Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


HISTÓRIA – BACHARELADO

JOÃO HENRIQUE DA ROCHA SOUSA

RELATÓRIO PARA A DISCIPLINA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I

BELÉM/PA
2022
INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como objetivo descrever as principais atividades
desenvolvidas na disciplina de Estágio Supervisionado I, ministrada pela professora Doutora
Cristina Donza Cancela em conjunto com professores do Grupo de pesquisa RUMA, que no
caso foram os Professores Doutores Antônio Otaviano, João Lacerda, Daniel Barroso e o
professor José Neto, destacando os conceitos relacionados aos arquivos digitais, a organização
das fontes para fins de pesquisa e o trabalho do historiador em arquivos.
As atividades da disciplina foram realizadas tanto no Laboratório de História,
localizado dentro do Campus da Universidade Federal do Pará (UFPA), no Guamá, quanto no
Centro de Memória da Amazônia (CMA), localizado na Travessa Rui Barbosa, 491.
Dentro do Laboratório, as aulas tiveram um caráter mais expositivo, dessa forma, nos
foi apresentado conceitos relacionados a arquivos e documentos (físicos e digitais), acervos,
digitalização, paleografia e bases de dados.
Quanto ao CMA, nossas atividades foram mais práticas, assim, fomos levados para
fazer a higienização preventiva e pré-catalogação (que seria a catalogação de metadados mais
gerais do documento, como nomes, nacionalidade, naturalidade, idade etc.) de documentos do
acervo criminal presente no Centro.
ARQUIVOS DIGITAIS, A ORGANIZAÇÃO DAS FONTES PARA FINS DE
PESQUISA E O TRABALHO DO HISTORIADOR EM ARQUIVOS
Fontes Digitais
O trabalho do historiador se constitui na análise de fontes documentais, que durante
muito tempo foram as fontes manuscritas e majoritariamente, físicas, mas com o avanço da
tecnologia essas fontes foram trocando de suporte e se tornando – ou nascendo – digitais. Esse
avanço trouxe consigo diversas mudanças que tiveram suas vantagens e desvantagens.
Podemos afirmar também que a pandemia de COVID-19, que se iniciou na virada de 2020
para 2021, impossibilitou a ida dos pesquisadores aos arquivos, fazendo que com o meio
digital fosse seu principal método para se conseguir acessar esse documentos.
Entre as muitas vantagens que os documentos digitais oferecem, pode-se mencionar
aqui algumas, como uma maior acessibilidade, visto que existem softwares que ajudam no
tratamento das fontes, na organização. Há também as ferramentas que ajuda na visualização
do documento, possibilitando dar zoom ou cortar o documento, destacando assim apenas as
informações que o historiador necessita.
Por não ser necessário o manejo a todo momento do documento, a maior vantagem
quanto as fontes digitais é conservação do próprio, principalmente quando ele está bem
deteriorado, e nos casos de os documentos serem muito antigos, a preservação do próprio
pesquisador, que pode evitar alergias e outras possíveis enfermidades.
Existem inúmeros arquivos digitais, outra facilidade relacionada às fontes digitais, que
disponibilizam seus documentos gratuitamente para todos que tiverem internet, além disso,
por estar na internet, não a necessidade do deslocamento para o prédio que abriga aquele
acervo, dessa forma, é possível conseguir documentos de diferentes lugares sem a necessidade
de sair de casa.
Contudo, essa facilidade de busca traz consigo suas desvantagens. Uma das principais
é que, com os documentos disponíveis dentro da web, os Arquivos e Centros de Pesquisa vão
se tornando cada vez mais obsoletos, dessa maneira eles precisam buscar formas de atraírem
as pessoas para seus espaços organizando eventos que sejam de interesse do público.
Outra grande desvantagem das fontes digitais é a perda de informações sobre a
materialidade do documento, como por exemplo a gramatura do papel, os relevos presentes
em selos, o tamanho real do documento – podendo apenas se ter uma noção comparativa. Há
também a discussão quanto a integridade das fontes, relacionada especificamente com a
veracidade, considerando a facilidade de se alterar informações dentro do meio digital, assim,
o historiador precisa tomar tanto cuidado como quando se está com o documento em mãos.

Digitalização
Os acervos digitais se constituem dessas fontes, que como dito anteriormente, podem
já nascer digitais, ou elas podem ser transformadas. O processo de transformação dos arquivos
físicos para digitais se chama de digitalização e ele pode ocorrer de várias maneiras
diferentes, seja através de scanners, seja através de máquinas fotográficas.
É com esse processo que se dinamiza o acesso, permitindo com que a informação
chegue mais facilmente ao pesquisador ou a quem a deseja. Existem algumas etapas para se
ter uma digitalização realmente efetiva, que se inicia com a preparação da fonte, sua
higienização, a retirada de objetos que possam atrapalhar o processo como grampos e clips.
Depois disso, são tiradas as fotos e é feito o tratamento para sua indexação, logo após isso há
a migração dos dados para um local onde todos possam ter o acesso.
Nos foi apresentado de forma prática, como o Grupo de Pesquisa RUMA realiza suas
digitalizações e todo o seu material de trabalho que inclui, para além da câmera, tripés,
iluminação, computador etc. Existem algumas câmeras recomendadas para fazer o processo
que possuem uma qualidade melhor, dessa forma elas são colocadas em duas séries diferentes,
sendo uma mais básica e outra profissional, elas também se dividem em outros tipos como as
compactas – que possuem o tamanho reduzido –, superzoom – que como o próprio nome já
diz ela possui um zoom superpotente –, Mirroless – não possuem o espelho posicionado
afrente do sensor – e as DSLR – que são os modelos profissionais. Para se ter uma
digitalização mais profissional, sempre se deve preferir a câmera com a resolução melhor pois
ela oferecerá mais vantagens para o pesquisador durante sua pesquisa, porém a digitalização
pode ser feita com qualquer uma, desde que se tenha uma boa iluminação e se consiga ver
toda a página do documento.

Paleografia
Uma das habilidades mais importantes que o historiador que lida com documentos
manuscritos antigos é a da leitura paleográfica, que é justamente a leitura e compreensão
desses documentos para que, além de ser feita a transcrição, se possa preservar tanto os
documentos quanto as informações presentes neles. Na disciplina tivemos contato com
documentos do século XVIII e XIX, em aulas ministradas pelo professor Otaviano e pela
professora Cristina.
A preocupação com a conservação com o documento se deve ao fato de que,
dependendo da condição e do ambiente em que ele se encontra, ele pode se deteriorar mais
rapidamente. Algumas variáveis como a umidade, a acidez, se existem folhas coladas e até a
própria tinta ajudam nessa deterioração e dessa forma, as informações acabam se perdendo
rapidamente. Além disso existem os cupins e as traças que podem acabar corroendo o
documento. Outra coisa que o pesquisador deve se atentar é se não há veneno no papel, visto
que pode trazer malefícios para ele próprio.
Voltando à Paleografia, a pessoa que está lidando com as fontes deve se preocupar, na
hora da transcrição, em manter a grafia, a acentuação e na pontuação original, para que se
perca a menor quantidade de informações possíveis, mas tendo a consciência de sempre
haverá perdas.
Para que o trabalho não seja tão dificultoso, existem estratégias que facilitam a leitura
paleográfica, além da prática constante nessa atividade. Conhecer a estrutura do documento,
ou seja, saber como ele começa e como ele termina, em uma leitura serial, se familiarizar com
a escrita do escrivão buscando padrões nas letras, símbolos e expressões utilizadas, dessa
forma o pesquisador consegue perceber a lógica da estrutura narrativa.
Apesar de parecer óbvio, entender o vocabulário, assim como as abreviaturas, é
essencial para compreender o documento, visto que existem palavras que eram utilizadas e
não são mais, ou que foram se alterando no significado, ou mesmo que a grafia se alterou com
o passar do tempo. Para mais, quem está lendo essas fontes pode fazer a comparação interna
no documento, buscando, como já foi dito, padrões nas letras e símbolos.
Essa habilidade é importante mesmo que você estude por meio de arquivos e
documentos digitais porque mesmo com as facilidades que as fontes digitais fornecem, isso
não fazer com que a paleografia se torne desnecessário, pelo contrário, ela vai fazer com que
o entendimento seja mais rápido ainda.

Base de Dados
Outra ferramenta possível para ser utilizada pelos historiadores no tratamento das
fontes são as Bases de Dados. As bases de dados conseguem armazenar e organizar
informações de qualquer natureza que você queira. Com essa ferramenta é possível pensar
melhor a História em números, é possível analisar melhor documentos de forma serial dentro
da História Quantitativa – mas não apenas nela.
No trabalho do historiador ele precisa de uma problemática, com ela, ele terá seu
recorte temporal e espacial, além de já saber quem serão seus sujeitos, com esses pontos
definidos, a base de dados será de grande ajuda ao filtrar as informações necessárias ao
pesquisador, considerando que dentro das delas, a catalogação será feita baseada em
metadados determinados por quem está pesquisando, a partir das informações que ele achar
relevante para a sua pesquisa. Dessa forma, ele será capaz de fazer seu estudo de forma mais
sistematizada, podendo até transformar essas informações em gráficos para um melhor
entendimento e uma melhor apresentação e visualização dos resultados.

Centro de Memória da Amazônia


O Centro de Memória da Amazônia, como foi dito pelos bolsistas que nos
acompanharam, é uma instituição da Universidade Federal do Pará (UFPA) que surgiu em
2007 quando o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJ/PA) fez um convênio com a
Universidade para que a ela salvaguardasse os documentos que faziam parte do seu acervo
inativo. Apesar de esse acervo do TJ ser o maior do Centro, lá também é possível encontrar
acervos de livros, revistas e jornais de intelectuais do Pará, como da Professora Anunciada
Chaves, do Jornalista Raimundo Jinkings, entre outros. Há também o acervo de Obras Raras
que contém por exemplo o Jornal Resistência – que foi produzido durante o período da
ditadura militar para se comunicar com estudantes das universidades e denunciar o governo
instaurado -, possui também objetos da Antropóloga Marga Rothe. Assim podemos observar
que o CMA reúne a função de biblioteca, hemeroteca, museu, arquivo, por isso ele é
considerado um centro de memória.
No dia 31/10 fizemos a primeira visita ao prédio, que foi quando nos foi apresentado o
Centro de Memória da Amazônia, como ele surgiu em 2007, como o acervo é organizado e
foi explicada as atividades que, posteriormente, desenvolvemos.
Como a turma foi dividida em grupos, cada um voltou ao Centro separadamente em
dias diferentes. Meu grupo retornou ao CMA no dia 07/11, para podermos realizarmos a
higienização e pré-catalogação dos documentos criminais do Tribunal de Justiça. A
higienização que fizemos foi a higienização preventiva, que é aquela que busca apenas
desacelerar o processo de degradação dos documentos, e não restaurar o documento ou as
informações contidas nele. Na pré-catalogação fomos instruídos a buscar informações mais
gerais das partes dos processos – réu e vítima –, como subsérie, procedência, nome,
nacionalidade, naturalidade, data do processo, anexos e observações, isto para que, em um
primeiro momento de análise, o pesquisador já consiga ter uma noção maior do que irá
encontrar no resto do processo.

CONCLUSÃO
A disciplina de Estágio, além de ter apresentado e reiterados conceitos importantes
relacionados a escrita da História, ela nos colocou em contato direto com o trabalho do
historiador dentro dos arquivos – tanto físicos como digitais –, para que sejamos capazes de
manipular os documentos de forma correta, a fim de que ao desenvolvermos nossas pesquisas
historiográficas, sejamos capazes de buscar as informações que necessitamos e aplicar os
métodos analíticos corretamente.
Dessa forma, com a experiência adquirida durante esse período foi observada a
necessidade do historiador sempre se atualizar, da mesma forma que o fazer historiográfico
sempre se renova. Apesar disso, sempre ter o olhar crítico, da mesma forma como sempre os
historiadores sempre tiveram cuidado em se ter.
Entender que as novas tecnologias, mesmo ajudando os pesquisadores, foram criadas
dentro de conjunturas que estavam necessitando delas no momento, e não apenas foram
resultado de uma evolução linear dos meios tecnológicos.
Para finalizar, deixo claro o tipo de historiador que desejo me tornar. Aquele que,
como já disse, entende as especificidades de se tempo, e analisa os dados com base em
métodos científicos, que não quer deixar que o conhecimento produzido dentro das
universidades se relegue a esse ambiente, para que
Que tipo de historiador eu quero ser

Você também pode gostar