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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENGENHARIA

ESTRUTURAS DE
FUNDAÇÃO
- BLOCOS DE ANCORAGEM -

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS


ESCOLA DE ENGENHARIA DA UFMG

PROFESSOR: RONALDO AZEVEDO CHAVES


Estruturas de Fundação – Blocos de Ancoragem

ÍNDICE

ÍNDICE ............................................................................................................. 1
1. BLOCOS DE ANCORAGEM ...................................................................... 2
1.1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 2
1.2 ANCORAGEM DE CURVAS HORIZONTAIS EM CONCRETO MASSA ............................................. 2
1.2.1 EMPUXOS ................................................................................................................................................... 2
1.2.2 TRANSMISSÃO DO EMPUXO .................................................................................................................... 3
1.3 ANCORAGENS COM EMPUXO QUALQUER – CASO GERAL .......................................................... 8
1.3.1 ESFORÇOS – CASO GERAL ..................................................................................................................... 8
1.3.2 DIMENSIONAMENTO E ESTABILIDADE DA ANCORAGEM ..................................................................... 8
1.4 EXEMPLOS ........................................................................................................................................... 10

Universidade Federal de Minas Gerais – Escola de Engenharia 1

Professor: Ronaldo Azevedo Chaves


Estruturas de Fundação – Blocos de Ancoragem

1. BLOCOS DE ANCORAGEM
1.1 Introdução
Blocos de ancoragem são estruturas capazes de transmitir à fundação
esforços provenientes de longos trechos retos de tubulações (máximo em torno de
80 m), ou de seus pontos de mudança de direção.

1.2 Ancoragem de curvas horizontais em concreto massa


Nas redes de distribuição d’água os blocos de ancoragem mais comuns são
aqueles empregados nas mudanças de direção das tubulações horizontais.
Esses blocos, geralmente enterrados, são executados em concreto massa e
normalmente não assumem grande proporções. E quando isto acontece, são dotados de
armadura superficial para combater a retração do concreto e o efeito da temperatura.

1.2.1 Empuxos
As resultantes dos empuxos devem ser calculadas levando-se em conta todos
os esforços possíveis.
Nos casos das curvas horizontais essas resultantes também são horizontais e
podem ter seu cálculo simplificado desprezando-se o efeito do aumento da pressão
devida à velocidade do líquido, o que na prática tem valor bem reduzido mesmo.
A seguir indicam-se algumas curvas ou derivações mais comuns com o valor
da resultante do empuxo.

Onde:
E – empuxo resultante

p – pressão interna da tubulação

R – raio interno da tubulação

r – raio interno da tubulação reduzida

 – ângulo da curva ou derivação

E
  

(a)
O
UX
FL

2R

FIGURA 1

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O FL
UX UX U XO
FL O FL

  
2r
2r

2r
E = pr 2
E = p(2r 2. cos  - R )
2

(b)

E 2R (c)
2R

E
2R

E
FLUXO E 2r
2r

2R
E = pr 2

E = p(R2- r 2) (e)
(d) E

FIGURA 1

1.2.2 Transmissão do Empuxo


Para o equilíbrio do bloco de ancoragem, os esforços resistentes mobilizados
podem ter naturezas diferentes.
Tais esforços podem ser computados isoladamente ou em conjunto.
Para que as tubulações transmitam o empuxo aos blocos são recomendados
valores geométricos conforme a figura seguinte.
Para que as tubulações transmitam o empuxo aos solos, é recomendável que
eles sejam concretados sobre terrenos em corte. Ou então sobre terrenos não
removidos.
Serão vistos, a seguir, os procedimentos mais comuns para se obter o
equilíbrio dos blocos de ancoragem.

1.2.2.1 POR ATRITO

Principalmente nas tubulações não enterradas utiliza-se a mobilização do


atrito para o equilíbrio dos blocos de ancoragem.
A solução deste problema é simples lembrando-se que a resultante horizontal
do empuxo (EH) deverá ser, no máximo, igual à força de atrito mobilizável (F a), sobre
um fator de segurança FS = 1,2 a 1,5.

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Fa
EH 
FS

Os coeficientes de atritos máximos (tgmáx) recomendados estão indicados a


seguir.

TIPOS DE SOLO tgmáx


Argila úmida 0,30
Argila dura 0,35
Areia argilosa 0,40
Areia e pedregulho sem silte ou argila 0,50
Rocha com fendas e estratificação 0,70
Rocha sã, limpa com superfície irregular 0,80

FIGURA 3

 2 
Para solos granulares geralmente adota-se tgmáx = tg  
 3 
onde  é o ângulo de atrito do solo em questão.

Essa verificação (EH  Fa/FS) constitui a verificação ao deslizamento ou


escorregamento do bloco.
Além disso deve-se fazer a verificação do bloco ao tombamento e obter um
fator de segurança mínimo de 1,5.
Essas duas verificações podem ser escritas pelas seguintes expressões:

Deslizamento - V x tg máx  FS (FS = 1,2 a 1,5)


H

Tombamento - ME  FS (FS = 1,5)


MT

Onde: V – somatório de todas as cargas verticais


V – somatório de todas as cargas horizontais
MT e ME – somatório dos momentos de tombamento e estabilizante,
respectivamente, em relação ao ponto A (ver figura 4).

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 Normalmente despreza-se o efeito da coesão o que leva a cair nesta expressão. A
fórmula geral é V x tg máx + C x Abase  H , onde C é a coesão e A é a área da base.
F.S.  FSc

ev

 M T = eh x H

M E = ev x V
V
eh

FIGURA 4

Como, normalmente, os esforços atuantes nesses blocos de linhas de


distribuição, são apenas o empuxo horizontal da tubulação e o peso próprio (P) do
bloco, o problema é inicialmente solucionado com a pesquisa do tamanho (peso)
desses blocos.

V = P
V = EH

Assim pode ser escrito:

P x tg máx  FS
EH
ou então

P  EH x FS
tg máx

Encontrado esse valor pesquisa-se uma geometria adequada para o bloco e


passa-se à verificação do tombamento.
E para finalizar deve-se verificar as tensões verticais aplicadas no solo,
considerando o bloco como um corpo rígido.
Naturalmente que essas tensões devem ser menores que a admissível.

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1.2.2.2 COM APOIO NA SUPERFÍCIE LATERAL

Esses blocos também são muito comuns nas linhas de distribuição.


Aparecem nas tubulações enterradas onde se aproveita a capacidade de suporte
lateral do terreno.
Para se garantir a eficiência do terreno e a proteção dos tubos, adotam-se
esses blocos enterrados de modo que a camada mínima de solo seja de 60 cm para
tubos de ferro fundido, 80 cm para tubos de cimento-amianto ou de plásticos.
As tensões laterais admissíveis dos terrenos são normalmente
consideradas como a metade das tensões verticais admissíveis.

TAXA ADMISSÍVEL NO TERRENO


TAXA ADMISSÍVEL NA VERTICAL kgf/cm2
Rocha, conforme sua natureza e estado 20
Rocha alterada, mantendo ainda a estrutura
original, necessitando martelete pneumático 10
ou dimanite para desmonte
Rocha alterada, necessitando, quando muito,
3
de picareta para escavação
Pedregulho ou areia grossa compacta,
4
necessitando picareta para escavação
Argila rígida que não pode ser moldada com
4
os dedos
Argila dura dificilmente moldada com os
2
dedos
Areia grossa de compacidade média 2
Areia fina compacta 2
Areia fofa ou argila mole, escavação a pá Menor que 1

FIGURA 5

Uma vez encontrado o valor da resultante do empuxo E H e a tensão lateral


admissível H do terreno, como anteriormente, o problema recai na pesquisa da
geometria do bloco.
Chamando de h a altura dos blocos, para dois casos mais comuns de
empuxos em curvas horizontais tem-se:

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2 Caso - Bloco chanfrado

E H = 2pR sen 
2
b 
(a) 2
/2
R1
EH
(c)
b

 /2
2R R2
EH
PLANTA Esquema das forças
de empuxo e reações
(b) do solo
h/2 h/2
h

CORTE
FIGURA 7

Da figura 7-c pode-se escrever

R1 = R2 = b . h . H

R1 x cos /2 + R2 x cos /2  EH


Ou
2bh x H x cos /2  EH

2bh x H x cos /2  2 . p . R2 . sen /2

R 2 p x sen  / 2
b
h x  H x cos  / 2

R 2 p x tg  / 2
b
h x H

Encontrando o valor de b procede-se à verificação das tensões verticais aplicadas


no solo, caso sejam relevantes.

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1.3 Ancoragens com empuxo qualquer – Caso geral
Os casos já vistos correspondem à situação particular que considera os
empuxos com a resultante na horizontal.
Neles não havia a componente vertical do empuxo. Porém, o caso mais geral,
são os blocos de ancoragem de curvas ou trechos retos, enterrados ou não, que
suportam empuxos com componentes verticais e horizontais. Esses empuxos são o
somatório de vários efeitos de naturezas diversas.

1.3.1 Esforços – Caso geral

No caso geral os blocos de ancoragem devem receber e transmitir ao solo


esforços de naturezas diferentes tais como:

- hidrodinâmicos
- hidrostáticos
- efeito de temperatura
- atrito entre a tubulação e o bloco
- peso próprio do bloco, da tubulação, do líquido contido nela e do solo
- empuxo do solo
- subpressão

Para maior comodidade na verificação da estabilidade, geralmente esses


esforços são projetados segundo três eixos ortogonais.

1.3.2 Dimensionamento e estabilidade da ancoragem

A verificação dos blocos de ancoragem, submetidos ao carregamento mais


geral, segue as mesmas orientações dadas anteriormente.
Deve-se observar que a componente vertical do empuxo é somada, ou
subtraída, do peso próprio do bloco em função de seu sentido.
Isto pode, em ordem, aumentar ou diminuir o valor da força de atrito
mobilizável.

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P - peso próprio do bloco

E - empuxo resultante
Q
E H - componente horizontal do empuxo
P
E v - componente vertical do empuxo

Ev E F a =  x (P + Ev)
(a) Fa EH

EH
Ev E

Q
F a =  x (P - Ev)

P
(b)
Fa

FIGURA 8

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1.4 EXEMPLOS

1.4.1 Dimensionar uma ancoragem para uma tubulação horizontal de 500 mm, que
suporta 50 mca de pressão interna. Essa tubulação muda 45o de direção e é
enterrada em terreno argiloso duro. Prevê-se que o terreno em volta do bloco
poderá ser removido futuramente.

- SOLUÇÃO

E = 2  pR sen 
2

Q 2

=45

=
2R cm
50

FIGURA 9

p = h = 1000 kgf x 50 m = 50.000 kgf


m3 m2

EH = E = 2p x 50.000 x (0,25)2 x sem (45o /2) = 7.514 kgf

- A transmissão do empuxo ao solo deverá ser feita por atrito somente, visto que
futuramente poderá não haver contenção lateral.

Pesquisando o peso do bloco tem-se:

P  EH x FS e para FS = 1,2 tg máx = 0,35 temos


tg máx

P  7.514 x 1,2/0,35 = 25.762 kgf

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O volume de concreto deverá ser aproximadamente

V  P/ = 25.762/2.200 = 12 m3 (concreto ciclópico)

- Adotando-se uma altura de 2,0 m para o bloco de seção quadrada de lado a tem-
se:

a2 x h x 2.200  25.762

25.762
a=  2,42 m
2.200 x 2,0

Adotaremos a = 2,50 m

h = 2,00
h1
a = 2,50

EH
h2

P
C
B
PLANTA CORTE
a = 2,50

FIGURA 10

Tomando h1=h2=h/2 e verificando o tombamento em relação ao ponto C.

P  2,50 x 2,50 x 2,00 x 2.200 = 27.500(*)

Mt = EH x h/2 = 7.514 x 2,00/2 = 7.514 m x kgf

ME = P x a/2 = 27.500 x 2,50/2 = 34.375 m x kgf

FS = ME/Mt = 34.375/7.514 = 4,57 >> 1,5 OK.

- Verificação da tensão vertical no solo

MB = Mt = 7.514 m x kgf

e = M/N = 7.514/27.500 = 0,273 m = 27,3 cm < a/6 = 41,7

N  6e  27.500  6 x 27,3 
= . 1    . 1  
S  l  250 x 250  250 

1 = 0,15 kgf/cm2

2 = 0,73 kgf/cm2

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( )
* Desprezando a diferença do peso específico do concreto e do líquido contido na curva.

A tensão vertical admissível do solo poderá ser estimada pela tabela da figura 5.

v = 2 kgf/cm2 >> 1 e 2 OK.

1.4.2 Dimensionar a ancoragem anterior desprezando-se o atrito, mas sabendo-se


que se pode contar com a contenção lateral do solo.

- SOLUÇÃO

O valor do empuxo não altera

EH = 7.514 kgf

- EH/(bh)  H

Onde H = 0,5v = 0,5 x 2,0 = 1,0 kgf/cm2 pela figura 5

- Adotando a altura de 90 cm (~ 20 cm para cada lado do tubo) tem-se:

7.514
 1,0
b x 90

b  83 será adotoado b = 85 cm ()

- Para o valor de a será tomado arbitrariamente a = 0,75 b

a = 0,75 x 83 = 58  60

() Segundo a figura 2 deveria ter: h = w = 70 cm e b = L = 115 cm

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