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Centro Universitário Leonardo Da Vinci – Uniasselvi

Disciplina: Metodologia do Ensino de História


Profa. Dra. Suzana Bitencourt

Confrontando Piaget e Vygostsky1

Antes de iniciar o assunto em si, vamos apresentar esses dois autores. Jean William
Fritz Piaget é biólogo e psicólogo de formação. Ele faleceu em 1980 em Genebra na
Suíça. Este autor tem uma importância na formação escolar. Ele desenvolveu uma teoria
de aprendizagem conhecida como estágios de desenvolvimento cognitivo.
Lev Semyonovich Vygotsky é judeu estudou simultaneamente História e Literatura em
sua formação acadêmica. Em seguida, formou-se em Direito. Estudou também
psicologia. Propôs a psicologia-cultural histórica. Era Russo e morreu aos 37 anos em
1934.
As formulações epistemológicas de Piaget surgiram de suas preocupações biológicas.
Ou seja, as adaptações orgânicas das pessoas ao meio em que vivem. O ponto central na
teoria de Piaget é a construção do conhecimento pelo sujeito, partindo da gênese do
pensamento racional. As estruturas cognitivas do indivíduo ocorrem ao longo da vida
em estágios pré-determinados. O funcionamento dos dois processos
assimilação/acomodação – corresponde ao princípio de desenvolvimento das estruturas
mentais e o crescimento da capacidade cognitiva. Isto é, conforme o indivíduo cresce,
adquiri novas experiências, e acessa as condições disponíveis, amadurece a estrutura
mental. Esses preceitos aqui apresentados de forma sucinta, permitiu a justificativa de
que os estudantes das séries iniciais não são capazes de compreenderem conceitos
abstratos, como de tempo histórico, já que a fase operatória depende de
condicionamentos biológicos. As etapas de domínio conceitual dependem dos estágios
de desenvolvimento da pessoa.
A teoria genética de Piaget fundamentou normas e ações pedagógicas para a
constituição de currículos nacionais e em outros países que consideram as etapas do
desenvolvimento da criança – da fase oral ao pensamento concreto e o pensamento
abstrato. Decorreu daí uma estrutura de formação determinista, que subordinou a
educação escolar às fases do desenvolvimento biológico. A propósito, essa ainda é base
de muitos currículos atuais. Essa proposta embora aceita no meio educacional,
sobretudo nos anos 60 e 70 do século XX, também foi bastante criticada por
pesquisadores voltados para a problemática da aprendizagem de temas sociais.

É por aí que entra em cena a proposta de formação por conceitos. Pois foi Vygotsky que
apontou alguns problemas nas formulações de Piaget.
Uma das críticas se dá pela forma negativa que Piaget encara os conceitos e as noções
provenientes do senso comum – que são conceitos espontâneos na denominação de
Vygotsky. Já Piaget entende conceitos espontâneos e científicos como antagônicos,
supondo que o primeiro é impeditivo – que impõe obstáculos a constituição de
conceitos científicos. De acordo com essa linha interpretativa, deve-se conhecer o
pensamento espontâneo da criança para combatê-lo ou anulá-lo.
Contrário a isso, Vygotsky defende uma interação próxima entre os espontâneos e
científicos. Mesmo reconhecendo a proposição de Piaget com os estágios de

1
Baseado em: Aprendizagens em História. IN: BITTENCOURT, C.M.F. Ensino de História:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2009.
desenvolvimento cognitivo, o pensador russo entendia como fundamental a aquisição,
bem como a distinção entre ambos.
No processo de escolarização ele defende que não ocorre o desaparecimento, mas sim
modificações nos esquemas intelectuais anteriormente adquiridos.
Vygostsky defende que os conceitos científicos correspondem a uma ampliação do
significado das palavras. O papel da escola é fundamental uma vez que tal capacidade
se adquire pela aprendizagem organizada e sistematizada.
Dessa forma, a crítica do estudioso russo, é dirigida a fase do que se chama maturação
interna e biológica do indivíduo para a aquisição de conceitos. E Piaget considera a
interação do indivíduo com fatores externos da vida social onde o aspecto biológico é o
mais decisivo.
Muitos autores, discordando dessa concepção, assinalam a importância do caminho
cognitivo do indivíduo, isto é, as inúmeras interferências sociais, a organização familiar,
a saúde, as condições econômicas e outras contingências que forçam as pessoas a
solucionar problemas. Isto reequilibra as formas cognitivas num esforço de ver o mundo
e aprender com as experiências, estas produzem significados na vida escolar.
A isso chamamos de psicologia social, que enfatiza as relações entre o desenvolvimento
cognitivo e o amadurecimento intelectual... Porém, essa é outra história!

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