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aperfeiçoada (p. 19), canalizar os “germes” de humanidade para o bem. Desvios poderá haver, mas se
devem à falta de uma educação conveniente. Uma educação conveniente é aquela que inclui o cuidado, a
disciplina e a instrução com formação, como já apontado acima. 

Antropologia Filosófica e Educação

REFLETIR SOBRE O PROCESSO EDUCATIVO ENQUANTO DESENVOLVIMENTO DOS SERES HUMANOS.

AUTOR(A): PROF. SUELEN DE PONTES ALEXANDRE

Um tema da maior importância para a educação e para a formação de educadoras e de educadores é o

tema relativo ao ser humano. Pois, o ser humano é o grande objetivo do processo educativo que é o

processo que visa à formação dos seres humanos. Diferentemente dos demais animais, o ser humano é o
único ser que nasce incompleto e que precisa da educação para o seu desenvolvimento. Há diversas falas

a respeito dessa necessidade de educação ou de formação para a desenvolvimento do ser humano.

Vejamos algumas da parte de filósofos.

“Nascemos humanos, mas isso não basta: temos também que chegar a sê-lo”, diz um autor do nosso Legenda: O PROCESSO DE EVOLUçãO DO HOMEM

tempo (SAVATER, 1998, p. 29). E ele diz mais: “A condição humana é em parte espontaneidade natural, mas
Sim, pode-se concordar. Mas, quais os critérios para a definição do que é benéfico ou maléfico para a
também deliberação artificial: chegar a ser totalmente humano – seja humano bom ou humano mau – é
humanização do humano? O que é mesmo bom para a formação humana? O que é mesmo um bom
sempre uma arte.” (idem, p. 31). Assemelha-se a ideias de Kant. No início de Sobre a Pedagogia lê-se: “O
humano? O que é formação humana boa? Aqui queremos saber não apenas o que é formação humana,
homem é a única criatura que precisa ser educada. Por educação entende-se o cuidado de sua infância (a
mas o que é formação humana boa.
conservação, o trato), a disciplina e a instrução com a formação.” (KANT, 1996, p. 11). Mais à frente diz,
Para responder a essas questões é necessário buscar ajuda na área de investigação da filosofia que reflete
ainda: “O homem não pode tornar-se um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a
criticamente sobre o ser humano: a antropológica filosófica. Sua pergunta básica é: o que é o humano?
educação dele faz.” (KANT, 1996, p. 15).
Trabalhar filosoficamente esta questão é uma das principais contribuições da Filosofia para a Educação.
Nessa perspectiva o ser humano precisa da educação, pois é ela que o faz humano: a educação o forma;
No campo temático da Filosofia da Educação a principal pergunta é a que diz respeito ao ser humano e ao
ela o constitui como humano. Kant insiste na ideia de se dar uma forma conveniente ao humano: “É
significado de sua existência, como afirma Severino que tem como referência filosófica, não a metafísica e
entusiasmante pensar que a natureza humana será sempre melhor desenvolvida e aprimorada pela
sim a posição histórico social. 
educação e que é possível chegar a dar aquela forma que em verdade convém à humanidade.” (1996, p. 17).

Que forma convém ao ser humano? Haveria uma fôrma à qual se devem submeter ou conformar os que
nascem para que desenvolvam seus “germes” de humanidade a um ponto de conveniência? Conveniência
(...) de um ponto de vista mais fundante, pode-se dizer que cabe à filosofia da educação a
para quem?  Kant fala mesmo em germes: “Há muitos germes na humanidade e toca a nós desenvolver,
construção de uma imagem do homem. (...) Trata-se do esforço com vista ao
em proporção adequada, as disposições naturais e desenvolver a humanidade a partir dos seus germes e
delineamento do sentido mais concreto da existência humana. (...). Como tal, a filosofia
fazer com que o homem atinja sua destinação.” (KANT, 1996, p. 18). Estes germes não são destinatários do
da educação constitui-se como antropologia filosófica.
mal, pois, “no homem não há germes, senão para o bem” (idem, p. 24), diz Kant. Esta é uma ideia a ser
SEVERINO, 1990, P. 21
bem pensada e discutida. Cumpre à educação, a esta arte nada fácil e que deve ser constantemente

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Não uma antropologia abstrata ou metafísica, mas “uma antropologia filosófica capaz de apreender o
homem existindo sob mediações histórico-sociais, sendo visto então como ser eminentemente histórico e

social.” (idem, 1990, p. 21). Segundo ele, ainda, a Filosofia da Educação deve ser entendida como “uma

elaboração com vistas à elucidação radical do sentido da educação” no contexto da existência humana.
(2001, p.119). Este é o primeiro e grande tema da investigação da Filosofia da Educação que, “desse ponto

de vista (...) é fundamentalmente uma antropologia, pois toda significação possível da educação está
atrelada à da existência humana na sua integralidade.” (idem, p. 119).

Numa insistência que parece denunciar um esquecimento imperdoável da dimensão antropológica em

muitas abordagens da Filosofia da Educação, Severino reitera este ponto de vista em publicação de 2004,

... impõe-se à Filosofia da Educação a construção de uma imagem do homem como

sujeito fundamental envolvido na educação. Trata-se de delinear o sentido mais concreto

da existência humana com relação às suas coordenadas de educabilidade. Como tal, a
Legenda: A VIVêNCIA SUBJETIVA NA DIVERSIDADE CULTURAL
Filosofia da Educação constitui-se como uma antropologia filosófica, entendida como
tentativa de construção de uma visão integrada do ser humano.  Pois, o que permite aos humanos serem diferentes dos demais animais é a possiblidade de escolhas, a
SEVERINO, 2004 P. 31 flexibilidade no seu comportamento. E isso tem como grande ajuda, o que este autor denomina de
sensibilidade epistêmica (ou seja, a sensibilidade que o leva à busca do conhecimento), a sensibilidade aos
valores morais (consciência ética), a sensibilidade aos valores estéticos (consciência estética) e a
É a partir destas premissas que Severino pode falar, também, em formação humana. Ele se pergunta: “O
sensibilidade aos valores políticos (consciência social). Sem o bom desenvolvimento dessas
que vem a ser essa formação?” (SEVERINO, 2002, p. 185). É o desenvolvimento das pessoas como
sensibilidades, somos humanos incompletos.
“pessoas humanas”: “Nós nos formamos quando nós nos damos conta do sentido de nossa existência,
Neste material do AVA, constam textos relativos a estas “sensibilidades” necessárias para todo ser
quando tomamos consciência do que viemos fazer no planeta, do porquê vivemos”. (idem, p. 185). Esta
humano em sua formação. Vejam-se os tópicos: Teoria do conhecimento e educação, Ética, Política e
tomada de consciência é o que ele denomina de dimensão subjetiva que exige o desenvolvimento de
Educação, Estética e Educação. E aqui, neste tópico estamos tratando de uma “sensibilidade” fundamental
sensibilidades que a constituem: a sensibilidade epistêmica, a sensibilidade aos valores morais
que deve ser desenvolvida principalmente nas educadoras e educadores: a sensibilidade antropológica.
(consciência ética), a sensibilidade aos valores estéticos (consciência estética) e a sensibilidade aos
Isto é, a sensibilidade para buscar insistentemente refletir criticamente sobre o ser humano e sobre o ser
valores políticos (consciência social).
humano que “convém” (releia-se a citação de Kant, acima) ajudar a formar.
Com vistas a oferecer mais alguns subsídios para esta reflexão, propõe-se que se retome o seguinte que
É toda esta esfera do exercício da dimensão subjetiva da pessoa que nos torna foi apresentado no primeiro tópico: primeiro que a Filosofia é uma das formas de saber produzidas pela
efetivamente humanos. Não bastam a integridade física, biológica, o bom funcionamento humanidade para tentar dar conta de certas “questões importantes” ou das “questões de fundo”. Ou
orgânico, as forças instintivas para uma adequada condução da vida humana. Sem a ainda, das “perguntas da vida”. Em segundo lugar que, dentre as questões ou “perguntas da vida”, situam-
vivência subjetiva continuamos como qualquer outro ser vivo puramente natural, regido se as perguntas da área da Antropologia Filosófica que são as seguintes:
por leis pré-determinadas, vale dizer, sem possibilidades de escolhas, sem flexibilidade
O que é o Ser Humano?
no comportamento. 
Ele é um ser dotado de uma essência ou natureza especial?
SEVERINO, 2002, P. 185

Ele é um ser diferente dos demais seres da natureza? Em que ele é diferente?
Há algum sentido para a existência humana? Se há, qual seria este sentido?

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O ser humano “se faz”, ou é um ser determinado pela sua essência ou pela sua natureza?
Como entender algumas características do ser humano como: a linguagem; o pensamento articulado; a
sociabilidade; o trabalho transformador da natureza; a produção de cultura; a busca pelo
transcendental; a educabilidade; etc.?
 
Legenda: A EDUCAçãO COMO FONTE DA EVOLUçãO HUMANA
A palavra antropologia deriva de “ anthropos”, do grego, que quer dizer ser humano, englobando aí o ser
humano masculino (andrós) e o feminino (guiné). A Antropologia Filosófica busca saber do ser do
humano. Trata-se da busca por respostas a diversas perguntas como as mencionadas acima.
Há diversas respostas para estas questões produzidas pela reflexão filosófica ao longo da história do
pensamento humano. Algumas são denominadas de racionalistas, outras de cientificistas, outras podem
ser denominadas de essencialistas, outras de materialistas, ou por outras denominações.
Vejamos, resumidamente, o que dizem estas respostas ou posições sobre as perguntas relativas ao ser
humano para, depois pensarmos sua relação com propostas educacionais. Dissemos, anteriormente, que
conforme o entendimento que se tem do que seja o ser humano, assim se propõe sua educação. Toda
proposta educacional tem como um de seus pressupostos alguma concepção de ser humano. Alguma
Antropologia Filosófica.
Para a posição racionalista sobre o ser humano o que mais distingue o homem dos demais animais é o
fato de que ele é um ser racional. Essa visão que tem sua origem na filosofia grega (Sócrates, Platão,
Aristóteles), passa pela Escolástica Medieval, passa também pela Filosofia Moderna e chega até nossos
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dias. De acordo com esta posição uma boa definição do ser humano é a que afirma ser ele uma animal
racional. Aí estaria o grande diferencial entre os humanos e os demais animais.
Vocês podem buscar mais informações a este respeito em diversas fontes como nos livros citados no
primeiro tópico e na internet.
Para pensar: seria este o grande diferencial entre o ser humanos e os demais animais? 
Legenda: VAMOS REFLETIR?
Para a uma posição naturalista ou cientificista a respeito do ser humano, ele e todas as suas atividades são
determinadas pelas leis da Física, da Química, da Biologia. O ser humano é visto como a mais complexa
forma de vida e pode ser entendido pelas mesmas leis que governam todos os outros seres da natureza.
Ele é fundamentalmente um “ser da natureza”. Ser cientificista significa afirmar que tudo pode ser
entendido ou explicado somente com os recursos das ciências. Outras formas de conhecimento não são
reconhecidas como capazes de produzir explicações e entendimentos confiáveis inclusive sobre o ser
humano. Quem tem esta posição pensa a educação orientada apenas por conhecimentos científicos.
O que pensam vocês, estudantes de um curso superior em Educação?
Para a denominada posição essencialista, o ser humano possui uma essência já dada (ou uma natureza)
que o define com suas características básicas as quais não se modificam no decorrer do tempo. Elas são
apenas desenvolvidas ao longo da existência. Dependendo do grau desse desenvolvimento, cada ser
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humano é considerado mais perfeito. Uma grande dificuldade própria dessa posição reside na definição A. um "ser da natureza". Ser cientificista significa não afirmar que tudo pode ser entendido ou

das características essenciais do ser humano. Já se vê, por aqui, que há implicações sérias desta visão explicado somente com os recursos das ciências.

para a educação. B. um "ser da natureza". Ser cientificista significa afirmar que tudo pode ser entendido ou explicado

Para pensar: há mesmo uma essência humana já dada e que deve ser desenvolvida através da educação. somente com os recursos das ciências.

Se sim, que essência é essa e como ela é? C. um "ser da natureza". Ser cientificista significa afirmar que nada pode ser entendido ou explicado
Posições materialistas sobre o ser humano. somente com os recursos das ciências.

Ter uma concepção materialista da realidade e do ser humano significa afirmar que tudo o que existe é D. um "ser da natureza". Ser cientificista significa afirmar que tudo pode ser entendido ou explicado

matéria ou decorrência dela. O ser humano, para essa posição, é um corpo material e, como tal, ele para além dos recursos das ciências.

participa da realidade material obedecendo as suas leis. Para nossas considerações, tomemos dois tipos
 Sobre a antropológica filosófica, podemos afirmar que:
de materialismo.

  A. É uma área de investigação da filosofia que reflete criticamente sobre o ser humano.

B. É uma área de investigação da filosofia que pesquisa sobre o ser humano.

1. Materialismo mecanicista: afirma que toda a realidade material, inclusive o ser humano, está constituída
C. É uma área de investigação da filosofia que critica o ser humano.
de tal forma que nela não há mudanças. Tudo funciona guiado por leis fixas e perenes que nunca se
D. É uma área de investigação da filosofia que não tem como objeto de análise o ser humano.
modificam. Tudo funciona como um grande mecanismo.
2. Materialismo histórico social, materialismo dialético, ou ainda, materialismo histórico-dialético.

  REFERÊNCIA
Esta maneira de pensar afirma que a realidade e o ser humano são materiais, mas ambos em processo de
KANT, I. Sobre a pedagogia . Trad. Francisco Cock Fontanella. Piracicaba, SP: Editora Unimep, 1996.
contínua construção e reconstrução. Tudo está em devir: tudo está tornando-se uma outra realidade, ou
SAVATER, F. O valor de educar. Trad. Mônica Stahel. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
uma outra maneira de ser.
SEVERINO, A. J. A contribuição da  Filosofia para a Educação. Em Aberto . Brasília, ano 9, n. 45, p. 19-25,
Isso significa afirmar que há uma história: daí o nome de materialismo histórico. E, nesta história, tudo vai
jan. mar. 1990.
ocorrendo. Tudo, inclusive a vida humana e, derivada dela, a formação dos seres humanos. O ser humano
_________________. Educação, sujeito e história . São Paulo: Olho d¿Água, 2001. 
é produzido (ou se produz?) nesta história, isto é, nas relações que acontecem nela: relações com
_________________. A Filosofia da Educação no Brasil : esboço de uma trajetória. In: GHIRALDELLI  Jr., Paulo
natureza e com os demais seres humanos. E tudo o que ocorre, ocorre numa luta contínua de contrários
(org.). O que é filosofia da educação? 3.. Ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p. 265- 326.
presentes nesta realidade e, por conseguinte, no ser humano que dela faz parte. Daí o adjetivo dialético
________________. A filosofia na formação do jovem e a ressignificação de sua experiência existencial. In:
unido às duas outras palavras: materialismo histórico e dialético.
KHOAN, W. Ensino de filosofia: perspectivas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
Pensando: como seria uma educação a partir dessas ideias?
________________. A compreensão filosófica do educar e a construção da Filosofia da Educação. In: ROCHA,
  Que consequências, para a educação, podem ser pensadas  partir dessas posições ou concepções
Doroty (org.). Filosofia da Educação: diferentes abordagens. Campinas: Papirus, 2004.
filosóficas sobre o ser humano?

ATIVIDADE FINAL

O ser humano é visto como a mais complexa forma de vida e pode ser

entendido pelas mesmas leis que governam todos os outros seres da

natureza. Ele é fundamentalmente :

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