma certeza que tem nos acompa-
deste estudo, apresentado na forma de nhado em nossos estudos, qual seja,
artigo. Cada seção desenvolvida, cer- a de que constitui uma ingenuidade
tamente, mereceria uma abordagem intelectual pensar que possa existir
separada, pela complexidade e ampli- um autor, uma base teórica, um co-
tude da obra em questão. nhecimento que dê conta, sozinho, de
Na impossibilidade de uma abran- explicar todas as incógnitas do desen-
gência maior no trato dessas questões, volvimento cognitivo humano.

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Abstract 4
“A interação social como espaço de pensamento”.
Piaget esclarece que “cooperar na ação é operar
em comum, isto é, ajustar por meio de novas ope-
By acknowledging Jean Piaget as one rações (qualitativas ou métricas) de correspon-
of the most important thinkers of the XX dência, reciprocidade ou complementaridade, as
century and his work as one of the greatest operações executadas por cada um dos parceiros”
(1973, p. 105).
contributions to understand the processes 5
Para Piaget, um agrupamento “é um sistema de
of knowledge acquisition, this study has the operações tal que o produto de duas operações do
aim of examining how he conceives the rela- sistema seja ainda uma operação do sistema; tal
tions between individuals and society in the que cada operação comporta um inverso; tal que
o produto de uma operação direta e seu inverso
process of cognitive development. Piaget did
equivale a uma operação nula ou idêntica; tal que
not consider social aspects as the focus of his as operações elementares estejam associadas e
attention while studying learning and child tal que, enfim, uma operação composta com ela
development; nevertheless, the essence of his mesma não seja modificada por esta composição”
(1973, p. 97).
theory places social relations as inherent ele- 6
Não nos deteremos na análise da abordagem
ments in the processes of school learning and vygotskyana neste estudo. Essa questão é apre-
a canvas upon which knowledge is construct- sentada por Vygotsky em Pensamento e lingua-
ed. Considering the problem, this work is or- gem (1999).
ganized into six short sections, in which the 7
Piaget ilustra o jogo simbólico com situações coti-
following themes are addressed: 1) Piaget’s dianas da vida da criança, nas quais ela represen-
ta cenas vividas, imitando algo que viu ou ouviu,
privileged interlocutors in the field of sociol- como, por exemplo, “uma manhã, já bem acordada
ogy; 2) concepts of society and social totality; e sentada na cama de sua mãe, a criança perce-
3) relations between individual knowledge beu um pedaço do lençol que lhe lembrou o canto
and social interaction; 4) the logical process do seu travesseiro [...]. Pegou então o pedaço des-
te lençol, fechou firmemente a mão, colocou seu
and the socialization of children; 5) the role polegar na boca, fechou os olhos e, continuando
of language upon children’s cognitive devel- sentada, sorriu largamente” (1999, p. 78).
opment; 6) possibilities and limitations of 8
Tais proposições pedagógicas estão vinculadas a
teachers’ actions in the child’s learning. autores bastante conhecidos entre nós, tais como
Dewey, Cousinet, Foerster, Ferriere.
Key words: Child. Learning. Cognitive de-
9
É preciso ter em mente, nesse caso, que Piaget se
refere à escola burguesa européia da metade do
velopment. Social relations. século XX, cujo programa é criticado por ele.

Notas Referências
1
É preciso esclarecer que a obra em questão está
procurando cartografar a recepção de Vygotsky e CASTORINA, J. A. O debate Piaget-
Bakhtin no Brasil e tem como interlocutores privi-
legiados, portanto, pesquisadores que trabalham
Vygotsky: a busca de um critério para sua
com a psicologia histórico-cultural de Vygotsky e avaliação. In: CASTORINA, J. A et al. Pia-
com a filosofia da linguagem de Bakhtin (FREI- get-Vygotsky: novas contribuições para o de-
TAS, 1999). bate. São Paulo: Ática, 1995.
2
Podem-se indicar Anne-Nelly Perret-Clermont,
Bärbel Inhelder e A. Szeminska como exemplos CASTORINA, J. A et al. Conhecimento in-
de pesquisadoras/interlocutoras de Jean Piaget dividual e sociedade em Piaget: implicações
nos últimos anos da sua vida. para a investigação psicológica. Educação &
3
O artigo de Anne-Nelly Perret-Clermont em Realidade, Porto Alegre, v. 27, n. 1, p. 27-49.
questão refere-se a uma tradução livre de Fer- jan./jun. 2002.
nando Becker e Terezinha Flores (PPGEDU, FA-
CED/UFRGS) de 13 de maio de 1992, intitulado

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sília, ano 9, n. 48, out./dez. 1990.
FREITAS, Maria Teresa de Assunção. O
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a duas obras A linguagem e o pensamento da

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