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ESCOLA SECUNDÁRIA de MADEIRA TORRES

TESTE de AVALIAÇÃO de PORTUGUÊS – 11.º ANO Versão 1 Ano Letivo ─ 2021/22


Nome: N.º: Turma: Data:
Classificação Final: Professora:
Grupo I – Educação Literária: Grupo II – Leitura e Gramática: Grupo III - Escrita:

GRUPO I
PARTE A
Leia o texto seguinte, constituído pelas estâncias 152 a 156 do Canto X de Os Lusíadas, bem como a
contextualização apresentada. Se necessário, consulte as notas.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Depois da chegada à pátria, e concluída a narração da viagem de Vasco da Gama, Camões termina a sua obra com uma última intervenção
dirigida ao Rei D. Sebastião.
152 155
Fazei, Senhor, que nunca os admirados Pera servir-vos, braço às armas feito,
Alemães, Galos1, Ítalos e Ingleses, Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Possam dizer que são pera mandados2, Só me falece7 ser a vós aceito,
Mais que pera mandar, os Portugueses. De quem virtude deve ser prezada.
Tomai conselho só d’exprimentados, Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Que viram largos anos, largos meses, Digna empresa tomar de ser cantada,
Que, posto que em cientes3 muito cabe, (Como a pressaga mente vaticina
Mais em particular o experto sabe. Olhando a vossa inclinação divina),
153 156
De Formião4, filósofo elegante, Ou fazendo que, mais que a de Medusa8,
Vereis como Aníbal5 escarmecia, A vista vossa tema o monte Atlante9,
Quando das artes bélicas, diante Ou rompendo nos campos de Ampelusa10
Dele, com larga voz tratava e lia. Os muros de Marrocos e Trudante11,
A disciplina militar prestante A minha já estimada e leda Musa
Não se aprende, Senhor, na fantasia, Fico12 que em todo o mundo de vós cante,
Sonhando, imaginando ou estudando, De sorte que Alexandro13 em vós se veja,
Senão vendo, tratando e pelejando. Sem à dita de Aquiles14 ter enveja.
154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, Luís de Camões, Os Lusíadas, A. J. Costa Pimpão (coord.), Lisboa, MNE-IC, 2000, pp. 478-
De vós não conhecido nem sonhado? 479.

Da boca dos pequenos sei, contudo,


Que o louvor sai às vezes acabado6.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa esperiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.

1 Galos: franceses; 7 falece: falta;


2 pera mandados: para serem mandados; 8 Medusa: personagem mitológica que transformava em pedra quem para ela olhasse;
3 cientes: sábios; 9 Atlante: Atlas em Marrocos;

4 Formião: filósofo grego, contemporâneo de Aníbal, 10 Ampelusa: cabo Espartel, na costa norte-africana;

que quem fez, um dia, um discurso sobre a arte da 11 Trudante: cidade no Norte de Marrocos;

guerra; 12 fico: asseguro;

5 Aníbal: general fenício; 13 Alexandro: Alexandre Magno;

6 acabado: perfeito; 14 Aquiles: herói da Ilíada de Homero.

1
1. Explicite o conselho que o poeta dá a D. Sebastião nos versos 5 a 8 da estância 152, tendo em conta conteúdo
da estância 153.
2. A partir da estância 154, observa-se uma alteração do assunto do texto.
2.1. Justifique a afirmação anterior e justifique-a, caracterizando a marca linguística que introduz essa
alteração.
3. Identifique dois aspetos do autorretrato de Camões, nas estâncias 154 e 155, que permitem enquadrar o poeta
no ideal de homem renascentista. Apresente, para cada um desses aspetos, uma transcrição pertinente.
4. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço. Na folha de
respostas registe apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número que corresponde à opção
selecionada em cada um dos casos.

Estas estâncias finais do canto X ilustram a sublimidade do canto da epopeia camoniana: a presença de recursos
expressivos como a anáfora, nomeadamente, em a) _____________; o recurso a arcaísmos, como b) _____________;
a alusão à história antiga, presente, por exemplo, nos versos c) __________.

a) b) c)
1. «Fazei, Senhor, que nunca os admirados / Alemães, Galos, 1. «engenho» (est. 1. 1 a 4 da estância
Ítalos e Ingleses» (est. 152, vv. 1 e 2) 154, v. 7) 153
2. «Sonhando, imaginando ou estudando, / Senão vendo, 2. «empresa» 2. 1 a 4 da estância
tratando e pelejando» (est. 153, vv. 7-8) (est. 155, v. 6) 155
3. «Pera servir-vos, braço às armas feito, / Pera cantar- 3. «enveja» 3. 1 a 4 da estância
-vos, mente às Musas dada» (est. 155, vv. 1-2) (est. 156, v. 8) 156

Parte B
A natureza tem uma presença recorrente na literatura portuguesa.
Escreva uma breve exposição sobre o modo como a natureza é representada em dois dos autores ou em
duas das obras que estudou, até ao momento, no domínio da Educação Literária.
A sua exposição deve incluir:
•  uma introdução ao tema;
•  um desenvolvimento no qual explicite um aspeto que evidencie o modo como a natureza é representada
em cada um dos autores ou obras que selecionou, fundamentando cada um desses aspetos em, pelo menos, um
exemplo pertinente;
•  uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

GRUPO II
Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

Afinal de onde vem a Língua Portuguesa?

As palavras são de tal forma utilitárias, quotidianas e cada vez mais fúteis, que nos esquecemos de
que todas elas têm uma história, de que cada letra, cada som foi engendrado num tempo e numa
circunstância política, social específica e a ela está para sempre ligado. Muitas palavras nasceram de
sensações corporais ou psicológicas concretas, outras de necessidades comezinhas da comunicação que
5 vai desde a esfera familiar à esfera das leis, dos enamoramentos ou da poesia.
Por isso, a história de uma língua começa sempre por ser oral e pode demorar dezenas de anos,
séculos, até aparecer pela primeira vez na sua forma escrita. Cada fenómeno linguístico tem origens
antiquíssimas e é um pequeno tesouro patrimonial que herdamos das muitas gerações pretéritas. Um
tesouro frágil que todos os dias esmagamos usando sempre um número restrito de palavras, ou que é
10 esmagado por decisões mais ou menos arbitrárias do poder que acredita poder torcer as palavras até

2
elas deixarem de ser rebeldes e se tornarem submissas a um regime artificial como é a ortografia, por
exemplo.
Assim, a história de uma língua está indelevelmente ligada à história de um povo, de uma nação e
vice-versa. E, da mesma forma que Portugal e os portugueses não caíram do céu ali por volta de 1143,
15 também a língua começou a sua odisseia particular muito, muito tempo antes, talvez ali por volta do
ano 600, quando nem o Condado Portucalense era sonhado. É, pois, uma viagem longa, cheia de
peripécias, aventuras, amores e desamores, roubos, inimigos, tempestades e terramotos, aquela que
tem feito a Língua Portuguesa até chegar a esta nossa conversa num jornal digital.
Quem a conta é o linguista Fernando Venâncio, num livro fascinante, culto, complexo, mas, ao mesmo
20 tempo, didático, acessível a qualquer falante do português. A obra, cheia de exemplos e curiosidades,
não teme polémicas nem humor, tem a chancela da Guerra & Paz e chama-se Assim Nasceu uma Língua/
Assi Naceu ũa Lingua e mostra que aquilo a que hoje chamamos “minha pátria”, a Língua Portuguesa, é
uma derivação do galego, a sua origem matricial1. O Observador falou com Fernando Venâncio sobre as
suas aventuras no português.
25 Neste livro, dá-nos a ver a história da Língua Portuguesa como uma odisseia. Já não é a heroicidade
de um povo, como fez Camões, nem de um homem, como fez Homero. Podemos comparar o caminho
de uma língua a uma odisseia sem fim cheia de aventuras, perdas e conquistas?
Acho essa imagem, a da história de uma língua como uma odisseia, extremamente sugestiva. Digamos
que, no seu percurso, cada idioma passa por muitas. Ao ponto de, como é infelizmente caso comum,
30 ele soçobrar2. A tal ideia de que, sempre que morre o último falante de uma língua, o Mundo perdeu
uma enciclopédia. O nosso idioma não soçobrou, e está hoje vivíssimo. Mas poderia não ter sido nunca
nosso. Bastaria, para isso, que Portugal nunca tivesse surgido. Hoje existiria um idioma extremamente
parecido ao nosso, mas sem nós. É, concedo, um cenário ousado. Mas historicamente realista. O nosso
idioma surgiu, e fez-se grande e sólido, quando Portugal ainda não existia. Nós herdámo-lo e fizemo-lo
35 ainda maior.
Diz-se que somos um país de poetas, mas, praticamente até Camões, não podemos registar
nenhuma poesia escrita em português. Havia poetas sim, mas escreviam… em galego.
Bom, isso poderia valer até, digamos, 1400. Mas aí inicia-se um século de pouca poesia, e alguma dela
escrita já em castelhano. Quando chegamos a 1500, o português está grandemente formado, e um Sá
40 de Miranda é nele que escreve.
Joana Emídio Marques, Observador, 08.02.2020,
(texto com supressões, consultado em 14.12.2020).

1 matricial: principal; 2 soçobrar: perder-se.

Escreva, na folha de respostas, o número do item e a alínea que lhe corresponde.

1. No primeiro parágrafo, ao destacar o caráter utilitário e quotidiano das palavras, a autora pretende justificar
A. a originalidade das letras e do seu som.
B. a diversidade das suas origens.
C. a banalização da sua importância.

2. Ao recorrer às expressões «Um tesouro frágil» (linha 9) e «torcer as palavras até elas deixarem de ser rebeldes
e se tornarem submissas a um regime artificial» (linhas 10 e 11), a autora utiliza
A. a metáfora para evidenciar o valor e a efemeridade das palavras, no primeiro caso, e a personificação para
enfatizar a subordinação de palavras a regras e artifícios, no segundo caso.
B. a personificação para evidenciar o valor e a efemeridade das palavras, no primeiro caso, e a metáfora para
enfatizar a subordinação das palavras a regras e artifícios, no segundo caso.
C. a metáfora para evidenciar a resistência das palavras, apesar da sua fragilidade, no primeiro caso, e a sua
desobediência a regras e artifícios, no segundo caso.

3
3. No contexto em que ocorre, a associação da «história de uma língua» (linha 28) a uma «odisseia» (linha 28)
enfatiza, entre outras qualidades de uma língua, a sua
A. previsibilidade.
B. adaptabilidade.
C. persistência.

4. Segundo o linguista Fernando Venâncio, o surgimento do «nosso idioma» (linha 31)


A. aconteceu num tempo posterior ao Condado Portucalense.
B. sucedeu num período coincidente com a formação de Portugal.
C. ocorreu independentemente da formação de Portugal.

5. As orações subordinadas iniciadas por «que» nas linhas 1 e 9 classificam-se como


A. adjetiva relativa restritiva, no primeiro caso, e adverbial consecutiva, no segundo caso.
B. adverbial consecutiva, no primeiro caso, e adjetiva relativa restritiva, no segundo caso.
C. adverbial consecutiva, no primeiro caso, e adjetiva relativa explicativa, no segundo caso.

6. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


6.1. «Quem a conta» (linha 19);
6.2. «Portuguesa» (linha 25).
6.3. «que» (linha 8)

GRUPO III
Quando se pensa no futuro da humanidade, a primeira ideia que ocorre a muitas pessoas é a importância do
progresso científico e tecnológico. Mas não será que o progresso implica também a valorização das artes, enquanto
dimensão fundamental de uma formação de base humanista?
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a questão apresentada. No seu texto:
–  explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada
um deles ilustrado com um exemplo significativo;
–  utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).

FIM

COTAÇÕES
Item
GRUPO
Cotação (em pontos)
1. 2.1. 3. 4. B
I
18 18 18 18 18 90
1. 2. 2. 4. 5. 6.1. 6.2. 6.3.
II
8 8 8 8 8 8 8 8 64
A. B. C. CL
III
10 10 10 16 46
TOTAL 200

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