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1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
4 FLOORTIME ............................................................................................. 20
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
Fonte: https://bityli.com/xkHlT
As primeiras publicações sobre autismo foram feitas por Leo Kanner (1943) e
Hans Asperger (1944), que de forma independente (primeiro em Baltimore e depois
em Viena) forneceram relatos sistemáticos de casos associados a escolas e suas
hipóteses sobre a teoria correspondente para essa síndrome desconhecida
(BAPTISTA; BOSA 2002).
Kanner encontrou nas crianças sob seus cuidados uma impotência nas
relações interpessoais, o que as distingue de outras patologias como a esquizofrenia:
as crianças relacionam-se normalmente com pessoas e situações em seus primeiros
dias. Para Kanner, tal comprometimento dificulta a adoção de uma atitude que sinaliza
um desejo de ser abraçado ou pego no colo (por exemplo, inclinar o rosto, estender
os braços e depois acomodar-se no colo); tratando-se de um “autismo
excessivamente autocontido”, fazendo com que a criança, ignore ou rejeite tudo o que
vem de fora.
Outra característica observada é a demora na aquisição da fala (mas não toda)
e no seu uso não comunicativo, ou seja, a linguagem não sendo utilizada como
ferramenta de comunicação, receber e transmitir mensagens para outras pessoas,
que são significativas, sendo três das crianças permanecendo "mudas" até aquele dia.
A fala consiste principalmente em palavras para nomes de objetos, adjetivos
para cores, alfabetos, músicas, listas de animais, nomes de pessoas importantes;
versos memorizados ou frases discretas, combinações de palavras ouvidas e
repetidas". Às vezes as palavras são repetidas assim que são ouvidas
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(imediatamente), às vezes mais tarde (atraso na fala); os pronomes pessoais são
repetidos exatamente como foram ouvidos, falando assim dele mesmo na terceira
pessoa (pronome de inversão).
A entonação também nem sempre corresponde ao contexto linguístico (por
exemplo, uma resposta é dada com entonação questionável). Especialmente notório
é o sentido literal dado a palavras que ficam “presas” em determinada situação,
tornando-se inflexíveis. Não foram observadas dificuldades quanto ao uso de plurais
e conjugados, ou memória. Este último foi considerado excelente, especialmente em
sua capacidade de lembrar eventos que aconteceram há muitos anos, de memorizar
poemas e nomes complexos, sequências e padrões.
Para Kanner, tais habilidades indicam boa inteligência no sentido geralmente
aceito do termo e acredita no bom potencial cognitivo dessas crianças, crianças com
rostos muito inteligentes. Mais tarde foi determinado que, para Kanner, essas crianças
eram extremamente inteligentes, embora não demonstrassem isso.
Ele também chamou a atenção para a falta de coesão física na maioria das
crianças. Dificuldades na atividade motora grossa, em contraste com uma capacidade
surpreendente de habilidades motoras finas (como evidenciado pela capacidade de
girar objetos redondos), também foram identificadas por Kanner. Para este autor, no
entanto, a insistência obsessiva na manutenção regular, que resulta em uma
variedade limitada de atividades espontâneas, é uma das principais características do
autismo. Isso se somava à impotência nas relações interpessoais: nelas há uma forte
necessidade de não ser perturbado (BAPTISTA; BOSA, 2002).
O que quer que seja trazido de fora para a criança, qualquer coisa que altere
seu ambiente externo ou interno é uma terrível intrusão. Medo e reações fortes a
ruídos e objetos em movimento, objetos quebrados ou incompletos, repetição de
atividades, desempenho ritual muito complexo, brinquedos estereotipados ausentes
criatividade e espontaneidade, a introdução de novos alimentos, vem desse medo da
mudança. Se algo for alterado, mesmo o menor detalhe, a situação não é mais a
mesma e é inaceitável.
Por outro lado, Kanner aponta que qualquer coisa que não seja alterada em
forma e posição, ou seja, preserva sua identidade e não ameace o isolamento da
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criança, não é apenas bem tolerada pela criança, mas também se torna um objeto de
interesse da criança que as crianças podem passar horas brincando porque, de
acordo com especialistas, dá às crianças uma sensação gratificante de onipotência e
controle. Ele ilustrou o conceito com o exemplo do êxtase das crianças sobre sua
capacidade de girar objetos e continuar a vê-los girar - o poder que experimentam em
seus próprios corpos, balançando e movendo-se ritmicamente (BAPTISTA; BOSA,
2002).
As observações desses autores representam o embrião das noções
contemporâneas de que a sensação pode prever e controlar situações que facilitam o
enfrentamento e o aprendizado do autista e tem implicações para as intervenções.
Finalmente, uma questão de grande controvérsia nos últimos anos foi a
observação de Kanner das famílias das crianças que ele observou. Ele destaca que
entre os denominadores comuns entre eles estão os altos níveis de inteligência e
socioculturalismo dos pais, e uma certa frieza na relação, não só entre casais, mas
também entre pais, mãe e filhos.
Também destacou aspectos assustadores do ambiente doméstico, por
exemplo, pelo nível de detalhes em relatórios e diários. No entanto, no mesmo artigo,
Kanner se questiona sobre a causalidade entre os aspectos familiares e patológicos
da criança: A questão é se, ou em que medida, esse fato tem contribuído para a
condição da criança. desde os primeiros dias de suas vidas, torna difícil atribuir todo
esse quadro ao tipo de relacionamento parental inicial de nossos pacientes. Ele
conclui seu trabalho argumentando que o autismo surge de uma incapacidade inata
de estabelecer contato emocional habitual e biológico, prever com as pessoas,
chamando a atenção para a necessidade de pesquisas que forneçam "critérios
específicos" sobre os componentes constituintes das respostas emocionais
(BAPTISTA; BOSA, 2002, p. 25).
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2.1 Histórico conceitual do autismo
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ou neuropsicológica. Os critérios que suportam o diagnóstico de autismo sofreram
várias alterações ao longo dos anos e foram descritos no manual de patologia
(BAPTISTA; BOSA, 2002).
Os mais conhecidos e mais utilizados são o Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais (DSM) e a Classificação Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID), especialmente a partir de 1980. Esses
manuais diferem na nomenclatura, características e códigos utilizados para fins de
diagnóstico, mas convergindo em pressupostos conceituais que sustentavam
classificações não-teológicas, hegemônicas na época em que foram publicadas.
A principal mudança, porém, é a substituição da visão psicanalítica da doença
mental, cujas origens serão provocadas por eventos traumáticos e se baseia em
conceitos de personalidade, estrutura e psicodinâmica, utilizando um modelo
biomédico com diagnóstico classificatório (grupo de sintomas) e uma abordagem
multieixo, que também considera o aspecto orgânico e a influência de fatores externos
no comportamento. Esse processo foi acompanhado pelo surgimento e
desenvolvimento da indústria farmacêutica, principalmente dos psicotrópicos, o que
levou a um aumento no diagnóstico de doenças mentais (DIOGO; SILVA, 2021).
As primeiras versões da CID não mencionavam o autismo. A oitava edição lista
como uma forma de esquizofrenia e a nona edição a classifica como um transtorno
psicótico infantil. Desde a década de 1980, vimos uma verdadeira revolução de
paradigma no conceito, com o autismo sendo retirado da categoria de doença mental
no DSM-III, assim como na CID-10, passando para transtornos do desenvolvimento.
O DSM-IV traz o Transtorno do Espectro Autista como parte do Transtorno Invasivo
do Desenvolvimento (Pervasive Developmental Disorder). A CID-10 e o DSM-IV
estabelecem critérios para um declínio nos Transtornos do Espectro do Autismo em
três áreas principais: mudanças qualitativas nas interações sociais recíprocas;
métodos de comunicação; Atividades e interesses restritos, estereotipados e
repetitivos (BOSA, 2005).
Essa mudança reflete os seguintes aspectos: Acumulação de conhecimento
adquirido por meio de investigações em diferentes partes do mundo, incluindo
investigações epidemiológicas, visando identificar características clínicas comuns e
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suas peculiaridades e diferentes aspectos de outras doenças (por exemplo, retardo
mental, distúrbios da fala e esquizofrenia) (BOSA, 2005).
Durante a primeira década do século XXI, várias conferências foram realizadas
para coletar a literatura sobre transtornos mentais produzida até o momento. Vários
grupos de trabalho contribuíram para o desenvolvimento da quinta edição do DSM. O
DSM-V rompe com o modelo multieixo, embora mantenha sua recomendação para
avaliação de fatores psicossociais e ambientais; A Escala Funcional Global também
foi retirada, mas não há contraindicações ao uso de escalas diferentes para auxiliar
no diagnóstico. Dentro dessa classificação nosológica, o autismo passa a ser
considerado um transtorno do neurodesenvolvimento e é referido como um Transtorno
do Espectro Autista (TEA). Esta categoria absorve outros transtornos especificados
em Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID) em um único diagnóstico,
distinguindo apenas na gravidade relacionada à interação e comunicação
(FERNANDES; TOMAZELLI; GIRIANELLI, 2020).
A CID-11, publicada em 2018, mantém a mesma terminologia (TEA) e
alterações feitas no DSM-V, mas com a redução dos subdomínios de auxílio
diagnóstico. O objetivo deste estudo foi analisar a evolução do diagnóstico de autismo
no século XXI, a partir dos domínios e subcampos sobre os quais as classificações
não acadêmicas estavam disponíveis na época (FERNANDES; TOMAZELLI;
GIRIANELLI, 2020).
A psiquiatra inglesa Lorna Wing critica o subgrupo proposto por esses sistemas
(autismo típico, atípico, não especificado etc.) e chama a atenção para as diferenças
entre requisitos clínicos e de pesquisa. Do ponto de vista da pesquisa científica, é
importante identificar os subgrupos e seus possíveis perfis sociais, cognitivos, etc. No
entanto, em termos de intervenção, receber um diagnóstico de por exemplo, autismo
não especificado faz pouco sentido para os pais quando é importante entender como
o indivíduo funciona em vários domínios do desenvolvimento. Assim, no final da
década de 1970, se propôs que o termo Espectro Autista fosse adotado pela British
National Autistic Society para denotar déficits qualitativos na chamada tríade de
déficits (linguagem/comunicação, imaginação social) (BOSA, 2005).
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A classificação francesa define o autismo como uma psicose e distingue o
autismo infantil referido como o tipo Kanner (com o aparecimento dos primeiros
sintomas no primeiro ano de vida e um quadro completo através da idade de três anos)
de "outras formas de autismo infantil" (com início tardio dos sintomas aos três anos,
incluindo algumas formas de psicose simbiótica), retardo mental, demência e
distúrbios complexos da linguagem oral. Da mesma forma, o Grupo para o Avanço da
Psiquiatria (GAP, 1990) classifica o autismo como um transtorno psicótico e o chama
de autismo infantil (BOSA, 2005).
Com isso queremos mostrar que a concepção do autismo como uma psicose
ou como um transtorno do desenvolvimento depende do sistema de classificação
utilizado, que por sua vez implica em diferentes concepções teóricas do
desenvolvimento infantil. Embora a preocupação em estabelecer critérios rígidos e
padronizados na CID e no DSM para possibilitar uma “linguagem comum” na
comunidade científica seja fundamentalmente “teórica”, há posições contrárias a ela.
Os sistemas classificatórios enfatizam os déficits cognitivos no desenvolvimento,
enquanto a classificação francesa e o GAP baseiam seus critérios nos déficits afetivos
e adotam uma abordagem mais ampla do que descritiva. A base dos critérios, pelo
menos do GAP, é a abordagem psicanalítica, que atribui a falta de autismo a um
distúrbio básico da função do ego, afetando o desenvolvimento das funções básicas
da personalidade com referência no processo de individuação e as relações
interpessoais (DIOGO; SILVA, 2021).
A literatura psicanalítica enfatiza o papel materno e paterno na ocorrência e
expressão da psicose, embora historicamente tenha havido discordância quanto à
afirmação de que a psicose (e, portanto, o autismo de acordo com essa abordagem)
resulta de problemas nessa relação. Por outro lado, embora o termo "cognitivo" nos
direcione para ideias sobre o desenvolvimento dos processos comportamentais
básicos (percepção, memória, linguagem etc.) processos cognitivos envolvidos em
um contexto social e afetivo. No campo do desenvolvimento sociocognitivo, como
postulado por teóricos como Vygotsky, Bruner e Trevarthen, não há como separar o
desenvolvimento cognitivo do afetivo e seu substrato biológico, com ênfase particular
no papel da cultura nesse processo (BOSA, 2005).
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A conclusão a tirar desta reflexão é que o envolvimento precoce influencia o
desenvolvimento como processo e, portanto, a personalidade (através da interação
do self e da experiência com o ambiente, o que ajuda o desenvolvimento da noção de
si, dos outros e do mundo possível ao seu redor), seja o autismo classificado como
um transtorno mental ou de desenvolvimento. De fato, falta um modelo teórico
completo para explicar a diferença entre as duas formas de classificação. Conclui-se
a partir dessa discussão que a diferença está na ênfase nos aspectos neurobiológicos
das origens do Transtorno do Espectro Autista (e sua relação com aspectos cognitivos
sociais e emocionais), emocional - ponto de vista "orgânico", ou em processos
emocionais (DIOGO; SILVA, 2021).
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Asperger também levantou a hipótese de um profundo distúrbio narcisista
conhecido como "instinto". Coincidentemente, ambos usam o termo autismo
(inicialmente na forma adjetiva - transtorno de exposição autista para Kanner e
psicopatia autista para Asperger, e mais tarde na forma nominal - autismo infantil
precoce) para descrever a natureza do comprometimento. Esta foi uma tentativa de
destacar aspectos do intenso retraimento social observado em seus pacientes.
Tanto Kanner quanto Asperger usam o termo para chamar a atenção para a
qualidade do comportamento social que vai além da simples questão de isolamento
físico, timidez ou recusa do contato humano, o que caracteriza especialmente a
dificuldade em manter contato emocional com os outros, espontaneamente e vice-
versa.
A nosso ver, a reciprocidade - ou melhor, a privação - continua sendo um dos
principais sinais do autismo. Portanto, o conceito de criança incomunicativa, isolada
fisicamente e incapaz de expressão emocional, não corresponde às observações
atuais de estudos nessa área. De qualquer forma, até Kanner chamou a atenção para
as diferenças individuais entre os casos que observou: "11 crianças (8 meninos e 3
meninas), cujas histórias foram apresentadas rapidamente, apresenta, como seria de
esperar, diferenças individuais no grau de seus distúrbios, em suas manifestações
familiares e em sua evolução ao longo dos anos” (Kanner, 1943, APUD BOSA, 2005,
p. 05).
No final da década de 1960, a imagem "clássica" descrita por Kanner tornou-
se popular entre os profissionais. No entanto, rapidamente ficou claro que havia
grupos de crianças que tinham características semelhantes às identificadas por
Kanner, mas ainda não correspondiam exatamente à sua descrição. É claro que os
tipos de necessidades, em termos de intervenções, são, no entanto, semelhantes.
Essa descoberta levou à fundação da primeira associação formada por
familiares e especialistas na área do autismo, fundada na Inglaterra em 1962 - a
National Autism Society. Os debates se multiplicaram, criando a necessidade de
pesquisas sobre a relação entre autismo e outros transtornos do desenvolvimento,
particularmente deficiências mentais, e problemas com linguagem e comunicação
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3 CARACTERISTICAS DO TEA
Fonte: encurtador.com.br/acLT6
Por muito tempo, a ideia predominante de pessoas com autismo era ignorar o
mundo ao seu redor, recusar-se a fazer contato físico, não olhar para as pessoas, e
se interessar mais por objetos, outros ou até mesmo não diferenciando seus pais com
um estranho na rua. A mídia e a literatura têm enfatizado a imagem do "gênio"
disfarçado, engajado em movimentos repetitivos do corpo e aceno de mão.
Kanner acreditava na inteligência das crianças com autismo, embora não o
demostrassem. Tal concepção levou ao mito da criança "secretamente inteligente". A
consequência imediata dessa noção é o risco de superestimar o potencial da criança,
criando demandas sociais e intelectuais além de sua capacidade, com consequências
desastrosas. Os cinemas são responsáveis por promover a ideia de que as pessoas
com autismo têm talentos especiais (a capacidade de memorizar listas telefônicas,
realizar cálculos complexos, desenhar com perfeição etc.). De fato, tais competências
estão presentes em menos de 10% das pessoas diagnosticadas com autismo e são
explicadas por uma combinação de comportamentos obsessivos e interesses sociais
limitados, ou pela tendência de processar informações do ambiente de forma
específica e não global (BOSA, 2005).
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A troca de conhecimento proporcionada pelo avanço da pesquisa e a facilidade
de comunicação entre pesquisadores de todo o mundo ajudaram a transformar essa
situação. Embora se refira à "tríade do compromisso" no espectro do autismo (para
usar o termo de Lorna Wing para os compromissos existentes nas áreas de
comportamento social, linguagem e comunicação, rituais, preferências, estreitos e
estereotipados - motivo e linguagem), enfatizamos a observação do autor de que
esses aspectos não são "separáveis", como o termo sugere (BOSA, 2005).
De fato, a expressão resulta de medidas estatísticas, demonstrando que os
compromissos que aparecem nesses campos não ocorrem "aleatoriamente"; eles vêm
juntos, embora com diferentes intensidades e qualidades. Ele passa a apontar as
grandes diferenças que existem entre os indivíduos. Para o comportamento social,
linguagem e comunicação, não é difícil dar significado teórico a este resultado
estatístico, pois a linguagem inclui os restantes "dois domínios", portanto, do ponto de
vista do futuro. Quando se trata de interação social (participação básica no autismo),
pode ser difícil imaginar interações sem falar, tanto pela linguagem quanto pela
comunicação (por palavras ou gestos, por contato visual, etc.).
A criança com TEA segue rotinas rígidas e muito elaboradas, como seguir
sempre o mesmo caminho, sempre colocar o lençol da mesma maneira ou exigir que
seja sempre da mesma cor e padrões de locomoção (balançar o corpo, agitação,
braço ou movimento repetitivo da mão na frente do rosto), esta é claramente a área
de estudo menos investida. Por outro lado, descobrimos que os estereótipos são
comportamentos que pouco fazem para distinguir as pessoas autistas de outras
pessoas com deficiência, que não possuem características autistas (por exemplo,
deficiências mentais ou sensoriais, etc.). Por outro lado, os rituais tendem a ser mais
específicos do autismo (se acompanhados de compromissos sociais).
É importante notar que algumas peculiaridades não são específicas do
autismo, incluindo o clássico e conhecido "equilíbrio corporal". O comportamento tem
funções diferentes dependendo da situação. Assim, um mesmo comportamento pode
desempenhar diferentes funções: tensão avassaladora, comunicar desejos e
necessidades, formas de protesto ou mesmo responder às exigências da sociedade,
no caso de nenhum outro comportamento ser mais adequado. Por exemplo, uma
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criança pode apresentar uma fala repetidamente, mas não entender as palavras que
fala, em resposta à “conversa adulta". Pais e profissionais estão cientes do surgimento
de estereótipos em situações de medo, cansaço e tédio, com tendência a aumentar
em situações em que a pessoa está inativa (por exemplo, assistir TV). Situações
inesperadas e, portanto, incontroláveis também podem causar tais comportamentos
com grande agitação e angústia: uma pequena chuva; um objeto quebrado; qualquer
acidente, como um pneu furado; desalinhamento; uma ponta do tapete que "continua"
dobrada (BOSA, 2005).
As pessoas com autismo permanecem muito sensíveis às mudanças de humor
das pessoas com quem convivem, talvez porque estejam cientes de mudanças sutis,
como: tom de voz, expressões faciais ou pressão do toque, mesmo que não saibam
como "interpretar" o significado de toda essa gama de comportamento não-verbal. Um
professor percebeu a grande agitação de um adolescente no dia em que soube da
doença de um de seus parentes. Outro aspecto notável é a suposta desconexão com
o mundo circundante (BOSA, 2005).
De acordo com Riviere (2004), a comunicação é uma das áreas mais afetadas
no TEA. Fica comprometida a capacidade de usar a linguagem para externar ideias,
sentimentos e desejos, seja por meio de palavras ou de expressões gestuais. Além
disso, o TEA provoca dificuldades para compreender a linguagem “para além do que
é dito”, ou seja, há uma tendência a compreender literalmente o que se diz. Assim, os
indivíduos com TEA têm dificuldade para interpretar ironias, frases de duplo sentido e
linguagem metafórica.
O desenvolvimento da linguagem oral em crianças com TEA pode estar
comprometido ou não, variando desde o total bloqueio dessa capacidade até o
desenvolvimento sofisticado dela. A ausência da linguagem oral em crianças com TEA
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não significa que não sejam capazes de falar. Elas não falam por serem incapazes de
se comunicar. Quando falam, é uma fala fora de contexto e meramente expressiva,
sem a intenção de comunicação.
Em um grau leve de comprometimento da linguagem, a criança pode fazer uso
da fala para se expressar, porém sua fala é pouco ou nada funcional. Ou seja, ela
pode não filtrar o que diz e falar coisas totalmente fora do contexto. Quando existe a
fala funcional (voltada para a comunicação), parece estar voltada muito mais para a
intenção de comunicar seus interesses restritos do que para compartilhar ideias com
seu interlocutor, o que é pouco adequado às situações interativas.
Em um grau profundo, a comunicação é totalmente ausente. A pessoa com
TEA apresenta mutismo total ou funcional. Pode ser que ela faça pequenas
verbalizações não linguísticas, ou seja, sem a intenção de estabelecer comunicação
ou diálogo. O mutismo funcional ocorre em forma de ecolalias (repetir palavras e
frases aleatoriamente e fora de contexto).
As dificuldades de compreensão também são variáveis. Há casos em que a
criança compreende o discurso do interlocutor, mas tem dificuldade para diferenciar o
significado literal da fala e a sua intencionalidade. Também há situações em que a
criança manifesta um tipo de “surdez central”, ou seja, ignora por completo a
linguagem, não respondendo a ordens nem a chamados.
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capacidade de comunicação, impossibilitando qualquer atribuição de novos
significantes.
Com o diagnóstico conclusivo, é possível exigir o cumprimento dos direitos das
crianças e adultos com TEA ou outros transtornos invasivos do desenvolvimento. Com
a Lei nº. 12.764/2012, a pessoa com transtorno do espectro do autismo passou a ser
considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais, podendo usufruir de
todos os direitos assegurados a esse grupo.
A Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº. 13.146/2015) foi outro marco legal
fundamental à garantia do direito à educação inclusiva, afirmando o direito das
crianças com TEA que apresentam grau acentuado de comprometimento de serem
acompanhadas em sala de aula por um professor auxiliar. Essa lei garante também o
direito de acesso a tecnologias assistivas para a comunicação alternativa e
aumentativa. A conscientização acerca desse tema também é de suma importância.
Por isso, a ONU definiu o dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do
Autismo.
4 FLOORTIME
Fonte: https://bityli.com/kWEoBTm
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as famílias compreendam, conheçam, definam, sistematizem e integrem as funções
necessárias ao desenvolvimento competência. É uma abordagem que pode ser
utilizada por profissionais como terapeutas ocupacionais e/ou familiares capacitados
- devido ao maior tempo de convivência com as crianças, em que não há certo ou
errado no jogo, mas sim uma interação em que ambos os lados estão sempre
aprendendo (RIBEIRO; CARDOSO, 2014).
É uma abordagem que é considerada uma técnica específica, na qual os
adultos interagem com as crianças no chão por meio de brincadeiras, e como filosofia
geral que caracteriza todas as interações diárias das crianças. Uma abordagem que
envolve a comunicação espontânea entre uma criança e um adulto (profissional ou
familiar treinado) que incentiva a iniciativa infantil, o comportamento intencional e
melhora o comprometimento, vínculo e interesse mútuo das crianças (RIBEIRO e
CARDOSO, 2014).
Os principais objetivos do Floortime são:
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brincadeira escolhida pela criança, pois a vontade da criança é a porta
de entrada para a vida emocional e a inteligência infantil;
Ampliar e desenvolver gradativamente o brincar, estimular habilidades,
das menos complexas às mais complexas, e ajudar as crianças a
expressar suas ideias, vendo como entrar em seu próprio mundo pode
criar uma gama de oportunidades para ajudar as crianças a se
desenvolverem e progredirem em todos os níveis de relacionamento,
comunicação e reflexão; e
Fechar os ciclos de comunicação, aumentar a comunicação para frente
e para trás. (RIBEIRO; CARDOSO, 2014)
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divertida para a criança, proporcionando-lhe momentos e experiências emocionantes.
(RIBEIRO; CARDOSO, 2014).
Por sua vez, a letra I fala das diferenças individuais, ou seja, como cada pessoa
consegue se autorregular, reagir e compreender o mundo ao seu redor, e até como
reage de acordo com as formas biológicas a estímulos como som e toque, estrutura,
planejamento e sequenciamento motor e visual, sempre enfatizando a singularidade
que existe em cada ser humano. Compreender tal singularidade, fica mais fácil aplicar
técnicas de intervenção que ajudarão as crianças a ter um processo de aprendizagem
saudável e feliz. Entender que toda criança é criança, e que uma criança no espectro
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se torna ainda mais única, é fundamental para desenvolver um plano terapêutico
individual que compreenda o funcionamento sensorial de cada indivíduo, promovendo
assim o desenvolvimento das habilidades explicadas na letra “ D”. (DIOGO; SILVA,
2021).
Por fim, a letra “R” representa os relacionamentos, responsáveis por descrever
sua influência no desenvolvimento, já que o homem é uma entidade completamente
relacionada. Greenspan e Wieder (2000) enfatizam a importância de compreender
como essas relações podem acelerar ou retardar o desenvolvimento, visto que as
relações dessas crianças com pais, terapeutas, professores, familiares podem
determinar suas habilidades de desenvolvimento e não aprendizagem (DIOGO;
SILVA, 2021).
É essencial que as crianças vivam uma relação de qualidade em que adultos
as validem e se envolvam com elas no seu quotidiano, estabelecendo limites e
acompanhando-as na sua fé. Para Greenspan e Wieder (2000) assim como para Maia
(2009), tais atitudes certamente estimularão o autocontrole da criança, que é a base
do desenvolvimento saudável esperado durante o seu crescimento. O principal
objetivo do modelo para crianças com TEA é que as crianças se tornem
autoconscientes, desenvolvam a cognição e adquiram habilidades sociais e de
linguagem básicas, para atingir seis níveis básicos de desenvolvimento, ou seja, o
nível mencionado acima.
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(c) Problem-Solving Interactions (interações para solução de problemas), a qual
abrange interações semiestruturadas de solução de problemas a fim de que se
conquiste novas habilidades e conceitos (GREENSPAN; WIEDER, 2006).
5 MÉTODO MONTESSORIANO
Fonte: encurtador.com.br/tuHYZ/
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seu autocontrole e seu crescimento são questões persistentes em suas preocupações
e questões cruciais em sua batalha.
A perspectiva educacional aqui se desenvolve no marco de uma pedagogia
científica, baseada nas diferentes ciências, com foco na educação, cultura, biologia e
fisiologia humana, como condição básica para assegurar o desenvolvimento humano
livre e independente, que busca alcançar sua vida plena vivendo.
De acordo com Montessori (1957 p. 115):
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Montessori ofereceu algo novo para sua época, mas inovador até hoje,
constituindo um método ativo de preparar racionalmente os indivíduos para sensações
e percepções. É uma educação baseada no desenvolvimento dos sentidos, com
importante valor pedagógico e científico, pois o desenvolvimento dos sentidos precede
o desenvolvimento das atividades intelectuais superiores, segundo seus créditos. De
acordo com Montessori (1965, p. 176), “A educação dos sentidos afina a percepção
das diferenças dos estímulos, por meio de exercícios repetitivos”.
A escola que adota o método montessoriano estabelece suas aulas com base
na proposta pedagógica Montessori definida pela convivência entre crianças de
diferentes idades e a capacidade de trabalhar individualmente é garantida pela
liberdade e autonomia de escolha entre as aulas.
Os materiais são disponibilizados em um ambiente organizado para o
aprendizado contínuo. A primeira infância é caracterizada por um período em que o
desenvolvimento natural da criança deve ser apoiado, uma vez que o
desenvolvimento físico da criança ocorre de forma rápida e paralela à formação das
atividades espirituais e sensoriais.
O treinamento, na visão montessoriana, pode possibilitar o desenvolvimento da
atenção após a observação do ambiente, essencial para a formação de homens
observadores, adaptados ao seu tempo e bem preparados para as atividades
cotidianas da vida prática. Portanto, a educação prática coloca as pessoas em contato
direto com o lado prático da vida, com o mundo exterior, possibilitando compreendê-
lo (OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
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5.1 Os educadores
Fonte: encurtador.com.br/buLZ6
30
que permite à criança entrar em contato com o mundo exterior com
intensidade incomum (MONTESSORI, 2019, p.56).
31
consciência, de acordo com sua inclinação natural (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
É uma recomendação clara de um ambiente ativo, baseado na atividade da
criança, não nas regras definidas ou dadas pelo professor. Porque, como observou
Montessori, a aprendizagem das crianças não pode ser guiada pelos professores, mas
pela natureza humana externa durante os períodos sensíveis. Nesse novo ambiente,
os professores saem de seus assentos, saem do púlpito e criam espaço para que as
crianças determinem suas próprias abordagens e escolhas de acordo com seus
interesses e curiosidades naturais. Professores e materiais são elementos
compartilhados que convivem em sala de aula para garantir a educação das crianças.
No entanto, a configuração deste ambiente está limitada a materiais
padronizados apresentados às crianças pelo professor/instrutor/diretor. Somente
após a apresentação do professor o material pode ser fornecido à criança. Observe
que os materiais utilizados pelo Montessori não podem ser confundidos com os
brinquedos ou jogos fornecidos à criança (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
De fato, ela sugeriu que o material seja utilizado de forma pedagógica para que
possa promover o desenvolvimento cognitivo, sensório-motor e outros. Antes disso,
os jogos e brinquedos eram vistos como algo inferior na vida da criança, como uma
atividade ociosa, usada na falta de algo melhor para fazer. São atividades
consideradas pouco benéficas para o desenvolvimento da criança.
O uso de casinhas e cantos de bonecas por Montessori nos possibilita perceber
que além das atividades da vida prática, há um certo tipo de brincadeira em sua
proposta, a brincadeira simbólica. Promove a autocompreensão das crianças, o
conhecimento das situações vividas, a construção da visão de mundo, a sensibilidade
e a consciência no reconhecimento e no desempenho de papéis na vida, no cotidiano
das crianças, construindo-os e expressando-os por meio de representações.
Na pedagogia Montessori, o principal esforço do professor é construir e
preparar o ambiente, apresentar os materiais e orientar os alunos para que os alunos
não percam tempo e energia que podem ser desperdiçados com eles. Portanto, o
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papel do professor é possibilitar que as crianças sejam mais presentes e atuantes no
ambiente educacional (OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
A preparação e organização do ambiente é responsabilidade do professor; no
entanto, sua abordagem deve ser aquela que profilática, decisivamente, atue por meio
da educação indireta e permita que a criança descubra seu potencial latente.
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Segundo Montessori, existem três "circunstâncias favoráveis", "pontos externos
necessários" para a criação da criança: o ambiente adequado, o professor humilde e
a literatura científica.
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força e grandeza que constitui o caráter de nossa criança. (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
Os professores devem procurar compreender as complexidades do
desenvolvimento das crianças à medida que atingem a idade adulta instável, mas
dinâmica. A impaciência da criança para o desenvolvimento faz com que a criança já
tenha o desejo de conhecer, comparar, classificar, avaliar, a ânsia da curiosidade sem
fim e a busca pela independência. A tarefa pedagógica é estruturar a sala de aula
como um ambiente preparatório para organizar e compreender as experiências e
impressões existentes na criança (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
O plano de aprendizagem deve sempre antecipar os impulsos inatos da
criança, deve ser delineado com antecedência como uma série de tarefas de
desenvolvimento para que a criança obtenha o desenvolvimento necessário o mais
rápido possível. É porque o desenvolvimento social ocorre quando as crianças
interagem em um ambiente de sala de aula preparado que Montessori defende aulas
com crianças de diferentes idades para que as crianças mais velhas possam ajudar
as crianças mais novas com seus talentos. Para além dessa organização familiar, se
o ambiente é acolhedor, o progresso social e moral é destacado, pois as pessoas
aprendem a resolver problemas por conta própria ou como membros de um grupo
cooperativo (OLIVEIRA-FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
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incessante da personalidade do que uma disciplina de integração social” (OLIVEIRA-
FORMOSINHO; KISHIMOTO; PINAZZA, 2007).
A pedagogia montessoriana é baseada em certos princípios relativos à
liberdade, atividade e liberdade de escolha; com disciplina positiva, silêncio e
movimento, independência e dignidade; com a preparação espiritual do professor e a
transformação da escola.
Fonte: encurtador.com.br/ghKW4
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completar o exercício. Portanto, o professor não precisa corrigir a atividade, pois ela
se corrige e os alunos percebem seus erros sem nenhuma intervenção externa.
O controle de erros no documento também deixa mais liberdade para o
professor, para que o professor possa ajudar outras crianças, ensiná-las a usar este
ou aquele material, corrigir alguma atividade, quais atividades são prejudiciais ao meio
ambiente ou às crianças e a tarefa mais importante. Observe a sala de aula e o
desenvolvimento de cada aluno. Porém, não reduzindo a responsabilidade do
professor, que perde grande parte das funções de ensino e correção, o currículo
Montessori também lhe confere muitas outras responsabilidades, pois o professor só
precisa ensinar ativamente, ensinar o tempo todo. Realmente saber se o aluno está
aprendendo (SALOMÃO, 2013).
A terceira característica importante dos materiais Montessori é a “separação de
dificuldade”. Muitas vezes, para ensinar vermelho, por exemplo, os professores falam
sobre morangos, cerejas e flores, pedindo aos alunos que associem muitas palavras
e muitas coisas antes de entender o vermelho. O material de coloração Montessori é
uma caixa de pequenas bolinhas coloridas. Os pellets coloridos são todos iguais em
textura, forma, tamanho e peso. A única diferença entre eles é a cor, para que os
alunos possam associar diretamente o conceito à realidade que ele representa
(SALOMÃO, 2013).
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6 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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