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O55d
Olivier, Anna Lou
Dislexia, dislexia adquirida e disgra a: como detectar, diferenciar, entender e tratar/ Anna Lou Olivier.
Wak Editora, 2019.
112p : 21cm
Inclui bibliogra a
ISBN 978-85-7854-462-1
2019
WAK EDITORA
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Este livro é dedicado a todas as pessoas que não se conformam com
diagnósticos fatalistas e buscam sempre novos conhecimentos e descobertas.
E vencem, seja qual for o desa o.
Ao Escritor dos Escritores, Deus Eterno, que diariamente escreve a história
de cada vida do planeta, dedico meus dons e sou grata por todas as
oportunidades e todo o conhecimento que me proporciona estudar, pesquisar,
vivenciar e assimilar.
A Lesão Cerebral era outra causa muito estudada, mas, em 1925, Samuel
T. Orton escreveu que a dislexia não dependia de lesão ou dano cerebral.
Orton, em parceria com a psicóloga Anna Gillingham, desenvolveu as
intervenções educacionais que formaram a base do ensino multissensorial que,
até os dias de hoje, são usadas para ensinar crianças disléxicas.
Alteração hemisférica
Em 1951, G. Mahec fez um experimento utilizando sequência de letras que
as crianças com e sem a dislexia leram da esquerda para a direita e da direita
para a esquerda. Percebeu que crianças sem dislexia leram da esquerda para a
direita mais facilmente e crianças disléxicas leram na mesma velocidade
independentemente do sentido que liam e 10% dos disléxicos leu com mais
facilidade da direita para a esquerda. Isso deu início à ideia de o hemisfério
esquerdo ser maior nos portadores de Dislexia. Esta ideia seguiria por muitos
anos até que Anna Lou Olivier elucidou este tema (em 2003) provando que
não há lado maior ou menor e sim mais (ou menos) excitado e mais (ou
menos) inibido.
Explicando melhor: Anna Lou Olivier, após muitos anos de pesquisas
teóricas e práticas, conseguiu comprovar que o que ocorria com o cérebro dos
disléxicos (assim como de outros distúrbios) era uma maior excitação no
hemisfério direito e maior inibição no hemisfério esquerdo. E isso nada tinha a
ver com o tamanho dos hemisférios. Apesar da polêmica gerada por esta sua
a rmação (e comprovação), seu livro intitulado “Verdades que ninguém
publicou”, que trazia esta descoberta, tinha o aval de dois grandes pro ssionais
da Psiquiatria, Dr. Rony Broder (introdutor da TMS Estimulação Magnética
Transcraniana no Brasil) e professor Dr. Francisco Assumpção Jr (referência em
Autismo e Psiquiatria Infantil). E, a partir daí, muitos pro ssionais passaram a
perceber esta realidade.
Voltando aos anos 70, foi quando se entendeu a importância da consciência
fonológica na Dislexia. Em 1979, enquanto Anna Lou Olivier a rmava sua
“Dislexia Adquirida” em um afogamento (ocorrido em 1978), Galaburda e
Kemper relataram suas descobertas após observarem cérebros pós-
autópsias das pessoas disléxicas, que os centros de línguas nestes eram
diferentes dos normais. Novamente o contraponto, Anna Lou Olivier vivendo
na prática o que os considerados grandes nomes só vivenciavam em
laboratório. A partir deste período, Lou começou a delinear a Multiterapia e a
defender a tese de a Dislexia ser adquirida por um acidente em que ocorra
diminuição ou ausência de oxigênio no cérebro, isso inclui AVC, Anoxia por
afogamento, por enforcamento, entre outros.
Agora podemos retornar ao caminho das pesquisas e vivências na prática de
Anna Lou Olivier. Antes, porém, citamos que uma busca pelo Google
acadêmico fornece uma série de artigos com títulos que remetem à Acquired
Dyslexia (artigos o ciais em Inglês e um em Francês) publicados a partir de
1977. Porém, lendo os artigos na íntegra, percebe-se que os estudos
preocuparam-se com a inabilidade de leitura letra por letra, já que os pacientes
não conseguiam ler palavras inteiras. Ou, quando liam, era sempre de forma
insatisfatória. As causas que levaram à Dislexia cam em aberto, nem sequer
citam o termo “adquirida” e, até hoje, as comprovações o ciais são voltadas à
Dislexia Adquirida por AVC e outras doenças cerebrais. Lou desde 1978
defendeu a Dislexia causada por acidentes com privação de oxigênio no
cérebro (afogamentos, enforcamentos, anoxia/hipóxia perinatal/neonatal).
Por ter perdido a capacidade de leitura, Lou dependia de alguns amigos que
liam para ela todos os livros que podia encontrar sobre Psiquiatria e correlatas.
Foi em um livro alemão (do qual, infelizmente, não recorda o título), lido por
um amigo que tinha uência no idioma, que Lou veri cou os sintomas
descritos e teve a certeza de ter adquirido o referido distúrbio.
Os principais sintomas eram ausência de memória, incapacidade de leitura,
ausência de concentração, entre outros que Lou reconheceu imediatamente
como sendo da Dislexia que ela adquirira logo após o seu afogamento. Passou a
relatar sua descoberta em todas as consultas e a todos os médicos que a
atendiam. Chegou a ir a alguns congressos, abordando os palestrantes e
relatando suas descobertas “extrao ciais”, contudo nenhum deles pareceu
convencido pelos argumentos da jovem desmemoriada. Até porque o distúrbio
dela parecia algo totalmente novo, pois conseguia escrever com certa uência,
mas não conseguia ler em Português e também perdera totalmente a
capacidade de falar, ler e escrever em outros idiomas. E, como já relatamos, as
pesquisas mais avançadas na época eram com cérebros de disléxicos já falecidos,
e os médicos estudavam a diferença do centro de linguagem nos cérebros
disléxicos versus não disléxicos. Como admitiriam a possibilidade de se
“adquirir um distúrbio”? Parecia-lhes apenas um grande devaneio de uma
adolescente desmemoriada.
Lou passou a escrever tudo que pensava, via, sentia, sonhava. Foi anotando
diários e pequenos trechos que descobria nas leituras de amigos que escreveu
sua primeira peça teatral “Eu inteiro, metade de mim...” Era como Lou se
sentia, inteira, porém pela metade... Após três anos passando por inúmeros
testes e exames em que os médicos apenas a rmavam não detectar “nada físico”
e recusavam-se a aceitar a teoria que esta defendia, a de ter “adquirido uma
dislexia” (e estando ela totalmente desmemoriada), restavam a Anna Lou
poucas opções, na verdade, só duas: conformar-se em viver desmemoriada e
desenganada para sempre ou buscar de forma independente alguma solução
para seu caso.
Nessa época, já estava fazendo curso de teatro para auxiliar a recuperação de
memória e já conseguia, com bastante di culdade, ler alguns artigos e livros,
embora esquecesse tudo assim que terminava de ler. A partir daí, desenvolveu
um treinamento que consistia em gravar tudo de que precisava lembrar, textos,
artigos, livros e ouvir as gravações de forma contínua, inclusive, durante o
sono. Este método deu origem ao que hoje ela aplica como Multiterapia.
Obviamente, hoje, com muito mais bases cientí cas.
A década de 80 foi bastante controversa em relação aos estudos sobre
dislexia, houve, inclusive, um retrocesso, visto que a hipótese dos hemisférios
cerebrais maiores ou menores de acordo com a normalidade ou Dislexia, a
princípio, atribuída às pesquisas de Orton, mas, como já citamos
anteriormente neste artigo, na verdade, foram fruto do experimento de G.
Mahec em 1951, foi alvo de novos estudos póstumos nas décadas de 80 e 90,
estabelecendo que
o lado esquerdo do planum temporale (plano temporal constitui a superfície superior do giro
temporal superior ao lobo parietal), uma região cerebral associada ao processamento da
linguagem, seria sicamente maior que a região direita nos cérebros de pessoas não disléxicas; nas
pessoas disléxicas, essas regiões são simétricas ou mesmo ligeiramente maiores no lado direito do
cérebro.
Como já citamos, em 2003, Anna Lou Olivier elucidou esse equívoco sobre
os hemisférios cerebrais, porém, em plena década de 80 e até 90, esta foi a
linha mais pesquisada em relação à Dislexia. E, estranhamente, ainda há
muitos pro ssionais citando este equívoco até os dias atuais.
Em meio a este consenso dos especialistas, em 1981, Anna Lou Olivier
conseguiu recuperar alguma uência de leitura em Português e, a partir daí,
passou a pesquisar com mais intensidade, pois já não dependia de ninguém
para ler para ela. Seguiu pelo bacharelado em Artes Cênicas e estudou também
Musicoterapia, assim englobou os recursos da Musicoterapia no método que já
apresentava bons resultados com crianças e adolescentes com autismo e
síndrome de Down.
Entre 1981 e 1996, ano em que publicou o primeiro artigo o cial sobre a
Dislexia Adquirida, Lou passou por várias outras faculdades e cursos,
destacando-se Psicopedagogia, Neuropsicologia, Psicanálise e muitos
treinamentos em Psiquiatria, estudando especialmente TOC (Transtorno
Obsessivo-Compulsivo), Tourette, Paixões Obsessivas, Autismo e Dislexias em
geral.
Em 1989, seguindo a linha de pesquisa de Galaburda e Kemper, surgiram os
estudos de Cohen e outros sugerindo que o desenvolvimento cortical estivesse
dani cado durante os primeiros seis meses do crescimento fetal do cérebro nos
indivíduos com dislexia.
As pesquisas e os estudos o ciais sugeriam fortemente a
genética/hereditariedade e, nos anos 90, iniciaram-se com grandes promessas
para os disléxicos. A nal, com o desenvolvimento de técnicas de neuroimagem,
(tomogra a por emissão de pósitrons e ressonância magnética), vieram mais
pistas sobre o processamento fonológico nos disléxicos... Ninguém sequer
cogitava a possibilidade de um distúrbio adquirido não só em um acidente mas
também em uma anoxia ou hipóxia perinatal (diminuição/ausência de oxigênio
no cérebro durante o nascimento).
Mas, agora, Anna Lou Olivier não era mais apenas uma jovem
desmemoriada a rmando ser possível “adquirir um distúrbio” por “acidente”,
ela já se posicionava como psicopedagoga e psicoterapeuta, com
especializações, extensões universitárias e, acima de tudo, com sua vivência
prática. E, com força e determinação, seguiu publicando, palestrando,
divulgando a Dislexia Adquirida (e a técnica de Multiterapia), não só no Brasil
mas também no exterior, especialmente Europa, onde escreveu em revistas
impressas (Inglaterra) e eletrônicas (Portugal), sugeriu a muitos pesquisadores
que veri cassem a possibilidade de aquisição de um distúrbio e conquistou dois
troféus (Inglaterra).
A partir de 1996, foram nove livros didáticos impressos (em todos, citando
seus estudos e descobertas em Dislexia e Dislexia Adquirida), inúmeros os
artigos em revistas e jornais impressos e eletrônicos e, também, entrevistas em
rádio e televisão, além de dois programas próprios: “Lou e Você na TV” (1999)
e “De tudo um pouco” (2008/2009), programas estes voltados a esclarecer os
diversos distúrbios, em especial, as dislexias e outros distúrbios de
aprendizagem. Entre 2011 e 2012, o Distúrbio da Dislexia Adquirida foi
o cializado nos descritores da Saúde, codi cado em Português, Espanhol e
Inglês, sendo neste idioma classi cado como Acquired Dyslexia. Hoje é possível
encontrar a descrição de Dislexia Adquirida em diversos sites, artigos e em
descritores o ciais, como National Library of Medicine – Medical Subject
Headings, onde se encontram, inclusive, variações da dislexia adquirida, tais
como: Acquired Global Dyslexia, Acquired Spelling Dyslexia, Acquired Alexia,
entre outros que virão. E isso só é possível hoje porque Anna Lou Olivier não
se acomodou com um diagnóstico fatalista, ela foi estudar, pesquisar e não só
encontrou a solução para sua dislexia adquirida mas também levou suas
descobertas a todo o mundo, inclusive impulsionando outros pesquisadores.
Anna Lou é um grande exemplo de superação e de vitória em todos os
sentidos. Atualmente, Lou passa períodos mais e menos disléxicos como relata,
mas está sempre ativa, ministra palestras, participa de diversas atividades e
prova que, com força e determinação, é possível vencer qualquer distúrbio ou
barreira.
Atualmente o distúrbio da Dislexia Adquirida está o cializado na Ciência
da Saúde, codi cado em Português, Inglês e Espanhol, graças ao empenho e à
determinação de Anna Lou Olivier nas pesquisas e na defesa deste tema.
Como já foi citado e necessita ser frisado, em outubro de 2016, Anna Lou
Olivier participou como oradora on-line do Global Clinical Psychologist
Annual Meeting (Congresso Psicólogos Clínicos Globais) que ocorreu na
Malásia (Kuala Lumpur), abordando “Acquired Dyslexia” (Dislexia Adquirida)
e Multi erapy (Multiterapia). Em 2018, Anna Lou Olivier apresentou a
Multiterapia em três importantes congressos internacionais, sendo Multi
therapy technique developed by Anna Lou Olivier treating obsessive-
compulsive disorder video presentation 25th World Congress on Conference
Neurology & Neuroscience June 18-19 2018 | Dublin, Ireland,
Multitherapy – therapy technique developed by Anna Lou Olivier treating
Autism Spectrum disorder (ASD), 5 World Congress on Mental Health
and Well-being – Vancouver, Canadá 25-26 July 2018. E dois temas que
foram apresentados em Congresso Médico em Harvard, são eles: 1 -
Multitherapy as an allied in the treatment of dyslexia and acquired
dyslexia (speci c learning disorder with impairment in reading); 2 - Toy
library allied to learning, reassessment twenty years after the
implementation of the method; Movement and Cognition at the Joseph B.
Martin Conference Center at Harvard Medical School, Boston, USA 27-29
July 2018, consolidando em de nitivo estes importantes temas no meio
acadêmico internacional.
DISLEXIA E
DISLEXIA
ADQUIRIDA
nem tudo que se
divulga é correto!*
Há anos tem sido divulgada uma série de mitos (equívocos) sobre Dislexia, e
isso torna não só o entendimento falho mas também confunde os leigos e até
os pro ssionais que tratam o distúrbio. Eu, Anna Lou Olivier, há 40 anos,
dedico-me a elucidar este tema e trago aqui neste pequeno artigo a explicação
dos três principais mitos mais divulgados sobre a Dislexia. Há alguns meses,
um programa de televisão entrevistou supostos especialistas abordando
Dislexia. Na sequência, muitos outros programas passaram a abordar o tema, e
os vídeos na Internet viralizaram. Isso continua repercutindo de forma negativa
pelos diversos equívocos que divulgaram. Por isso, esclareço.
Hereditária/Genética
A questão da hereditariedade/genética tem sido amplamente difundida. Não
se pode negar que exista um tipo de Dislexia possivelmente hereditária/genética
que faz com que algumas famílias sejam propensas ao distúrbio, ou seja, se o
pai ou a mãe tem Dislexia, os lhos têm mais probabilidade de apresentarem
Dislexia. Mas, é preciso frisar que este é apenas um dos tipos de Dislexia. Há
outros tipos e classi cações que dependem inclusive da linha de pesquisa pela
Neuropsicologia, pela Psicopedagogia, pela Multiterapia (da qual sou
precursora) e por outras linhas de pesquisa que classi cam os diversos tipos de
Dislexia.
“Dislexia Adquirida”. Esta Dislexia quase sempre é renegada e, quando é
citada, além de omitirem minhas pesquisas e pioneirismo, ainda divulgam de
forma equivocada. Em certo debate televisivo, um médico citou fatores que
podem causar Dislexia Adquirida, mas omitiu o principal que é anoxia
perinatal/hipóxia neonatal que publiquei o cialmente, em 1996, o TCC que
z sobre o tema. Em 1998, diversos sites de Saúde e/ou Educação e também
meu Portal publicaram esta pesquisa na íntegra, tanto no Brasil quanto na
Europa, onde se comprova a aquisição de distúrbios, especi camente Dislexia e
Disgra a, por anoxia. Não só minhas pesquisas mas também outras pesquisas
que surgiram a partir desta minha iniciativa zeram com que a Dislexia
Adquirida fosse o cialmente reconhecida pela Ciência da Saúde a partir de
2011/2012. É lamentável que todas estas pesquisas e descobertas reconhecidas
internacionalmente sejam desconhecidas (ou omitidas) no Brasil, ainda mais
sendo isto em um programa de grande audiência televisiva.
Troca de letras
Outro equívoco que tem sido amplamente difundido é a “troca de letras”
supostamente característica de uma Dislexia. Quanto a isso, eu também tenho
feito palestras, publicado inúmeros artigos há mais de 30 anos abordando esta
questão. E, novamente, a rmo que a Dislexia NÃO PROVOCA troca de
letras, o que ocorre com o cérebro do disléxico é uma di culdade de entender
os sinais das letras. Ele não identi ca o que é letra, ele apenas não consegue
distinguir uma letra de outra e acaba não conseguindo ser alfabetizado ou
perdendo a capacidade de leitura, no caso da Dislexia Adquirida. Isso é muito
diferente do trocar “p” com “b” ou “d” com “q”, ou seja lá qual for a troca.
Quando uma criança faz essas trocas de letras, o mais provável é que tenha
uma di culdade auditiva e, ao passar por ditado, escute errado e, na sequência,
escreva errado. Pode também ser uma di culdade visual que a faz inverter letras
ou enxergá-las de forma espelhada. Nesta forma de escrita espelhada, deve-se
citar também que é comum a quase todas as crianças em fase de alfabetização
inverterem letras e, com a continuidade dos estudos, passarem a escrever de
forma normal. Portanto, trocar letras não pode ser classi cado como
“Dislexia”. Em relação a este equívoco, devo citar que, em meu livro
“Distúrbios de Aprendizagem e de comportamento – Verdades que ninguém
publicou”, lançado em 2003, eu citei pela primeira vez a pesquisa de
Doutorado de uma pesquisadora cientí ca que sugeriu esta troca de letras na
Dislexia. Esta pesquisa foi publicada em 1969, e ela também lançou um livro
em 1975, onde a rmava esta troca de letras. Depois disso, ela não abordou
mais o tema, talvez por ela própria ter percebido que não tinha sentido o que
ela tinha publicado, ou por ter seguido por outros temas, esquecendo-se desta
pesquisa que zera. Acontece que aí já era tarde, muitas teses foram
fundamentadas neste livro dela e muitas teses também foram feitas em
continuidade desta tese de doutorado dela. Não posso a rmar que tenha sido
só esta pesquisadora a culpada por esse equívoco que até hoje se divulga, mas
foi, de fato, muito in uente nisto. Não vou estender este tema, quem quiser
saber de forma mais aprofundada o nome da pesquisadora, a tese e outros
detalhes poderá ler meu livro que atualmente está em sétima edição com o
título “Distúrbios de Aprendizagem e de comportamento”. Há também meu e-
book “Dislexia sem rodeios” que complementa o assunto.
Maior incidência em meninos e a questão da testosterona
Ainda sobre Dislexia, citaram a maior incidência em meninos, por um
excesso de testosterona da mãe durante a gestação, o que já há tempos se
descartou. Na verdade, esta linha de raciocínio iniciou-se em 1982 com a
publicação “ e testosterone hypothesis: Assessment since Geschwind and
Behan” – Albert M Galaburda (Annals of Dyslexia – January 1990 Volume 40,
Issue 1, pp 18-38).
O resumo desta publicação é o seguinte: a hipótese de Geschwind propõe
uma interação causal entre imparcialidade não direita, doenças imunológicas e
de ciência, inclusive Dislexia, por meio da ação intrauterina do hormônio
masculino (testosterona). Alguns estudos epidemiológicos têm apoiado, pelo
menos, uma associação estatística entre os três traços; outros não têm. As
associações entre distúrbios de aprendizagem e doença imune e entre os
transtornos de aprendizagem e lateralidade direita não parecem ser melhor
apoiado do que entre doenças imunológicas e imparcialidade não direita. No
entanto, nenhum dos dados acumulados até ao momento é conclusivo, porque
não é claro que as amostras estudadas foram verdadeiramente representativas.
A evidência neuropatológica, tanto em estudos de autópsia em disléxicos
humanos como em modelos animais de anormalidades corticais de
desenvolvimento, é coerente, mas não um diagnóstico de patologia
imunológica. Mecanismos são discutidos porque um sistema imunitário
anormal poderia, assim, ferir o cérebro em desenvolvimento, com ênfase nas
interações materno-fetais anormais, incluindo doença autoimune materno e
incompatibilidade materno-fetal. Uma origem genética também é possível em
que o papel materno é menos signi cativo.
O que precisa ser muito frisado e entendido é que, além de o próprio autor
citar que não havia nenhum dado conclusivo e considerar o fator genético
isentando as características da mãe, estes estudos americanos foram feitos em
autópsias em humanos disléxicos e em animais que sequer tem o mesmo
organismo e reações humanas. As pesquisas “mais avançadas” nessa época
(1982) eram feitas em cérebros de disléxicos mortos… Enquanto isso, países
como a Alemanha já estudavam casos de pacientes vivos e, por mais que alguns
retrógrados relutem em aceitar, uma brasileira (Anna Lou Olivier)
desmemoriada e dependendo de amigos para ler e entender o tema já
despontava com a descoberta da Dislexia Adquirida.
Observação: há alguns questionamentos em relação às pesquisas alemãs que
podem ter-se desenvolvido com “cobaias humanas” cruelmente sacri cadas,
porém não estamos aqui para questionar os métodos utilizados pelos alemães.
O que frisamos é que as respostas que Anna Lou Olivier procurava em relação
à detecção de seu distúrbio foram encontradas em livros de autores alemães.
Enquanto o mundo todo caminhava a lerdos passos, a Alemanha já tinha
detectado a Dislexia e outros distúrbios de aprendizagem. A forma como
chegaram a estas descobertas não nos cabe julgar.
Continuando, esta teoria do excesso de testosterona seguiu até que, em
2007, outro estudo “No relation between 2D : 4D fetal testosterone marker
and dyslexia” – Boets, Barta b; De Smedt, Berta; Wouters, Janb; Lemay,
Katriena; Ghesquière, Pola (Neuroreport: 17 September 2007 – Volume 18 –
Issue 14 – pp 1487-1491) publicou que tem sido sugerido que os níveis
elevados de exposição pré-natal à testosterona estão implicados na etiologia da
dislexia e seus frequentes problemas sensoriais. Este estudo examinou 2D: 4D
relação dígitos (um marcador de exposição à testosterona fetal) em crianças
disléxicas e normais de leitura. Foram observadas 4D: há diferenças entre os
grupos em 2D. Mas, não mostraram a relação postulada com leitura, escrita,
habilidade fonológica, a percepção da fala, o processamento auditivo e
processamento visual. Estes resultados desa am a validade das teorias que
atribuem um papel proeminente à exposição à testosterona fetal na etiologia da
dislexia e suas de ciências sensoriais.
Como se comprova, esta teoria foi rebatida em 2007, mas, infelizmente, há
emissoras descompromissadas que divulgam qualquer absurdo em troca de
audiência ou por uma boa quantia de patrocínio e, com isso, prestam um ato
desleal à população, condenando seus espectadores à ignorância. Diversos
outros equívocos têm sido divulgados não só durante este debate nesta
emissora mas também em diversos outros programas e vídeos, porém estes são
os mais comuns e insistentemente divulgados por pro ssionais e pelos meios de
comunicação, tornando o diagnóstico e tratamento da Dislexia mais demorado
e ine caz. É preciso repensar a forma como a Dislexia tem sido divulgada no
Brasil e em outros países também.
* Este artigo foi reformulado e publicado pela revista Psique Ciência e Vida – Editora Escala – edição
133, com o título “Mitos na Dislexia”.
O QUE PARECE
SER, MAS NÃO É
DISLEXIA
São diversos os distúrbios que parecem ser, mas não são Dislexia, porém são
os mais confundidos como tal.
Disgra a: Desordem de integração visório-motora
DISGRAFIA. De origem grega. DYS = Di culdade; difícil e GRAPHOS
= Gra a, entende-se que é a di culdade ou ausência na aquisição da escrita.
Geralmente o portador de Disgra a é desatento, pode tornar-se hiperativo, e o
principal é que a di culdade se estende a todas as formas de escrita (letras,
sinais, e até desenho). Por estas características, é comum diagnosticar crianças
como disléxicas, sendo que seu distúrbio, é na verdade, Disgra a. Existem
muitos casos de crianças que conseguem ler, mas não escrevem e vice-versa, ou
seja, conseguem escrever, mas não são capazes de ler o que escreveram. Estas
crianças devem ser diagnosticadas de forma correta e não de forma errônia
como apenas disléxicas. O mais correto é, no caso de crianças que leem, porém
não escrevem, serem diagnosticadas como portadoras de Disgra a. As crianças
que conseguem reproduzir letras, sinais e desenhos, contudo não reconhecem
nem conseguem ler o que escreveram, podem ser consideradas disléxicas. E as
que não conseguem nem ler nem escrever devem ser consideradas disléxicas e
disgrá cas. Neste mesmo livro, há um capítulo especí co sobre Disgra a, onde
este distúrbio é mais bem explicado.
Disortogra a: Di culdade na expressão da linguagem escrita
Entendendo melhor. ORTOGRAFIA é a parte da Gramática que ensina a
escrever as palavras corretamente, portanto a Disortogra a é o escrever
incorretamente. Este é um distúrbio especí co na aquisição e reprodução de
letras (escrita de um idioma) e diferencia-se da Disgra a que é generalizada.
Geralmente, a Disortogra a é classi cada como letra feia, letra de “médico” e
outras classi cações, todavia isto está incorreto. A Disortogra a caracteriza-se
por escrever de forma incorreta, cometer erros na escrita, às vezes por também
ouvir e falar erradamente, em outras vezes, por não saber passar para o papel o
que consegue ler ou falar corretamente.
Diferença entre síndrome e transtorno
Antes de citar o próximo distúrbio confundido com Dislexia, vamos analisar
a diferença entre síndrome e transtorno. De forma simplista...
Síndrome: quando não se sabe a origem (causa) nem se identi cou todos os
sintomas de uma nova doença.
Transtorno: quando já se sabe a maioria dos sintomas, e a causa ou as
causas estão de nidas.
Os pesquisadores e pro ssionais de Saúde devem ter cuidado ao identi car
um novo distúrbio, transtorno ou síndrome. Devem veri car antes de
identi car se já há um distúrbio/transtorno parecido e só se encontrou uma
variação ou se é algo nunca antes descrito, aí se anuncia a síndrome.
Infelizmente, nem todos se preocupam com isso, por isso veremos agora...
Síndrome de Irlen
É uma alteração “visório-perceptual”, causada por um desequilíbrio da
capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e dé ces
na leitura. A síndrome tem caráter hereditário e se manifesta sob maior
demanda de atenção visual.
Descrita em 1983 pela psicóloga Helen Irlen, a síndrome tem como
manifestações, além da fotofobia, problemas na resolução “visório-espacial”,
di culdades na manutenção do foco, estresse visual, alteração na percepção de
profundidade e cefaleias. Durante a leitura, segundo os pacientes, o brilho e o
re exo do papel branco contra o texto causam irritabilidade, assim como a luz
natural ou uorescente. Eles possuem ainda uma sensação de movimentação
das letras que “pulsam, tremem, vibram, con uem ou desaparecem”, e a leitura
passa a ser fragmentada. Além disso, queixam de insegurança ao dirigir,
estacionar, com esportes com bola ou em outros movimentos, como descer e
subir escadas rolantes.
Os sintomas da síndrome de Irlen têm sido citados, com muita frequência,
como sendo da Dislexia. Há inclusive lmes e documentários que citam estes
sintomas como sendo próprios da Dislexia, e isso acaba confundindo até
mesmo alguns pro ssionais e, mais ainda, os pais e professores. E quem mais
sofre é o paciente que acaba tendo um diagnóstico errado, seguindo por um
tratamento equivocado e demorando anos para conseguir algum progresso
quando, se tivesse o diagnóstico correto e o tratamento mais adequado, teria
progressos muito mais rápidos e notáveis.
No caso especí co da síndrome de Irlen, o tratamento é feito pelo
oftalmologista que dispõe atualmente de técnicas e equipamentos que
solucionam o caso em pouco tempo. Se um paciente com esta síndrome for
diagnosticado de forma errada como sendo disléxico, passará a vida tratando-se
de forma multidisciplinar sem, no entanto, ter melhora alguma.
DISTÚRBIO
ESPECÍFICO DE
LINGUAGEM
Alguns distúrbios de linguagem também são confundidos com Dislexia.
Crianças que apresentam muita di culdade em desenvolver a fala costumam
ser diagnosticadas como autistas, de cientes intelectuais, e este sintoma (atraso
na aquisição da fala) é sempre citado como sendo característica da Dislexia.
Porém, estas crianças com di culdade em desenvolver a fala devem ser levadas
ao otorrinolaringologista para testes, pois podem apresentar problemas
auditivos. A ausência ou di culdade de aquisição da falta também pode ser
causada por falta de estímulos.
Eliminadas estas possíveis causas, aí sim se inicia testes para detectar autismo
ou de ciência intelectual. Em caso a rmativo, ou seja, se a criança for
diagnosticada como autista ou de ciente intelectual, o pro ssional adequado a
tratar dela é o psiquiatra. Um neurologista também poderá tratá-la, caso não se
encontre um psiquiatra. Um psicólogo poderá tratar algum possível trauma
que a criança apresente. E, como já citei, defendo a Multiterapia como aliada à
aprendizagem dessas crianças. Caso seja detectado o Distúrbio Especí co de
Linguagem, o pro ssional ideal para tratar esta criança é o
otorrinolaringologista. Há também um pro ssional pouco conhecido que é o
foniatra. É um médico, geralmente um otorrino especializado em Foniatria que
está apto a tratar os distúrbios da comunicação e linguagem.
E, a nal, o que é, de fato, Dislexia?
Como o termo já diz Dis-lexia: Di culdade ou ausência da aquisição do
conjunto de palavras de um determinado idioma. De forma simplista
pode-se dizer que seja Di culdade na aquisição da LEITURA. E não de
leitura e escrita como se ensina erroneamente, já que, como citado
anteriormente, a Disgra a e a Disortogra a já estão ligadas à escrita como
distúrbios.
Entre tantos dicionários e livros que pretendem de nir a Dislexia, a
de nição mais precisa e simples parece ser do Gutenberg, em sua página 655,
que cita: “Dislexia (csi) f. Di culdade de ler e compreender a escrita”.
Portanto o termo “Dislexia de leitura”, muitas vezes utilizado, é errado, pois,
ao falar o termo Dislexia, já se presume que seja de leitura... Assim como
Dislexia de linguagem e outros termos usados estão errados...
Dislexia é Dislexia e só isso já de ne o que vem a ser...
OS PRINCIPAIS
SINTOMAS E OS
EQUÍVOCOS QUE
SE COMETEM NOS
DIAGNÓSTICOS DA
DISLEXIA
Resumo dos principais sintomas e das características divulgados e suas
explicações
Dislexia NÃO FAZ TROCAR LETRAS, o cérebro NÃO RECONHECE
as letras, é diferente! Portanto, a a rmação de trocar “P” por “B”, “P” por
“D”, “P” por “Q” ou “N” por “U”, “W” por “M” e outras letras que até hoje
se a rma que sejam “trocas próprias da Dislexia”, na verdade, denotam outros
tipos de distúrbios. As trocas “P” por “B” ou “D” ou “Q” podem ser associadas
a distúrbios auditivos, ou seja, a criança ouve errado e, obviamente, reproduz
errado quando escreve. As trocas “U” por “N”, “W” por “M” e as trocas
envolvendo “P”, “D”, “B” e “Q”, especialmente na letra cursiva u-n, w-m, p-b,
p-q, p-b, podem ser associadas a distúrbios auditivos ou visuais e, em casos
mais graves, ao neurológico, porém devem ser descartados dos sintomas da
dislexia, já que este distúrbio faz com que a criança não identi que nenhuma
letra, as letras parecem apenas sinais sem nexo para quem tem, de fato,
Dislexia.
Dislexia não tem hemisférios maiores ou menores. Este é outro grande
equívoco que se comete nos diagnósticos. Como já foi mostrado no histórico
da Dislexia, em diversos livros de minha autoria e em diversos artigos meus já
publicados em revistas especializadas, isto tem relação com a excitabilidade e
inibição dos hemisférios. Leia mais sobre isso no meu livro “Distúrbios de
aprendizagem e de comportamento”, publicado pela Wak Editora.
Dislexia não é apenas hereditária/genética (congênita como atualmente
é de nida), ela pode ser adquirida (por acidentes), pode também ser
ocasional. São muitos os tipos de dislexia e cada um tem seus sintomas
característicos. Em comum, apenas a ausência ou di culdade na aquisição da
leitura ou a perda de capacidade de leitura em caso de acidentes.
DISGRAFIA
EM BUSCA DA TRANSFORMAÇAO
Waldir Pedro
ISBN: 978-85-88081-82-6
BRINCAR E VIVER -
Projetos em educação infantil
Ivanise Meyer
ISBN: 978-85-88081-14-7
COMO SE APRENDE?
Estratégias, Estilos e Metacognição
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ISBN: 978-85-7854-031-9
NEUROPSICOLOGIA EM AÇÃO -
entendendo a prática
Clarice Peres e
Rachel Schlindwein-Zanini
ISBN: 978-85-7854-365-5