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Jul / Ago 2006

www.tavolarpg.com

A MARCHA DOS ORCS

Uma aventura para GURPS

DIÁRIO DO CAPITÃO
Os custos de uma tripulação

RPG & SOCIEDADE

Onde termina o jogo e começa a realidade ?

LIVE ACTION
Live Combat LARPs

GOLPE DE MESTRE
Ilusão Narrativa

TITANIC
O QUE É RPG ?
Origem e conceito

CONTOS
Crônicas Primordiais Cenário/Aventura para
RESENHAS
RPG Quest I , II e III
OPERA RPG
Ravenloft
OPERA RPG
 EDITORIAL
Seja bem vindo a Távola RPG !
RPG... Três letrinhas, mas com um significado enorme.
Para alguns, significa apenas um hobby como outro qualquer. Para
outros, no entanto significa a possibilidade de explorar novos horizontes, de se Capa:
divertir e se aventurar em mundos imaginários, de rever velhos amigos e fazer Charles MOS
muitos novos. Enfim... Para nós que jogamos e amamos essas três letrinhas e
o que ela significa pra cada um em particular, o RPG não é apenas um jogo... E
sim, uma diversão que nos contagia... Que nos faz feliz, que nos faz sonhar...
E foi baseado nesse amor que temos por esse hobby tão querido e
peculiar, que resolvemos criar essa revista que você está lendo agora...
02 - O que é RPG ?
Nosso objetivo desde o princípio foi criar uma revista com qualidade,
Origem e Conceito
gratuita e neutra comercialmente, onde RPGistas de todo o país, pudessem
mergulhar em suas páginas e mais uma vez se divertir, aprender, ensinar e
04 - RPG & Sociedade
RPG & Educação - Onde termina o
como sempre manter o contato com os amigos.
Sabemos que não seria fácil, assim como não foi. Mas o RPG mais jogo e começa a realidade ?
uma vez mostrou que, ao contrário do que muitos caluniamente tentam di- 07 - RPG Quest I , II e III
famá-lo, é um jogo de boa índole e feito de amizade, e sendo assim, a Távola Você é o Herói !
RPG foi idealizada e produzida totalmente através dessa amizade e da coop- 13 - OPERA RPG
eração entre os praticantes desse hobby. Observadores Perdidos Em
Agradecemos profundamente a TODOS os que colaboraram, tenha Realidades Alternativas
sido tanto na forma de matérias, ilustrações ou cedendo material das formas 16 - Ravenloft
mais diversas possíveis, quanto pelas valorosas opiniões, e sugestões. De Névoas e Corrupção
Tudo e todos foram muito importantes para que a Távola RPG possa 18 - TITANIC
estar on-line nesse momento, aliás... Já podemos dizer com orgulho que a re-
Cenário/Aventura pra OPERA RPG
vista é feita por Jogadores para jogadores, todos empenhados em produzir e
expor materiais úteis e interessantes para o enriquecimento de nosso Hobby.
43 - Diário do Capitão
Nesse primeiro número temos a estréia de algumas seções que serão Os custos de uma Tripulação
fixas e que estarão presentes toda edição, como o Golpe de Mestre, RPG & 46 - Live Action
Sociedade, Diário do Capitão e O que é RPG? Além, é claro das aventuras e Live Combat - LARPs
cenários que tentaremos manter presentes toda edição. 50 - A Marcha dos ORCS
Teremos outras seções que serão esporádicas estando presentes Uma aventura para GURPS
conforme o material for chegando... Entre elas estão as seções Contos (já 57 - Especial
nessa edição), Enigmas & Charadas, RPG Eletrônico e Pincéis & Escamas. Entrevista com os Autores do OPERA
Esperamos que todos gostem da revista e que “comprem” nosso son- RPG
ho, sempre opinando, colaborando, e principalmente, sempre estando con- 59 - Golpe de Mestre
osco nessa nova empreitada, para que possamos crescer juntos e sempre Ilusão Narrativa
aprimorarmos nosso trabalho.
62 - Contos
Sejam Muito bem-vindos e se sintam em casa, afinal ela já é de
Crônicas Primordiais
vocês.
Equipe Távola RPG 81 - Informativo

Equipe Távola RPG

*Coordenadores: Fernando “Wild JOKER”A.Celso Júnior & Charles M. Oliveira Santos

*Colunistas: Alessandro Franzen, Elara Leite, Enrico Tomasetti, Iara “Tiamat”Coutinho, Rodrigo “Allecapt” Tolentino, e Rogério Mendes.
*Ilustraram essa edição: Charles M. Oliveira Santos, Roberto F. Santarcângelo Jr. e Tobias “Griever” Oliveira
*Colaboradores: Alan “Quïck”Jones W. Ancel, Alexandre Belmonte Oliveira, Augusto “Shaftiel”, Bruna “Lola” Cruz, Daniel “Talude” Paes Cuter, Felipe “Madruga”
Gonzalez, Fernanda “Moolight” Celso, Fernando Rodrigues Fontana, Fred “Xaal” Borges, João Norberto Steves, Leandro “Lucifer Abaddon” Zerbinatti de Olivei-
ra, Leonardo de Andrade, Lucas Bonini Salvego, Lucas Domingues Lima, Luis “Dahak” Teodoro, Marcus Alexandre Leitão Guedes, Paulo E.“Alonso” Nunes,
Pedro Gastaldi Cominal, Roberto F. Santarcângelo Jr, Rogério de Mello Godoy, Rubens “Ramalokion” São Lourenço, Sidines ”3Libras” Silva e Tobias “Griever”
Oliveira.
Agradecemos a TODOS que colaboraram, em especial ao Rogério Godoy e o pessoal do OPERA RPG, ao Universo Nova Fronteira, e a REDERPG e a Spell
Forever. Nos desculpem se esquecemos de alguém.
Távola RPG é uma publicação bimestral e gratuíta. www.távolarpg.com
Todos os jogos são trademarks de seus respectivos autores/proprietários, usados aqui com o propósito de resenha.

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 O Q UE É RPG ?
Origem e Conceito
O que é?
RPG nada mais é que uma sigla para Role
Playing Game que em português é geralmente
traduzido como Jogo de Interpretação.
Como o nome diz, é um jogo nas quais os
jogadores assumem o papel de um personagem,
interpretando as características físicas e mentais
desse personagem, assim como suas atitudes
dentro do jogo, na qual a imaginação, a cooperação
entre os demais jogadores, a aventura, e a diversão,
são os objetivos finais desse hobby.
Um grupo de RPG deve ter pelo menos duas
pessoas e no máximo 10 jogadores. Não existe um
número específico, embora a maioria dos grupos
tenha uma média de 4 até 6 integrantes.
No RPG, existem dois tipos de jogadores:
O primeiro tipo é o jogador personagem, o jogador
que cria um personagem seguindo as regras do
sistema usado em questão, sendo esse jogador
responsável por interpretá-lo e controlá-lo durante
o jogo. O segundo tipo de jogador é o Mestre
(Também chamado de Narrador, Observador,
Dungeon Master ou outros nomes), será ele quem
criará a história, e julgará as ações de todos os
personagens do jogo, sendo imparcial e justo,
prezando a diversão como meta principal. O
jogador que faz o papel do Mestre, geralmente é
o mais experiente do grupo e tem a obrigação de
conhecer as regras do sistema usado em questão,
de forma profunda.
O Mestre não possui um personagem em
específico, mas controla todos os personagens
não-jogadores da aventura; personagens estes
que irão interagir com os dos jogadores.
2
Por Wild JOKER
Quem vence o Jogo?
Como ele é denominado um jogo, é natural
que essa pergunta seja feita, mas a resposta a
ela nem sempre é compreendida por aqueles que
não o conhecem . O fato é que num jogo qualquer,
existe a competitividade e conseqüentemente a
vitória daquele que se sai melhor perante os outros
e é nesse ponto onde, mais uma vez, o RPG se
diferencia dos jogos convencionais.
Numa sessão de RPG, vencer ou perder
não é importante. Nem competir. O único grande
objetivo de jogar RPG é criar uma história divertida
e envolvente, na qual os jogadores fazem o papel
dos personagens principais. Sendo dessa forma
podemos dizer que todos “vencem”, já que os
personagens-jogadores, estão ali geralmente
para cumprirem um objetivo em comum, e caso
exista alguma possível competitividade entre
eles, fará parte do contexto da aventura e/ou das
características de cada personagem.
O objetivo de cada aventura é superar os
desafios, e quando os jogadores conseguem
fazer isso, interpretando as características de
seus personagens, eles ganham “pontos de
experiência” que serão úteis para o crescimento e
o desenvolvimento de seus personagens.
Essa é a premiação pela "vitória” em uma
sessão. Todos os jogadores que conseguem passar
pela aventura são considerados vencedores,
e quase sempre esse sucesso depende da
cooperação mútua entre eles.
 Origem DICIONÁRIO RPGÍSTICO
Conta-se que o RPG surgiu em 1974, com
RPG - Role Playing Game - Jogo de interpreta-
o primeiro e consagrado “Dungeons & Dragons”
ção.
(que pode ser traduzido como algo em torno de Personagens Jogadores, PJs, PCs - Persona-
"Calabouços & Dragões"), que foi criado pelos gens que os jogadores criam para jogar.
norte-americanos Dave Anerson e Gary Gygax, Mestre - Jogador que faz papel de Juiz e Narra-
dois fanáticos em jogos de estratégia. dor da aventura, apresentando os desafios a serem
O Livro de regras que serviria como inspiração vencidos pelos demais jogadores.
para todos os outros RPGs que surgiriam depois, Sistema de Jogo - Conjunto de regras que defi-
vendeu seis mil cópias em pouco menos de dois nem as normas a serem seguidas dentro daquele
anos. sistema em questão.
O RPG surgiu com os Wargames, jogos de Planilhas - Uma folha de papel com espaços per-
sonalizados adequado a cada sistema de regras
estratégia de guerra, em que o objetivo era destruir/
aonde se anota as características do personagem.
conquistar o exército inimigo. No início os exércitos
Miniaturas - Peças de chumbo, plástico ou de pa-
eram apenas exércitos, até que um dos dois disse pel que representam o personagem dentro de um
ter construído uma fortaleza indestrutível. Como tabuleiro ou mapa de combate.
forma de invadir essa fortaleza, o adversário Dados de multi-faces - Dados especiais usados
disse que 3 dos seus melhores guerreiros foram para o jogo. Os mais usados são os de 4,6, 8, 10,
enviados para entrar nos esgotos da fortaleza para 12, e 20 lados. Quem define qual dado é usado é o
invadi-lá. Com isso, surgiu a primeira aventura sistema de jogo.
controlando um pequeno grupo de personagens,
e assim começou a interpretação individual e não
apenas de exércitos.
Então, como vímos, o RPG foi criado da
união dos jogos de estratégia com o prazer de
contar histórias.
É Importante dizer que mesmo com sua
criação, os clássicos wargames e outros jogos te
estratégia não deixaram de existir e são sucesso
até hoje, mas é claro que o mercado de jogos
nunca mais foi o mesmo com a invenção desse
jogo tão cativante.

Na Próxima edição, vamos explicar sobre

os sistemas que definem as regras a serem
seguidas e em seguida as “ferramentas”
que os RPGistas usam pra jogá-lo como
planilhas de personagens,os vários tipos
de dados de multifaces, miniaturas entre
outras.

3
 RPG & S OCIEDADE

RPG e Educação - Onde termina o jogo e

começa a realidade? Por Elara Leite

Bem-vindo (a) à nossa seção! de suas aulas para jovens e adultos. O RPG
surge como alternativa para os interessados em
Caro leitor (a), quero particularmente dar as acrescentar mais às suas aulas tanto em nível
boas-vindas a você que começa a acompanhar esta de Educação Fundamental quanto Superior.
seção. Aqui trataremos sempre de assuntos que Porém, em meio a atmosfera que atualmente o
inter-relacionam o RPG e a sociedade de um modo RPG encontra-se, depois de tanto estardalhaço
geral. Em linhas amplas, pode-se considerar esse midiático em torno de assassinatos pseudo-
espaço como um horizonte aberto para análise do relacionados ao Role Playing Game, como inserir
RPG como fator inclusivo do jovem à sociedade, esta ferramenta em suas aulas sem resistência
da discussão sobre RPG e áreas educativas, da por parte de pais e dos próprios alunos é o grande
questão polêmica que é o Role Playing Game mistério.
na mídia de modo geral, além do RPG na visão RPG é mais do que nunca um grande
religiosa. trunfo a ser usado a favor da educação. É
Então, desde já
cabeças abertas! O mundo
é feito de informação, e
aqui você vai poder colher
um pouco mais dela, porém
cuidado: aqui tratarei de
questões polêmicas de
maneira crítica, o que pode
deixá-lo com um comichão
na orelha, como se algo
o incomodasse. Mas não
fique preocupado, isso
são apenas as indagações
a respeito dos assuntos
surgindo em sua mente. E
é esse o objetivo da seção.
Neste número
começamos falando sobre
RPG e Educação.
Uma dúvida
freqüente para educadores
de todo o país tem sido
maneiras de incremento

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preciso, entretanto, profissionais bem formados e
informados a respeito da gama de possibilidades
RPGísticas. O educador deve estar preocupado
com sua reciclagem profissional. Afinal, esta é
a Era da Informação, conforme já se noticia há
algum tempo. Em diferentes locais do país o RPG
já é utilizado como forma de incentivo durante as
aulas. Na Paraíba, algumas escolas já fizeram
a experiência. Em vários locais do país já foram
organizados colóquios e seminários para debate
a respeito do papel do Role Play na educação, a
exemplo de Curitiba e João Pessoa.
Os jogos de representação de papéis sem
dúvida estão mais visíveis nas esferas educacional
e empresarial. Nas empresas pode ser observada
a utilização de dinâmicas de treinamento que
possuem, na grande maioria, ou senão todas, as
características que compõem o RPG. Na área da
educação, existem empresas especializadas em
treinamento de educadores e alunos monitores
para melhor utilização do RPG em sala de aula.
Essas empresas fazem treinamento para jogos de
mesa, ou RPGs tradicionais; e também ações ao
vivo, como uma simulação de acontecimentos.
Embora algumas destas tentativas não dêem
fruto imediato, em parte devido ao preconceito
na própria esfera educacional, em parte devido
ao choque causado por certas notícias e até por
idéias religiosas descabidas de qualquer sentido,
o importante é que há pessoas que valorizam
o jogo como ferramenta lúdica e começam a
voltar suas mentes para como melhor utilizá-lo.
Benefícios do RPG
O desenvolvimento do conteúdo programático
pode ser satisfatoriamente alcançado através
da utilização do RPG nas aulas. Através dele o
aprendizado dos alunos torna-se mais evidente,
além de deixá-los mais desinibidos e incitar a
participação em sala.
O espírito de equipe é altamente estimulado
no RPG, já que os jogadores atuam em grupo, uns
ajudando os outros na maior parte do tempo.
Não existe um vencedor único em um jogo de
RPG: o objetivo não é derrotar os outros jogadores.
Para vencer é preciso cooperar com os outros.
Sendo um jogo de narração de histórias, não há
como uma determinada pessoa sair vitoriosa. Os
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personagens, através de suas motivações, buscam
sobreviver e alcançar objetivos. A expressão oral e
corporal, a criatividade, a relação entre assuntos
didáticos e situações do dia-a-dia, a capacidade
de socialização, além da resolução de situações
Mas afinal: O que é RPG?
Criado em 1974 nos Estados Unidos, o
primeiro jogo de RPG chamava-se Dungeons
and Dragons (em tradução literal, Masmorras e
Dragões). RPG significa ‘Role Playing Game’, ‘Jogo
de Interpretação de Papéis’ em português.
Participar de qualquer jogo deste tipo implica
interpretar um personagem, fingir ser uma pessoa,
agir como ela agiria e pensar como ela pensaria.
Funciona como uma espécie de teatro, com a
diferença que não há roteiro, isto é, a história vai
acontecendo à medida que os personagens tomam
suas decisões, como numa história interativa. O
jogador cria um personagem fictício, que vive na
imaginação dele e dos amigos que participam do
jogo.
No RPG tradicional, ou de mesa, os jogadores
normalmente munidos de suas fichas de caracteres
de personagem e alguns dados são norteados pelo
Narrador. Ao jogar, participam de viagens épicas,
batalhas, aventuras e inúmeros desafios. O Narrador
descreve o que acontece aos personagens como
resultados do que os jogadores dizem ou fazem.
Seu dever é garantir que os outros jogadores se
divirtam.
Há também a ação ao vivo, ou Live Action,
uma variação do RPG tradicional na quais os
jogadores podem interpretar os personagens como
em um teatro. Funciona como uma simulação
de acontecimentos, análoga a reconstituições
televisivas. Nesta variação, apenas algumas ações
são decididas nos dados, enquanto a grande maioria
é interpretação pura, sendo utilizados inclusive
adereços e fantasias. Armas e violência nunca são
permitidas em ações ao vivo.
Cada jogo possuiu um Sistema de Regras pré-
estabelecido que será utilizado pelo Narrador na hora
de guiar os jogadores pela história que está sendo
criada, chamada de aventura. Normalmente usam-
se dados para representar o benefício da sorte como
resultado das ações que os personagens irão realizar.
Qualquer pessoa pode ou não conseguir realizar
uma ação, como andar a cavalo. Para representar
a possibilidade que aquela pessoa tem de obter
êxito ou não é que são utilizados os dados.
problema, são também habilidades estimuladas na no mesmo sentido deste projeto, tendo realizado
utilização do jogo em sala de aula. três edições do Simpósio RPG e Educação, além
Sendo um jogo que oferece grande estímulo da discussão em vários Centros Educacionais
à imaginação, o RPG exige certa habilidade da na cidade de São Paulo. A ONG existe há quatro
parte do educador na hora de ministrar suas aulas anos e realizará em setembro deste ano um novo
utilizando-o. É preciso ter noção de onde termina o Simpósio em São Paulo, além de planejar um
jogo e começa a realidade, ainda que o momento colóquio para João Pessoa. Ainda no sentido do
da aula seja uma mesclagem de realidades treinamento para professores e trabalho do RPG
sobrepostas, onde os alunos podem aprender sobre em sala de aula, podemos citar a empresa Jogo
um determinado assunto ou abrir possibilidades de Aprender, que oferece este tipo de consultoria
ainda maiores através de aulas interdisciplinares. educacional.
Para isso, cabe ao educador estar atento Esses são apenas alguns exemplos do
e conhecer o jogo que irá introduzir em suas que tem sido feito na área. Entretanto, existem
aulas, como também perceber se é adequado ao ainda muitos educadores anônimos que trabalham
assunto ministrado. Sem esse conhecimento, o incessantemente para melhorar a imagem do RPG
que poderia ser uma boa aula em consonância e acreditam nele como potencial ferramenta de
com o RPG pode não passar de boas intenções. ensino. Boa sorte para todos esses educadores,
Uma boa dica é o acompanhamento das aulas por que ousam perante um mundo de preconceitos.
RPGistas experientes ou por alunos monitores que
conheçam o jogo e estejam dispostos a trabalhar
para mesclá-lo às aulas. A utilização de empresas
especializadas, conforme descrito outrora, também
pode ser considerada.
São muitas as possibilidades para o educador
que deseja incrementar suas aulas, porém, devido
à falta de informação e muitas vezes por acomodar-
se, o profissional na área de ensino não busca uma
reciclagem profissional, o que prejudica, de certo
modo, o rendimento das aulas. É preciso que haja
uma conscientização a esse respeito para que o país
possa crescer na educação. Não adianta construir
escolas, é necessário construir educadores.

Produção e iniciativas
Com relação ao RPG na educação, pode-se
observar uma crescente produção de material. No
RPG e Cultura, realizado este ano em João Pessoa,
na Paraíba, a Ludus Culturalis, ONG que visa a
integração do Role Play nas áreas educacionais,
fez seus primeiros contatos no sentido de ampliar a
discussão no Nordeste. Em 2005 a própria equipe do
RPG e Cultura realizou um Seminário voltado para
professores visando essa integração e discussão
em nível de Paraíba. O Seminário, cujo título foi
Pedagogia da Imaginação, foi uma espécie de
extensão da tese de Mestrado de Sônia Rodrigues,
pioneira nesse estudo na América Latina nos anos
80. Inclusive, a referida Ludus Culturalis trabalha

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 R ESENHAS

VOCÊ É O HERÓI !
Por Daniel “Talude” Paes Cuter
& Wild JOKER

No encontro internacional de RPG do ano RPQ Quest - Volume I

passado foi lançado pela Daemon editora, o primeiro
volume de RPG Quest, um RPG de tabuleiro aos moldes
dos extintos Hero Quest (pela Estrela em 1992), Dragon
Quest e Classic Dungeon (Pela Grow em 1993).
Esse lançamento, não é só uma volta saudosista
às velhas Quests, mas sim um jogo que praticamente
pode ser usado de três diferentes maneiras: Como uma
coleção de belas miniaturas para serem usadas na mesa
de jogo em seu RPG favorito; Como um jogo de batalha
de miniaturas aos moldes do famoso Mage Knight, ou
é claro, no seu objetivo principal, as tradicionais Quests
de tabuleiro.
Com belas ilustrações de Ronaldo Barata e
regras simples e práticas, o RPG Quest vem agradando
muitos Rpgistas veteranos e conquistando muitos novos
adeptos por todo Brasil.
Prova desse sucesso são as salas de diversos
fóruns, além das comunidades no Orkut dedicadas
a ele, cheias de jogadores ávidos pra opinarem no
próximo lançamento desse jogo de tabuleiro que é uma
ótima porta de entrada para iniciantes ao nosso Hobby
tão querido.
Em um ano de existência, o RPG Quest soma
três suplementos (Arcádia, Velha Arcádia e Templários),
dois Boosterpacks e diversos materiais disponíveis
gratuitamente em seu site, além de estar previsto ainda
esse ano, o lançamento de mais dois suplementos: as
Aventuras Orientais (contendo novas regras de magia)
e Tormenta. Os Fãs com certeza agradecem.
O primeiro Volume foi
lançado no EIRPG de 2005 e
logo se tornou um sucesso.
A ambientação
deste volume é em um mundo
medieval fantástico, chamado
de Nova Arcádia bem no estilo
clássico do gênero, como
Senhor dos Anéis, Forgotten
Realms, Dragolance e outros.
Ele é composto
por um livro de regras de 32
páginas e várias folhas de papel plastificado aonde se
encontram as miniaturas, os terrenos, as salas, e os
props (alavancas, escadas, fontes, portas, marcadores,
etc).
Logo no começo do livro de regras, contém
explicações de como usar os props, as salas e demais
pisos assim como a orientação para a montagem das
miniaturas.
Os atributos são praticamente os mesmos do
sistema Daemon aonde existe uma variação, sendo
que os níveis de cada atributo vão do muito fraco (-1)
até Divino (+10).
As raças disponíveis são 7: Humano, Elfo, Meio-
Elfo, Anão, Halfling, Goblin e Minotauro), e as Classes
8: Guerreiro, Bárbaro, Paladino, Ranger, Ladrão, Mago,
Clérigo e Druida.
As classes e raças determinam as habilidades
especiais, como Inimigo Predileto, Amizade com
Animais e Cura pelas Mãos.
Após isso, segue a lista de Perícias, que já vem
pré-determinadas pela Classe, mas que podem ser
compradas com pontos de experiência, e em seguida
uma lista de armas e equipamentos.

6
 As magias do sistema são divididas em duas: ladra muito jovem, nas ruas de Nova Cairo, e acabou se
Rituais e Caminhos. Os Caminhos são como em 3D&T apaixonando pela vida de Aventureira.
com compra de pontos, mas limitado como em Arkanun/ Bruenor é um anão bárbaro nascido nas
Trevas. Já os Rituais, são determinados aleatoriamente, montanhas de Hassgar, no norte de Arcádia. Sua vida é
e são divididos em 3 círculos de magia. Os personagens devotada à luta contra as forças de Halzazee e à busca
que usam magia podem fazer uso dos dois tipos. da cerveja perfeita.
O sistema é simples e prático, mas possui Cassius é um minotauro das distantes terras
alguns erros e limitações, necessitando muitas vezes de Minoica, na Velha
do bom senso dos jogadores em algumas regras pouco Arcádia, mas que vive
esclarecidas no livro, mas nada que atrapalhe a diversão, entre os humanos como
ponto alto desse jogo que com apenas primeiro volume, ferreiro há muitos anos.
rende horas e horas de boa diversão. Apesar da aparência
feroz, Cassius é um
Personagens: dos aventureiros mais
simpáticos.
O Volume 1 apresenta doze heróis prontos Gobbo é um
para jogar e regras para você criar seus próprios halfling das colinas,
personagens, dentre 112 combinações diferentes nascido nas áreas mais
centrais de Arcádia, nas aldeias dos Halflings, mas
John Lucek, se tornou aventureiro muito jovem. Suas principais
Paladino da Ordem do habilidades são desarmar armadilhas e fechaduras.
Graal. Vive em Nova Elara é uma elfa das florestas e feiticeira da
Arcádia, na pequena natureza. Seu ódio contra as forças malignas de
vila de Lucena. John Halzazee é lendário e ela fará de tudo para impedir
está sempre disposto a o avanço das tropas do caos sobre as fronteiras de
defender Arcádia contra Arcádia
qualquer tipo de ação Gabrielle é uma maga elfa, nascida em Nova
das forças do mal. Arcádia, que se juntou a
Orpheus é um pouco tempo ao grupo
elfo ranger que vivia nos de aventureiros nas
bosques mais próximos fronteiras de Halzazee.
da fronteira oriental de Arcádia. Tornou-se aventureiro Gabrielle é uma
quando a vila onde morava foi destruída pelas tropas colecionadora de tesouros
de Halzazee. e sua motivação em
Giovanna é uma meia-elfa guerreira nascida nas explorar as masmorras
cortes de Titãnia e Oberon, filha de um artista humano é encontrar relíquias e
e de uma elfa chamada Amarah. Desde pequena objetos antigos para levar
adorava ouvir as histórias sobre tesouros perdidos e de volta ao seu reino.
sobre os terríveis orcs do leste. Apesar de seus pais Klunk, o bárbaro,
não aprovarem, treinou escondida para se tornar uma veio das distantes tribos da Hiperborea, na parte mais
aventureira. setentrional de Arcádia. Não é muito esperto, mas tem
Theodore é um um grande coração.
meio-elfo de Andaluzia, Germana é uma paladina muito séria em relação
nas fronteiras entre às suas funções. Já entrou em combate contra os orcs
Arcádia e a Terra, em mais de uma ocasião e sabe os perigos que os
próxima das terras da exércitos de Halzazee representam para Arcádia.
Espanha. Desde criança
brincava com poções e Monstros:
instrumentos de alquimia.
É um pouco tímido, mas Nesta edição, são 31 tipos de monstros
um excelente colega de diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando mais
aventuras. de 110 miniaturas de papel.
Tamara nasceu nas fronteiras árabes de Arcádia, Os monstros deste título são:
próxima aos Reinos das mil e uma noites. Tornou-se 8 Aranhas Gigantes, 1 Aranha Mãe, 2 Bruxas, 7

7
Bullywugs, 1 Líder Bullywug, 9 Esqueletos,
1 Líder Esqueleto, 1 Fantasma, 2 Gárgulas, 1
Gárgula Vermelho, 1 General Orc, 8 Goblins,
1 Goblin Xamã, 8 Gnolls, 3 Hobgoblins, 3
Homens-ratos, 1 Mago Necromântico, 4 Mimics,
1 Minotauro Maléfico, 3 Múmias, 1 Observador,
10 Orcs, 10 Ratos Gigantes, 1 Serpente Gigante, 4
Serpentes Comuns, 1 Trasgo, 1 Troll das cavernas, 3
Trolls das Florestas,
1 Vampira, 1 Víbora, 3 Vigilante e 8 Zumbis.
RPQ Quest - Volume II
O Segundo volume da
série RPGQuest veio 4 meses
após o primeiro, e desta vez
veio com uma ambientação
chamada de “Velha Arcádia”
que nada mais é que um mundo
aonde a mitologia grega serve
de pano de fundo para um novo
cenário.
Diferente do primeiro
volume onde as aventuras
eram em masmorras, esse dá
ênfase em aventuras situadas em ambientes externos,
tanto que quase não existem props internos, sendo
substituídos por um mapa frente/verso aonde de um
lado existe o cenário de uma praia e do outro uma
floresta com algumas trilhas.
Logo na primeira página do livro existe uma
explicação breve sobre o funcionamento do jogo,
bem mais rápida que na edição anterior, já que os
diversos props que necessitavam de uma explicação
mais detalhada sobre seu funcionamento no primeiro
volume, não existem.
A seguir uma explicação sobre a história e
a origem do cenário, aqui chamado de Arcádia que
se localiza entre os demais Planos conhecidos pelos
jogadores da linha Daemon, como Arkanum , Paradísia,
Spiritum entre outros.
Contém também uma breve explicação sobre
sua origem pelas “mãos” dos Deuses. Destaque para
os 4 mais importantes: Zeus, Hera, Hades, Poseidon
8
além de uma pequena descrição de outros.
O sistema do jogo continua o mesmo, com
algumas poucas diferenças pra se adequar ao cenário,
como as raças, classes e habilidades oferecidas.
Desta vez as raças disponíveis são: Humano,
Minotauro (apenas machos), Amazona, Ninfa (ambas
apenas fêmeas), Fauno/Sátiro, Ciclope e Centauro.
Já as classes oferecidas são: Ladrão, Clérigo, Mago,
Aventureiro, Soldado, Gladiador, Caçador e Marinheiro.
Algumas delas sofreram modificações como a perda
de uma arma pelo Ladrão, e a alteração na seleção de
perícias do Mago e do Clérigo.
Surgem duas habilidades novas: Ataque
coordenado e Treinamento em Defesa, ambos para a
Classe Soldado; E nas Perícias, Arqueria foi dividida
em Arco e Flecha, Besta, Funda e Zarabatana, há a
nova Meditação que acelera a recuperação de Pontos
de Magia, Música, Alquimia/Herbalismo que também
sofreu alterações na sua mecânica e a Religião que
agora não é mais exclusiva para algumas Classes.
A lista de armas também se ajustou ao cenário
com a inclusão de novas armas como a rede e corrente
(para Gladiadores), e em relação ao jogo, foi corrigido o
erro sobre escudos.
Na área de Magias, temos a estréia do quarto
círculo que só pode ser adquirida depois, com pontos
de experiência, além da substituição de algumas magias
por outras.
Agora, no Testes e combates, temos um exemplo
de como gastá-la, já que existem duas limitações para
comprá-la, há limites para Atributos, Perícias, Classes
e Raças que passam a ser no máximo Heróicos, e as
Magias tem limite de atingir 6o. Círculo, ainda que o
máximo publicado seja do 4o., e agora também é
possível comprar Pontos de Vida.
Saindo de vez das masmorras e explorando
ambientes externos, surgem as regras para viagens,
com o custo de estalagens e acampamentos, dos
meios de transporte e o valor em pontos de movimento
que cada pessoa gasta com seu deslocamento normal,
andando em marcha e correndo, existindo também
esses valores para montarias e veículos como cavalos,
grifos, bote e navios.
Os monstros são todos da Mitologia Grega como
Esqueletos, Javali Gigante, Tritão, Pégasus, Fênix,
Hidra de Sete Cabeças, a Estátua de Bronze e o Cria
de Cérberus.
A grande inovação desse módulo é acrescentar
regras para Batalhas de Miniaturas. No livro temos as
regras de forma mais simples (existe um módulo mais
completo envolvendo todos os volumes, disponível
gratuitamente no site da Daemon), mas que já
possibilitam realizar imensas batalhas.
Aos moldes do Mage Knight, cada criatura tem
uma pontuação que basicamente define o poder dela em
batalha. Cabe a cada jogador, selecionar suas criaturas Monstros:
e personagens conforme sua estratégia e gosto, mas
sempre respeitando um valor pré-determinado de Nesta edição, são 27 tipos de monstros
pontos de recrutamento totais que deve estar entre 100 diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando mais
a 1000 pontos. de 60 miniaturas de papel.
Para encerrar, o livro termina com a apresentação Os monstros deste título são:
de 13 personagens que podem ser usados tanto pra
NPCs quanto para PCs.
Enfim, seguindo o exemplo de seu irmão mais
velho, o volume 2 é uma ótima opção tanto para os
iniciantes quanto para os amantes de uma boa Quest !

Personagens:

Nesta edição, são seis heróis prontos para jogar

e regras para você criar seus próprios personagens,
dentre 88 combinações diferentes
Félix, Irmão
mais novo de Alexius e
Gladius. enquanto seus
irmãos se juntaram ao
exército de Arcádia,
felix, por seu tamanho,
preferiu tornar-se um
espião. Está sempre
tentando provar seu
valor para seus irmãos.
Alexius é um conhecido aventureiro da Velha
Arcádia. Segundo filho do rei Solon, está sempre
disposto a ajudar qualquer pessoa que esteja com
problemas.
Diane é uma das maiores gladiadoras de
Atenas. Devota de Artemis, deusa da lua, seu sonho é
se apresentar em todos os coliseus de Velha Arcádia.
Fausto juntou-
se ao grupo como
representante do reino
dos sátiros, perto de
Acadme. É um dos
conselheiros do grupo
e também um excelente
caçador. Sempre
procura uma solução
pacífica para resolver os
problemas.
Paloma sacerdotisa de Atenas e Artemis, é
responsável pelos oráculos e também pelos feitiços de
cura dentro do grupo. Nunca perde a calma em nenhuma
situação, por isso geralmente atua como diplomata.
Bellatrix era a antiga representante do reino
das Amazonas em Acadme, mas preferiu tornar-se
uma aventureira. É uma alquimista especializada no
caminho do Fogo e da Terra.
1 Argus, 9 Aves de Bronze, 4 Cavalos, 1 Cria de
Cérberus, 1 Ciclope, 7 Esqueletos Soldados,
1 Líder Esqueleto, 1 Estátua de Bronze, 1 Fênix,
2 Grifos, 4 Hárpias, 3 Líderes Hárpias
(Aello, Celaeno e Ocypete), 3 Homens-
Escorpião, 1 Hidra de 7 cabeças, 1 Javali Gigante,
1 Lâmia, 2 Medusas, 1 Minotauro Selvagem, 1
Pégasus, 3 Sereias, 2 Sirens, 4 Soldados,
6 Tristãos, 1 Líder Tristão e 13 NPCs.
RPQ Quest - Volume III
Em 6 meses foram
lançados três livros para
RPGQuest, além de dois
boosterpacks e vários
netbooks e aventuras todo
mês na revista Dragão Brasil.
A novidade desse é o tema:
Templários e Sarracenos, cujo
tema já havia sido abordado
no livro Templários da mesma
editora em 2000, mas para o
sistema Daemon. Nesse livro,
temos duas estréias na editora:
Alexandre José Garzeri e Pietro Antognioni, o primeiro
é terapeuta holístico especialista no tema que deu uma
palestra sobre o assunto no XIII EIRPG, enquanto Pietro,
vencedor do concurso de ilustrações do RPGQuest,
foi o responsável por todas as ilustrações, enquanto
o Barata, ilustrador das outras edições, ficou com
a função de colorizar as ilustrações e também como
diretor de arte.
O livro, tal qual o segundo começa com
publicidade, principalmente de livrarias em vários
estados do Brasil, na parte de créditos e agradecimentos
um aviso curioso, mas necessário: Esta é uma obra

9
de ficção: Ogros não existem! Na introdução, ficamos
sabendo que ele é um suplemento para os outros dois
RPGQuest e que a região que se situa não é a Terra e
sim um lugar situado no Reino de Nova Arcádia chamada
Languedoc semelhante ao sul da França Medieval.
A seguir, vem a parte de background, com o
texto de Alexandre Garzeri, abrangendo 10 páginas,
começando com a lenda do Santo Graal, a távola
redonda e a sua simbologia, sendo os principais
descritos: o cajado do Mago Merlin, relativo ao fogo,
a espada Excalibur relativa ao ar e o cálice sagrado,
relativo a água, andando um pouco chegamos a busca
do Santo Graal. O texto a seguir é sobre Toulouse falando
do massacre no Languedoc que esta era a sociedade
cristã mais avançada da época, este anunciado pelo
papa Inocêncio III e duraram 35 anos, dentro desse
texto há a citação do Nobre de Foix que é uma das
Classes do jogo. Mas a primeira Classe a ter um capítulo
próprio é o Catarismo de aonde surgiu o termo gnose
que significa conhecimento, este muito usado hoje em
dia, eles também cuidavam da guarda do Santo Graal
e de um grande segredo que efetivou o massacre de
Languedoc. A próxima classe a ser descrita é o Priorado
de Sião ou Monastério do Sinai que nasceu com três
objetivos a cumprir e tentou cumprí-los em sangue e
espada. Os Cavaleiros do Santo Sepulcro, criado pelo
mesmo que fundou o Priorado que tinham como objetivo
defender o túmulo de Cristo e dos peregrinos que o
visitavam e que tinha como mistério maior a guarda
do Santo Sudário. Os Hospitalários que tinham outros
dois nomes, Cavaleiros de São João e Cavaleiros de
Rodes, eram divididos em eclesiásticos, cavaleiros e
subalternos, dedicados a cuidar do próximo tal como
Jesus Terapeuta. Os Templários são os destaques do
livro e dão título a este que realizaram escavações em
Jerusalém no sécuo XII e eram excelentes guerreiros e
quase foi extinta em 1314 com a morte de Jaques de
Molay, mesmo com isso, a organização continua viva
até hoje. Os Teutônicos eram conquistadores de terras
tidas como selvagens e também conquistaram a arca
da aliança. No fim, apoiaram Martinho Lutero.
Continuando, segue o capítulo de criação
de personagem, a partir dos atributos, depois há as
Classes diviidas em Cavaleiros (podendo ser Cátaro,
Cavaleiro Templário, Cavaleiro do Priorado de Sião,
Cavaleiro Hospitalário, Protetor do Santo Sepúlcro,
Cavaleiro Teutônico e Nobre de Foix), Sarraceno (Mago
Sarraceno, Sarraceno e Hassassin) e Cultista (Inquisidor
e Cultista), O livro recomenda que a parte iniquisitória
fique como PdM. Há duas Habilidades Especiais novas:
Controlar Mortos-Vivos e Exorcismo e 1 Perícia novas:
Heráldica que é o estudo dos brasões e nobreza. A
propósito, não há Raças, mas é possível a mistura
com qualquer outra Raça ou Classe de qualquer outro
RPGQ. A lista de armas e equipamentos e o capítulo
10
Testes e Combates não sofreram modificações, apesar
de não ter magias.
Mesmo não tendo regras para Magias, este
suplemento trás 10 novas Magias que vão do 2º ao
4º nível dentro dos monstros, aliás o destaque nesses
monstros são vários demônios e vários mortos vivos,
além de versões inimigas das Classes citadas acima.
Os destaques são os apelões Daemon que garante
600XP e o Dragão Negro que valem 1000XP, do outro
lado, matar um Monge Cátaro ou Parfait valem -100XP
enquanto o Protegido vale -1000XP! Sim, pontos de
experiência negativos. Temos outras apelações, as
Lendas que não podem substituir os comandantes e só
pode possuir um por grupo em Batalhas de Miniaturas,
eles são pessoas que realmente existiram: St George,
Sir Godfroi, Sir Heinrich, Sir Hugues, Sir Jacques e
St Patrick. No final do livro, informações das relíquias
(Idéias de aventuras) e como funciona o mapa do
castelo e um mapa da Europa em 1304, maior do que o
do RPG Templários.
No geral, o livro está com qualidade muito boa
e possui muitas referências ao Código da Vinci que
parece ser o caminho da linha Trevas/Arkanun a partir
de agora. As ilustrações do Pietro são muito boas
e transmitem o clima, principalmente as que estão
em preto e branco. o problema é que faltou na parte
histórica mais informações sobre os sarracenos, coisa
que pode ser solucionada com o outro Templários. É
uma boa ter os dois anteriores para jogar junto com
esse, para uso de props do RPGQ1 e mais terreno com
o RPGQ2. Agora, com licença que minha mãe quer ler
esse livro por causa do Código da Vinci.
Personagens:
Nesta edição, são seis grandes heróis prontos
para jogar e regras completas para você criar seus
próprios personagens.
Phillipe, filho
do Duque de Foix,
jurou defender os
Castelos Cátaros e o
Santo Graal contra os
cruzados com a sua
vida, se necessário
fosse.
Klaus, filho
mais novo de Heinrich que não deseja seguir carreira
como Cavaleiro Teutônico, tendo fugido para Langedoc
a fim de se juntar aos Cátaros em sua luta.
Joanna pode ser considerada a “escolhida de
Deus”. As lendas dizem que, no futuro, será uma grande
líder dos cavaleiros na França.
 Pierre é um RPQ Quest - BoosterPack I
Cavaleiro Hospitalário
que foi enviado para O primeiro Boosterpack apresenta 5 tipos
auxiliar as forças do de monstros diferentes para os heróis enfrentarem,
castelo Cátaro. Ele totalizando 17 miniaturas de papel.
possui um grande Os monstros deste Booster são:
futuro dentro da
Ordem dos Cavaleiros
Hospitalários.
Lígia é a Monja
Cátara responsável pela segurança do “protegido”.
Junto com seus amigos, fará tudo que estiver no seu
poder para preservar a Linghagem Sagrada dos ataques
da Inquisição, custe o que custar.
Bernard pertence ao Priorado do Sião e é o
braço direito de Lígia como responsável pela segurança
da Linhagem Sagrada e do Santo Graal.

Monstros:

Nesta edição, são 36 tipos de monstros
diferentes para os heróis enfrentarem, totalizando mais
de 170 miniaturas de papel (Monstros + Cavaleiros).
Os monstros deste título são:
8 Elfos Negros, 3 Elfos Negros Soldados, 1 Elfo
Negro Mago, 4 Driders e 1 Golem de Ferro
RPQ Quest - BoosterPack II
O segundo Boosterpack apresenta 6 tipos
de monstros diferentes para os heróis enfrentarem,
totalizando 17 miniaturas de papel.
Os monstros deste Booster são:

1 Dragão Branco Adulto Jovem, 12 Kobolds, 3 Kobolds

Heróis, 1 Kobold Líder,
1 Kobold xamã e 1 Psicoplus (Mind Flyer).

6 Cruzados, 3 Soldados Inquisidores, 1 Dragão

Negro, 1 Ogro Comandante, 5 Ogros,
1 Ogro Herói, 2 Gárgulas de Mármore, 2 Gárgulas
de Pedra, 9 Cockatrices, 10 Sarracenos,
5 Arqueiros Sarracenos, 1 Mago Sarraceno, 1
Líder Sarraceno, 3 Hassassins, 9 Esqueletos,
4 Zumbis Infectados, 3 Fantasmas, 2 Banshees,
2 Possessores, 2 Esqueletos Mouros,
2 vampiros Servos, 1 Vampiro Nobre, 1 Cavaleiro
Esqueleto, 9 Imps, 7 Bergahazzas,
4 Succubi, 1 Comandante Bergahazza, 2
Cultistas, 1 Daemon, 8 Cavaleiros Teutônicos,
5 Acólitos Inquisidores, 2 Adeptos Inquisidores,
1 Bispo Inquisidor, 5 Executores,
4 Soldados teutônicos e 1 comandante
Teutônico.

11
 OPERA RPG
Observadores Perdidos Em Realidades
Alternativas
Após o livro ficar
na “gaveta” da Devir por
praticamente 2 anos, os autores
do OPERA conseguiram sua
liberação e publicaram seu
livro pela livraria campineira
Comic Store (A mesma de Anel
Elemental: O Legado).
O livro, escrito por
Leonardo Antônio de Andrade e
Rogério de Mello Godoy que antes
dessa publicação chegou a ter versões em disquetes
e em PDF, distribuídas livremente pela Internet, cuja
última versão em netbooks foi a 7.0, e este livro básico
foi baseado nessa versão.
Mas este sistema já teve livros impressos, sendo
que os primeiros livros baseados no sistema OPERA
a serem publicados foram o Resumo do OPERA,
um resumo de regras e o cenário O Mais Longo dos
Dias baseado no Dia D., ambos lançados no mercado
independente e diagramação e ilustrações simples, ou
seja “à baixo custo”.
Agora, esta publicação vem enaltecer (e
enriquecer, quem sabe?) os autores, depois das
grandes dificuldades que passaram.
Resumo do OPERA
O sistema OPERA é composto de 3 Atributos
Primários: Físico, Destreza e Inteligência, que são
obrigatórios para qualquer cenário e cujo a média geral
para um Humano é 6. Os outros são Vontade, Percepção,
Mana, Mente e Sorte, com Média variável. Após
definirem os Atributos são definidas as Características
(que são as conhecidas Vantagens e Desvantagens)
12
Por Daniel “Talude” Paes Cuter
e as Habilidades (Perícias). Para determinar quantos
Pontos de Criação você irá gastar no mundo atual você
calcula multiplicando por 3 e depois somando 10, com
um humano padrão tendo 28 pontos a gastar.
Ele faz uso de 2 dados de 6 faces e há 2 tipos
de teste: de Atributo e de Disputa. No primeiro é rolado
2d6 e tenta-se conseguir um número menor ou igual ao
Atributo, no segundo, rola-se 2d6 e soma-se o Atributo,
aquele que conseguir um número maior ganha a
Disputa. Para adquirir maiores informações do sistema,
é possível baixar o netbook OPEReta no site oficial do
sistema.
O Livro
O livro para começar a resenha, vem com
2 capas: A primeira é a capa dura tradicional e a 2ª
pode ser destacada para ser usado como Escudo do
Observador, que traz tabelas úteis ao Observador, além
de cumprir a função de “orelha” do livro. Isto, parece
que será uma marca da editora Comic Store.
A capa principal está muito bonita, com o logo do
OPERA em relevo com tons dourados e a diagramação
está muito boa, com hyperlinks indicando onde encontrar
as referências relacionadas aos assuntos tratados na
página, assim como o que há na página como HQs
explicativas e tabelas. As ilustrações são em Preto e
Branco e, em sua maioria são boas, enquanto outras
que vieram principalmente do Resumo do OPERA são
fracas.
O livro começa com uma introdução explicando
o que é RPG, de um modo bem simples e com o
humor peculiar da dupla afinal “RPG é Receptáculo
Prosopopéico de Gatafunhos?”. A ilustração que abre
a introdução remete à última! Não vou contar o que é,
senão estraga a surpresa!
 Os próximos 2 capítulos tratam da regras do final do capítulo, regras para Seres Artificiais, com mais
OPERA em si, mostrando como funciona a montagem destaque aos ciborgues.
do personagem, o que ocorre quando o personagem O último capítulo do livro trata de Tecnologia
sofre danos, a Evolução do personagem, as que traz Regras para Veículos Terrestres, Marinhos,
Características e Habilidades. Um detalhe interessante Submarinos, Aéreos e Espaciais, Computadores e
são as Habilidades em Bloco que lembram as usadas equipamentos de alta tecnologia, ou seja, muito material
em 3D&T (ou será o inverso?). No 3º capítulo, há uma para mundos Cyberpunk.
Aventura-Solo que, pena andam meio esquecidas no Lembram-se da ilustração que citei no início?
RPG e só tem aparecido nos mini GURPS históricos. Após o último capítulo, você a verá numa versão bem
Para resumir sem divulgar muitas informações: você é mudada. O livro encerra com o resumo OPEReta já
um garoto normal enterrado falado nessa resenha,
nos livros do vestibular e para “aquele jogador
vai ver TV, nela passa um O novo site oficial www.rpgopera.com inexperiente que estava
programa que... Bem, isso conta com muito material pronto para brincando com os dados
você lê no livro. jogar na sua seção de Downloads. enquanto você estava
O capítulo 4 é explicando as regras”.
dedicado ao Mestre, ou
melhor, Observador como este é chamado no jogo e
prepara este também para os próximos capítulos, além
Outros títulos
disso trata de como definir o Realismo e utilizando as
Depois que o título saiu pela Comic Store
Regras Opcionais e também dando dicas de como
tivemos, além do módulo básico outros títulos:
expandir a Aventura-Solo, tornando-a uma Aventura
(ou Campanha, quem sabe).
OPERA Conspiração do Amanhecer,
Como já foi dito os próximos capítulos são
originalmente publicado em netbook, sobre sociedades
opcionais, ou seja, você decide se vai usar nenhum,
secretas e psiônicos no mundo moderno. As sociedades
algum ou todos (Por que não?) na sua
são os Amonitas, que dizem que teve início no antigo
Campanha. Esses capítulos são:
Egito; Mercurianos,que se ergueram durante o
Armas e Armaduras, Artes Marciais,
Império Romano,; Shaitans, atualmente árabes
Poderes Psíquicos, Magia,
que surgiram na época do Império Romano;
Metamorfoses e Tecnologia.
Sidhatras, pacíficos, ligados ao Budismo
Algumas regras
e Zetotas, ligado ao partido judaico que
desses capítulos podem
combatia a diominação romana.
complicar, mas sempre
OPERA 1887: Sob o Sol do
há exemplos para estudar
Novo México, do mesmo autor de Anel
e depois aplicar no jogo,
Elemental: O Legado é sobre o velho
como por exemplo na parte
oeste trás o que é característica do
de Artes Marciais quando
autor: Longas listas de equipamento,
há a demonstração de
além disso, papel bem grosso e as
combate entre um Ninja e
profissões que podem ser assumidas
um Samurai com uma HQ
pelo personagem, sendo possível
Explicativa.
selecionar até 5 profissões diferentes
Os próximos
que o personagem trabalhou e
capítulos tratam de Poderes
trabalha.
Psíquicos e Magia, inclusive
OPERA O Mais Longo
na parte de Magias há
dos Dias é sobre a segunda
diagramas indicando que
guerra mundial e foi escrtito por
Magia gera a outra quanto
cinco autores, sendo também
de volume será gasto pela
o título com mais páginas de
Magia, assim como a utilização
todos os suplementos já lançados e tem as fichas
de Ações (Mais conhecido como Verbo) + Objetos
de personalidades históricas como o presidente DT
(Substantivo) para a criação de Magia, como por
Eisenhower e muitas informações militares, como
exemplo Produzir água, Controlar Som entre outras.
20 páginas detalhando o equipamento, as unidades
O capítulo Metamorfoses trata de Poderes para
especiais usadas na guerra e a perigosa regra de
Super Heróis e Mutações para Raças, além de três
confiabilidade do aparelho, atualizada do MB, além do
raças de exemplo: Dragões, Centauros e Elfos. Ao

13
“Mais Longo dos Apêndices”, com quase 60 páginas
sobre exércitos. Acesse:
O título mais esperado, sem dúvida, é OPERA
MM que propõe dar uma nova visão sobre os cenários NewsRPG (http://newsrpg.blogger.com.br)
de fantasia medieval, além do OPERA Intempol Newsletter RPG (http://br.groups.yahoo.com/
baseado no cenário que já teve quadrinhos pela Comic group/newsrpg)
Store, OPERA Hot Shot sobre aviação que mostra o REDERPG (http://www.rederpg.com.br)
caos após uma 3ª guerra mundial e uma versão OPERA
para o Anel Elemental: O Legado.

Conclusão
Este é um excelente módulo básico que aborda

várias idéias de cenário para o Mestre, na qual pensar

em misturar todas as regras do livro é praticamente uma
idéia extremamente maluca! Deve-se saber selecionar
o que será usado, seja numa adaptação ou numa
criação. Podendo ser realista ou não. Gosto muito dos
capítulos 6, 9 e 10, aonde se pode sentir a essência de
uma criação de um mundo.
O problema atualmente é que a média de
títulos é um por ano, sendo interessante pelo menos 1
em cada 3 até 6 meses, dependendo da necessidade
e do tamnaho e deixando os jogadores antenados
com o sistema. Também seria bom o relançamento
do Resumo do OPERA, atualizado e um novo screen
lançado separadamente, junto com um mini-cenário ou
uma aventura.
Se você procura um RPG genérico e realista,
por que não tentar o OPERA?

Resenha publicada originalmente na REDERPG,

atualizada em 2006.

14
 RAVENLOFT
De Névoas e Corrupção
Por Leandro “Lucifer Abaddon” Zerbinatti de Oliveira

Inúmeras são as lendas década de 80. A aventura foi um recorde de vendas, e

entre aventureiros de todos os rendeu uma continuação, “Ravenloft 2: The House on
mundos sobre uma terra distante, Gryphon Hill”.
envolta em névoas, onde o mal Mais tarde a TSR queria investir em um novo
domina e o bem não tem chance cenário, algo diferente, e devido as vendas a escolha
alguma. óbvia foi lançar um cenário de horror, assim o Castelo
Da mesma forma, muitas Ravenloft, palco da aventura original. Assim o castelo
são as lendas entre mestres e foi introduzido em um mundo, e na década de 90
jogadores de RPG, sobre tal foi lançado o cenário, um lugar sombrio criado por
mundo sombrio. O referido mundo entidades obscuras conhecidas apenas por Poderes
é o cenário de Ravenloft, e mesmo Sombrios,cuja existência não é conhecida pela maioria
entre jogadores e mestres ele tem sua fama como um dos habitantes, onde cada reino é na verdade governado
lugar maligno, um verdadeiro inferno, no qual a única por um ser de extrema corrupção que após ter praticado
alternativa dos heróis é a morte. Fama esta que chega um ato de maldade extrema acaba tendo um reino
a ser exagerada, o cenário de Ravenloft é um mundo formado nos moldes da sua maldade. Esses seres são
de trevas, isso não se pode negar, mas mesmo com os darklrods, ou lordes sombrios, eles são ao mesmo
sua sombria natureza o tempo senhores e
mundo possui belezas prisioneiros de seu
naturais como qualquer reino, possuindo
outro mundo, e um grande poder, mas
observador incauto, que jamais podendo
não se aprofundasse deixar o lugar e
na observação do como reflexo de todo
que realmente se seu poder recebem a
esconde por detrás pior das maldições,
do “palco” e a sob as jamais conseguir o
máscaras de seus que mais desejam.
regentes, observando Obviamente o
o local superficialmente cenário segue a linha
concluiria tratar-se de do horror gótico, um
um mundo normal. mundo obscuro,
Centenas de onde as névoas
páginas poderiam ser são um elemento
gastas para explicar o predominante, onde
Semi-plano do Pavor, aqueles que entram
e ainda assim nem todos os seus obscuros mistérios não conseguem sair
seriam esclarecidos. Portanto à seguir segue uma e tal gênero não é muito voltado para o combate, os
breve explicação sobre Ravenloft, e nada melhor para darklrods não são meros monstros que servem para ser
explicar o cenário do que detalhar o trajeto de todas destruídos um a um em cada aventura, na verdade eles
as suas encarnações desde sua primeira edição até os são mais ferramentas como pano de fundo na história,
dias atuais. porém não era esse o tratamento que o cenário recebia
Ravenloft teve início como uma aventura de em sua primeira edição.
horror para AD&D intitulada Ravenloft, lançada na No início, as aventuras consistiam apenas em
“mate o darklord e escape do semiplano”, a Terra das

15
Brumas (nome pelo qual os habitantes conhecem o
mundo, visto que Ravenloft é apenas o nome de um
castelo localizado no reino de Barovia) era tratada não
como um cenário me si mas como “um fim de semana
no inferno”, ou seja, os personagens de outro mundo
eram levados para lá, de alguma forma enfrentavam
um darklrod e no fim de aventura voltavam para seus
mundos de origem.
Tal atitude tirava o clima de um cenário
independente, tornando Ravenloft um “suplemento”
para outros cenários.
A história do cenário foi crescendo, uma versão
atualizada foi lançada, mas seu tratamento estava
longe de se assemelhar ao de um cenário independente,
um mundo de verdade (embora Ravenloft seja um
semiplano de existência, e não um planeta em si como
muitos outros cenários).
Até que finamente em 1997 foi lançado o livro
Domains of Dread, aqui traduzido como Domínios do
Medo, esse livro mudou totalmente a perspectiva, pois
foi ele que fez de Ravenloft um mundo independente,
dando uma descrição completa e atualizada do cenário,
e trazendo regras para a criação de personagens
nativos (até então uma novidade).
Em 2000, com o lançamento da 3 edição do
D&D Ravenloft foi cancelado e o site oficial Secrets
of the Kargatane foi sancionado pela Wizards of the
Coast para produzir material oficial online e gratuito.
Nessa mesma época com o apoio da Kargatane e com
a iniciativa de Rodrigo Morgado o site www.ravenloft.
com.br surgiu para dar apoio aos fãs brasileiros.
Em 2001 a White-Wolf anunciou a compra dos
direitos para a publicação da 3 ed do cenário, contando
com os membros da Kargatane como autores de alguns
livros. O foco de Ravenloft continuou, até que em 31 de
Outubro de 2003, a Kargatane anunciou que seu site
chegava ao fim e que eles estavam pulando fora por
desentendimentos, diferenças criativas com a White-
Wolf.
Aos poucos o número de livros lançados foi
diminuindo e por fim e Agosto de 2005 o cenário foi
cancelado. A Wizards não pretende relançar o cenário,
porém prepara uma aventura genérica envolvendo o
Castelo Ravenloft para o final de 2006.
aos Gazetteers de Ravenloft.
Ravenloft não é um inverno onde hordas de
serres malignos destroça os heróis, é um mundo de
sombras, de corrupção, e tragédia. Drama e horror. E
para cada elemento desses há também o heroísmo,
a bondade e a inocência, mostrando o caminho que
pode ser trilhado para que o sofrimento acabe. Aqui
o importante não é acabar com o mal do mundo, isso
talvez seja impossível, se uma vida inocente puder ser
salva ou se um indivíduo resistir a corrupção já é uma
vitória.
Por fim, o vilão de Ravenloft não é um ser
estranho aos personagens, o vilão aqui é como cada um
de nós, um ser que vive, e que tem sonhos e desejos,.
Um ser que busca a felicidade, mas cujos meios para
buscar seus desejos acaba se excedendo. Assim os
heróis podem ver a si mesmos refletidos em um vilão, a
única diferença está na escolha que se faz.
Essas linhas, caro leitor, trazem menos do
que o básico sobre a Terra das Névoas, se elas não
esclareceram suas dúvidas, o que posso dizer te é o
seguinte:
Olhe, a lua está cheia, as névoas nos cercam,
dá-me tua mão e deixa que te conduza para as névoas,
mas uma vez que a elas adentrar, não haverá volta,
pois nelas existem segredos inimagináveis, mas que
mancharão para sempre a pureza de tua alma.
Não deixem de visitar...
www.ravenloft.com.br

O Horror se fortalece em sua

Pós Vida
O cenário está agora nas mãos dos fãs,
internacionalmente o site Fraternity of Shadows está
lançando material, e nacionalmente nós do www.
ravenloft.com.br estamos lançando netbooks e outros
materiais além de dar continuidade de forma não oficial

16
TITANIC

Cenário/Aventura para

OPERA RPG
1ª Parte
Fernando Rodrigues Fontana
 A SOMBRA DO TITANIC A aventura que você tem em mãos agora retrata
a história desse transatlântico, de seu naufrágio, de suas
vítimas e até mesmo de suas lendas, mas não se passará no
Introdução passado e no TITANIC original e sim em um futuro próximo,
mais precisamente no ano de 2005.
Titanic, poucos Os personagens terão a oportunidade de embarcar
são os que não em uma réplica perfeita Titanic, feita de modo a imitar o antigo
conhecem a história do vapor nos mínimos detalhes, a porcelana, os móveis, os
navio que nem mesmo utensílios, tudo copiado para serem idênticos ao que estava
o próprio Deus poderia a bordo do Titanic no ano de 1912.
afundar, mas que no Uma réplica construída para agradar os antigos
ano de 1912, em sua fãs da história do navio, uma réplica construída para trazer
viagem inaugural iria o passado de volta, e com ele, todas as lembranças,
naufragar nas águas divertimento por um preço bastante acessível.
geladas do Atlântico Qual o desafio deste cruzeiro de férias?
Norte, deixando cerca O passado do Titanic não tem nada de divertido, é
de 1500 vítimas e vários um passado de dor e sofrimento, o navio se tornou o túmulo
sobreviventes que aquático de centenas e centenas de pessoas, que em
jamais se esqueceriam pouco tempo viram todos os seus sonhos se desfazerem e
daquela noite fatídica. afundarem no oceano.
O que talvez Será possível remexer em todo esse sofrimento sem
intrigue a muitos é o fato conseqüências?
de que, passados mais Não desta vez.
de noventa anos de Aqueles que morreram no Titanic serão acordados
seu naufrágio, o Titanic de seu sono e retirados de seu mundo, irão desejar vingança,
continuar a despertar a curiosidade das pessoas, sendo tema pois o tempo não passou para eles e tudo o que verão é
de filmes, livros e páginas de Internet. um bando de pessoas fúteis se divertindo às custas de sua
O que há de tão especial nessa história? dor, dançando uma bela valsa no salão onde viveram seus
A resposta para esta pergunta está no passado, na últimos e derradeiros momentos.
época em o Titanic foi idealizado e construído, nas pessoas Não, essa não é mais uma história romântica sobre
que viviam naquele tempo e na série de acontecimentos o Titanic, é um pesadelo que está para começar, e os
e coincidências que conseguiriam afundar o maior, mais personagens logo perceberão que, por uma série de razões,
luxuoso e poderoso navio já construído até então. estão bem no meio dele, sem ter como e nem para onde
Era o início do século XX, e a sociedade britânica fugir.
acreditava estar adentrando um século de glórias, descobertas Com o fim deste pesadelo haverá a redenção e o
e avanços indescritíveis, o ser humano começava a se achar fim da culpa ou a repetição de uma antiga tragédia e o fim
poderoso, capaz de enfrentar e até mesmo domar as forças prematuro de inúmeras vidas, mais fantasmas para povoar a
da natureza ao seu redor. história e lenda do TITANIC.
O Titanic nasce sob as influências desta época, o E porque os personagens não podem simplesmente
maior objeto móvel já construído pelo homem, seu tamanho, fugir?
um reflexo de sua força e poder incomparável, luxuoso de Nas próximas páginas você descobrirá que alguns
tal maneira que nenhum outro navio conseguisse receber deles já fizeram isso uma vez, já fugiram, abandonando
melhor a fina aristocracia britânica. pessoas para morrerem e a culpa os perseguiu através do
Naquela época, era difícil olhar para o Titanic e não tempo, ultrapassando até mesmo os limites da morte e da
se impressionar com o que o ser humano havia sido capaz vida.
de construir. Desta vez eles terão que enfrentar o passado e os
É nesse ponto que a história desse gigante começa seus medos.
a se imortalizar. Seja bem vindo à bordo do TITANIC.
Titanic, o navio dos sonhos, incomparável, símbolo de
poder e status não apenas naufragou, ele sequer conseguiu Capitão Observador Fernando
completar sua primeira viagem.
Como isso pode acontecer? Até que ponto a
arrogância humana foi responsável pelo naufrágio e morte
de todas aquelas pessoas?
O fato é que várias seriam as maneiras de se evitar o
ocorrido, várias seriam as maneiras de pelo menos diminuir
drasticamente o número de vítimas, mas de alguma maneira,
de algum modo, alguma coisa sempre levou o Titanic, seus
tripulantes e passageiros, mais e mais próximos de seu
destino fatal.

19
 Capítulo I incondicional de J. P. Morgan, J. Bruce Ismay se
torna o presidente e diretor geral da companhia,
sua opinião é muito respeitada e aceita entre os
Nasce uma Lenda acionistas.
Em 1907, o ambicioso projeto idealizado por
Em 1898, J. Bruce Ismay é aprovado e têm início à construção
após a morte de seu dos três navios irmãos da classe Olympic, o
pai, Joseph Bruce Olympic, o Titanic e o Gigantic.
Ismay assumia a No dia 20 de outubro de 1910 termina a
White Star Line construção do Olympic e o mesmo é lançado ao
(Companhia Estrela mar com sucesso, em 31 de maio de 1911 é a vez
Branca), com um do casco do Titanic ser lançado ao mar, fazendo ali
único objetivo em a sua primeira vítima.
mente, levar a
companhia ao topo
e à supremacia das PRIMEIRA VÍTIMA
viagens marítimas
no século que Um dos operários responsáveis pela remoção das esco-
estava para ras que seguravam o costado do navio ficou preso pela
perna quando uma destas escoras ruiu, ele é levado às
começar.
pressas para o Royal Victoria Hospital, mas não suporta
Os ricos
os diversos traumas sofridos e falece no dia seguinte.
passageiros
b r i t â n i c o s
A sociedade da época assim como a
desejavam cada vez mais luxo e velocidade e com
imprensa fica impressionada com o tamanho e a
isso tornavam mais e mais acirrada a disputa entre
tecnologia empregadas no Titanic, com seus quase
a White Star Line e sua principal concorrente, a
270 metros de comprimento, casco duplo, 16
Cunard Line.
compartimentos à prova de água e portas à prova
A Cunard Line apresentava como armas o
de água que podiam ser acionadas eletricamente a
Mauritânia e o Lusitânia, seus dois maiores e mais
partir da ponte de comando, ele ganha da imprensa
luxuosos transatlânticos.
britânica a fama de insubmergível.
Em 1900, a White Star Line começa a
Em Junho de 1911 o Olympic parte para
projetar três grandes vapores, maiores e mais
sua primeira viagem, a data inicial para a viagem
luxuosos do que tudo já feito até então, é através
inaugural do Titanic é
destes navios que J.
definida como sendo 20
Bruce Ismay pretende
PRIMEIRO ACIDENTE DO VELHO CAPITÃO de março de 1912, mas
superar sua rival e
um incidente iria obrigar
alcançar novamente o
a companhia a alterar os
primeiro lugar entre as Em 20 de Setembro de 1911, sob o comando do vet-
erano capitão Edward J. Smith (o mesmo capitão que seus planos e adiar esta
companhias marítimas.
iria comandar o Titanic em sua primeira e única via- viagem.
No ano de 1902
gem), o Olympic colide com o cruzador da marinha Em janeiro de
a White Star Line, em real Hawke, sofrendo diversas avarias. A White Star
1912, os botes salva-
dificuldades financeiras, Line desloca trabalhadores e recursos para reparar o
vidas são levados a
é vendida para um cartel Olympic atrasando assim o término do Titanic, adian-
bordo, o navio tem
de navegação controlado do sua viagem inaugural para 10 de abril de 1912.
capacidade para receber
pelo banqueiro americano
até 48 botes, mas com
J. Pierpont Morgan, os
o objetivo de dar mais espaço aos passageiros
seus navios continuam com tripulação e bandeiras
tal capacidade é ignorada e apenas 16 botes
inglesas, mas passam para o controle de acionistas
e 4 desmontáveis são colocados no navio. Se a
americanos.
capacidade máxima do navio fosse respeitada,
Apesar disso, em 1904, com o apoio
haveria a possibilidade de se salvar todas as

20
pessoas á bordo.
Infelizmente o Titanic, com seus 20 botes,
superava o que a antiquada lei inglesa impunha
para navios com mais de 10.000 toneladas, pois,
para navios com esse tamanho a lei inglesa exigia
que houvesse no mínimo 16 botes salva vidas á
bordo.
Em 31 de Março, o Titanic está praticamente
pronto, devido a algumas modificações estruturais
e um maior número de suítes, ele supera seu irmão
mais velho, o Olympic. O Titanic era então, o maior
e mais luxuoso
navio da época.
Em 02
de Abril de
1912, o Titanic
passa por testes
obrigatórios,
testes de
equipamentos,
m a n o b r a ,
velocidade e parada total a uma velocidade de 20
nós. São necessários cerca de 778 metros para que
o Titanic pare completamente a essa velocidade.
No fatídico dia do impacto o navio estava a
uma velocidade de 22 nós (cerca de 40 km/h) e o
Iceberg fora avistado a uma distância aproximada
de 460 metros, tornando impossível uma parada
total do navio. Os testes de parada com velocidade
acima de 20 nós nunca foram realizados.
No dia 03 de Abril, o Titanic chega a
Southampton, porto de onde partirá para sua última
viagem, do dia 05 até o dia 09, ele recebe todos os
suprimentos e o carvão necessários para a viagem
que se iniciaria no dia seguinte.
21
Histórico
Nas próximas
páginas você terá um
histórico completo dos
fatos que levaram o
Titanic ao naufrágio
mais famoso da história
da humanidade, desde
sua partida no porto de
Southampton até o resgate
dos sobreviventes pelo
navio S.S. Carpathia.
Há quem diga que
a enorme quantidade
de fatos e decisões
equivocadas que levaram o navio ao fundo do
oceano atlântico não foram meras coincidências,
mas sim o destino inevitável de um navio que
simbolizava a arrogância de toda uma sociedade.
Um dos principais argumentos destas
pessoas é o romance Futility (Futilidade), escrito
por Morgan Robertson e publicado em 1898.
No romance Morgan descreveu o Titan, o
maior navio já fabricado até então, considerado
insubmergível e por isso mesmo, tornando
dispensável uma grande quantidade de botes
salva-vidas.
O insubmergível Titan, no entanto, viria a
colidir com um Iceberg em sua viagem inaugural,
rasgando o seu caso a estibordo e afundando o
navio, causando a morte da maioria dos seus
passageiros.
Não para por ai, o Titan e o Titanic podiam
alcançar a mesma velocidade máxima (25 nós),
ambos tinham um número de pessoas a bordo
bastante parecido (2000 no Titan e 2228 no Titanic)
e ambos naufragaram no mesmo mês (Abril).
Coincidência? Vale lembrar que este
romance foi publicado em 1898, ano em que J.
Bruce Ismay estava assumindo a White Star Line,
portanto, 14 anos antes do naufrágio do Titanic.
Southampton - 10 de Abril de 1912, 7:30.
O Capitão E. J. Smith sobe a bordo do
Titanic, recebe o relatório da navegação, passa em
revista à tripulação e um exercício com os botes
salva-vidas é realizado.
Apesar de estar no comando do Olympic
quando este se acidentou, o capitão Smith Titanic são acionadas ecoando pelo porto, o navio
desfruta da confiança da White Star Line e de sua está de partida.
tripulação, é um veterano e esta será sua última Todos que não são passageiros ou
viagem, um presente da companhia pelos vários pertencentes à tripulação abandonam o navio,
anos de serviços prestados, amigos, parentes ou
uma aposentadoria em grande simplesmente curiosos
estilo. acenam do porto para os
passageiros a bordo do
Southampton – quarta- Titanic.
feira, 10 de Abril de Em meio a toda a
alegria da partida para esta
1912, 9:30.
viagem histórica, o Titanic
iria fazer novas vítimas.
Os passageiros
Além de fazer
começam a embarcar no
mais uma vítima em sua
navio, já aqui é possível
partida, as coisas não
perceber e enorme diferença
corriam exatamente bem
de tratamento entre os passageiros da primeira,
a bordo do navio. Em seu interior, sem que os
segunda e terceira classe.
passageiros suspeitassem havia um incêndio em
Enquanto os passageiros da primeira classe
um dos depósitos de carvão, sem que a tripulação
embarcavam com toda a elegância e nobreza típica
conseguisse controla-lo.
da aristocracia britânica, a terceira classe passava
O fogo no depósito de carvão número 10 já
por uma humilhante e obrigatória inspeção sanitária,
ardia quando o Titanic chegou até o
inspeção essa que,
porto de Southampton, e o capitão
diga-se de passagem,
E. J. Smith tinha conhecimento
nem mesmo os cães da
dele, mas fora tranqüilizado
primeira classe eram
pelo engenheiro chefe e pelos
obrigados a passar.
inspetores da Harland & Wolff,
Isso não parece
companhia que construiu o navio.
incomodar em absoluto
Segundo eles, as chamas no
os passageiros da
terceira classe, a
maioria está radiante
MAU PRESSÁGIO NA PARTIDA
com a viagem que
se aproxima, grande Ao zarpar o Titanic criou um desloca-
parte deles está mento de água com força o suficien-
partindo para a América em busca da Terra da te para esticar ao extremo as amarras que prendiam
Oportunidade, uma chance de começar vida nova o navio New York ao cais. Não suportando a pressão
e de enriquecer. exercida sobre elas, tais amarras, feitas de metal ar-
Luxo, poder e riqueza na primeira classe, rebentaram e chicotearam as pessoas que estavam
uma segunda classe mais luxuosa do que a primeira lá para assistir ao navio. O saldo de mais este evento
classe de alguns navios, sonhos e esperança na sinistro ligado ao Titanic foi de 4 pessoas feridas e
uma mulher morta.
terceira classe, o Titanic recebe pessoas de classes
Sem as amarras que o prendiam, o New York vai em
diferentes, de mundos diferentes, mas com algo em
direção ao Titanic, e a colisão é impedida por apenas
comum, a grande maioria está feliz pela chance de 1,2 metros, o mesmo que nada em se tratando de em-
estarem na viagem inaugural do Titanic. barcações com o tamanho do Titanic e do New York.
O incidente atrasou em uma hora a chegada do Ti-
Southampton – 10 de abril, 12:00. tanic a Cherbourg e demonstrou claramente a falta
de preparo da tripulação para comandar navios do
Pouco depois do meio dia, as sirenes do tamanho do Titanic.

22
interior do depósito não representavam perigo
para o navio e poderiam ser debeladas com o
reforço de novos foguistas que embarcariam em
Southampton.
Não existe relato algum comprovando que o
fogo foi realmente extinto antes da partida do navio,
e o fato é que o Titanic partiu no horário previsto,
com ou sem um incêndio a bordo.
O navio reúne a bordo algumas das maiores
fortunas do mundo, entre as pessoas da primeira
classe podemos destacar o “Rei do Cobre”
Benjamin Guggenheim, Sr e Sra. Isidor Strauss,
donos dos maiores armazéns de Nova York e John
Jacob Astor, conhecido neto do “Rei dos Hotéis”
e o homem mais rico a bordo. Além deles estava
presente o próprio J. Bruce Ismay, presidente da
White Star Line e idealizador do projeto que iria dar
forma ao mais luxuoso navio do mundo.
Ismay não poderia deixar de estar lá, era o
seu momento de triunfo, a realização de seu sonho
e o início de uma nova era nas viagens marítimas,
ele estava no Titanic não apenas para desfrutar de
cada instante da viagem, mas para garantir que
nada saísse de errado.
Sua presença a bordo viria a ter um papel
importante nos fatos que levariam o navio ao seu
derradeiro fim.
O Titanic não seguiu diretamente para o seu
destino final em Nova York, ainda havia escalas em
Cherbourg (França) e em Queenstown, na Irlanda,
para deixar alguns passageiros e receber outros.
Cherbourg / França – 10 de abril, 17:30
O Titanic chega com uma hora de atraso ao
porto de Cherbourg, os passageiros não embarcarão
diretamente no Titanic, por isso são embarcados
em barcos que os levarão até o navio.
Todas as luzes do navio são acesas e os
franceses têm a oportunidade de ver o gigante
da White Star Line todo iluminado no porto. Vinte
e dois passageiros terminam sua viagem aqui
em Cherbourg e abandonam o navio, outros 274
passageiros embarcam no Titanic.
Precisamente as 20:30, o Titanic levanta
âncora e parte para a Irlanda onde irá receber os
últimos passageiros.
23
Queenstown/Irlanda no Norte - 11 de abril
de 1912, 13:30.
O Titanic chega ao porto de Queenstown onde
recebe os seus passageiros, são 113 passageiros
da terceira classe e 7 da segunda que embarcam
juntamente com os malotes da correspondência.
São 14:00 e o Titanic levanta âncora para
seguir viagem rumo à Nova York com chegada
prevista para o dia 17 de Abril, um clima alegre
toma conta do navio, pois a promessa é a de mais
6 dias de festividades.
Para ajudar não havia uma única nuvem de
chuva no céu, o oceano estava calmo e a viagem
prometia ser absolutamente tranqüila, nada parecia
poder atrapalhar a viagem do Titanic.
Para Bruce Ismay, entretanto, uma viagem
tranqüila não era o bastante. Ismay havia definido
que o Titanic iria ser comentado por todos, o Titanic
deveria ser notícia, não apenas por seu tamanho
colossal ou por seu luxo, mas também por seu
desempenho e velocidade, fazendo dele, o navio
perfeito.
Para concretizar o seu plano, Ismay tinha
em mente a conquista da Flâmula Azul.
Ismay desejava a Flâmula Azul para o trajeto
entre Southampton e Nova York, desbancando
assim a Cunard Line, sua concorrente direta pela
rota.
TROFÉU PARA O MAIS VELOZ
A Flâmula Azul era um título muito disputado entre as
companhias de navegação da época e era dada ao
navio que conseguisse realizar um determinado tra-
jeto em menos tempo.
Embora fosse presidente da companhia
White Star Line, dona do Titanic, isso não dava a
Ismay a possibilidade de usurpar o comando do
navio do capitão Smith, em terra firme o capitão
era funcionário de Ismay e este poderia até mesmo
despedi-lo, mas dentro da embarcação, Ismay
era teoricamente “apenas” mais um passageiro,
incapaz de determinar a velocidade que o navio
deveria alcançar.
Entretanto, existem testemunhas entre os
sobreviventes que alegam terem visto o presidente
da companhia pressionando o capitão a aumentar navio, este emite mensagens de alerta para todos
a velocidade para tentar ganhar o prêmio e as os outros que estiverem na área, diminuindo assim
conseqüentes notícias dos jornais. o risco de naufrágios.
Não é difícil imaginar que sendo sua viagem São 13:42 minutos, o capitão recebe
de aposentadoria, o capitão tenha ficado tentado uma mensagem do S.S. Baltic, alertando sobre
a encerrar sua carreira em grande estilo, fazendo Icebergs e grande quantidade de gelo em sua
parte da história e ao mesmo tempo caindo nas rota, é o terceiro alerta que o capitão recebe no
graças da empresa para qual durante tanto tempo dia e ele a entrega para J. Bruce Ismay, que toma
trabalhou. conhecimento dela, mas a guarda e comenta com
Não se sabe se este foi o motivo, mas o passageiros que gelo não representa perigo para o
que se tem certeza é que o Titanic, na noite do Titanic.
impacto, estava desenvolvendo uma velocidade A quarta mensagem de gelo chega à sala
de 22 nós, velocidade esta, bastante arriscada do telégrafo, ela vem do S.S. Amerika, e relata
para uma região repleta de Icebergs e com a sua a presença de 2 grandes Icebergs na rota do
visualização dificultada pela falta de ondas indo deTitanic, infelizmente, às 13:45, logo após ter
encontro a eles. recebido esta mensagem o aparelho de telégrafo
Porque o veterano capitão Smith se arriscaria
quebra, obrigando Jack Phillips e Harold Bride,
tanto, se não fosse para encerrar a carreira em seu substituto, a passarem boa parte da tarde o
grande estilo? consertando, isso provavelmente foi à razão dessa
mensagem jamais ter chegado até o capitão.
Oceano Atlântico – 11 a 13 de Abril de Até as 22:30 do dia 14, o Titanic recebe mais
1912. duas mensagens alertando sobre quantidades
maciças de gelo logo à sua frente, porém elas não
O Titanic percorre mais de 1600 km com chegam até a ponte de comando e ao capitão,
tempo e oceano tranqüilos, os passageiros se pois, aparentemente, o operador Phillips estaria
impressionam com a estabilidade do navio. muito ocupado enviando as mensagens de
Algumas mensagens avisando sobre gelo na rota passageiros para terra firme, uma vez que elas
escolhida pelo Titanic são recebidas, mas elas são teriam acumulado devido à perda de tempo para
comuns nesta época do ano e não despertam a consertar o aparelho.
preocupação do capitão e menos ainda de sua
tripulação. 14 de Abril de 1912, 22:20 – Navio
Californian.
Domingo – 14 de abril de 1912
O navio
O Titanic está equipado com o que há de carga
de mais moderno em termos de tecnologia de C a l i f o r n i a n ,
comunicação, um poderoso Radiotelégrafo sem rumando de
fio Marconi, este equipamento poderia enviar e Londres para
receber mensagens Boston, está
a uma distância cercado de
muito maior do que gelo por todos
a maioria dos navios os lados.
que navegam nesta O capitão Lord ordena que parem as
época. máquinas e que sejam enviadas mensagens de
Os avisos alerta sobre a imensa quantidade de gelo na área.
de Iceberg não Por volta das 22:25, o Californian está
param de chegar, completamente parado, aguardando que as
como é de costume, sempre que uma grande condições de visibilidade melhorem para que ele
concentração de gelo ou Iceberg é avistada por um possa seguir viagem.
As 23:00, os vigias deste navio avistam um

24
navio se aproximando pelo leste e concluem que calmo até demais, não haviam ondas, ondas estas
deve se tratar do Titanic. Com uma lâmpada o que ao bater contra um Iceberg facilitariam em
capitão tenta contato via código Morse, mas não muito a visão dele à distância. Além disso, faltava-
obtém resposta por parte do outro navio. lhes um binóculo, equipamento essencial em sua
O navio avistado está seguindo em direção função, aparentemente havia apenas um único
a uma área de risco, preocupado com o rumo que binóculo a bordo e este estava desaparecido.
ele está tomando, o capitão Lord ordena que seja À noite de 14 de Abril
enviada uma mensagem via radiotelégrafo. está fria, muito fria, Frederick
O telegrafista do Californian recebe a missão Fleet e seu companheiro de
de informar o navio avistado e inicia o envio da vigia Reginald Lee tentam se
mensagem: aquecer da melhor maneira
Jack Phillips interrompeu bruscamente a possível, enquanto se esforçam
mensagem do Californian, muito provavelmente para enxergarem qualquer
por estar atolado com diversas mensagens dos sinal de perigo logo à frente.
passageiros que não puderam ser passadas Fleet percebe um vulto
durante à tarde, com isso ele ignorou um aviso que logo à frente, uma forma mais
poderia ter salvado a vida de todos a bordo. escura do que a água do oceano que aumenta
O telegrafista do Californian assume que o cada vez mais, em poucos instantes ele percebe
Titanic está mais do que ciente sobre os Icebergs que se trata de um imenso Iceberg a cerca de 460
logo à sua frente e continua a escutar as mensagens metros, bem à frente do navio.
enviadas por ele até as 23:30, quando desliga o Fleet taca o sino do mastro em desespero,
seu equipamento e vai dormir como de costume. ao mesmo tempo em que tenta contato com a
O Californian, navio mais próximo e capaz ponte de comando:
de salvar a vida de todos os passageiros a bordo
do Titanic, para de receber mensagens de telegrafo Iceberg, logo à frente!
10 minutos antes do impacto fatal do Titanic.
O sexto oficial Moody recebe a informação
14 de Abril de 1912, 23:40. e imediatamente comunica o primeiro oficial Willian
Murdoch, que dá a ordem ao timoneiro:
Com a chegada da noite, o capitão Smith
envia dois vigias para o mastro, a função destes Tudo a estibordo!
homens é a de alertar o navio sobre a presença de
qualquer Iceberg ou grande quantidade de gelo em Ao mesmo tempo em que ordena a virada do
sua rota. navio a estibordo, pelo telegrafo de bordo Murdoch
Estes homens eram especialmente ordena parada total, seguida
treinados pelas companhias de navegação, dada a da reversão dos motores.
importância de sua função, pois um impacto contra Murdoch acredita
um Iceberg seria capaz de levar qualquer navio ao estar tomando a atitude
fundo do oceano em pouquíssimo tempo. mais correta diante da
situação, mas ele está
enganado. Devido ao
Californian: “Ouça, amigo, estamos cercados pelo
gelo e...” pouco tempo empregado
Titanic: “Desapareça, cale-se, você está interferindo nos testes de manobra
com minha transmissão, estou tentando me comuni- com o Titanic não se sabe o
car com Cape Race.” tempo necessário para que
o navio execute a manobra
ordenada por Murdoch.
Apesar de seu treinamento e atenção As hélices do Titanic
redobrada, os vigias daquela noite contavam com param e começam a dar ré, em alguns segundos
imensas dificuldades, o oceano estava calmo, que mais parecem uma eternidade a proa do

25
navio começa a se virar para a esquerda, mas de informações a respeito do ocorrido.
infelizmente o Iceberg foi visto tarde demais. Fleet, Fazem apenas 10 minutos que o impacto
Murdoch e a tripulação na ponte de comando ocorreu e a água entra com rapidez em vários
observam em pânico o casco do Titanic se chocar compartimentos. Os motores são colocados em “á
contra o Iceberg. frente e devagar”.
A 22 nós, cerca de 40km/h, um gigante O capitão chega à ponte de comando e
de 46.000 toneladas se recebe o relatório
choca contra um imenso preliminar de um
bloco de gelo. A colisão visivelmente assustado
LOCALIZADO TARDE DEMAIS
dura 10 longos segundos, oficial Murdoch, ele
e durante este tempo Várias décadas depois do naufrágio, em uma das ordena parada total
o Iceberg causa sérios muitas expedições ao imenso campo de destroços do dos motores para que
danos ao casco do Titanic, Titanic, foi encontrado um binóculo. Irônico o fato de o navio possa ser
abrindo não apenas um, que se no dia do naufrágio este binóculo estivesse inspecionado e os
mas vários pequenos nas mãos dos vigias, o Iceberg teria sido visto bem danos avaliados.
rombos por boa parte de antes e a tragédia poderia ser evitada. Para esta
sua extensão. avaliação dos danos
Murdoch sabe que o capitão se junta a
tem que agir rápido, ele ainda não tem idéia da Thomaz Andrews, engenheiro chefe do Titanic
gravidade dos danos sofridos, mas sabe que não e ambos descem aos conveses inferiores para
devem ser pequenos, por isso mesmo ele aciona poderem ter uma idéia da situação.
o mecanismo que fecha as portas estanques na Em pouco tempo eles percebem que a
esperança que elas contenham a água que por situação não é nada boa. Andrews demonstra ao
ventura esteja entrando no navio. capitão que devido à extensão dos danos e ao
Estar portas, que podiam ser acionadas a número de compartimentos inundados (o navio era
partir da Ponte de Comando, isolavam os vários capaz de flutuar com até quatro compartimentos
compartimentos, impedindo que a água corresse alagados, mas com os cinco que foram afetados
livremente entre eles, infelizmente, o número pelo impacto não), o navio não teria muito tempo
de compartimentos alagados, fez com que a de vida, possivelmente não mais do que 2 horas.
proa descesse Em meio
rapidamente ao silêncio e ao
e que a água medo estampado na
p a s s a s s e face dos presentes,
por cima dos o capitão Smith
compartimentos, pergunta ao primeiro
fazendo com oficial Murdoch qual
que tais portas o número exato de
apenas adiassem pessoas a bordo.
por breves instantes o inevitável. A reposta é terrível: “2228 almas a bordo
Vários foguistas que estavam trabalhando senhor”.
nas caldeiras não tiveram tempo de escapar, O capitão sabia que os botes salva-vidas
ficando presos nos compartimentos inferiores e tinham capacidade para apenas metade destas
morrendo afogados. pessoas e que se a ajuda não chegasse rápido
centenas de vidas se perderiam nas águas geladas
14 de abril de 1912, 23:50 do oceano, a partir daquele momento, cada
segundo era importante.
O abalo causado pelo impacto com o Iceberg
é sentido por vários passageiros e tripulantes, 14 de abril de 1912, 24:00
entre eles, o capitão E. J. Smith, que segue
imediatamente para a ponte de comando em busca Sem nenhuma alternativa, o capitão Smith

26
se dirige à sala do telegrafo onde dá a seguinte 15 de abril de 1912, 00:05
ordem ao operador: “Informe a quem responder que
estamos afundando rápido pela proa e precisamos O capitão Smith ordena que os passageiros
de auxílio imediato”. Inicialmente, é enviado o sejam acordados, que vistam coletes salva-vidas e
sinal de socorro padrão, CQD, mas pouco tempo que botes salva-vidas sejam descobertos.
depois o operador do telégrafo visando demonstrar A princípio os passageiros não são
o desespero da situação informados de que o navio está afundando,
o troca por um sinal recebem apenas instruções para se prepararem
de socorro recém e subirem ao deck de botes, muitos acreditam se
implantado: S.O.S (Save tratar de um exercício de rotina.
ou Souls, “Salvem nossas A proa do navio afunda rapidamente e a
Almas”). tripulação aflita obedece ao capitão e começa
No continente, a preparar os botes salva-vidas para que sejam
as estações costeiras baixados.
de Halifax e Cape Race
recebem os pedidos de ESQUECIDOS Pensando em
socorro e impotentes, manter a ordem
retransmitem o sinal na Enquanto os passageiros da e diminuir o
tentativa de encontrar primeira classe recebem todo o desespero dos
alguém que possa ajudar o auxílio necessário, sendo acordados e instruídos passageiros, o
Titanic. corretamente, os da terceira classe são deixados à capitão ordena
Vários navios respondem própria sorte, são acordados aos gritos pela tripula- que a orquestra
aos pedidos de socorro, mas ção, muitos não entendem o que esta acontecendo e seja trazida para
voltam a dormir, outros sequer chegam a ser avisa-
nenhum está perto o suficiente o convés e que
dos.
para poder ajudar o Titanic, o Vários deles só percebem que o navio está toque músicas
vapor alemão Frankfurt está a realmente afundando quando a água começa a inva- alegres e suaves.
241 km de distância, o Olympic, dir os seus camarotes.
irmão gêmeo do Titanic, está Alguns passageiros da terceira classe não 15 de abril de
ainda mais longe, a 805 km de conseguem encontrar o caminho para o deck dos
1912, 00:25
distância. botes porque não existem placas de orientação em
O radiotelegrafista do outras línguas, eles se perdem nas entranhas do
navio e morrem afogados. O capitão
navio de passageiros Carpathia,
indo de Nova York a Liverpool Existem boatos de que as passagens que le- é informado
de que o navio
consegue contato com o vam a terceira classe teriam sido fechadas para im-
pedir que os passageiros dela chegassem aos botes mais próximo
Titanic e assustado ouve os
gerando um grande tumulto, se tais boatos são ver- a responder
pedidos de socorro, informando dadeiros grande parte dos passageiros não teve se-
o chamado é
imediatamente ao seu capitão. quer a chance de tentar se salvar. o Carpathia e
Arthur H. Rostron, capitão Embora essas informações não sejam con- de que ele só
do Carpathia ordena que o firmadas, os números de sobreviventes não deixam
chegará em 4
curso seja alterado para o local dúvidas sobre quem recebeu prioridade no naufrágio
horas, tempo
onde está afundando o Titanic, e quem foi esquecido. A grande maioria dos sobrevi-
ventes pertence à primeira classe.
demais para o
ele está a 94 km do acidente e
Titanic que tinha
a sua velocidade normal é de 14
menos de 2 horas
nós. As válvulas de segurança
de vida.
na sala de máquinas são fechadas ilegalmente
Não há mais nada que ele possa fazer, é
para que o navio possa aumentar sua velocidade
impossível salvar todos a bordo. Visivelmente
para 17 nós, cerca de 30 km/h, em uma tentativa
abalado, Smith ordena que os botes sejam
desesperada de chegar ao Titanic.
baixados, os oficiais começam a chamar mulheres
e crianças para entrarem nos botes.
Muitas mulheres desesperadas se recusam
27
a se separar de seus maridos que, de acordo com Thomaz Andrews, engenheiro chefe do
as instruções, não podem entrar nos botes. Para Titanic exige que a tripulação encha os botes com
convencer algumas delas, os oficiais insistem que sua capacidade máxima, ele sabe que os botes
se trata de apenas um exercício e de que em breve foram testados e que são capazes de suportar o
os botes serão trazidos de volta ao navio. peso de 60 pessoas, assim como sabe que cada
lugar vazio em um bote é uma vida a menos que
15 de abril de 1912, 00:45 será salva.
Em um destes botes, mais precisamente
O primeiro bote é baixado com apenas o bote desmontável C, entra J. Bruce Ismay,
27 pessoas. A maioria da tripulação não possui presidente da White Star Line. A atitude do senhor
o treinamento necessário para a Ismay seria condenada por
operação de salvamento durante boa parte da sociedade
um naufrágio, por essa razão, com britânica como covarde e
medo de que os botes possam virar até mesmo criminosa, já
ou mesmo afundar, eles começam que o navio pertencia a sua
a enchê-los com menos do que a empresa e se esperava dele
metade de sua capacidade total. a coragem e a dignidade
O despreparo é tamanho que de afundar com o Titanic,
o bote de emergência número 1, 5º cedendo assim o lugar a
bote a ser descido é baixado com mais uma mulher ou criança
12 pessoas, que poderia ser salva.
sendo 7
d e s t a s Em meio a todo o tu- 15 de abril de 1912,
tripulantes multo a orquestra do 01:45
do navio. Titanic continua a tocar
U m músicas como “Autumn” e “Mais perto de ti Senhor”. O Carpathia que está
navio é Eles continuariam até que o navio estivesse de tal rumando a toda a velocidade para
avistado ao forma inclinado e alagado que os obrigasse a cessar a posição do Titanic e que vem
longe e a a sua música.
mantendo contato constante, recebe
Tempos depois, tanto os sobreviventes quanto
tripulação
a sociedade britânica viria a reconhecer a bravura a última transmissão por parte do
c o m e ç a
destes homens, que se mantiveram firmes em seu de- navio: “Sala de Máquinas e Caldeiras
a lançar ver, mesmo diante de um desastre que se mostrava alagadas”.
foguetes de inevitável. Nenhum de seus integrantes sobreviveu. O tumulto e o pânico
sinalização no Titanic assumem uma proporção
n a tamanha que obriga o segundo oficial
esperança Lightoller a sacar sua arma e disparar para cima,
de que a tripulação do navio venha em seu socorro, na tentativa de assumir o controle da situação e
porém isso não acontece e ele começa a se afastar permitir que mais mulheres e crianças subam nos
lentamente. últimos botes.
Isto acontece provavelmente devido à cor
dos foguetes lançados pelo Titanic, os únicos a
15 de abril de 1912, 02:05
bordo do navio são brancos, tipicamente utilizados
em festas e comemorações, e não vermelhos como
O último bote é lançado na água, ainda
deveriam ser os foguetes para sinalizar perigo.
restam 1500 pessoas no Titanic, sem esperanças
A inclinação do navio já é bastante acentuada
de salvação. Em meio ao desespero muitos se
e sua proa começa a submergir cada vez mais
atiram no oceano, morrendo se não pela queda,
rápido, o pânico entre os passageiros aumenta
pela baixa temperatura da água, que beira o
a medida em que fica claro que o naufrágio é
congelamento.
inevitável e de que não existem botes suficientes
O capitão Smith dá ordens a sua tripulação
para todos.

28
de “Cada homem por si”. junto com ela.
Tal ordem libera os membros da tripulação A popa do navio fica então em uma posição
de seus deveres e os autoriza a lutarem por suas vertical, até que se desprende da proa. Ela bóia por
vidas da melhor maneira possível. mais alguns instantes e então inicia a sua descida
A última vez em que o capitão Smith é visto nas águas do Atlântico.
é na ponte de comando, onde ele, cumprindo Os passageiros que não estão utilizando
pela última vez coletes salva vidas são tragados pelo navio
com seu dever, quando ele afunda, os que estão utilizando
afunda junto voltam à superfície apenas para sofrerem
com o Titanic, e agonizarem por mais alguns minutos, à
possivelmente medida que seus corpos congelam nas águas
repleto de culpa geladas.
por ter ignorado Essa tortura dura pouco mais de 10
os avisos de minutos antes da morte dar fim ao sofrimento
gelo e mantido destas pobres almas.
a velocidade do Em seus botes salva-vidas, os
navio. sobreviventes ouvem no silêncio da noite
As pessoas que ainda estão a bordo do os gritos desesperados daqueles que estão se
Titanic se vêem obrigadas a correr em direção a afogando, muitas das mulheres a bordo dos botes
popa do navio, uma vez que a proa do Titanic já sabem que seus maridos, pais e amigos podem
desapareceu nas águas do Atlântico, elas buscam estar lá, pedindo por socorro.
se manter no navio o máximo de tempo possível, Infelizmente, temendo que os botes sejam
na esperança de que chegue alguma ajuda. virados na tentativa de resgate das pessoas que
Elas não sabem, mas a ajuda jamais estão se afogando, os oficiais demoram a retornar,
chegará. e quando o fazem, apenas um único bote procura
por sobreviventes.
15 de abril de 1912, 02:18 O bote
A ÚLTIMA DISCRIMINAÇÃO comandado pelo
A popa do navio está fora quinto oficial Harold
Os passageiros da terceira classe ainda sofre- Lowe consegue
da água, o leme e suas imensas riam uma última forma de discriminação. Dos
hélices podem ser vistas pelos 306 corpos encontrados, 116 foram devolvidos localizar apenas
botes que se afastam. três pessoas ainda
ao oceano, por não estarem em condições de
Devido a grande serem reconhecidos. vivas em meio ao
inclinação, muitas pessoas caem Apenas os corpos que aparentassem ser de oceano, sendo que
do navio para a morte certa. Uma passageiros da primeira classe eram mantidos uma delas viria a
das chaminés se desprende e a bordo independentemente de seu estado. falecer logo depois.
cai sobre vários passageiros Para os
que estão na água, matando-os 705 sobreviventes
instantaneamente. só restava esperar pelo resgate.
O padre Thomas Byles diz palavras de fé e As 03:30 eles avistam os foguetes de
esperança para vários passageiros da segunda e sinalização do Carpathia.
terceira classe reunidos ao seu redor.
Nesse instante as luzes do Titanic piscam Carpathia, 15 de abril de 1912, 04:10
algumas vezes para logo depois se apagarem,
lançando passageiros e tripulantes em um O primeiro bote salva-vidas é recolhido
assustador manto de escuridão. pelo Carpathia, os sobreviventes estão exaustos
Um enorme barulho é ouvido por todos tanto fisicamente quanto emocionalmente, eles
à medida que o casco do Titanic não suporta a se lembrarão pelo resto de suas vidas desta
tensão exercida sobre ele e começa a se partir em noite, e durante anos muitos deles ouvirão em
dois. A proa afunda rapidamente puxando a popa seus pesadelos os gritos de desespero dos que

29
 se afogaram no Nova York, 18 de abril de 1912
naufrágio.
À s O Carpathia e os sobreviventes do naufrágio
08:30 o último bote chegam à Nova York, onde podem avistar a
é recolhido pelo Estátua da Liberdade e 10.000 pessoas que estão
Carpathia, cobertores aguardando a sua chegada, é o fim da mais longa
e cuidados médicos viagem de suas vidas.
são oferecidos aos Apenas em 12 de junho, quase dois meses
sobrevivente e o depois do desastre, as buscas por corpos seriam
Carpathia segue rumo à Nova York. encerradas e as últimas vítimas enterradas em
Através do telégrafo do navio o senhor Halifax.
J. Bruce Ismay envia a seguinte mensagem aos O naufrágio do Titanic provocaria profundas
escritórios da White Star Line: mudanças em vários aspectos da época, não
"Com profundo pesar aviso-os que o Titanic apenas referentes à navegação.
afundou esta manhã após colidir com Iceberg, A partir de 1914 todos os navios passaram
resultando em séria perda de vidas. Mais detalhes a ter que possuir botes salva-vidas suficientes para
depois”. todas as pessoas
Os jornais não a bordo, incluindo
perdem tempo, e relatam a tripulação, além
o impensável até então, disso, foi criada a
o Titanic, gigante da Patrulha do Gelo,
White Star afundou com a finalidade
causando a morte da de um maior
maioria das pessoas a monitoramento dos
bordo, muitos destes Icebergs na região,
jornais ainda fornecem impedindo assim
informações equivocadas, novos naufrágios.
principalmente no que N a
se refere ao número de sociedade, um
vítimas da tragédia. movimento que
sofreu bastante foi o movimento sufragista.
Nova York, 17 de abril de 1912 As mulheres da época começavam a exigir
direitos iguais aos dos homens, mas a maioria
A White Star Line já sabe que não há a menor dos sobreviventes do Titanic era composta por
possibilidade de haverem mais sobreviventes mulheres e crianças devido à regra destes serem
na área do naufrágio e contrata o navio Mackay- salvos primeiro em qualquer desastre marítimo.
Bennet em Halifax para procurar por corpos para Os principais opositores do movimento
serem entregues aos familiares. argumentaram que as mulheres exigiam direitos
Devido ao mau tempo e aos nevoeiros que iguais, mas não obrigações e deveres iguais, as
diminuíam drasticamente a visibilidade ele só sufragistas demoraram a se recuperar do golpe.
chega ao local do naufrágio no dia 20 de abril para
então encontrar um cenário macabro. Oceano Atlântico, Julho de 1986
O oceano está repleto de destroços do
outrora luxuoso Titanic, e em meio a eles, estão Após outras expedições fracassarem, a
corpos, muitos corpos, alguns deles não podem expedição franco-americana liderada pelo doutor
ser reconhecidos, pois estão completamente Robert Ballard finalmente encontra os destroços do
desfigurados. Titanic. Eles estão a 3784 metros de profundidade
No total, o Mackay-Bennet ajudado por e foram muito difíceis de se encontrar dada à
outros três navios que também foram enviados nas diferença de 20 km entre a última posição relatada
buscas encontrou 306 corpos. pelo Titanic e a localização exata deles.

30
 Os destroços do Titanic se dividem em
três áreas, a proa, primeira a afundar e a parte O DESPREZO PARA COM A TRIPULAÇÃO
que mais conserva suas características originais,
assemelhando-se a um navio. Até mesmo a terceira classe foi mais bem tratada que
A popa do navio, que ficou boiando durante a tripulação do Titanic na chegada à Nova York. Eles,
um tempo e está completamente destruída, quase pelo menos, tiveram o apoio de algumas pessoas e en-
não se reconhece que ela fez parte de um navio. tidades. Muitos dos tripulantes, sem dinheiro, tiveram
Entre elas há uma extensão de cerca de sérias dificuldades para retornar à Inglaterra, onde so-
800 metros, mente então receberam o pagamento pelos seus ser-
viços a bordo do Titanic, mas somente até o
onde centenas
momento em que ele afundou, nada mais foi
de objetos
pago para estes homens que lutaram brava-
que estavam mente para salvar o maior número de vidas
no Titanic se possível.
espalharam, é um O senhor Ismay, aparentemente, não con-
imenso campo siderava que eles merecessem receber o
de destroços pagamento integral, uma vez que devido ao
onde se pode naufrágio eles não completaram os seus dias
encontrar de tudo, garrafas, porcelana, vasos de serviço.
sanitários, sapatos, até mesmo uma cabeça de
boneca foi encontrada.
Muitos consideram o sítio de destroços
do Titanic como sendo um local sagrado, onde
repousam as almas de todos que morreram no
naufrágio, um verdadeiro túmulo aquático.

31
 Capítulo II
Fantasmas
"O som das pessoas se afogando é algo que
não posso descrever a você e nem qualquer
outro pode. É o som mais horrível que ouvi e
após há um silêncio terrível que se segue”.
Ms. Eva Hart
(Morreu em 15 de fevereiro
de 1996 aos 91 anos).
Aqui os Fantasmas são reais
Qual é uma
das poucas
certezas
absolutas que
podemos ter
a respeito de
nossas vidas?
A certeza de
que, cedo ou
tarde, elas
acabarão. Pode ser daqui a dezenas de anos,
deitados confortavelmente em nossas camas,
dormindo, de forma tranqüila e indolor, pode ser
amanhã, em um terrível acidente de carro com várias
vítimas fatais, mas o fato é que, inevitavelmente,
um dia nós iremos morrer.
É certo que isso irá ocorrer, agora a grande
dúvida que nos atormenta há séculos e séculos é:
E depois?
Depois que o coração dá a sua última
e derradeira batida e a vida se esvai de nossos
corpos, o que acontece? É o fim ou apenas um
novo começo?
A grande maioria da humanidade acredita
e tem fé que a morte é apenas uma passagem
para um novo mundo, que nosso corpo morre,
mas nossa consciência permanece “viva” em outro
mundo.
Pois bem, uma boa parte destas pessoas
acredita que nem sempre esta consciência
consegue se libertar das amarras que a prendem a
este mundo, seja por assuntos inacabados, apego
demasiado ao material, amor ou ódio intenso,
32
algumas pessoas ao morrerem não fazem a
passagem que deveriam fazer, seja ela qual for.
Eles permanecem aqui, em nosso mundo,
nos assombrando, muitas vezes, incapazes
de perceberem o que realmente aconteceu,
acreditando que ainda estão vivos.
Estas consciências, estes seres, passamos
a chamar de assombrações, almas penadas,
espíritos errantes ou simplesmente fantasmas,
nome pelo qual iremos nos referir a eles daqui por
diante.
Muitos afirmam não acreditar na existência
de fantasmas, poucos se atreveriam a entrar
sozinhos em um cemitério, apenas com a Lua cheia
a iluminar o seu caminho por entre os túmulos.
A verdade é que a morte e o além nos
fascinam e ao mesmo tempo nos assustam. Ficar
frente a frente com um fantasma, se deparar
com alguém que já morreu é o confronto com o
desconhecido, afinal não é natural que os mortos
“se levantem e falem conosco”.
Os fantasmas realmente existem ou são
apenas fruto da imaginação fértil de algumas
pessoas que se deixam assustar por velhas
histórias e pelas sombras e barulhos típicos de
antigos casarões?
Não temos essa resposta e francamente
não importa, o que realmente interessa a nós é
que para esta história a bordo do Titanic, para esta
aventura, iremos assumir que fantasmas são bem
reais e capazes de interferir no mundo dos vivos.
Aqui nessa história o barulho de passos
na velha escadaria sem que ninguém seja visto
andando no casarão abandonado pode sim,
significar que o seu antigo e último morador se
recusa a deixar o seu lar, mesmo tendo morrido a
mais de 13 anos.
Fantasmas no Titanic
Se for verdade que assuntos inacabados
e sentimentos intensos são capazes de “criar”
fantasmas, mantendo suas consciências
atormentadas presas ao mundo terreno, então o
Titanic teria sido o responsável pela “formação” de
inúmeros fantasmas, talvez centenas deles.
Basta que recordemos o que aconteceu na
noite de 15 de abril de 1912, quando 1500 pessoas
morreram. As que tiveram sorte foram esmagadas
por uma das imensas chaminés que se desprendeu
do navio, porque para as outras restou morrerem
afogadas ou então congelar lenta e dolorosamente
enquanto gritavam implorando por um socorro que
estava próximo, mas que jamais chegaria.
Quando os corpos foram encontrados
boiando em meio ao imenso campo de destroços
do Titanic, mães foram encontradas abraçadas
ao corpo de seus filhos, tente imaginar o que
estas mulheres sentiram ao verem os seus filhos
morrerem em seus braços sem que um único bote
retornasse para ajudá-las.
Some a isso, o que sentiram quase todos os
passageiros da terceira classe, abandonados para
morrer, tento que esperar pelo salvamento das
mulheres e crianças da primeira classe enquanto
as suas mulheres e crianças ficavam praticamente
condenadas a afundar juntamente com o navio.
Pais se separando de mães e filhos, boa
parte da tripulação condenada a afundar com o
navio, foram 2 horas de desespero, dor e muito
sofrimento.
E quanto aos pouco mais de 700
sobreviventes, os afortunados e sem abençoados
sobreviventes.
Eles puderam assistir ao colossal navio
submergir nas águas do Atlântico, puderam ver
pessoas se atirando para a morte no oceano,
puderam ouvir seus gritos enquanto se afogavam,
gritos que se perpetuaram durante longos minutos,
até que enfim o silêncio veio a tomar conta da
escuridão.
O que sentiram as mulheres a bordo
daqueles botes sabendo que em meio aqueles
gritos poderiam estar os maridos que juraram
amar?
Muitos dos sobrevivente tiveram pesadelos
durante anos e anos, se lembrando daquela noite
infernal.
Neste cenário, tanto os vivos quanto os
mortos demorariam a encontrar a paz.
Agora viajemos em direção ao futuro, mais
precisamente ao ano de 2005, ano da construção
de uma réplica perfeita do antigo vapor da White
Star, o novo Titanic.
A intenção de seus criadores não é outra
senão o lucro, lucro esse que viria do imenso fascínio
que o navio exerce sobre inúmeros fãs ao redor do
mundo todo. Estes fãs ganhariam a oportunidade
de viajar a bordo do Titanic, refazendo assim sua
primeira e ultima viagem.
33
Tudo no navio buscando fazer com que os
passageiros se sentissem de volta a 1912, cada
detalhe tentando imitar o original, em uma viagem
com muita alegria, dança e excelentes bebidas.
Tantas pessoas se lembrando do passado,
vivenciando o passado, a energia criada pelos seus
pensamentos buscando e alcançando aqueles que
perderam a vida no Titanic e há décadas descansam
em sua sepultura no fundo do oceano.
Estes fantasmas terão importante papel
nesta aventura e a seguir você encontrará regras
que os definem e aos que podem enxergá-los, aqui
chamados pelo nome de sensitivos.
Tais regras existem para auxiliar o
Observador nesta aventura e em outras que
envolvam fantasmas, mas, caso seja necessário
para o bom andamento do jogo, o Observador
deve se sentir à vontade para acrescentar, alterar
ou mesmo abolir essas regras.
PED – Percepção Extra Dimensional
Se fantasmas fossem reais, vários deles
poderiam estar ao seu lado e você não perceberia,
isso porque eles não estão em nossa dimensão,
estão em outra muito próxima da nossa, uma
dimensão que não podemos enxergar e que
passaremos a chamar de Dimensão Fantasma.
Para que você entenda melhor, tudo no
universo seria feito de energia, energia essa que
vibraria em diversas freqüências, os seres humanos
seriam capazes de perceber apenas uma única
freqüência e, portanto, uma única dimensão, que
chamaremos de Dimensão Terrestre.
A dimensão Terrestre e Fantasma estão em
uma freqüência muito próxima uma da outra, de tal
maneira que elas chegam quase a se tocarem.
Ao morrer, a maioria dos seres humanos
vai ou é atraída para outras dimensões distantes
da nossa, mas alguns não conseguem, ou não
querem, se afastar, e por isso ficam na dimensão
mais próxima e possível para eles, a Dimensão
Fantasma.
Como então alguns de nós conseguem
enxergar os Fantasmas enquanto a maioria não?
A percepção de alguns seres humanos
é mais apurada, mais sensível, estas pessoas
possuem o dom ou a maldição, dependendo
do ponto de vista, de perceberem a Dimensão
Fantasma e principalmente, os seus habitantes.
 Esta característica especial recebe o nome
de Percepção Extra Dimensional, ou simplesmente
PED, e aqueles que a possuem serão chamados
de sensitivos.
A Percepção Extra Dimensional não é
uma característica que pode ser “desligada”, ela
permanece ativa em tempo integral.
Isso quer dizer que os sensitivos enxergam
fantasmas o tempo todo?
Não necessariamente, a não ser que o seu
nível de PED seja excepcionalmente alto. Para
perceber a presença de um fantasma é necessário
um teste de percepção somado aos bônus de
PED.
Existem maneiras de se melhorar ou piorar
as chances de se perceber algum elemento
da Dimensão Fantasma. Se o sensitivo está
concentrado em alguma atividade complexa como
ler um livro, resolver um problema matemático ou
dirigir um carro em uma estrada movimentada, a
sua PED fica prejudicada.
O inverso também é válido, caso o sensitivo
esteja se concentrando na tentativa de perceber
alguém da Dimensão Fantasma, suas chances
aumentarão.
Ao mesmo tempo em que um sensitivo
tem uma capacidade maior de interagir com os
elementos da Dimensão Fantasma, estes também
tem uma maior chance de atuar sobre ele, em
outras palavras, um sensitivo é mais vulnerável
aos poderes que certos fantasmas possuem.
Crianças e animais são mais sensíveis que a
maioria dos seres humanos, chegando até PED 2,
mas caso ela não seja sensitiva, esse valor diminui
com a idade e, por volta dos 7 ou 8 anos ela já não
possui mais essa característica.
É claro que os fantasmas têm suas maneiras
de se fazerem notar, mesmo sem a presença de
alguém com PED, mas isto será discutido mais
adiante; a seguir estão as regras para esta nova
característica e habilidades referentes.
em 1 os bônus para se perceber elementos da
Dimensão Fantasma e dão –1 de penalidade contra
ataques mentais provenientes desta dimensão.
Caso algum personagem possua esta
característica em nível igual ou maior ao seu
atributo percepção ele adquire automaticamente
a característica psíquica “alucinação mental grave
(confundir Dimensão Terrestre com Fantasma)”,
passando a não conseguir distinguir um fantasma
de uma pessoa viva.
Novas Habilidades Psíquicas:
Transe (disponível apenas para personagens
com PED)
Alguns sensitivos adquirem a habilidade de
aumentar sua concentração e conseqüentemente
sua PED ao entrarem em transe. Não é algo
simples e nem mesmo seguro para aqueles com
pouca experiência.
Ao entrar em transe um sensitivo pode, a cada
5 rounds de concentração, testar sua habilidade
transe (inteligência + bônus da habilidade) para
aumentar em 1 ponto sua PED.
Ao encerrar o transe, pontos de mente iguais
aos pontos aumentados em sua PED são gastos,
quanto mais pontos de mente forem gastos maior
será a sensação de fadiga.
O problema é que quanto mais o sensitivo
aumenta sua PED, mais sua mente se aproxima
da Dimensão Fantasma e mais se afasta
perigosamente da nossa, tornando mais difícil
abandonar o transe.
Estímulo Bônus
Aroma conhecido (incenso, cigarro, etc) +1
Voz conhecida (amigo, namorada, etc) +1
Contato físico (sacudir, empurrar, etc) +2
Dor intensa (soco, queimadura, etc) +3

Nova Característica Psíquica: Qualquer teste de percepção para eventos

em nossa dimensão terá uma penalidade igual aos
PED – Percepção Extra Dimensional (2 pontos aumentados em PED.
PC)* Para sair deste estado o sensitivo precisa
vencer um novo teste de transe com penalidades
* Característica cumulativa, cada 2 pontos iguais ao número de pontos aumentados em sua
gastos nela a aumentam em 1 nível. PED, e em caso de falha, ele perderá pontos de
Cada nível desta características aumenta mente referentes ao aumento em sua PED e só

34
poderá tentar um novo teste após 10 minutos.
Estímulos exteriores podem auxiliar o
sensitivo a sair deste estado e trazer sua mente de
volta ao “mundo real”, a seguir você encontra uma
tabela com os estímulos e bônus para o teste de
transe.
Independente da quantidade de estímulos
apresentados, o bônus concedido por eles será de
no máximo 3.
Caso a mente do sensitivo chegue a 0 ele
desmaia, se a sua mente chegar a ficar negativa
ele ficará em coma pelo número de dias igual
aos pontos negativos, sendo que, não importa o
que aconteça, sua mente jamais ultrapassará o
valor de –2, momento em que o personagem sai
automaticamente do transe.
Clariaudiência (disponível apenas para
personagens com PED)
Os fantasmas são incapazes de emitir
sons, para se comunicar com os vivos ou passar
idéias, eles utilizam telepatia, porém, alguns
sensitivos possuem a habilidade Clariaudiência
que lhes permite ouvir os fantasmas, muitas
vezes, sem sequer ser necessário um teste de
habilidade.
se formar, essa energia é dissipada rapidamente na
presença de grande quantidade de seres humanos,
ou seja, ela só fica “estabilizada” e “própria para
o consumo” de fantasmas em local com pouca
circulação de seres vivos.
Se forem necessários seres humanos para
se formar ectoplasma e se na presença deles ele
se dissipa como então os fantasmas conseguem
ter acesso a essa energia?
Locais que atraem a atenção e a lembrança
de seres humanos recebem essa energia, mesmo
sem que eles estejam presentes, tais como
cemitérios, casarões abandonados após a morte
de seus antigos moradores, praças tranqüilas ao
redor de templos, trechos distantes de estradas
movimentadas que chamam a atenção, etc.
A seguir você tem uma tabela com a
quantidade de mente que um fantasma é capaz
de recuperar através do ectoplasma gerado em
determinados lugares:
Local acumulador de Ectoplasma Mente recuperada
por dia
Cemitérios 4
Praças tranqüilas ao redor de templos 3
Casarões abandonados 2
Locais que chamem a atenção 1

Ectoplasma Fantasmas não se sentem bem em locais

muito movimentados, uma vez que seres vivos
É uma energia psíquica emanada pelos
dissipam ectoplasma e que fantasmas são
seres humanos em momentos de grande emoção.
basicamente formados por ectoplasma, seus
Embora não percebam, os terrestres liberam
“corpos” podem ser dissipados resultando em
grande quantidade de ectoplasma quando estão
redução de mente todas as vezes que seus corpos
orando, rindo, chorando, sonhando, quando estão
são atravessados repetidamente por seres vivos.
aterrorizadas ou em vários outros momentos em
A tabela abaixo ilustra os diferentes locais
que suas emoções afloram.
dissipadores de Ectoplasma e quantidade de mente
Se tal energia pudesse ser vista pelos
que um fantasmas perderia se ficasse neles.
seres humanos se pareceria como uma fumaça
esbranquiçada saindo das mentes dos presentes
Local dissipador de Ectoplasma Mente perdida
e flutuando no ambiente ao redor. por dia
Embora os seres humanos não a percebam, Calçada tranquila, residência 0
os habitantes da Dimensão Fantasmas conseguem Centro urbano/estabelecimentos -1/-2
vê-lo nitidamente, pois é dessa mesma energia que Shows/Tumultos 2
são feitos seus “corpos”.
Os fantasmas absorvem essa energia,
recuperando pontos de mente e conseqüentemente
a sua vitalidade; sem ectoplasma um fantasma não
conseguiria se manter na Dimensão Fantasma.
Embora necessite de seres humanos para

35
 Construindo um Fantasma 6, a não ser que ele possua a característica PED
que aumentará esse atributo.
Um fantasma pode gastar 1 ponto de Mente
Atributos
para poder aumentar em 1 o seu atributo Vontade,
este efeito dura cerca de 1 minuto, normalmente o
Físico: Fantasmas não possuem corpo físico
suficiente para que ele consiga se fazer perceber.
e, portanto também não possuem este atributo,
A tabela abaixo mostra quais os bônus e
sua vitalidade é medida de acordo com o atributo
penalidades que à vontade de um fantasma oferece
mente.
para uma tentativa de percepção e o modo como
Destreza: Os fantasmas demoram a
ele é visto por pessoas com PED e por pessoas
perceber que já não estão mais limitados a seu
sem PED.
antigo corpo físico e por isso a maioria
deles mantém a destreza que tinham
quando vivos. Alguns percebem que Vontade Bônus/Penalidade Terrestre sem PED Terrestre com PED
seu novo “corpo” pode e é bem mais 1 -5 Nada Sente um calafrio
ágil do que seu corpo terreno, senso 2 -4 Nada Sente um calafrio
assim um fantasma com a aparência 3 -3 Sente um Calafrio Vê uma sombra
de um velho pode ter destreza 10, por 4 -2 Sente um Calafrio Vê uma sombra
5 -1 Vê uma sombra Vê uma forma detalhada
exemplo. 6 0 Vê uma sombra Vê uma forma detalhada
Inteligência: Este atributo é 7 1 Vê uma forma detalhada Vê alguém transparente
idêntico ao que o fantasma possuía 8 2 Vê uma forma detalhada Vê alguém
quando vivo, porém, devido à percepção 9 3 Vê alguém transparente Vê alguém
10 4 Vê alguém Vê alguém
distorcida que muitos deles possuem
da realidade este atributo pode ser bem
prejudicado.
Máquinas de captação de imagens
Mente: A mente representa a vitalidade dos
(filmadoras, máquinas fotográficas, etc) em
fantasmas e reflete a quantidade de Ectoplasma
condições de luz e foco ideais são capazes de
que ele pode manter em seu corpo, ela também
registrar fantasmas com um grau a mais que a
pode ser utilizada para ampliar os seus poderes.
percepção de uma pessoa normal. Por exemplo,
Para fantasmas o valor padrão deste atributo é
um fantasma que seria apenas sentido como um
6, podendo ser maior ou menor dependendo da
calafrio seria registrado pela câmera como uma
história do fantasma, do local onde ele está e de
sombra.
sua experiência.
Infelizmente, dada à dificuldade que estas
Vontade: É através do atributo Vontade que
máquinas tem em focar outra dimensão, elas
o fantasma pode se fazer perceber na dimensão
dificilmente captam imagens com detalhes, que
terrestre, quanto maior a sua vontade maior é sua
quase sempre ficam embaçadas impedindo que se
materialização em nossa dimensão. Normalmente
identifique com clareza a sua real natureza.
fantasmas possuem o atributo Vontade com valor
Percepção: Este é o atributo que representa
mais baixo do que o terrestre, a maioria possui
a maior limitação para os fantasmas, não por ela ser
Vontade 4.
baixa, em alguns lugares sua percepção consegue
Para que se entenda melhor, quanto maior
ser até maior do que os padrões humanos, mas
a Vontade, maior é chance do fantasma ser
é ai que está o seu maior problema, a percepção
enxergado em nossa dimensão, seja por alguém
de alguns fantasmas está limitada a determinados
com PED ou com alguém que não a possua.
lugares, que são os seus Campos de Percepção.
Valores de Vontade abaixo de 6 dão
A história de um fantasma é que determina
penalidade no teste para um ser vivo perceber a
qual será o seu Campo de Percepção, normalmente
presença do fantasma, valores acima de 6 dão
alguém ou algum lugar importante para ele. Campos
bônus neste mesmo teste de percepção.
de Percepção são as áreas onde o fantasma está
Não importa qual o valor do atributo
“preso”, vinculado, por assim dizer, são os lugares
Percepção de um ser humano, para poder enxergar
onde ele consegue atuar e enxergar a Dimensão
fantasmas o seu atributo Percepção será sempre
36
Terrestre, à medida que se afasta destes campos, seus pais a colocaram presa de castigo em seu
a percepção do fantasma começa a diminuir quarto.
gradativamente até que ele não enxergue mais
nada a não ser uma névoa espessa. Características
O fantasma ficará perdido nessa névoa
espessa e em pouco tempo se lembrará do seu Intangibilidade
Campo de Percepção, retornando para lá. Fantasmas são intangíveis para elementos
Um Campo de Percepção pode ser o quarto da Dimensão Terrestre, só podem ser atingidos por
em que o fantasma dormia antes de morrer, a sua outros fantasmas.
esposa, o túmulo onde foi enterrado o seu corpo, Essa característica causa sérios transtornos
o seu carro, enfim, algo que fosse importante para para fantasmas que não percebem sua atual
ele ou que tenha chamado sua atenção. condição. Eles não podem abrir portas ou tocar
Um fantasma pode ser guiado para fora de em objetos e não percebem que podem atravessar
seu Campo de Percepção por pessoas que estejam paredes, alguns fantasmas quase que enlouquecem
portando algo interessante para ele (fotografias, graças a sua percepção distorcida da realidade
uma roupa que lhe pertencia) ou então mantendo que os cercam.
contato (falando com ele, se concentrando nele). Flutuação*
Se o fantasma for retirado de seu Campo Fantasmas não se locomovem devido ao
de Percepção e abandonado em um outro lugar, atrito de seus pés com o solo, mas como quase
podem ocorrer duas situações, se o local for tudo referente a sua nova condição, eles demoram
conhecido por ele, poderá ser transformado em um um pouco a perceber. Quando isto ocorre, eles
novo Campo de Percepção, porém se for um local conseguem flutuar graças ao poder de suas mentes
desconhecido ele irá desaparecer e aparecer em a uma altura próxima ao solo
um Campo de Percepção conhecido. (no máximo 4 metros). Nível Velocidade
Fantasmas com o mesmo Campo de A verdade é que
Percepção podem se ver e interagir entre si, todos os fantasmas flutuam, 1 20 km/h
conversando, por exemplo. porém, como alguns não se 2 40 km/h
3 80 km/h
dão conta disso, continuam a 4 120 km/h
Características Físicas se locomover na velocidade
do velho e bom caminhar.
Fantasmas têm forma humana, normalmente O notarem que flutuam e não andam,
a forma que possuíam quando em vida, ás vezes fantasmas podem aumentar a sua habilidade com
com algumas variações de acordo com a história sua capacidade de flutuar, e ao aumentar a sua
de sua vida ou a maneira como morreram. Um habilidade também aumentar a sua velocidade, a
fantasma pode ser uma noiva pálida com vestido tabela a seguir ilustra isso.
esvoaçante, um homem de terno preto e um Invisibilidade
ferimento à bala em sua testa, uma garotinha com Fantasmas são normalmente invisíveis em
olhos vermelhos segurando uma boneca, etc. nossa dimensão, a não ser que sua vontade seja
extremamente alta, fato raro entre eles.
Características Psíquicas Uma maneira que eles possuem para serem
notados pelos vivos é aumentando a sua vontade
Fantasmas possuem características através do gasto de pontos de mente, um ponto de
psíquicas que variam de acordo com a história. mente para cada ponto de vontade aumentado.
Uma pessoa que era egoísta e covarde quando Máquinas como câmeras fotográficas e
viva, provavelmente será egoísta e covarde na de vídeo não registram essa variação, elas só
Dimensão Fantasma. registram a imagem do fantasma com sua vontade
A maioria dos fantasmas possui algum tipo padrão.
de Alucinação Mental Grave, como por exemplo, Silêncio
uma menininha que acha que não morreu e que No início eles gritam, berram, se desesperam
até notarem que os vivos não podem ouvi-los, nem

37
mesmo quando são vistos. Em algumas situações,
quando estes fantasmas se esforçam muito,
conseguem emitir sussurros quase inaudíveis,
mais facilmente detectados por aparelhos de alta
sensibilidade.
Habilidades Psíquicas, Físicas e
Bélicas
Eles podem possuir todas as habilidades
presentes no livro básico, sejam elas psíquicas,
físicas ou bélicas, tudo depende de sua história
quando vivo e até mesmo depois de morto.
Sim, fantasmas também podem aprender
depois de mortos, principalmente habilidades
referentes aos seus poderes, poderes estes que
serão descritos a seguir.
Poderes Fantasmagóricos
Os poderes fantasmagóricos funcionam
basicamente como os poderes psíquicos no
OPERA (ver capítulo 7 do livro básico) e são
compostos por dois números, o primeiro indica
o nível da habilidade que é baseada no atributo
vontade e, quanto maior este número maior é o
controle do fantasma sobre o poder, o segundo
indica o potencial do poder e, quando maior este
valor, maior o seu potencial, aumentando assim
valores como alcance e duração do poder.
Exemplo: Ataque Psíquico Fantasmagórico
(2) = 4
Os fantasmas possuem basicamente todos
os poderes listados abaixo, porém, alguns deles
ou não sabem utiliza-los ou não sabem que os
possuem, sendo que sua habilidade com esses
poderes tem valor zerado.
Retornando ao exemplo citado acima, vamos
supor que um fantasma veja o seu assassino
passando tranqüilamente pelo seu Campo de
Percepção, e repleto de ódio e desejo de vingança
tente agredi-lo. Como já foi dito anteriormente,
fantasmas não possuem corpo físico, são
intangíveis e, portanto este seria um ataque inútil.
Para o azar do assassino, este fantasma,
mesmo sem saber possuía o poder Ataque Psíquico
Fantasmagórico, que permite aos habitantes da
Dimensão Fantasma causarem danos diretamente
na mente dos seres vivos, os dados de seu poder
38
seriam os seguintes:
Ataque Psíquico Fantasmagórico (0) = 1
Testes para ativação de poderes com
habilidade zerada podem ter penalidades de acordo
com a situação, que podem variar de -1 a -2.
Apenas os poderes que já foram utilizados
por um fantasma (mesmo sem ele saber que
utilizou) são citados na ficha com habilidade
zerada, os demais são deixados de fora até que o
fantasma descubra que os possui.
O inverso também pode ocorrer, o fantasma
possui a habilidade com o poder, mas o seu
potencial é quase nulo.
Imagine o fantasma de um pai que quer
derrubar a foto em que ele está junto da filha para
que ela perceba a sua presença. Ele sabe qual é
a maneira certa para se concentrar e derrubar o
objeto, mas infelizmente, o seu potencial nesse
poder é muito baixo.
Telecinésia Fantasmagórica (2) = 0
Poderes com potencial nulo não podem ser
utilizados, mas nem tudo está perdido e o retrato
pode ser empurrado, caso o fantasma gaste 1 ponto
de mente para aumentar o potencial do poder para
1.
A qualquer momento um fantasma pode
gastar quantos pontos de mente para aumentar o
seu nível de poder na mesma proporção, porém
assim que este poder for ativado o seu valor retorna
ao normal, ou seja, ele terá um único round para
utilizar o seu potencial aumentado.
Abaixo estão listados os principais poderes
fantasmagóricos, principais porque nada impede
que você crie algum poder fantasmagórico ou utilize
algum poder psíquico do OPERA como poder do
seu fantasma.
Lembre-se que, no entanto, é altamente
recomendável que o potencial dos poderes
fantasmagóricos seja baixo, no máximo 1 ou 2
para campanhas cujo principal foco seja o medo
do desconhecido. Acredite em mim, um retrato de
alguém que já morreu caindo subitamente pode
assustar bem mais do que o mesmo retrato sendo
arremessado a longas distâncias, pense nisso.
 Descrição dos poderes seu corpo, é necessário que chegue até ela algum
som familiar (pessoa conhecida chamando por ela,
Controle Mental Fantasmagórico (3 PC). música que ela gosta muito) e o dominador agora
Duração: 2 rounds p/ nível. não possui mais a penalidade de –6.
Alcance: 10 metros p/ nível. Caso a vítima consiga vencer a disputa de
vontade ela se sente caindo de volta em sua corpo
Fantasmas não estão mais na Dimensão e o fantasma é arremessado para fora dele.
Terrestre, mas podem utilizar os vivos para que Perdendo, a vítima só poderá tentar um
cumpram algumas tarefas. nova disputa depois do tempo estabelecido pelo
Um fantasma só pode utilizar esse poder poder do fantasma e apenas caso o estímulo
em um único alvo por vez e caso falhe, uma nova exterior persistir, para piorar, a cada derrota em
tentativa só poderá ocorrer após 12 horas, a não uma disputa contra a vontade do fantasma a vítima
ser que o fantasma opte por gastar 1 ponto de perde 1 ponto de mente e sente uma forte dor.
mente para uma nova tentativa. A dor é intensa a tal ponto que a vítima
Através deste poder, fantasmas podem pode preferir retornar ao conforto da inconsciência,
enviar uma sugestão diretamente na mente do “desistindo” de retornar ao corpo e optando pelo
alvo, e se a idéia não for completamente absurda conforto da inconsciência.
ele pode considerar tal idéia como sendo um Para simular tal situação o Observador
pensamento próprio. pode, quando a vítima sofrer mais de 3 danos
Exemplos: “Ela está te traindo”, “Melhor mentais, passar a exigir testes de vontade para
visitar a tia Alice”, “Ajude ela”. que a vítima queira disputar novamente o controle
Não são raras as vezes em que fantasmas do seu corpo.
conseguem ajudar ou criar verdadeiros tumultos
através dessas sugestões. Criocinésia Fantasmagórica (2 PC)
Existe uma variação muito mais poderosa Duração: 1 round p/ nível
deste poder, com uma penalidade de –6, um Alcance: 5 metros por nível
fantasma pode tentar uma Dominação. Efeito: Decréscimo de 25ºC por nível no
Em caso de sucesso, ele ocupa o corpo ambiente.
do alvo, expulsando a consciência da vítima que
ficará em uma projeção astral, flutuando a cerca de Este é um poder automático e inconsciente
2 metros de seu corpo e ligada a ele por um fino fio que praticamente todos os fantasmas possuem.
de Ectoplasma. Quando alguém está próximo de um fantasma
O dominador não terá acesso aos com este poder sente uma queda brusca da
conhecimentos da vítima, mas poderá utilizar o seu temperatura, uma vez que este poder está sempre
corpo como se fosse seu, não necessitando mais ativo em nível 1.
de ectoplasma e sim de água, alimento e sono para
o seu novo corpo. Ataque Psíquico Fantasmagórico (3 PC)
O tempo de duração da dominação é Duração: Automático
ilimitado, mas pode ser interrompido por: Alcance: 2 metros por nível.
* Morte do corpo físico Efeito: 1 dano mental por nível em fantasmas e
* Fantasma decide abandonar o a cada 2 níveis em vivos.
corpo (teste de vontade + controle mental).
* Fim dos pontos de mente do Com este poder fantasmas podem causar
fantasma (ainda assim, a vítima precisará dano a outros fantasmas e também a seres vivos.
ser despertada pra retornar ao corpo). Por não estarem na mesma dimensão à utilização
* Vítima vence uma disputa de deste poder é mais complicada em seres vivos,
vontade contra o fantasma e recupera o seu sendo necessários pelo menos 2 níveis para se
corpo. causar 1 dano mental em um terrestre.
Este último item não é tão simples quanto Para causar dano a um determinado alvo, é
parece, para que a vítima possa tentar retornar ao necessária a vitória em uma disputa de vontade +

39
máximo o vampiro pode continuar a drenar a mente Concentração: 1 turno
da vítima mesmo sem acrescentar nada na sua. Duração: Instantânea
O fantasma se embaraça na vítima terrestre Efeito: Causa 1 ponto de dano mental por ponto
que precisa estar parada mas em intensa atividade de sucesso.
mental (tendo pesadelos, escrevendo livros, etc), Custo: 2 (pontos de magia ou mente, dependendo
sendo necessário um teste de vontade + habilidade do cenário)
para se drenar 1 ponto de mente por hora. Ao perceber a presença de um mau
Em caso de falha, o fantasma pode tentar espírito cercando um membro da tribo, o xamã
novamente, mas se falhar mais 1 vez, ele é que Anakauê inicia um ritual para expulsá-lo.
perde 1 ponto de mente. Durante quase 10 minutos ele, de posse de
seus talismãs (que lhe concedem um bônus de 1
Mudanças na aparência em vontade, na falta deles o xamã teria penalidade
de 1) realiza o ritual para logo depois testar sua fé
De acordo com o poder um fantasma ele pode (vontade + habilidade ritual + 1) contra a vontade
ter variações em sua aparência, essas variações do fantasma.
No caso
aumentam ainda
de sucesso, o
mais quando Poder Efeito
fantasma receberá
estes poderes
Flutuação Pés enevoados com rastro danos mentais
são utilizados Controle Mental Pequenos tentáculos no corpo iguais aos pontos
com freqüência Criocinésia Unhas e redor dos olhos azulados
de sucesso do
ou com intenções Pirocinésia Unhas e redor dos olhos avermelhados
Ataque Psíquico Orifícios extras no corpo (testa, palma da mão). xamã, em caso
malignas.
Telecinésia Espinhos no corpo de falha o xamã
Telepatia Espinhos na cabeça só poderá realizar
Resumindo, Teleporte Dedos alongados
uma nova tentativa
quanto mais é Vampirismo Boca alargada
Osmocinésia Cauda após 2 horas,
utilizado e quanto
Fonocinésia Língua pontuda porém com uma
maior o ódio e
penalidade extra
as intenções de
de 1 por cada nova
causar o mal de um fantasma maior é a variação
de sua aparência, a seguir as alterações mais tentativa, uma vez que o “mau espírito” começa a
ganhar confiança contra os poderes do xamã.
comuns.
Lembre-se: Este é um exemplo de ritual,
Alguns fantasmas com variações drásticas
demais em sua aparência podem ser encarados você é quem define se rituais são eficientes ou não
para afastar fantasmas, como eles funcionam e de
como sendo demônios por aqueles que os vêem.
que maneira (o capítulo 7 do livro básico pode lhe
dar mais dicas de como montar rituais).
Quando os Vivos resolvem enfrentar
Fantasmas Quando os Fantasmas resolvem
Fantasmas são intangíveis, mas não enfrentar Fantasmas
invulneráveis, existem maneiras dos seres
O confronto entre eles é decidido de forma
humanos afastarem ou mesmo expulsarem eles
normal, uma vez que eles não são intangíveis uns
de volta para a Dimensão Fantasma ou então para
para os outros, golpes são decididos pelo atributo
outra Dimensão.
destreza e a mente substitui o físico.
Eles são vulneráveis basicamente a magia,
Se um fantasma acerta um golpe em outro,
psiquismo e rituais que envolvam um dos dois ou
ele realiza um teste de mente, em caso de sucesso,
ambos.
causa 1 dano. A cada 8 pontos de mente que um
fantasma possuir acrescente 1 dano no dano de
Exemplo de Ritual:
seus golpes contra outros fantasmas.
Ritual Anakauê para expulsar maus espíritos

41
habilidade contra a vontade do oponente. Telecinésia Fantasmagórica (4 PC)
Caso um fantasma ataque um ser vivo com Duração: 2 rounds por nível.
apenas 1 nível deste poder, a vítima sofre com Alcance: 10 metros por nível.
dores de cabeça e vertigens que podem resultar Velocidade: 2m/s
em penalidades de -1 até -2 dependendo do tempo
da duração do ataque. É a capacidade que alguns
Embora seja um poder que possa ser utilizado fantasmas possuem de mover Nível Peso
a distância alguns fantasmas não percebem que objetos da dimensão terrestre 1 3 kg
o possuem mas o ativam inconscientemente com a sua mente. Outros, ao 2 5 kg
quando tentam agredir alguém ou mesmo desejam tentarem insistentemente tocar 3 7 kg
4 10 kg
ardentemente que alguém sofra, neste caso o ou empurrar algum objeto podem,
poder é ativado com nível de habilidade zero. inconscientemente ativar esse
poder.
Fonocinésia Fantasmagórica (2 PC) A tabela a seguir determina o quanto cada
Duração: 1 round p/ nível nível de poder pode movimentar.
Som: 25 decibéis por nível A partir do nível 5 são acrescidos 5 kg por
nível.
É a manifestação de sons onde o fantasma
se encontra, pode ser de forma inconsciente ou não, Telepatia Fantasmagórica (2 PC)
passos, máquinas de escrever, a música do velho Duração: 2 rounds por nível.
piano, correntes se arrastando ou simplesmente Alcance: 10 metros por nível.
vozes.
No caso de vozes elas são geralmente Funciona para emitir pensamentos para a
confusas, sussurradas, por vezes apenas partes pessoa escolhida, e, ao contrário do controle mental,
de uma frase conseguem ser pronunciadas. fica nítido para quem recebe os pensamentos de
que eles não lhe pertencem.
Osmocinésia Fantasmagórica (1 PC)
Duração: 1 round por nível Teleporte Fantasmagórico (5 PC)
Alcance: 10 metros por nível Duração: 10 minutos por nível ou até o fantasma
abandonar o objeto.
É a presença de cheiros que acompanham Alcance: Distância percorrida pelo fantasma.
a presença de um fantasma, o cheiro das rosas Peso: 2kg / nível
que a namorada adorava, o perfume da colônia
preferida do marido, o aroma da macarronada queObjetos que somem e reaparecem
a vovó preparava no fogão a lenha são apenas
misteriosamente em uma casa podem estar sendo
alguns exemplos. levados por fantasmas. Este poder permite a
eles transportar um objeto ou até mesmo alguém
Pirocinésia Fantasmagórica (2 PC) através da Dimensão Fantasma.
Duração: 1 round por nível Quando um fantasma passa de um Campo
Alcance: 5 metros por nível de Percepção para o outro ele pode continuar a
Efeito: Acréscimo de 25º C por nível no carregar o objeto ou soltá-lo, nesse caso o objeto
ambiente. retorna imediatamente a Dimensão Terrestre.

Poder oposto a criocinésia, é a capacidade Vampirismo Psíquico Fantasmagórico (4 PC).

dos fantasmas subirem a temperatura ao seu
redor. Dependendo do material a combustão
pode começar a partir de 60º C, lembrando que a
temperatura ambiente deve ser somada ao poder
do fantasma.
Duração: instantânea.
Alcance: Toque.
Efeito: Drena 1 ponto de mente.
É o poder de drenar mente de um alvo,
Mesmo com o valor do atributo mente em seu

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 Exemplo de fantasma: Personagem: Marta Andrade

O fantasma do Casarão da rua Alencar Campos de Percepção: Escadaria, Sala de

entrada e quarto do velho casarão.
Atributos:
Marta sempre soube que Carlos era o Destreza 6
amor de sua vida, foi amor Inteligência 7
a primeira vista e não foi Vontade 4
por acaso que eles se Percepção 6
casaram. Mente 5
Características Físicas:
Foram 2 anos
Cabelos curtos negros, altura: 1,63.
felizes, morando em casa Atraente 1 (2ptos)
maior do que ela jamais Nascimento: 07/12/1920
poderia sonhar, cortesia do Morte: 02/06/1943
pai de Carlos, um influente Poderes:
e rico produtor de café que Telecinésia Fantasmagórica -> 1 (10 metros, 2 rounds, 3
kg).(4ptos)
sempre fez questão de Criocinésia Fantasmagórica -> 1 (sempre ativo, 5 metros,
declarar o gosto pela união decréscimo de 25º C).(2 ptos)
de ambos, já que vinham de Fonocinésia Fantasmagórica ->2 (2 rounds, 50 decibéis,
família se renome na sociedade paulista. normalmente pode ser ouvido o lamento e as lágrimas de
Marta sempre esperava o marido retornar Marta).(4 ptos)
Características Psíquicas:
de seus afazeres na cozinha ou lendo um livro,
Devoção grave (marido) (-4ptos)
sentada na escadaria que dava acesso ao andar Alucinação mental gravíssima (acredita estar viva e que
superior, uma mania dela, mas chegou o dia em seu marido em breve retornará do trabalho). (-6ptos)
quem seu esposo não voltou. Características Raciais:
Os sonhos de Marta e as promessas Intangibilidade
de um futuro feliz ao lado de uma nova família Flutuação
Ausência
desmoronaram quando ela recebeu a notícia de Silêncio
que em uma briga por razões políticas Carlos havia Equipamento:
recebido um tiro fatal. Vestido longo branco
Desesperada e sem saber o que fazer, ela Habilidades Físicas:
viria a cometer um crime contra as leis de Deus, Dança 2 - (8/3)
tirando a própria vida. Música (piano) 2 - (8/3)
Passatempo (bordar) 1 - (7/1)
O gesto dela não lhe trouxe paz, ao contrário
Habilidades Psíquicas:
do que ela desejava. Telecinésia Fantasmagórica (0) -> 1 - (4/-)
Perdida e desorientada Marta ficou no Criocinésia Fantasmagórica (2) -> 1 - (6/3)
casarão, ela não se lembra que seu esposo Fonocinésia Fantasmagórica (2) -> 2 - (6/3)
morreu, sequer percebe que ela mesma está morta, Língua (francês) 3 - (10/6)
Cozinhar 2 - (9/3)
continua lá, na escadaria, esperando eternamente
Atuação 2 - (9/3)
pelo retorno de seu amado. Lábia 1 - (8/1)
Os anos se passaram e o casarão ganhou Avaliar jóias 1 - (8/1)
fama de mal assombrado, de lugar maldito, hoje, Histórico:
ele está abandonado e as crianças vez por outra Presa em um seu próprio mundo, Marta não percebe que
desafiam umas as outras a entrar no velho casarão seu amado jamais voltará e que ela já não está mais entre
os vivos.
onde pode se ouvir barulhos estranhos, como o de Já há tempos a noção do tempo e do real foi perdida
o choro insistente de uma mulher. e agora ela sente medo quando pessoas estranhas entram
A seguir a ficha de Marta, com seus dados e em sua casa, seriam amigos de seu esposo?
poderes fantasmagóricos. Se forem, porque não falam com ela?
As lendas sobre o casarão assombrado tem a sua
origem no tormento dessa pobre viúva.

42
 D IÁRIO DO C APITÃO
Dicas de regras para Navegação :
Os Custos de uma Tripulação
Muitos mestres e jogadores por vezes
encontram em seus caminhos longas jornadas a
bordo de um navio.
São dias carregados de aventura ou
marasmo... Tudo dependerá dos ventos e dos
obstáculos que surgirem.
Mestres podem permitir que seus jogadores
consigam moldar seus personagens com mais
detalhes, fazendo-os aprender novas técnicas e
atributos.
Aqui, tentarei auxiliar um pouco a todos que
desejam construir melhor os detalhes que moldam
as grandes navegações.
Uma boa tripulação é o início de tudo.
Neste grupo é preciso reunir tudo o que uma
43
Por Rodrigo “Allefcapt” Tolentino
boa embarcação precisa: Timoneiros, cozinheiros,
calafates, marceneiros...
E quanto será que custa uma boa tripulação?
Descubra agora...
Navios – Informações
Gerais
Para facilitar o calculo de uma campanha
marítima, os valores dos mantimentos correspondem
ao necessário para um mês de viagem a bordo.
Ao lado do nome de cada alimento, encontra-
se a quantidade necessária ao consumo diário de
um marinheiro, o custo do produto individualmente
e o custo final para uma viagem
de cerca de 30 dias.
1 – Mantimentos:
Alimentação básica a
ser usada pelo cozinheiro de
bordo e a ser distribuída entre
os marinheiros:
Obs: Os alimentos
sólidos eram distribuídos uma
vez por mês, todos crus.
- Biscoitos (400 gr.
Diárias/marinheiro ou cerca de
12 quilos por mês) – Sendo 10
po/barril de 88kg, que era o
suficiente para 7 marinheiros
ao mês, logo o custo e de 1,4
po marinheiro/mês pode e deve ser adaptado.
Obs: Estes biscoitos geralmente de água e
sal, eram a base da dieta dos homens a bordo. Condimentos usados nas refeições e
Com o tempo ficavam apodrecidos, cobertos distribuídos entre os marinheiros. Serviam
de bolor e viravam verdadeiros viveiros de baratas. como importantes complementos e temperos
Estes biscoitos, que se confundem com a própria para a alimentação. Nem todos os itens eram
historia da navegação, eram assados em fornos disponibilizados.
próprios ainda em terra firme. - Sal – (100 gr. mês/marinheiro) - 1pp/500
gramas, que era o suficiente para 5 marinheiros ao
- Carne Salgada ou Bacalhau/arenque e mês, logo o custo e de 2pc marinheiro/mês.
Sardinha na salmoura – - Mostarda – (50 gr. mês/marinheiro) -
(500 gr. Diárias/marinheiro ou cerca de 15 Sendo 2po/500gramas, que era o suficiente para
quilos por mês) – Sendo 3 po/barril de 88kg, que 10 marinheiros ao mês, logo o custo e de 2pp
era o suficiente para 5 marinheiros ao mês, logo o marinheiro/mês.
custo e de 6 pp marinheiro/mês - Alho – (250 gr. mês/marinheiro) - Sendo
Obs: Na maioria das vezes estes mantimentos 1po/500 gramas, logo o custo e de 5pp marinheiro
eram distribuídos de forma rigorosamente igual, ao mês.
entre todos, cabendo a cada tripulante 15 quilos - Açúcar (mascavo) – (200 gr. mês/
por mês mais as porções de cebola, vinagre e marinheiro) – Sendo 1po/500gramas, logo o custo
azeite. e de 4pp marinheiro ao mês.
- Mel – (1 pote mês/marinheiro) - Sendo
- Cebola – (500 gr. Mês/marinheiro) - Sendo 5pp/pote com cerca de 500 gramas, logo o custo e
1po/500 gramas, logo o custo e de 1po/marinheiro de 5pp marinheiro ao mês.
ao mês. - Amêndoas ou figos – (500 gr. semana/
- Azeite – (I Litro mês/marinheiro) Sendo a marinheiro) – Sendo 3pp/500gramas, logo o custo
Pipa de 4, 5 litros o suficiente para 4 marinheiros é de 1,2 po/marinheiro ao mês.
ao mês – 8po. - Ameixas Secas ou uvas passas – (500 gr.
Logo o custo e de 2 po marinheiro/mês semana/marinheiro) – Sendo 2pp/500gramas.
logo o custo e de 8 pp/marinheiro ao mês.
- Vinagre - (I Litro mês/marinheiro) Sendo a
Pipa de 4, 5 litros o suficiente para 4 marinheiros 2 – Líquidos:
ao mês – 8po.
logo o custo e de 2 po marinheiro/mês O vinho e a água eram entregues diariamente
Obs: O vinagre não era usado somente e cada homem tinha direito a uma “canada” (cerca
na alimentação: também servia para desinfetar a de 1, 5 l)
imundice do porão, no qual parecia se esconder Um Barril comporta 120 litros ou 88 Kg,
a mais terrível fatalidade da vida no mar: O sendo de água ou vinho, dura em média 1 dia para
Escorbuto 80 tripulantes.
- Queijo – (1 pedaço/marinheiro semana)
– Sendo 4pp/peça (que pode ser dividido para - Vinho ou cerveja (1,5 litros por dia/
4 marinheiros) – Logo o custo e de 3 po por marinheiro) – 20 po o barril de boa qualidade
marinheiro/mês. Obs: O vinho era preferido, e a principal
- Lentilha ou arroz – (250 gr. Diárias/ função dele era manter a moral dos homens
marinheiro ou cerca de 7, 5 quilos por mês) – Sendo elevada.
2pp/500 gramas, logo o custo e de 3po/marinheiro Havia em media, cerca de 200 barris ou
ao mês. pipas do liquido no navio.
Obs: Estes itens historicamente eram
geralmente dados nos dias de jejum, como a Sexta - Água (1,5 litros por dia/marinheiro) – 1
feira santa, para serem usados no lugar da carne. barril de boa madeira custa 2po. Geralmente a
Em termos de uma campanha de RPG, isso água era embarcada gratuitamente.

44
 Obs: A água para beber e cozinhar também 1. Biscoitos – 1, 4 po
era fornecida a base de uma canada por dia. 2. Carne salgada ou peixes – 6pp
Armazenada em barris/toneis de madeira pouco 3. Cebola – 1po
apropriados, sempre cheirava muito mal por causa 4. Azeite – 2po
do ciclo natural das reações químicas. Infecções e 5. Vinagre – 2po
diarréias eram muito comuns. 6. Queijo – 3po
7. Lentilha ou arroz – 3po
3 – Animais: 8. Sal – 2pc
9. Mostarda – 2pp
Em alguns casos, dependendo da viagem, 10. Alho – 5pp
alguns animais eram levados a bordo para 11. Açúcar – 4pp
completar a dieta dos capitães e oficiais. Galinhas 12. Mel - 5pp
e ovelhas eram as mais comuns. 13. Amêndoas ou figos – 1, 2po
14. Ameixas secas ou uvas passas – 8pp
- Galinha – 2pc
- Frango – 3pc CUSTO TOTAL DE UM MARINHEIRO POR
MÊS: 16 PO, 6 PP, 2 PC
Rações: - 5pp/barril grãos – o que alimenta cerca Soma-se a este numero, depois de
de 20 animais por mês. multiplicado pelo número de tripulantes, 20 po pelo
barril de vinho e 2 po pelo barril de água, suficientes
- Ovelhas – 2po para ate 80 homens ao mês.
- Porcos – 3po
- Javali – 10po Ergam ferros e soltem as velas!
Rações: - 15pc/maço de ervas - o que alimenta O oceano os espera...
cerca de 1 animal de cada raça por mês.

Observações:
- Um dos principais personagens dentro de
um navio e o despenseiro, responsável pelo controle
da distribuição dos itens para a tripulação.
Em grandes embarcações, havia um total
de três: Um para os homens de infantaria ou
passageiros, outro para os marinheiros e um
terceiro para os oficiais.
Algumas embarcações permitiam que o
fogo fosse aceso no convés e que todos pudessem
usufruir, cozinhando particularmente suas porções.
Este era um momento muito delicado, pois o navio
ficava exposto ao mais temido acidente: o incêndio
de bordo.
Assim, podemos calcular qual e o custo de
um marinheiro por mês para uma embarcação,
referente a uma viagem de 30 dias:

Obs: Caso é claro, se opte por todos os

itens.

45
 L IVE A CTION

Live Combat Live Action Roleplaying

Por Rogério Mendes

Você e outros aventureiros se

embrenharam no meio da floresta em
busca do Olho do Grifo, um artefato
mágico poderosíssimo que pode ser a
única salvação da vila que os acolheu
tão hospitaleiramente nos últimos dias,
numa merecida pausa em sua busca por
aventuras. Você é um guerreiro bárbaro
e seu grupo de recém aliados pelas
circunstâncias é composto também por
um guerreiro civilizado, uma druida elfa,
uma clériga da deusa da vida, e um mago
que você acha velho demais para esse
trabalho.
A vila vem sendo atacada por
monstros, e há uma lenda que diz que o na direção do seu grupo. Você não sabe muito
Olho do Grifo pode ser capaz de bani-los. O mago bem o quê eles são, pois não conhece a região em
acredita saber a possível localização do artefato, que se encontra, mas eles parecem perigosos, e
que segundo antigos pergaminhos pode estar nas gritam, antecipando o combate, lançando desafios
ruínas de uma civilização antiga, perdidas no meio e impropérios enquanto correm em sua direção. O
da floresta próxima à vila. Então, seguindo essa mago gastou todo o mana que tinha na anulação
pista, você e seu grupo se embrenham na mata da magia de proteção e, portanto, é inútil até que
fechada, e depois de algum tempo finalmente se recupere. Tanto a clériga quanto a druida são
encontram as ruínas. O mago estava certo, e jovens e inexperientes, e hesitam, sem saber ao
depois dele anular uma magia que protegia o certo o que fazer. Você sabe que seu grupo não é
artefato, vocês se apoderam do Olho do Grifo páreo para aqueles inimigos, e grita para que eles
- uma esmeralda gigantesca lapidada em forma corram de volta para a vila, que afinal não fica muito
de globo - e decidem voltar para a vila, para que longe, e uma vez que estejam lá, outros guerreiros
possam realizar um ritual que vai banir de uma vez poderão ajudá-los no combate.
por todas os monstros, mas, para a sua surpresa, Seu grupo corre. As duas mulheres vão à
assim que seu grupo sai das ruínas, você os vê em frente, pois são ágeis e estão com medo. Você e o
meio às árvores. outro guerreiro acompanham o mago, que é gordo e
Você conta seis monstros humanóides, todos lento, e você amaldiçoa todas as escolas de magia
portando lanças e escudos, e eles estão correndo por servirem boa comida e nunca obrigarem seus

46
membros a fazerem exercícios físicos regulares.
Os monstros estão cada vez mais perto. Agora,
olhando por cima de seus ombros, você pode
ver que eles são seres humanos... ou quase. Há
alguma coisa muito errada na fisionomia deles, e
eles gritam como loucos. Você conclui que o que
eles querem é o Olho do Grifo, e talvez não o
tenham pegado antes porque não eram capazes
de anular a tal magia de proteção. Se o artefato
cair nas mãos dos monstros, será o fim da vila.
Talvez o fim do reino. Talvez... não, seja como for,
você não pode permitir que eles prevaleçam assim
tão facilmente.
O mago está ofegante e você percebe que
ele não vai conseguir continuar correndo por muito
tempo. Além disso, os monstros estão há menos de
dez metros de distância. Só há uma coisa a fazer.
Você olha para o outro guerreiro, e sem que seja
preciso dizer nada, ele concorda com a cabeça,
com o semblante grave de quem sabe que chegou
47
a hora de lutar. Como é mesmo o nome dele? De
onde ele vem? Agora já não importa.
Agora chegou a hora de lutar. Chegou a hora
de morrer. Você vai morrer para que outros vivam,
para que o mago chegue em segurança na vila, e
para que os monstros sejam banidos pela magia
do Olho do Grifo. Você saca a sua espada. O outro
guerreiro faz o mesmo. Você solta o seu brado de
guerra, como é o costume de sua tribo. O guerreiro
civilizado apenas sorri.
"Ah, deuses!" - você pensa antes de aparar
a primeira estocada de lança e atingir um dos
monstros bem no meio do peito com um golpe de
sua espada - "Isso sim, é estar vivo!
A cena acima poderia ser parte de um conto
ou romance de fantasia, poderia ser a descrição
de parte de uma aventura de RPG de mesa, mas,
acredite, aconteceu de verdade, durante uma
aventura de Live Combat Live Action Roleplaying.
Eu era o guerreiro bárbaro.
LARP é a sigla para Live Action RolePlaying,
que numa tradução livre seria algo como
Representação de Papéis com Ação ao Vivo. No
Brasil essa modalidade de entretenimento é mais
conhecida por Live Action, ou simplesmente Live.
Alguns anos atrás, com a publicação do
cenário Vampiro: A Máscara e do sistema de regras
Teatro da Mente, os lives de Mundo das Trevas
tornaram-se bastante populares por aqui, tanto
que, para muita gente, Live Action é um sinônimo
para aventuras onde os jogadores interpretam
vampiros ao vivo.
Bem, isso não é verdade.
Para entender o que é um Live Action,
precisamos entender como essa atividade
surgiu, mas isso não é muito fácil de determinar.
A representação de papéis ao vivo, numa forma
aproximada da que tem hoje, provavelmente
surgiu em 1966 com a SCA - Society for Creative
Anachronism, ou numa tradução livre, Sociedade
para o Anacronismo Criativo - um grupo americano
dedicado à recriação do clima e da cultura medieval.
Depois do lançamento do Dungeons & Dragons
em 1974, alguns grupos começaram a utilizar
elementos de fantasia em eventos parecidos com
aqueles organizados pela SCA, e em 1977, também
nos Estados Unidos, foi criado o grupo Dagorhir,
que desde então organiza batalhas ambientadas
em cenários de fantasia medieval, nas quais os
participantes utilizam armas feitas de espuma e
lutam de verdade!
De lá para cá os cenários e as regras
tornaram-se mais elaborados e o LARP acabou
reinventando a si mesmo várias vezes. Diversos
sistemas de regras foram escritos e publicados,
diversos estilos de LARP
foram criados, mas o que
muita gente não sabe, é
que o combate simbólico,
aquele que se utiliza de
cartões com a descrição de
armas ou disputas de pedra-
papel-tesoura, é só uma
das formas de resolução de
conflitos nesses eventos,
e, fora do Brasil, essa não
é nem de longe a forma
mais popular. Eventos que
utilizam combate simbólico
costumam reunir algumas
dezenas de jogadores,
enquanto eventos com
combate ao vivo podem
reunir centenas, ou até
milhares de jogadores.
Mesmo nos eventos onde
o combate é feito ao vivo, existem modalidades
distintas, e existem tantos estilos de aventuras
quanto existem grupos de LARP.
Enfim, LARP é uma grande brincadeira
de representar personagens, onde, ao invés de
descrever como o seu personagem agiria, você
deve agir como se fosse ele. E, em alguns casos,
como nos Live Combat LARPs, ao invés de disputar
uma série de partidas de pedra-papel-tesoura
contra o seu oponente para determinar quem foi o
vencedor de uma luta, vocês dois devem lutar de
verdade até que haja um vencedor!
No Brasil, a disseminação do Live Combat
ainda é pequena, e isso acontece por vários motivos.
O principal deles é que participar de um evento desse
tipo não é nada barato se comparado aos lives de
Teatro da Mente, por exemplo. Para representar um
vampiro, na pior das hipóteses, você pode usar uma
camisa xadrez velha, fazer uma pose de grunge e
estará bem caracterizado, dependendo do clã que
escolher. Para interpretar um camponês num live
de combate, que normalmente são ambientados
em cenários medievais fantásticos, mesmo que
48
você não pretenda lutar ou utilizar magia, mesmo
que queira apenas participar da história como um
simples camponês, você ainda vai precisar de uma
fantasia razoavelmente elaborada. É claro que
a tolerância para fantasias mal acabadas varia
de grupo para grupo, e ninguém vai te impedir
de participar de um evento se
você aparecer de calça jeans e
camiseta – pelo menos não se o
evento acontecer no Brasil – mas
acredite, se não estiver bem
caracterizado, se não parecer ao
menos ligeiramente “medieval”,
você vai se sentir deslocado.
Se pretender lutar ou utilizar
magia, você provavelmente terá
que arcar com os custos do
equipamento que utilizar, ou então
os organizadores do evento terão
que gastar uma boa quantidade
de dinheiro na fabricação de
armas de espuma e repassar
parte desse custo aos jogadores.
De um jeito ou de outro, você vai
pagar pela arma que utilizar, nem
que o custo do aluguel da mesma
esteja embutido numa taxa que
será cobrada pelos organizadores do evento, que
também pode cobrir transporte e alimentação.
Porém, além de ser uma modalidade de
entretenimento cara para os padrões brasileiros
– por exemplo, participar de um único evento pode
facilmente custar mais do que o módulo básico
do seu cenário ou sistema favorito – ainda existe
uma boa dose de preconceito em relação ao Live
Combat, e algumas vezes isso parte dos próprios
RPGistas, lamentavelmente.
Alguns jogadores vêem o Live Combat com
reservas, como se ele fosse uma perversão da
idéia em torno do Live Action de estilo teatral. O que
muitas vezes esses jogadores não sabem, é que
justamente o conceito de Live Action Roleplaying
começou com os lives de combate, que, talvez
pelos altos custos envolvidos na organização dos
eventos, só chegou ao Brasil anos depois dos
Lives que utilizam combate simbólico. Não que eu
esteja afirmando que eventos que utilizam combate
ao vivo são melhores do que eventos que utilizam
combate simbólico, nada disso. Eventos com
combate ao vivo só são diferentes, especialmente
no tipo de emoção que evocam em seus jogadores.
Pode ser muito divertido você imaginar um luta e
resolvê-la através de disputas de papel-pedra-
tesoura, e inclusive eu mesmo já joguei e organizei
eventos assim, mas empunhar uma espada, ainda
que feita de espuma, e enfrentar seus inimigos
através da sua habilidade e esforço físico, é uma
coisa completamente diferente e, na minha opinião,
é uma experiência que vale a pena ser vivida.
E é claro que Live Combat não significa
necessariamente que as aventuras são apenas
uma seqüência de lutas sem sentido, como
algumas pessoas parecem pensar. Como em
qualquer aventura de RPG, é preciso que haja
um enredo instigante, personagens interessantes,
um bom cenário, enfim, eventos onde a resolução
de combates é feita ao vivo são, antes de tudo,
aventuras de Live Action Roleplaying, que são boas
ou ruins dependendo do esforço e da dedicação de
seus jogadores e organizadores.
O que nós esperamos fazer nos próximos
números da Távola é justamente desmistificar
o Live Combat LARP, e, além disso, fomentar a
criação de novos grupos e aumentar o número
de jogadores dos grupos existentes no Brasil, que
são vários. Até onde sabemos, existem grupos nos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Santa Catarina e até Rondônia, mas não temos a
pretensão de conhecer todos os grupos do Brasil,
e talvez essa seja justamente a oportunidade que
faltava para que os grupos pequenos e que estão
localizados fora dos grandes centros apareçam,
e possam formar uma comunidade forte de Live
Combat em nosso país.
Portanto, se você faz parte de um grupo
que organiza eventos de combate ao vivo, escreva
para a Távola e conte-nos as suas experiências
com essa modalidade de LARP. E se você nunca
participou de eventos desse tipo, mande-nos as
suas dúvidas a respeito desse assunto!
No próximo número falaremos sobre a cena
internacional de Live Combat, e sobre as diferenças
de estilos em diferentes países, inclusive no
Brasil.
Até lá!

49
A MARCHA DOS
ORCS
Uma aventura
para GURPS
Título Original: “OH! WHEN THE ORCS...
COME MARCHIN’ IN...”
A ORGANIZAÇÃO DA MILÍCIA
Autor: Steven Kudolis
1) O governo requer que cada vila envie um
Fonte: www.rpgarchive.com
de casa 10 homens de sua milícia (guerreiros)
Tradução: Paulo E.“Alonso” Nunes
para a equipe de vigília/assalto (todos jogadores
deverão ser escolhidos).
Esse módulo é ideal para um grupo de
2) A Guilda de Magos irá contratar os
jogadores que não estão familiarizados com o
jogadores magos para ajudarem na causa.
sistema de jogo Gurps ou estão começando
3) Clérigos serão contratados como
novos personagens (100 – 120 pt).
“médicos”.
Os jogadores nesse cenário têm pouco
4) A milícia é liderada pelo Sir. Laridine, um
ou nada de riqueza e devem ser de nascimento
jovem cavaleiro. Ele tem pouca experiência em
comum (status 2 ou menos). Não é necessário
combate, mas é um bom estrategista. No entanto,
que os jogadores se conheçam no inicio da
ele tem péssima habilidade de liderança.
aventura. Esse módulo irá juntar todos assim mais
5) Membros da milícia serão abastecidos
tarde poderão formar o grupo de aventuras.
de acordo com a sua escolha: besta + uma arma
de mão; ou escudo + arma de mão; ou apenas
A BASE DA AVENTURA uma lança. Deve haver pelo menos um membro
na milícia com cada tipo de arma.
Orcs estão aterrorizando os arredores 6) A milícia será paga com ¼ do salário
da cidade dos jogadores. A milícia local foi mensal adiantado, mais acomodações e meio
convocada para impedir a invasão dos orcs. Os de transporte. Eles receberão o resto do salário
jogadores farão parte desse grupo de acordo no fim do serviço.
com a sua “classificação”. 7) A equipe de assalto terá 20 integrantes.
1) Jogadores guerreiros são membros Eles são todos simples camponeses (com a
da milícia de sua cidade (ou foram convocados possível exceção dos jogadores). Eles são muito
para o serviço) desorganizados e reclamam sobre tudo. Eles
2) Jogadores ladrões são enviados para não obedeçam as ordens muito bem.
espionar o avanço dos orcs para manterem 8) As tropas são treinadas pelo sargento
informando a guilda do envolvimento do governo Balto, sobre o olhar cuidadoso do Sir. Laridine.
na área. Quando o treinamento estiver completo, Balto
3) Jogadores magos são contratados para sairá.
ajudarem na missão. 9) O jovem cavaleiro, Sir Laridine aparenta
ter pouco controle sobre suas tropas. Ninguém
desobedece a suas ordens, mas resmungam e
RESUMO DA AVENTURA queixam-se delas. Um velho veterano de muitas
batalhas, um dos membros da tropa de assalto,
Orcs estão marchando em direção
parece ser a pessoal que todos procuram quando
a regiões próximas do país de origem dos
precisam de alguma instrução. (trate-o como um
jogadores. (próximo a cidade dos jogadores).
homem barulhento, mas persuasivo. No entanto,
Eles se movimentam devagar e em segredo.
ele não possui nenhuma habilidade tática.)
Eles não estão atacando tudo que vêem pela
frente, mas já atacaram diversas fazendas,
massacrando os cidadãos e gado encontrado lá.
A milícia local é enviada para avaliar a situação
e colocar um fim na ameaça orc. A milícia está
sobre a liderança do Sir. Laridine um jovem
cavaleiro de 20 anos.

51
 O cavaleiro informa suas tropas que orcs não
O INÍCIO DA AVENTURA gostam da luz solar.
6) Quando o esquadrão se aproxima a
1) Cada membro do grupo provavelmente
uns 40 metros da floresta, os orcs de repente
será de diferentes cidades e levará alguns dias
avançam contra as tropas. Eles avançam com
para organizar a tropa intera.
vozes e armas erguidas. Só tem uns 12 orcs no
2) As tropas serão treinadas diariamente
ataque, mas nenhum outro orc é avistado na
pelo sargento Balto até que toda a força seja
área.
reunida. (Use esses treinos de arma para
7) Sir Laridine dá ordem para os besteiros
introduzir o sistema de batalha para novos
mirarem, mas não atirarem até que ele de
jogadores). Durante esses treinos, fica evidente
a ordem. Ele também manda os lanceiros
que sir Laridine tem pouco controle sobre as
avançarem até eles ficarem na mesma linha
tropas. Ao invés disso, um velho soldado,
dos arqueiros. O resto da tropa continua na
veterano de muitas campanhas, parece ser
retaguarda como antes.
aquele que as tropas procuram para liderar.
8) Quando os orcs alcançam 20-15 metros
3) Na manhã após toda a força ter sido
de distancia dos besteiros, Sir Laridine da a
reunida e treinada, eles marcham na procura
ordem para eles atirarem, depois manda eles
dos orcs.
recuarem para atrás dos lanceiros. Os lanceiros
formam uma parede protegendo os besteiros
O ATAQUE ORC enquanto o resto da tropa ( os guerreiros)
guardam os flancos. A estratégia é eficaz. A
1) Sir Laridine decide que um maioria dos orcs que iniciaram o ataque estão
batedor não será necessário. Ele feridos e muitos estão mortos. Nenhum
teme que um único homem seria deles será capaz de quebrar a linha de
um alvo muito vulnerável caso defesa do esquadrão.
eles encontrassem os orcs. 9) A ofensiva dos orcs foi contida e
2) De manhã no mesmo dia, muitos deles morreram. Os que sobraram
as tropas recebem informação recuaram o mais rápido possível (você
de um fazendeiro local que precisa de 4-8 orcs sobreviventes para
alguns orcs foram vistos a recuar). Muitos deles largando suas
alguns quilômetros dali. As armas no chão ao recuarem. Aparenta
tropas irão marchar em ser uma fuga dos orcs.
direção ao local indicado.
3) O esquadrão
encontra uma vasta
A EMBOSCADA
planície, com algumas
1) Sir Laridine da a ordem para os
árvores espalhadas. No
besteiros recarregar e para todos ficarem
canto mais longe do
aonde estão e se prepararem para um
campo está uma densa
novo ataque, mas o velho veterano corre
floresta. Ao se aproximar
em direção aos orcs gritando “Vamos
dela, as tropas avistam
homens. Nós conseguimos fazer esses
um acampamento orc
monstros correrem. Agora vamos esmagá-
no canto da floresta.
los”.
4) O cavaleiro organiza as tropas
2) As tropas, empolgadas com a rápida
em três fileiras. Todos besteiros (5-10) ficam na
vitória, seguiram o velho veterano. Eles ignoram
frente seguidos pelos lanceiros (5-10). O resto
qualquer ordem dada pelo Sir Laridine enquanto
das forças fica atrás e do lado dos lanceiros. O
correm atrás, massacrando os orcs que não
esquadrão marcha avançando para frente.
conseguem fugir deles. Os jogadores deverão
5) O sol do meio dia ilumina o campo.

52
decidir se irão atrás dos seus companheiros ou
ficaram atrás com sir Laridine.
3) Os orcs correm para dentro da floresta e
rapidamente saem da vista dos que ficaram com
o cavaleiro. Somente os gritos do esquadrão
na perseguição dos orcs que estavam fugindo
foram possíveis de se escutar.
4) Após alguns instantes, os gritos de vitória
dos companheiros se transformam em gritos de
medo e dor. Cada jogador que entrou na floresta
foi levado direto para uma emboscada. Cada
pessoa será atacada por três orcs, e mais orcs
poderão ser encontrados antes de um jogador
consiga fugir.
5) Sir laridine, montado no seu cavalo,
mantém-se no mesmo lugar com qualquer outro
jogador que ficou para trás com ele. Ele ordena
que as tropas que ficaram com ele se agrupem
junto a ele, com os besteiros armados e prontos
para atirar. Ele espera que alguns das suas
tropas saiam da floresta com vida e retorne junto
com ele.
6) Depois de alguns minutos da emboscada,
a floresta fica em total silêncio. Nenhum grito ou
choro de amigos ou inimigos pode ser escutado
mais. Então, sem nenhum aviso, um esquadrão
de orcs (20) sai do meio da floresta. Eles se
mantêm na entrada da floresta e sacam arcos. O
cavaleiro percebe o perigo e ordena a retirada.
AO AUXILIO DO SIR LARIDINE
1) Uma chuva de flechas cai (Jogadores que
recuaram não serão atingidos). Algumas flechas
atingem o cavalo do sir Laridine, derrubando-o.
Ao cair, o cavalo emite um alto som que pode ser
escutado pelos jogadores que estão fugindo.
2) Somente aqueles jogadores que virarem
para trás verão que a perna do cavaleiro está
presa debaixo do cavalo. O cavalo tem uma
flecha no pescoço, perto da cabeça. Outra flecha
está enterrada profundamente no peito/ombro
do cavaleiro. O cavalo não está se movendo e
o cavaleiro luta para se libertar do cavalo, mas
não parece ser capaz de fazê-lo.
3) Os orcs começam a avançar. Se 2 ou
mais jogadores voltarem para ajudar o cavaleiro,
então ele será liberto antes da chegada dos orcs.
53
O cavaleiro consegue correr se o ajudarem.
NOTA: Se os jogadores não ajudarem o cavaleiro,
ele será capturado pelos orcs e você terá que
escrever um novo final para a aventura.
4) Os orcs só continuaram avançando até
chegarem ao cavalo caído no chão. Lá, eles irão
parar e começar a despedaçar o cavalo com
os dentes. Caso os jogadores ainda estejam
ao alcance de arcos, eles serão atacados por
flechas.
5) O cavaleiro está gravemente ferido.
Correr só agravou os seus ferimentos. Ele precisa
ser levado a algum “médico” imediatamente.
6) Os jogadores podem criar uma espécie
de maca para levar o cavaleiro para a cidade
mais próxima (uma pequena vila chamada
Thanic).
7) Sir Laridine ficará muito grato aos
jogadores por terem salvado sua vida. Ele está
muito chateado com a perda de suas tropas,
mas ele sente que apesar deles terem morrido
por não terem seguido ordens, pelo menos eles
completaram parte da missão. Laridine conseguiu
juntar bastante informação do inimigo.
8) Sir laridine será um aliado aos jogadores
desde que eles mostrem que são merecedores
de tal amizade. Isso não custará pontos aos
jogadores.
AO FINAL DA EMBOSCADA
1) Jogadores mortos poderão ser
substituídos em Thanic.
2) Jogadores e NPCs que foram capturados
estão presos na floresta pelos orcs. Eles são
maltratados. Jogue um D20 para determinar o
que acontece com cada um deles a cada dia
que estão vivos.
1-2 = Devorados
3-4 = Molestados pelos Orcs
5-9 = Espancados (possivelmente até
a morte)
10-20 = Espancados e um NPC é
devorado/molestado/ou espancado
3) Jogadores que foram pegos na
emboscada mas escaparam, irão fugir em
direção a Thanic ( ou são livres para ir em
qualquer outra direção que desejarem). Se Sir
Laridine descobrir que eles estão na cidade, ele vila possuem treinamento com flechas).
irá convocá-los para a milícia novamente. 7) Quando os orcs chegarem à cidade,
4) Qualquer Jogador ou NPC que não ficar irão começar a queimar as construções e atacar
com o cavaleiro será considerado um traidor e qualquer pessoa que avistarem. Eles irão atacar
será julgado se capturado. com golpes fulminantes não deixando nenhum
5) A tropa do cavaleiro é a única na sobrevivente. Eles rapidamente irão atacar sem
redondeza a procura dos orcs. Nenhum sinal nenhuma organização ou estratégia. Eles irão
é encontrado dos orcs por 3 dias. O cavaleiro lutar até a morte sem a intenção de se renderem
está usando esse tempo para se recuperar dos ou recuarem.
ferimentos. Ele está esperando até que esteja em 8) Quando dentro da vila, os orcs irão se
boas condições para voltar até seu comandante dividir em pequenos grupos de 3-10 andando
e entregar um relatório completo das atividades pelas ruas colocando fogo em tudo e atacando
dos orcs na região. as pessoas (eles possuem uma arma na mão
6) Após três dias, os orcs atacam a vila de que não está carregando a tocha).
Thanic. 9) Os orcs perderão 3 guerreiros para cada
2 homens da milícia que morrerem. Os orcs irão
atacar por 6 minutos e então irão recuar. Calcule
O ATAQUE A THANIC a perda de ambos os lados a cada 30 segundos.
Isso não leva em conta as tropas perdidas ao
1) Três dias após a emboscada, o líder dos
atravessarem o campo ou as tropas mortas
orcs marcha até a cidade de Thanic.
pelos jogadores, mas sim quando grupos de orc
2) Os orcs somam 70 fortes guerreiros.
encontram grupos de milícia.
O restante está morto, ferido, ou guardando
prisioneiros na floresta.
Nota: Em algum lugar nessa confusão
3) Os orcs marcham sem nenhuma tentativa
se encontra o líder dos orcs, cercado pelos
de passarem despercebidos. Os fazendeiros
seus guerreiros mais leais. Se os jogadores
ao redor da cidade rapidamente avistam os
conseguirem vencê-lo e mostrarem a prova de
orcs entre a névoa marchando em direção a
sua morte (a cabeça do líder em uma lança,
Thanic. Eles irão fugir para a vila com relatos
etc.) outros orcs que encontrarem o jogador irão
exagerados de bandos de orcs destruindo tudo
atacar com um redutor de -2 de medo.
pelo caminho, o que não deixa de ser verdade.
Fazendas estão sendo queimadas e gados
mortos, mas os fazendeiros fugiram a tempo de ENCERRANDO TUDO
não serem capturados.
4) Sir Laridine irá comandar a defesa da Agora que a ameaça a vila está terminada,
vila, que somará somente 45 mais os jogadores Thanic precisará ser reconstruída (a maioria das
que estão a seu serviço. coisas foi queimada até o chão). Sir laridine será
5) O cavaleiro terá os jogadores que se culpado pelas pessoas da vila por suas casas
tornaram seu amigo lutando ao seu lado durante destruídas, mas será aclamado como um herói
a invasão. por seus companheiros de milícia. Sir Laridine
6) Os orcs terão que atravessar um campo permitirá que os jogadores que foram leais a ele
aberto antes de chegar a vila. Como está que mantenham seus equipamentos militares
anoitecendo, haverá uma penalidade de -1 para (proteções de couro e armas), e irá libertá-los de
tiros de flechas pela falta de claridade. Irá levar suas vassalagens (caso ainda não sejam).
30 turnos para os orcs atravessarem o campo. A Ele também irá convidá-los para ir até
cada turno os orcs avançam 4 hexágonos. Cada sua casa, comemorar a vitória e beber em
orc é carrega uma tocha. A vila poderá lançar homenagem aos companheiros mortos em
qualquer tipo de ataque com flechas dentro batalha.
desses 30 turnos. (obs: Apenas 10 pessoas da O povo de Thanic reconheceu o líder

54
dos atacantes como o jovem meio-orc que eles
haviam banido anos atrás. Eles não perceberam
que foi o mau-trato que ele sofreu em Thanic
que resultou nesse ataque, ao contrário, pensam
que estavam certos quando o maltrataram. Eles
culpam o agressivo temperamento dele como
justificativa para todas maldades e injurias feitas
nele quando era mais jovem.
FIM
da tribo, guerreiros que na posição que Snag se
encontrava, não iriam respondê-lo. Ele percebeu
que precisaria se tornar o líder dos orcs para
completar seu plano de destruição.
Através de traição, falsidade e
mortes, Snaggletooth se tornou líder dos orcs
em menos de um ano após a formulação de seu
plano. Ele reorganizou seus guerreiros no melhor
grupo de assalto que ele poderia formar (dada a
mentalidade e atitude dos orcs).
Então escolheu cerca de 100 guerreiros
dentro de suas melhores tropas para marchar

HISTÓRIA DE SNAGGLETOOTH - LÍDER

DOS ORCS
Os orcs estão sobre a liderança de
Snaggletooth. Um grande meio-orc de grande
ST e boa habilidade com armas. Ele tem se
mantido líder dessa tribo a quase 3 anos,
apesar de não ter nascido nesse clã.
Snaggletooth é o resultado produzido
de um estrupo de um orc, a uma jovem mulher
que morava em uma vila perto das fronteiras
do reino, chamada Thanic anos atrás. A vida
foi muito difícil para o jovem Snag. As outras
crianças o desprezavam e o provocavam sem
menor compaixão. Sua mãe era normalmente
alvo de fofocas cruéis e tratadas com total
desprezo.
Snaggletooth não podia mais agüentar
aquilo e decidiu fugir de casa para viver ou
morrer na floresta. em direção a Thanic.
Ele foi encontrado quase morto por um Snaggletooth está se movimentando
grupo de caça orc. Eles o levaram de volta para devagar e cuidadosamente para que suas
a sua tribo aonde sua força e habilidades nas tropas não causem uma destruição em massa,
armas lhe deram uma certa fama perante o clã. que acabaria chamando muita atenção e
Ele foi rapidamente elevado a uma posição de forçando o aparecimento de uma grande força
autoridade, somente alguns passos abaixo do militar na região por parte do rei. Ele acredita
líder do clã orc. que os militares não conseguiram se organizar
Nem mesmo longos anos tiraram de sua a tempo de impedi-lo antes dele chegar à vila.
memória os maus tratos sofridos em thanic, e Após o encontro com a milícia de Sir Laridine,
secretamente, ele prometeu se vingar da vila Snaggletooth esperou 3 dias ára ver se mais
aonde nasceu. Ele começou a formular um tropas seriam enviadas contra eles. Ao ver que
plano para satisfazer sua sede de vingança. ninguém foi enviado, ele preparou suas tropas e
Seu plano iria exigir o uso de muitos guerreiros marchou em direção a Thanic.

55
 fronteiras.
RELATÓRIOS DE SIR LARIDINE *** Pela quantidade de gado roubado
pelos orcs, eu estimo que eles somam entre 30
Entrada n° 105:
a 50 guerrreiros.
Minhas tropas foram equipadas e
marcharemos amanhã. Não existe nenhum
relatório de atividade de orcs na área. Tentaremos
localizá-los e determinar a sua força.
Entrada n° 106:
Encontro com os
orcs acabou muito mal.
Grandes perdas, maior
parte do esquadrão foi
eliminado.
Entrada n° 107:
Feridas sofridas
em batalha estão
curando bem, devo
estar em perfeito
estado em alguns
dias. Nota dos orcs
avistados:
*** Muito
disciplinados, indicando
forte liderança. Não
devemos menosprezar
suas estratégias.
*** Orcs possuem
armas feitas por homens,
habilidosos com flechas. A
qualidade de seu armamento
os torna perigosos para tropas
montarias.
*** O lider dos Orcs possui qualidades
estratégicas e boa tática. Devemos ficar atentos
a tentativas de emboscadas. Devemos manter
disciplina em nossas tropas para assim não
cairmos em uma emboscada.
*** Orcs estão se movendo devagar e
cuidadosamente, tomando muito cuidado para
não serem vistos. Eles devem ter algum objetivo
em suas mentes. Até agora não descobri qual
seria esse objetivo.
*** Orcs não estão causando muitos
problemas para garantir o envio de um exercito
para eliminá-los, o que indica que eles não
desejam um conflito armado nesse momento.
Eles podem estar em uma missão para
descobrirem o tamanho das forças em nossas

56
 E SPECIAL

ENTREVISTA OBSERVADORA
Pela Equipe Távola RPG

Rogério de Mello Godoy e Leonardo A.de física mesmo, pois tínhamos que apresentar
Andrade, autores do Sistema de RPG OPERA, pessoalmente as regras, mas com a utilização
falam à Revista Távola sobre a origem do Sistema da Internet pelo Léo, o OPERA se proliferou, pois
e as dificuldades enfrentadas para consolidá-lo. quem já sabia do OPERA comentava com um
Eles também comentam sobre os novos rumos a colega, que entrava no site, gostava, comentava
serem tomados no mercado. com outro, que gostava também e contava para
outro e assim por diante.
Com a publicação, conseguimos atingir
Távola - De onde surgiu a idéia de criar um mais gente ainda, e até agora tem gente nova
sistema de RPG, em meio a tantos sistemas que Observando em Realidades Alternativas.
temos espalhados pelo mercado?
Távola - Vocês tiveram um período de
Rogério - Surgiu da minha vontade de jogar Playtest na internet. Como foi esse período?
com o Conan, mas com chances de sobreviver
mesmo com o Nível de Armadura baixo por estar Rogério - Na verdade, foi mais divulgação
vestindo apenas uma tanga, e por não conseguir do que playtest na internet, pois tínhamos muitas
fazer as contas nos outros sitemas de regras mais respostas de apoio, mas quase nenhuma sugestão
genéricos, onde o Conan de tanga sobreviveria de regras. Os playtestes ocorriam ao vivo, nas
com sua Esquiva Passiva. mesas de jogo de Catanduva e São Carlos...

Leonardo - O nosso problema era conciliar Leonardo - ...cujo público era bem
jogos, que pertenciam a níveis de realismo diversificado.
diferentes na mesma mesa de jogo. Os sistema de
jogo que conhecíamos na época (inicio da década Rogério - Um playtest bacana na net
de 90), não satisfaziam nossas expectativas. acontece só agora, no fórum, onde várias sugestões
e relatos de jogos são trocados.
Távola - E porque um sistema genérico?
Távola - Como pretendem concorrer com
Rogério - Porque a gente cansou de atacar os diversos RPGs já existentes, tendo entre eles,
dragão com míssil mágico, e queríamos ver o títulos fortes como Dungeons & Dragons, GURPS,
estrago que uma artilharia anti-aérea faria no Storyteller, entre outros?
bichão!
Rogério - Mais do que concorrer,
Távola - Quais foram as dificuldades em pretendemos apresentar uma opção para os
apresentar esse novo sistema ao público? roleplayers conseguirem contar suas histórias do
Rogério - No começo, era a dificuldade jeito que eles quiserem, com uma adaptabilidade e

57
praticidade que só o OPERA permite. sobre eles?

Leonardo - Com o OPERA é possível fazer Rogério - Sim, e pretendemos passá-los

um kriptoniano enfrentar um dragão mágico de para o público assim que for possível e como for
cinco cabeças (Realidade dos Quadrinhos vs. possível.
Realidade Fantástica Medieval).

Távola - Os jogadores do OPERA devem

estar aflitos com a situação incerta do sistema no
mercado, e todos nós gostaríamos de saber sobre
a possível falência (ou não) da Comic Store e quais
as conseqüências disso para o sistema.

Rogério - Então, no que depender da Comic

Store, eu não vejo muito futuro, pois a fiscalização
federal deixou a empresa “sinucada”, mas, Comic
Store não é o único meio de divulgação.

Távola - Aliás... A Comic Store faliu

oficialmente?

Rogério - Que eu saiba, eles continuam

como distribuidora, pois contam com um estoque
gigantesco, mas como a parte importadora deles
foi esmagada pela incoerência fiscal, eles ficaram
sem verbas para qualquer outra coisa.
Mais uma vez, voltamos a investir pesado
nas atividades de internet, com novo site (www.
rpgopera.com), uma vez que o domínio antigo
está de posse da Comic Store.
Quem tem acesso à internet, tem acesso ao
OPERA e a todas as novidades que não param de
surgir (a própria Távola é um exemplo disso).
Mas, essa porta que se fechou nos fez
procurar muitas janelas, que podem funcionar
muito melhor do que antes. Não estamos parados
na internet e muito menos fora dela, mas aí, é
assunto que só comentaremos quando os livros
saírem das gráficas.

Távola - Você disse... “... Livros saírem das

gráficas”... Vocês já acertaram com outra editora?

Rogério - Acertamos mais ou menos, tem

muita coisa para ser acertada ainda, só posso
adiantar que é uma editora que não tem nada a
ver com o atual mercado de RPG.

Távola - Existem outros projetos para o

OPERA em andamento? Quais suas perspectivas

58
 G OLPE DE M ESTRE

Ilusão Narrativa Por Alessandro Franzen

Muitas vezes, por inexperiência, falta de uma história que tem começo, meio e, muitas vezes,
preparação ou insegurança, o Mestre do Jogo um fim, ou seja, há um roteiro com objetivos e/ou
acaba por ficar perdido e confuso quando seus moral a ser mostrada/ provada por seus ouvintes.
jogadores começam a tomar um rumo diferente Se for bem apresentado, os jogadores se
do roteiro escrito de uma aventura. Tal situação é sentirão a vontade para iniciarem ações e reações
comum e deve ser tratada com cuidado e sutileza, adversas, interagindo com os elementos que os
pois define se o jogo irá continuar ou se seus cercam dentro da narrativa da aventura. Dessa
jogadores irão desejar outro Mestre de Jogo. maneira, o Mestre do Jogo faz o papel do ambiente,
Há uma ferramenta muito útil para resolver esse personalidades diversas e oferece desafios que
problema... A Ilusão Narrativa. ele julga serem adequados aos seus jogadores de
Este é o primeiro artigo de uma série que forma direta ou indireta.
tem por objetivo apresentar algumas técnicas
desenvolvidas por minha pessoa bem como dicas B – Os jogadores e sua imprevisibilidade:
baseadas em minha longa experiência como
Gamemaster desde 1988. Saiba que este artigo é Apesar de tudo, o papel do jogador envolve
voltado tanto Mestres veteranos como iniciantes, uma liberdade enorme que pode ser traduzida
podendo ser usar para ampliar a diversão em constante processo criativo de análise, ação
proporcionada pelo nosso saudável hobby. e reação baseado nos elementos narrativos
apresentados pelo Mestre do Jogo. Dessa maneira,
1 – CONCEITOS: o jogador só tem uma preocupação primária que é
divertir-se como pode ao mesmo tempo que cuida
Antes de demonstrar a ferramenta da Ilusão de todos os aspectos de um único personagem, ao
Narrativa, vamos rever alguns conceitos básicos contrário do Mestre que deve seguir normas que
para o melhor entendimento dela. gerenciam toda a “realidade” da ambientação que
ele está apresentando.
A – O Mestre e seus deveres: O Jogador é uma bomba-relógio que
explode na mão do Mestre do Jogo quando menos
Como sabemos, um Mestre de Jogo é a se espera, suplantando um desafio de forma rápida
personalidade que tem a obrigação de contar uma e criativa, eliminando um vilão que o narrador
história onde os jogadores serão seus protagonistas demorou dias para formular ou até indo por uma
e tem por noção ser um narrador capaz de transferir direção completamente oposta ao do roteiro.
todas as suas idéias através de palavras e outros
artifícios para o jogo. Como um escritor, ele conta

59
C – Erros Comuns: 3 – A FERRAMENTA E SUAS NUANCES:

Ao analisarmos ambos os lados, vemos que Uma vez iniciada a sessão de jogo, o Mestre
muitas vezes, o Mestre do Jogo é forçado a usar deve primeiro manter-se calmo e seguro de suas
artifícios que resultam na insatisfação completa próprias capacidades. Ninguém será afetado pela
e total de seu grupo de jogadores que, por sua Ilusão Narrativa se o Mestre não estiver a vontade
vez, acabam ficando frustrados toda a vez que com a própria mesa de jogo. Assim que iniciada
são repreendidos e forçados a fazer algo que não a partida, o Mestre deve sempre ter em mente
desejam na mesa. Só para ilustrar, a autoridade do esse triunvirato de ações: “Adaptação, Aceitação
Mestre não lhe dá direito de frustrar o jogador com e Resolução”.
detalhes de regras que beneficiam somente a um A Ilusão Narrativa é uma técnica que
lado da mesa. permite manter coesa uma mesa e demonstrar
Outro tipo de comportamento negativo do que a ambientação é funcional não importa o que
Mestre para lidar com essas diversas situações seus jogadores fizerem para ir contra o seu estilo
a qual ele não estava preparado é a presença da de mestrar. Antes de mais nada, a ferramenta só é
personalidade guia em meio ao grupo. Esse guia funcional se o Mestre do jogo dominar as 3 ações
nada mais é do que a personificação do mestre descritas abaixo:
dizendo aos jogadores o que eles podem ou não
fazer, aquele que salva eles toda a vez que estão a) ADAPTAÇÃO:
em perigo e aquele que impede a sensação de
realização dentro da equipe em jogo por motivos Saiba que seu roteiro nunca será executado
diversos. a risca por aqueles que você joga. Dessa maneira,
Digo a todos os Mestre que há métodos você deve se adaptar ao momento, nunca
mais saudáveis de se manter o jogo interessante e transparecendo que foi pego de surpresa ou está
desafiador sem recair nesses erros freqüentes. despreparado. SE sua narrativa irá guiá-los até o
lago do terrivel Lorde Findulas e por acaso o grupo
2 – A IMAGINAÇÃO É SUA ALIADA: se distanciar dos eventos por alguma razão, NUNCA
mova a locação do mapa para interceptá-los. A
Se você lembrar bem, Mestre do Jogo, o solução é adaptação, ou seja, deixe-os interagir
RPG não passa de um entretenimento que ocorre com o ambiente de forma fluida e deixe que sofram
na mente de cada participante. Nem todos tem as consequencias por seus atos, afinal o mundo
a mesma visão do caneco de ouro adornado não gira somente em torno deles. Use a adaptação
artesanalmente com opalas que você descreveu para levá-los por um caminho alternativo baseado
minutos atrás. Garanto que cada ser humano nas ações de seus próprios jogadores, sem nunca
envolvido tem uma opinião diferente sobre essa esquecer o foco da aventura.
descrição que acabei de sugerir, uns dirão que Observe bem cada um, aprenda com eles
ela é mais complexa do que outros, logo foco na o que move cada pessoa por trás da cortina do
narrativa é necessário para uma boa aventura... personagem. Deixe que eles próprios cheguem
Esqueça os detalhes insignificantes, deixe a a uma conclusão. Sem que você mesmo espere,
imaginação fluir na mesa sem que se perca o foco haverá uma brecha que permitirá o pronto retorno
no que é importante. ao interesse central da trama.
A Ilusão narrativa nasce desse foco, usando Por mais que se tente, o Mestre nunca deve
a imaginação de seus jogadores contra eles interceder diretamente até que o momento seja o
mesmos para gerar um ar de seriedade e disciplina correto... garanto que o resultado irá gerar uma ação
dentro da mesa.. positiva que causará invariavelmente o segundo
momento da Ilusão Narrativa... Aceitação.
Digamos que um grupo de aventureiros
resolve que não possui motivos suficientes para
seguir até o lago do terrivel Lorde Findulas.

60
Seguindo o novo caminho, o mestre estuda qual escolhido tenha crescido. Imagens familiares, com
deles seria a peça principal que engatilharia a detalhes especialmente voltados para o jogador
correntes de eventos que os colocaria de volta ao atrás da folha de papel. Esse momento, a fase de
rumo da história. aceitação entra em ação. Atingindo aquele que
O Mestre entra em um momento mais menos espera do grupo. Talvez não necessite muito
reativo do que passivo, nunca transparecendo que de descrição, apenas uma breve cena é capaz de
aquilo não estava preparado. O jogo prossegue engatilhar o processo.
sem problemas, já que tudo se baseia nas ações
do grupo. O mestre pode pedir alguns testes de c) RESOLUÇÃO:
percepção, mesmo que não haja necessidade
para tanto. Outro recurso é o artifício do Escudo do É o momento em que a Ilusão Narrativa
Mestre, onde ele pode ficar realizando rolamentos ocorre. Os jogadores tomam uma resolução que
uma vez ou outra, sem dizer o que seria isso e/ os colocará de volta ao rumo da aventura, sem
ou consultando o roteiro da aventura de vez em nunca terem desconfiados que você os manipulou
quando. De vez em quando, mantenha-os atentos para isso. Normalmente, se sentirão realizados,
usando pequenos momentos improvisados que pois se sentirão livres para continuar decidindo os
dêem maior credibilidade ao local onde estão. rumos da própria aventura e você estará mais do
Caso em uma cidade, faça as pessoas reagirem que preparado para puxar o gatilho tantas vezes
de forma variada ao verem os jogadores. Caso que necessário caso situações fora de seu controle
no espaço ou sozinhos em algum local desolado, ocorram.
nada é mais enervante do que o silêncio absoluto.
Se desejam matar um personagem perigoso, 4 – NÃO ABUSE DA SORTE:
deixem que o façam... As ações deles serão sua
arma contra eles. - Evite situações que obviamente denunciarão
suas intenções de manipular os seus jogadores.
b) ACEITAÇÃO: Seja criativo nas reações.
- Seja sutil.
Esse momento é a parte mais delicada - Conheça cada jogador na mesa, entenda
do processo, pois depende exclusivamente da o estilo de jogo deles e use isso para alimentar a
adaptação que o Mestre do Jogo fez no início história. Afinal de contas eles são seus personagens
funcione adequadamente. Se tudo transcorreu bem principais e é deles a aventura.
no período de Adaptação, o grupo estará pronto - A diversão do Mestre deve ser sempre ver
para reagir ao primeiro estímulo, pois a imaginação o resultado de seus esforços serem convertidos
deles estará ativa nesse momento. Nesse instante, em diversão.
eles darão muito mais crédito ao mundo que eles - Lembre-se, a Ilusão Narrativa só ocorre com
estiverem interagindo em suas mentes. É momento sucesso, se tal recurso for aplicado calmamente,
em que estarão mais vulneráveis. com segurança e, principalmente, com naturalidade.
Continuando o exemplo, digamos que um Jamais imponha a ferramenta à força.
deles tem uma personalidade passional, mesmo
jogando com um personagem agressivo. O mestre
percebeu isso durante o jogo e resolve aproveitar a
brecha. O jogo continua e o mestre os deixa indo em
determinada direção, até que o grupo se depara com
uma cena capaz de ativar esse gatilho. A liberdade
concedida ao grupo por neste instante é ilusória
e beneficia a narrativa, enriquecendo o ambiente
no processo. Digamos que a cena tenha sido de
um vilarejo que fora queimado e não possuam
sobreviventes... O vilarejo será descrito como algo
muito parecido com aquele que o personagem

61
 C ONTOS

CRÔNICAS
PRIMORDIAIS Por João Steve

62
 Capítulo 1
O Guerreiro Nimbus, Vento Celestial está no timão de
sua Nau Aérea. O vento toca suavemente sua face e ele se
deixa levar pelas lembranças de como tudo começou...
- Vocês finalmente alcançaram o último estágio antes
de se formarem como verdadeiros Guerreiros do Céu.
A honra que vocês receberam ao final dessa nova etapa
em suas vidas é...
Enquanto o diretor da academia continuava seu discurso
de boas vindas, Ruan Sturten sentia um misto de alegria e
apreensão, afinal ele estava a um passo de realizar o sonho de
seu pai, mas ao mesmo tempo ainda não se sentia seguro de
que era realmente essa a sua própria vontade.
Mal tinha saído da infância e seu pai se preparava para
mandá-lo estudar na Academia Aeriun. Nos anos seguintes
sempre que podiam estavam treinando, seja em sua vila, próxima
de Serenidade, a principal cidade da Ilha da Brisa Suave, ou nas
terras dos anões e nas florestas dos elfos.
Aos poucos ele começou a se interessar pelas disciplinas
dos Guerreiros do Céu, a honra de nunca abandonar um
companheiro, o respeito pela vida, e o principal: a batalha para
enfrentar os medos interiores. Ele precisaria muito disso, afinal
por qual outra razão alguém como ele entraria na Aeriun?
Alguém com medo de alturas...
A vergonha que ele sentia era enorme. Uma pessoa que
mora numa ilha flutuante e que não conseguia nem subir uma
escada de cinco degraus sem sentir vertigem? Era algo que ele
não contaria a ninguém... Só mesmo para Vénië.
A voz do diretor ia cada vez mais longe conforme as
memórias tomavam a mente do rapaz. Vénië sempre trazia uma
alegria incomum. A bela elfa o acompanhava durante os treinos
na Floresta da Virtude, chamada pelos elfos de Floresta das
Nuvens Eternas e quando ele perguntou o porquê desse nome
ela simplesmente sorriu. Um sorriso lindo, e disse:
- Como você é bobo, é claro que é porque as árvores
mais altas daqui alcançam as nuvens que parecem nunca se
desfazerem...
E ela ria com o riso de uma criança, mas mesmo
percebendo o óbvio interesse dela, ele não conseguiu
corresponder ao sentimento que ela oferecia. Desse modo
quando seu pai avisou que eles iam embora para uma temporada
de treino das minas de Rustar, ele sentiu menos tristeza do que
se esperava. Vénië, porém prometeu que um dia eles iriam se
reencontrar.
No momento em que se lembrou de Rustar, ele começou
a sentir a dor de seu acidente e por impulso levou a mão para
seu peito, no momento em que a voz do diretor parecia muito
mais próxima.
Uma mão tocou seu ombro e o tirou de seu devaneio
quando ele percebeu que Feston, o diretor e também o maior de
todos os Guerreiros do Céu, estava a seu lado:
- E vocês aprenderão, eu espero que a atenção e
concentração sejam cruciais para que vocês possam se tornar
guerreiros completos.
Ruan sentiu o rubor em seu rosto crescer de forma
absurda, tanto quanto os risos ao seu redor. Com uma mesura
63
ele pediu desculpas ao diretor. Este voltou para o palanque onde
estava a alguns momentos atrás e pediu para que os alunos se
dispersassem e começassem a se organizar para o começo das
aulas no dia seguinte.
As horas passavam de modo rápido. Primeiro ele entrou
num grande salão cujo portão era guardado por duas estátuas
que exibiam o altivo uniforme dos Guerreiros Celestiais. Ele ia
receber sua roupa de treinamento, uma versão mais simples do
uniforme tradicional, mas nas cores vermelho, negro e dourado.
Foi difícil de encontrar algo de seu tamanho, ainda mais tendo
vários outros alunos com a mesma difícil missão.
Depois disso ele foi para a sala das armas, onde recebeu
sua espada e seu escudo, esses ele usaria por toda a sua vida
e por causa disso, ele teve que jurar que jamais as usaria de
modo leviano. Em seguida ele passou por outras salas pegando
livros, pergaminhos e diversos outros materiais que ele utilizaria
pelos próximos anos.
Ele seguiu, então, pelo o caminho indicado para chegar
ao seu dormitório. Vários esbarrões depois ele finalmente
alcançou a porta que dava para seu quarto, onde acreditava
que teria um pouco de paz. Doce ilusão, pois assim que entrou
ele levou um empurrão na altura da boca do estômago que o fez
cair e espalhar suas coisas.
-Hei! Que inferno!
Um anão tirava as botas de Ruan da cabeça e continuava
a praguejar. Algo sobre ser um absurdo uma anã querer ser
guerreira. Enquanto o jovem tentava reunir seus pertences ele
caiu novamente, pois um homem, vestido com a roupa padrão
dos Guerreiros do Céu entrava:
- Pegue suas coisa logo novato - E se voltando para o
anão:
- E você? Qual o problema?
- Uma anã nunca poderá ser uma guerreira! Será que só
eu sei disso?
- Só. - Ruan percebeu uma pequena mulher saltar da
cama onde estava
- São por causa de homens como você que nosso povo
não consegue avançar...
- Já chega! Prestem atenção todos vocês, pois só irei
dizer isso uma vez.
Nesse momento Ruan conseguiu ver quase todos
que estavam no quarto: um elfo ruivo sentado no batente da
janela, o casal de anões, sendo separados pelo instrutor e uma
mulher humana de cabelos negros sentada em outra cama.
Ele também reparou em como era o quarto propriamente dito,
haviam seis camas dispostas paralelamente e com mesas entre
elas, duas janelas iluminavam o ambiente e uma porta interna
provavelmente levaria para um banheiro. Ele viu tudo isso num
breve momento e para não levar outra bronca, prestou atenção
nas palavras do instrutor:
- Um dos principais preceitos da academia é que os
Ventos de Washun tocam a todos sem distinção de raça ou
sexo. Este é seu grupo de combate. Um dia suas vidas estarão
nas mãos uns dos outros e, portanto, devem aprender desde já
a se respeitar. Dessa atitude dependerá sua formação aqui em
Aeriun. Portanto é melhor se adaptarem ou desistirem.
E, sem dar chance de réplica, ele saiu tão rápido quanto
entrou. Dessa vez Ruan conseguiu se esquivar, mas quando se
virou para a porta se surpreendeu ao ver uma velha amiga:
- Eu não falei que a gente ia se encontrar de novo? - E
o rapaz jogou suas coisas no chão pouco antes da bela elfa o
envolver num longo beijo.
Capítulo 2
As criaturas chagavam cada vez mais perto, separando
a equipe. Eram uns tipos de golens feitos de folhas e galhos
conjurados pelo mago Ashlure. Ele era o encarregado pelos
treinos dos alunos da Academia Aeriun.
Numa clareira perto de Serenidade, a cidade humana da
Ilha da Brisa Suave, o grupo de Ruan estava sendo derrotado
e com certeza seu desempenho acabaria rendendo um grande
sermão mais tarde.
- Você entrou na minha frente! - Tronter, o anão, quase
acertou uma de suas companheiras – Por isso eu sempre
digo...
- Que anãs não deveriam ser guerreiras. Eu já sei! -
Frisdan rebatia as ofensas do compatriota.
- Cuidado Vénië! – Ruan quase perdeu sua espada ao
defender a elfa.
- O que faremos Joriander? – Hellen, a outra humana do
grupo se dirigia para aquele que haviam escolhido como líder.
- Eu... - Ele se defendia com seu escudo de outro
inimigo
- Eu... Não sei... Eu...
Vendo a indecisão do colega e apesar da relutância que
sentia, Ruan começou a dar ordens:
- Rápido! Se desvencilhem dos inimigos e vamos todos
em direção ao morro!! – Vendo a indecisão nos rostos de todos
ele continuou – Já!!!!
Eles acabaram obedecendo e logo se encontravam de
costas para o morro. Ruan era o centro das atenções agora e
ele começou a explicar o que tinha em mente:
- Vamos fazer um meio círculo de costas para o morro.
Desse modo nossa retaguarda estará protegida. Essa formação
será a diferença entre derrota e vitória, não podemos deixar
que eles quebrem essa formação entenderam? Destruam as
criaturas que vierem em suas direções e quando possível, do
seu colega do lado. Lá vem eles, preparem-se!
Do alto do morro, o mago e o instrutor da academia
acompanham o desempenho dos alunos. O sorriso de Kandores
demonstra a sensível melhora que os alunos tiveram nesses
últimos meses, mas não foi o bastante. Eles ainda não agiam
como uma equipe de verdade.
64
As criaturas caiam diante da formação sólida que
encontravam pela frente. Quando um dos alunos usava o escudo
para defender, o companheiro do lado atacava com a espada.
Desse modo a vitória parecia certa, mas uma nova discussão
entre os anões fez com que Hellen fosse ferida no ombro e algo
aconteceu.
A moça, que era sempre tão serena e tranqüila, de
repente saltou sobre um grupo de criaturas como uma louca,
desfazendo assim a formação e permitindo que eles fossem
cercados.
Com um movimento das mãos de Ashlure, os inimigos se
desfazem em montes de folhas secas e enquanto o mago leva a
jovem furiosa para outro lugar para tentar acalmá-la, Kandores
se aproxima para falar sobre o exercício com os demais:
- Vocês sabem por que perderam?
O silêncio dos jovens dizia tudo, mas isso não impediu
que o instrutor falasse durante três horas sobre todos os defeitos
do trabalho em equipe que eles tiveram e ele decidiu que os
treinos diários iriam aumentar.
Bem mais tarde, no dormitório, enquanto todos estavam
praticamente desmaiados depois do longo dia, Ruan aproveitava
o momento de privacidade para tomar seu banho. O banheiro era
quase do tamanho do quarto. De um lado estavam os sanitários,
todos separados pois eram utilizados tanto por homens quanto
por mulheres. Do outro lado haviam uns fornos para aquecer
a água para os banhos, no centro uma grande tina d’água era
usada para que os alunos se lavassem. Depois de tirar o sabão
do corpo ele revolveu relaxar apenas enchendo a tina com água
quente e os sais que Vénië havia trazido de casa.
Já dentro da tina, aproveitando o calor da água e o
agradável perfume dos sais, ele foi se lembrando das coisas
que haviam acontecido desde que ele chegara ali.
Depois do beijo que o rapaz e a elfa trocaram, que foi
muito longo, todos se apresentaram: Ruan havia contado sobre
seu pai e o sonho que tinha de ver o filho como um Guerreiro
do Céu, Tronter queria ser algo além de um mineiro, ele queria
conhecer e voar pelos céus, Frisdan queria provar que as
mulheres anãs podia ser grandes guerreiras, Joriander disse
que seria o maior de todos os Guerreiros, Hellen falou pouco,
algo característico dela e só disse que queria ficar mais forte e
Vénië disse apenas “Por que não?”
De lá até hoje eles passaram por muitos testes. De perícia,
de força, concentração, lutas armadas ou corpo a corpo. Suas
notas individuais eram ótimas, mas o problema era o grupo em
si. Os anões não se entendiam, Hellen parecia cada vez mais
inibida, Joriander, que fez questão de ser o líder, não era tão
bom como dizia e Vénië, bem, o que se podia dizer dela? Talvez
que fosse muito rebelde e não conseguia seguir as ordens de
alguém que ela não respeitasse totalmente.
Mas hoje, por um momento eles agiram como um grupo
e o que Ruan não queria era passar por cima da “autoridade” de
Joriander, mas se esse fosse o preço a pagar para que ele se
tornasse um Guerreiro do Céu, ele faria isso. Tal pensamento
o surpreendeu, afinal esse sempre foi mais o sonho de seu pai
que o dele. O que havia mudado?
Quando ia começar a pensar no motivo dessa mudança,
Ruan ouviu o som da porta do banheiro ser trancada, ele abriu
os olhos e viu Vénië encostada na porta, com a chave na mão e
trajando apenas uma toalha. Sem sair da tina, pois sua própria
toalha estava longe, ele disse:
 - Eu demorei demais? Desculpe... Eu já vou sair... Hã...
Eu pensei que todos estavam dormindo e...
A elfa tirou a toalha e se aproximou de forma sensual,
sem tentar disfarçar a sua nudez e antes que o jovem falasse
algo, ela o fez calar colocando delicadamente um dedo em seus
lábios. Depois colocou as mãos na nuca exibindo seus seios,
com um sorriso malicioso na boca. Ela contornou a tina até ficar
atrás do rapaz que a perdeu de vista.
- Vénië... – Ele fez menção de se erguer – Talvez seja
melhor eu sair e...
- Eu disse que queria que você saísse? – Ela sussurrou
perto do ouvido dele, provocando um arrepio.
Então, sem aviso, ela entrou na tina e começou a se
aproximar dele tocando seus pés, depois as coxas e quando
ela o tocou de forma mais íntima ele se levantou num salto e
ela finalmente conseguiu ver o peito do rapaz, que este tentava
esconder sob a água.
- Nossa! O que aconteceu com você?
O susto da elfa era legítimo, pois no lado direito do peito
de Ruan um tipo de cristal azulado podia ser visto, pois tomava
quase toda região na frente do coração, porém, ele parecia
cravado na pele e ao redor crescia um tipo de cicatriz cobrindo
os lados do mineral. Parecia um ferimento antigo.
- É um Cristal das Alturas? Mas como?
- Eu não quero falar sobre isso, acredito que o susto,
provavelmente foi demais e acho que o que você procurava não
te interessa mais. Portanto eu... – Ele deu as costas para a elfa
e saiu da tina.
Já estava pegando sua toalha para ir embora quando foi
impedido por Vénië que tocou a mão dele delicadamente e fez
com ele se virasse e a encarasse:
- Eu não perdi a vontade...
Ela o encarou com os olhos semicerrados e antes que
Ruan pudesse fazer algo, ela se abaixou e começou a beijar
e lamber a cicatriz. Isso foi demais para o rapaz, que lutava
contra o desejo que o invadia. Então a abraçou e quando seu
corpo nu entrou em contato com o belo corpo da elfa, ele não
conseguiu se controlar mais. Os beijos ficaram cada vez mais
intensos, suas mãos começaram a explorar o corpo um do
outro, a princípio com receio, mas cada vez com mais e mais
vontade e quando não agüentaram mais, ele a deitou no chão,
ela o recebeu com todo um imenso carinho e fizeram amor ali
mesmo. Não apenas uma, mas duas vezes quase seguidas,
pois ambos estavam sentindo esse desejo havia muito tempo
e agora puderam, finalmente, dar vazão a tudo o que os estava
consumindo. Mais tarde, ambos estavam abraçados dentro da
tina e perdidos em pensamentos. O silêncio reinava até que
Ruan começou a falar:
- Vénië, eu...
- Não, não fala nada... Sei que você não sente por mim o
mesmo que eu sinto por você, mas eu queria isso demais. Desde
65
que eu te vi pela primeira vez... Sei que, possivelmente, nós não
iremos ficar juntos, mas pelo menos teremos para sempre esse
momento, portanto não vamos estragar isso... Por favor...
Ruan nunca havia visto a elfa daquele jeito e apenas a
abraçou. Eles ficaram assim até a água começar a esfriar. Então
se vestiram e foram dormir. Um último toque de suas mãos e
eles se deitaram.
No dia seguinte, depois do café da manhã, o jovem
humano pediu para que todos se encontrassem no local do
exercício do dia anterior. Quando todos chegaram e se sentaram
ao redor de Ruan, ele começou a falar:
- Precisamos conversar...
Capítulo 3
- Ainda não consigo acreditar... Eu vi com meus olhos e
não acredito.
- Alguns dizem que foi obra de um mago negro...
- Eu ouvi falar que poderia ser um desígnio do próprio
Washun e...
De repente, todos que estavam a conversar na
estalagem do Grifo Dourado se calaram. Um grupo de seis
alunos da academia Aeriun acabava de entrar e sua mera
presença fez com que as pessoas presentes começassem a
sussurrar entre elas.
Eles escolheram uma mesa mais afastada, e depois de
fazerem seus pedidos ao atendente, resolveram ignorar todos à
volta e discutir o assunto pendente:
- Ruan, como você pôde esconder algo assim de nós?
- Eu já disse que estou tão surpreso quanto todos
vocês, Joriander. Eu juro.
- Humpf... Como se seu juramento fosse valer algo
depois... Depois... Depois daquilo! – Tronter socou a mesa
diante de si assustando todos.
As moças do grupo permaneciam caladas, Vélvën olhava
para o rapaz com um misto de carinho e medo, Hellen fitava
a mesa diante de si e Frisdan parecia a única solidária com o
amigo:
- Gente, o Ruan deve ter uma explicação – E se voltando
para o próprio – Não é?
O rapaz sentiu todos os olhares que o fitavam agora e
mesmo contra sua vontade, começou a pensar naquela manhã
em que ele pediu pra que todos se reunissem.
- Precisamos conversar...
- Sobre o quê? – A impaciência do anão conseguia
ser pior pela manhã, porém ela refletia o estado de ânimo dos
demais.
- Acho que a resposta é óbvia Tronter. Nós perdemos
ontem, nesse mesmo lugar. E por quê? – antes que algum deles
respondesse continuou...

- Por que até agora é como se não tivéssemos aprendido
nada. Ainda deixamos desavenças pessoais nos atrapalharem,
egos e orgulhos nos afetarem, e quer me crer, que ainda muitos
segredos existem entre nós.
Conforme foi falando ele ia olhando em cada semblante
ao seu redor vendo o resultado de suas palavras e constatou
que precisaria ir mais fundo para conseguir atingir seu objetivo:
- Temos que ser mais do que simples Guerreiros do Céu,
temos que nos tornar amigos. – dessa vez houve uma reação,
todos se entreolharam imaginando ser impossível usar aquela
palavra entre eles.
- Sim. Amigos, pois se um dia, formos para uma batalha,
não quero soldados que nem ao menos conheço o nome para
lutar ao meu lado. Quero amigos pelos quais irei lutar até a
morte, se necessário, para que voltemos juntos para casa. Até
a morte.
- E como faríamos isso? – Hellen perguntou de repente,
assuntando seus colegas acostumados com seu silêncio.
Com um sorriso no rosto, Ruan respondeu:
- Primeiro indo passear. Como hoje teremos o dia livre
vamos até a grande feira no centro de Serenidade para nos
divertirmos. Ao fim do dia voltamos até esse local. Vamos?
Espantados e intrigados com a sugestão do jovem
humano, eles foram à direção do centro da cidade. Uma vez lá, a
variedade de pessoas e entretenimentos os engolfou e a tensão
dos últimos dias pareceu ir embora. As garotas paravam em cada
uma das barracas de artigos femininos como jóias, roupas e
enfeites e a alegria de Vélvën foi contagiando suas companheiras
que pareciam demorar uma eternidade em suas escolhas. Ruan
flagrou um momento em que a retraída Hellen experimentava
cortes de seda e trocava olhares com Joriander, ao passo que
percebeu espantado um sorriso no rosto de Tronter ao ver que
Frisdan escolhia coisas mais pela praticidade em combate do
que pela beleza propriamente dita. Em seguida eles chegaram
a Barracas de armas e apetrechos que interessavam mais aos
homens. Foi a vez das moças esperarem e se divertirem ao
ver o anão experimentar uma roupa bem maior que ele, ou a
diversão que Vélvën sentia em flagrar Ruan toda vez que esse
ia experimentar uma roupa. Perto do fim do dia eles foram até
a Estalagem do Grifo Dourado, lugar que se tornaria um ponto
obrigatório mais tarde, conversaram, beberam e até dançaram!
O pôr do sol indicava o fim do dia quando Ruan os lembrou
de um compromisso prévio. Com caretas eles concordaram,
saíram e logo estavam na clareira novamente.
- Não foi tão ruim, não é? – Todos concordaram e ele
continuou
- Eu acho que o primeiro passo foi dado, mas não
poderemos ser uma força respeitável apenas por causa de um
dia.
- E o que você pretende? – Joriander estava preocupado,
pois Ruan estava fazendo um trabalho de liderança melhor que
o dele.
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- Que a partir de hoje a gente seja sincero um com o
outro e podemos começar de um jeito simples: admitindo nossas
falhas e pedindo ajuda um para o outro.
Um silêncio pesado caiu entre eles, ficarem amigos
parecia bem fácil comparado com aquilo. Percebendo que seus
colegas, agora possíveis amigos, reagiam como o esperado ele
concluiu:
- Daqui a umas semanas iremos passar pelo teste da
montaria...
- E o que tem de mais nisso? É o momento que todos
os Guerreiros esperam.
- Isso mesmo Jor, eu espero conseguir que um Grifo
me aceite.
- Não vai ser difícil Vélvën, sua alegria é contagiante...
- Obrigada Fri. Eu aposto que o Trontinho vai agarrar
um pela força. Hihihihihihi.
- Eu já disse como detestei esse apelido?
Todos riram exceto Ruan, quando perceberam isso, foi
Hellen quem perguntou:
- Qual o problema Ruan?
- Eu... - Ele abaixou a cabeça, respirou fundo e disse
- Eu tenho medo de altura.
-Silêncio. Depois, todos quiseram falar ao mesmo
tempo “Como?” “Que absurdo” “E agora?”. Um Guerreiro dos
céus com medo de altura? Um absurdo, mas:
- Essa é minha tentativa para nos unir. Eu abri meu
coração e admiti que precisarei muito da ajuda de vocês. O que
faremos agora?
- Eu ouvi de meu pai que não seria capaz de me tornar
nada além de um mineiro, na verdade ele espera
que eu falhe...Por mais difícil que seja admitir isso, acho
que esse foi o motivo pelo qual eu tive dificuldade em aceitá-
la Frisdan...Afinal eu já acho difícil para que eu me torne um
Guerreiro, que dirá uma mulher e...
- Isso foi um avanço e tanto Tronter... Eu só queria que
os outros da academia vissem que eu posso ser
uma guerreira tão boa quanto eles...É tão difícil. O
preconceito dos anões é imenso...
- Acredite, Frisdan, não será tão difícil daqui em
diante.
Joriander se levantou e parou diante de Ruan.
- E não será tão difícil quanto o que vou dizer: Ruan,
você é o líder agora. Eu me contento em ser o melhor guerreiro
de todos. Vi como você se esforçou para que a gente começasse
a criar vínculos e deu resultado, eu pensei que ser líder seria
apenas comandar soldados durante um combate e agora vejo
que estava errado. Completamente errado.

Antes dos demais esboçarem uma reação, Vélvën os
surpreendeu com os olhos mareados:
- Puxa... Incrível o que um pouco de bebida faz com
as pessoas... Aí estão vocês abrindo os corações e eu quis
me tornar uma Guerreira apenas porque não agüentava a vida
das outras elfas, tão castas e puras... Eu quero viver e viver
intensamente. E você Hellen? Quais os seus problemas? – A
elfa parou de falar ao ver o semblante da jovem.
Ela estava séria demais e quando começou a falar era
como se não fosse à mesma pessoa e de fato não era:
- Hellen? Perdão mas ela não está aqui. Eu sou Hallarin.
– Apesar do assombro geral, a “recém-chegada”
Continuou
- Não se preocupem. Hellen não é louca ou possui dupla
personalidade. Explicarei desde o começo: A casa onde Hellen
nasceu não era um exemplo de lar feliz. Seu pai era um homem
violento que chegava do trabalho e espancava a mãe dela por
motivos pífios, desde o jantar não estar pronto a uma poeira que
ele visse em um móvel. Hellen sofreu abusos diversos e pelas
suas feições, vocês adivinharam o que ele fazia quando a mãe
dela não estava em casa.
Todos se espantaram ainda mais, mas Hellen/Hallarin
continuou:
- Certa vez, cansada das agressões, ela havia decidido
acabar com sua vida e foi para uma clareira perto de casa.
Depois de cortar os pulsos ela ficou caída à espera da paz que
ela tanto queria. Foi então que eu apareci. Sou, na verdade um
dos espíritos da Floresta da Virtude. Washun diz que toda a vida
tem uma função e eu vi essa verdade em Hellen. Ainda não era
a hora dela e eu envolvi seu corpo, curei seus ferimentos e dei
forças para que ela continuasse a viver.
Mas aconteceu algo, quer eu não previra, ficamos
unidas de maneira total. Hellen voltou para casa e teve um
cesso de ódio que quase resultou na morte de seu pai. Eu
consegui impedi-la, mas estava cada vez mais difícil controlar
seus rompantes de raiva. Os pais dela decidiram mandá-la para
a Aeriun e aqui estamos. A surra melhorou o modo de agir do pai
dela e com os ensinamentos da academia ela desenvolveu um
pouco mais de controle, mas às vezes isso falha. No outro dia
eu não consegui impedir sua fúria de vir à tona contra aqueles
golens...
- Isso é incrível. Se não fosse a voz diferente eu não
acreditaria e...
- Não! – Vélvën se ergueu e se colocou diante da
garota
- Eu vim de Virtude e digo que isso é verdade. Já
conheci muitas pessoas na mesma situação.
- Será que podemos ir embora?- A Voz mudou
de novo e era Hellen que falava agora – Eu fico muito
cansada quando Hallarin se manifesta desse jeito...
Foi quando todos perceberam como era tarde e que se
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não voltassem logo, acabariam se encrencando.
Nos dias seguintes eles começaram uma nova rotina,
ficavam juntos o máximo de tempo se conhecendo trocando
conhecimentos, treinando e se concentrando no problema mais
imediato: o medo de alturas de Ruan.
E o dia finalmente chegou...
Capítulo 4
- Eu simplesmente não consigo entender o que
aconteceu... Eu...
- Calma, Ashlure, aqui, tome esse cálice de conhaque
dos anões. Ajuda a relaxar e você conseguirá falar melhor.
- Obrigado, Feston... Eu preciso mesmo disso...
Depois do mago residente da academia de Aeriun tomar
de um só gole e pedir mais, o instrutor, que estava impaciente
demais, o chamou de volta ao assunto em questão:
- E então Mago? O que, em nome de Washun, aconteceu
naquele lugar?
Sim... – Ele colocou o copo de volta na mesa central
da sala do diretor e foi até a janela. Como a sala ficava na mais
alta torre da academia, ele tinha uma visão geral de Serenidade
– Vou contar...
Alguns dias atrás:
- O Dia da Montaria está chegando...Acho que não vou
conseguir e...
Ruan não pôde terminar a frase pois Vélvën o calou
pondo de leve um dedo em seus lábios, isso estava se tornando
uma prática comum nos últimos dias.
Feito isso ela se afastou e com um sinal, seus colegas
começaram a fazer o engenho funcionar. Criado pelos anões e
construído por todos, o Engenho do Medo, como foi chamado,
consistia numa série de cordas ligadas a um cinturão que o
jovem colocava em si.
Essas cordas, graças a um grande número de roldanas,
permitiam que os colegas o erguessem no ar, fazendo assim
com que ele enfrentasse seus medos.
Esse engenho aliado a técnicas de relaxamento e
concentração que os elfos sabiam parecia estar fazendo efeito,
não apenas para Ruan, mas para Hellen que começava a lutar
com seus demônios internos e a fazer com que a moça aceitasse
que dentro de si havia um espírito da floresta chamada de
Hallarin.
- CHEGA! Abaixem-Me!
- Mais uns dois minutos, pessoal – Joriander sabia que
o amigo o agradeceria depois.
- Força Ruan! – Frisdan se divertia com tudo aquilo e
por Tronter ter aceitado a ajuda dela ao construir o engenho e
até agradecido! – Se concentra!
 - Você é um homem ou um elfo?! Sem ofensa, Joriander
e Vélvën...
Apenas Hellen permanecia sussurrando para si
mesma:
- Será que ele vai conseguir? – Claro que vai, ele é forte
– Sim... Isso ele é mesmo...
Depois de ser abaixado ele permaneceu ajoelhado e
abraçado a si. Depois se ergueu, olhou para a altura que estava
e depois de uns dois minutos, acabou vomitando.
- Um novo recorde! Está melhorando.
Ele limpou a boca e depois de se recompor, acabou
sorrindo e pediu para irem, em seguida, até a Estalagem do
Grifo Dourado comemorarem a “conquista” do amigo. Depois da
dedicação de Ruan para que todos se tornassem amigos mais
do que companheiros de armas, todos se esforçavam o dobro
para conseguir se formar na Academia Aeriun, aproveitando
seus pontos fortes, compensando as fraquezas um do outro,
trocando confidências (sim, Vélvën contou às amigas, o que
havia acontecido entre ela e Ruan) e passando com notas
máximas nos testes seguintes, surpreendendo a todos os
instrutores da academia.
Na manhã do Dia da Montaria ele leu a carta que havia
recebido da mãe: “Filho, você sabe que não sou boa com a
escrita, eu queria apenas lhe dizer que estou orgulhosa demais
de você, meu Ventinho do Céu, que apesar de seu medo, chegou
até onde parecia impossível. Eu o amo e saiba que, não importa
o que aconteça, você está sempre em meu coração”.
Ventinho do Céu...a mãe o chamava assim desde que
ele se conhecia por gente, costumava contar que, no dia do
nascimento de Ruan, ela havia sentido uma brisa tão suave e
calorosa que o parto acabou transcorrendo praticamente sem
dor e no momento de maior necessidade, lá estava sua mãe
mandando forças através de linhas tão simples.
Ele ouviu Vélvën o chamar pela porta do sanitário
perguntando se ele ia vomitar mais e surpreendeu a elfa ao sair
de cabeça erguida e com uma postura confiante:
- Estou pronto. Vamos embora.
No Dia da Montaria, os alunos da academia eram
levados para o alto de um morro onde uma série de criaturas
aladas entre Grifos, Hipogrifos, cavalos alados e até leões
alados, esperavam para encontrar aqueles que seriam seus
cavaleiros por toda a vida. Um a um os alunos ficavam frente às
criaturas, todas alinhadas, até que uma delas se aproximava e
permitia ao aluno que a montasse. Em seguida eles se jogavam
aos céus e era nessa hora que o vínculo era criado. Se o aluno
fosse digno, a montaria o traria em segurança ao chão, se não
fosse o caso, o aluno seria dispensado e iria servir o exército da
Ilha da Brisa Suave de outra maneira.
Um a um os amigos de Ruan foram passando no teste:
Joriander foi escolhido por um imponente Hipogrifo, Hellen por
um Grifo, Tronter e Frisdan acabaram sendo escolhidos pelos
únicos leões alados que havia ali. Vélvën segurava a mão
de Ruan quando se afastou e acabou escolhida por um belo
cavalo branco alado e todos estavam comemorando com suas
montarias quando Ruan deu um passo á frente das criaturas.
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Um grifo se aproximou permitindo que o rapaz afagasse
sua cabeça e se abaixando para ser montado para, em seguida,
se lançar aos céus, muito mais alto do que qualquer montaria já
tinha ido até então.
Tudo ia bem até o Grifo fazer uma pirueta e assim
permitir que Ruan olhasse o chão e percebesse a altura que
haviam alcançado. O mundo começou a girar e o medo tocou
o coração dele, enquanto seus companheiros não percebiam
o que acontecia com o amigo, o grifo o lançou para longe
surpreendendo a todos que não conseguiam se organizar para
tentar salvá-lo.
“Voumorrervoumorrervoumorrer” as palavras passavam
rápido demais pela mente de Ruan enquanto ele sentia sua
consciência se esvair e seus olhos começaram a se fechar
aceitando seu destino quando algo explodiu em sua cabeça
“Meu Ventinho do Céu!” Ele conseguiu ver sua mãe, mais jovem
erguendo um bebê e agradecendo a Washun pela vida que
estava em suas mãos.
No momento em que Kandores conseguia subir em seu
grifo para tentar salvar o rapaz, sua atenção foi atraída pelos
gritos dos outros alunos:
- Olhem!
- Por Washun, como?!
- Será ele um pássaro?!
- Não seja idiota!
- ELE ESTÁ VOANDO!
Kandores olhou para onde apontavam e viu que Ruan
flutuava parado em pleno ar. Ele abriu os olhos e percebendo o
que aconteceu desejou descer com todas as forças e para sua
própria surpresa, ele começou a descer lentamente até chegar
ao topo do morro. Seus amigos correram ao seu encontro com
várias perguntas, os instrutores mandaram todos voltarem para
a academia, pois iriam falar com o diretor e depois falariam a
todos mais tarde.
Uma vez na estalagem do Grifo Dourado, Ruan era
questionado pelos companheiros:
- Gente, o Ruan deve ter uma explicação – e se voltando
para o próprio – Não é?
Porém, antes dele tentar responder a Frisdan, Kandores
entrou na estalagem e pediu que o rapaz o acompanhasse. Ele
fez questão de que seus amigos fossem juntos e o instrutor
permitiu, afinal eles também tinham interesse nisso.
No dia seguinte, no salão central da Academia, Feston
chamou Ruan e pediu que o rapaz ficasse ao seu lado quando
ele ia se dirigir aos demais alunos. Vélvën, Tronter, Hellen,
Frisdan e Joriander os acompanharam e ficaram um pouco
atrás do amigo e do diretor, que começou a falar:
- Meus alunos, depois de muito ponderar e depois de
ouvir a história desse jovem, eu decidi que Ruan
Sturten, bem como seus companheiros de grupo, assim
como todos vocês, estão prontos para se tornarem Guerreiros
do Céu – Diante do burburinho geral, Feston pediu silêncio e
continuou.

- Sei que muitos acreditam que o fato desse rapaz voar
é derivado de magia negra, mas eu posso garantir que não é. E
vocês saberão disso agora. Ruan conte sua história.
- Sim, senhor – Se estava com medo ou receio Ruan
não demonstrou.
- Há alguns anos atrás, meu pai me
levou até as minas de Rustar com o propósito de me treinar
para que eu pudesse me tornar um Guerreiro do céu. Certo dia
eu me afastei dele e entrei num dos vários túneis admirando a
beleza dos cristais aéreos, quando um inesperado tremor fez
o túnel cair. Fiquei algumas horas soterrado respirando um ar
que não saberia dizer de onde veio e sentindo uma estranha dor
no peito. Quando fui resgatado acabei desmaiando e acordei
dias depois em minha casa. Passei a mão num lugar que estava
sentindo uma pontada de dor e vi isso – Ele retirou a sua placa
peitoral mostrando seu ferimento e o cristal que ele trazia no
peito.
Feston tocou no ombro do rapaz e pediu para que ele e
seus amigos se sentassem:
- Acreditamos que o fato de ter um cristal do céu
cravado no peito, de algum modo, concedeu a Ruan a incrível
capacidade de voar e ele próprio renovou seu juramento de usar
suas habilidades, todas elas, na defesa da Ilha da Brisa Suave.
Apesar das feições dos outros alunos não terem
suavizado, todos começaram a se preparar e se preocupar com
o grande teste final do dia seguinte.
- E então, Ashlure? Conte o que aconteceu durante o
teste.
- Sim... Contarei... Contarei como a Tropa Relâmpago
venceu um dragão...
Capítulo 5
Enquanto vê o mago Ashlure deixar sua sala, ainda
abalado pelos acontecimentos do dia anterior, Feston, o diretor
da Academia de Aeriun, se voltou para seu armário e começou
a se vestir para a cerimônia de formatura que aconteceria logo. “
Foi algo de extraordinário, quem diria que aquele grupo poderia
passar por algo assim e sobreviver?” era o que ele pensava
enquanto se dirigia para o grande campo onde estavam os
formandos e suas famílias.
Um a um, os alunos, agora finalmente formados, iam
recebendo outra vez suas espadas e escudos, mas, dessa
vez estavam todos trajados com os uniformes de verdadeiros
Guerreiros do Céu. Quando os integrantes da já famosa Tropa
Relâmpago se ergueram, foram ovacionados por todos os
presentes. As marcas de sua última vitória ainda eram visíveis:
Tronter e Frisdan apresentavam vários ferimentos chamuscados
no rosto, Hellen tinha o braço imobilizado numa atadura, assim
como Vélvën, que apresentava um olho roxo também, Joriander
estava com uma perna quebrada e Ruan estava com um corte
no lábio, um curativo sobre o olho e uma mão enfeixada. Todos
se sentiam envolvidos pelas palmas, mas nem isso impediu que
suas mentes voltassem ao dia do grande teste.
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Como todo segredo em uma academia o “grande teste”
era sabido por todos como sendo uma espécie de brincadeira dos
instrutores que pediam para o mago Ashlure preparar os mais
esdrúxulos oponentes para que os alunos mais se divertissem do
que qualquer outra coisa, afinal o verdadeiro teste era a escolha
da montaria. No ano passado o mago invocou uma legião de
golens, tudo seria simples se os golens não fossem feitos de
fezes. Desnecessário dizer como a formatura foi inesquecível
no dia seguinte.
Reunidos entre dois paredões de rocha os alunos
conversavam animadamente quando Ashlure apareceu no topo
de um dos lados:
- Alunos! – Ele adorava uma entrada dramática – Hoje
deixarão de ser crianças e se tornarão adultos!
Preparem-se para enfrentar um horror ancestral!
Fazendo gestos exagerados o mago arrancava risadas
dos alunos, exceto de uma. Hellen parecia apavorada e quando
questionada por Frisdan ela falou, mais num sussurro:
- Tem algo errado...
O trovão ouvido em seguida mostrou a verdade nas
palavras da jovem. O céu escureceu de repente e apenas raios
e trovões iluminavam todo o lugar, o mago começou a sentir
seus braços dormentes, o controle de seu corpo escapar-lhe e
viu horrorizado um enorme portal surgindo na frente dos alunos.
O mago desmaiou e um momento de silêncio antecedeu o
surgimento de um enorme dragão vermelho.
O pânico se espalhou, os alunos não sabiam o que
fazer e o primeiro ataque do monstro, uma baforada de fogo,
lançou por terra vários deles que não pareciam estar vivos. Ruan
liderou seus colegas e eles escaparam do segundo ataque, as
garras da fera pegaram de raspão no escudo do rapaz que
acabou caindo de cara no chão. Sentindo o gosto do sangue
que escapava do lábio cortado e uma dor imensa na mão, Ruan
os guiou até uma caverna próxima, Tronter foi o primeiro a dar
voz ao que todos sentiam:
- Pelo jeito as coisas não aconteceram com era previsto,
não?
- Com certeza. E o que vamos fazer agora, Ruan?
- Calma Joriander, como está a sua boca, Ruan? E a
mão?
- Nada demais... Deixem-me pensar. – Os relâmpagos
lá fora iluminavam a caverna e o rugido da fera fazia tudo tremer
– já sei. Mas é arriscado.
- Confiamos em você Ruan.
Agradecendo o voto de Frisdan o rapaz explicou o
que passava pela cabeça dele. Todos se entreolharam e não
pareciam tão confiantes, ele resolveu então tentar encorajá-los:
- Lutamos muito para chegarmos até aqui, sei que um
dragão, de fato parece demais, mas enquanto estamos nos
escondendo aqui, os outros alunos podem estar morrendo lá
fora. Não sei quanto a vocês, mas eu acho isso inaceitável.
Não lutei tanto para morrer aqui, dentro de uma caverna, prefiro
morrer nos céus enfrentando esse dragão e o meu medo de
voar. Lembram que os outros alunos faziam questão de nos
lembrar a toda hora que não havíamos escolhido um nome
para nosso grupo? – os outros assentiram se mostrando mais
animados – Pois eu sugiro que escolhamos Tropa Relâmpago.
Morreremos com esse nome, tendo os céus por testemunhas
iremos vencer ou morrer, não importa, contando que estejamos
juntos! Juntos até o fim! Vocês estão comigo?
Silêncio, um silêncio incômodo até Tronter quebrá-lo
de novo:
- Quanta besteira...
– Ele se levantou e continuou
– Ainda bem que você é um
guerreiro e não um orador.
Acha mesmo que iria lá
para fora sem nós?
Todos se levantaram
e começaram a ir em direção
da saída, deram as mãos num
tipo de despedida caso o pior
acontecesse e sentindo o cheiro de
carne queimada e destruição que vinha de
fora, se lançaram ao ataque:
- Lutem até o fim, Tropa Relâmpago!
– A ordem de Ruan ecoou por todo o lugar.
Os feridos voltaram seus olhares aos
guerreiros que pareciam trazer a salvação e aqueles que
podiam andar começaram a ajudar quem estava caído
saindo assim do espaço do combate.
Vélvën e Hellen seguiram pelo flanco direito do dragão
visando uma de suas patas, Joriander, usando de sua incrível
agilidade escapou de uma baforada de fogo e ia em direção da
outra pata. O monstro ia atacar novamente quando sua atenção
foi atraída pelo grito de Tronter e Frisdan que corriam de frente
para ele acompanhados de Ruan. que empunhava sua espada
com as duas mãos.
O dragão hesitou e as garotas enterraram suas
espadas numa das patas do monstro bem como Joriander fez
com a outra pata. Com um urro de dor ele os lançou de encontro
aos paredões, causando graves ferimentos nos guerreiros que,
ainda assim, continuavam tentando acertar o corpo do monstro.
Nesse meio tempo os outros chegavam perigosamente perto,
mostrando claramente que visavam acertar o peito do dragão
e uma baforada de fogo foi a melhor alternativa de defesa.
Exatamente o que Ruan esperava.
Os anões pegaram os escudos de Ruan e Joriander
que, por serem maiores do que os que eles normalmente usam,
puderam protegê-los do pior do mar de fogo que era lançado
contra eles. Enquanto isso Ruan saltou aos céus, seu semblante
totalmente sério e concentrado, que seria uma característica
marcante nos anos vindouros. Ele se colocou sobre a cabeça do
dragão e apesar da dor lancinante que vinha de sua mão, que
estava quebrada, ele se preparava para dar um golpe fatal no
monstro, mas esse esquivava sua enorme cabeça, dificultando
para o guerreiro conseguir desferir seu golpe. Ele acabou
atingido no rosto causando um ferimento no olho, mas mesmo
com a visão prejudicada ele percebeu uma brecha e começou a
ir à direção da cabeça do monstro quando aconteceu algo:
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- NÃÃÃÃOOOOO! – O Dragão gritava – Jokarion não
será um títere!
Ruan deteve seu ataque a tempo de ver o monstro
abaixar a imensa cabeça como que para recuperar o controle,
assim ele pôde ver um estranho objeto na base da nuca
de Jokarion. Um instante de dúvida e o rapaz decidiu
atacar o objeto cortando-o ao meio. O
urro de dor do monstro foi à última coisa
que ele ouviu.
Horas depois, na enfermaria
da academia, Ruan soube que, uma
vez livre do controle mental, Jokarion
simplesmente deu as costas ao
cenário de destruição ao seu redor
e foi embora, porém, antes disso ele
pareceu lançar algum tipo de magia
de cura poderosa evitando que
houvesse alguma morte.
Depois da cerimônia, a
tropa Relâmpago se reuniu a seus
familiares na Taverna do Grifo
Dourado e todos se divertiram
demais. Hellen e Vélvën cantaram
Tronter, depois de muita cerveja,
acabou dançando com Frisdan, que ficou
muito embaraçada. Num canto Joriander
foi falar com Ruan que permanecia à parte
da festa:
- O que aconteceu destemido
líder? – certo desdém era percebido na voz do elfo –
vencemos um dragão!! Um dragão! Bardos irão cantar sobre
isso por toda a nossa vida!
- Eu sei... Estou contente, mas ainda é difícil para mim
conceber que existe por aí uma força capaz de controlar um
dragão, lançá-lo contra nós e derrubar Ashlure daquele jeito...
você já pensou nisso?
- Sim, mas é por isso que eu achei uma boa idéia te
deixar como o líder. – Ele piscou para o amigo –
Afinal eu não pretendo ficar perdendo a festa. Vamos lá!
Os dois voltam para a festa e as garotas os fazem cantar
com elas, a noite de fato promete. Enquanto isso um estranho
vulto os observava pela janela:
- Sim... Aproveitem à festa... Logo a verdadeira
tempestade virá...
Capítulo 6
Depois da formatura, os novos Guerreiros do Céu têm
duas opções: ingressar nas fileiras do Exército Celestial ou,
caso o grupo da academia seja muito forte, formar uma equipe
para missões únicas.
Assim a Tropa Relâmpago, ainda muito famosa devido
à batalha contra o dragão, permaneceu unida e sempre era
selecionada para as missões mais perigosas. Nos últimos
meses a ilha estava sendo alvo de ataques de estranhas
criaturas negras. Eram monstros difíceis de matar e que,
quando vencidos, se desfaziam numa névoa escura e mal
cheirosa e alguns pontos importantes da ilha, tais como as
minas dos anões, a floresta dos elfos e até Serenidade, a cidade
central, eram freqüentemente atacados por desconhecidos que
dificilmente eram vistos e quando vistos, eram descritos sempre
da mesma maneira: indivíduo vestindo longos capuzes e capas
que impediam uma identificação mais precisa.
Nessa época começaram a surgir as primeiras vítimas
da Morte das Trevas. A princípio caiam de cama com uma
febre absurda, em seguida entravam em um tipo de coma onde
pareciam ter pesadelos constantes e finalmente a morte. Morte
que vinha depois de um misterioso enegrecimento da pele. Por
isso os curandeiros da ilha batizaram a doença de Morte das
Trevas. Os magos da ilha conseguiram criar um grande salão
onde o tempo passava muito mais devagar impedindo assim
mais mortes entre os doentes, mas mesmo essa solução
parecia cada vez mais inviável. Uma cura era procurada, mas
sem sucesso até agora.
O Conselho da Regência era formado por três
governantes, um humano, um elfo e um anão. Sallas, a regente
humana, acreditava que deveriam pedir ajuda a outros reinos,
como Lemarin [1], o reino marinho, ou mesmo à Cidadela
das Chamas Esmeraldas [2], mas seus colegas, Hullari, o
regente élfico e Durak,e o anão, preferiam manter a situação
em segredo, afinal uma notícia assim poderia comprometer os
acordos comerciais com o resto das Terras Primordiais, sem
falar que eles não poderiam dispor de nenhum guerreiro do céu
para servir de mensageiro, uma vez que os ataques dos inimigos
desconhecidos persistiam. Sallas não gostou, mas acabou por
aceitar, mas apenas por um tempo. Algo que iria mudar logo...
Os receios da regente humana, de que a situação
acabaria por piorar, se tornaram realidade quando ela entrou no
quarto de sua filha na manhã seguinte. Seu grito assustou todos
os trabalhadores da casa.
Naquele mesmo instante a Tropa Relâmpago estava
na região dos portos, de onde todas as naus aéreas partiam,
mas não foi apenas por isso que o grupo de guerreiros estava
lá. Ao longe, eles viam uma embarcação menor que havia sido
criada para apenas uma pessoa. No leme estava um guerreiro
dos céus conhecido como Janner.
- Então ele decidiu mesmo se tornar um guerreiro
Nimbus?
- Sim, Joriander – Ruan falava depois de muito tempo
de silêncio – Um guerreiro que abandona a Ilha da
Brisa Suave em missão sagrada. Eles até escolhem um
novo nome que usarão até o fim da missão.
- Sabem o nome que ele escolheu? – O anão fazia uma
voz de mistério.
- Você sabe Tronter?
- Sim. Um amigo meu que pertencia ao grupo dele me
contou tudo o que ele passou... Coitado.
- Então conta logo seu anão fofoqueiro!
- Calma Vénië, depois o fofoqueiro sou eu...
- Você vai contar ou não? – a seriedade na voz de
Hellen, surpreendeu o anão que resolveu falar finalmente:
71
- Dizem que ele e sua esposa vinham sempre ver o
pôr do sol aqui no porto e depois se escondiam numa das naus
ancoradas para... Bem, vocês sabem... E então, numa dessas
vezes, eles foram surpreendidos por um dos tais desconhecidos
que vêm atacando a Ilha. Parece que o vilão pretendia destruir
a nau onde eles estavam. Lógico que Janner se lançou contra
ele para impedi-lo, porém, ele estava sem suas armas e acabou
sendo vencido e perdendo os sentidos. Quando ele acordou...
– O anão fez uma pausa que, por causa das feições de seus
colegas, foi mais curta do que ele pretendia -... Dizem que ele
viu sua esposa morta. Ela estava com os pulsos amarrados
no teto de onde eles estavam, mas o que mais o horrorizou foi
perceber que os olhos dela foram vazados.
- Por Washun... – Frisdan colocou a mão na boca e
seus olhos começaram a ficar cheios d’água.
- Meu amigo disse que, no mesmo dia, ele se
encaminhou até o conselho doa regentes e pediu para sair em
missão sagrada, pois haviam dito que o assassino roubara uma
nau aérea e partido da Ilha. Ele assumiu o nome de Ceifador e
hoje finalmente está de partida...
Todos ficaram em silêncio, mas logo um mensageiro
pediu para que eles o acompanhassem até a casa da regente
Sallas e momentos depois, eles estavam diante desta. Ela estava
pálida, apática e com a voz embargada e as mãos trêmulas, ela
mostrou o bilhete que achara na cama de sua filha.
“Washun é um falso deus. Se a vida de sua filha é de
alguma valia, reúna quantos homens for necessário e destrua o
Cristal das Alturas. Você tem dois dias.”
- Eles deixaram isso como prova – Ela desembrulhou
algo e todos viram o que parecia um punhado de fios roxos
– minha filha havia pintado o cabelo dessa cor ontem antes de
dormir e...
Ela começou a chorar quando Ruan se aproximou
e disse que fariam todo o possível para encontrar a filha da
regente. Ele se ergueu e começou a dar ordens aos demais
para procurarem pistas e começar a interrogar os empregados,
porém:
- Não é preciso... - A regente começava a retomar seu
autocontrole – Sabendo desta situação minha amiga, Yalliras,
veio rápido e já está no quarto de Neria...
Yalliras era uma maga famosa em toda a Ilha pelos
seus resgates únicos. Sempre que se precisa encontrar alguém
é a ela quem recorrem, principalmente por ela não cobrar nada
dizendo que apenas cumpre a missão dada por Washun. Como
ela encontra os desaparecidos continua um mistério até hoje.
Logo a Tropa subiu para o quarto da menina. Era todo
decorado como o quarto de uma criança, apesar dos quase 16
anos que ela já tinha feito, mostrando a superproteção da mãe.
Tudo parecia em ordem e:
- Sem nenhum sinal de luta. – no centro do quarto podiam
divisar a conhecida figura de Yalliras – Sim, quem entrou aqui
e seqüestrou a pequena Neria usou de poderes místicos. – Ela
então se voltou para os recém chegados, finalmente parecendo
notá-los de verdade e continuou com um tom sério – Então eu
finalmente conheço a famosa Tropa Relâmpago eu sou...
- A famosa maga Yalliras... - Vélvën sorriu com certo
escárnio.
Se a maga notou isso ela não demonstrou, pois se virou
para a janela e continuou o que estava fazendo, fosse o que
fosse. Depois de 5 minutos, seu olho direito começou a emitir
um estranho brilho esmeralda e então ela se dirigiu até a janela,
a abriu e se jogou.
- Mas que inferno?...- Tronter acompanhou seus colegas
até a janela – Essa mulher é louca?
- Parece – Joriander tinha sido o primeiro a chegar na
janela – Vejam! Ela chegou até o chão e está correndo como
louca até os fundos do terreno.
Nesse momento a regente chegou ao quarto e disse
que a maga havia deixado instruções para que eles devessem
seguí-la imediatamente caso algo assim acontecesse. Logo
todos estavam em suas montarias, Ruan junto de Vélvën,
seguindo Yalliras através da cidade até alcançarem os limites da
mesma e partirem rumo às montanhas onde ficavam as minas
dos anões.
- A mulher não se cansa? Parece até possuída, sem
ofensas Hellen...
Apesar de seus companheiros terem as mesmas
questões do anão, todos ficaram em silêncio para que não
perdessem a maga de vista e assim foi durante quase todo o
dia. Quando o Sol começava a se pôr no horizonte, os guerreiros
se uniram à maga próxima a um dos lados de Lárion, a mais
alta montanha daquela região. Seu cume perfura as nuvens
impossibilitando ver sua altura real, criando assim histórias de
que, se um dia alguém conseguir alcançá-lo terá uma visão
magnífica do firmamento. Outras contam que lá reside um
animal único em todo o mundo, mas são só histórias pois não
se tem confirmação de alguém que tenha chegado a tal lugar e
voltado.
- Eles estão lá encima... - O olho da maga brilhava ainda
mais e ela continuou – Não temos muito tempo... Precisamos
subir já e sem montarias, pois elas seriam facilmente vistas ao
longe.
- Que ótimo... Anões não foram feitos para escaladas...
- Você pode ficar aqui e olhar as montarias...
- E perder a ação? Está louco Ruan?
- E você vai conseguir Ruan? Ruan?
O Guerreiro já não ouvia Joriander, seu semblante
sério mostrava que ele estava totalmente concentrado para
vencer seu medo de altura. Ele começou a escalada logo atrás
da maga sendo acompanhado de perto pelos demais membros
da Tropa Relâmpago.
Lá no cume, uma figura sinistra olhava o céu estrelado,
provando que as histórias estavam corretas:
72
- Nunca pensei que um dia eu estaria em lugar tão alto
– Ela olhou para baixo de repente e se voltou para a jovem
que estava acorrentada numa pedra – Pretensos salvadores
estão subindo meu anjo, apenas para encontrar suas mortes
em minhas mãos...
E uma sinistra risada se ergueu aos céus...
Capítulo 7
As faíscas resultantes do impacto das armas pareciam
iluminar o topo de Lárion. Ruan empunhava com coragem sua
Espada do Firmamento, mas sua oponente defendia os golpes
mais poderosos. Depois de uma seqüência de ataques que
quase custaram à cabeça do rapaz, eles se afastaram e se
encaravam. Aguardavam a primeira oportunidade para definir a
luta. A respiração dele era como uma faca entrando e saindo do
peito e Ruan ainda não acreditava como seus colegas tinham
caído tão fácil diante de apenas uma inimiga.
Cada metro da escalada era vencido com muito suor
e sangue. Amarrados uns aos outros eles persistiam, seguindo
Yalliras que dizia ter certeza do paradeiro de Neria. Assim, eles
continuaram a subir sem saber o que os aguardava no cume da
montanha:
- É boa essa maga louca estar certa... humpf...Anões
não foram feitos mesmo para escaladas...
Não foram raras as vezes em que Ruan e Joriander
tiveram que fazer mais força para puxar os diminutos
companheiros. A escalada era difícil até para os humanos e elfos,
pois o paredão era praticamente vertical. Eram pouquíssimas
as fendas em que se podia agarrar e uma vez que eles não
possuíam equipamento correto tinham que contar somente com
sua mãos e forças.
Mesmo assim, contrariando todas as chances, eles
alcançaram o topo. Vislumbraram então aquilo apenas conhecido
em lendas e histórias. No topo de Lárion, a noite de fato era
eterna. O ar era rarefeito e era possível ver as estrelas do céu
ainda mais perto, quase como se estivessem ao alcance de suas
mãos. Eles estavam num local tão plano que parecia uma arena
feita pelo próprio Washun, mas o momento de deslumbramento
foi muito breve.
Ruan foi o primeiro a ver, assumindo seu semblante
mais sério e logo todos estavam olhando na mesma direção.
Presa a uma rocha, aparentemente desmaiada, estava a filha
da regente Sallas e ao seu lado quem a seqüestrou:
- Então finalmente chegaram...
Tirando o capuz que escondia seu rosto, revelou-se
que era uma mulher.
- Foi antes do previsto devo admitir, mas isso é muito
bom. Afinal não seria educado se atrasarem para o próprio
funeral.
Apesar de sempre ser o primeiro a atacar, Joriander
também se surpreendeu ao ver que Yalliras se lançava contra
a estranha. As duas trocaram vários golpes mais rápido do que
se podia ver, mas logo a maga foi lançada longe depois de um
chute no estômago. Nesse momento o elfo entrou em ação
desembainhando sua espada e fazendo um arco em pleno ar
em que ele visava a cabeça da inimiga. Ninguém viu de onde
veio a arma que ela usou para interceptar o ataque, nem a
pequena foice com a qual pôs Joriander fora de ação.
Enquanto Hellen ajudava Yalliras a se levantar, Ruan
tentava organizar um contra ataque. Com rápidos acenos de
suas mãos os integrantes da Tropa partiram para cima da inimiga.
Tronter buscou um ataque frontal, como Joriander, enquanto
Frisdan e Vélvën procuravam uma brecha pelos flancos e Ruan
tentava um ataque aéreo. O resultado foi, no mínimo, ridículo.
Com um chute ela derrubou o anão e em seguida, com
movimentos absurdamente rápidos, bloqueou as armas das
guerreiras fazendo-as recuar para longe, para depois parar o
ataque do último oponente antes deste chegar a tocar o chão,
quase o cortando ao meio com sua enorme espada.
Todos tinham dificuldade de respirar devido ao pouco
ar, mas a estranha parecia nem se importar com esse detalhe.
Com os pulmões explodindo, fizeram mais uma tentativa. Dessa
vez Vélvën usava sua agilidade para lançar seu escudo e atacar
em seguida com a espada. Hallarin, tomando o controle do
corpo de Hellen, tentava um ataque por baixo visando os pés
da inimiga. Tronter avançava por trás como um aríete, tendo o
escudo na frente do corpo e dessa vez era Ruan que tentava um
ataque frontal. Frisdan parecia prestes a entrar em pânico, mas
mesmo assim ela atacou pelo lado direito.
Um sorriso surgiu no rosto da estranha quando ela
escapava do ataque da anã derrubando-a longe com uma
cabeçada. Com um desvio ela mandou Tronter em direção de
Hallarin que quase cortou a perna do anão. Depois ela deu um
soco no rosto da Guerreira do Céu ao mesmo tempo em que
desviava o escudo de Vélvën com seu pé direito. Ruan teve
de esquivar se tornando um alvo fácil para a foice que era
atirada contra ele. Para sua sorte a elfa se jogou em sua frente
e recebendo a arma na coxa, teve uma perfuração até quase o
osso.
O guerreiro amparou a elfa nos braços enquanto Tronter
recebia uma série de chutes que o deixaram desacordado.
Yalliras tentou lançar uma magia, mas a estranha a lançou de
volta e a prendeu com fitas negras no chão que cobriam todo o
corpo. Em seguida ela fez um gesto e a foice saiu da perna de
Vélvën indo parar a poucos centímetros das mãos da inimiga.
Só Haviam sobrado Ruan e a estranha. Nesse momento
ele percebeu que as armas dela não tocavam suas mãos.
Acompanhando o olhar dele, ela encostou-se em sua enorme
arma e com um sorriso, começou a falar:
- Então percebeu meu segredinho não é?
- Uf... Pelo visto... – Como era difícil respirar -... Você tem
um estranho poder... uf... De controlar sua arma à distância...
A risada dela ecoou como um trovão. Andando
com graça felina ela tentava circundar Ruan que se movia
precariamente para continuar de frente com ela. De repente ela
parou e perguntou:
73
- Por que você adora a Washun?
Pego totalmente de surpresa ele ficou em silêncio por
uns instantes, depois tentou respirar mais um pouco e depois
falou sobre a história de Washun[1], sua luta contra Derkshedon,
a criação da Ilha e o fato dele ser o deus dos ventos da vida.
“a história é escrita pelos vencedores” ela sussurrou isso e se
lançou ao ataque demonstrando uma ferocidade inédita até
agora.
Apesar de resistir, Ruan começava a demonstrar uma
certa fraqueza devido à falta de ar. Ele acabou sendo desarmado
e a inimiga colocou a foice encostada na garganta dele:
- Que você saiba o nome daquela que o matou...
Sou Shayla... E agora... – Ela ergueu sua foice, mas antes de
terminar o ataque – ARGH!
Joriander acordara e trespassou o ombro dela:
- Estou envergonhado... Por ter caído... Tão fácil...
Agora você, sua bruxa...
Ele não terminou a frase, pois uma energia incrível
partia do corpo de Shayla lançando-o longe e desacordado outra
vez. Com a mão sobre o ferimento, ela se voltou para Ruan que
havia recebido grande parte do impacto da explosão e lutava
para permanecer acordado. Ele recebeu um chute no rosto e
estava prestes a desmaiar enquanto a lâmina se erguia. A última
coisa que ele viu, foi um enorme vulto alado se colocar entre ele
e a inimiga. Um rugido ecoou e Ruan não agüentou mais.
Quando tempo se passou ele não podia precisar.
Acordou com alguma coisa bicando sua mão, abriu os olhos e viu
que se tratava de um falcão albino. Ele se ergueu rapidamente
tentando localizar sua inimiga, mas apenas Yalliras e a tropa
Relâmpago estavam lá. Pondo a mão no queixo e sentindo uma
grande dor ele foi até Neria, tomou seu pulso e a libertou depois
de constatar que a jovem permanecia viva.
Aos poucos ele acordou seus colegas, cuidaram
dos ferimentos, tentaram localizar a inimiga sem sucesso e
mandaram um pedido de socorro para casa através das telas de
comunicação. Joriander permanecia longe dos demais, soturno
e Hellen se aproximou do amigo:
- Tudo bem Jor?
- Claro – A amargura em sua voz era visível – Sou o
melhor guerreiro mesmo não? Fiquei desmaiado a maior parte
da luta...
- Se você não ajudasse o Ruan ele estaria morto agora
e...
O elfo se afastou bruscamente e Hellen voltou para
junto dos amigos. Vélvën a amparou “Esse idiota ainda não
percebeu não é?” a única resposta foi um olhar sofrido que ela
tratou de disfarçar. Logo uma Nau Aérea chegou ao local e todos
voltaram para Serenidade.
Depois da festa da Regente Sallas em comemoração
ao retorno da filha, a Tropa Relâmpago fez um extenso relatório
sobre a misteriosa inimiga. A preocupação com uma possível
invasão crescia a cada dia e somado à epidemia que a Morte
das Trevas, a situação na Ilha da Brisa Suave parecia cada vez
mais precária.
 Ruan ficou com o falcão que recebeu o nome de
Rapnun e todos os membros da tropa demoraram um longo
tempo para se recuperar dos ferimentos da batalha. Não apenas
os ferimentos físicos, mas também os espirituais. Tronter
mancava e geralmente era amparado por Frisdan e ela, por sua
vez, passava horas no quarto acariciando pequenas estátuas,
quando questionada sobre isso ela apenas desconversava.
Vélvën começou a receber inúmeras cartas que amassava sem
nem mesmo ler. Dias depois Hellen, quase recuperada, bateu
na porta do quarto de Joriander pois estava preocupada com a
ausência do amigo:
- Jor? Você está aí?
- Vá embora! Não quero ver ninguém!
Ela se afasta, com uma imensa dor no coração sem
entender o que estava acontecendo com o elfo que ela passou
a amar. Joriander também não sabe como conviver com
tantos sentimentos adversos, sua vontade de ser o melhor
guerreiro parece sempre se chocar com as habilidades de seus
companheiros. Ruan é melhor líder, Hellen é mais ágil, Tronter e
Frisdan conseguiam criar engenhos que ele jamais conseguiria
imaginar, Hellen convivia com uma situação que ele nunca
poderia enfrentar. Até Yalliras, que ingressara na Tropa, tinha
lutado mais que ele pelo que os outros contaram.
De fato as coisas não iam bem para a equipe, a derrota
parecia tê-los afetado mais do que deveria. Mesmo assim a
Tropa foi chamada para uma nova missão: um grupo de jovens
príncipes elfos eram mantidos presos num tipo de labirinto que
surgiu nos arredores de Lumiar, a capital dos elfos localizada na
Floresta da Virtude. Logo os Guerreiros chegaram e tiveram que
entrar cada um por uma das sete entradas do labirinto.
Depois de andar em diversos corredores por um tempo,
Ruan se deparou com um guerreiro trajando uma armadura
vermelha e preta. Ele se curvou e disse:
- A morte o aguarda... Não a façamos esperar
demais...
Capítulo 8
A estranha criatura continuava a avançar. Seus passos
pareciam fazer toda a ilha estremecer e sua sombra já eram
sentidos na cidade de Serenidade que parecia que ser o objetivo
final da caminhada do colosso.
Os refugiados continuavam chegando das aldeias
que seriam atingidas primeiro. Pais abraçavam suas famílias
enquanto as mães faziam preces tentando consolar as crianças.
A praça do Cristal das Alturas estava cheia de pessoas que
oravam para que Washun os protegesse. Todos só voltaram
seus olhares aos céus quando sentiram outra sombra os cobrir.
Gritos de vivas e agradecimentos se fizeram ouvir
ao longe quando reconheceram o motivo da nova sombra:
centenas de Guerreiros do Céu partiam em direção à criatura.
Nunca se vira todo o Exército Celeste agindo em conjunto antes
e tal visão encheram de esperança os corações daqueles que
estavam abaixo.
Enquanto acompanhava a onda de guerreiros na
garupa de Vélvën, Ruan lembrava da batalha de alguns dias
atrás. Uma batalha com um final trágico e como isso os levara
para aquele momento de agora.
74
- Eu sou Nekrun, o guerreiro abençoado! Irei enviá-lo
para os braços da morte.
- Veremos. – O tempo era escasso e o guerreiro dos
céus logo saltou para o combate.
As espadas se cruzaram e eles ficaram assim por alguns
momentos medindo suas forças. Ruan empurrou o oponente
com seu escudo e tentou acertá-lo com a espada, porém sem
sucesso. Em seguida Nekrun saltou contra um da parede do
labirinto e tentou acertar o guerreiro.
Apesar de conseguir se defender, Ruan se espantou com
o golpe. Era um ataque padrão ensinado na Academia Aeriun!
Percebendo esse detalhe a luta começou a ficar desequilibrada.
O guerreiro do céu começava a ganhar mais terreno e sentindo
que a derrota era iminente, Nekrun saltou para trás ficando fora
do alcance do outro:
- Bem, isso foi interessante, mas... Você não deveria
estar tentando salvar alguém?
Ruan embainhou a espada e passou pelo inimigo. Seus
olhares se encontraram e o rapaz percebeu que o outro não
possuía pupilas, porém não havia tempo para perguntas e ele
partiu.
Os príncipes elfos eram filhos de Hullari e um deles
seria o futuro representante élfico no Conselho da Regência.
Estranhamente Ruan não encontrou mais nenhum obstáculo e
logo viu uma luz que parecia indicar a saída. Ao se aproximar ele
pôde perceber o som de prantos e se apressou, mas não estava
preparado para o que ele viu ao atravessar a última porta.
- NÃÃÃOOOO! – Vénië estava abraçada com os três
elfos.
Ruan se aproximou dos companheiros. Tronter
olhava para o lado, Hellen e Yalliras tentavam acalmar a elfa e
Joriander estava de costas para todos olhando o vazio. Frisdan
se aproximou e com olhos mareados, falou:
- Mortos... Eles estavam mortos a horas...
Mais tarde todos disseram que foram atrapalhados
por criaturas negras, apenas Ruan havia encontrado o novo
oponente. Quando se preparavam para sair do labirinto, todo o
construto sumiu numa névoa sinistra e todos ouviram a voz de
Shayla ecoar pelo ar:
- Podem ter salvado a filha da regente humana, mas eu
não cometeria o mesmo erro duas vezes... Nós ainda vamos nos
reencontrar e nesse dia toda a Ilha da Brisa Suave perecerá!!!
O riso da inimiga ecoou no ar durante todo o trajeto
para a casa do regente élfico. Conforme iam entrando na floresta
todos os habitantes começaram a segui-los, formando um
imenso cortejo fúnebre. Ruan, Joriander e Tronter carregavam
os jovens mortos enquanto as mulheres ainda tentavam consolar
a elfa.
- O que aconteceu com Vénië, Ruan? – Tronter
procurava falar baixo para o amigo.
Ruan apenas acenou negativamente com a cabeça. A
vergonha de não ter conseguido salvar os jovens crescia ainda
mais e ficou intolerável quando chegaram à casa de Hullari.
O regente recebeu a notícia com toda deferência
que se esperava de um nobre. Sua esposa, porém teve que
ser amparada para dentro da casa. Ela ficou sob os efeitos de
poderoso sedativo para que ela pudesse acompanhar o enterro
dos filhos no dia seguinte.
Depois do enterro, a Tropa Relâmpago seguiu Hullari
até os pés de uma das árvores mais altas da floresta da Virtude.
Quando pararam sob sua sombra, Vénië se adiantou:
- Sentimos muito pela perda de seus filhos meu
senhor.
- Por favor, não fale mais assim com seu pai minha
querida... – E o regente abriu os braços.
Ela o abraçou e todos seus companheiros ficaram
boquiabertos ao saberem de tal fato. Depois de permanecerem
três dias na floresta, a Tropa foi chamada de volta à Serenidade
em caráter de urgência e durante o trajeto a elfa finalmente
revelou mais de si:
- Toda a minha vida eu vi a maioria das elfas de casas
nobres devotando suas vidas para arranjar um bom casamento,
voltando suas habilidades para tarefas como o bordado e coisas
assim. – Ela fez uma cara de asco e continuou.
- Eu odiava isso. Sempre que possível eu procurava
espiar os treinos das mulheres guerreiras e achava fascinante.
Claro que essa prática me rendeu muitas surras, mas minha
vontade de ser livre sempre superou tudo isso. Eu prometi que
jamais me prenderia de verdade a alguém e que viveria minha
vida com o máximo de prazer.
Nesse momento seus olhos encontraram com os de
Ruan e ele se lembrou daquela noite a tanto tempo e o porquê
da elfa jamais o ter procurado outra vez. Ela calou, olhou para
os céus e depois de um suspiro continuou:
- Depois de te conhecer quando éramos crianças, Ruan,
eu decidi ser uma Guerreira dos Céus. Pensei ter encontrado
meu lugar, mas depois de ver meus irmãos mortos... Eu... Eu...
A elfa voltou a chorar sendo amparada por Frisdan. A
anã estava muito calada nos últimos dias, algo parecia incomodá-
la, Ruan percebeu isso, mas preferiu ficar quieto. Algo naquele
estranho guerreiro era familiar demais e isso não deixava Ruan
pensar em mais nada.
O resto do trajeto até Serenidade foi feito em silêncio.
Ao chegaram na sede do Exército Celeste, foram para seus
aposentos descansar. No dia seguinte teriam que conversar com
o líder dos Guerreiros sobre a missão passada e receber uma
nova. A noite transcorreu tranqüila, mas nenhum dos membros
da Tropa conseguiu dormir muito.
Na manhã seguinte, bem cedo, todos estavam de frente
a Kronem, o mais antigo Guerreiro do Céu e líder do exército
Celeste. Todos exceto uma:
- Onde está Frisdan? – Era Vénië quem perguntava por
aquela que a amparou tanto nos últimos dias.
- A Guerreira Frisdan pediu afastamento, mas não foi
por isso que eu os chamei aqui.
75
Apesar de a notícia ter pego todos de surpresa não
tiveram tempo de absorvê-la. Kronem disse que parecia óbvio o
fato do filho de Durak ser o próximo a ser atacado por Shayla.
Ele enviara todo um grande contingente de guerreiros para
proteger o jovem anão, mas a experiência da Tropa Relâmpago
poderia ser útil e eles foram enviados para as Minas Rustar.
Toda a residência do regente anão estava fortemente
guardada. Ninguém se aproximava dela sem passar por diversos
guardiões e proteções místicas. Ainda assim o clima era de
desconfiança e ninguém olhava diretamente para Ruan e seus
amigos devido aos acontecimentos na Floresta da Virtude.
Assim a Tropa Relâmpago ficou responsável pela
ala norte da casa e enquanto vigiavam, receberam a visita de
alguém familiar:
- Frisdan! – Hellen foi a primeira a vê-la e correu junto
com Vénië até a amiga.
A amiga se aproximou e todos perguntavam várias
coisas juntos e antes dela responder, Ruan percebeu uma
criança anã ao lado deles:
- E esse garotinho, quem é?
- Ele - O garoto se escondeu atrás de Frisdan – É meu
filho.
Nem tiveram tempo de formular uma frase pois um
grande tremor se fez sentir. Frisdan abraçou seu filho e todos
correram para a saída mais próxima.
Ao saírem da Minas Rustar eles viram uma montanha
próxima ruir, era como se algo de dentro dela tentasse se libertar.
Logo o motivo se revelou: um imenso monstro que, ao sair do
chão, simplesmente destruiu a montanha que se encontrava no
seu caminho. A seguir, usou as rochas e selou o buraco que
havia ficado para trás.
Ele olhou para os lados e pareceu se decidir por uma
direção seguindo em frente e sem permitir que qualquer coisa
ficasse em seu caminho.
- Esse monstro parece estar a caminho de...
- Serenidade!
A Tropa Relâmpago se despediu de Frisdan e junto
com os outros guerreiros foram para Serenidade.
- Hora de acordar, Ruan. – Vénië chamava o amigo de
volta à realidade – E veja quem se juntou a nós.
Ele olhou a sua direita e viu alguém se aproximar
montada num leão alado.
- Eu não poderia deixar a segurança de Serenidade e o
futuro do meu filho apenas em suas mãos, não é?
E enquanto todos se dirigiam para aquela que parecia
ser a pior luta de suas vidas, do alto de um morro próximo:
- Então o momento final se aproxima... - Shayla se
exaltava vendo que seu plano final seguia para o sucesso
- Hoje toda a vida nessa ilha maldita acabará!
 - HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!
Capítulo 9
- Washun, deus dos ventos e da vida, proteja a
mamãe e o papai...
A oração simples parte de uma garotinha se perde entre
as vozes de todos que estão ao seu lado. Os refugiados que se
encontram na praça central de Serenidade oram a seu deus por
uma salvação. Suas vozes, porém, são encobertas pelo som
de um trovão ao longe. Infelizmente esse barulho não é de uma
tempestade que se aproxima.
O monstro é lento, avançando muito devagar apesar
de seu tamanho. Poucos Guerreiros do Céu caíram sob seus
desajeitados ataques mas também não conseguiam detê-lo. A
batalha já durava horas e o comandante Kronem estava quase
esgotando todos os seus planos de ataque. As Espadas do
Firmamento não cortavam a carne do monstro e os escudos
sequer eram notados ao atingi-lo.
Isso foi algo que Ruan percebeu quando,
desajeitadamente, pegou seu escudo que voltava depois de
um arremesso. Vénië quase caiu e perguntou o que estava
acontecendo com o guerreiro. Sentindo gotas de suor brotando
de seu rosto ele respondeu:
- Estamos lutando há muito tempo. – Ele passou
as costas da mão na fronte – Mesmo tentando manter a
concentração estou sentindo certa tontura...
- Essa não, talvez seja melhor descermos e...
- Não! Não irei abandonar a batalha. – ele assobiou e seu
falcão se aproximou – Vá Rapnun! Tente distrair o monstro.
- E o falcão albino se lançou contra o monstro tentando achar
um ponto fraco.
- Tentem atacar pelo flanco direito! Vocês! Tentem cortar
as costas do monstro.
Os Guerreiros continuavam a obedecer às ordens de
Kronem, porém sem resultados animadores. Tudo no caminho
do monstro era destruído, suas pegadas formavam enormes
sulcos negros no solo, árvores próximas ficavam retorcidas e
mortas, peixes apareciam boiando nos rios e até o ar parecia
estar sendo afetado. A criatura exalava um odor fétido que
tornava ainda mais penoso à aproximação para um ataque
mais eficiente. Ainda assim o Exército Celeste continuava sua
corajosa tentativa de deter o monstro.
Os membros da Tropa Relâmpago se mantinham
juntos e protegiam um ao outro. Tronter tirou Frisdan da frente
da criatura por duas vezes, salvando sua vida.
- Acorda Frisdan! Seu filho não me perdoaria se, por
minha culpa, ele perdesse a mãe!
- Obrigado e Cuidado!
Ela fez seu leão alado arrastar o anão e sua montaria
para longe de um golpe do monstro. Esse acabou acertando
outros três guerreiros menos afortunados:
76
- Mais atenção Tronter! Não queremos perder ninguém
aqui!
- Tome cuidado com o Ruan, Vénië, ele é que não
parece muito bem!
Nesse momento Joriander viu duas figuras conhecidas
no alto de um morro próximo e se lançou na direção deles.
Hellen, que estava cuidando da retaguarda do elfo, o seguiu
prontamente. Yalliras, Tronter e Frisdan foram em seguida.
Vénië, atendendo a um pedido de Ruan, se aproximou de
Kronem e avisaram-no que ia para o solo investigar o que os
inimigos estavam fazendo. Mesmo a contragosto, ele permitiu
que os dois acompanhassem os demais:
- E tentem descobrir algo mesmo, pois estou perdendo
as esperanças de uma vitória.
Quando eles alcançaram seus colegas, reconheceram
de imediato Shayla e Nekrun. Ela empunhou suas armas, mas
seu companheiro permanecia impassível com a espada fincada
no chão. Eles desmontaram e logo se puseram de frente aos
inimigos com suas armas nas mãos. Shayla deu um sorriso e:
- Logo Flaistor chegará a Serenidade e seu falso Deus
será finalmente destruído. Seria melhor vocês correrem para
seus entes queridos e aceitarem a morte com resignação...
- Desista mulher, logo os Guerreiros do Céu irão dar um
jeito de destruir esse monstro maldito.
- Estou contando com isso pequenino... Ataquem
queridos!
Uns punhados de criaturas negras e disformes se
aproximavam lentamente. Joriander se colocou à frente dos
colegas se preparando para dar o primeiro golpe. Foi quando
um dos monstros rasgou o próprio peito caindo a poucos metros
do elfo. Mesmo sofrendo, a criatura se ergueu e do ferimento
saiu algo como um líquido negro de odor forte.
Joriander só não foi atingido direto pela intervenção
rápida de:
- Hellen!
O grito de Vénië não foi resultante apenas da surpresa
de ver a amiga saltar na frente do elfo, mas de vê-la cair
agonizando. Frisdan foi a primeira a tomar a jovem humana nos
braços e notou que a pele de Hellen ardia em febre:
- Parece o primeiro sintoma da Morte das Trevas, mas
é impossível, se ela tivesse sido contaminada há dias já teria
ficado doente e...
Nesse momento os Guerreiros do Céu entenderam o
significado das palavras da inimiga.
- Hahahahahahahahahahahahaha! Então finalmente
entenderam de onde veio a doença que aflige os
Habitantes dessa ilha amaldiçoada?
As criaturas na verdade eram receptáculos. Uma vez
destruídos, a névoa mal cheirosa que soltavam, que parecia
inofensiva, levava pelo ar esporos da doença. E agora sua forma cubram! Acho que encontrei um ponto fraco!
líquida parecia mais perigosa. Todos olharam para o imenso
monstro ali perto e imaginaram o que aconteceria se ele fosse Enquanto o comandante se lançava contra o alvo
destruído. escolhido, a Tropa enfrentava seus inimigos. Ruan cruzava
espadas com Nekrun enquanto seus amigos tentavam superar
- Pelo visto a mais afortunada entre vocês é essa idiota Shayla. Tronter acabou recebendo um grande corte na barriga,
caída no chão e... distraindo Frisdan que foi a nocaute depois de um golpe certeiro
no rosto. Vénië ficou só, mas lutava de modo imprevisível e
A frase de Shayla se perdeu diante do grito de Joriander conseguia dar trabalho para a inimiga. Ruan tentou derrubar
que se jogou contra Nekrun caindo com ele morro abaixo. seu oponente com uma rasteira, mas errou e recebeu uma
Quando ela voltou seus olhos para os demais oponentes não espadada certeira. Se não fosse seu escudo ele teria perdido o
conseguiu se esquivar de Yalliras, que a arrastou para onde os braço e com sua outra mão ele acertou o rosto do inimigo com
outros haviam caído. o cabo de sua espada. Nekrun deu alguns passos
Os demais Guerreiros para trás e seu capacete foi ao chão revelando seu
do Céu se encontravam rosto.
encurralados pelas criaturas Confusão total. Nesse momento
restantes. Elas avançavam Kronem acertava a gema dourada de Flaistor que,
devagar forçando os uma vez partida, lançou um líquido viscoso e negro
guerreiros a recuar até que que cobriu imediatamente o comandante. Esse caiu
ficaram de costas para uma de sua montaria no exato momento em que o enorme
elevação. Ruan olhou para monstro explodia em milhares de jorros do estranho
o topo e depois para seus líquido, forçando os Guerreiros do Céu a dispersar.
oponentes, uma idéia se O som da explosão atraiu a atenção dos membros
formou e ele disse aos seus restantes da Tropa, Vénië acabou abrindo a guarda
companheiros: e caiu depois de um chute no rosto.
Ruan voltou seu olhar para Nekrun,
- Abaixem-se mas antes de qualquer reação ele foi atingido na
e aguardem o ataque. nuca por Shayla. Ela se voltou para seu companheiro
Quando eles saltarem dizendo:
sobre nós rolem por baixo.
- Vamos! Quero saborear a vitória
- E como você enquanto a Morte das Trevas se espalha.
sabe que eles vão saltar?
- E eles?
Ruan lançou um
olhar severo para o anão e - Deixe-os, estão mais mortos do que
esse se calou, abaixando-se em seguida. As criaturas foram se vivos. Que a vergonha os acompanhe até o fim...
aproximando e seguindo a intuição do guerreiro, saltaram sobre
eles. Com um movimento rápido todos rolaram pelo chão e a Eles se afastaram deixando para trás dor, morte e
situação se inverteu, com as criaturas batendo violentamente vergonha. Ruan ainda esticou seu braço na direção deles e
contra a parede do morro. balbuciou:
Ruan Jogou seu escudo contra umas pedras no topo da
elevação e estas rolaram morro abaixo soterrando os inimigos. - Joriander... Não...
Enquanto a poeira abaixava, Frisdan cumprimentava o amigo:
E desmaiou em seguida.
- Genial Ruan! Assim não corremos o risco de sermos
atingidos pelo líquido negro.
Capítulo 10
- Sim. E agora vamos ajudar Jor...
Enquanto faz mais uma checagem nos suprimentos,
Um grito de mulher não deixou o guerreiro terminar o Guerreiro Nimbus ouve seu antigo nome sendo chamado do
sua frase e logo todos estavam na beirada por onde Joriander, lado de fora de sua Nau Aérea. Ele guarda as últimas sacas de
Yalliras e os inimigos haviam caído. Nada os teria preparado farinha no pequeno armário da despesa e enquanto sobe para o
para o que eles viram: Deitada e com a espada de Joriander convés, sua mente volta a algum tempo atrás.
trespassada pelo ventre, estava Yalliras. Perto dela Shayla e Hellen lutava contra a doença que se espalhava pelo
Nekrun sorriam desafiando os guerreiros a descer. Não havia seu corpo em velocidade impossível, Tronter, Frisdan, Vénië
qualquer outro sinal de Joriander. e Ruan estavam desacordados depois da luta com Shayla e
Repletos de ódio Ruan, Vénië, Frisdan e Tronter se Nekrun. Flaistor, o imenso monstro que ameaçava Serenidade,
lançaram ao ataque. A luta em solo começou ao mesmo tempo ia se desfazendo em vários jorros do líquido negro que trazia a
em que, no ar, o comandante Kronem percebia algo: Morte das Trevas.
Na cidade todos comemoravam a “vitória” do Exército
- O mostro procura de todo modo proteger aquele tipo Celeste. Sem saber que logo todos estariam contaminados.
de jóia dourada! – E se voltando para seus companheiros – Me A felicidade se espalhava e todos se uniam numa prece de

77
agradecimento a Washun.
Yalliras abriu um de seus olhos que já apresentava seu
característico brilho esverdeado. A dor que vinha de sua barriga
era imensurável, porém ela havia escutado a explicação de
Shayla e sabia o que aguardava toda a Ilha da Brisa Suave.
Ela tinha nascido com um dom. O dom de encontrar
quem estivesse perdido apenas tocando seus objetos pessoais.
Seu olho emitia um brilho e ela conseguia ver o rastro da aura
das pessoas. Era como ver uma versão verde dos desaparecidos
realizando suas últimas ações. Assim ela simplesmente seguia
a imagem espectral até o local onde se encontravam. Quando
criança ela usava essa habilidade para surpreender seus
amiguinhos, mas quando foi amadurecendo resolveu entrar na
Academia Arcana e desenvolver seus dons. depois de formada,
ela fez fama como a melhor pessoa a quem se recorrer em caso
de desaparecimentos.
Mas esse dom não seria útil agora e segurando a
espada que a atravessara ela fez uma última prece a Washun:
- Deus dos ventos... E-eu... - Ela sentiu o gosto de
sangue invadir a boca e cuspiu – Permita... Que minha... Minha
morte não... Seja em vão... Permita-me... - Mais sangue saia de
sua boca fazendo-a engasgar – Salvar... Mais algumas vidas...
– E seu corpo parou de se mexer.
Silêncio. Os jorros negros se aproximavam dos
guerreiros caídos como corvos em busca de carniça. Pouco
antes de Tronter ser atingido, Yalliras despertou gritando. O
brilho esmeralda agora saída dos dois olhos e foi aumentando
de intensidade. Formavam raios de energia que destruíram o
que ameaçava seus amigos. Depois a energia foi na direção do
que restava de Flaistor e o cobriu numa redoma, impedindo que
mais jorros escapassem.
A redoma começou a se contrair até desaparecer por
completo eliminando assim a ameaça. No chão, com lágrimas
caindo de seus olhos, finalmente Yalliras deu seu último suspiro.
Estava feliz, pois na morte ela conseguiu salvar muitas vidas.
A Tropa Relâmpago foi resgatada horas depois.
Quando acordaram ouviram o relato do milagre da luz verde
que salvou a Ilha. Boatos davam conta que poderia ter sido uma
ajuda enviada da Cidadela das Chamas Esmeraldas, mas Ruan
e seus amigos suspeitavam da verdade.
Ruan se dirigia para casa com o corpo moído e a alma
dolorida. Yalliras morta, Hellen vítima da Morte das Trevas e
Joriander... Ele cerrou os punhos ao pensar no traidor. Como ele
pôde? A raiva e a frustração eram quase insuportáveis quando
ele entrou na casa dos pais. Procurou por todos os lugares e
encontrou seu pai na mesa da cozinha. Estava abatido, com os
olhos vermelhos e cabisbaixos.
Logo os dois estavam ao lado da cama em que a mãe
de Ruan estava deitada. O salão onde os clérigos cuidavam
das vítimas da doença estava lotado. Se não fosse o tal milagre
esmeralda, seriam muito mais. O rapaz tomou as mãos da mãe
nas suas, estavam tão geladas. Mesmo sentindo muita dor a
velha senhora tinha apenas uma sorriso para seu filho, seu
Ventinho do Céu.
Aquilo foi demais para Ruan, sua tristeza era enorme
e ele não suportava mais a dor em seu peito. Caiu de joelhos
abraçado com o pai, suas lágrimas se misturando. Dias depois
ele se afastou para as montanhas dos anões e lá ficou durante
cinco dias tendo como companhia apenas Rapnun, seu falcão.
Ao voltar ele se dirigiu até o palácio onde de reunia o Conselho
da Regência.
78
- Estou diante de vossas excelências pedindo permissão
para sair da Ilha da Brisa Suave em missão
pessoal.
- E qual seria essa missão? – Mas antes do rapaz
responder, Durak continuou – Afinal, o motivo deve ser
forte para que possamos dispor de um de nossos
melhores guerreiros em momento tão crítico.
- Sei tão bem quanto vossa excelência da situação
em que nos encontramos. Por isso venho humildemente pedir
vossas permissões para sair em busca de uma cura para esse
terrível mal que nos aflige.
- Muitos magos já estão estudando uma possível
cura, meu rapaz. Depois dos últimos acontecimentos, o que
precisamos é de guerreiros para nos proteger e...
- Com todo o respeito excelência – Ruan respirava
fundo para tentar se controlar
- Eu estava na batalha, não é preciso me lembrar o
quão ela foi terrível.
- Calma, meu rapaz... Sabemos o quanto sofreu.
Partilhamos de sua dor, mas...
- Regente Sallas, nas atuais condições eu não serei
de real utilidade na defesa de nossa ilha, mas acredito que
conseguirei achar uma cura. Pelo menos preciso tentar... Não
conseguirei lutar enquanto minha própria mãe e uma das minhas
melhores amigas estão morrendo com essa maldita doença.
Tudo o que eu quero no momento é lutar por essas pessoas.
Sei que soa egoísta, mas...
Sem perceber Ruan havia elevado a voz. Quando viu
os rostos dos regentes, abaixou a cabeça e nesse momento o
regente Hullari finalmente falou:
- Eu sei bem que, se você quisesse poderia sair da Ilha
com sua próprias forças – Vendo que o rapaz concordava ele
continuou – Portanto, sabendo como é a dor de se perder entes
queridos, eu aceito sua petição e desejo, do fundo de minh’alma,
que logre sucesso em sua empreitada.
Vendo a dor nos olhos do colega, Sallas e Durak se
calaram e deram suas permissões para que Ruan se tornasse
um Guerreiro Nimbus.
Antes de ir para o porto ele se encontrou uma última
vez com seus pais. O velho Runald tinha os olhos vermelhos
depois de abraçar o filho e sua mãe, Othilia, pediu para que
o rapaz se aproximasse de seu leito. Ela sussurrou algo e ele
ergueu a cabeça. Onde antes havia um rosto desanimado, um
sorriso triste se formou. Ele levou o pai até sua antiga casa e
depois se dirigiu ao porto. No caminho foi até a casa da mulher
responsável por confeccionar as roupas dos Guerreiros do
Céu e pediu que essa lhe fizesse uma nova roupa. Graças à
habilidade da costureira e a gratidão que sentia pelo guerreiro,
horas depois ele já estava cuidando dos últimos detalhes para
partir em seguida. Foi quando ouviu chamarem seu antigo
nome.
O Guerreiro olhou para fora da nau e reconheceu
imediatamente quem o chamava. Seus amigos tinham vindo se
despedir. Um a Um eles se aproximaram e o primeiro foi:
Tronter. Ele se tornou o líder da Tropa Relâmpago,
agora uma divisão especial do Exército Celeste. Seria sua
responsabilidade preparar os melhores formandos da Academia
Aeriun. Finalmente recebeu a benção de seu pai, que agora
sempre contava nas tavernas o orgulho de ter um filho
guerreiro.
cobriam seus ombros revelando um tecido quase transparente
que deixava à mostra seus seios. Então ela deu um beijo na
boca do amigo tão longo quanto o primeiro que havia trocado.
Depois ela lhe deu um beliscão e se afastou com seu sorriso
característico.
- Nisso você tem razão, meu lindo. Nunca
haverá uma regente como eu.

- Se prepare amigo. Quando voltar, e eu sei Então ele subiu em sua Nau Aérea, tendo como
que será em breve, a Tropa será a maior força de elite que a Ilha companheiro apenas seu falcão. Enquanto se afastava, dando
já viu. adeus aos amigos que deixava para trás, ele pensava naqueles
que não estariam lá.
- Eu sei meu amigo. Confio plenamente em Yalliras. Sua última ação jamais seria conhecida. Em
você. – E o guerreiro se voltou para: seu túmulo, que estava ao lado do
Cristal de Washun, foi erguida uma
Frisdan. Depois de provar para si estátua da maga. Sob essa estátua
mesma e para seus compatriotas que uma uma placa trazia os seguintes
anã podia ser uma guerreira, ela decidiu dizeres: “Ela sempre lutou na
enfrentar outro desafio. Ser uma mãe. Ela batalha mais digna. A batalha pela
não se sentia preparada para essa tarefa, Vida”.
mas depois de ver a tantos amigos serem Hellen. Permanecia
feridos e morrerem, sua maternidade falou em coma, mas os clérigos e
mais alto. Pediu baixa do Exército Celeste e curandeiros acreditam que ela só
tendo recebido um bom soldo em dinheiro, não morreu por causa de Hallarin,
voltaria para as minas Rustar. o espírito que habitava o corpo da
guerreira.
- Você tem certeza disso, Quando pensou em
Ruan? – Ela tinha os olhos cheios de Joriander suas mãos apertaram
lágrimas. mais forte o timão.

- A vida de um guerreiro Enquanto isso, em

Nimbus é tão... outro lugar.

- Eu sei Minha querida... Shayla e Nekrun/

- Ele abraçou a amiga
- Mas preciso fazer algo
além de lutar contra os inimigos da Ilha. Vou ficar bem. – Os
anões se afastaram um pouco quando Ruan se voltou para
Vénië.
Ela vestia um comportado vestido longo e
branco. Depois da morte dos irmãos ela decidiu que deveria
voltar para casa e se preparar para, um dia, assumir o posto do
pai no Conselho da Regência. Tinha o rosto sério e contemplativo
das boas filhas dos nobres elfos, não lembrando em nada a
guerreira que tinha sido da Tropa Relâmpago. Ela abraçou com
carinho comedido o amigo.
-Então escolheu seu novo nome? Eu gostei
particularmente da nova roupa... – Ela sussurrou em seu ouvido
e depois de ouvir o nome, continuou:
- Espero que voltemos a nos encontrar um dia.
- Assim também espero minha senhora. – Ele fez uma
reverência exagerada.
- Tenho certeza de que os Elfos jamais terão uma
melhor regente.
A elfa sorriu e então soltou as alças do vestido que
Joriander andavam por um corredor
escuro.
- Ainda acho que deveríamos ter matado a
todos.
- Cale-se, estamos entrando em local
sagrado.
Ela estava nervosa. Seus planos não tinham dado certo
e ela apenas teria um Guerreiro caído para oferecer ao seu
senhor. Ela lembrava de como havia sido fácil dominar o elfo
no labirinto e colocar em suas costas o mesmo tipo de verme
com o qual controlara o dragão. Ela fez com que ele Lutasse
contra seu amigo e aos poucos seu controle foi se fortalecendo.
Quando o Guerreiro do Céu saltou sobre “Nekrun” a armadura
revelou apenas um demônio. Quando chegaram ao chão, logo
Shayla e Yalliras os acompanharam. Pega de surpresa, a maga
foi presa fácil para o Guerreiro caído.
Eles chegaram a um enorme salão e foram recebidos
por uma voz que parecia preencher todo o local:
- Não falem nada. Eu sei de tudo o que aconteceu e
não se preocupem. Tudo corre como o planejado. Mas preciso
que se tornem mais fortes. Entrem nesse poço que está diante
de vocês. – Os dois guerreiros ficaram parados apreensivos
– AGORA!

79
 Sem escolha eles obedeceram e depois de alguns
minutos os dois saíram totalmente mudados.
Shayla estalou um chicote que disparou fagulhas negras
no ar e Nekrun sentiu algo pesado nas costas, ele olhou para trás
e com um sorriso nos lábios abriu duas longas asas negras.

- Agora estão prontos de verdade...

De volta aos céus, o Guerreiro Nimbus sentia o vento

em seu rosto. Apesar da tristeza ainda tocar seu coração, ele
sorria o lembrar das últimas palavras de sua mãe:

- Eu te amo, Ventinho do Céu, eu te amo.

Apenas isso. Nenhuma cobrança ou pedido de socorro.

Ele sabia que fosse qual fosse o resultado de sua missão, o
mais importante havia sido dito pelos dois:

- Eu também te amo, minha querida mãe.

Abrindo as velas da Nau Aérea e aumentando a

velocidade, ele ergueu sua voz como se quisesse que todos
que ficavam para trás ouvissem suas palavras:

- De agora em diante, meu nome será Vento

Celestial!

O COMEÇO...

80
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