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Relações entre

desenvolvimento e
aprendizagem:
CONSEQUÊNCIAS
na SALA de AULA
MARIA DE FÁTIMA CARDOSO GOMES*

$escolarização obrigatória é um projeto humanizador, que


supõe que todo ser humano pode e deve ser educado, pode
aprender e melhorar com a educação. É um projeto otimista que traz con-
sigo a idéia de progresso sem exclusões (Sacristán, 2000). Sustenta que
a capacidade psicológica dos indivíduos não está dada desde o nasci-
mento, repudiando assim mentalidades seletivas, hierarquizadas e deter-
ministas. Defende o princípio básico da plasticidade humana, aqui
entendida como a capacidade do ser humano de se "modelar em direções
diversas em seu desenvolvimento e que, portanto, pode ser guiado"
(Sacristán, 2000, p. 56). Isto significa possibilidades de crescimento em
certas direções, podendo se dar mais rápido em algumas pessoas ou mais
devagar em outras. "A direção e grau de incremento de possibilidades
são determinadas pelos ambientes sociais, pela cultura, pela influência
familiar etc..." (Sacristán, 2000, p.56).

* Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de


Minas Gerais.
Imagem: The Club-Footed Boy, Ribera, 1652. $
RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: CONSEQÜÊNCIAS NA SALA DE AULA

Por um lado, a tese da educa- falamos de pistas e não de


ção obrigatória questiona o deter- expressar minha preocupação em teorias, porque não são as teorias
minismo biológico dos inatistas, não dissociar desenvolvimento de prontas que resolverão nossos
que justificam as desigualdades aprendizagem, pois mesmo sendo problemas. Será seguramente a
humanas com determinantes bio- conceitos distintos, eles são pro- prática que atestará se as pistas
lógicos, e tentam prová-lo através fundamente interdependentes. são ou não necessárias. E, a par-
de testes de inteligência, de apti- A interdependência e articu- tir daí, poderemos chegar a uma
dão, de prontidão etc. Por outro lação entre esses dois conceitos verdadeira teoria: a teoria de uma
lado, ao determinar a direção e o vem sendo discutida, desde a prática, (p.26)
incremento do crescimento dos década de 30, por Vygotsky, e, De outro lado, ela permanece
seres humanos, a educação obriga- mesmo assim, encontramos pro- expressando a dicotomia entre
tória parece curvar a vara para o postas curriculares, artigos e pro- desenvolvimento e aprendizagem
lado da tese ambientalista, que postas de cursos que refletem já quando, já no título, nos diz que
encontra na família, no ambiente em seus títulos a dicotomia que vai discutir concepções de apren-
social e na cultura os fatores deter- pretendemos problematizar neste dizagem e não introduz a sua rela-
minantes do desenvolvimento artigo. Como exemplo, em princí- ção com o desenvolvimento. Den-
humano. É interessante notar como a pios de 2002, foi-me pedido que tro do artigo, Giusta propõe-se a
produção do conhecimento oscila discutisse com professores de discutir a concepção de aprendiza-
entre o objetivismo e o subjetivis- uma escola particular de Belo gem que está embutida nas teorias
mo, ora enfatizando os fatores Horizonte "Teorias de Aprendiza- psicológicas do Behaviorismo, da
externos ao desenvolvimento e à gem" e suas conseqüências na Gestalt, de Piaget, Wallon e
aprendizagem, ora enfatizando os prática pedagógica. Outro exem- Vygotsky e suas conseqüências
fatores internos ao desenvolvi- plo é o importante e fundador nas práticas pedagógicas. N ã o
mento e à aprendizagem, ora dis- artigo de Giusta, publicado em atenta porém para a íntima relação
sociando desenvolvimento de 1985, que traz como título: "Con- entre desenvolvimento e aprendi-
aprendizagem. Um exemplo é a cepções de aprendizagem e práti- zagem na teoria de Vygotsky. Isso
constituição dos currículos dos cas pedagógicas". Nesse artigo, reflete o processo de construção
cursos de Psicologia, que propõem de um lado, a autora avança dis- do conhecimento, que não é linear
duas disciplinas: "Psicologia do cutindo concepções de aprendiza- nem progressivo, dá saltos e revi-
Desenvolvimento" e "Psicologia gem e suas relações com a prática ravoltas. Reflete também o mo-
da Aprendizagem". pedagógica: mento histórico em ; que vivíamos
na década de 80, quando nossa

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preocupação, como psicólo- 1) (...) a experiência esco- los, ou seja, na relação professor-
gos/educadores, era de identificar lar insere-se em um processo aluno, na proposta de avaliação,
"como os estudantes aprendem", contínuo de desenvolvimento na metodologia de trabalho, na
sendo o foco das pesquisas e dis- do sujeito que se iniciou antes organização da sala de aula, na
cussões os processos de aprendiza- de sua entrada na instituição. elaboração de currículos etc. Cen-
gem dos alunos. Ainda não atentá- Todas as experiências vividas traremos nossa discussão em
vamos para o que Vygotsky apon- na escola ganharão significa- aspectos referentes à relação pro-
tou como relação entre desenvolvi- do quando articidadas ao pro- fessor/aluno e na avaliação, mais
mento e aprendizagem: cesso global de desenvolvi- especificamente, na concepção de
(...) o aprendizado não é mento do indivíduo e não erro.
desenvolvimento; entretanto, o quando concebidas como um
aprendizado adequadamente aglomerado de experiências Abordagem inatís-
organizado resulta em desen- independentes, vividas exclu- ta/gestaltísta
volvimento mental e põe em sivamente no âmbito escolar. K. Koffka (1886-1941)
movimento vários processos 2) (...) a escola não é um W. Kohler (1887-1967)
de desenvolvimento que, de espaço independente de socia- M. Wertheimer (1880-
outra forma, seriam impossí- lização e aprendizagem, mas 1943)
veis de acontecer. Assim, o um espaço que vem se somar
aprendizado •é um aspecto aos outros nos quais o ser Segundo esta abordagem
necessário e universal do pro- humano transita, os quais, de "todo conhecimento é anterior à
cesso de desenvolvimento das uma forma ou de outra, já experiência, sendo fruto do exercí-
funções psicológicas cultural- imprimiram certas marcas nas cio de estruturas racionais, pré-
mente organizadas e especifi- formas de atividade que o formadas no sujeito" (Giusta,
camente humanas. (1989, indivíduo realiza e no uso que 1985). Assim, a experiência passa-
p.101) ' ele faz tanto dos sistemas da influi no conhecimento, mas
Na década de 90, já nos voltá- expressivos, como simbólicos. não é condição necessária para que
mos, psicólogos e educadores em (p.2) ele ocorra. As condições hereditá-
geral, para a discussão dessa pers- É sob essa perspectiva que este rias é que são determinantes para o
pectiva anunciada por Vygotsky. artigo desenvolverá as relações desenvolvimento dos indivíduos e,
Lima (1997) publica um artigo entre desenvolvimento e aprendi- portanto, para definir sua capaci-
intitulado "Desenvolvimento e zagem referentes às abordagens dade de aprendizagem ou de per-
Aprendizagem na escola: aspectos psicológicas inatista, empirista, cepção. Para a Gestalt é através da
culturais, neurológicos e psicoló- construtivista, sociocultural, e percepção de totalidades organiza-
gicos". Nesse artigo, a autora dis- das, de configurações, das gestal-
suas conseqüências na sala de
cute essencialmente estas duas tens que aprendemos, O todo é
aula. Essas conseqüências podem
idéias: apreendido de uma vez, de forma
ser discutidas sob diversos ângu-

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imediata, fazendo com que Abordagem


a aprendizagem seja uma ambientalista/
atualização das estruturas behaviorista
mentais previamente exis- Pavlov (1849-1936)
tentes, daí o uso do termo Skinner (1904-1990)
insight para designar que "o
todo é apreendido de forma súbita, a pelo menos dois passos na frente P a r a esta abordagem "todo
por reestruturação do campo per- desta. Para que ocorra o desenvol- conhecimento provém da expe-
ceptual". (Giusta, 1985; p. 27) vimento dois processos devem riência". (Giusta, 1985, p.26) Isto
A ênfase recai sobre o sujeito acontecer: o processo da matura- significa que o sujeito, ao nascer, é
que aprende sem considerar a ação ção, que depende diretamente do uma tábula rasa onde vão se impri-
desse sujeito sobre o objeto ou do desenvolvimento do sistema ner- mindo os conhecimentos a partir
objeto sobre o sujeito, pois as voso, e o aprendizado, que é em si das experiências fornecidas pelos
estruturas já estão pré-formadas mesmo um processo de desenvol- órgãos dos sentidos, as quais,
no indivíduo como totalidades vimento. Essa abordagem, embora associadas umas às outras, produ-
organizadas. O indivíduo reduz-se qualifique o desenvolvimento zem o conhecimento. Assim,
a um ser biológico, fruto de sua como condição para se aprender, aprender tem origem na experiên-
herança genética e do processo de discute as relações entre ambos. cia, no meio físico e social e é
maturação biológica. As estruturas As conseqüências pedagógicas sinônimo de mudança de compor-
mentais são estáticas, não têm dessa abordagem se vêem refleti- tamento através do treino e do
gênese, • não se modificam ao das no papel do professor, que se condicionamento. O meio exerce
longo do desenvolvimento huma- reduz a um facilitador da aprendi- pressão sobre os indivíduos,
no. Estas expressões podem exem- zagem. Sua intervenção fica pre- "fabricando-os", como fica evi-
plificar a tese demonstrada: "pau judicada, dada a crença de que o dente nesta expressão: "o homem
que nasce torto morre torto", aluno reúne ou não as condições é produto do meio". Assim, na
"filho de peixe peixinho é". O para aprender de acordo com suas relação sujeito/objeto, a primazia
patrimônio genético define as características hereditárias. Ò foco é do objeto e o conhecimento
capacidades do ser humano de se da avaliação é o produto, havendo reduz-se a uma simples cópia do
desenvolver e é esse desenvolvi- uma certa condescendência com real.
mento que possibilita aprendiza- os erros, pois são frutos da imatu- O Behaviorismo discute ape-
gens. Assim, o desenvolvimento ridade, da falta de prontidão e de nas a aprendizagem, pois o que
comanda a aprendizagem, ele está pré-requisitos dos alunos. está interno ao sujeito não é passí

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Abordagem O representante máximo dessa
piagetiana abordagem é Jean Piaget, que de
Piaget (1896-1980) biólogo se transforma em episte-
mólogo e investiga como os indiví-
vel de ser conhecido e, portanto, Esta abordagem pretende supe- duos conhecem o mundo e quais
não existe. Assim, aprendizagem é rar o reducionismo das concepções são os processos envolvidos nesse
igual a desenvolvimento, sendo anteriores, afirmando que o conhe- conhecimento. Ele desenvolve
que as mudanças comportamentais cimento não vem só da experiência uma teoria conhecida como episte-
indicam o grau de aprendizagem e, nem está pré-formado na mente dos mologia genética, que pretende
portanto, o grau de desenvolvi- indivíduos, portanto ele acontece na investigar as formas rudimentares
mento dos indivíduos. interação entre o sujeito que aprende de conhecer e seu desenvolvimen-
A conseqüência pedagógica e o objeto a ser aprendido. Essa inte- to até as formas mais abstratas e
dessa concepção na relação pro- ração exige uma ação do sujeito lógicas do pensamento humano.
fessor/aluno é que o professor é o sobre o objeto e deste sobre o sujei- Admite que as estruturas mentais
centro do processo de ensino e to. Portanto, o conhecimento não é são fundamentais para o desenvol-
aprendizagem. Ele planeja os pas- uma cópia do real, há sempre uma vimento, porém defende que elas
sos a serem seguidos e controla o interpretação, uma assimilação do têm gênese (origem) e transfor-
comportamento dos alunos me- sujeito sobre aquilo que se pretende mam-se, não são estáticas como
diante reforços positivos ou nega- conhecer. Assim, o conhecimento pensa a Gestalt. Para Piaget, as
tivos. Então, o professor ensina e o não é fruto apenas da ação do sujei- estruturas mentais são construídas
aluno aprende através da transmis- to, como pensa a Gestalt, nem só da na interação entre sujeito e objeto
são de conteúdos previamente ação do objeto, como pensa o Beha- através dos processos de assimila-
estabelecidos pelo currículo e pla- viorismo. Sujeito e objeto vão se ção e acomodação. Elas formam
nejados pelo professor. São esta- diferenciando através das interações esquemas que geram processos
belecidos passos para serem segui- entre ambos. adaptativos do organismo que, por
dos rigorosamente, e o que garan- O sujeito, nesta abordagem, é sua vez, procura a equilibração
te a aprendizagem é a memoriza- o sujeito epistêmico, que é capaz majorante para poder continuar
ção, a repetição mecânica dos con- de conhecer, abstrato e universal, desequilibrando e equilibrando-se
teúdos já elaborados pela humani- visto fora do contexto social e cul- novamente, como numa espiral.
dade. O foco da avaliação também tural em que vive. O objeto, por Dessa forma, o conhecimento é
é no produto do que se ensinou, sua vez, é fundamentalmente o contínuo e segue uma trajetória
não se tolerando os erros produzi- meio físico, e a relação entre ascendente das estruturas mais
dos pelos alunos, pois há apenas ambos é uma relação direta, cons- simples para as mais complexas
uma resposta certa. Outras respos- tituindo o sujeito ativo, pensante, (indo do estágio sensório-motor
tas são interpretadas como aquilo capaz de construir hipóteses sobre para o pré-operatório e operatório
que os estudantes não sabem. o mundo que o cerca. concreto, chegando ao estagio

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lógico-formal). São essas estrutu- Abordagem


ras que condicionam o que se pode Sociocultural
ou não aprender, pois delas depen- Vygotsky (1896-1934)
de a aprendizagem.
Piaget formulou uma teoria do aprende a partir das estruturas men- A abordagem sociocultural
desenvolvimento e não da aprendi- tais que possui. A idéia de coopera- pretende fazer uma síntese (cria-
zagem, por isto apresenta como ção tem base na teoria da desequili- ção de algo novo) das abordagens
condição do aprender o desenvol- bração/equilibração de Piaget, pois anteriores. Tem como represen-
vimento de estruturas mentais que para ele a cooperação leva ao desen- tante máximo Vygotsky, que se
possibilitem a compreensão do volvimento cognitivo, à descentra- empenha em estudar a consciên-
mundo que nos rodeia. Sendo ção e à socialização crescentes e à cia, não se limitando às contri-
assim, o desenvolvimento coman- construção de um conhecimento buições de Pavlov (teoria da re-
da a aprendizagem. racional e dinâmico. Daí o debate e flexologia, do condicionamento
As conseqüências pedagógicas a discussão entre iguais serem clássico). Vygotsky dialoga com
dessa abordagem também podem muito importantes na construção de o Behaviorismo, com a Gestalt,
ser vistas na relação professor/aluno conhecimento; o professor cumpre com Piaget. Procura produzir
e na avaliação. Entre professor e o papel de agente provocador e ins- algo novo, ou seja, trabalha no
aluno passa a existir um diálogo tigador, responsável pelo clima de sentido de encontrar um método
mais fecundo e os 'erros' dos alu- cooperação. (Mortimer, 1994) que trate a consciência de manei-
nos são vistos como integrantes do Dessa forma, a produção das ra objetiva e concreta, tendo
processo de ensino e aprendizagem. crianças passa a fazer parte do pro- como referência os meios que
Eles (os 'erros') dizem o que os alu- cesso de ensino e aprendizagem e é utilizamos para construir o co-
nos já sabem sobre os conteúdos esse processo que se busca com- nhecimento. Para ele, o que nos
escolares e indicam pistas para o preender, e não apenas o produto, diferencia dos outros animais é a
professor sobre o que ainda deve ser como nas abordagens anteriores. nossa capacidade de mediatizar
ensinado. Aprender não se reduz à # Fazem parte, portanto, do processo nossas relações, assim nossos
memorização, mas envolve com- de ensino e aprendizagem os processos psicológicos superio-
preensão, raciocínio lógico e refle- "erros construtivos", que, segundo res (percepção, memória lógica,
xão. A aprendizagem é feita entre Ferreiro e Teberosky (1985) são atenção voluntária, pensamento
pares, em regime de cooperação, erros que diferem das respostas verbal, linguagem) começam a se
mas se dá de forma individual, é corretas, mas que não impedem as formar nas relações sociais pe-
construída na mente do sujeito que crianças de chegarem a elas. la/na linguagem.

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A nossa constituição humana construção do conhecimento, mas das atividades práticas. Nessa
segue uma rota que vai do plano distancia-se daquele quando diz perspectiva, a criança reconstrói
interpessoal para o plano intrapes- que essa relação não é uma relação individualmente os modos de
soal, ou seja, direta mas mediada pelo outro, viver, de sentir e de pensar da
(...) segue duas linhas qua- pela linguagem, pela cultura. E humanidade e aprende a organizar
litativamente diferentes de nessa relação mediada que vamos seus próprios processos mentais.
desenvolvimento, diferindo nos transformando de seres bioló- Assim, construir conhecimen-
quanto à sua origem: de um gicos em seres histórico-culturais, to passa a ser uma ação comparti-
lado, os processos elementares, pois para Vygotsky o biológico lhada, já que é através dos outros
que são de origem biológica; de não é suficiente para nos transfor- que as relações entre sujeito e
outro, as funções psicológicas mar em seres humanos; portanto, é objeto vão sendo estabelecidas. Se
superiores, de origem sociocul- na relação com a cultura, com a isto é verdade, então, não há que
tural. A história do comporta- linguagem e com o outro que nos se discutir desenvolvimento inde-
mento da criança nasce do constituímos seres humanos. pendentemente de aprendizagem.
entrelaçamento dessas duas Sendo assim, o meio (físico e Para a abordagem sociocultural,
linhas. (Vygotsky, 1984, p.52) sociocultural) é constitutivo do ser aprendizagem e desenvolvimento
E um processo de internaliza- humano e não apenas o influencia são processos distintos, porém
ção da cultura pelas crianças, (como afirma Piaget), e nem sozi- interdependentes, sendo que a
caracterizando-se como um pro- nho produz a humanidade (como aprendizagem tem a função de
cesso social que se faz pela media- afirma o Behaviorismo). despertar processos internos de
ção da linguagem. Dessa forma, Desse modo, pouco a pouco, desenvolvimento que ainda não se
essa abordagem procura superar as os indivíduos "vão se apropriando manifestaram nos indivíduos. Por-
dicotomias entre individual/social, dos modos de funcionamento psi- tanto, o "bom ensino é aquele que
natureza/cultura, biológico/social. cológico, do comportamento e da se adianta ao desenvolvimento", o

Dito dessa forma, Vygotsky cultura, enfim, do patrimônio his- que nos leva a ressignificar o

difere seu pensamento tanto do tórico da humanidade e de seu pró- valor das interações sociais na

pensamento behaviorista quanto prio grupo cultural". (Rego, 1995, sala de aula. Permite-nos redimen-

do pensamento piagetiano e do p.87) Ao internalizar os processos sionar a relação professor/aluno e

pensamento da Gestalt, pois não culturais, os indivíduos não preci- a prática escolar até aqui discuti-

admite a predominância do objeto sam da mediação; tornam-se inde- das, com base nas abordagens

(como no Behaviorismo) nem a pendentes, constituindo assim um anteriores, pois precisa considerar

predominância do sujeito (como modo próprio de ser, de pensar e o sujeito que aprende como um

na Gestalt), na relação sujei- de sentir, tendo a fala (entendida sujeito interativo, ativo e único no

to/objeto. Aproxima-se de Piaget como instrumento ou signo) como seu processo de construção do

quando defende a relação de inte- organizadora, preponderante, das conhecimento. Processo que ele

ração entre Sujeito e objeto na funções psicológicas superiores e (sujeito) não recebe passivamente;

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os conhecimentos não se restrin- ção das capacidades indivi- truindo o conceito de "Zona de
gem à atividade espontânea e indi- duais. (Rego, 1995, p.88) Desenvolvimento Proximal", que
vidual do sujeito, que, apesar de Vygotsky, ao elaborar um é definido como
ser importante, não é suficiente olhar diferenciado para a gênese (...) a distância entre o
para a apropriação dos conheci- humana, possibilita um novo olhar nível de desenvolvimento que
mentos acumulados pela humani- para as práticas pedagógicas, um se costuma determinar atra-
dade. Para tanto, a intervenção do olhar prospectivo, direcionado vés da solução independente
professor é fundamental no pro- para o futuro, e não apenas para o de problemas, e o nível de
cesso de construção do conheci- que os alunos já conseguem fazer desenvolvimento potencial,
mento como alguém que tem mais sozinhos, pois valoriza o que determinado através da solu-
experiência, que conhece mais ainda está por ser construído com ção de problemas sob a orien-
sobre o assunto, assim como as a ajuda de outros. Para desenvol- tação de um adulto ou de
trocas entre crianças, que são ver essa visão prospectiva do ensi- companheiros mais capazes.
importantes no processo de ensino no e da aprendizagem, Vygotsky (Vygotsky, 1989, p.97)
e aprendizagem. discute com as abordagens ante- Essa noção de ZDP surge para
Dessa maneira, a hetero- riores as relações entre desenvol- avaliar as habilidades cognitivas
geneidade, característica pre- vimento e aprendizagem. Para ele, das crianças e os processos instru-
sente em qualquer grupo aprendizagem e desenvolvimento cionais. (Wertsch & Stone, 1985,
humano, passa a ser vista não coincidem, nem o desenvolvi- p. 163, citado por Mortimer, 1994,
como fator imprescindível mento está na frente da aprendiza- p.107)
para as interações na sala de gem. Ao contrário, o processo de Há várias interpretações acer-
aula. Os diferentes ritmos, desenvolvimento progride de ca da ZDP e sua tradução para a
comportamentos, experiên- forma mais lenta do que o da prática pedagógica. Entretanto,
cias, trajetórias pessoais, con- aprendizagem e desta seqüencia- duas delas são mais expressivas
textos familiares, valores e ção surgem as zonas de desenvol- nas escolas:
níveis de conhecimentos de vimento proximal. Isto é, ao
cada criança (e do professor) dominar uma operação, a criança
como uma "zona de construção"
imprimem ao cotidiano esco- está começando seu processo de
em que a comunicação é possível
lar a possibilidade de troca de desenvolvimento de processos
pela apropriação que o professor
repertórios, de visão de internos altamente complexos.
faz da representação do aluno,
mundo, confrontos, ajuda Ele procura, então, fazer uma sín-
"como se" ela fosse parte do seu
mútua e conseqüente amplia- tese (criação de algo novo) cons- y
sistema, permitindo que as cons-

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truções sejam apropriadas e revis- mudanças ocorram nos sujeitos e 2.1) Ainda dentro da inter-
tas. Essa interpretação usa a idéia permitem ao professor ter acesso a pretação da ZDP como suporte,
cie Luria (1979) de "sistema fun- essas mudanças; Edwards & Mercer (1989, citados
cional" como unidade de analise. 3ª) as representações que os por Mortimer, 1994, p.108) des-
Segundo Mortimer (1994), numa alunos fazem da tarefa não são crevem os padrões lingüísticos de
sala de aula, ele corresponderia ao estáticas nem equivalentes à repre- I-R-F (iniciação - resposta - feed-
"sistema interpessoal numa zona sentação do professor. A comuni- back) encontrados na sala de aula
de desenvolvimento proximal". cação é possível pela apropriação como uma ZDP, onde questões,
Newman, Griffin & Cole (1989) que o professor faz da representa- dicas e pistas do professor levam
citados por Mortimer (1994) mos- ção do aluno, "como se" ela fosse as crianças a insights que elas não
tram que pode haver quatro conse- parte de seu sistema; experimentariam sozinhas. Con-
qüências "para a análise de 4ª) essa variação inerente de cluem, então, que o processo pelo
mudanças cognitivas que advêm significados, ao longo do processo qual o conhecimento é construído
de se adotar uma posição teórica de mudança, está sujeita ao pro- era sala de aula resulta mais da
nas quais os indivíduos são vistos cesso social no qual são criadas as construção de um discurso comum
como parte de um sistema funcio- alianças temporárias. do que da atividade espontânea
nal construído socialmente, nas 2) a ZDP é interpretada como dos alunos. Para eles, a explicita-
relações pessoais" (p. 106): suporte ou "andaime" e surge para ção "através de pistas", que inclui
avaliar problemas de ensino. a iniciação pelo professor, respos-
interpretações, no início e ao Segundo Bruner (1985, citado por ta do aluno e feedback do profes-
longo da tarefa. Os alunos não têm Mortimer, 1994, p.108), professo- sor, é, o padrão discursivo pelo
a mesma representação da tarefa res e pares mais competentes são qual a ZDP se desenvolve em sala
que o professor e podem ter dife- os "andaimes" que dão suporte à de aula. Acreditam os dois autores
rentes representações entre si. Eles tarefa de aprendizagem para tornar que a linguagem é a ferramenta
não entram na "zona de constru- possível à criança internalizar o principal que o professor utiliza
ção" no mesmo ponto; conhecimento externo e convertê- para controlar o processo de ensi-
2ª) há uma relação entre o sis- lo em ferramenta para a consciên- no e seus resultados, ainda que ele
tema de suportes - apostilas, pro- cia e controle. Nessa interpreta- não admita isso. Destacam que o
fessor, experiências - e as estrutu- ção, o papel do professor como diálogo em sala de aula depende
ras internas. Os componentes "andaime" é limitar a complexida- de um contexto que é propriedade
desse sistema externo são "janelas de da tarefa até o nível em que a do entendimento mais geral, por-
na evolução e aparecimento de criança possa manejá-la. O siste- tanto o contexto é muito mais
construtos cognitivos" (Newman, ma do "como se" parece ser mais mental do que lingüístico ou situa-
Griffin & Cole, p.73), sendo uma rico do que a interpretação como cional. Mostram, através de trans-
parte essencial do sistema funcio- suporte da ZDP. crições de vídeo, que o discurso
nal, pois dão oportunidade a que em sala de aula só muito raramen-

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te é descontextualizado - os resu- de transferência de controle para mediadora, que a aprendizagem e


mos, as recapitulações do profes- o aluno como parte fundamental o desenvolvimento das funções
sor garantem a continuidade do do processo de ensino e aprendi- psicológicas superiores vão cons-
diálogo, sendo formas mais explí- zagem suportada (scaffolded tituindo-se, assim como os proces-
citas dessa garantia. As formas learning), como interpretação do sos de ensino e aprendizagem..
menos explícitas incluem chamar conceito de ZDP. (Mortimer,
atenção dos alunos para partes 1994) Tentando articular
importantes da tarefa ou fornecer Ainda de acordo com aqueles as abordagens... Do
ao grupo um vocabulário comum autores, existem características ponto de vista da
que permita a comunicação. contraditórias do processo de con- abordagem
O objetivo desse processo é o trole dos produtos de ensino atra- sociocultural
estabelecimento de um conheci- vés do discurso:
mento comum que permite ao J \ J muitas vezes não há trans- Na tentativa de "costurar" o
aluno realizar as tarefas sozinho, ferência do conhecimento e do que foi apresentado, é, antes de
sem a ajuda do professor ou dos controle para o aluno, ele continua mais nada, necessário dizer que
pares. Existe uma preocupação dependente do professor ou dos estarei mostrando apenas um
pares, pois o "andaime" não foi ponto de vista, uma forma de
retirado; interpretar cada abordagem e
BJ a explicitação da contri- algumas possíveis relações que se
buição dos alunos pode ter efeito podem fazer entre elas.
contraditório, dando uma falsa A abordagem inatista/gestaltis-
impressão da extensão em que o ta reduz o papel da educação, já
entendimento dos alunos é real- que considera que a maturação das
mente responsável pelo que eles crianças é que definirá as possibili-
estão falando ou fazendo. Pode ser dades educativas. Dessa forma,
que estejam apenas tentando desconsidera a influência e a intera-
"agradar" ao professor dando a ção com a cultura, culpabilizando
resposta que eles (alunos) acham as crianças pela não-aprendizagem
que o professor quer ouvir. de alguns conteúdos escolares, ou

É nessa interação entre alu- seja, pela falta de prontidão, de

nos/alunos e entre alunos/profes- maturidade, de aptidão ou de pré-

sores, tendo a palavra como requisitos básicos necessários à

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aprendizagem. A Gestalt nunca tar toda referência à consciência" integrantes do processo de ensino
abandonou o estudo da mente, e, assim, Skinner "pode falar sobre e aprendizagem. A relativização
preocupando-se com a estrutura, a um organismo vazio e construir do 'erro' amplia as possibilidades
organização, as relações, o papel do um sistema influente de psicologia de aprender e de ensinar como
sujeito e com a função da percep- que nunca tentou investigar o que também as possibilidades de o
ção na memória e na aprendiza- poderia estar acontecendo no inte- professor ir como agente provoca-
gem. (Schultz, 1998) Apesar de rior". (Schultz, 1998, p.400) O dor e mantenedor da cooperação
situar o sujeito no centro do ensino produto do ensino é que é avalia- entre os estudantes, o que repre-
e da aprendizagem, essa aborda- do, pois para essa abordagem a senta um avanço em relação às
gem trabalha com a avaliação do aprendizagem é um reflexo do duas abordagens anteriores.
produto final apresentado por esse ensino, existindo, então, apenas Entretanto a noção de "erro
sujeito. Esse produto deve corres- uma resposta correta e ela tem que construtivo" mostra-se insuficien-
ponder ao que foi apresentado pelo corresponder ao estímulo apresen- te para a compreensão das diversas
professor, porém se é mais condes- tado pelo professor. Isso faz com produções dos aprendizes, já que
cendente com o 'erro' porque ele é que o 'erro' não faça parte do pro- seu olhar é retrospectivo, avalian-
avaliado de acordo com o nível de cesso de ensino e aprendizagem, do o que os alunos já sabem fazer
maturidade ou de prontidão dos que é individualmente apreendido. em relação a uma resposta consi-
estudantes para aprenderem deter- A abordagem construtivis- derada correta e não em relação à
minados conteúdos. Considera-se ta/piagetiana ressalta a importân- potencialidade de construções dos
que, ao atingirem individualmente cia da relação professor/aluno e alunos. Esteban(1992), ao analisar
determinado nível de maturidade e entre pares, em cooperação, para o a produção de um determinado
de prontidão, eles estarão prontos conhecimento ser construído. aluno, faz a seguinte consideração
para aprender. Antes de isso aconte- Defende a capacidade de aprender sobre a noção de "erros construti-
cer, os 'erros' são, então, aceitáveis. do ser humano (sujeito epistêmi- vos":
A abordagem ambientalis- co) e, portanto, dos alunos. Para (...) conceito de "erro cons-
ta/behaviorista, de um lado, atribui esta abordagem o meio influencia trutivo " não cria espaço para a
à escola uma função redentora da o desenvolvimento dos indivíduos avaliação do que se apresenta
sociedade, na medida em que pro- de forma a acelerá-lo ou retardá- como potencial na resposta
cura modelar o caráter e o compor- lo; porém, a ação do sujeito é fun- dada pela criança. A aprendiza-
tamento dos alunos vistos como damental para a construção do gem é redirecionada apenas
indivíduos que se formam por conhecimento, que não está dado e para o acerto e não para a
influência exclusiva do meio em nem é passivamente adquirido busca de conhecimento. E cris-
que vivem. Essa abordagem bane através da ação do meio sobre o talizado o momento em que a
o estudo da consciência da psico- sujeito. Sendo assim, o processo criança se encontra no processo
logia por quase 50 anos. Segundo de construção é muito valorizado, de construção de conhecimen-
Watson, "a psicologia deve descar- e os 'erros' são analisados como tos e a intervenção pedagógica

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RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: CONSEQÜÊNCIAS NA SALA DE AULA

não se reveste de novos instru-


mentos de ação no sentido de
superar tal momento. A avalia-
ção da aprendizagem não deixa
de se fundamentar no passado
do processo, qualificando os
comportamentos como resulta-
dos do desenvolvimento conso-
lidado - sem referência às pos-
sibilidades futuras nele implíci- novos conhecimentos, que não aprendizagem e desenvolvimento
tas — e limitando a aprendiza- seriam possíveis individualmente. são processos interdependentes e
gem no nível do desenvolvimen- Nessa perspectiva, avança-se contínuos; ou seja, possuem uma
to atingido, (p.82) do sujeito ativo de Piaget para o identidade que pressupõe que um
A abordagem sociointeracio- sujeito interativo de Vygotsky. O seja convertido no outro. Nessa
nista/vygotskiana, ao afirmar que professor recupera o seu papel, e o perspectiva, a ação da criança não
a cultura faz parte da natureza ato de ensinar, a sua função. O se dá apenas no nível individual a
humana, redefine as relações entre nível individual de construção do fim de construir seu próprio
desenvolvimento e aprendizagem conhecimento é questionado, ins- conhecimento, mas sim no nível
criando novas possibilidades de taurando-se o nível coletivo da coletivo, agindo interativamente,
intervenção na sala de aula. Isto construção sem, no entanto, des- co-construindo conhecimentos.
porque, sabendo que a aprendiza- considerar a ação intrapsíquica de Essa perspectiva faz uma sín-
gem estimula o desenvolvimento cada um. A preocupação com o tese das outras perspectivas,
sabemos também que o conteúdo 'erro' desaparece, e uma outra demonstrada na formulação do
escolar que é aprendido é incorpo- forma de avaliação é possível atra- conceito de "Zona do Desenvolvi-
rado como desenvolvimento men- vés do conceito de "Zona do mento Proximal". Esse conceito
tal pelos aprendizes. Assim, situa- Desenvolvimento Proximal". A traz uma perspectiva de futuro
ções escolares muitas vezes desva- criança, enquanto aprende, desen- para a prática pedagógica, a busca
lorizadas passam a ser valorizadas volve suas capacidades cognitivas de conhecimentos e não de respos-
e constitutivas do processo de e adquire novas habilidades. Da tas corretas, restitui o papel do
ensino e aprendizagem. É na ação mesma forma, ao se desenvolver, professor e a função do ensino,
compartilhada, na ação dialógica, constrói estruturas que lhe possibi- contrapõe-se a uma aprendizagem
que os aprendizes vão construindo litam novas aprendizagens, já que descontextualizada e institui uma

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profunda interação entre os indiví- processo múltiplo, não havendo gia, têm atuado para nos ajudar a
duos na prática pedagógica. Pro- uma única forma de ensinar ou de compreender melhor os conceitos
move avaliações prospectivas, ou aprender os conteúdos escolares. de desenvolvimento e aprendiza-
seja, com o olhar voltado para Assim sendo, avaliar esse proces- gem. As Neurociências, a Antro-
aquilo que ainda pode ser aprendi- so múltiplo exige múltiplas meto- pologia e a Sociologia vêm estabe-
do e desenvolvido com ajuda ou dologias, próprias para cada situa- lecendo diálogos fecundos e pro-
mediação dos outros e da lingua- ção de ensino-aprendizagem vi- porcionando-nos outros e novos
gem. Sendo assim, procura-se tra- venciada. Exige que reconheça- olhares para o aprender e o desen-
balhar para incluir os alunos no mos as singularidades dos sujeitos volver do ser humano. •
processo de ensino e aprendiza- aprendizes e suas formas de
gem. Aqueles que apresentam difi- aprender. Exige que reconheça-
culdades • estariam junto com os mos as singularidades dos sujeitos Referências bibliográficas
que não apresentam e com os pro- que ensinam e suas formas de ESTEBAN, Maria Teresa. Repensando o fra-
casso escolar. In: Cadernos Cedes,
fessores, até que consigam realizar ensinar. Nessa relação entre pro- n.28. Campinas/S.P: Papirus, 1992.
FERRERO, Emília & TEBEROSKY, Ana. Psico
independentemente as tarefas pro- fessores e estudantes não acontece gênese da leitura e da escrita. Porto
postas. Alegre: Artes Médicas. 1985.
apenas a transmissão de conheci-
GIUSTA, Agnela da Silva. Concepções de
Na perspectiva sociocultural, mentos; o professor não está Aprendizagem e Práticas Pedagógi-
cas. Educação em Revista, n.l,
aprender é mais do que memori- somente "dando uma aula", ele jui 1985.
LIMA, Elvira Souza Desenvolvimento e
zar. Envolve, além da memoriza- está também aprendizagem na escola: aspectos
culturais, neurológicos e psicológicos.
ção de conteúdos significativos (...) intervindo nos pro- São Paulo: Série "Separatas", GEDH -
para os alunos, o raciocínio, a Grupo de Estudos do Desenvolvimento
cessos de desenvolvimento
Humano, 1997.
capacidade de fazer relações entre que estão em progresso em MORTIMER, Eduardo Fleury. Evolução do
Atomismo em sala de aula: mudança
o que se aprende na escola e o que cada um de seus alunos. Desta de perfis conceituais. São Paulo: USP/
Faculdade de Educação, 1994. (Tese
se vive fora dela e entre os pró- forma, sua ação tem inúmeras de doutorado)
prios conteúdos. Portanto, apren- conseqüências que não são PIAGET, jí Seis estudos de Psicologia. R.J:
Forense, 1969.
der os conceitos, os contelidos visíveis nem imediatamente Os Pensadores. Abril Cultural, 2.
edição,' 1983.
escolares, vai além da aquisição tangíveis, extrapolando a mera REGO, Teresa Cristina. Rio de Janeiro: A ori-
gem da singularidade humana; In:
de habilidades, deve produzir algo transmissão e recepção de Cadernos Cedes, n. 35, Campinas/SP:
novo no desenvolvimento dos informações. (Lima, 1997, Papirus, 1995.
SACRISTÁN, J.G. La educacion obligatoria:
aprendizes, pois, "o aprendizado p.21/22) su sentido educativo y social. Madrid:
Ediciones Morata, S.L. 2000.
humano pressupõe uma natureza Desta feita, ainda concordan- SCHULTZ, Duane R & SCHULTZ, Sydney
Ellen. História da Psicologia 'Moderna.
social específica e um processo do com Lima (1997), a escola São Paulo: Cultrix, 1998.
através do qual as crianças pene- transforma-se num espaço de
VYGOTSKY, L.S. A formação social da •
mente: o desenvolvimento dos proces-
tram na vida intelectual daquelas desenvolvimento e aprendizagem sos psicológicos superiores. S.R: Martins
Fontes, 1989.
que as cercam" (Vygotsky, 1989, em que várias áreas do conheci- Obras esjßogidas, v, II,
• Madrid: Aprendizage: Visor, 1934,
p.99). Aprender, portanto, é um mento, e não somente a Psicolo-

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