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UM OLHAR

SOBRE A CRÔNICA

ResidenteResidentes: Glenda, Wiliton, Gabriel, Ruane,


Lumara, Luara, Nadjara
Professora Preceptora: Marliane Costa
1 INTRODUÇÃO

http://assuntosdiversos.com.br/wordpress/cronica/http://assuntosdiversos.com.br/wordpress/cronica/
Sob a perspectiva de
alguns cronistas
“De notícias e não notícias faz-se a crônica.”
Carlos Drummond de Andrade
“Eu comparo o cronista a um peixe de aquário.
Vive num ambiente iluminado, bonitinho.
Você não pode deixar de olhar um aquário,
nem que seja um segundo.
Tem gente que fica olhando horas e horas.
O cronista é isso. Tem de ter esse palco iluminado.”
Carlos Heitor Cony

“Nada, nem a mais desvairada ficção, é mais fascinante,


mais rica e mais pródiga de sentidos, sentimentos, significados,
revelações e paixões que a vida real [...]
A crônica se nutre desse mundo real, se alimenta dele.”
Rogério Menezes
Origem da crônica/
etimologia da palavra
“Crônica”, do grego chronikós, relativo a chrónos (tempo) e do latim chronica: relato
de fatos dispostos em ordem cronológica.

Pereira (2004): o gênero se desenvolveu, e o vocábulo adquiriu diferentes sentidos; a


ideia de um tempo cronologicamente determinado, no entanto, sempre esteve ligada
ao gênero.

Sá (1987): a primeira crônica foi a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel,
encontrada, em 1773, na Torre do Tombo.

Moisés (2002): a crônica foi inaugurada pelo francês Jean Louis Geoffroy, em 1799, no
Journal des Débats, no qual periodicamente se imprimiam feuilletons, chamados no
Brasil, “folhetins”.

Candido (1992): o marco histórico da crônica no Brasil é o decênio de 1930, com os


cronistas Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga e Paulo
Mendes Campos.
Sobre o gênero
Coutinho (1995): o “acento lírico” distingue, no jornalismo, a crônica dos demais
gêneros opinativos.

Moisés (2002): é o lugar geográfico entre a poesia e o conto; tem caráter híbrido; pode
ser poética, humorística ou tragicômica, chegando, às vezes, a adquirir a feição de
conto.

Sant’anna (2000): o termo adquiriu sentido diferenciado e os fatos muitas vezes são
apenas um pretexto para a escrita.

Sant’anna (2000): é um gênero genuinamente brasileiro e autônomo.

Melo (2003): constitui uma narrativa circunstanciada sobre os fatos observados pelo
jornalista num determinado espaço de tempo.
Sobre o gênero
Pereira (2004): a busca do cronista por um efeito estético dá à crônica maior grau de
conotação, e o autor passa a recriar as particularidades dos fatos sociais do cotidiano a
partir de uma perspectiva conotativa, fazendo com que a crônica deixe de ser apenas
um artigo que ordena acontecimentos cronologicamente. É um gênero controvertido,
cuja caracterização varia de país para país.

Melo (2004): é um gênero jornalístico, produto do jornal, porque deste depende para a
sua expressão pública, vinculada à atualidade. Apresenta ainda as seguintes
características:
• nutre-se dos fatos do cotidiano;
• preenche as três condições essenciais de qualquer manifestação jornalística –
atualidade, oportunidade e interesse coletivo –, não se restringindo, no
entanto, ao periódico;
• retrata os fragmentos diários e liga-se a acontecimentos datados, comentário
casual ou de circunstância;
• possui sintaxe mais solta, próxima da conversa entre dois amigos;
• constitui um relato coloquial, em primeira pessoa.
Um gênero híbrido

Literatura Crônica Jornalismo


CCRÔNICA JORNALÍSTICA
2 SOB UM OLHAR ETNOGRÁFICO

Ambiente
Cena e situação

Assunto
Escritor
Participantes
Leitor
Propósito
2.1 AMBIENTE (em geral)
A crônica
• aparece em periódicos impressos e/ou virtuais e também
televisivos;
• versa sobre um tema da atualidade ou um fato recente
de destaque na mídia ou na conjuntura nacional;
• interage com gêneros diversos, tais como artigos,
notícias e charges.
AMBIENTE (em específico)
▪ Portal estadão.com.br (2000)
• Lançado em 2000, superou a marca de 100 milhões de visitas
mensais (2012).
• Líder em consultas a veículos de jornalismo em tempo real, já
foi indicado por associações internacionais como um dos
diários mais completos do mundo.
• Agraciado com três prêmios do Oscar do design gráfico (2012).
• Segmento de uma das maiores e mais importantes empresas
de informação e comunicação do Brasil, iniciada com o jornal
O Estado de São Paulo, fundado em 04 de janeiro de 1875.

▪ A crônica Meu valor (Luís Fernando Veríssimo) encontra-


se na Coluna da Cultura.
• Lateralmente à crônica, encontram-se as notícias relacionadas
ou mais atuais.
• Data de publicação: 20 de abril de 2014.
Meu valor
20 de abril de 2014 | 2h 13

Como todo homem tem seu preço e a corrupção é o que mais dá dinheiro no Brasil, hoje,
decidi calcular o meu valor para o caso de quererem me comprar. É bom ter o nosso
preço na ponta da língua e sempre atualizado, pois - para usar a frase-lema do Brasil dos
nossos dias – nunca se sabe.
Nossa autoavaliação deve ser objetiva. Costumamos nos dar mais valor do que realmente
temos e há o perigo de, por uma questão de amor próprio, nos colocarmos fora do
mercado. Também tendemos a valorizar coisas que, no mundo eminentemente prático
da corrupção, não valem muito, como bons hábitos de higiene e a capacidade de mexer
as orelhas. O que vale é o que podemos oferecer para o lucro imediato de quem nos
comprar.
As pessoas se queixam da falta de ética no Brasil e não se dão conta de que isso se deve à
pouca oportunidade que o brasileiro comum tem de escolher ser ético ou não. Eu tenho
tanto direito a ser corrupto quanto qualquer outro cidadão, mas não tenho oportunidade
de sequer ouvir uma proposta para decidir se aceito. A corrupção continua ao alcance
apenas de uns poucos privilegiados. Por que só uma pequena casta pode decidir se vai
ter um comportamento ético enquanto a maioria permanece condenada à ética
compulsória, por falta de alternativas? Quando me perguntam se sou ético, a única
resposta que posso dar é a mesma que dou quando me perguntam se gosto do vinho
Chateau Petrus: não sei. Nunca provei.
Quem me comprar pode não lucrar com minhas conexões no governo ou com o
conteúdo, inclusive, dos meus bolsos. Mas e o casco? Quanto me dão pelo vasilhame?
Pagando agora eu garanto a entrega do corpo na hora da minha morte, com os sapatos
de brinde. Tenho muitos anos de uso mas todos os sistemas em razoável estado de
conservação, precisando apenas de alguns ajustes das partes que se deterioraram com o
tempo. Meus cabelos são poucos mas os que ficaram são da melhor qualidade, do
contrário não teriam ficado. Não dão para uma peruca inteira, mas ainda dão para um
bom bigode.
Meu cérebro, vendido à ciência, daria para alimentar vários ratos de laboratório durante
semanas. Prejudicaria um pouco seu desempenho no labirinto, mas em compensação
eles saberiam toda a letra do bolero No Sé Tú. Minhas entranhas dariam um bom preço
em qualquer feira de órgãos usados, dependendo, claro, do poder de persuasão do
leiloeiro ("Leve um sistema cardiovascular e eu incluo uma caixa de Isordil!"). Meu
apêndice, por exemplo, nunca foi usado.
Tudo calculado, descontada a depreciação, devo estar valendo aí uns, deixa ver... Mas é
melhor não me anunciar. Vai que aparece um corruptor em potencial e eu descubra que
não só não valho nada como estou lhe devendo.
Luís Fernando Veríssimo
Disponível em: < http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,meu-
valor,1156281,0.htm> Acesso em: 20 abr. 2014.
2.2 ASSUNTO (em geral)
• A crônica pode enfocar temas atuais ou referir-se a fatos recentes, geralmente já
tratados no periódico em que é publicada: fatos cotidianos, subjetivos ou mesmo
transcendentais.
• O cronista vale-se do fato principal e narra situações e outros fatos que o
circundam, lançando mão também de argumentos e aproximando o fato principal
da realidade dos leitores do periódico.
• O cronista, para Sant’anna (2000), é um escritor crônico, encharcado de seu
tempo.
• Para Candido (1992), ele pauta as ninharias do cotidiano, pega o miúdo e
mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade
insuspeitadas.
“Na crônica a gente pode, vamos dizer assim, chutar. No sentido de que, quando
não tem assunto, a gente inventa qualquer bobagem pra escrever.”
Luís Fernando Veríssimo
2.2 ASSUNTO
(em específico)

• A crônica Meu valor trata da corrupção no Brasil.


• Com um tom bem-humorado e bastante irônico, o cronista defende que
corrupção é privilégio de uma minoria, não porque a maioria das pessoas
tem ética, mas porque sua ética nunca foi posta à prova. Para ser
corrompido, não bastar ter qualquer habilidade ou bem. É fundamental ter
valia prática na esfera corrompida da política, como destacada influência
política e notável montante financeiro.
• O cronista também aponta que todos têm um preço e que é bom ter noção
desse preço atualizado para o caso de alguém querer “comprá-lo”,
corrompê-lo, pois “nunca se sabe” quando isso poderá acontecer.
2.3 PARTICIPANTES
(em geral)
Autor Leitores
• Profissional da escrita, mais • Leitores de periódicos interessados
especificamente escritor e jornalista no gênero
• Características: • Leitores do periódico que se
• possuir uma escrita de estilo poético interessam pelas matérias, pelas
e/ou bem-humorado; notícias, artigos, charges, tiras,
• ser observador atento e arguto do provavelmente se interessarão pela
cotidiano; crônica, mais do que aqueles que
• compreender a realidade; procuram o periódico
• ter engenhosidade e capacidade de eventualmente, por causa dos
criação. classificados, por exemplo.

• Obs. Pode escrever não só de forma


descompromissada, como também próximo ao
deadline, conforme a rotina jornalística.
2.3 PARTICIPANTES
(em específico)
Autor Leitores
• Luís Fernando Veríssimo (1936-), • Leitores do portal estadão.com.br
jornalista, escritor e tradutor • Leitores de Veríssimo
• “Editor de frescuras", redator, editor
nacional e internacional (no jornal
Zero Hora)

<http://www.pragmatismopolitico.com.br/
2013/10/luis-fernando-verissimo-ceu-ateu.html>
2.4 PROPÓSITO (em geral)

• Para o cronista ─ fazer um relato poético/bem-humorado da realidade,


situado na fronteira entre a informação e a narração literária; promover
uma crítica social de um determinado fato.

• Para o leitor, que normalmente não tem muito tempo para ler, mas gosta
de encontrar, no meio de tantas notícias sérias, de tantos assuntos
graves, a crônica (um texto breve, curto e geralmente com uma dose de
humor) ─ informar-se e, principalmente, deleitar-se com um texto que
incorpora elementos estilísticos emprestados da literatura, como
metáforas, alegorias, ironia e suspense, entre outros (CHIQUIM, 2013).
2.4 PROPÓSITO
(em específico)

Promover, de forma amena e bem-humorada, uma reflexão crítica sobre a


corrupção em nosso país, partindo da premissa que todo homem teria seu
preço, inclusive o próprio cronista.
REFERÊNCIAS
• CANDIDO, A. A vida ao rés-do-chão. In: ______ et al. A crônica: o gênero,
sua fixação e suas transformações no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp;
Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
• CHIQUIM, G. A impressão do cotidiano: um estudo das ambiguidades da
crônica e a transgressão de seu caráter efêmero. Revista Literária, v. 11, p.
27-40, 2013.
• COUTINHO, A. A introdução à literatura no Brasil. 16. ed. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1995.
• MELO, J. de M. Jornalismo opinativo: gêneros opinativos no jornalismo
brasileiro. 3. ed. Campos do Jordão: Mantiqueira, 2003.
• MENEZES, Rogério. Relações entre a crônica, o romance e o jornalismo. In:
CASTRO, Gustavo de; GALENO, Alex (Org.). Jornalismo e literatura: a
sedução da palavra. São Paulo: Escrituras Editora, 2002. p. 163-171.
(Coleção Ensaios Transversais).
REFERÊNCIAS
• MEYER, M. Voláteis e versáteis. De variedades e folhetins se fez a chronica.
In: ______ et al. A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no
Brasil. Campinas: Editora da Unicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui
Barbosa, 1992.
• MOISÉS, M. Dicionário de termos literários. 11. ed. São Paulo: Cultrix, 2002.
• ______. A criação literária: prosa. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
• PEREIRA, W. Crônica: a arte do útil e do fútil. Salvador: Calandra, 2004.
• SÁ, J. DE. A crônica. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987.
• SANT’ANNA, A. R. de. Teoria da crônica. In: ______. A sedução da palavra.
Brasília: Letra viva, 2000.

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