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Ministério da Educação
Universidade Federal do Amazonas
Faculdade de Letras
Curso Letras - Literatura e Língua Portuguesa

Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões: Por que é uma epopeia?


Rhanya Tavares Sobral
Universidade Federal do Amazonas – UFAM

A epopeia se trata de uma narrativa declamada em versos que discorre sobre os


feitos marcantes de um herói histórico para uma determinada cultura. Na Obra de
Camões, em Os Lusíadas, onde depois de muitos perrengues, muitas lutas,
naufrágios, amores perdidos, prisões, e muito conhecimento acumulado, o poeta
retorna para Portugal em 1570, depois de viver ao todo 17 anos em terras
estrangeiras (1553 a 1570), onde vai revisando e finalizando até conseguir uma
conferência com o atual rei Dom Sebastião a quem dedica sua epopeia, esperando
uma contribuição financeira para sua vida. O poeta apresenta sua epopeia ao rei,
fazendo sua leitura completa e o mesmo autoriza a publicação. 

O seu poema épico seria usado mais para falar dos grandes feitos dos portugueses,
no Oriente principalmente, daí se percebe a aprovação de Dom Sebastião sem
objeções. Este poema não foi escrito no conforto de seu lar, muito pelo contrário,
Camões teve de salvar a sua obra até de um naufrágio, onde chegou a perder sua
amada Dinamene, a quem dedicou grande parte dos seus sonetos.

Quanto a escolha do título, “lusíada” é um termo que vem do Luso, que na mitologia
romana significa filho de Baco ou um acompanhante de Baco. A este mito de Luso
que é atribuído para a fundação da Lusitânia, ou seja, Luso teria fundado a
Lusitânia, e uma curiosidade a parte é que nessa época a cidade de Lisboa se
chamava Olissipo, que vem de Odisseu, que em grego é chamado de Ulisses. Uma
interessante ligação, por assim dizer.

Até hoje os termos lusos e lusitanos são usados para designar os portugueses,
aliás, aquilo que é relativo a Portugal e/ou aos portugueses. Já o termo “lusíadas” foi
um neologismo (palavras novas criadas ou que já existem e que ganham outro
significado) criado em latim por um poeta chamado André de Resende. Camões
escolhe este termo para dar título ao seu poema épico. Outro ponto a destacar é
que a obra tem muita ligação com a Eneida de Virgílio, então se na Eneida temos
Enéias como personagem principal, em Os Lusíadas temos Vasco da Gama
comandado as Grandes Navegações.

Outra questão interessante é que quando Camões nomeia a sua obra de Os


Lusíadas e não Vasco da “Gameia”, por exemplo, é porque carrega uma ideia de
um herói coletivo, ou a própria pátria portuguesa como um todo. Fato é que Camões
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deixa claro desde o título que os heróis de sua epopeia são o povo português e não
apenas Vasco da Gama, que é o personagem principal deste poema, afinal, ele é
comandante das naus que vão ao Oriente.

Os Lusíadas, portanto, é um poema épico (epopeia), pois o que se tem é uma


narrativa em versos, extensa que vai contar uma história importante para uma
determinada nação, isso de forma grandiosa e heroica. Nessa epopeia temos a
navegação de Vasco da Gama e sua viagem marítima rumo às Índias. Outra
característica de um poema épico que se encontra na obra é o de incorporar lendas,
mitos e tradições populares, tem também que haver descrição de batalhas e ao
menos uma cena de banquete. Esta cena de banquete é importante porque durante
essa cena o leitor vai ter a presença de um aedo, que pode ser um bardo, um poeta,
um conhecedor de histórias ou o próprio herói da história, pode ser também alguém
que faça uma profecia. É neste momento do banquete que o aedo vai contar a
história que seja de interesse dos presentes ouvintes. Por exemplo, na Odisseia, em
meio a uma das cenas de banquete, o próprio Odisseu conta os desdobramentos da
Ilíada, lembrando que na Ilíada há um curto trecho da guerra de Tróia. Odisseu vai
contar como a guerra terminou, vai citar o cavalo de Tróia entre outros detalhes. Já
na obra de Camões, essa cena de banquete teremos Vasco da Gama contando
toda a história de Portugal (canto 3 ao canto 4), desde o mito de Luso até a
formação do estado Português ao Rei Melinde, e mais uma vez lá no final tem-se
outra cena de banquete que uma das ninfas, a Calíope, fará uma profecia. Nessas
reuniões teremos diversas histórias contadas dentro da história moldura que é a
viagem de Vasco da Gama. Numa epopeia temos o uso de pelo menos dois planos,
o plano histórico, que aqui no caso seria a própria viagem do Vasco da Gama às
índias, e o plano mítico, onde tem os deuses do Olimpo interferindo na viagem o
tempo todo. E mesmo a controvérsia de que os portugueses eram católicos, o poeta
dispensa esse detalhe, pois o que escreve aqui é uma epopeia, e a mitologia faz
parte dessa estrutura artística. Portanto, mitos greco-romanos estão aqui mais como
um recurso literário. Além de que, tanto Vasco da Gama quanto os seus tripulantes
irão rezar diversas momentos para Deus, mas quem interfere no destino dos
portugueses no plano mítico são os deuses greco-romanos, tornando assim a
história mais interessante.

Quanto a estrutura deste poema, está dividido em 10 cantos, e em cada um destes


cantos diversas coisas irão acontecer ou histórias do passado de Portugal serão
contadas, isso sem enrolação alguma, típico de uma epopeia. O que dificulta a
leitura de uma epopeia é a forma como ela é escrita, sendo uma linguagem não
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muito comum aos leitores modernos, pelo menos aos leitores iniciantes, como aqui
no caso, o uso do dicionário foi indispensável.

Ainda sobre a estrutura da epopeia, há também a divisão em cinco partes, onde no


início o autor já informa sobre o que o leitor irá ler, tem se um resumo por assim
dizer. Há também a evocação (quinta estrofe do canto l). Para escrever uma
epopeia precisa-se de inspiração, e os poetas de poemas épicos geralmente
pediam inspiração às musas, como é o caso desta obra, em que Camões faz
súplicas à musa Tágides. Logo na sequência tem a dedicatória, sendo este poema
dedicado ao rei Dom Sebastião. Depois a narração, que vai tomar a maior parte do
poema, e por fim o epílogo, onde há um arremate da história e a despedida do
poeta. 

Concluindo, dentre todos estes argumentos, a obra se inclui no gênero como


epopeia, narrando não só umas das viagens mais longas e importantes da história,
mas também a história de uma nação e seus feitos.

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