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Metodológicos do
Ensino de Matemática
Material Teórico
O Ensino de Matemática
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
O Ensino de Matemática
• Introdução;
• Organização dos Conteúdos Matemáticos na BNCC (2017);
• Resolução de Problemas;
• O recurso às Tecnologias da Informação e da Comunicação;
• O Recurso aos Jogos;
• O Uso de Tarefas Investigativas.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Discutir o currículo de Matemática dos anos iniciais, traçando um paralelo com o que você
estudou na sua escolaridade básica;
• Refletir sobre o ensino de Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental;
• Ampliar conhecimentos sobre perspectivas metodológicas e didáticas para o ensino
de Matemática;
• Fomentar discussões sobre as indicações curriculares propostas em documentos atuais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Ensino de Matemática
Contextualização
Nos tempos atuais, a Matemática a ser ensinada precisa ser pensada como um
corpo de conhecimentos que, juntamente com outras áreas, deve contribuir para
a compreensão e ação no mundo contemporâneo e para o desenvolvimento do
indivíduo numa perspectiva de formação para a cidadania. Em função disso, alguns
problemas no ensino dessa área do conhecimento devem ser enfrentados, tanto
em relação à organização curricular quanto em relação às questões de natureza
metodológica e didática, e também devem ser incorporadas discussões de ações
didáticas com base em pesquisas atuais de Educadores Matemáticos.
Não sabia e não gostava de Matemática. Nunca tive bons professores. Ti-
nha medo de alguns professores e tinha certeza de que a Matemática não
era para mim. Tinha muito medo da Matemática e gostava de crianças.
Decidi: vou ser professora, pois não preciso de Matemática para ensinar
as crianças. (CURI, 2004, p.114)
Esse tipo de vivência deve ser problematizado, pois, ao contrário, esses pontos
de vista, certamente, influenciarão negativamente na atuação desses professores.
Nesta Unidade, faremos algumas problematizações sobre esse assunto.
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Como aprendi
Matemática?
Figura 1
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UNIDADE O Ensino de Matemática
Introdução
No último século, a Educação Matemática vem se consolidando como uma área
científica, e cresceu substancialmente a quantidade de pesquisas que fazem referên-
cia às estratégias de ensino de Matemática, ao pensamento do professor e que tam-
bém buscam compreender as aprendizagens e dificuldades dos alunos em relação a
um determinado tema, ao papel da motivação e dos interesses dos alunos sobre as
aprendizagens, entre outros aspectos.
O documento, por sua vez, destaca que a Matemática não se limita somente à
contagem, medição de objetos, grandezas – e das técnicas de cálculo com os núme-
ros e com as grandezas –, visto que também explora fenômenos de caráter aleatório.
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A Matemática cria sistemas abstratos, que organizam e inter-relacionam
fenômenos do espaço, do movimento, das formas e dos números, as-
sociados ou não a fenômenos do mundo físico. Esses sistemas contêm
ideias e objetos que são fundamentais para a compreensão de fenôme-
nos, a construção de representações significativas e argumentações con-
sistentes nos mais variados contextos. (BNCC, 2017, p. 265)
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UNIDADE O Ensino de Matemática
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a lista das ideias fundamentais em Matemática, ela não é tão extensa, pelo
fato de essas ideias estarem presentes no estudo de uma diversidade de
objetos do conhecimento. (CURI, 2019, p.39)
Tabela 1
Unidade Temática Ideia Fundamental Habilidade
(EF02MA02) Fazer estimativas por meio de
estratégias diversas a respeito da quantidade
Números Aproximação
de objetos de coleções e registrar o resultado da
contagem desses objetos (até 1000 unidades).
(EF02MA17) Estimar, medir e comparar
capacidade e massa, utilizando estratégias
Grandezas e Medidas Aproximação pessoais e unidades de medida não padronizadas
ou padronizadas (litro, mililitro, grama e
quilograma).
(EF04MA06) Resolver e elaborar problemas
envolvendo diferentes significados da
multiplicação (adição de parcelas iguais,
Números Proporcionalidade
organização retangular e proporcionalidade),
utilizando estratégias diversas, como cálculo por
estimativa, cálculo mental e algoritmos.
(EF08MA13) Resolver e elaborar problemas que
Álgebra Proporcionalidade envolvam grandezas diretamente ou inversamente
proporcionais, por meio de estratégias variadas.
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UNIDADE O Ensino de Matemática
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dos alunos. Assim, a leitura, a interpretação e a construção de tabelas e
gráficos têm papel fundamental, bem como a forma de produção de texto
escrito para a comunicação de dados, pois é preciso compreender que
o texto deve sintetizar ou justificar as conclusões. (BNCC, 2017, p. 275)
Cada uma dessas unidades pode ser explorada de modo capilar, dependendo
apenas do ano de escolarização.
Resolução de Problemas
Tradicionalmente, nas aulas de Matemática, o problema é usado como aplica-
ção de conteúdos já estudados, ou seja, o professor ensina a técnica operatória da
adição e depois passa uma lista de problemas para serem resolvidos por essa ope-
ração. Com esse foco, o problema não mobiliza estratégias de resolução e funciona
mais como um exercício de aplicação do que já foi estudado.
Quando se age dessa forma, ao final do ensino das quatro operações básicas, o
professor propõe uma lista de problemas para serem resolvidos e as crianças pre-
cisam identificar qual operação vai resolver o problema. Surgem, então, questões
dos tipos: “Esse problema é de mais ou de menos?”; “Qual operação devo usar?”,
entre outras.
Tabela 2
‘Problema Exercício
• Instrumento para consolidar
• Instrumento de aquisição
conhecimentos e habilidades;
No ensino de conhecimento;
• Instrumento para verificar
• Objeto de ensino.
conhecimentos e habilidades.
Privilegia Processos. Produtos.
• Escolhe os problemas; • Escolhe os exercícios;
O professor
• Acompanha os processos. • Corrige e avalia os produtos.
O aluno tem um papel Produtivo. Executivo.
Fonte: D’Amore, 2007, Capítulo 9, p. 300
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UNIDADE O Ensino de Matemática
Para as autoras citadas, a seleção de problemas para serem propostos aos alunos
deve ser criteriosa, pois o problema escolhido deve permitir conexões com outras
ciências e os diferentes ramos da matemática, gerando novos conceitos e novos
conteúdos. (ALLEVATO; ONUCHIC, 2003).
O recurso às Tecnologias da
Informação e da Comunicação
A BNCC (2017) aponta o uso de tecnologias digitais de informação e comuni-
cação como uma das competências específicas para o ensino de Matemática na
Educação básica, para que os estudantes possam se comunicar, acessar e propagar
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informações, construir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo
tanto na vida pessoal quanto coletiva.
A escolha desses objetos deve ser feita em função dos objetivos que pretende
atingir e, também, da concepção de aprendizagem do objeto, se ele é dirigido mais
a um trabalho para testar conhecimentos ou se procura levar o aluno a interagir
com o programa, possibilitando a construção de conhecimento.
É possível explorar o computador, tablets e outros recursos tecnológicos nas aulas de Ma-
Explor
temática para incentivar a participação dos alunos e a comunicação escrita? De que forma?
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UNIDADE O Ensino de Matemática
Para crianças pequenas, os jogos são fonte de significado, pois possibilitam com-
preensão, geram satisfação, formam hábitos que se estruturam num sistema.
As crianças pequenas repetem um mesmo jogo várias vezes, mesmo que ele
deixe de ser desafiante. Essa repetição possibilita à criança perceber regularidades
e deve estar presente na atividade escolar.
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para provocar os estudantes a analisarem suas jogadas (previsão de jogo,
análise de possíveis jogadas a serem realizadas, constatação de “jogadas
erradas” etc.).
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UNIDADE O Ensino de Matemática
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
O Jogo e a Matemática no Contexto da Sala de Aula
GRANDO, R. C. O jogo e a matemática no contexto da sala de aula. São Paulo:
Paulus, 2004.
Investigações Matemáticas na Sala de Aula
PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H. Investigações matemáticas na sala de
aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Leitura
O Ensino de Matemática em Questão: Apontamentos para a Discussão e Implementação do Currículo da Cidade
http://bit.ly/37kDZ5Q
Explorar e Investigar em Matemática: Desafio para Estudantes e Professores
http://bit.ly/2SmOBNl
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UNIDADE O Ensino de Matemática
Referências
ALLEVATO, N. S. G.; ONUCHIC, L. R. A resolução de problemas e o uso do
computador na construção do conceito de Taxa Média de Variação. Revista de
Educação Matemática. São Paulo, n.8, p.37-42. 2003.
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RECIFE. Anais do VIII Encontro Nacional de Educação Matemática. Recife:
UFP, 2004.
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de Matemática
Material Teórico
O Ensino dos Números Naturais e do
Sistema de Numeração Decimal
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Discutir as mudanças no ensino de Matemática em relação aos números naturais;
• Refletir, ainda, sobre concepções de ensino e aprendizagem dos números naturais e a
contribuição de diferentes teorias e pesquisas sobre o tema, fazendo um paralelo de
como se ensina esse tema e o que as teorias e as pesquisas atuais trazem de contribuições
para avanços nas aprendizagens das crianças.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
Contextualização
Os avanços da Pedagogia e da Psicologia provocaram mudanças no foco do
ensino dos Números Naturais. As investigações sobre a construção do conceito de
número foram impulsionadas pela teoria de Piaget e também de sua colaboradora
Kamii. No entanto, ao longo da década de 1990, as investigações sobre a constru-
ção do conceito de número receberam novos olhares e novas contribuições. Uma
delas é a de Michel Fayol. Outra importante contribuição é a das pesquisadoras
argentinas Delia Lerner e Patrícia Sadovsky.
A análise dos trabalhos dos diferentes autores revela pontos comuns, mas tam-
bém evidencia que a ênfase dada por eles a um determinado aspecto do processo
de construção do número é bastante peculiar.
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O Ensino dos Números Naturais
Na década de 1980, educadores brasileiros entraram em contato com as ideias
de Piaget sobre a construção do número. Esse autor defendia a importância de
se trabalhar com atividades pré-numéricas (classificação, seriação e sequenciação)
que, no seu entender, possibilitavam à criança construir o conceito de número. Des-
sa forma, nas orientações curriculares da época, havia recomendações para que,
em sala de aula, fossem desenvolvidas atividades de seriação, classificação e cor-
respondência termo a termo. Essas orientações curriculares destacavam também o
uso de materiais concretos nas aulas e apontavam a importância do trabalho com
os denominados Blocos Lógicos em atividades que visavam ao desenvolvimento do
raciocínio lógico.
Kamii, seguidora de Piaget, também teve muita influência para educadores bra-
sileiros. Ela considera que o uso de desenhos e a manipulação de objetos não facili-
tam a aprendizagem de conceitos numéricos pela criança. Ela defende também que
a construção do número se dá pela abstração reflexiva. Destaca a importância do
papel do professor que deve proporcionar um ambiente de aprendizagem em que
as crianças entrem em contato com números falados e escritos e façam relações
entre objetos, em vez de focalizar apenas a quantificação. Para a autora, a estrutura
lógico-matemática do número é construída pela criança e emerge a partir de ativi-
dades que permitam o estabelecimento de relações. Ela conclui que o conceito de
número é criado mentalmente pela criança e posiciona-se contra as cópias excessi-
vas de listas de números, geralmente propostas para a criança.
Que mudanças significativas com relação ao ensino você observa a partir da década de 1990?
Explor
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
Fayol (1996) defende que a aquisição da sequência verbal depende dos diferen-
tes estímulos do ambiente social e que é o componente linguístico que permite a
denominação de número. Ele destaca que, mesmo sem compreender as funções
do número, as crianças percebem, desde pequenas, a diversidade de situações em
que o número é usado. Fayol afirma que a utilização da notação posicional causa
dificuldades para a compreensão das crianças e cita como exemplo a passagem da
enumeração e contagem para codificação e decodificação.
Em relação a números com magnitudes diferentes, a criança diz que entre 12345
e 98, o número 12345 é maior porque “é mais comprido” ou “tem mais números”.
Assim, os dados sugerem que as crianças reconhecem a magnitude de um número
pela quantidade de algarismos e, se eles têm a mesma quantidade de algarismos,
comparam o primeiro algarismo de cada número.
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Figura 1
Fonte: Getty Images
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
As atividades numéricas desenvolvidas nos anos iniciais da escolaridade básica devem dar continuidade
às experiências vividas pela criança fora da escola. Conhecer o que as crianças pensam a respeito do uso
dos números é o ponto de partida para a formulação de uma nova didática para o ensino de números.
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O Sistema de Numeração Decimal
O nosso sistema numérico, denominado de Sistema de Numeração Decimal, foi
criado por hindus e divulgado pelos árabes, por isso é considerado de indo-arábico.
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
As características do Sistema de Numeração Decimal não devem ser colocadas como regras
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decomposição de um número, os alunos desconsideram o valor posicional do
algarismo no número;
• Nos números com zero intercalado, os alunos apresentam um procedimento
comum na decomposição numérica para suprir a ausência de quantidade, a
criança sente a necessidade de colocar o zero para ocupar a “casa vazia” do
número, como nos exemplos:
• 1908 = 1000 + 900 + 0 + 8 ou 108 = 100 + 00 + 8
• Nos casos de escritas numéricas com o zero intercalado, os registros revelaram
mais uma vez inconsistências na compreensão do valor posicional que o alga-
rismo ocupa no número, como, por exemplo: 3000 + 60 + 8 = 3608;
• No procedimento de composição de números, os alunos apresentaram melhor com-
preensão e domínio, ainda que muitos concebam esse procedimento como uma
operação aritmética apoiando-se na propriedade aditiva do sistema de numeração e
na apresentação das multiplicações organizadas separada pelo sinal da adição;
• Os alunos mostraram seus conhecimentos com números até a ordem das uni-
dades de milhar. Com números dessa ordem de grandeza, percebem a rela-
ção entre a posição do algarismo e o valor dele no número, decompõem e
compõem números com base na escrita numérica apresentada e procuram
representar a escrita numérica baseando-se em informações extraídas da fala
e do conhecimento prévio a respeito da escrita de números de ordem menor;
• No que se refere à influência sonora na escrita numérica, em situações de
decomposição do número, o apoio na leitura do número pode levar a alguns
procedimentos desnecessários, como a representação do zero para suprir a
ausência de quantidade na classe, por exemplo: 8 001= 8000 + 00 + 01.
A pesquisa realizada permitiu algumas ponderações a respeito do tema. A com-
preensão das crianças das noções de agrupamentos e de contagem de agrupamen-
tos é gradativa e parece desenvolver-se, primeiramente, com números da ordem
das dezenas. Consideramos que essa compreensão se amplia à medida que se faz
um trabalho com números de diferentes ordens de grandeza, possibilitando que os
alunos percebam que as características do Sistema de Numeração Decimal podem
ser generalizadas para números de qualquer ordem de grandeza.
No que se refere à resolução de problema envolvendo agrupamentos e trocas,
observou-se que o índice de erro foi superior ainda, o que parece ser decorrente
de práticas de ensino baseadas em tarefas por repetição e memorização em que a
leitura e escrita numérica são aplicadas com a intenção de sistematizar regras sin-
táticas do sistema, contradizendo as propostas atuais, presentes nos documentos e
matrizes curriculares.
Os dados contrastam um pensamento persistente e comum acerca do ensino
do sistema de numeração. Em geral, pensa-se que, como a criança de cerca de 10
anos já sabe os números até a unidade de milhar, a mesma será capaz de gene-
ralizar e ler um número de qualquer ordem de grandeza, mas isso não aconteceu
nessa pesquisa.
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
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falando 1, 2, 3, 4 e depois conta os 5 objetos falando 1, 2, 3, 4, 5 e, em
seguida, conta novamente todos os objetos, falando 1, 2, 3, ...9);
2. No segundo nível – “conta-ambos” –, a criança usa dois procedimentos de
contagem: conta inicialmente os 4 objetos, falando 1, 2, 3, 4 e faz uma
contagem para os objetos seguintes, falando 5, 6, 7, 8, 9;
3. No terceiro nível – sobrecontagem –, a criança usa apenas um procedi-
mento de contagem: conta diretamente 5 objetos, falando 5, 6, 7, 8, 9 sem
precisar contar os quatro primeiros objetos, usando o total da contagem;
4. No quarto nível – sobrecontagem a partir do maior –, a criança inicia a
contagem de 5 objetos, falando 6, 7, 8, 9 sem proceder à contagem dos
outros 4 objetos;
5. No quinto nível – fato derivado –, o resultado deriva de outros conhecidos.
Por exemplo, 5 + 5 = 10, então 4 + 5 = 9, um a menos porque 4 é “um
a menos que 5”;
6. No sexto nível – fato conhecido –, a criança busca um resultado já memo-
rizado (4 + 5 =9).
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
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Anexo I
Atividades
Algumas atividades envolvendo o ensino dos números naturais e o Sistema de
Numeração Decimal baseadas nas habilidades previstas nos documentos curricula-
res mais recentes
4º ano
• Habilidade: ler, escrever comparar e ordenar números naturais, observando
algumas regularidades do Sistema de Numeração Decimal, e localizá-los na
reta numerada.
Figura 2
Fonte: Caderno da Cidade Saberes e Aprendizagens, 2017, p.10
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
5º ano
• Habilidade: ler, escrever, comparar, arredondar, ordenar, compor e decompor
números naturais de qualquer ordem de grandeza pela compreensão e uso das
regras do Sistema de Numeração Decimal, incluindo o uso da reta numerada.
Figura 3
Fonte: Caderno da Cidade Saberes e Aprendizagens, 2017, p.8.
Proposta:
Analise a BNCC (2017) e verifique quais são as habilidades sobre o ensino dos
números naturais e o Sistema de Numeração Decimal para cada ano de escolarida-
de. Verifique a progressão e especificidades de cada ano. Vamos lá!
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Descobertas de professoras sobre o universo numérico das crianças: a construção de saberes por meio de
pesquisas realizadas com seus alunos
PIRES, C. M. P. Descobertas de professoras sobre o universo numérico das crianças: a
construção de saberes por meio de pesquisas realizadas com seus alunos. In: Anais do
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE), 2008, Porto Alegre.
Vídeos
A criança, a matemática e a realidade
https://youtu.be/rStgAvkozxI
Leitura
Construção dos Números Naturais e do Sistema de Numeração Decimal
https://bit.ly/2tVnm2U
Números naturais
https://bit.ly/2OO0CZE
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UNIDADE O Ensino dos Números Naturais e
do Sistema de Numeração Decimal
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Parâmetros
Curriculares Nacionais. Matemática,1º e 2º ciclos. Brasília: MEC / SEB, 1997.
22
VECE, J. P. SILVA, S. D.; CURI, E. Desatando os nós do Sistema de Numeração
Decimal: investigações sobre o processo de aprendizagem dos alunos do 5º ano
do Ensino Fundamental a partir de questões do SAEB / Prova Brasil. Educação
Matemática e Pesquisa, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 223-240, 2013.
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de Matemática
O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
O Ensino das Operações
do Campo Conceitual Aditivo
• Introdução;
• Campo Conceitual Aditivo;
• Ensino das Operações Aditivas;
• As Contribuições de Vergnaud;
• Sobre Procedimentos de Cálculo.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Refletir sobre o ensino das operações de adição e subtração ao longo dos últimos quarenta anos;
• Conhecer os estudos de Vergnaud sobre o ensino das operações do campo aditivo;
• Discutir alguns estudos sobre procedimentos de cálculos para resolver operações.
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
Introdução
Em algum momento, você já deve ter percebido que, nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, o foco do trabalho com a Matemática está nas quatro operações
denominadas fundamentais. Mas, por que será que, mesmo com o ensino centrado
nesse tema, as crianças têm tanta dificuldade para resolver problemas envolvendo
tais operações e para calcular o resultado de operações?
Qual tipo de procedimento de cálculo você usa com mais frequência na sua vida diária? E na
escola como futuro(a) professor(a), qual tipo de cálculo você desenvolveria com seus estudantes?
O autor que discute essa temática é Gerard Vergnaud (1996), para quem cada
conceito matemático está inserido em um campo conceitual, e este é constituído por
um conjunto de situações de diferentes naturezas. Sugere o trabalho conjunto com os
problemas aditivos e subtrativos, pois fazem parte de um mesmo campo conceitual,
denominado campo aditivo.
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Na década de 1960, a ênfase maior era para as técnicas operatórias, ensinadas
mecanicamente, sem justificativas, seguidas da “prova real” e da “prova dos nove”
para verificação de resultados. Às vezes, a criança perdia tanto tempo ao realizar
a prova real e errava nessa prova, achando que havia errado a operação. Assim,
apagava a sua resolução e começava tudo de novo; resolvia a operação e depois
a prova real. O trabalho com cálculo mental era pouco desenvolvido, a não ser
nas “tabuadas” da adição, que eram aprendidas e memorizadas por causa de um
treinamento constante.
O ensino das operações era realizado por passos, de acordo com a ordem de
grandeza dos números envolvidos e as possíveis dificuldades que poderiam causar e
com o ano de escolaridade da criança. Assim, no geral, o professor ensinava adição
e subtração com números da ordem das unidades, depois passava para números da
ordem das dezenas, ampliava para a ordem das centenas e chegava, na antiga quarta
série, à ordem das unidades de milhar.
Nessa fase, o ensino das operações era baseado na teoria dos conjuntos.
A adição era apresentada por meio da união de dois conjuntos distintos; a subtração
era apresentada como conjunto complementar. O sentido de equivalência entre as
duas operações era enfatizado, ou seja, se havia uma adição com um termo des-
conhecido, era possível determinar esse termo com uma subtração. O diagrama
de Venn era usado com a intenção de facilitar a visualização dessas operações.
Os conjuntos eram representados por diagramas. A Figura a seguir ilustra um exem-
plo de diagrama de Venn:
A B
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2 4
Figura 1
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UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
Figura 2
Fonte: Reprodução
10
No final da década de 1990, com o advento dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), o estudo das operações adição e subtração sofreu várias alte-
rações e a mais importante é a realização de um trabalho articulado entre essas
e entre os cálculos para a resolução de problemas. As ideias dessas operações
foram ampliadas e o documento tomou por base os estudos de Gerard Vergnaud.
A ênfase ficou na resolução de problemas não pelas técnicas operatórias já ensina-
das pelo professor, mas por meio de estratégias pessoais das crianças. No trabalho
com cálculos, valorizava-se o cálculo mental, o cálculo com papel e lápis e o uso da
calculadora. No próximo tópico focalizaremos os estudos de Vergnaud.
As Contribuições de Vergnaud
Vergnaud (1996) é psicólogo de formação, foi discípulo de Piaget e trabalha
com cognição. Para esse autor, um campo conceitual é um conjunto informal e
heterogêneo de problemas, situações, conceitos, relações, conteúdos e operações
de pensamento que se relacionam e que provavelmente são interligados em sua
aquisição. O domínio de um campo conceitual faz-se ao longo de um grande período
por meio de vivências que levem à maturação e aprendizagem.
Por causa dessa visão, Vergnaud defende que um conceito não deve ser estudado
isoladamente, pois só ganha sentido quando surge em diferentes situações. Defende
também que uma situação pode envolver mais de um conceito.
Para esse teórico, o campo conceitual das estruturas aditivas refere-se ao conjunto
de problemas que envolvem a exploração de adições e/ou subtrações com diferentes
graus de complexidade.
Define seis relações de base em que é possível engrenar todos os problemas de adi-
ção e de subtração da aritmética comum (VERGNAUD, 1996, p. 172), tratando-se da:
• Composição de duas medidas numa terceira;
• Transformação (quantificada) de uma medida inicial numa medida final;
• Relação (quantificada) de comparação entre duas medidas;
• Composição de duas transformações;
• Transformação de uma relação;
• Composição de duas relações.
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UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
I II III
IV V VI
Legenda:
Medida
Transformação ou relação (positiva ou negativa).
Significado de Composição
Para Vergnaud (1996), o significado de composição aparece em problemas que
juntam dois estados para obter um terceiro. Trata de situações em que basta “juntar”
ou “tirar”, sem que haja nenhuma transformação no ambiente.
Esse autor considera três estados: Estado Inicial (EI), Estado Intermediário (I) e o
Estado Final (EF). Dados dois desses, obtém-se o terceiro estado. Os exemplos de
problemas, a seguir, envolvem a ideia de composição.
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Em uma caixa há 15 carrinhos, sendo 7 azuis e os demais vermelhos.
Quantos carrinhos vermelhos há nessa caixa?
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Significado de Transformação
Para Vergnaud (1996), o significado de transformação envolve uma ação ocorrida
a partir da situação, de forma direta ou indireta, causando aumento ou diminuição.
O estado inicial da situação sofre uma transformação aditiva (ou subtrativa) para obter
um resultado. Essa transformação é uma ação decorrente de verbos que surgem no
enunciado da situação e permitem que a transformação seja de acréscimo ou de redução.
Esse autor afirma que as crianças, mesmo antes da educação formal, já constro-
em um pensamento intuitivo de adição e subtração, relacionando espontaneamente
a “perda” e o “ganho” vivenciados em situações do cotidiano.
10
Figura 6
Fonte: Adaptado de Vergnaud, 1996
13
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UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
12
Figura 7
Fonte: Adaptado de Vergnaud, 1996
Você deve ter percebido que, nos dois problemas apresentados que envolvem a
ideia de transformação (positiva e negativa), a transformação e o estado inicial são
conhecidos e busca-se o estado final. Mas há situações em que o estado inicial e o
estado final são conhecidos e busca-se o valor da transformação, e há outras em que
são conhecidos o estado final e a transformação e busca-se o estado inicial.
Rafael tinha 8 carrinhos, ganhou alguns de sua mãe e ficou com 15.
Quantos carrinhos Rafael ganhou?
8 15
Figura 8
Fonte: Adaptado de Vergnaud, 1996
14
No final de um jogo de bafo, Bernardo tinha 15 figurinhas.
Durante o jogo ele perdeu 8. Quantas figurinhas Bernardo tinha inicialmente?
15
Figura 9
Fonte: Adaptado de Vergnaud, 1996
Significado de Comparação
Vergnaud (1996) afirma que uma situação tem significado de comparação
quando as quantidades são comparadas entre duas partes no sentido de relacionar
essas partes. No raciocínio de comparação, os valores não se transformam, apenas
se estabelece a ideia de uma comparação entre dois estados. Segundo esse autor,
há três tipos de variação nesse significado:
• O valor de referência é conhecido e busca-se o referido a partir da relação dada;
• Busca-se o valor de referência a partir do referido pela relação dada;
• O valor de referência é conhecido, assim como o referido, e busca-se a relação.
Sabemos quantos adesivos Bianca tem, portanto, temos uma referência, e Bianca
é o referente. Mas não sabemos quantos adesivos Simone tem; esta é nosso referido.
A relação é dada: Simone possui 10 a mais que Bianca. A comparação é positiva
e, portanto, neste caso, o problema pode ser resolvido por meio de uma adição.
Busca-se o valor de referência a partir do referido pela relação dada: Simone tem 8 ade-
sivos a menos que Bianca. Se Simone tem 15 adesivos, quantos adesivos Bianca tem?
Neste caso, sabemos quantos adesivos Simone tem, portanto, temos uma referên-
cia, e Simone é o referente. Mas não sabemos quantos adesivos Bianca tem; esta é
nosso referido. A relação é dada: Simone tem 8 adesivos a menos que Bianca.
A comparação é negativa, mas, neste caso, o problema pode ser resolvido por meio
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15
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
de uma adição, pois, se Simone tem 8 adesivos a menos que Bianca, Bianca tem 8
adesivos a mais que Simone, então chegamos à quantidade de adesivos de Simone.
Neste caso, temos a referência (Bianca) e o referido (Simone), mas não temos a
relação, a qual deve ser encontrada: Bianca tem 7 adesivos a mais que Simone, ou
seja, Simone precisa ganhar 7 adesivos para ficar com o mesmo número que Bianca.
Bianca tem 15 adesivos. Ela tem 7 adesivos a menos que Simone. Quantos adesivos
tem Simone?
16
Vergnaud (1996) defende que o processo de aprendizagem dos problemas que
envolvem estruturas aditivas demanda uma série de atividades considerando vários
tipos de problemas para que os alunos possam, por meio de resoluções de problemas,
avançar na construção de conceitos.
Importante!
Cabe destacar que não basta reproduzir categorias de problemas em sala de aula, nem
utilizar essas nomenclaturas com as crianças. De acordo com Curi (2005), algumas
tentativas de levar essa teoria para a sala de aula têm se limitado a reproduzir as dife-
rentes categorias de problemas propostos, o que, evidentemente, é um reducionismo
em relação aos avanços que a teoria permite. Essa autora salienta que, embora seja
muito positivo o fato de se utilizarem dados de pesquisas para orientação de ensino,
ainda estamos longe de ver resultados desses estudos chegarem à sala de aula.
Por esse motivo, é preciso realizar um trabalho que envolve a construção, a orga-
nização e, como consequência, a memorização compreensiva desses fatos.
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UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
forma que o aluno perceba as relações existentes entre esses tipos de cálculo e, com
isso, possa aperfeiçoar seus procedimentos pessoais, tornando-os cada vez mais
próximos das técnicas usuais.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017), por sua vez, destaca
que os alunos desenvolvam variadas estratégias para a obtenção dos resultados, es-
pecialmente por estimativa e cálculo mental, além de algoritmos e uso de tecnologias
digitais como a calculadora.
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Os PCN enfatizam que as estimativas devem extrapolar as relações “maior que”,
“menor que” e o professor deve trabalhar com a relação “estar entre”.
200 50 5
+100 40 8
300 + 90 + 13
300 + 100 + 3
400 + 3 = 403
200 140 15
-100 60 8
100 + 80 + 7
300 150 15
200 70
-100 60 8
100 + 80 + 7 (BRASIL, 1996, p. 80)
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19
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
• Observar que os números estão quase sempre dispostos da mesma maneira: en-
fileirados, na ordem decrescente, da direita para a esquerda, de cima para baixo;
• Desenhar a calculadora que tem em mãos;
• Descobrir qual a tecla que liga/desliga a calculadora, para que serve a tecla CE,
como fazer aparecer no visor o número 25 sem utilizar o algarismo 2; como
transformar o número 1048 e 48 realizando apenas uma operação;
• Identificar as teclas que indicam as possibilidades de cálculo +, –, ×, ÷, % e √.
Importante!
A leitura do texto sobre procedimentos de cálculo permite concluir que um indivíduo
não é proficiente em cálculo se souber apenas fazer cálculos com lápis e papel. Deve
calcular usando estimativas e aproximações, fazer cálculo mental e usar calculadora e,
mais ainda, deve ser capaz de escolher, numa dada situação, que tipo de cálculo é mais
adequado. Só assim podemos dizer que esse sujeito é proficiente no cálculo.
20
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ler tópicos “Do cálculo mental ao cálculo escrito” (p. 65-70) e “O uso da calculadora
nas aulas de Matemática” (p. 74-77).
https://bit.ly/2Vqq1eE
Educação matemática: grupos colaborativos, mitos e práticas
MARIANO, S. F. Procedimentos de crianças do 2º ano do Ensino Fundamental na
resolução de problemas do campo aditivo com o significado de transformação. In:
CURI, E.; NASCIMENTO, J. C. P. (Org.). São Paulo: Terracota, 2012. p. 95-114.
Educação matemática: grupos colaborativos, mitos e práticas
VECE, J. P. Alunos do 1º ano do Ensino Fundamental e os problemas de
transformação negativa, In: CURI, E.; NASCIMENTO, J. C. P. (Org.). São Paulo:
Terracota, 2012. p. 71-94.
21
21
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Aditivo
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Base nacio-
nal comum curricular. Brasília, DF, 2017.
VERGNAUD, G. A teoria dos campos conceituais. In: BRUN, J. Didática das ma-
temáticas. Trad. Maria José Figueiredo. Lisboa: Instituto Piaget, 1996. p. 155-191.
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de Matemática
O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
O Ensino das Operações do
Campo Conceitual Multiplicativo
• Introdução;
• Situações que Envolvem os Quatro Significados dos
Problemas do Campo Multiplicativo;
• O Contexto e os Problemas do Campo Multiplicativo;
• Procedimentos de Cálculo no Campo Multiplicativo;
• As Tabuadas;
• Procedimentos de Cálculo para Multiplicação e Divisão.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Discutir o ensino das operações do campo conceitual multiplicativo.
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Introdução
Nesta Unidade refletiremos sobre o ensino e a aprendizagem das operações do
campo conceitual multiplicativo. Você já estudou os problemas do campo aditivo e
percebeu os diferentes significados que as operações de adição e subtração apare-
cem nos problemas. Percebeu também a importância de se analisar o contexto do
problema, pois este influencia o significado da operação.
Como já foi dito, cada conceito matemático está inserido em um campo con-
ceitual, constituído por um conjunto de situações de diferentes naturezas. Da
mesma forma que Vergnaud (1996) sugere o trabalho conjunto com os problemas
aditivos e subtrativos, pois fazem parte de uma “mesma família”, recomenda o
trabalho conjunto com os problemas que envolvem multiplicação e/ou divisão.
O campo conceitual multiplicativo é formado por um conjunto de situações que
contemplam as operações de multiplicação e/ou divisão, com base em um campo
amplo de significados.
8
Tabela 1
Significados dos Problemas do Campo Aditivo Significados dos Problemas do Campo Multiplicativo
Composição Proporcionalidade
Transformação Multiplicação comparativa
Comparação Configuração retangular
Composição de transformações Combinatória
Em uma promoção, três pacotes de bolacha custam R$ 7,00. Quanto custarão seis
pacotes iguais a esses?
Se 3 pacotes custam 7 reais, seis pacotes custarão X (situação de proporcionalidade).
Fabiana comprou para o seu filho 4 camisetas iguais, mas de cores diferentes. Se elas
custaram R$ 48,00, qual foi o preço de cada uma?
Se 4 camisetas custaram 48,00, uma camiseta custou X (situação de proporcionalidade).
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9
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Marcos tem 15 figurinhas e seu primo Otávio tem o dobro das figurinhas de Marcos.
Quantas figurinhas tem Otávio?
Comparação envolvendo a relação de dobro.
Simone tem 3 bonecas e Silvana tem quatro vezes mais que Simone. Quantas bonecas
tem Silvana?
Comparação envolvendo a relação de quádruplo – quatro vezes mais.
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Situações que Envolvem o Significado de Configuração Retangular
Essas situações envolvem, no geral, objetos organizados em filas (linhas) e colunas
em uma espécie de retângulo. O total de objetos corresponde ao produto do número
de objetos dispostos em uma fileira pelo número de objetos dispostas em uma coluna.
Os contextos que propiciam esse significado podem ser caixas de frutas, de ovos, audi-
tórios, teatros etc., dado que esse tipo de problema permite a compreensão da noção
de área de uma superfície retangular como produto de suas medidas. Veja exemplos:
Sofia foi viajar para a praia. Colocou em sua mala duas saias, uma preta e uma jeans
e três camisetas, uma vermelha, outra branca e uma dourada.
De quantas formas Sofia pode se vestir nessa viagem combinando suas 3 camisetas
com suas 2 saias?
As combinações possíveis de camisetas e saias: (v,p), (v,j), (b,p), (b,j), (d,p), (d,j).
Podendo ser escrita como: 3 × 2 = 6
11
11
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Rafael gosta muito de sorvete. Poderia escolher duas bolas de sorvete com 4 tipos de
cobertura entre os oferecidos na sorveteria.
Quantos tipos de sorvete Rafael poderia escolher?
2×4=8
Importante!
Cabe destacar que no campo multiplicativo os significados mais trabalhados na escola
são os de proporcionalidade e de multiplicação comparativa. É preciso mudar esse qua-
dro, tornando-se necessário trabalhar com todos os significados do campo multiplicativo
e com contextos adequados para que a criança se aproprie do raciocínio multiplicativo.
O Contexto e os Problemas
do Campo Multiplicativo
Fosnot e Dolk (2001) destacam a importância da escolha do contexto nos pro-
blemas do campo multiplicativo. Afirmam que esses contextos devem envolver três
componentes: permitir o uso de modelos; “fazer sentido” para as crianças; ser de-
safiador e provocar questões. Discorreremos sobre o que esses autores entendem
por esses componentes do contexto.
Esses autores consideram que uma situação-problema deve fazer sentido para
a criança. Atribuem à expressão “fazer sentido” uma situação imaginária ou não
em que as crianças consigam compreendê-la, analisar a razoabilidade dos resulta-
dos e das ações realizadas para a construção de estruturas e relações como, por
exemplo, calcular a quantidade de figurinhas de uma criança que tem o dobro de
figurinhas de outra.
12
exemplo: Por que isso acontece? E se acontecer tal coisa? E se? Esses autores
afirmam que a possibilidade de novas questões caracteriza bons contextos, pois tais
contextos permitem a explicação do que acontece e dão origem a outras questões que
podem ser interessantes tanto do ponto de vista da criança, como da Matemática.
Esses autores afirmam que quando a ideia de multiplicar está associada à adição de
parcelas iguais (significado de proporcionalidade ou de multiplicação comparativa), a
tendência das crianças é adicionar várias vezes o agrupamento que se repete e que
esse tipo de raciocínio acaba por não validar a propriedade comutativa.
Procedimentos de Cálculo
no Campo Multiplicativo
Pesquisadores como Treffers e Buys (2001) e Fosnot e Dolk (2001) discutem os
procedimentos das crianças na resolução de problemas do campo multiplicativo.
Afirmam que as crianças dão sentido às situações-problemas que envolvem a ideia
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UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
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4
+4 = 8
+4 = 12
+4 = 16
+4 = 20
+4 = 24
14
+4 = 28
+4 = 32
+4 = 36
+4 = 40
+4 = 44
+4 = 48
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0000
0000
0000
0000
0000
12 × 4 = 48
Treffers e Buys (2001) afirmam que a transição entre esses níveis não é linear,
mas precisa de apoio em situações-problemas com contextos variados em que as
crianças possam se utilizar de modelos para resolvê-los. Concluem que o uso de
diferentes situações que envolvem o mesmo modelo possibilita à criança a passa-
gem ao nível formal em que essa não precisa mais se apoiar nos modelos.
15
15
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Nas nossas escolas é muito comum a ansiedade de se trabalhar com as tabuadas e com
o algoritmo da multiplicação. Tal trabalho deve ser posterior a essas etapas de cálculo.
As Tabuadas
No esquema construído por você, usando as memórias de suas aprendizagens
sobre a multiplicação, certamente as tabuadas foram lembradas como cálculos
em que é preciso primeiro “saber de cor” para só depois aprender a multiplicar.
A preocupação excessiva com a memorização das tabuadas, antes da resolução de
problemas, é presente nas atuais salas de aula. São comuns afirmações de profes-
sores que o aluno não resolve um problema que envolve multiplicação porque não
sabe a tabuada. O que discutimos nesta Unidade quebra um pouco esse mito: as
situações-problemas envolvendo diferentes contextos e significados da multiplicação
são anteriores às tabuadas.
O que deve ficar claro é que a tabuada não é pré-requisito para a multiplicação,
como se achava há algum tempo, mas que sua memorização é importante para uso
em outros produtos e que essa memorização deve ser gradativa e com compreensão.
Treffers e Buys (2001) identificam três fases para aprendizagem das tabuadas:
a construção do conceito; o cálculo inteligente e flexível; a memorização completa
das tabuadas mais importantes. Afirmam que cada uma acompanha os níveis de
aprendizagem já referidos neste texto, ou seja, na construção das tabuadas, as crian-
ças iniciam com cálculos por contagem e progridem até o cálculo formal.
Você deve ter lembrado que as tabuadas eram trabalhadas na sala de aula pela
ordem da sequência numérica, ou seja, primeiro a do 2, depois a do 3, depois a
do 4, a do 5, a do 6 etc., sem a preocupação da exploração de regularidades e das
propriedades da multiplicação que podem ser usadas na sua construção. Igualmente,
a ordem dos fatores, na construção das tabuadas é importante. Por exemplo, na
tabuada do 2, o fator que se repete é o 2, então temos:
16
O que propomos neste texto é a exploração das regularidades das tabuadas e
das relações numéricas existentes. Por exemplo, a partir da resolução de problemas
que envolvam multiplicações por 2, por 5 ou por 10 e trabalhar com essas tabuadas
devem se dar de forma consistente, pois são as bases para a construção das outras.
A partir da tabuada do 2 é possível construir a tabuada do 10 multiplicando os re-
sultados da tabuada do 2 por 5.
Procedimentos de Cálculo
para Multiplicação e Divisão
A partir das estratégias usadas pelas crianças na resolução de um problema
multiplicativo é possível construir com compreensão o algoritmo da multiplicação.
Vejamos o problema a seguir e uma estratégia de criança. Em seguida, como o algo-
ritmo foi proposto a partir da resolução da criança:
1 0 + 4
X 3
3 0 + 1 2
4 2
Ou:
Um.
1 4
X 3
4 2
Figura 1
17
17
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Para o problema:
Uma doceira fez 375 brigadeiros e precisava distribui-los igualmente em 3 caixas.
Quantos brigadeiros colocou em cada caixa?
Figura 2
Fonte: Acervo do conteudista
Tabela 2
3 7 5 3
– 3 0 0 1 0 0
7 5 + 2 0
– 6 0 5
1 5 1 2 5
– 1 5
0
18
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Uma Análise sobre as Aprendizagens e Dificuldades Reveladas por Alunos do 5º Ano na Resolução de
Problemas de Estruturas Multiplicativas
ZARAN, M. L. O.; SANTOS, C. A. B. Uma análise sobre as aprendizagens e
dificuldades reveladas por alunos do 5º ano na resolução de problemas de estruturas
multiplicativas. In: CURI, E.; NASCIMENTO, J. C. P. (Org.). Educação matemática:
grupos colaborativos, mitos e práticas. São Paulo: Terracota, 2012. P. 131-152.
Educação Matemática: Conversas com Professores dos Anos Iniciais
PIRES, C. M. C. Educação matemática: conversas com professores dos anos
iniciais. São Paulo. Zapt, 2012.
Leitura
O Raciocínio de Estudantes do Ensino Fundamental na Resolução de Situações
das Estruturas Multiplicativas
https://bit.ly/2XYjCKu
Análise dos Procedimentos de Resolução de Alunos de 5° Ano em Relação a Problemas do Grupo
Isomorfismo de Medidas
https://bit.ly/2S0C4yt
19
19
UNIDADE O Ensino das Operações do Campo Conceitual Multiplicativo
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais para os 1º e 2º ciclos. Brasília, DF, 1996.
______. A teoria dos campos conceituais. In: BRUN, J. Didática das matemáticas.
Lisboa: Instituto Piaget, 1996. p. 155-191.
______. Multiplicative conceptual field: what and why? In: GUERSHON, H.;
CONFREY, J. (Ed.). The development of multiplicative reasoning in the learning
of Mathematics. Albany, NY: University of New York, 1994. p. 41-59.
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de Matemática
O Ensino de Geometria e de Medidas
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
O Ensino de Geometria e de Medidas
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Discutir o ensino de geometria, incluindo as noções de relações espaciais e de formas
geométricas e de grandezas com suas medidas;
• Compreender que o trabalho com geometria permite desenvolver um tipo de raciocínio
especial voltado ao pensamento geométrico;
• Entender que o tema medidas é integrador do currículo matemático, pois oportuniza um
trabalho contextualizado com números e operações.
UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
Mas por que será que a geometria é pouco explorada nas salas de aula?
O foco dado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foi no trabalho com
relações espaciais e com formas geométricas espaciais e planas. Esse documento
destaca que o trabalho com geometria contribui para a aprendizagem de números
e medidas, pois incentiva a criança a observar, perceber semelhanças e diferen-
ças, identificar regularidades etc. Além disso, sugere que esse trabalho seja feito
a partir da exploração dos objetos do mundo físico, de obras de arte, pinturas,
desenhos, esculturas e artesanato, pois isso possibilita estabelecer conexões entre a
Matemática e outras áreas do conhecimento.
8
croquis e diversas outras representações. Em se tratando das formas, espera-se que
os estudantes saibam indicar as características das formas geométricas espaciais e
planas, associando as figuras espaciais às suas planificações e vice-versa. É espera-
do, ainda, que saibam as suas nomenclaturas, fazendo comparações de polígonos,
por meio de propriedades referentes aos lados, vértices e ângulos.
Na década de 1980, o casal de holandeses Pierre van Hiele e Dina van Hiele
propuseram cinco níveis sequenciais e hierárquicos para identificar o nível de matu-
ridade geométrica das crianças:
• Nível 0: visualização;
• Nível 1: análise;
• Nível 2: dedução informal;
• Nível 3: dedução;
• Nível 4: rigor.
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9
UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
E com as crianças como será que esses níveis de pensamento geométrico se organizam?
Você já percebeu se e como as crianças, mesmo sem frequentar a escola, reconhecem formas
geométricas, percebem as “que rolam” com mais facilidade e as que são mais “estanques”?
Percebem as que são “pontudas” e as que são “arredondadas”?
Escreva algo sobre esse assunto e compatibilize com a próxima parte do texto.
10
É só no nível descritivo que as crianças reconhecem e podem caracterizar formas
pelas suas propriedades, ou seja, nesse nível as crianças identificam que um cubo
tem 6 faces quadradas.
É claro que não basta apresentar às crianças os níveis aqui descritos, isso não
é suficiente para que compreendam como se dá esse processo. Esses autores,
após realizarem pesquisas entrevistando 128 crianças com idades entre 3 a
6 anos, concluíram que essas identificaram formas desenhadas em papel e cor-
tadas em madeira. Perceberam também que as crianças constroem ideias sobre
formas comuns – tais como círculos, quadrados, triângulos e retângulos – mesmo
antes de entrar na escola, por meio da exploração de brinquedos, livros e progra-
mas de televisão com os quais entram em contato com o cotidiano. Mas afirmam
que isso não é suficiente, que é preciso que o professor as ajude a ampliar suas
ideias iniciais. Sugerem que os professores entrevistem seus alunos para que te-
nham uma visão mais clara da compreensão das crianças sobre as formas, em vez
de confiar no trabalho apenas escrito e nas provas escritas.
Importante!
Cabe destacar que não basta reproduzir tarefas e tentar identificar o nível do pen-
samento geométrico das crianças, nem utilizar essas nomenclaturas com as quais.
Como acontece com a teoria dos campos conceituais (VERGNAUD, 1996), de acordo com
Curi (2005), algumas tentativas de levar essas pesquisas para a sala de aula têm se limi-
tado a reproduzir tarefas de diferentes níveis do pensamento geométrico, o que carac-
teriza um reducionismo em relação aos avanços que a pesquisa permite. Como no ensino
da aritmética, embora seja positiva a utilização de pesquisas para orientação de ensino,
ainda estamos longe de ver esses estudos auxiliarem o professor em sua prática.
11
11
UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
No entanto, essas aprendizagens não são suficientes para que a criança represente
o espaço e utilize vocabulário adequado à sua localização ou movimentação em tal
espaço. É necessário um conhecimento escolar intencional e sistematizado, no qual
a criança se apropria das formas de representação do espaço.
O estudo das figuras geométricas planas e espaciais envolve muito mais que as
reconhecer por meio de um desenho e conhecer seus nomes, é preciso também co-
nhecer propriedades. Aquilo que o aluno pode “ver” no desenho está diretamente re-
lacionado aos conhecimentos que possui sobre o objeto que esse desenho representa.
12
de caixas e latas torna possível trabalhar com representações do desenho dessas
formas no papel, permitindo sua visualização e com nomenclatura das mesmas.
A montagem e desmontagem de embalagens permite as primeiras aproximações
com a planificação das formas tridimensionais. Após essa atividade, as crianças
podem desenhar “os moldes” das embalagens que foram exploradas.
O Ensino de Grandezas e
Medidas: Algumas Reflexões
O trabalho com grandezas e medidas deve ser iniciado logo nos primeiros anos
da escolaridade com exploração de diversas situações em que é preciso medir gran-
dezas as mais variadas como o tempo, comprimento, a capacidade, massa e também
grandezas geométricas, como o perímetro e a área.
13
13
UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
14
Outro aspecto fundamental é o estabelecimento da relação entre a medida de
uma dada grandeza e um número, pois é por meio desse que o aluno ampliará o seu
domínio numérico e compreenderá a necessidade de criação de outros números para
além dos números naturais.
Tabela 1
Milhar Centena Dezena Unidade Décimo Centésimo Milésimo
Quilômetro Hectômetro Decâmetro Metro Decímetro Centímetro Milímetro
(km) (hm) (dam) (m) (dm) (cm) (mm)
Na Tabela fica fácil observar que, por exemplo, 1 metro corresponde a 1.000
milímetros. Auxilia-nos também na leitura de escritas como, por exemplo, 8,5m: oito
metros e cinco decímetros, ou 8 metros e 50 centímetros – se usarmos uma unidade
mais conhecida das crianças. Da mesma forma, podem ser estabelecidas relações
entre as unidades de massa:
Tabela 2
Milhar Centena Dezena Unidade Décimo Centésimo Milésimo
Quilograma Hectograma Decagrama Grama Decigrama Centigrama Miligrama
(kg) (hg) (dag) (g) (dg) (cg) (mg)
Tabela 3
Milhar Centena Dezena Unidade Décimo Centésimo Milésimo
Quilolitro Hectolitro Decalitro Litro Decilitro Centilitro Mililitro
(kL) (hL) (daL) (L) (dL) (cL) (mL)
No entanto, isso não acontece com as medidas de tempo, pois estas se relacio-
nam ao sistema sexagesimal. A transformação de horas em minutos e de minutos
15
15
UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
Na seguinte Figura podemos dizer que o seu contorno, ou seja, o seu perímetro
é de 12 unidades de comprimento (u), considerando como unidade a medida do
lado dos quadrinhos que compõem a malha. Na mesma ilustração, podemos dizer
que a superfície delimitada por esse contorno, ou seja, sua área, é de 9 unidades de
área (U), considerando como unidade a medida da superfície de cada quadradinho
unitário da malha.
Figura 1
Fonte: Acervo do conteudista
16
Pires (2012) destaca que existe uma confusão frequente que se dá entre períme-
tro e área que, de modo geral, são trabalhados separadamente pelos professores,
mas depois são utilizados pelas crianças, sem distinção entre um e outro, para
resolver problemas.
Nos trabalhos de Rogalski (1982) é proposto que se deve, ao mesmo
tempo, diferenciar propriedades simultaneamente presentes numa figura
(o comprimento do contorno e a área da superfície, ou a área de um sóli-
do e seu volume) e coordenar essas mesmas propriedades na apropriação
das fórmulas, por exemplo. (PIRES, 2012)
Assim, dada uma figura plana, desenhada em malha quadriculada ou não, é pos-
sível propor que as crianças calculem a área e o perímetro dessa figura e discutir que
essas medidas são diferentes e representam “coisas” distintas.
A partir dessa pesquisa é possível perceber que a área de uma superfície plana
aparece como um objeto matemático distinto da superfície plana, pois superfícies
diferentes podem possuir a mesma área. Isso não é tão simples para as crianças.
Da mesma forma, a pesquisa permite inferir que seja especificado o número que está
associado a essa superfície quando se escolhe uma superfície unitária para medi-la,
pois quando se muda a unidade de superfície a medida de área é alterada, mas a área
permanece a mesma. Essa colocação também não é tão simples para as crianças.
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UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
medidas dos dois lados de um paralelogramo para achar sua área, como fazem no
caso de formas retangulares, sem observar diferenças “geométricas” entre as quais.
Outro erro comum é a ideia de que figuras de mesma área têm necessariamente
o mesmo perímetro e vice-versa.
O trabalho com várias figuras diferentes que tenham a mesma área ou o mesmo
perímetro também pode esclarecer dúvidas a respeito dessas noções. Assim, pode-
-se propor, por exemplo, uma atividade em que as crianças calculem a área de um
retângulo cujos lados medem 3 cm e 4 cm e de outro cujos lados medem 2 cm
e 6 cm. Apesar de esses retângulos terem medidas diferentes, possuem a mesma
área de 12 centímetros quadrados e os perímetros são distintos – sendo que no
primeiro é 14 cm e no segundo, 16 cm.
A identificação das unidades de medida de área como m2 e cm2 também deve ser
enfatizada nas atividades propostas.
Importante!
A leitura do texto sobre grandezas e medidas trouxe informações interessantes acerca
das noções de área e perímetro destacadas a seguir:
A área de uma superfície plana aparece como um objeto matemático distinto da super-
fície plana, pois superfícies diferentes podem possuir a mesma área.
A área de uma figura depende da unidade de área escolhida.
Quando a criança considera apenas aspectos numéricos, ou seja, as medidas de compri-
mentos da figura, multiplica as medidas dos dois lados de uma figura sem pensar na sua
forma geométrica.
Figuras de mesma área têm necessariamente o mesmo perímetro e vice-versa.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Relações Espaciais, Localização e Movimentação: Um Estudo sobre Práticas e Descobertas de Professoras
Polivalentes sobre Atividades Realizadas com seus Alunos
PIRES, C. M. C. Relações espaciais, localização e movimentação: um estudo sobre
práticas e descobertas de professoras polivalentes sobre atividades realizadas com
seus alunos. In: Encontro de Educação Matemática, 2000, Macaé, RJ. Anais...
Macaé, RJ, 2000.
Espaço e Forma: A Construção de Noções Geométricas pelas Crianças das Quatro Séries Iniciais
do Ensino Fundamental
PIRES, C. M.; CURI, E.; CAMPOS, T. M. M. Espaço e forma: a construção de
noções geométricas pelas crianças das quatro séries iniciais do Ensino Fundamental.
São Paulo: Proem, 2000.
Leitura
O Ensino das Relações Espaciais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: A Importância
da Contextualização
NASCIMENTO, J. de C. P. do; FERNANDES, V. M. J. O ensino das relações espaciais
nos anos iniciais do Ensino Fundamental: a importância da contextualização.
In: Educação Matemática na Contemporaneidade: Desafios e Possibilidades,
13-16 jul. 2016, São Paulo.
http://bit.ly/2Lg0Ngp
Representação Gráfica do Espaço de Alunos do 1º e do 5º Ano do Ensino Fundamental: Por quê,
O que e Como Analisar?
VECE, J. P.; CURI, E. Representação gráfica do espaço de alunos do 1º e do
5º ano do Ensino Fundamental: por quê, o que e como analisar? Perspectivas da
Educação Matemática, v. 9, n. 21, 2016.
http://bit.ly/2LnD0vd
19
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UNIDADE O Ensino de Geometria e de Medidas
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Ensino Fundamental. Base nacional
comum curricular. Brasília, DF, 2017.
CURI, E. A Matemática e os professores dos anos iniciais. São Paulo: Musa, 2005
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Fundamentos Metodológicos
do Ensino de Matemática
O Ensino de Estatística e Noções de Probabilidade e Combinatória
Revisão Textual:
Prof. Me. Luciano Vieira Francisco
O Ensino de Estatística e Noções de
Probabilidade e Combinatória
• Introdução;
• O Trabalho com Gráficos e Tabelas nas Escolas Atuais;
• Níveis de Leitura de Gráficos;
• Situações de Prática;
• Noções de Probabilidade e Combinatória;
• Ideias Envolvidas em Problemas de Combinatória;
• Observações.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Discutir o ensino de uma unidade temática introduzida nos currículos e denominada
estatística e probabilidade;
• Conhecer como alguns alunos resolvem problemas envolvendo as ideias de combinatória.
UNIDADE O Ensino de Estatística e Noções
de Probabilidade e Combinatória
Introdução
Você já deve ter percebido em leituras de textos em jornais, revistas e, acima
de tudo, na internet como esses textos são acompanhados por gráficos e tabelas.
Se você não souber ler e interpretar os dados publicados em gráficos e tabelas, não
será possível compreender totalmente a informação veiculada, daí a importância de
se estudar este tema desde os anos iniciais do Ensino Fundamental.
Nos dias atuais, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017)
incorporou esses conteúdos na unidade temática denominada probabilidade e
estatística. O documento propõe a abordagem de conceitos, fatos e procedimen-
tos que estão em muitas situações da vida diária, da própria Ciência e tecnologia.
A expectativa presente na BNCC é de que todos os cidadãos desenvolvam algumas
habilidades para coletar, organizar, representar, interpretar e analisar dados em
uma diversidade de contextos, de modo a fazer julgamentos e tomar as decisões
assertivas, incluindo raciocinar e empregar conceitos, representações e índices es-
tatísticos para descrever, justificar e anunciar fenômenos.
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Segundo essa autora, Cardeñoso e Azcárate (1995) apresentam quatro argumentos:
• O interesse para a resolução de problemas que envolvem esse tema, relacionados
com o mundo real e com outras matérias do currículo;
• A influência dos conhecimentos sobre o assunto na tomada de decisões das
pessoas quando dispõem somente de dados afetados pela incerteza;
• O domínio do tema facilita a análise crítica da informação recebida, por exemplo,
pelos meios de comunicação;
• A compreensão do assunto proporciona uma filosofia do azar de grande reper-
cussão para a compreensão do mundo atual.
A autora destaca que Ainley (1994) afirma que quando os alunos exploram ou
coletam os seus dados, provavelmente se familiarizam com o contexto. Conse-
quentemente, é importante que os estudantes se envolvam com questões ou proje-
tos a partir dos quais necessitem coletar dados para resolvê-los. Como em outros
assuntos matemáticos, o conhecimento que os alunos têm do contexto é muito
importante. Neste caso, afeta a interpretação dos dados. Sugere questões como: o
que eu posso aprender sobre esse grupo de dados? Quais perguntas podem
ser feitas para revelar as informações que desejo obter? Com a finalidade de
permitir aos alunos melhores condições para compreender as informações conti-
das nos dados.
Pires (2012) ressalta Crossen (1996), quem afirma que as informações utili-
zadas para opinar, escolher e comprar são criadas para promover um produto,
uma causa ou um político – e não para expandir conhecimento –, uma vez que
os números atribuem um senso de racionalidade para as decisões complexas,
exacerbados pela “[...] crescente sensação de que nada pode ser definido como
verdade a não ser que seja sustentado por uma pesquisa estatística”. Essa autora
destaca que as informações são voltadas aos consumidores e que a maioria não
possui noções básicas de estatística para avaliar tais informações. Por não ter
essas noções, faltam-lhe confiança para a tomada de decisões e ferramentas para
analisar as informações divulgadas.
Tufte (1983) argumenta que, de todas as maneiras que existem para comunicar
informações, um gráfico bem feito é o modo mais simples e poderoso para apresentar
uma informação.
A forma como você aprendeu Matemática contribuiu para sua a compreensão e atuação no
mundo de forma crítica e criativa, perspectivando o exercício de sua cidadania? E com os
conteúdos da temática desta Unidade, você acha que ampliaria as suas possibilidades de
atuar no mundo contemporâneo?
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UNIDADE O Ensino de Estatística e Noções
de Probabilidade e Combinatória
Com relação ao professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, existe uma
crença de que é impossível ensinar estatística, decorrente de alguns fatores. Primeiro,
de uma formação insuficiente para ensinar Matemática. Segundo, porque lida com
crianças pequenas e estas ainda não estão prontas para ter acesso a um ensino de
um tema que imaginam que seja complexo.
Nos dois primeiros anos de escolarização, a escola pode ajudar a criança orga-
nizar dados que essa encontra no seu dia a dia, proporcionando conhecimentos
importantes para a construção de noções de estatística.
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No entanto, observa-se o aperfeiçoamento na construção de gráficos, pelas
crianças, na medida em que o professor faz intervenções explorando gráficos de
colunas em que possam perceber qual é a variável, com que frequência e em que
condições se repete, que possam compreender que o espaço entre as colunas é
sempre o mesmo e que a largura das colunas também é sempre igual.
Curcio (1987) propõe que as crianças da Escola Básica devem ser envolvidas,
gradativamente, na coleta de dados do cotidiano com o objetivo de construir os seus
próprios gráficos. Precisam ser encorajadas a verbalizar as relações e os padrões
observados nos dados coletados. Propõe níveis de leitura de gráficos que serão
abordados a seguir.
A progressão entre esses níveis se dá a partir da exploração que se faz dos gráficos
em sala de aula.
Situações de Prática
Analise a seguinte proposta:
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UNIDADE O Ensino de Estatística e Noções
de Probabilidade e Combinatória
Os alunos de uma escola participaram de uma pesquisa. Em uma das questões tive-
ram que escolher o esporte favorito. O gráfico a seguir indica as preferências pelos
esportes indicados:
50
40
Número de alunos 30
20
10
0
Futebol Basquete Vôlei Outros
Figura 1
Pensando nos níveis de leitura de gráficos, se você fosse o(a) professor(a) dessa turma, quais
outras questões você proporia aos seus alunos a respeito desse gráfico?
Em função do que foi estudado até aqui, é possível concluir que o uso de gráficos
e tabelas permite:
• Comunicar mais facilmente os dados de uma pesquisa;
• Apresentar globalmente uma informação;
• Rápida leitura;
• Destaque de aspectos relevantes da informação;
• Produção de textos escritos.
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lista de fórmulas, mas como um processo que exige a construção de um modelo
simplificado e explicativo da situação.
Historicamente, o conceito de probabilidade ainda é novo. Originou-se com os
denominados jogos de azar. Foi a necessidade de calcular o número de possibili-
dades existentes nos jogos de azar que levou ao desenvolvimento da análise com-
binatória, ramo da Matemática que estuda métodos de contagem. Esses estudos
iniciaram-se no século XVI, com o matemático italiano Niccollo Fontana (1500-
1557), igualmente conhecido como Tartaglia. No século seguinte, franceses como
Pierre de Fermat (1601-1665) e Blaise Pascal (1623-1662) deram continuidade a
esses estudos. Historicamente, a combinatória é reconhecida como a arte de contar.
Uma definição interessante é de Merayo (2001), quem afirma que a análise com-
binatória é a técnica de saber quantos objetos há em um conjunto, sem ter que
contá-los. Com essa técnica não há necessidade de listar ou enumerar todos os
elementos que formam um conjunto.
Ideias Envolvidas em
Problemas de Combinatória
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os problemas de combinatória podem
envolver as ideias de produto cartesiano, permutação, arranjo e combinação. Como
comentado, o que se pretende não é estabelecer nomenclatura que permita às crian-
ças identificarem as diferenças entre essas ideias, nem fazer uso de fórmulas como
as que são ensinadas aos alunos do Ensino Médio; mas sim que as crianças explorem
situações contextualizadas e as resolvam por meio de procedimentos pessoais.
Esta situação-problema envolve a ideia de produto cartesiano. Cada uma das 3 ca-
misetas pode ser combinada com cada um dos 4 shorts, totalizando 12 combinações.
No geral, esse tipo de problema já é explorado em livros didáticos e em avaliações
externas e incorporado na prática dos professores. As crianças costumam ter bom
desempenho nesse problema. No entanto, é frequente fazerem, de início, a adição
dos valores apresentados para só depois desenhar ou escrever as possibilidades,
vão percebendo que o número obtido não corresponde à soma, mas sim ao produ-
to do número de camisetas pelo número de shorts.
• Situação-problema 2: quantas palavras diferentes (com ou sem sentido) você
pode formar usando as letras da palavra MAIS?
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UNIDADE O Ensino de Estatística e Noções
de Probabilidade e Combinatória
temos 4 posições: MAIS; MAIS; MIAS; MISA; MSAI; MSIA; AISM; AIMS; AMSI;
AMIS; ASMI; ASIM; IMAS; IMSA; IASM; IAMS; ISMA; ISAM; SIAM; SIMA;
SMAI; SMIA; SAIM; SAMI. De modo que o total de permutações é calculado por
4 × 3 × 2 × 1 = 24.
Observações
O contexto influencia a ideia de combinatória envolvida no problema. As crianças
são desafiadas a resolvê-los e se compreendem o contexto, buscam estratégias para
resolução, sem efetivamente usar as operações fundamentais. No geral, chegam a
respostas particulares, mas não conseguem esgotar todas as possibilidades relaciona-
das ao problema, até porque estão habituadas à ideia de que um problema tem uma
única solução. Essas situações são desafiadoras para as crianças para que busquem
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as soluções por meio de procedimentos pessoais, percebendo que a combinatória
pode ser conhecida como a “arte de contar”.
Entre as situações de sala de aula que podem ser propostas para o estudo dos
fenômenos aleatórios estão as que abarcam contextos que envolvem moedas, dados,
bolas em urnas, roletas, baralho de cartas etc.
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UNIDADE O Ensino de Estatística e Noções
de Probabilidade e Combinatória
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Leitura
Como estudantes e professores de anos iniciais pensam sobre problemas combinatórios?
http://bit.ly/2MUGcwq
O ensino da estatística e da probabilidade na Educação Básica e a formação dos professores
http://bit.ly/2OM0ACt
O campo de pesquisa da Educação Estatística brasileira demarcado pela diversidade temática
http://bit.ly/2l7G42H
O ensino de estatística no 2º ano do Ensino Fundamental: uma experiência em sala de aula
com a construção de gráficos e tabelas
http://bit.ly/2kTah5L
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Referências
AINLEY, J. Building on children’s intuitions about line graphs. In: ANNUAL MEETING
OF THE INTERNATIONAL GROUP FOR THE PSYCHOLOGY OF MATHEMATICS
EDUCATION, 18., 1994. Proceedings... Lisboa, Portugal, 1994. p. 1-8.
CROSSEN, C. O fundo falso das pesquisas: a Ciência das verdades torcidas. Rio
de Janeiro: Revan, 1996.
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