desenvolvimento e
aprendizagem:
CONSEQUÊNCIAS
na SALA de AULA
MARIA DE FÁTIMA CARDOSO GOMES*
Dito dessa forma, Vygotsky cultura, enfim, do patrimônio his- que nos leva a ressignificar o
difere seu pensamento tanto do tórico da humanidade e de seu pró- valor das interações sociais na
pensamento behaviorista quanto prio grupo cultural". (Rego, 1995, sala de aula. Permite-nos redimen-
pensamento da Gestalt, pois não culturais, os indivíduos não preci- a prática escolar até aqui discuti-
admite a predominância do objeto sam da mediação; tornam-se inde- das, com base nas abordagens
(como no Behaviorismo) nem a pendentes, constituindo assim um anteriores, pois precisa considerar
predominância do sujeito (como modo próprio de ser, de pensar e o sujeito que aprende como um
na Gestalt), na relação sujei- de sentir, tendo a fala (entendida sujeito interativo, ativo e único no
to/objeto. Aproxima-se de Piaget como instrumento ou signo) como seu processo de construção do
quando defende a relação de inte- organizadora, preponderante, das conhecimento. Processo que ele
ração entre Sujeito e objeto na funções psicológicas superiores e (sujeito) não recebe passivamente;
os conhecimentos não se restrin- ção das capacidades indivi- truindo o conceito de "Zona de
gem à atividade espontânea e indi- duais. (Rego, 1995, p.88) Desenvolvimento Proximal", que
vidual do sujeito, que, apesar de Vygotsky, ao elaborar um é definido como
ser importante, não é suficiente olhar diferenciado para a gênese (...) a distância entre o
para a apropriação dos conheci- humana, possibilita um novo olhar nível de desenvolvimento que
mentos acumulados pela humani- para as práticas pedagógicas, um se costuma determinar atra-
dade. Para tanto, a intervenção do olhar prospectivo, direcionado vés da solução independente
professor é fundamental no pro- para o futuro, e não apenas para o de problemas, e o nível de
cesso de construção do conheci- que os alunos já conseguem fazer desenvolvimento potencial,
mento como alguém que tem mais sozinhos, pois valoriza o que determinado através da solu-
experiência, que conhece mais ainda está por ser construído com ção de problemas sob a orien-
sobre o assunto, assim como as a ajuda de outros. Para desenvol- tação de um adulto ou de
trocas entre crianças, que são ver essa visão prospectiva do ensi- companheiros mais capazes.
importantes no processo de ensino no e da aprendizagem, Vygotsky (Vygotsky, 1989, p.97)
e aprendizagem. discute com as abordagens ante- Essa noção de ZDP surge para
Dessa maneira, a hetero- riores as relações entre desenvol- avaliar as habilidades cognitivas
geneidade, característica pre- vimento e aprendizagem. Para ele, das crianças e os processos instru-
sente em qualquer grupo aprendizagem e desenvolvimento cionais. (Wertsch & Stone, 1985,
humano, passa a ser vista não coincidem, nem o desenvolvi- p. 163, citado por Mortimer, 1994,
como fator imprescindível mento está na frente da aprendiza- p.107)
para as interações na sala de gem. Ao contrário, o processo de Há várias interpretações acer-
aula. Os diferentes ritmos, desenvolvimento progride de ca da ZDP e sua tradução para a
comportamentos, experiên- forma mais lenta do que o da prática pedagógica. Entretanto,
cias, trajetórias pessoais, con- aprendizagem e desta seqüencia- duas delas são mais expressivas
textos familiares, valores e ção surgem as zonas de desenvol- nas escolas:
níveis de conhecimentos de vimento proximal. Isto é, ao
cada criança (e do professor) dominar uma operação, a criança
como uma "zona de construção"
imprimem ao cotidiano esco- está começando seu processo de
em que a comunicação é possível
lar a possibilidade de troca de desenvolvimento de processos
pela apropriação que o professor
repertórios, de visão de internos altamente complexos.
faz da representação do aluno,
mundo, confrontos, ajuda Ele procura, então, fazer uma sín-
"como se" ela fosse parte do seu
mútua e conseqüente amplia- tese (criação de algo novo) cons- y
sistema, permitindo que as cons-