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PRÉ - HISTÓRIA E ANTIGUIDADE ORIENTAL

O uso de representantes dos detentores de poder político para


estabelecerem contactos de vária natureza entre unidades políticas,
remonta aos tempos primitivos, logo que surgiram as primeiras
organizações de carácter político.

Não possuímos certamente documentação sobre esta matéria


relativa aos tempos pré- históricos. Mas o finlandês Ragnar
Numelin, num estudo profundo e bem documentado, publicado em
1950, sobre a diplomacia, dos povos primitivos, demonstra o
conhecimento destes povos do uso se mensageiros e enviados
entre as diversas tribos para tratarem de assuntos de interesse
comum. Este autor estendeu a sua investigação nos povos
primitivos da Austrália, da Ásia, da África e da América.

Ele conclui que estes povos possuem laços ou relações intertribais,


através do emprego de mensageiros ou enviados.

De acordo com Numelin, a ideia internacional ou pelo menos


inter-tribal é tão velha como a existência de comunidades políticas
independentes, quer sejam tribos primitivas, ou antigos Estados –
cidades ou Impérios.

Os povos primitivos escolhem os seus emissários entre os mais


importantes homens e mulheres da tribo, estas últimas são
frequentemente utilizadas em missões particularmente
importantes. Deve também observar-se que os diplomatas
primitivos, em regra gozam de imunidade pessoal e julga-se até que
possuem qualquer coisa de sagrado. Passam livremente através de
territórios hostis. A sua recepção assim como a apresentação das
suas mensagens têm lugar segundo um determinado cerimonial.

No que se refere a alta antiguidade, existem referências dispersas


ao uso de intermediários entre os povos orientais, nomeadamente
entre os egípcios, assírios, babilónios, hebreus, chineses e hindus.

1 Quanto aos egípcios, existem documentos que comprovam a


utilização de trocas de enviados entre os Faraós do Egipto e os
monarcas vizinhos 1278 (antes da nossa era). Nestes documentos,
fazem referências à enviados trocados entre o Egipto e a Assíria, a
Babilónia e o reino de Hititas.
2 Com relação aos assírios, existe uma notável biblioteca da
dinastia sargonidas, fundada por Sargon II (772-705 a.C) que
contém abundante documentação sobre a actividade externa de
Assurbanipal (668 – 626 a C) o último rei da Assíria. Nesta
documentação fazem-se numerosas referências a enviados do rei
assírio junto dos monarcas vizinhos, especialmente da Babilónia e
do Elam.

3. Os anais da velha China testemunham igualmente da existência


de regras protocolares a aplicar nas relações entre diversas nações,
se bem que o Império do Meio, sempre muito fechado, não
estimulasse muito os contactos com o exterior.

4. As Leis de Manu, que remontam ao Século III antes de Cristo e


constituem um dos pilares de civilização hindu, fazem-se
referências importantes ao uso de intermediários entre os vários
países. Nelas se encontra até a seguinte afirmação acerca da
utilidade da diplomacia “A paz e o seu contrário (ou seja a guerra)
depende dos Embaixadores, pois são estes últimos que criam e
separam os aliados. É no seu poder que se encontram os negócios
que provocam entre os reis a paz ou a guerra.

5. As referências mais significativas acerca do uso de


intermediários ou negociadores em documentos da antiguidade
oriental são talvez as que se encontram nos livros históricos do
Antigo Testamento, especialmente nos livros dos Juizes, nos livros
de Samuel, nos livros dos reis, compreendendo a época que vai do
Séc. XIII ao III antes de Cristo.

Apesar destes livros serem muito ricos em referências ao uso da


violência e estratégia militar ao narrar as relações do povo hebreu
com os outros povos, nem por isso deixam de mencionar algumas
instâncias em que o povo hebreu recorreu à política de negociação,
através de mensageiros ou enviados.

No livro de Juizes, por exemplo, refere-se que Jepta enviou


mensageiros para negociar com os Amnomitas e no livro segundo
de Samuel, diz-se que Abner que controlava a casa de Saul enviou
mensageiros à David para negociarem e terminarem com as
diferenças existentes entre as casas de Saul e de David.
Outra referência, talvez a mais interessante e significativa é aquela
feita no livro segundo dos Reis a um mensageiro do rei assírio (705
– 681 a.C) enviado ao rei da Judeia para lhe propor a submissão ao
rei de assíria. Não se poderá dizer que este mensageiro, um alto
oficial da corte do rei assírio fosse um negociador ou um
mensageiro de paz, pois a sua missão era de intimidar ou
constranger o rei da Judeia, levando-o a submeter ao seu soberano,
invocando o seu superior poderio militar e não de negociação ou
diplomacia.

O discurso do mensageiro assírio dirigido aos representantes do rei


da Judeia que foram ao seu encontro inicia-se assim: “Dizei a
Hesekiah: Assim fala o grande rei, o rei de Assíria – o que te dá
tanta confiança? Achas que as palavras ocas são tão boas como a
estratégia e força militar?
Nestas palavras se denota o reconhecimento da existência de uma
dualidade de instrumentos políticos: a negociação ou as palavras
ocas, no dizer de assírio e no emprego da força militar ou seja
estamos perante aquela passagem de paz e guerra de que falam as
Leis de Manu.
GRÉCIA

È porém, a partir da antiguidade clássica que possuímos


documentação mais abundantes e esclarecedora sobre a utilização
de enviados ou intermediários entre diversas unidades políticas.

A história grega, em particular, dá-nos exemplos bem claros da


utilização ampla e generalizada de intermediários idos de uma
cidade a outra para tratarem dos assuntos das suas respectivas
pátrias.

Estes intermediários, que nas traduções modernas são chamados


Embaixadores, eram pessoas de elevada posição, notáveis, e por
conseguinte, pessoas geralmente de idade madura.

A palavra grega para designar um enviado, usada geralmente no


plural, (pois no sistema grego, as Embaixadas eram colectivas) era
presbeis. No singular empregava-se a palavra presbeutês. O
significado destas palavras presbeis ou presbeutês era o de
“personagem importante” “pessoa notável” a que andava também
ligada à ideia de anciedade com os privilégios a ela ligados.

Uma Embaixada ou seja, uma missão desempenhada por presbeis,


era uma presbeia ou missão de pessoas notáveis.

Em Atenas, os enviados eram designados pelo povo, em princípio


entre todos os atenienses, mas algumas vezes o Senado, por
delegação especial, escolhia uma parte ou todos os membros da
missão.
Em Esparta, a escolha dos enviados era feita pelos éforos ou
magistrados que presidiam a Assembleia. O número de enviados
por cada missão era em Esparta, geralmente de três. Em Atenas as
missões eram compostas, geralmente de três, cinco ou dez
enviados.

Os enviados estrangeiros deviam apresentar-se em Atenas, perante


o Senado. Eram recebidos primeiramente pelos puritanos ou
delegação do Senado. Apresentavam então as suas credenciais e
expunham o seu mandato. O Senado apresentava depois a missão
perante a Assembleia do povo à qual a missão expunha novamente
o seu mandato. Seguia-se um interrogatório e uma discussão ou
debate, findo o qual, os enviados se retiravam a fim de se proceder
à votação. A resposta da Assembleia era-lhes depois comunicada.

Para o efeito, os enviados deviam, por conseguinte possuir


qualidades oratórias e por isso tais enviados eram escolhidos
frequentemente entre os oradores mais reputados de uma cidade.

Uma das principais fontes que possuímos para o estudo do sistema


de intermediários ou Embaixadores na Grécia antiga é Tucídides
(499 – 399 a C). Na sua história da Guerra de Peloponeso, Tucídides
refere-se frequentemente à enviados que uma das cidades - Estado
de Grécia enviava á outra para tratar de assuntos de interesse
comum ou recíproco, geralmente para celebrar pactos de aliança,
pois as cidades gregas digladiavam frequentemente em lutas de
hegemonia.

De acordo com a obra de Tucídides, deparamos com repetidas


alusões a enviados ou Embaixadores. Assim, durante a disputa
entre a Corcira e Corinto no Séc. V antes de cristo, a propósito de
Epidamus, colónia da primeira, disputa que esteve na base da
Guerra do Peloponeso, ambas as cidades procuraram obter apoio
de Atenas, enviando-lhes Embaixadores no ano de 438 a C. Os
enviados de ambas as cidades foram enviados na Assembleia de
Atenas onde pronunciam longos discursos, defendendo as suas
respectivas causas, após o que a Assembleia se reuniu a sós para
deliberar sobre qual o curso a tomar.

Pelos anos 445 a C. Corinto e outros seus aliados enviaram


Embaixadores à Esparta a fim de se queixarem dos abusos
cometidos por Atenas e convencer os Lacedemónios a entrar em
guerra com os atenienses.

Os lacedemónios não deviam decidir precipitadamente, mas deviam


tomar mais tempo para decidir. A Assembleia reuniu-se novamente
para deliberar, revelando-se uma maioria contra atenienses e
favorável à declaração de guerra conta Atenas.

O rei dos lacedemónios, Arquidamus fez um discurso do qual


defende a utilização de negociação antes de se embocar numa
acção militar. Depois de analisar as futuras consequências de uma
guerra longa e generalizada, Arquidamus concluiu: Não vos
aconselho naturalmente que cegamente ataquem, não tomeis
armas ainda, mas enviai-lhes mensageiros, apresentando queixas,
principiemos também os nossos preparativos, em primeiro lugar
procurar aliados para a nossa causa, bárbaros ou hebreus, na
esperança de obtermos, de qualquer parte recursos adicionais em
barcos ou dinheiroe ao mesmo tempo procurarmos desenvolver os
nossos próprios recursos.

E se eles derem satisfação aos nossos Embaixadores, tanto melhor,


mas se não derem, num lapso de 2 ou 3 anos deveremos finalmente
melhores preparados para atacar, se assim o decidirmos, ou talvez
quando eles tomarem conta dos nossos preparativos, poderão
ceder, porque ninguem gosta ver a sua pátria destruída. Ele até diz,
não vamos entrar num caminho que resultará antes em desgraça e
dificuldades para o Peloponeso, porque inicia-se uma guerra, mas
que ninguém sabe do desfecho da mesma, pode ser terminada com
honras, assim como dessabores.

E ninguém pense que seja por covardia que muitos Estados hesitam
em atacar uma só cidade.

Temos que ter em mente que, os nossos inimigos também têm


aliados e podem ser numerosos em relação os nossos.
A guerra é uma matéria não somente de armas, mas também de
dinheiro, porque é o dinheiro somente que torna as armas
utilizáveis. Procuremos, pois obter primeiramente o dinheiro em vez
de deixarmo-nos arrastar prematuramente pela guerra, e assim
como somos nós a sofrer a maior parte das consequências, boas
ou más, temos que ser nós a procurar formas de preveni-las. É por
isso que não vos envergonheis pela lentidão, porque pressa no
começo pode significar demora no acabar, porque entrastes na
guerra sem preparação. Ao terminar Arquidamus diz ainda: Enviai
mensageiros aos atenienses para discutir a questão e também
outros casos que os nossos aliados dizem terem sido prejudicados.

O alto magistrado que presidia à Assembleia insistiu porém na


declaração de guerra aos atenienses e tendo a questão sido
submetida navalmente à votação, a maioria pronunciou-se a favor
da guerra, não tndo atenção às prudentes palavras do seu rei
Arquidamus. Desta decisão resultou a Guerra do Peloponeso e o
conseguinte engrandecimento de Atenas.

O discurso de Arquidamus constitui de facto um notável exemplo de


defesa de negociação através de intermediários ou Embaixadores
para resolver um conflito entre Estados vizinhos. Nele se fala
inclusivamente em arbitragem, um método de resolução de
conflitos internacionais já bastante sofisticado e que só nos tempos
modernos recebeu a sua consagração pelo Direito Internacional.

Os gregos da idade clássica, tinham, portanto, uma concepção


bastante precisa da utilidade do método diplomático, ou seja o uso
de intermediários para através da negociação, procurarem resolver
os conflitos que surgiam entre as diversas cidades gregas e
promoverem as relações pacíficas entre elas.

Demóstenes afirma que um Embaixador é responsável: “Em

primeiro lugar dos seus relatórios; em segundo lugar, dos seus

conselhos; em terceiro lugar das instruções de vós recebidas.

Demóstenes fala de arautos e de Embaixadores. Os arautos eram


os mensageiros de guerra, enquanto os Embaixadores eram os
mensageiros da paz. Na Grécia antiga os arautos exerciam um
cargo permanente enquanto os Embaixadores exerciam cargos
temporários. Os Embaixadores, por outro lado, eram negociadores
que podiam discutir os assuntos d que eram incumbidos de tratar,
enquanto os arautos eram simples mensageiros, transmitindo
apenas mensagens sobre a condução das operações militares.
ROMA

Muitos autores escrevem que os romanos não tinham interesses


pela artes de negociação, preferindo a estas, as artes de guerra.

Harold Nicolson afirma mesmo que, os romanos não eram dotados


com qualquer aptidão especial para a arte de negociação. Foram
impiedosos nos seus objectivos e brutais nos seus métodos,
desenvolveram o princípio de aniquilar os seus adversários,
poupando aqueles que se lhes submetiam.
A contribuição romana para a diplomacia deve procurar-se não na

área da negociação, mas sim naquela do direito internacional. Os

romanos, embora construtores do maior império da antiguidade e

embora com qualidades guerreiras notáveis, recorriam


frequentemente à negociação e não andaram envolvidos em mais

lutas de hegemonia com os povos vizinhos do que os atenienses e

os outros povos da antiguidade. A predominância da estratégia

militar sobre a negociação não foi, pois uma característica típica

dos romanos pois a encontramos na história dos povos da

antiguidade oriental e na Grécia antiga.

Em Roma existia até uma tribuna especial, junto do Capitólio


chamado Graecostasis que, segundo refere o polígrafo romano
Marcus Terencius Varro, era o local onde os Embaixadores dos
países estrangeiros e das províncias aguardavam as suas
audiências com o Senado. Nos finais da República foi adoptado o
sistema, que consagra o mês de Fevereiro para os contactos entre
os Embaixadores e o Senado.

Em Roma, as Embaixadas eram designadas pelo órgão político a


que competia a suprema direcção da política do Estado. Na
monarquia romana, os Embaixadores (legati) eram designados pelo
rei; na época republicana as Embaixadas eram designadas pelo
Senado sob proposta do magistrado que presidia a essa
Assembleia; na época Imperial, é o Imperador que designa as
Embaixadas. Seguindo o exemplo grego as Embaixadas são em
regra colectivas, compostas de dois a dez Embaixadores com um
presidente. Os Embaixadores eram sempre escolhidos entre os
cidadãos mais notáveis e tratados com todas as honras.

Os romanos recebiam Embaixadores dos países a que reconheciam


o jus legationis, o que excluía os povos submetidos e as colónias.
Os Embaixadores dos povos amigos eram recebidos em Roma com
grande magnificência e alojados em edifícios especiais. Recebiam
alojamento gratuito e eram também convidados aos espetáculos
públicos.

No dia em que o assunto que os trazia à Roma devia ser tratado no


Senado, eram conduzidos ao Graecostasis e depois recebidos em
audiência pelo Senado. Depois de exporem o seu mandato eram
despedidos com todas as honras e acompanhados à fronteira por
um questor.

A designação corrente nos autores romanos aplicada aos enviados


ou Embaixadores é legatus, sendo uma Embaixada designada
legatione. Os simples mensageiros ou portadores de uma
mensagem eram chamados nuntii.

Nas obras dos escritores clássicos, como Tito Lívio, Ovídio e


Virgílio, encontramos também a designação de orator aplicada aos
Embaixadores reminiscentes da tradição grega transmitida aos
romanos de designar como Embaixadores, pessoas com
conhecidos dotes oratórios, ou mesmo oradores profissionais, pois
teriam que se dirigir às Assembleias políticas para defenderem a
causa das suas respectivas pátrias.

São particularmente importantes as passagens de César que se


referem à inviolabilidade dos Embaixadores revelando conceito que
os antigos tinham desse princípio. Tendo os romanos enviado
diversos emissários junto dos Venetos, em busca de trigo para
comprarem para as suas tropas, este povo altivo, que habitava a
orla marítima da Bretanha, aprisionou alguns desses enviados.
César ao saber do acontecido, resolveu imediatamente atacar os
Venetos, acusando-os de terem cometido um crime inqualificável.
Como efeito, pergunta César: Não prenderam eles e carregaram de
ferro os Embaixadores, função que todas as nações consideram
sempre como sagrado e inviolável? Depois de os ter vencido, César
decidiu punir severamente os venetos dizendo que o fazia para que
no futuro os bárbaros fossem mais respeitadores dos direitos dos
Embaixadores.

Estas passagens mostram claramente que os romanos


consideravam a inviolabilidade dos Embaixadores um princípio
fundamental que fazia parte do direito das regras, ou melhor o
património dos povos civilizados, e o seu desrespeito um crime fora
do comum mesmo entre os bárbaros.

Tal como na Grécia antiga, as tentativas de negociação directa, sem


o uso de intermediários ou legatus, são raras entre os romanos.
Referimos apenas com exemplo ilustrativo uma tentativa de
negociação directa feita pelo próprio Júlio César, quando
comandava as operações na Gália. Os germanos, comandados pelo
seu rei Ariovisto, ameaçavam frequentemente os povos da Gália
atravessando o Reno. Para o efeito, César enviou-lhe emissários e
depois de dificultosas negociações os dois chefes encontraram-se
finalmente face a face, com algumas precauções tomadas por
ambos os lados com receio de uma emboscada.

A conferência resultou numa autêntica conversa de surdos em que


cada um manteve os seus pontos de vista, não fazendo qualquer
caso das razões da outra parte. A conferência fracassou
naturalmente e César enviou Embaixadores à Ariovisto que este
mandou prender; seguia-se a guerra d que, César mais uma vez saiu
vitorioso.

IDADE MÉDIA

A queda do Império romano provocou na Europa Ocidental uma


nova situação política que não se baseava verdadeiramente em
Estados, mas sim em senhorios feudais mais ou menos
dependentes do Império ou do Papa. O uso da diplomacia declinou
bastante num quadro político durante muito tempo confuso e
caótico.

O Imperador bizantino utilizou, porém grandemente a diplomacia de


preferência à guerra. Nos séc. VIII e IV os Embaixadores bizantinos
enviaram frequentemente representantes, geralmente altos
dignatários da corte ao Papa e aos monarcas francos.

Segundo Harold Nicolson, a diplomacia, em vez de cooperação,


procurava-se a desintegração, em vez de unidade, ruptura, em vez
de princípios morais, usava-se habilidades. A concepção bizantina
de diplomacia, foi transmitida à Veneza e depois para toda a
península italiana.

A diplomacia da Idade Média tinha um sabor predominantemente italiana e na

verdade bizantina. Nicolson disse também que a diplomacia bizantina foi

igualmente herdada pela Rússia, a grande herdeira cultural de Império Bizâncio.

As relações intricadas entre o papado e o Império de Bizâncio


levaram a criação de uma representação papal quase permanente
em Constantinopla. Esta representação era assegurada por
enviados chamados “Apocrisiários”. que etimologicamente significa
“responsáveis”.

Tal como no caso dos enviados papais, os enviados dos monarcas


cristãos conservaram as designações de legatus e nuntius.

No séc. XIII surgem novas designações, Ambaxator e Orator, mas


nem com isso as designações legatus e nuntius deixaram de ser
usadas. Se no tempo romano a distinção entre legatus e nuntius
parece clara, ( o legatus o enviado e negociador e o nuntius o
simples mensageiro), na Idade Média é difícil distinguir entre um e
outro, o mesmo acontecendo com outras designações como o de
procurator.

A verdade, porém é que se tona difícil diferenciar na época medieval


um nuntius de um legatus, o mesmo acontecendo também em
muitas instâncias com um procurator um nuntius ou legatus. É
assim que muitos procuratores eram enviados apenas para dar
explicações , para apresentar desculpas ou para transmitir simples
mensagens.

Na época medieval, a terminologia nestas matérias era bastante


imprecisa e não havia ainda nem um direito internacional nem uma
teoria internacional suficientemente desenvolvido. O aspecto
importante em todas estas designações (nuntius, legatus ou
procurator) é o que se trata de um intermediário enviado por um
detentor de um poder político a outro a fim de efectivar uma
negociação. Se essa negociação era levada a cabo por um
intermediário com poderes par iniciar e concluir, sem repetidas
vezes ao seu mandante, ou se era levada a cabo através de
sucessivas mensagens transmitidas por um simples mensageiro,
pouco importa. Para a teoria diplomática, o que é essencial é que a
negociação não era feita directamente entre os monarcas ou
detentores do poder político, mas através de intermediários.

O canonista medieval Henriques de Suze observou que desde a


intenção de mandante fosse clara, não importava se o enviado era
chamado burro ou outra coisa.

Todas estas designações de enviados vieram a ser suplantados


pela designação Embaixador que começou a difundir-se na Itália no
Séc. XIII. Nos arquivos de Veneza e Génova são frequentes as
referências à Embaixadores em documentos do Séc. XIII.

Sobre a etimologia da palavra Embaixador e Embaixada originou-se


grande discussão entre os etimologistas, sem que tenha chegado a
uma conclusão definitiva.

Admite-se geralmente que estas designações provém da palavra de


origem celta ou germânica ambactus que significa vassalo, servidor,
membro da comitiva de um senhor. Alguns autores sustentam que
a palavra deriva do gótico andbahti que significa igualmente
servidor. Praticamente todas as línguas germânicas possuem uma
palavra analógica.

Nos Séc. subsequentes, ou seja séc. XIV e XV a designação de


Embaixador passou a ser uso corrente para designar qualquer
enviado, se bem que usado predominantemente para designar um
enviado de um poder laico, pois as designações de legado e núncio
passaram a reservar-se para os enviados papais. Embaixada junto
do Santo Pontífice.

A partir sobretudo dos Séc. X e XI, verifica-se uma intensificação


maior de actividade diplomática, ou seja do emprego de
intermediários nos contactos e negociações entre monarcas e
senhores feudais. Nos últimos anos da idade média, o uso de
Embaixadores é uma prática corrente e generalizada.

Na 1.ª parte da época medieval, dos Séc. V e IX verifica-se casos de negociação

directa entre monarcas, certamente devido ao carácter essencialmente pessoal

do poder imperial ou real. Nos Séc. seguintes ou seja X e XII, tais encontros

forma intensificados. Mas em ambos os períodos, a maioria das negociações

foram conduzidas por enviados, representando os respectivos monarcas.

Um experimentado diplomata do período de transição de idade


média para os tempos modernos, Philippe de Commynes (1447-
1511) apercebendo-se dos riscos e inconvenientes dos encontros
directos entre monarcas, pronunciou-se eloquentemente contra
eles. Nas suas memórias, que são uma fonte muito importante da
história da França e da Europa, Commynes dedica um capítulo
especial à condenação das negociações directas entre monarcas.

Neste capítulo observa-se que os encontros entre os monarcas


poderosos tendem sempre a agravar em vez de melhorar as
relações entre os respectivos países, justifica que as comitivas
ampliam e agravam aspectos menos agradáveis, como resultado
final de novos rancores. Segundo ele, os grandes príncipes não se
devem nunca encontrar se querem conservar-se amigos. Os 2
grandes príncipes que querem na verdade manterem relações
amigáveis não se de verão nunca encontrar, mas enviar de parte a
parte homens bons e competentes para os representar e emendar
as respectivas ausências.
IDADE MODERNA

Com o nascimento da Idade Moderna, assinalada pelas grandes


descobertas marítimas, e o renascimento, instituição diplomática
sofreu uma transformação profunda.

As exigências de contactos frequentes requeridos pelas diversas


unidades políticas italianas levaram a criação do embaixador
residente. Enquanto na antiguidade e no período medieval as
Embaixadas possuíam um carácter temporário, ainda mesmo
quando se prolongavam por algum tempo, a intensa e continuada
actividade diplomática dos Estados italianos no início da Idade
Moderna fez surgir a necessidade de representações diplomáticas
de carácter permanente. Antes do final do Séc. XV, os
Embaixadores residentes, praticamente desconhecidos em todo o
resto d Europa, passaram a ser uma instituição corrente em todas a
Itália.

Embora tenha existido casos esporádicos, em épocas anteriores em


que Embaixadores permaneceram longo tempo nos países para
onde foram enviados, o verdadeiro iniciador do novo sistema de
Embaixadores residentes deve ser considerado o senhor de Milão,
Giangaleazo Visconti que durante mais de sete anos ou seja de
Maio de 1425 a Julho de 1432, manteve um Embaixador residente
junto da corte de Sagismundo, rei da Hungria e Imperador do santo
Império Romano. Durante quase todo este tempo o rei de
Sagismundo manteve igualmente um Embaixador residente em
Milão. Em Abril de 1435, Veneza envia em Roma, com embaixador
residente, um diplomata experiente, Zacarias Bembo. Em 1448,
Veneza e Florença trocam também Embaixadores residentes. Em
1457, Nápoles mantinha um Embaixador residente em Veneza e,
igualmente, um outro em Milão por volta de 1458. Ainda em 1458
havia igualmente um Embaixador residente de Milão em Roma.

A Santa Sé começou a receber Embaixadores residentes antes de


os enviar junto das diversas cortes italianas. Durante praticamente
todo o Séc. XV, os Papas receberam Embaixadores, mas não
enviaram nenhum. Por volta de 1500 o Papa Alexandre VI, enviou
representantes permanentes para Espanha, França e Veneza. Em
1506 Júlio II, renovou a representação em Espanha. Mas a
expansão decisiva do sistema papal de representação permanente
só atingiu o seu desenvolvimento nos começo do Séc. XVII.

A partir de 1460, segundo Garrett Mattingly, Roma, no entanto, foi, e


continuou a ser por longo tempo, a principal escola e o principal
campo de acção diplomática. Foi em Roma, e no Renascimento
apenas de Roma – escreve ele – que encontramos os primeiros
sinais d qualquer coisa semelhante a um corpo diplomático
organizado.

Foi também em Roma em que um diplomata veneziano, Ermolao


Barbaro, nomeado Embaixador residente junto da corte papal em
1490, elaborou um pequeno tratado intitulado “De Oficio legati” que
se ocupa dos deveres dos Embaixadores residentes. Barbaro era
prof. Universitário, filho de um diplomata e ele próprio um diplomata
experiente que já servira antes em Nápoles. O seu tratado
destinava-se a servir de guia a um seu amigo que pretendia
iniciar-se na carreira diplomática em Veneza

Nele define os Embaixadores como aqueles “que são enviados com


simples e genéricas credenciais para conquistar amizade dos
príncipes” e descreve o principal dever desses Embaixadores da
seguinte forma: O principal dever de um Embaixador é exactamente
o mesmo de um qualquer outro servidor de um governo, ou seja,
fazer, dizer, aconselhar e conceber tudo aquilo que possa melhor
servir para preservar e engrandecer o seu próprio Estado.

Da Itália, o sistema dos Embaixadores residentes transmitiu-se ao


resto da Europa, embora não de forma uniforme e simultâneo.

A Espanha foi o 2.º país que instalou um serviço diplomático regular


que se aproximava daquele que as principais potências italianos
haviam já estabelecido. Este facto deve-se sobretudo à acção
pessoal do rei Fernando de Aragão. O serviço diplomático instalado
por Fernando Aragão era, porém, bastante desorganizado ficando
os Embaixadores frequentemente sem instruções e sem respostas
às suas cartas.

Em 1494, Maximiliano de Áustria procurou estabelecer um sistema


de Embaixadores residentes em Roma, Veneza, Milão Inglaterra,
França e Espanha. Dentro de poucos anos, o sistema d Maximiliano
desvaneceu-se por questões com os seus aliados e problemas
financeiros que sempre afligiram o Imperador.

Henrique VII da Inglaterra, fez também uma tentativa modesta d


estabelecer um sistema de Embaixadores permanentes. Durante
anos a Inglaterra manteve apenas um Embaixador residente em
Roma. Embora Espanha tivesse representada por um Embaixador
residente em Londres desde 1496, só em 1505 foi designado um
Embaixador residente inglês em Espanha. Pelos anos 1520, a
Inglaterra incrementou representações diplomáticas permanentes
nos Países Baixos, mas tarde em França e Veneza.

O primeiro Embaixador português residente foi designado em Roma


em 1512. Em 1521 foi designado um Embaixador espanhol
residente em Lisboa.

De todas as grandes potências europeias do início da Idade


Moderna, a frança foi aquela que levou mais tempo a estabelecer
um sistema de representação diplomática permanente, pois
Francisco I nas suas lutas de hegemonia contra a casa da Áustria,
preferiu sempre a negociação direita ao uso da diplomacia. E por
algum tempo esse sistema de negociação foi contudo sem, todavia,
resultados de maior.

Outras tentativas de negociação directa (aquilo que autores de


língua inglesa chamam impropriamente diplomacia pessoal) foram
tentadas nesta época, com maior ou menor sucesso, mas mesmo
as mais bem sucedidas, não foram isentas de riscos. Mittingly diz
ainda que, de vez em quando os príncipes como seus próprios
Embaixadores, e para estas ocasiões, não havia regras, as
negociações eram conduzidas com maior pompa ou com maior
informalidade.

Estes encontros pessoais entre os monarcas faziam-se despeito do


parecer contrário de Philippe de Commines a que atrás já aludimos.
Trata-se, no entanto de casos isolados pois, na generalidade dos
casos, o normal sistema de representação diplomática e a
utilização de intermediários nas negociações ente soberanos
predominava no início da Idade Moderna.
As guerras religiosas na Europa que começaram a surgir por volta
de 1560 vieram abalar o sistema de representação diplomática
permanente que parecia já consagrado. Cerca de 1589 os contactos
diplomáticos na Europa foram praticamente interrompidos a não
ser entre os países adeptos à mesma orientação religiosa. A
situação só veio a ser restabelecida com a paz de Westfália de 1648
e a partir desta data, verifica-se uma expansão e estabilização do
sistema de representação diplomática permanente em toa a
Europa.

A importância e a extensão da actividade diplomática na Idade


Moderna foi assinalada por uma considerável bibliografia dedicada
ao exercício das funções de Embaixador que surgiu especialmente
nos séc. XVI e XVII.

Voltando às negociações que culminaram com a assinatura em


1648 do tratado de Westfália elas não constituem um marco
histórico a partir do qual, como já vimos, a diplomacia sofreu
notável expansão, mas inauguraram também um novo método
diplomático, a chamada diplomacia multilareral. Contrariamente ao
que muitos autores afirmam a diplomacia multilateral não foi uma
criação do período que sucedeu à Guerra Mundial de 1914 – 1918,
mas havia já sido tentado em épocas anteriores. O que foi uma
inovação do pós-guerra de 1914, foi o sistema de diplomacia
multilateral de carácter permanente que veio a sofrer notável
incremento após a nova guerra mundial de 1939.

Outra importante reunião multilateral na Idade Moderna foi o


Congresso de Utrecht que teve lugar no início do Séc. XVIII e levou á
assinatura dos acordos conhecidos por Tratado de Utrecht,
assinados entre Janeiro e Julho de 1713. Neste Congresso que pôs
termo à guerra de sucessão da Espanha, participaram os
representantes da França, Inglaterra, Estados gerais da Holanda,
Prússia, Saboia, Polónia Lorena e Portugal-
ÉPOCA CONTEMPORÂNEA

No início da época contemporânea, a instituição diplomática


achava-se já perfeitamente consagrada e dirigida por princípios
universais baseados no costume internacional e na doutrina.

A democratização da vida política, acentuada particularmente no


séc. XIX, levou também a democratização dos quadros da
diplomacia que na época moderna eram, em grande parte,
reservados às elites aristocráticas. Uma tal transformação alargou
consideravelmente a base de recrutamento do pessoal diplomático
e embora esse facto tenha provocado consequências importantes
na organização do serviço diplomático, não alterou porém, o papel
essencial da diplomacia, ou seja, a utilização de intermediários nos
contactos entre poderes políticos diversos.

A época contemporânea, com a maior ênfase dada aos princípios


jurídicos no domínio internacional, levou ao estabelecimento das
primeiras normas convencionais sobre hierarquia dos agentes
diplomáticos e as suas respectivas precedências. Tais normas
resultaram de um novo Congresso multilateral, o Congresso de
Viena, reunido em 1815 na capital austríaca para assegurar a
situação política da Europa após a queda do império napoliónico. O
problema da precedência dos agentes diplomáticos andou sempre
ligado à precedência dos vários Estados europeus o que tornava o
problemas mais intricado e de consequências mais graves.

Sobre este problema, escreveu Harold Nicolson: “Na Idade Média


considerava-se que a ordem de precedência entre os diversos
Estado seria fixado pelo Papa e de facto existe uma escala ou lista
de categorias datada de 1504, segundo a qual os diversos
soberanos são alinhados na sua própria ordem. De acordo com esta
escala de precedências, o Imperador alemão figurava em primeiro
lugar. O rei da Inglaterra figurava nos últimos lugares da lista,
imediatamente depois do rei de Portugal. Não era de esperar que
esta fixação arbitrária de valores pudesse sobreviver às mudanças
de posição do poder nacional. Desde o princípio, a Espanha
recusou-se a aceitar a classificação do Papa segundo a qual a
Espanha recebia um lugar inferior ao da França.

Em 1661, o coche do Embaixador espanhol tentou ultrapassar o


coche do embaixador da França num cortejo em Londres, resultou
uma batalha de rua, que levou a ruptura de relações diplomáticas
entre Paris e Madrid e até à ameaça de guerra.

Um outro incidente foi num baile da corte em Londres em 1768, o


Embaixador russo sentou-se ao lado do Embaixador do Imperador, o
Embaixador da França que chegou tarde, saltou por cima dos
bancos de trás e esgueirou-se entre os dois colegas; do facto
resultou um duelo no qual o Embaixador da Rússia ficou ferido.

O Congresso de Viena decidiu sabiamente que tinha chegado o


tempo de pôr termo a um sistema tão ridículo. Foi designada uma
comissão de depois de 2 meses de trabalho apresentou o seu
relatório. Este relatório dividia os diversos países em três classes,
mas esta classificação encontrou a oposição de várias pequenas
potências e especialmente dos representantes das repúblicas. Foi
portanto adoptado o método sensato, segundo o qual, a
precedência dos representantes diplomáticos deveria ser regulada
pela sua respectiva antiguidade, ou seja, segundo a data da sua
notificação oficial da chegada à sede da sua missão.
O Réglament do Congresso dividiu ao mesmo tempo, os
representantes diplomáticos em 4 classes distintas:
1- Embaixadorres e Legados Pontífices
2- Ministros Plenipotenciários
3- Ministros Residentes
4- Encarregado de Negócios

Foi também que a ordem pela qual os Plenipotenciários deveriam


assinar os Tratados seria tirada à sorte, isso foi emendado na
Conferência de Aix – la-Chapelle em 1818 quando foi adoptado um
método mais razoável das assinaturas serem apostas segundo a
letra alfabética. O alfabeto escolhido foi, porém, o francês, o que
complicou se os EUA deveriam assinar sob letra E ou A ou U.

O acordo firmado em Viena em março de 1815 regulou apenas o


problema das classes e das procedências entre os agentes
diplomáticos. Muitos outros aspectos da actividade diplomática
continuaram, porém sem normas convencionais. Várias tentativas
se fizeram para codificar as normas aplicáveis à actividade
diplomática.

A Sociedade das Nações através da sua comissão de peritos para a


codificação do Direito Internacional, procurou fazer qualquer coisa
neste domínio, apresentando relatórios sobre as prerrogativas e
imunidade diplomática e a classificação dos agentes diplomáticos.
Os trabalhos desta comissão não tiveram, porém qualquer
seguimento político.

A Conferência de paz reunida em Versalhes em 1919, foi fortemente


influenciada pelo pensamento do Presidente Wilson, que em 8 de
Janeiro de 1918 havia proclamado os seus famosos “catorze
pontos” entre os quais um que propunha a criação da Sociedade
das Nações. Wilson presidiu pessoalmente a delegação americana
que participou nas negociações. O 1.º dos seus catorze pontos
advoga que no futuro deveria haver “Convénios de paz aberto,
negociados abertamente, depois de que não existirão mais
entendimentos internacionais privados de qualquer espécie. Harold
Nicolson observa que esse tratado foi certamente um convénio
aberto, visto que os seus termos foram publicados antes de serem
submetidos para a aprovação da autoridade soberana de vários
Estados signatários.
Não obstante a sua preparação intelectual e treino académico,
Wilson, como maior parte dos seus compatriotas estavam
apegados ao mito de que diplomatas maquiavélicos eram
responsáveis pela guerra. Confundindo diplomacia com acção
política, ele responsabilizou, não a política e os eus criadores, mas
os homens que tinham de a executar.

Wilson, com efeito, pretendendo criar uma nova era diplomática, a


diplomacia democrática, contribuiu apenas

A sexta Conferência Internacional Americana que se reuniu em


Havana em 1928 produziu a Convenção sobre funcionários
diplomáticos, que se ocupava fundamentalmente dos direitos e
deveres dos agentes. A aplicação desta Convenção foi restrito e ela
acabou por ser esquecida.

As Nações Unidas através da sua Comissão de Direito Internacional


ocupa-se também dos problemas relativos ao exercício da
actividade diplomática e pela Resolução 1450 da Assembleia Geral
de 7 de Dezembro de 1960, convocou em Viena, uma Conferência
das Nações Unidas sobre Relações Diplomáticas de 18 de Abril de
1961, que entrou em vigor em 1964 e se acha assinada pela maior
parte dos estados e que presentemente, regula fundamentalmente
as relações diplomáticas entre as nações.

Esta Convenção foi completada pela Convenção de Viena sobre a


representação dos estados nas suas relações com as organizações
de carácter universal.

Outra importante transformação da diplomacia ocorrida na época


contemporânea foi a institucionalização da diplomacia multilateral
com a criação de organizações internacionais de vários tipos
iniciados no séc. XIX com resultante do tratado de Paris de 1814 e
do Congresso de Viena de 1815, fora criada a Comissão
Internacional do Reno e pelo Tratado de Paris de 1856, que pôs
termo à guerra da Crimeia, fora criada a Comissão Internacional do
Danúbio. Em ambos os casos, se trata de organismos de carácter
permanente com representação de diversos estados.

Em 1865 foi criada a União Telegráfica Universal, que mais tarde se


transformou na União Internacional de Telecomunicações e em
1874 surgiu a União Postal Universal. Muitas outras uniões foram
criadas no decurso do séc. XIX.

Todas estas organizações de carácter permanente e multilateral


tinham uma acção limitada, ocupando-se de um sector preciso e
especializado dos interesses inter-estatais.

Em 1919, como resultado da Conferência de paz que pôs termo à


guerra de 1914, foi criada a Sociedade das Nações (SDN), a primeira
organização universal permanente de carácter político. O objectivo
central da SDN era garantir a paz e a estabilidade entre os estados e
constituía desta forma a máxima expressão da diplomacia
multilateral.

No decurso da última guerra mundial, foram lançadas as bases de


uma nova organização política de carácter universal, as Nações
Unidas, que com as suas numerosas agências especializadas,
constitui um complexo sistema de instituições internacionais
através do qual a diplomacia multilateral atingiu o seu apogeu
(auge).

As Nações Unidas a as suas agências especializadas e as


organizações regionais que surgiram no período que se segue ao
último conflito mundial nomeadamente NATO, OECD, OAS, ALALC,
CENTO, SEATO, ANZUS, OUA, CEE, CONSELHO EUROPEU,
COMECOM, vieram a dar à diplomacia multilateral uma importância
nunca antes vista.

SÍNTESE
A História estuda a génese e evolução dos factos que mais lhe
interessam.

O breve estudo que fizemos da evolução da instituição diplomática


permite-nos extrair dele algumas conclusões que consideramos
importantes para a elaboração do conceito e da teoria geral da
diplomacia.

Essas conclusões são as seguintes:

a) A utilização de intermediários entre detentores de poder


político de duas nações ou grupos políticos diferentes, existiu
sempre desde os tempos em que as sociedades se organizaram
politicamente e diversas organizações políticas sentiram a
necessidade de estabelecerem contactos.

b) Em todas as civilizações da antiguidade se recorreu ao uso de


intermediários ou diplomatas nas relações entre povos diferentes.

c) A instituição diplomática constitui um elemento importante e


constante da organização do Estado nas civilizações grega e
romana.

d) Na idade medieval embora os monarcas ensaiassem algumas


vezes encontros e até negociações directas, predominaram, no
entanto, as negociações feitas através de intermediários.

e) Algumas negociações que foram tentadas no início da época


moderna fracassaram completamente e as raras que foram bem
sucedidas foram efectuadas com grandes riscos.

f) No desenvolvimento de uma tendência que vinha já da Idade


Média, a Idade Moderna consagrou o princípio de representações
diplomáticas permanentes ou das Embaixadas residentes, o que
constitui um reconhecimento pelos diferentes Estados da
indispensabilidade da diplomacia.

g) Na idade moderna foi também consagrado o sistema da


diplomacia multilateral mas ainda com carácter eventual, para
resolver importantes problemas que interessavam a um grupo de
países.
h) No princípio da Era Contemporânea foram estabelecidas as
primeiras regras convencionais, definindo as categorias e as
precedências dos agentes diplomáticos. Estas regras convencionais
foram ampliadas a outros aspectos da actividade diplomática,
criando-se um verdadeiro estatuto internacional do agente
diplomático, na Conferência de Viena sobre relações diplomáticas
de 1961.

i) Na Era Contemporânea foi igualmente institucionalizada a


diplomacia multilateral com a criação de diversas organizações de
tipo regional ou universal, constituindo um vasto sistema de
diplomacia multilateral não menos importante que o tradicional
sistema de diplomacia bilateral.

j) Ainda na Era Contemporânea se desenvolveram grandemente


os contactos directos entre os detentores de poder político de
diversos Estados devido ao extraordinário progresso dos meios de
comunicação. Estes contactos assumiram, não raras vezes, o
aspecto de negociações directas, com ou sem preparação
diplomática prévia.

k) A constância da instituição diplomática através de alguns


milhares de anos e em todas as civilizações conhecidas, demonstra
tratar-se de uma instituição inerente à própria vida internacional,
que poderá sofrer transformações ou ser utilizada com mais ou
menos intensidade, mas que não pode ser dispensado.

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