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DEBATE: O CRIME DO PADRE AMARO - EÇA DE QUEIRÓS

LITERATURA PORTUGUESA III - FÁBIO CAVALCANTE


DPTO. DE LETRAS - DAYVSON K. MAGALHÃES SOARES

O debate sobre a obra realista O crime do padre Amaro gera muitas inquietações acerca da
literatura naquela época e acaba refletindo na sua percepção, também, nos dias atuais, como a
atividade proposta acaba denunciando. Dessa forma, pretende-se discorrer, aqui, sobre alguns
aspectos que foram levantados durante a conversa proposta na disciplina de Literatura
Portuguesa III.

Um dos primeiros pontos levantados pelo professor - pergunto-me se não foi proposital - foi
acerca da percepção da obra para os leitores em questão, de maneira geral, ao analisar os
comentários dos colegas de classe e minha percepção, a obra até certo ponto, torna-se um
pouco indigesta para a realidade que Eça escreve e de que modo essa realidade foi entregue
ao arcabouço leitor, aspectos como o anticlericalismo se tornou um dos pontos mais tocados
no tocante a percepção da obra, para mim, esse se torna um elemento chave de leitura, não o
anticlericalismo em si, mas as percepções sobre a igreja e como Eça não economiza palavras
para referir-se às práticas dela enquanto instituição mantenedora da moralidade e princípios.
Acredito que, de maneira geral, o autor retrata a realidade humana, não se atendo somente às
críticas ao clero, mas tecendo sua narrativa pautada nas práticas de natureza humana, o que
abre um gancho para o que abordarei a seguir.

Lembro-me bem quando o mediador do debate pergunta a uma aluna sobre o porquê de
Amélia sentir em amaro toda essa atração quase que divina, a aluna, ao dissertar, diz que
Amélia talvez tenha criado um certo “fetiche” (de forma figurada) por Amaro, tal fato se deu
pois ela era uma jovem criada em um convento e N fatores que a fizeram se atrair por figuras
religiosas, valho-me de um excerto que diz o seguinte:

A sua devoção subsistia, mas alterada: o que amava agora na religião e na igreja era
o apparato, a festa — as bellas missas cantadas ao orgão, as capas recamadas de
ouro, reluzindo entre os tocheiros, o altar-mór na gloria das flôres cheirosas, o roçar
das correntes dos incensadores de prata, os unisonos que rompem briosamente no
côro das alleluias. Tomava a Sé como a sua Opera: Deus era o seu luxo.

A luz dessa afirmação, juntamente ao excerto retirado do livro, trago aqui minhas acepções
acerca desse comentário. Eça de Queirós, tende a fazer alusões aos pecados capitais, bem
como a gula e a luxúria, é nesse ponto que questiono se talvez Amélia enxergava em amaro
sua luxúria encarnada, ora, a personagem vezes ou outra é descrita sob a perspectiva desse
pecado capital, se “Deus era seu luxo”, por que não a afinidade com Amaro que era membro
do clero e, portanto figurava essa imagem luxuosa em Amélia, além de possuir um certo
apreço por outras figuras religiosas dentro do clero que tinham “mais escalão”, por assim
dizer, que ele foi encaminhado a igreja de Leiria. Tal fato acaba por despertar em Amélia essa
sensação de personificação das suas luxúrias.

Além do exposto, outros pontos foram levantados pelos colegas, por exemplo, o
anticlericalismo abordado acima, homens que sob a ordem do celibato não abrem mão do
desejos profanos relegados ao homem do mundo, de fora da Igreja, revelando um aspecto que
vai na contramão dos valores religiosos, como a cena em que amélia é vestida com roupas de
santa para fins não muito dogmáticos.

Dito isto, para finalizar minhas acepções enquanto leitor e participante da atividade proposta
em Literatura Portuguesa III, destaco a importância do professor enquanto mediador do
debate, tendo em vista que foi abordado por ele, após a consideração acima, um comentário
que muito me marcou sobre essas práticas imorais dentro da igreja, ele diz “o que mais a
gente ve hoje são casos de abuso sexual dentro da religião, por exemplo, com o João de
Deus”

Isso me coloca em um loop reflexivo sobre o qual a questão mote seria: Eça escreve somente
para a sociedade de sua época mesmo? Minha resposta é que não. Em um sentido mais amplo
da obra, o quão atual suas críticas são - claro que não deveria tratar somente como crítico a
sociedade, até porque o personagem participa daquele estrato social e adere suas práticas - a
questões que perseguem o homem até o dia atual, trato das questões de cunho imoral
camuflados sob a ordem da Igreja. Dessa forma, muito valeu a leitura da obra e a partilha de
concepções em sala de aula com a turma, pois, possibilitou a criação de um ambiente em que
várias mentes pensantes puderam se colocar a favor da literatura.

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