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Crenças, Concepções e Mitos Sobre a Matemática e seu Ensino
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Crenças, Concepções e Mitos Sobre
a Matemática e seu Ensino
Objetivos
• Refletir sobre crenças e concepções de professores dos anos iniciais sobre a Matemática
e seu ensino;
• Refletir sobre mitos sobre a Matemática e seu ensino;
• Discutir a influência de crenças, concepções e mitos no ensino de Matemática.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl-
timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
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Crenças, Concepções e Mitos Sobre a Matemática e seu Ensino
Contextualização
Você já deve ter ouvido algumas frases ditas como verdadeiras, mas que, na verdade,
não revelam fatos. Leia algumas delas:
“Não sabia e não gostava de Matemática”; “Nunca tive bons professores, tinha medo de alguns pro-
fessores e tinha certeza de que a Matemática não era para mim”; “ Tinha muito medo da Matemática
e como gostava de crianças decidi: vou ser professora, pois não preciso de Matemática para ensinar as
crianças.” (NILCE)
“No começo da escola eu gostava muito das aulas de Matemática. Mas depois passei a detestar... não
me lembro bem quando isso começou. O que me lembro é que na primeira série eu ia bem em Mate-
mática.” (VERINHA)
“A Matemática não é para todos, só pessoas inteligentes é que podem aprendê-la.” (NATALI)
“A Matemática é abstrata e poderosa.” (NEIDE)
Esses comentários são de professores que participaram de pesquisa em 2002 para elaboração de tese
de doutorado de Curi (2005).
E você? O que pensa sobre esses comentários? Concorda? Discorda? Tem opinião
semelhante?
Pense sobre isso e leia o texto que vai ajudar a desmistificar crenças, concepções e
mitos sobre a Matemática e seu ensino.
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Sobre Crenças e Concepções
Certamente você já ouviu falar muito em crenças e concepções, mas o que significam
essas palavras? O que autores e pesquisadores pensam sobre esses temas?
A autora espanhola Gómez-Chacón (2002) afirma que as crenças fazem parte do co-
nhecimento do domínio cognitivo, mas são compostas também por elementos afetivos
e sociais. Ela destaca que as crenças interferem nos conhecimentos e nas práticas de
professores. As características do contexto social têm influência forte sobre as crenças,
visto que muitas se adquirem por meio de um processo de transmissão social. Segun-
do a autora, as crenças do estudante se categorizam em termos de objetos de crença:
crenças sobre a Matemática, sobre ele mesmo, sobre o ensino de Matemática e sobre o
contexto social no qual a Educação Matemática acontece.
Outros autores espanhóis, Blanco & Contreras (2002), comentam que as crenças
influem nos conhecimentos dos estudantes que fazem cursos de Licenciatura para ser
professor. Eles fazem uma afirmação interessante sobre a influência das crenças na
consecução do currículo, afirmam que crenças e atitudes relacionadas à Matemática fun-
cionam como filtros quando professores se deparam com novas propostas curriculares.
Em sua tese, Curi (2005) afirma que, nas escritas de memórias do tempo de estudan-
tes das professoras que participaram da pesquisa, surgiam relações que elas tinham com
a Matemática, com o que aprenderam de Matemática, com seus antigos professores,
com o ensino de Matemática do seu tempo de estudante, apontando a influência dessas
relações na sua prática profissional.
Que lembranças você tem dos seus antigos professores e do ensino de Matemática? Essas
lembranças exercem influência em sua prática? Que tipo de influência?
Pense sobre isso e continue a leitura do texto.
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Crenças, Concepções e Mitos Sobre a Matemática e seu Ensino
A autora destaca que as professoras manifestavam uma ideia de fracasso com relação
à aprendizagem de Matemática, o que gerava atitudes desfavoráveis quanto a essa área
do conhecimento, como é possível perceber no trecho a seguir:
Não tinha boas relações com a Matemática. Sempre fui “ruim” em
Matemática e sentia muito medo e vergonha. As atitudes negativas
que minhas professoras transmitiam levavam a resultados não satis-
fatórios. Passei por várias escolas, mas nunca consegui me identificar
com a Matemática. Tinha medos e traumas, que me acompanharam
por muito tempo. (MARIA)
Curi (2005) destaca que, em sua pesquisa, as professoras se sentiam “pouco inteligen-
tes” e dependentes de livros e de outras pessoas para aprender e ensinar Matemática.
A imagem que elas tinham da incapacidade para aprender Matemática era muito forte e
só foi superada com o processo de formação continuada a que estavam se submetendo.
Curi (2005) afirma que a maioria das professoras que participou da pesquisa con-
sidera que a relação que tinham com Matemática influenciou na escolha profissional;
algumas acrescentaram que, embora não houvesse interferência na opção pela carreira,
não escolheriam a área de Matemática para seu trabalho.
A percepção de que não sabia Matemática e de não gostava de estu-
dar essa matéria teve muita influência na minha escolha profissional,
basicamente fugi da Matemática quando optei por fazer o curso de
magistério. (TEREZINHA)
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Gómez-Chacón (2002) afirma que os estudantes que acreditam que quase todos os
problemas de Matemática se resolvem por meio de fórmulas, regras, consideram que
ser bom em Matemática é aquele que é capaz de aprender, recordar e aplicar conceitos,
fórmulas, regras e procedimentos. Acreditam que os exercícios do livro são solucionados
apenas pelos métodos apresentados no próprio livro, nas explicações que precedem os
exercícios e consideram que aprender Matemática é usar seu tempo para rever métodos
que o livro propõe mais do que raciocinar sobre os problemas.
A autora revela que a escrita de memórias permitiu analisar a reflexão das profes-
soras sobre suas lembranças como alunas, “do que” e “como” aprenderam Matemá-
tica. Destacou da análise que as professoras tinham uma relação triste e pobre com
a Matemática escolar. Em geral, não gostavam de Matemática, nem lhe davam muita
importância, mas também denotavam uma ligação pobre com essa área do conheci-
mento, porque demonstravam que não construíram conceitos básicos (muitas vezes,
nem procedimentos).
Curi (2004) destaca ainda atitudes negativas das professoras com a resolução de
problemas, à própria Matemática e ao seu ensino e, outras vezes, ao perfil do professor
que ministrava essas aulas, fato que as professoras reconheciam como “falta de sorte”.
A pesquisadora revela que a crença das professoras de que eram incapazes de apren-
der Matemática e que não possuíam o “dom” para essa disciplina proporcionou imagens
negativas delas mesmas com relação à Matemática e atitudes de predisposição desfavo-
rável relativamente a essa área do conhecimento.
Em consonância com outros autores, como Azcárate (1999), por exemplo, Curi
(2005) revela que as crenças de professores se modificam no decorrer de atividades for-
mativas que apresentam investigações de problemas práticos profissionais e o contraste
com diferentes fontes de informação.
Você considera que sofre influências “do que” aprendeu de Matemática e do “como apren-
deu” essa disciplina na escolha dos conteúdos matemáticos que ensina a seus alunos?
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Quanto aos conteúdos matemáticos que adquiriram quando realizaram o curso que as
preparou para exercer o magistério, Curi (2005) revela que algumas professoras decla-
raram que nunca aprofundaram os conhecimentos matemáticos e que discutiam apenas
alguns tópicos previstos para serem ensinados nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Segundo a pesquisadora, as professoras que participaram de sua pesquisa não foram
capazes de apontar conteúdos matemáticos que aprenderam e que não ensinam ou,
ao contrário, aqueles que nunca aprenderam e que devem ser ensinados a seus alunos.
Nenhuma delas recordou-se de não ter estudado conteúdos relativos à Estatística que
atualmente fazem parte das indicações da BNCC.
Curi (2005) comenta sobre os depoimentos das professoras quando se referiam que
as aulas de Metodologia da Matemática no curso de magistério eram mais voltadas para
a confecção de cartazes, a elaboração de materiais que poderiam ser usados para ensi-
nar, com a organização de festas escolares, do que com o desenvolvimento de discussões
que permitissem aos alunos maior aprofundamento com relação aos conteúdos matemá-
ticos a serem ensinados e com as didáticas desses conteúdos.
Segundo Curi (2005), algumas professoras declararam ter estudado nas aulas de
Metodologia de Matemática os mesmos conteúdos que haviam aprendido no Ensino
Fundamental e da mesma forma como seus professores haviam ensinado e ainda não
sabiam o que deveriam ensinar a seus alunos, conforme depoimento.
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Lembro ainda que minha professora de Metodologia ensinou porcen-
tagem, equação do segundo grau, múltiplos e divisores. Ela ensinava
como resolver as equações, como calcular o m.d.c., m.m.c. Ainda
lembro que um era “deitado” e outro “de pé”. Certamente era isso que
ela achava importante que o futuro professor aprendesse para poder
ensinar. Se estivesse dando aula para a 4.ª série acho que ensinaria
porcentagem, m.d.c., m.m.c.; a equação do segundo grau não ensina-
ria, pois sei que é da 8.ª série. (NELI)
Cabe salientar que Curi (2005) afirma que as professoras, no início das escritas de
memórias, possuíam um discurso de que a Matemática a ser ensinada deveria ser a do
cotidiano e que gostariam de aprender a ensinar Matemática de forma menos traumá-
tica. A autora salienta que as professoras não conseguiram dar exemplos de conteúdos
matemáticos utilizados no dia a dia, como os gráficos. Talvez as crenças das professoras
de que a Matemática era uma disciplina sem atrativos, difícil, cheia de fórmulas, números
sem sentido e que seus professores não sabiam facilitar a aprendizagem as levassem a
explicitar a ideia de que nunca conseguiriam aprender Matemática, mas, se soubessem
como ensiná-la de forma “lúdica e prazerosa”, estariam fazendo muito mais do que seus
professores fizeram por elas, como revelam alguns depoimentos:
A Matemática para ser aprendida deve ser lúdica e prazerosa, não da
maneira que aprendi. (TEREZINHA)
Em sua pesquisa, Curi (2005) revela que as professoras percebiam diferenças entre
a Matemática que hoje ensinam e aquela que aprenderam na época em que estudaram.
Elas declararam que seus alunos possuíam uma boa relação com a Matemática e que
gostavam de aprender Matemática. A hipótese de Curi (2005) é que o grande propó-
sito dessas professoras era estabelecer uma relação de “prazer” de seus alunos com
a Matemática sem, contudo, se preocupar, de modo significativo, com o ensino e a
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aprendizagem dessa área do conhecimento. E conclui que, talvez, pela experiência ne-
gativa que tiveram com a Matemática, as professoras estavam muito mais empenhadas
em “como desenvolver nos seus alunos atitudes positivas com relação à Matemática” do
que “no que e como ensinar Matemática a seus alunos”. Na opinião da pesquisadora,
relacionar a Matemática escolar com a Matemática do dia a dia faz com que essa disci-
plina pareça menos estranha, menos assustadora e mais prática do que no tempo em
que essas professoras estudaram.
Para o autor, quando certas concepções são estabelecidas e admitidas como verda-
deiras, com base apenas no senso comum, conscientes ou não, acabam influenciando o
ensino da Matemática, trazendo consequências para a organização de atividades, para
as práticas do professor e para as aprendizagens dos estudantes.
Quando se refere ao mito “a Matemática é exata”, Machado (2011) afirma que esse
mito envolve a concepção de que todas as afirmações em Matemática são verdadeiras
ou falsas, que, por esse motivo, são sempre demonstráveis e que o conhecimento ma-
temático é expresso em números. Machado apresenta o exemplo da divisão de 1m de
fita em 3 partes iguais. Dessa forma, cada parte mede 0,333... e a soma das 3 partes
dá 0,999... e não 1m como se espera. Segundo o autor, isso revela que a transposição
dessas grandezas para a representação numérica é limitada e ajuda a desmistificar o
mito: a Matemática é exata.
Curi (2005) mostra que a ideia da exatidão da Matemática repercute no ensino quan-
do o professor considera que há apenas uma maneira correta de se resolver um proble-
ma, sempre pautado nas aprendizagens dos algoritmos ensinados anteriormente.
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Um mito (em grego clássico: μυθος; transl.: mithós) está vinculado às condições históricas e étnicas relacionadas a
uma dada cultura, que procura explicar certas ideias do senso comum, sem fundamento científico, e voltadas a uma
certa comunidade. Essas ideias são admitidas como verdadeiras e usadas como tal. O mito depende de um tempo
e espaço para existir e ser compreendido.
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Curi (2005) constata uma contradição nas respostas das professoras que participaram
de sua pesquisa quando, ao mesmo tempo em que diziam que a Matemática é abstrata,
difícil e para compreensão de poucos, utilizavam-se de material concreto (manipulável)
em suas aulas. Ela comenta que, ao considerar a Matemática abstrata e querer que ela
seja mais atraente para os alunos, o professor usa materiais manipuláveis, mesmo que
desprovidos de significações para os que estudantes que o manipulam.
Para esse autor, quando se admite uma predisposição inata para o aprendizado ma-
temático, pode-se concluir que esse conhecimento não pode ser aprendido por todas as
pessoas, o que leva à constatação de que nem todos os alunos são capazes de aprender
Matemática. Quando faz essa discussão, o autor não se refere a talento para se tornar
um matemático profissional, mas à capacidade de todo cidadão de usar a Matemática
para a representação da realidade.
Curi (2005) destaca que essa crença de que nem todos são capazes de aprender Ma-
temática pode trazer como consequência a reprovação de muitos alunos em todos os
graus de ensino, sem reflexão sobre os motivos da falta de aprendizagem. Essa crença
pode legitimar a ideia de que a Matemática é para aqueles que têm capacidade para
aprendê-la, excluindo estudantes muitas vezes da escola, e também de obter um conhe-
cimento fundamental para a sociedade.
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Crenças, Concepções e Mitos Sobre a Matemática e seu Ensino
Quais desses mitos você conhecia? O que podem revelar para o ensino de Matemática?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Adaptação e validação de uma escala de atitudes em relação à matemática
BRITO, M. R. F. de. Adaptação e validação de uma escala de atitudes em relação
à matemática. Revista Zetetiké. São Paulo: UNCIAMP. v.6. n.9. jan./jun. 1998.
Leitura
Concepções e Crenças dos Professores de Matemática: pesquisas realizadas e significado dos
termos utilizados
CURY, H. N. Concepções e Crenças dos Professores de Matemática: pesquisas rea-
lizadas e significado dos termos utilizados, 1999.
https://bit.ly/2tf1n6v
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Crenças, Concepções e Mitos Sobre a Matemática e seu Ensino
Referências
AZCÁRATE, M. P. Estrategias metodológicas para la formación de maestros. In:
CARRILLO, J.; CLIMENT, N. Modelos de formación de maestros en matemáticas.
Huelva: Universidade de Huelva, 1999. p. 17-40.
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