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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Faculdade de Formação de Professores


Departamento de Letras - Setor de Estudos da Linguagem
Disciplina: Língua Portuguesa IV
Professor: Vinicius Maciel

Texto: PINILLA, Maria Aparecida de. Classes de Palavras. In: VIEIRA, Silvia Rodrigues. & BRANDÃO, Silvia
Figueiredo. Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2009.

• O estudo das classes de palavras está presente desde uma língua: o critério semântico (o que eles
as primeiras séries da vida escolar e continua sendo o significam do ponto de vista do universo biossocial
assunto principal, ou dos mais estudados, nas aulas que se incorpora na língua); o critério formal ou
de Português , tanto no ensino fundamental como no mórfico (que se baseia nas propriedades da forma
ensino médio. A partir de consultas a programas gramatical) e o critério funcional (que diz respeito ao
escolares e a livros didáticos, nota-se que, muitas papel que cabe ao vocábulo na oração).
vezes, o estudo das classes se restringe a um
conhecimento da nomenclatura apenas. • O autor ressalta que o critério semântico e o critério
mórfico se associam de maneira muito estreita, pois o
• Neves (1990, apud PINILLA, 2009), em pesquisa vocábulo é uma unidade de forma e sentido. Justifica
com seis grupos (total de 170 professores) da rede essa posição, ao afirmar que o critério semântico
oficial de ensino fundamental e do ensino médio, em isolado não daria conta da distinção entre nomes e
quatro cidades do estado de São Paulo, por meio de verbos e que a solução estaria em acrescentar o
questionários e entrevistas, mostra que todos os critério mórfico.
professores de Língua Portuguesa priorizam o ensino
de gramática. • O critério “compósito" (forma e significado) é
também usado para a caracterizar a classe de
• Para Perini (1997 apud PINILLA, 2009), “classificar pronomes. Por seu caráter dêitico, eles mostram o ser
as palavras implica elaborar uma classificação sobre
no espaço (critério semântico)e apresentam as
critérios formais (sem excluir da descrição a
categorias de pessoas gramatical, de casos e a
classificação semântica, mas separando-se
existência do gênero neutro.
nitidamente dela)”. Portanto, além do
comportamento sintático e morfológico, é necessário • Com base nesses argumentos, Câmara Jr. propõe uma
considerar, separadamente, os traços de significado. divisão das classes de palavras em nomes, verbos e
É preciso estar atento para que haja uma relativa pronomes.
homogeneidade entre os componentes da classe
quanto ao comportamento gramatical. Embora esses • O autor propõe, finalmente, a classe dos conectivos,
em princípio formas constituídas apenas por
conjuntos de palavras possam ser estabelecidos com
morfemas gramaticais, que têm por função
base em semelhanças de comportamento gramatical,
estabelecer conexão entre dois ou mais termos.
a função que eles desempenham é fundamental para
determinar suas características e morfológicas. • Resumo de trabalhos a respeito das classes de
palavras:
O QUE PROPÕE A TRADIÇÃO
• Barrenechea (1963): Separação das palavras em duas
• As definições normalmente encontradas no categorias: (i) desempenham uma função - verbos,
compêndios gramaticais são semelhantes, com substantivos, adjetivos, advérbios, coordenantes,
apenas algumas variações. Essas definições são subordinantes: (ii) desempenham duas funções
incompletas e devem ser revistas, porque simultâneas - relacionantes e verbóides.
privilegiam, seguindo a tradição gramatical, quase
que exclusivamente o critério semântico, como se • Schneider (1974): organiza um quadro dos vocábulos
pode perceber no Quadro 2, que resumo as definições com derivação (substantivos, adjetivo, numeral, verbo
presentes na maioria em gramáticas e livros didáticos e advérbio) e dos vocábulos sem derivação
usados em grande número de escolas. (preposição, conjunção e pronome)

• O quadro 2 apresenta, também, o critério ou os • Basílio (1987): trata de substantivos, adjetivos,


critérios utilizados para a classificação. Assim, verbos e advérbios, classes envolvidas em processos
algumas definições consideram os aspectos de formação de palavras.
funcional, mórfico e semântico; outras limitam-se a • Azeredo (2000): uma primeira divisão considera as
um ou dois critérios. palavras lexicais ou lesemos, também chamadas de
O QUE PROPÕEM AS PESQUISA palavras nocionais e as palavras ou instrumentos
gramaticais.
• Câmara Jr. (1970, apud PINILLA, 2009) considera
três critérios para classificar os vocábulos formais de
ALGUMAS PROPOSTAS DE CLASSIFICAÇÃO

• Oliveira et ali (1977): substantivo, adjetivo, pronome,


artigo, numeral, verbo, advérbio, conectivos
(preposição e conjunção).
• D`Ávila (1997): depois de considerar a relação entre
forma e sentido para iniciar a classificação das
palavras, a autora acrescenta a função da palavra na
frase, define em linguagem simples e clara cada uma
das classes e apresenta um quadro-resumo com o três
critérios: forma, sentido e função.
• Embora haja distinção entre os conceitos de classe e
função, fica evidente que, para definir uma classe de
palavras, é preciso usar critérios funcionais, ou seja, é
preciso definir qual o papel do vocábulo na unidade
sintagmática em que ele ocorre.
• Os elementos que compõem a unidade sintagmática,
se organizam em torno de um núcleo; dependendo do
núcleo, pode-se tratar de sintagma nominal ou de
sintagma verbal.
A QUESTÃO DO ENSINO DAS CLASSES DE PALAVRAS

• O problema das definições apresentadas nas


gramáticas e nos livros didáticos é a mistura de
critérios o que prejudica a tarefa de estabelecer
diferenças entre as classes de palavras.
• Sem negar a necessidade de trabalhar sob uma
perspectiva descritiva, é preciso ter em mente que um
ensino mais produtivo da língua está vinculado ao
conhecimento de como cada classe atua na
organização e na produção de textos. O maior
domínio das inúmeras possibilidades de expressão
que a língua oferece é o objetivo de todo professor
de Português. Sob esse ponto de vista, o estudo das
classes deveria contribuir para ampliar a expressão
oral e escrita do aluno, permitindo-lhe explorar, com
mais expressividade, as possibilidades combinatórias
das palavras na construção do texto.

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