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Educação como exercício do poder:

Crítica ao senso comum em educação


Vitor Henrique Paro

Prof. Flávio Boleiz Júnior


Fundamentos da Educação
Educação

 Educação e ensino no senso  Família e escola


comum Educação é geralmente
Comumente associada a imputada à família;
ensino. Ensino é normalmente
Educação — campo dos atribuído à escola
valores e das condutas;
Ensino — “passagem” de  Instrução: outro nome dado
conhecimentos. ao ensino para enfatizar seu
caráter mais instrumental.

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O que não é educação

 Se acredita que educação  O educador aparece como


(ou ensino) é a simples simples provedor dos
“passagem” de conhecimentos e
conhecimentos e informações e o educando
informações de quem sabe como simples receptáculo
para quem não sabe. O mais desses conteúdos, que é o
importante é o conteúdo a que conta, podendo ser mais
ser “transmitido”. ou menos ricos, dependendo
de sua quantidade e
qualidade.

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Conteudismo

 O método de ensino acaba  Em lugar de levar em conta


reduzido a uma os três elementos do
apresentação ou exposição processo educativo
de conhecimentos e (educador, educando e
informações, sem qualquer conteúdo) e suas mútuas
consideração pela relações, o que se faz é
subjetividade de educador e concentrar as atenções
educando. apenas no conteúdo.

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Educação tradicional

 O educador é um explicador  “Se observarmos uma aula


de conteúdos. típica de um curso de

Concepção que prevalece e doutorado e compararmos
orienta a prática escolar no com uma aula típica do
Brasil. primeiro ano do ensino
fundamental, percebemos a
 Presente em todos os vigência da mesma forma de
segmentos da educação relação entre educador e
básica à pós-graduação. educandos.” (p. 23)

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Educação e cultura

 Em seu sentido mais amplo,  “A cultura envolve


podemos dizer que a conhecimentos,
educação consiste na informações, valores,
apropriação da cultura. crenças, ciência, arte,
tecnologia, filosofia, direito,
costumes, tudo enfim que o
 Ao produzir cultura o ser homem produz em sua
humano se faz sujeito transcendência da Natureza.
histórico (produzir cultura é
produzir história). À Natureza contrapõem-se a
cultura.” (p. 24)

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Humano e Natureza

 “É como sujeito que o  “A criação de um valor


homem se diferencia do permite aos humanos
restante da Natureza. Ele é estabelecer um objetivo que
o único ser para quem o o satisfaça e que só pode
mundo não é indiferente.” realizar-se com a atividade

“Na criação de valores do homem orientada para
revela-se o caráter ético do sua concretização.” (p. 24)
homem: é por essa
característica que ele
transcende a necessidade
natural”. (p. 24
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Trabalho humano

 “Atividade adequada a um  À medido que modifica a


fim” (Karl Marx). Natureza externa, pelo
“Ao transformar a Natureza trabalho, o homem “modifica
pelo trabalho, o homem sua própria natureza” (Karl
transforma-se a si mesmo, Marx).
ou melhor, cria-se a si
mesmo pelo trabalho, ao 
“O homem faz história,
criar suas próprias portanto, ao produzir
condições de existência cultura”. (p. 25)
histórica”. (p. 25)

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Educação como apropriação da cultura

 “Nascido Natureza pura,  “O homem vai se tornando


para fazer-se homem à mais humano (histórico) à
altura de sua história, o medida que desenvolve suas
humano precisa apropriar-se potencialidades, que à sua
da cultura historicamente natureza vai acrescentando
produzida.” cultura, pela apropriação de
 “A educação como conhecimentos,
apropriação da cultura informações, valores,
apresenta-se, pois, como crenças, habilidades
atualização histórico- artísticas, etc.” (p. 25)
cultural.” (p. 25)
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Duas características do conceito crítico de educação


Primeiro:  Segundo:
A preocupação da educação Em consequência disso, seu
tomada num sentido rigoroso conteúdo é a própria cultura
é com o homem na humana em sua inteireza,
integralidade de sua como produção histórica do
condição histórica, não se homem, não se bastando
restringindo a fins parciais de nos conhecimentos e
preparação para o trabalho, informações como costuma
para ter sucesso em exames fazer a educação tradicional.
ou para qualquer aspecto (p. 26)
restrito da vida das pessoas.
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O homem é um ser político

 Conceito geral de política:  Duas formas de convivência


(política):
“Atividade humano-social com
o propósito de tornar Pela dominação — quando uma
das partes reduz ou anula a
possível a convivência entre
subjetividade da outra, tomando-
grupos e pessoas, na a como objeto;
produção da própria
existência em sociedade. Pelo diálogo — quando há troca
de impressões, contraposição
de interesses e de vontades,
mas com a predominância da
aceitação mútua e da
negociação.
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 Democracia  “Ao considerar a cultura
 “Em seu sentido mais amplo, como conteúdo da
forma de convivência educação, nela se incluem
pacífica e livre entre pessoas os valores da convivência
e grupos que se afirmam democrática, visto que a
como sujeitos.” (p. 28) democracia é um dos
elementos dessa cultura
que, como toda construção
histórica, só se efetiva e se
estabelece historicamente.”
(p. 28)
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Educação e cidadania

 “Para a educação, a  “Tomar o homem histórico


principal implicação dessa como o objetivo da
condição política do humano educação implica formá-lo
diz respeito ao tipo de como cidadão, afirmando-o
sociedade que se tem em em sua condição de sujeito e
mente em termos políticos e, preparando-o para atuar
por conseguinte, ao tipo de democraticamente em
homem político que se socidade.” (p. 28)
pretende formar.”

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Os conteúdos continuam sendo importantes

 “Quando o conteúdo envolve  “Os conteúdos continuam


toda a cultura, em que além sendo importantes, e até
de conhecimentos e ganharam abrangência
informações, acham-se muito maior, mas as
contemplados valores, atenções agora se estendem
condutas, crenças, gostos para o educador e para o
artísticos, etc., fica muito educando.” (p. 29)
mais evidente que os
métodos de ensino precisam
incorporar a participação
ativa do educando.”
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O educando só aprende se quiser

 “Da parte do educando, sua  “Eis a verdade cristalina com


educação só se dá se ele que a Didática deve deparar-
dela participa como detentor se: o educando só aprende
de vontade, como autor. se quiser. Diante disso, o
Se o fim a alcançar é o homem que há a fazer é buscar
como sujeito, a maneira e os formas de levar o aluno a
métodos utilizados precisam querer aprender. Para isso, é
ser coerentes com esse fim.” preciso que se levem em
(p. 30) conta as condições em que
ele se faz sujeito. (p. 31)

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Motivações extrínsecas e intrínsecas

 “Longe das motivações  “É preciso fazer o ensino


extrínsecas ao ensino — o intrinsecamente desejável.
prêmio ou a punição — Não se trata de cair na não
usadas e abusadas pela diretividade ou no
escola tradicional [e pela espontaneísmo, mas de
família], trata-se de dotar o oferecer ao educando
ensino de motivações condições para que ele, sem
intrínsecas.” sacrifício de sua
subjetividade, associe-se
aos propósitos educativos do
educador.” (p. 31)
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Docente precisa querer ensinar


“Com relação ao educador, o 
Mais do que sujeito, ele tem a função
aspecto mais evidente de sua de propiciar condições para que os
condição de sujeito é que, pela educandos se façam sujeitos. Por
razão que o aluno só aprende se isso, além de familiaridade com a
quiser, também o professor precisa metodologia adequada e
querer ensinar para conseguir fazê- conhecimento técnico sobre
lo. Sua condição de educador, educação, ele precisa estar
comprometido com o trabalho que
envolvido portanto na construção de
realiza. Não basta conhecer
personalidades humano-históricas, determinado conteúdo e ‘explicá-lo’ a
não permite que tenha uma atitude seus alunos, é preciso saber como
exterior ao processo ensino- ensinar os conteúdos da cultura de
aprendizagem como mero repetidor modo a que se alcance a formação da
de ‘conteúdos’ a seus alunos. personalidade do educando. (p. 32-33)

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Mais duas condições para se fazer boa educação

 “Não basta ao educador 


“Toda política educacional deve
gostar do trabalho que ser orientada para oferecer as
exerce, é preciso ter condições tanto materiais
consciência política de sua (salário compatível, carreira,
função e do que ela assistência profissional etc.)
representa na construção de quanto didáticas (organização
e funcionamento da unidade
seres democráticos para escolar) que não só permitam
uma sociedade mas também induzam os
democrática.” professores a realizar uma
educação de boa qualidade.”
(p. 33)
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