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[R]
Resumo
[a]
Doutora em Educação pela O presente trabalho constitui um estudo bibliográfico que propõe uma análise compreensiva dos
Universidade Estadual Paulista
enfoques construtivista e socioconstrutivista na educação brasileira e suas implicações na profis-
(Unesp), membro do Grupo
de Pesquisa em Educação da são docente. Com esse propósito, detemo-nos na análise e discussão desses dois grandes núcleos
Universidade do Oeste Paulista como geradores de questionamentos sobre a complexidade real do contexto educacional. O pri-
(Unoeste), Presidente Prudente,
meiro, o construtivismo, surge como consequência das discussões negativas a respeito do papel re-
SP - Brasil, e-mail:
elzamondin@hotmail.com produtivista da escola; o segundo, o socioconstrutivismo, vem como uma nova perspectiva teórica,
como uma tentativa de solucionar os problemas educacionais não resolvidos pelo construtivismo.
[b]
Doutora em Educação pela
Universidade Estadual Paulista
Infelizmente, os docentes nem sempre conseguem tirar suficiente proveito dos resultados dessas
Júlio de Mesquita Filho (Unesp), concepções psicológicas e a realidade de nossas escolas continua dominada pela cultura pedagó-
docente do Programa de Mes- gica tradicional. [#]
trado em Educação, membro do [P]
Grupo de Pesquisa em Educação Palavras-chave: Profissão docente. Construtivismo. Socioconstrutivismo. [#]
da Universidade do Oeste Paulista
(Unoeste), Presidente Prudente,
SP - Brasil, e-mail:
kkaludias@gmail.com
A autora explica que é necessário pensar se- ... o motor é constantemente uma operatividade irre-
riamente sobre a parte de responsabilidades que dutível e espontânea e esta operatividade não é nem
pré-formada de uma vez por todas nem explicável
nos cabe. Somos responsáveis pelo crescente auto-
por suas contribuições exteriores da experiência ou
matismo e pela ausência de motivação das nossas
da transmissão social: ela é o produto de sucessivas
crianças. Enfrentar o cotidiano das escolas é difícil
construções, e o fator principal desse construtivismo
para muitas. E, o que é mais trágico, a recusa ao é um equilíbrio por auto-regulações que permitem
crescimento intelectual é considerada imanente às remediar as incoerências momentâneas, resolver os
primeiras etapas da escolarização. Tudo é tão “natu- problemas e superar as crises ou os desequilíbrios
ral” que poucos se questionam se as crianças terão por uma elaboração constante de novas estruturas
que a escola pode ignorar ou favorecer, segundo mé- leva a pessoa a mudar de assimilação para a acomo-
todos empregados. dação, ao longo de todo a vida.
Supunha Piaget que no processo da adaptação a
Com base nessas palavras, Papalia e Olds (2000) criança está sempre lutando por coerência para fi-
esclarecem que o núcleo do comportamento inteli- car “em equilíbrio”, para chegar a um entendimento
gente para Piaget é uma capacidade inata de adap- do mundo que faça sentido total.
tar-se ao ambiente. Bee (1996, p. 194) explica que a ideia central de
Usando suas capacidades sensoriais e reflexas, as Piaget era:
crianças, no início da vida, aprendem e atuam sobre
o ambiente que as cerca. Piaget descreve o desenvol- … de que a criança é uma participante ativa no de-
vimento mental como uma série de fases ou estágios. senvolvimento do conhecimento, construindo seu
Em cada um deles, a criança desenvolve um modo novo próprio entendimento. Esta idéia, talvez mais do que
qualquer outra, influenciou o pensamento de todos
de pensar e responder ao ambiente. Dessa maneira,
que seguiram Piaget. A metáfora moderna é a da
observa-se que cada fase constitui uma mudança de
criança como um “pequeno cientista”, engajado numa
caráter qualitativo de um tipo de pensamento ou com-
ativa exploração, buscando entendimento e conhe-
portamento para o outro. E cada uma delas ancora-se cimento. Ao construir esse entendimento, segundo
na fase anterior e assim constrói os alicerces para a Piaget, a criança tende a adaptar-se ao mundo que a
seguinte. O desenvolvimento mental, no enfoque pia- cerca de maneiras cada vez mais satisfatórias. Na teo-
getiano, ocorre mediante três princípios coordenados ria de Piaget, esse processo de adaptação é constituí-
entre si: a organização, a adaptação e a equilibração, do por vários subprocessos vitais.
que operam em todas as fases desenvolvimentais e
afetam todas as interações com o ambiente. Não é difícil perceber que nas ideias piagetianas
O primeiro princípio, o de organização, refere-se a respeito do desenvolvimento intelectual aparece
à criação de sistemas de conhecimento cada vez mais sempre a noção de construção do conhecimento.
complexos. Desde o nascimento, a pessoa organiza o Nos esclarecimentos de Seber (1997), essa concep-
que conhece por meio de representações mentais da ção de construção não pode ser isolada do desen-
realidade, permitindo a ela a compreensão do seu volvimento da inteligência. Além do fator heredi-
mundo. Nessas representações sucessivas, observa-se tário presente no desenvolvimento, a inteligência
a presença de estruturas denominadas “esquemas” constitui estruturas próprias, estruturas de conhe-
que são padrões organizados de comportamento que cimento. Construídas no decorrer das interações, as
a pessoa usa para pensar e agir diante de uma situa- estruturas cognitivas evoluem mediante a influên-
ção. O segundo, o da adaptação refere-se à maneira cia mútua de fatores externos, do meio, e de fatores
como uma pessoa lida com novas informações. Ela internos, próprios da organização intelectual.
envolve duas etapas, a da assimilação, que significa Os objetos a serem conhecidos pertencem à rea-
tomar uma informação e incorporá-la em estruturas lidade e a inteligência (atividade do sujeito) passa a
cognitivas existentes, ou formas de pensar, e outra, a conhecer gradativamente esses objetos do ambien-
da acomodação, significando que a pessoa muda suas te por meio de sucessivas construções, permitindo
ideias ou estruturas cognitivas em decorrência da in- uma aproximação cada vez maior com essa realidade.
clusão do novo conhecimento. O conhecimento não progride mediante simples re-
Os esquemas largamente utilizados no constru- cordações de informações dadas, mas principia nas
tivismo piagetiano representam um conceito dos trocas que o sujeito mantém com o mundo. Assim, o
mais difíceis de serem compreendidos. O termo “es- conhecer não consiste em copiar o real, mas em agir
quema” é frequentemente utilizado como mais ou sobre ele e transformá-lo, de modo a compreendê-lo
menos análogo a “conceito”, “categoria mental” ou em função dos sistemas de transformação aos quais
“complexo de ideias”. estão ligadas essas ações. Qual seria, então, a definição
Por fim, o terceiro princípio, o da equilibração, de inteligência no enfoque de Piaget?
consiste na busca constante por um estado de equi- O termo “inteligência”, segundo Piaget, indica
líbrio explicado pela ausência de conflito entre a um coletivo, que designa um grande número de
pessoa e o mundo exterior e entre as suas próprias processos e de mecanismos explicados um a um,
estruturas cognitivas. A necessidade do equilíbrio seguindo a sequência de seus desenvolvimentos.
Em outras palavras, a inteligência representa a co- O ponto que mais tem sido mal compreendido refe-
ordenação de operações ou de esquemas, o que sig- re-se, conforme Seber (1997), à ideia de construção,
nifica adaptação às situações novas, sendo, portan- de que as estruturas são novas, que nem existiam
to, uma construção contínua das estruturas. no sujeito, nem no objeto, mas que são construídas.
Do ponto de vista funcional, Seber explica que O conhecimento, conforme a autora, não é predeter-
minado desde o nascimento da criança, tampouco
A inteligência constitui uma totalidade organizada evolui de fora para dentro mediante, exclusivamen-
que se transforma e ao mesmo tempo se conserva te, fatores sociais de troca, mas, ao contrário, é edi-
funcionando. Esse funcionamento implica assimila- ficado pela criança enquanto interage com o meio.
ção de informações aos seus esquemas de ação e aco- Montoya (2004) defende que para o educador se
modação desses esquemas às particularidades dos
afaste do pressuposto de que os conhecimentos po-
objetos assimilados. Do ponto de vista estrutural, a
dem ser simplesmente transmitidos e aprendidos
inteligência vai evoluindo num processo de mobilida-
numa ordem lógica e predeterminada, ele deverá
de crescente e reversível, como vimos a respeito da
coordenação geral dos esquemas (Seber, 1997, p. 79). conhecer os processos e mecanismos intelectuais
envolvidos na aprendizagem dos conteúdos.
A formação de inteligência e a natureza ativa Prossegue o autor,
dos conhecimentos enfatizados por Piaget (2008)
somente ocorrerá quando o objetivo principal do Embora exista consciência da necessidade desse co-
ensino dirigir-se ao desenvolvimento da própria in- nhecimento para a ação pedagógica e educacional, o
teligência, e sobretudo aprender a desenvolvê-la o pensamento e a obra desse autor infelizmente foram
reduzidos ao desenvolvimento das estruturas lógico-
mais longamente possível, isto é, além do término
-matemáticas, particularmente aos seus estágios su-
da vida escolar. As funções essenciais da inteligên-
cessivos. Essa forma de leitura contribuiu e muito
cia consistem na compreensão e invenção, em resu-
para o empobrecimento de seu pensamento e limitou,
mo, construção de estruturas (estrutura do real). assim, a sua contribuição para a ação educacional
Os conhecimentos derivam das ações. Conhecer um (Montoya, 2004, p. 159).
objeto corresponde a agir sobre ele e transformá-lo,
aprendendo os mecanismos dessa transformação
vinculados com as ações transformadoras. Na ver- É preciso reconhecer que a educação tradicional
dade, é legítimo concluir que o desenvolvimento da sempre considerou a criança como um pequeno adul-
inteligência constitui a construção prévia e necessá- to, em uma visão adultocêntrica; um ser que racioci-
ria da eficiência de todo o ensino. na e pensa como nós, mas simplesmente desprovido
de conhecimentos e de experiências. Sendo a criança
apenas um adulto ignorante, o trabalho do professor
A dificuldade dos docentes nas práticas não era tanto de formar o pensamento, mas de equipá-
referenciais piagetianas -lo; consequentemente, as matérias ou disciplinas im-
postas eram consideradas suficientes ao exercício.
O construtivismo, sem dúvida alguma, abre um Por outro lado, vale considerar que três aconte-
novo olhar sobre o aluno e a construção ativa de seu cimentos, segundo Piaget (2008), colaboram para
desenvolvimento. Os docentes podem ter, com base os maus resultados no campo educacional em todos
nas ideias piagetianas, a possibilidade de reavaliar os países: o primeiro revela o aumento vertiginoso
suas práticas educativas e reelaborar suas concep- do número de alunos, um avanço significativo à de-
ções acerca da aprendizagem. A teoria de Piaget manda escolar, incentivado pelo acesso a todos, de
efetivamente se impõe como um dos estudos cien- acordo com nossas leis. O segundo, uma consequên-
tíficos mais completos comparados com outros que cia natural do primeiro, refere-se à dificuldade de
surgiram no século XX. As suas explicações a respei- recrutamento de pessoal docente suficientemente
to da construção do conhecimento repercutiram nas formado. O terceiro refere-se, sobretudo, às novas
ciências humanas e biológicas, no desenvolvimento necessidades econômicas, técnicas e científicas
da psicologia, nas práticas pedagógicas. Vale comen- das comunidades em que a instrução pública está
tar, entretanto, o descaso demonstrado por parte sendo organizada. Tais acontecimentos intervêm
de muitos docentes quando se referem à sua obra. notavelmente na seleção dos métodos de ensino e
conduzem a conflitos compreensíveis entre outros a) Respeito à produção do aluno — uma ideia con-
métodos verbalistas tradicionais, cuja prática não sensual, mas que ainda é difícil de ser colocada
exige formação avançada; já os métodos ativos se em prática. Se conhecer é inerente ao ser huma-
tornam cada vez mais necessários quando se visa no, porque disso depende a sua sobrevivência,
a formação de quadros técnicos e científicos dentro todos podem aprender, independentemente da
do campo profissional docente. Toda teoria do autor sua idade, sexo, cor, classe social.
em estudo, de acordo com Rappaport (1981), con- b) Espaço para o aluno testar suas hipóteses —
verge para uma visão interacionista. A criança, em o conhecer inicia-se com a ação. Conhecemos
um processo ativo de interação, faz uso de mecanis- agindo sobre o objeto a conhecer, seja ele per-
mos para compreender o mundo. tencente à realidade concreta ou à realidade
Para Piaget (Aebli, 1973), a adaptação à realidade abstrata.
externa depende basicamente do conhecimento. Só o c) Trabalho em grupo como facilitador do
conhecimento possibilita ao ser humano um estado de aprendizado — o conhecer se dá na integra-
equilíbrio interno que o torna pronto para adaptar-se ção dos indivíduos com os objetos a conhecer
ao meio ambiente. Existe para ele uma realidade ex- e entre os indivíduos. Por isso o trabalho coo-
terna ao sujeito do conhecimento, e é a presença dessa perativo é mais fértil.
realidade que regula e corrige o desenvolvimento do
adaptativo. A função do desenvolvimento não consiste
em produzir cópias internalizadas da realidade exte- O aspecto afetivo das construções cognitivas
rior, mas em produzir estruturas lógicas no sujeito a
fim de que atue sobre o mundo de formas cada vez Embora distintas, a vida afetiva e vida cogni-
mais flexíveis e complexas. tiva são inseparáveis, lembra Piaget em sua obra,
conforme Seber (1997). O ato de inteligência pres-
A aplicação da psicologia de Jean Piaget à didática deve supõe uma regulação energética interna como in-
ter seu ponto de partida na tese fundamental segundo a teresse, esforço, facilidade etc. Assim, é possível
qual o pensamento não é um conjunto de termos estáti- afirmar que a compreensão de qualquer conteúdo
cos, uma coleção de ‘conteúdos de consciência’, de ima-
não se concretiza sem a vivência de certos senti-
gens, etc., mas um jogo de operações vivas e atuantes.
mentos e contrariamente não existem afeições sem
Pensar é operar – quer se trate de assimilar os dados da
um mínimo de compreensão. O interesse refere-se
experiência submetendo-os aos esquemas de atividade
intelectual ou de construir novas operações por uma à relação afetiva entre a necessidade e o objeto de
reflexão, ‘abstrata’ na aparência, isto é, operando inte- sua satisfação.
riormente sobre objetos imaginários. A imagem não é o A afetividade ou sua privação certamente podem
elemento fundamental do pensamento, antes constitui causar a aceleração ou atraso no desenvolvimento
seu suporte, muitas vezes útil, sem dúvida, mas não in- cognitivo. Entretanto, isso não significa que a afeti-
dispensável (Aebli, 1973, p. 87). vidade crie ou modifique as estruturas cognitivas,
cuja necessidade permanece intrínseca. Os meca-
Ainda na visão do autor, quando se diz que o alu- nismos afetivos e cognitivos de fato são indissociá-
no deve conhecer certas matérias, significa que deve veis, embora distintos.
aprender a executar certas operações. São sempre as Essas relações entre os desenvolvimentos cogni-
operações que definem as noções, e é sua execução tivo e afetivo foram percebidas por Piaget (1969),
que o ensino deve provocar, primeiro efetivamente e embora ele tenha direcionado suas pesquisas prin-
depois sob forma “interiorizada” ou representativa. cipalmente para o desenvolvimento cognitivo — in-
Vale repetir que Piaget revela a ligação fundamental teresse pelo sujeito epistêmico; “existe, com efeito,
entre ação e aprendizagem; uma vez que a verdadeira um paralelo constante entre a vida afetiva e a inte-
aprendizagem depende da atividade do aluno, “ati- lectual. E este paralelismo se seguirá no curso de
vidade” não representa um acréscimo caprichoso ao todo o desenvolvimento da infância e adolescência”
currículo para provocar mais prazer às crianças, mas (Piaget, 1969, p. 21).
o elemento necessário em toda habilidade de aprendi- Emoção e inteligência são duas propriedades in-
zagem. Alguns princípios piagetianos podem ser úteis separáveis da atividade humana. Nenhuma ativida-
e valiosos na prática docente: de, por mais intelectual que seja, suprime a emoção,
nenhuma situação emocional, por mais intensa que Mas o que torna o trabalho em equipe uma for-
seja, elimina completamente a presença da razão. ma de atividade socializada, é igualmente o fato de
Assim, na escola, como em qualquer instância implicar discussão, intercâmbio de ideias entre os
social, o indivíduo está presente como pessoa com- elementos dos grupos. Os estudos de Piaget nos
pleta, sujeito de conhecimento, sujeito de afeto. informam sobre o efeito favorável da discussão em
Portanto, a escola não deve negligenciar, subesti- comum na construção das noções e operações. No
mar ou até mesmo suprimir o espaço da emoção em início dos trabalhos grupais, muitos alunos apre-
suas atividades. sentam tendência para encarar um problema dado
A motivação, o afeto, o prazer, o desprazer, o unicamente de seu próprio ponto de vista. Durante
empenho e o interesse constituem a relação que as discussões, cada aluno tem a oportunidade de
liga a situação exterior ao nível de construção das descobrir que seus pares encaram o objeto de estu-
estruturas da pessoa. Quando ela se interessa por do a partir de outro ponto de vista e, por conseguin-
algo significa que ela está de posse de certas es- te, propõem soluções diferentes da sua. Se vários
truturas passíveis de assimilar o que lhe propõem grupos trabalham na solução do mesmo problema,
(Seber, 1997). Nenhuma situação exterior é em si podem ser reunidos depois para comparar e discu-
mesma interessante, desafiadora, fácil ou difícil, tir os diferentes caminhos de solução. Com relação à
pois tudo depende de esquemas de assimilação. cooperação, Piaget (2008, p. 184) revela:
Quando a preocupação do professor é basicamente
a transmissão de conhecimentos, ou seja, conteú- Do ponto de vista intelectual, é ela que está mais apta
dos, acontecem os comportamentos de desinteres- favorecer o intercâmbio real do pensamento e da dis-
se e de desprazer. cussão, isto é, todas as condutas suscetíveis de edu-
carem o espírito crítico, a objetividade e a reflexão
discursiva. Do ponto de vista moral, ela chega a um
exercício real dos princípios da conduta, e não só a
A cooperação e a atividade operatória
submissão exterior. Dizendo de outra maneira, a vida
social, penetrando na classe pela colaboração efetiva
De acordo com Aebli (1973), a pesquisa pessoal do dos alunos e a disciplina autônoma do grupo, impli-
aluno conduz à construção das operações, a partir de ca o ideal mesmo de atividade que precedentemente
um problema, objeto da pesquisa. Quando esse objeto descrevemos como característico da escola moderna:
é de ordem cognitiva, os conhecimentos adquiridos ela é a moral em ação, como o trabalho ‘ativo’ é a in-
tornam-se hábitos intelectuais rígidos. Para que isso teligência em ato. Muito mais, a cooperação conduz a
não ocorra, sugere-se a cooperação dos alunos nos um conjunto de valores tais como o da justiça baseada
trabalhos de pesquisa, com o objetivo de favorecer na igualdade e o da solidariedade ‘orgânica’.
conhecimentos adquiridos com mobilidade operató-
ria, capazes de generalização, extensas aplicações e Com base em suas palavras, é possível concluir que
desenvolvimentos novos. Somente o pensamento ope- cooperar na ação é operar em comum, isto é, ajustar
ratório torna a criança capaz de participar das ativida- por meio de novas operações (as operações realizadas
des de um grupo. por cada um de seus pares). A cooperação e as opera-
ções agrupadas são, pois, uma única realidade focada
Possuindo uma inteligência que só conhece hábitos e em dois aspectos diversos, ou seja, é um meio de tor-
intuições egocêntricas, a criança não pode compreen- nar comuns as operações de cada um.
der pontos de vista diferentes do seu, o que a torna Quando a socialização da criança progride, ex-
inapta para a cooperação. Mas, uma vez que a forma- plica Oliveira Lima (1980), em decorrência de seu
ção da inteligência operatória está em marcha, a dis-
desenvolvimento mental, produz-se uma mudança
cussão em comum, exigindo a adaptação de cada um
profunda nos seus processos mentais. As interações
à posição dos outros, tende a tornar móvel e lógico o
entre as pessoas forçam o descongelamento das
pensamento da criança. A aplicação que a escola deve
fazer desses ensinamentos psicológicos é evidente. instituições e das crenças, exigindo reversibilidade,
Na medida do possível, deve dar uma forma socializa- sem as quais é impossível a cooperação. Daí se con-
da às atividades dos alunos. Este postulado é realiza- clui que, num certo momento do desenvolvimento,
do na discussão em comum e no trabalho em equipes as práticas docentes devem centrar-se na socializa-
(Aebli, 1973, pp. 109-110). ção, como em dinâmicas de grupo. É possível que, a
partir daí, os processos didáticos que compartimen- um permanente desafio, é necessário destacar que
talizam as crianças em sala de aula venham a sofrer essa tensão entre ambos, ocorreu com o construti-
profundas mudanças. vismo como ocorre também com relação ao referen-
Nesse sentido, é importante acrescentar as pa- cial teórico vygotskyniano. Para fundamentar uma
lavras de Piaget (1998), registradas por Montoya concepção de educação, é preciso lembrar que as
(2004, p. 177): produções de Vygotsky não podem ser considera-
das como uma teoria plenamente organizada como
a educação forma um todo, e a atividade que a criança argumenta a autora:
executa com relação a cada uma das disciplinas escola-
res supõe um esforço de caráter e um conjunto de con- Para qualificar o conjunto de sua obra, efetivamente,
dutas morais, assim como supõe uma certa tensão da como um sistema explicativo completo e articulado,
inteligência e mobilização de interesses. Esteja ocupada é necessário rever e ponderar sobre aspectos que
em analisar regras da gramática, em resolver um pro- denotam algumas lacunas e contradições teórico-
blema de matemático ou em documentar um ponto da -metodológicas. Sua produção aparenta ser composta
história, a criança que trabalha ‘ativamente’ é obrigada, de "textos jovens, escritos com entusiasmo e pressa”
não só diante de si como diante do grupo social que é a (Pimentel, 1999, p. 15).
classe ou a ‘equipe’ da qual faz parte, a comportar-se de
modo muito diferente do aluno tradicional que escuta Além disso, é necessário levar em conta que a
uma lição ou realiza um ‘dever’ escolar. abordagem vygotskyniana para a realidade atual
brasileira merece um cuidadoso trabalho de adap-
Para que a educação de crianças se torne opor- tação ao contexto e ao seu momento histórico.
tunidades de construção de uma personalidade
autônoma, conclui Seber (1997), é necessário o en-
tendimento a respeito da criança e do processo de A interação social e a perspectiva histórico-cultural
aprendizado; e nisso a teoria piagetiana pode nos
ajudar certamente. Conhecendo melhor as crianças, A interação social, na proposição de Vygotsky, é
os professores terão chances de realizar um bom enfocada como um processo interativo-comunicativo.
trabalho e com o conjunto desses conhecimentos Para compreendê-lo, será necessário considerar a no-
haverá a esperança de, pelo menos, transformar as ção de intersubjetividade em que o outro existe como
escolas em instituições que dignifiquem o homem. princípio para a constituição do sujeito, dado que to-
das as funções superiores (psíquicas) originam-se das
interações sociais entre indivíduos humanos.
O enfoque socioconstrutivista1: Uma alternativa O processo de ensinar caracteriza-se como uma
vygotskyniana ação intersubjetiva com atribuições, trocas e transfor-
mações de sentidos, ao mesmo tempo que se constro-
As ideias construtivistas que floresceram na dé- em, com certa estabilidade, os significados definidos
cada de 1980 transformaram-se em uma resposta como “conteúdos” da aprendizagem realizada.
para a busca de educadores e pesquisadores por um Dessa maneira, a interação professor-aluno e alu-
suporte teórico que auxiliasse a solucionar o grande nos entre si tem um caráter marcadamente dialógi-
problema da educação que até hoje enfrentamos. co; todas as funções no desenvolvimento da criança
De forma similar, a partir da década de 1990, surgem duplamente: primeiramente, no nível social,
muitos educadores passaram a desenvolver suas ou seja, interpessoal; e, posteriormente, no nível in-
práticas baseando-se em nova perspectiva teóri- dividual (intrapessoal). É preciso considerar que este
ca denominada socioconstrutivismo, oriundo da processo ocorre no interior de atividades mediadas.
psicologia histórico-cultural de Lev Semenovich É a partir das relações sociais que as funções psico-
Vygotsky. Sob a ótica de Pimentel (1999), tendo em lógicas superiores se desenvolvem na perspectiva
vista que a relação entre teoria e prática constitui vygotskyniana — as atividades da criança, desde o seu
1
Gostaríamos de esclarecer que o termo “socioconstrurivismo” se refere a um desmembramento que os teóricos da educação fizeram
da Teoria Histórico-Cultural de Vygotsky.
nascimento, adquirem um significado próprio em um É o processo pelo qual o indivíduo adquire in-
sistema de comportamento social, pois a relação entre formações, habilidades, atitudes e valores em seus
objeto e criança e, de forma inversa, entre criança e ob- contatos com a realidade, o meio ambiente, as ou-
jeto são mediados pelo outro. tras pessoas. Convém não esquecer que a ideia de
Mello (2004), com base em Vygotsky, esclare- aprendizado incluí a interdependência dos indiví-
ce que as funções psíquicas humanas, tais como o duos envolvidos no processo.
pensamento, as linguagens oral e escrita, o cálculo, Com base em Van Der Veer e Valsiner (1996),
o controle da própria conduta, antes de se torna- Vygotsky compreendia que aprendizagem e de-
rem internas ao indivíduo, necessitam ser expe- senvolvimento são processos distintos e não pode-
rimentadas nas relações entre as pessoas; não se riam ser confundidos; porém, o desenvolvimento
desenvolvem espontaneamente, ou seja, não exis- da criança não pode ser visto de forma isolada em
tem no indivíduo como uma potencialidade, são relação ao processo de aprendizagem. Isto o levou
antes de mais nada, vivenciadas inicialmente sob a concluir que o ensino só é efetivo quando aponta
a forma interpsíquica (entre pessoas) para, só de- para o caminho do desenvolvimento.
pois assumirem a forma de atividade intrapsiquíca As características inatas do indivíduo, conforme
(dentro da pessoa). Conclui-se, assim, que o traba- (Mello, 2004), são condição essencial para seu de-
lho docente é fundamental para dirigir de modo senvolvimento, mas são insuficientes, pois a força
intencional o processo educativo. Do ponto de vis- motora em relação a esse desenvolvimento é inexis-
ta da teoria histórico-cultural, o educador deverá tente. Em outros termos, com base na teoria histó-
trabalhar para garantir a reprodução em que cada rico-cultural, sem a cultura, o desenvolvimento ti-
novo ser humano precisa se apropriar das qualida- picamente humano não ocorrerá, conclui-se, então,
des e aptidões humanas já criadas pelos homens que a aprendizagem antecede ao desenvolvimento,
no decorrer de suas vidas, garantidas pela trans- possibilitando-o e impulsionando-o.
missão da cultura. Camargo (1999) expõe que o papel da escola é
tornar cotidiano o conhecimento científico, isto é, a
ciência deve tornar-se vinculada à vida humana, acar-
O desenvolvimento e a aprendizagem retando transformação de significados, e basicamente,
de sentidos. Por conseguinte, o professor deve ser me-
São temas centrais dos trabalhos do autor a diador, ao aproximar os saberes de seus alunos e da es-
aprendizagem, o desenvolvimento e as relações cola e valorizar as experiências do sujeito na busca do
entre eles. Oliveira (1993) explica que, além de sua conhecimento sistematicamente organizado. A ação
preocupação constante com a questão do desenvol- mediadora é capaz de movimentar os processos inter-
vimento, paralelamente expõe a importância dos nos, permitindo a produção de vínculos entre o conhe-
processos de aprendizado. cimento que o indivíduo já possui e os novos conheci-
Para Vygotsky, de acordo com Oliveira (1993, mentos a serem adquiridos. Quando o conhecimento
p. 56), científico aproxima-se do cotidiano, a ciência perde a
aura de que seu domínio é restrito aos cérebros mais
… desde o nascimento da criança, o aprendizado está iluminados. Ela só terá sentido quando ancora a práxis
relacionado ao desenvolvimento e é ‘um aspecto ne- do homem e a prática, sendo melhor compreendida
cessário e universal do processo de desenvolvimento com a explanação científica. Como teoria e prática são
das funções psicológicas culturalmente organizadas e
inseparáveis, conforme Mello (2004), não há qualquer
especialmente humanas’. Existe um percurso de de-
razão em criar entre elas uma dicotomia.
senvolvimento, em parte definido pelo processo de
Com essa reflexão, observa-se que o proces-
maturação do organismo individual, pertencente à es-
pécie humana, mas é o aprendizado que possibilita o so de aprendizagem é sempre ativo (sujeito que
despertar de processos internos de desenvolvimento aprende). Portanto, ao apropriar-se de um objeto,
que, não fosse o contato do indivíduo com certo am- é necessário que o aluno reproduza, com o objeto, o
biente cultural, não ocorreriam. uso social para o qual ele foi criado. Esse processo,
por conseguinte, exigirá a atuação do adulto junto
O que será então aprendizagem ou aprendizado com a criança, para que ela se aproprie de um obje-
para Vygotsky? to ou de uma habilidade, realizando ela própria as
atividades. Oliveira (1993, p. 62) revê uma afirma- criança em cooperação com seus pares e adultos era
ção de Vygotsky que diz que “o único bom ensino é característico de seu desempenho futuro e revela-
aquele que se adianta ao desenvolvimento”. Os pro- va os resultados de amanhã. Dessa forma todos os
cedimentos cotidianos que ocorrem na escola como amanhãs da vida da criança representariam as po-
demonstrações, assistência, fornecimento de pistas, tencialidades (desenvolvimento potencial), assim,
instruções, são consideradas fundamentais na pro- a investigação do desenvolvimento proximal passa
moção do “bom ensino”. A criança não tem condi- a representar um dos instrumentos mais podero-
ções de percorrer, sozinha, o caminho do aprendi- sos da atividade educacional. Em outras palavras,
zado. A intervenção de outras pessoas (professor a aprendizagem somente ocorrerá quando o ensi-
e as demais crianças) tornam o aprendizado uma no incidir na zona do desenvolvimento proximal.
conquista na base de construções pessoais. Explica Mello (2004), quando ensinamos a criança
aquilo que ela já sabe não ocorreu aprendizagem e
nem desenvolvimento. Da mesma forma se for en-
O desenvolvimento proximal sinado a ela algo que está além de suas possibilida-
des em aprender, ocorre o mesmo fenômeno, nada
É interessante registrar como Vygotsky descreveu de aprendizagem, mesmo com o auxilio de outras
de modo detalhado o conceito de zona de desenvolvi- pessoas. Cabe à escola portanto, dirigir o trabalho
mento proximal. Em uma palestra proferida em 1933, educativo para fases de desenvolvimento ainda não
o autor mencionou que alguns pesquisadores como alcançadas pela criança. É fundamental a interferên-
Binet costumavam pensar que não se pode começar cia intencional do adulto educador e de seu planeja-
a ensinar crianças se elas não tiverem atingido um mento, bem como, as atividades grupais de crianças
determinado nível de desenvolvimento. Assim foram de diferentes idades e níveis de desenvolvimento.
estabelecidos os limiares mínimos a partir dos quais Quando se descobre, explica Vygotsky (1984), as
o ensino de conteúdos escolares poderia ser iniciado. relações reais entre o processo de desenvolvimento
O modo de estabelecer esses limiares era pedir à e a capacidade de aprendizado, determinar-se-á a
criança para solucionar sozinha algum trabalho ou existência de pelo menos dois níveis de desenvol-
teste específico (Van Der Veer & Valsiner, 1996) com vimento. O primeiro pode ser denominado nível de
a finalidade de estabelecer os períodos apropriados desenvolvimento real e que se baseia no nível de-
para aprendizagem das várias capacidades intelectu- senvolvimental das funções mentais da criança já
ais. É possível estabelecer o potencial de uma criança estabelecidas como resultado de certos ciclos de
para aprender um dado conteúdo ou habilidade, afir- desenvolvimento já completados. Ao tornar claras
ma Vygotsky em Van Der Veer e Valsiner (1996) e para essas explicações Vygotsky (1984), assim o faz:
chegar a isto voltou-se para a área dos testes de inteli-
gência e para o conceito de zona de desenvolvimento Quando determinamos a idade mental de uma crian-
proximal. Assim, Vygotsky produziu uma definição a ça usando testes, estamos quase sempre tratando do
respeito desse desenvolvimento: nível de desenvolvimento real. Nos estudos do de-
senvolvimento mental das crianças, geralmente ad-
A zona do desenvolvimento proximal da criança é a mite-se que só é indicativo da capacidade mental das
distância entre seu desenvolvimento real, determina- crianças aquilo que elas conseguem fazer por si mes-
do com a ajuda de tarefas solucionadas de forma inde- mas. Apresentamos às crianças uma bateria de testes
pendente, e o nível de seu desenvolvimento potencial, ou várias tarefas com graus variados de dificuldades e
determinado com a ajuda de tarefas solucionadas pela julgamos a extensão de seu desenvolvimento mental
criança com a orientação de adultos e em cooperação baseados em como e com que grau de dificuldade elas
com seus colegas mais capazes (Vygotsky 1933 citado os resolvem (Vygotsky, 1984, pp. 95-96).
por Van Der Veer & Valsiner, 1996, p. 365).
Ao responder “o que é nível de desenvolvimento
O nível de desenvolvimento real e independen- real”, ou, mais simplesmente, “o que revela a solução
te era característico das habilidades intelectuais de problemas pela criança de forma mais indepen-
que a criança já havia dominado, explica Vygotsky, dente”, o autor expõe que o nível de desenvolvimento
e ele representava as funções já amadurecidas, os real de uma criança define funções que já amadurece-
resultados de ontem. Entretanto, o desempenho da ram, ou seja, os produtos finais do desenvolvimento.
Se uma criança pode fazer tal e tal coisa independen- Van Der Veer e Valsiner (1996) revelam o otimis-
temente, isso significa que as funções para essas so- mo pedagógico de Vygotsky, quando faz a previsão
luções já amadureceram nela. Por outro lado, a zona do desenvolvimento. Segundo este autor, a zona de
de desenvolvimento proximal, detectada por meio de desenvolvimento proximal pode revelar os resultados
problemas que a criança não pode resolver indepen- de amanhã, e consiste em um meio magnífico de prog-
dentemente, fazendo-o somente com assistência, é nóstico. Ele sugeriu, em resumo, a medição de duas
definida por aquelas funções ainda não amadurecidas, grandezas: desempenho independente e desempenho
mas que estão em processo de maturação, funções conjunto com ajuda e afirmou que o desenvolvimento
que, certamente, amadurecerão, mas que estão no futuro do primeiro era totalmente determinado pelo
momento em estado embrionário. último. As crianças, quando em grupos para executar
tarefas ou solucionar tarefas podem beneficiar-se em
Essas funções poderiam ser chamadas de ‘brotos’ ou razão da capacidade de imitar as atividades de seus
‘flores’ do desenvolvimento, ao invés de ‘frutos’ do parceiros mais experientes. Quando as crianças po-
desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real dem imitar suas atividades no momento atual, certa-
caracteriza o desenvolvimento mental retrospectiva-
mente estas serão executadas de forma independente
mente enquanto a zona de desenvolvimento proxi-
no futuro próximo.
mal caracteriza o desenvolvimento prospectivamente
O trabalho que Vygotsky concluiu com referên-
(Vygotsky, 1984, p. 97).
cia à zona de desenvolvimento proximal e a relação
entre aprendizagem e desenvolvimento cognitivo é
A zona de desenvolvimento proximal nos auto- o aspecto mais conhecido de sua contribuição às ci-
riza a delinear o futuro imediato da criança e seu ências da educação.
estado dinâmico de desenvolvimento, facilitando o
acesso não somente ao que foi atingido pelo desen-
volvimento como também o que está em processo As palavras e os pensamentos
de maturação. O estado de desenvolvimento mental
da criança só será determinado quando forem re- Vygotsky começou seus trabalhos relacionados
velados os seus níveis: o nível de desenvolvimento ao pensamento e à palavra com base na observa-
real e o nível de desenvolvimento proximal. ção global de que fala e pensamento têm origens
Oliveira (1993) chama nossa atenção para a ex- distintas, seguem caminhos diferentes e indepen-
pressão “zona de desenvolvimento proximal” que dentes, antes da ocorrência da estreita ligação en-
aparece às vezes nas traduções para a língua por- tre esses dois fenômenos. Essa trajetória do pen-
tuguesa como “zona de desenvolvimento potencial”. samento desligado da linguagem e a trajetória da
Observem-se as palavras da autora com relação ao linguagem independente do pensamento, em um
termo “potencial”: “… para compreender adequada- determinado momento do desenvolvimento filo-
mente o desenvolvimento devemos considerar não genético, unem-se e o pensamento torna-se verbal
apenas o nível de desenvolvimento real da criança, e a linguagem racional. Essa associação ocorre em
mas também seu nível de desenvolvimento poten- razão da necessidade de intercâmbio dos indivídu-
cial...” (Oliveira, 1993, p. 59). os enquanto convivem e trabalham. Para agir cole-
Observem-se as explicações de Martins (1999), tivamente e de formas cada vez mais especificadas
nas quais também aparece essa expressão: e\ou sofisticadas, o grupo humano passou a criar
um sistema de comunicação a fim de trocar infor-
Vygotsky desenvolveu este conceito para discutir mações. Os significados, portanto, eram necessa-
as relações entre desenvolvimento e aprendizado. riamente compartilhados. É o momento em que o
A zona de desenvolvimento proximal descreve a dis- biológico transforma-se no sócio-histórico. Nessa
tância entre o nível de desenvolvimento real (NDR) da
análise das relações entre pensamento e lingua-
criança – constituído por funções da criança já com-
gem, a questão do significado torna-se seu ponto
pletadas pela criança em seu desenvolvimento – e o
mais importante.
nível de desenvolvimento potencial (NDP) – determi-
nado através da solução de problemas sob a orienta- Segundo Oliveira (1993), o significado constitui-
ção de um adulto ou em colaboração com companhei- -se em um elemento essencial da palavra e, ao mes-
ros mais capazes (Martins, 1999, p. 55). mo tempo, um ato de pensamento, uma vez que o
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