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Imagens por Ressonância Nuclear Magnética

Texto elaborado pelo Eng. Hayram Nicacio.


ÍNDICE

1. Introdução 3

2. Conceitos Fundamentais 4

3. Formação da Imagem 12

4. Dispositivos de Aquisição 16

5. Visualização da Imagem 25

6. Procedimentos e Resultados 34

7. Conclusões e Propostas para Estudos Futuros 40

8. Referências Bibliográficas 40

1
1. Introdução

As técnicas de imagens por ressonância nuclear magnética estão sendo utilizadas


principalmente na área médica para produzir imagens de alta qualidade do interior do
corpo humano através de um método não-invasivo.A formação das imagens é baseada
nos mesmos princípios básicos da espectroscopia por ressonância nuclear magnética,
uma técnica laboratorial utilizada para obter informações sobre as estruturas químicas e
físicas das moléculas de uma determinada amostra.
A ressonância magnética - como normalmente é denominada esta técnica,
evitando-se o termo nuclear – teve início como uma modalidade dos sistemas de imagens
tomográficas, que produzem imagens de fatias do corpo humano. Cada fatia possui uma
certa espessura (thk), e a imagem é equivalente a um corte anatômico acima e abaixo
desta fatia. Devido a esta espessura, as fatias são compostas por elementos de volume
denominados voxels, que possuem aproximadamente 3 mm 3. Uma imagem de
ressonância magnética é composta por vários elementos gráficos denominados pixels, e a
intensidade de cada pixel é proporcional à intensidade do sinal da ressonância nuclear
magnética correspondente ao elemento de volume (voxel) do objeto que está sendo
analisado.

Figura 1.1: a) Uma fatia composta por voxels. b) Uma imagem composta por pixels.

A ressonância magnética é baseada na absorção e emissão de energia na banda


de rádio freqüência. Por muito tempo acreditava-se não ser possível obter imagens de
elementos de volume menores que o comprimento de onda da energia utilizado neste
processo. Os métodos de ressonância nuclear magnética superam esta limitação
produzindo imagens baseadas nas variações espaciais da fase e da freqüência da
energia absorvida e emitida pelo objeto em análise.
Uma importante característica do corpo humano é ele ser constituído
principalmente por água e gordura, o que acarreta uma concentração de 63% de
hidrogênio no corpo. Isto torna o hidrogênio o principal elemento observado ao se mapear
uma imagem por ressonância magnética. Porém, dentre as aplicações da ressonância
magnética, destaca-se também a possibilidade de obtenção de imagens relativas à
funcionalidade dos sistemas, através do mapeamento de outros elementos químicos. Um
bom exemplo é o mapeamento do fósforo (31P) para se analisar o metabolismo, com uma
resolução de imagem muito superior às obtidas em medicina nuclear.
As próximas seções mostram as propriedades físicas que permitem este
mapeamento, os processos de aquisição, formação e visualização das imagens de
ressonância nuclear magnética.

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2. Conceitos Fundamentais
2.1. A Física dos Spins
O spin é uma propriedade fundamental das partículas atômicas, representada em
múltiplos de ½e sinalizada como positiva ou negativa. Por exemplo, o átomo de Deutério
(2H) possui um elétron não emparelhado, um próton não emparelhado e um nêutron não
emparelhado, o que resulta um spin eletrônico igual a +½e um spin nuclear igual a +1.
Duas ou mais partículas que possuam spins de sinais opostos podem se emparelhar
cancelando os efeitos observáveis de seus spins, o que as torna inviáveis para a
detecção por ressonância magnética.
As partículas nucleares podem ser detectadas e terem sua posição conhecida
devido a uma relação entre a freqüência na qual elas absorvem energia de rotação (por
ressonância) e o campo magnético ao qual estão submetidas. Esta relação é conhecida
como a equação da precessão de Larmor. Segundo Larmor, uma partícula que possua
spin resultante diferente de zero submetida a um campo magnético de intensidade B pode
absorver um fóton de freqüência ω, a qual depende da taxa giromagnética γ .

ω L = γB
Os principais elementos químicos analisados em exames de ressonância
magnética, os valores de seus spins resultantes e suas constantes giromagnéticas estão
dispostos na Tabela 2.1.

Tabela 2.1: Alguns elem entos químicos e suas respectivas constantes giromagnéticas

Elemento Prótons não Nêutrons não Spin γ


emparelhados emparelhados resultante [MHz/T]
1
H 1 0 ½ 42.58
2
H 1 1 1 6.54
31
P 0 1 ½ 17.25
23 3
Na 0 1 /2 11.27
14
N 1 1 1 3.08
13
C 0 1 ½ 10.71
19
F 0 1 ½ 40.08

Para compreender como uma partícula que possui um spin resultante se comporta
na presença de um campo magnético, pode-se considerar o spin como sendo o vetor
momento magnético causado pelo movimento de rotação desta partícula, fazendo com
que a partícula se comporte como um pequeno ímã, com um pólo norte e um pólo sul. Na
presença de um campo magnético externo, este vetor tende a se alinhar com este campo.
Portanto, existem duas configurações possíveis: uma configuração de alto nível de
energia (N-S-N-S) e uma configuração de baixo nível de energia (N-N-S-S), como visto na
Figura 2.1.

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a) b)
Figura 2.1: a) Configuração de alto nível de energia; b) Configuração de baixo nível de
energia.

Uma partícula pode passar por uma transição entre os dois níveis de energia
possíveis pela absorção de um fóton. Quando no estado de baixa energia, a partícula
pode absorver um fóton e “pular” para o nível de maior energia, desde que a energia
deste fóton seja exatamente a energia correspondente à diferença energética entre os
dois níveis. A energia E de um fóton é proporcional à sua freqüência ω, e relacionada
pela constante de Planck ž .

E = hω
Esta freqüência ω é denominada freqüência de ressonância de Larmor, que pode
ser substituída, segundo a equação de Larmor, a fim de se determinar a energia do fóton
necessária para promover a transição entre os níveis de energia em função do campo
magnético.

E = hγB
A absorção de energia por uma partícula é um fenômeno quântico. Quando um
grupo de partículas é colocado sob um campo magnético externo, cada spin se alinha em
uma das duas orientações possíveis. Em temperatura ambiente, o número de spins no
estado de baixa energia, N+, é ligeiramente maior que no estado de alta energia, N -. Esta
relação é regida pela estatística de Boltzmann, onde E é a diferença de energia entre os
dois estados, k é a constante de Boltzmann, e T é a temperatura em Kelvin.

N− = e −E / kT
N+
O sinal captado em um exame por ressonância magnética é proporcional à
diferença entre o número de partículas no estado de alta energia e o número de partículas
no estado de baixa energia. Sendo assim, a abundância natural e a abundância biológica
do elemento químico cuja freqüência de ressonância é observada exercem grande
influência na intensidade do sinal que é captado. A Tabela 2.2 e a Tabela 2.3 mostram,
respectivamente, a abundância natural (presente na natureza) e a abundância biológica
(presente no corpo humano) de alguns elementos químicos, onde fica clara a escolha do
hidrogênio como principal elemento analisado nos exames por ressonância magnética.

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Tabela 2.2: Abundância Natural

Elemento Símbolo Abundância


Natural [%]
1
Hidrogênio H 99.985
2
H 0.015
13
Carbono C 1.11
14
Nitrogênio N 99.63
15
N 0.37
23
Sódio Na 100
31
Fósforo P 100
39
Potássio K 93.1
43
Cálcio Ca 0.145

Tabela 2.2: Abundância Biológica

Elemento Abundância
Biológica [%]
Hidrogênio (H) 0.63
Carbono (C) 0.00041
Nitrogênio (N) 0.0024
Sódio (Na) 0.094
Fósforo (P) 0.26
Potássio (K) 0.0022
Cálcio (Ca) 0.015

2.2. O Processo T1

Seria muito trabalhoso descrever as interações atômicas em escala microscópica.


Uma abordagem macroscópica é mais conveniente. O primeiro passo, portanto, é definir o
vetor de magnetização líquida ou resultante. Este vetor tem o mesmo sentido do campo
magnético externo B0, ao qual o spin de cada partícula tende a se alinhar, e seu módulo é
proporcional à diferença entre o número spins alinhados neste sentido e aos alinhados em
sentido contrário.

Figura 2.3: Vetor de Magnetização

5
No equilíbrio, o vetor de magnetização resultante aponta no sentido do campo B0 e
é denominado magnetização de equilíbrio M 0. A Figura 2.4 mostra o sistema de
coordenadas para o estado de equilíbrio, onde o componente Z do vetor de magnetização
é máximo.

Figura 2.4: Sistema de coordenadas da magnetização de equilíbrio

É possível alterar o vetor de magnetização transferindo energia para o sistema na


forma de fótons, cuja freqüência é determinada pela equação de Planck. Se uma
quantidade de energia suficiente for transferida ao sistema, é possível saturá-lo fazendo
com que o componente Z do vetor de magnetização (M Z) seja zero.

Figura 2.5: M Z = 0

Como este estado (M Z = 0) é instável, o sistema tende a retornar ao equilíbrio. A


constante de tempo que descreve o retorno de M Z ao equilíbrio (onde M Z = M 0) é
denominada tempo de relaxamento T1 (Relaxation Time).

Figura 2.6: Retorno ao Equilíbrio.

Portanto, este retorno ao equilíbrio pode ser descrido como uma função na forma:

(
M Z = M 0 1 − e − t / T1 )
6
2.3. Precessão

Quando o vetor de magnetização se encontra no plano XY, ele gira em torno do


eixo Z a uma freqüência igual à freqüência dos fótons que causaram a transição do
estado de equilíbrio para o estado de alta energia, ou seja, a freqüência de Larmor. Esta
rotação em torno do eixo Z é denominada precessão.

Figura 2.7: Vetor de Magnetização em Precessão

2.4. O Processo T2

Após o início da precessão do vetor de magnetização resultante, cada partícula


experimenta um campo magnético ligeiramente diferente uma da outra. Esta diferença de
campo acarreta uma diferente freqüência de rotação (freqüência de Larmor) para cada
partícula, fazendo com que umas girem mais rapidamente que outras, dando inicio a um
processo de defasagem entre elas. Esta defasagem faz com que cada spin aponte em
uma direção diferente, tornando o módulo do vetor de magnetização resultante cada vez
menor, àmedida que a defasagem aumenta.

Figura 2.8: Decaimento da magnetização transversal

Este processo corresponde ao retorno ao equilíbrio da magnetização transversal


(M XY), denominado tempo de relaxamento spin-spin (Relaxation Time), e é descrito pela
constante de tempo T 2.

M XY = M XY 0e − t / T2
T2 é sempre menor ou igual a T1, isto significa que a magnetização transversal (no
plano XY) diminui até ser igual a zero, e somente após M XY = 0 é que a magnetização
longitudinal (M Z) retorna ao seu valor de equilíbrio M 0, como mostrado na Figura 2.4.
O comportamento de cada componente do vetor de magnetização no domínio do
tempo pode ser obtido através da solução das equações de Bloch:

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2.5. O Decaimento Indutivo Livre (FID)

A constante de tempo do decaimento da magnetização transversal (T 2) pode ser


medida posicionando-se uma bobina perpendicular ao eixo X, como mostrado na Figura
2.9. A rotação do vetor de magnetização transversal induz uma corrente senoidal nesta
bobina, que apresenta um decaimento na amplitude, descrito por uma constante de tempo
T2*, devido ao decaimento da própria magnetização transversal causada pela defasagem
dos spins. Este sinal captado na bobina é denominado Decaimento Indutivo Livre (Free
Induction Decay – FID), e pode ser visualizado na Figura 2.10.

Figura 2.9: Bobina para detecção da magnetização transversal

Figura 2.10: Decaimento Indutivo Livre

Para se obter este sinal, aplica-se um pulso magnético B1 na direção X,


deslocando o vetor de magnetização para o plano XY. Este pulso está na faixa de rádio
freqüência e é denominado pulso de 90 .

8
Figura 2.11: Pulso de 90

Após o pulso de 90 , o vetor de magnetização inicia uma precessão em torno no


eixo Z, induzindo o sinal FID na bobina de detecção.

Figura 2.12: Seqüência 90-FID

Se esta seqüência for repetida, a transformada de Fourier da amplitude do sinal


depende da constante de tempo T1 e do tempo entre as repetições de cada seqüência
(TR). Na equação abaixo, que descreve a variação da amplitude do sinal, k é uma
constante de proporcionalidade e ρ é densidade de spins da amostra.

(
S = kρ 1 − e−TR / T1 )
2.6. A Seqüência Eco do Spin (Spin-Eco)

Outra seqüência de pulsos utilizada para se obter um sinal que contenha


informação sobre as constantes de tempo T1 e T2 é a seqüência de Eco do Spin. Nesta
seqüência, aplica-se um pulso de 90 , como mostrado anteriormente na Figura 2.11, para
deslocar o vetor de magnetização para o plano XY. Neste plano, a magnetização
transversal começa a se defasar devido ao relaxamento spin-spin (Processos T2).

Figura 2.13: Inicio do processo de defasagem

9
Após o inicio da defasagem, aplica-se um pulso de 180º , promovendo uma
inversão de fase para cada spin. Isto significa que os spins que estavam com a fase
adiantada passam a ter a fase atrasada em relação aos demais.

Figura 2.14: Magnetização Transversal após o pulso de 180o

Estes spins, que antes possuíam a fase adiantada e que agora estão com a fase
atrasada, começam a diminuir a diferença de fase, por possuírem uma velocidade de
rotação maior eles alcançam a fase dos outros. A seqüência de aumento e de diminuição
da fase produz um sinal denominado eco. O diagrama de tempo da Figura 2.15 mostra a
posição relativa dos pulsos de 90o, 180o e do eco.

Figura 2.15: Eco do Spin

A equação que descreve a amplitude do sinal em função das constantes de tempo


T1 e T 2, do tempo de repetição (TR) e do tempo de eco (TE) definido como o tempo entre
o pulso de 90o e o máximo da amplitude do eco é dada por:

( )
S = kρ 1 − e−TR / T1 e−TE / T2
2.7 O Desvio Químico

Quando um átomo é colocado sob influência de um campo magnético externo,


seus elétrons giram em torno de um eixo perpendicular ao campo aplicado. Este
movimento circular dos elétrons cria um pequeno campo magnético sobre o núcleo numa
direção que se opõe à direção do campo externo. Portanto, o núcleo enxerga um campo
magnético que é menor que o campo externo B0, este é o chamado campo efetivo B.

B = B0 (1− σ )
A densidade de elétrons em torno de cada núcleo em uma molécula varia de
acordo com o tipo de elemento químico e com o tipo de ligação entre os elementos da
molécula, causando um campo oposto ao campo externo diferente em cada caso. Assim,

10
o campo efetivo sobre cada núcleo também varia, dando origem ao fenômeno chamado
desvio químico.
Se for tomado como exemplo uma molécula de metanol, Figura 2.16, a freqüência
de ressonância será diferente para cada tipo de núcleo de hidrogênio desta molécula.
Esta diferença depende do campo magnético externo (B0) aplicado. Quanto maior o
campo, maior a diferença entre as freqüências de res sonância, o que dificulta a
comparação entre espectros de freqüência de ressonância obtidos em equipamentos que
operam com campos magnéticos estáticos de valores diferentes.

Figura 2.16: Desvio Químico em uma molécula de Metanol

11
3. Formação da Imagem

Como visto nas seções anteriores, a ressonância magnética é uma modalidade de


obtenção de imagens na qual se observa, principalmente, a concentração de hidrogênio.
Na área médica, o principal interesse nos exames de ressonância magnética é observar
os sinais obtidos da água e da gordura, sendo estas substâncias as que contêm maior
concentração de hidrogênio.
O princípio utilizado em todos os exames de ressonância magnética é
representado pela equação de Larmor, onde a freqüência de ressonância de um spin é
proporcional ao campo magnético ao qual ele está submetido.

ω L = γB
Pode-se assumir, por hipótese, uma parte do corpo que contenha três regiões
distintas que apresentam uma certa densidade de hidrogênio. Se estas três regiões
estiverem sob efeito do mesmo campo magnético, tem-se um sinal que apresenta apenas
um pico na freqüência de ressonância do hidrogênio.

Figura 3.1: Sinal recebido quando o campo é o mesmo


para as três regiões analisadas

Desta forma, a única informação obtida é que “há hidrogênio na região analisada”,
mas não é possível dizer a localização deste elemento. O campo gradiente é uma das
formas de se superar esta limitação.

3.1. Campo Gradiente: Codificação na Freqüência

Tomando o mesmo exemplo do item anterior, se cada região estiver sob a ação de
um campo magnético diferente é possível determinar a sua posição espacial. O meio de
se obter um valor diferente de campo magnético para cada posição é através do chamado
campo gradiente. Um campo gradiente é um campo magnético que varia em função da
sua posição espacial em determinada direção. Em imagens de ressonância magnética, é
mais utilizado o campo gradiente unidimensional, ou seja, que apresenta variação linear
em uma única direção.
No caso do exemplo considerado, quando se aplica um gradiente linear de campo,
as regiões com densidade de hidrogênio estarão submetidas a campos magnéticos
diferentes, resultando um espectro com mais de uma freqüência de ressonância, sendo a

12
amplitude do sinal nestas freqüências proporcional à densidade de hidrogênio em cada
região, como visto na Figura 3.2.

Figura 3.2: Codificação em Freqüência

Este procedimento é denominado codificação em freqüência, por fazer a freqüência


de ressonância ser proporcional à posição espacial. Conhecendo a freqüência de
ressonância ω0 do elemento quando submetido apenas ao campo externo B0, sem o
campo gradiente, é possível determinar a posição espacial de cada região em função do
espectro de freqüência.

ω = γ ( B0 + x ⋅ G x ) = ω 0 + γ ⋅ x ⋅ Gx
x = (ω − ω0 ) /(γ ⋅ G x )
Todas as imagens de ressonância magnética são formadas por este princípio.
Umas das formas de obter uma imagem completa a partir deste conceito é utilizando a
retroprojeção.

3.2. Retroprojeção

A retroprojeção é um método amplamente utilizado em Tomografia


Computadorizada por Raios-X, e foi um dos primeiros métodos a ser demonstrado para a
aplicação em ressonância magnética. A retroprojeção é uma extensão da codificação em
freqüência, onde, neste caso, o campo gradiente é aplicado em várias direções, e o
espectro de freqüência de cada uma delas é armazenado para posterior análise.

Figura 3.3: Espectro de freqüência para cada direção do campo gradiente

13
Após a aquisição dos espectros de freqüência para diversos ângulos, estes dados
podem ser processados por um computador e fornecer uma imagem com a posição de
cada uma das regiões que apresentam densidade de hidrogênio significativa. Quanto
maior o número de projeções utilizadas para a reconstrução da imagem, maior será a
exatidão desta imagem.

Figura 3.4: Retroprojeção feita computacionalmente

A Figura 3.4 mostra o resultado de uma retroprojeção feita para o caso hipotético
de uma parte do corpo com três regiões com densidades de hidrogênio distintas. Após o
processamento inicial da retroprojeção, podem ser aplicados filtros que, entre outras
funções, eliminam o sinal de fundo, dando origem a uma imagem análoga a imagem
mostrada na Figura 3.5.

Figura 3.5: Resultado final da retroprojeção

3.3. Codificação na Fase

O método de formação da imagem por retroprojeção visto no item anterior requer


um processamento computacional muito grande, exigindo equipamentos de alto
desempenho e fazendo com que o tempo para o processamento de cada imagem seja
relativamente grande. A fim de contornar esta limitação, buscou-se um método onde fosse
possível obter informação referente a duas dimensões simultaneamente. Isto foi possível
através da codificação na fase para a segunda dimensão. O gradiente de campo usado
para a codificação na fase é um gradiente no campo magnético B0 usado para modificar o
ângulo de fase do vetor de magnetização transversal. O ângulo de fase da magnetização

14
transversal depende do campo ao qual ele está submetido que, no caso de um campo
gradiente, depende da posição.
Se forem tomadas como exemplo três regiões com spin resultante diferente de
zero, o vetor de magnetização transversal de cada região gira em torno do eixo X com a
mesma freqüência (Larmor) quando submetidos a um campo uniforme. Se for aplicado
um campo gradiente na direção X ( Gx ), os três vetores entrarão em precessão nesta
direção a uma freqüência ω definida pela equação de ressonância:

ω = γ ( B0 + x ⋅ Gx ) = ω 0 + γ ⋅ x ⋅ Gx

φ
Figura 3.6: Codificação na Fase através do Campo Gφ

Portanto, quando o gradiente de campo Gφ φ que codifica na fase estiver ligado,


cada vetor de magnetização transversal estará em uma freqüência de precessão
característica, exatamente como no caso de codificação em freqüência. A diferença está
em que após o gradiente de codificação em fase Gφ φ ser desligado, todos os vetores de
magnetização transversal retornarão para a mesma freqüência, porém cada um com uma
fase diferente. Assim como no caso da codificação em freqüência, para cada fase distinta
pode-se atribuir uma posição ao seu respectivo vetor de magnetização resultante.

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4. Dispositivos de Aquisição

Um esquema dos principais componentes de um sistema de imagem por


ressonância magnética pode ser visto na Figura 4.1. Na parte superior do esquema, estão
representados os componentes do sistema que ficam localizados dentro da sala do
equipamento de ressonância magnética (sala de varredura).
O magneto produz o campo B0 utilizado nas técnicas de imagem descritas nas
seções anteriores. Na parte interior ao magneto estão as bobinas gradientes, que são
responsáveis pelos gradientes de campo nas direções X, Y e Z. Mais internamente, estão
as bobinas RF, que são responsáveis pela geração do campo B1 necessário para girar os
spins em 90o e 180o e também detectam o sinal gerado pelos spins no corpo do paciente.
O paciente é posicionado dentro do magneto por uma mesa controlada pelo computador,
que apresenta precisão de deslocamento superior a 1mm. Toda esta estrutura é envolvida
por um isolador magnético, que bloqueia os campos magnéticos na faixa de RF
impedindo que estes campos sejam irradiados para fora do hospital e que interferências
externas sejam detectadas pelo sistema de ressonância magnética.

Figura 4.1: Diagrama esquemático de um sistema de ressonância magnética

Os demais componentes ficam localizados fora da sala do equipamento de


ressonância magnética. Destes componentes, o computador controla a fonte de RF e os
programadores de pulso. A fonte de RF produz uma senóide na freqüência desejada. Este
sinal senoidal é transformado em um sinal de pulsos sinc e amplificado de miliwatts para
kilowatts pelo amplificador RF. O operador programa o computador através de um
terminal, onde é possível personalizar e selecionar as seqüências a serem geradas. As
imagens obtidas podem ser visualizadas na tela deste terminal. Se for necessário, estas
imagens podem ser impressas em uma impressora de filmes ou utilizando uma câmera
multi-formato.

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4.1. O Magneto
O magneto é o componente mais caro de um equipamento de ressonância
magnética. A maioria deles é do tipo supercondutor. Um magneto supercondutor é um
eletroímã construído com cabos supercondutores, que apresentam resistência ôhmica
bem próxima de zero quando resfriados a temperaturas próximas de 0 Kelvin.
Normalmente, estes supercondutores são resfriados por hélio líquido. Uma vez induzida a
corrente que circula pelo supercondutor, ela se mantém constante ao longo do tempo, já
que praticamente não existem perdas ôhmicas, mantendo também o campo magnético
por ela gerado. A perda de energia do supercondutor é da ordem de algumas unidades
por milhão no período de um ano, sendo, portanto, um fator de pouca influência no
funcionamento normal do equipamento.

Figura 4.2: Magneto supercondutor com campo de 1.5 Tesla

A disposição relativa dos componentes do sistema supercondutor pode ser vista


em um corte transversal esquematizado na Figura 4.3.

Figura 4.3: Corte do sistema supercondutor

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4.2. As Bobinas de Campo Gradiente

As bobinas de campo gradiente produzem os gradientes no campo magnético B0.


Estas bobinas funcionam à temperatura ambiente, e a sua configuração determina o
gradiente de campo desejado. Assumindo um sistema de coordenadas onde o campo B0
está na direção Z, as bobinas que geram campo nesta direção são de um tipo
denominado anti-helmholtz. Este tipo de bobina é composto por duas espiras, onde a
corrente que circula em cada uma apresenta sentido oposto ao da outra, criando assim
um gradiente de campo entre as duas espiras, o qual é sobreposto ao campo B0.

Figura 4.4: Bobina para gerar gradiente na direção Z

Os gradientes na direção X e Y são gerados por bobinas enroladas em pares em


forma de 8. As bobinas do eixo X produzem um campo na direção X devido ao sentido da
corrente através de suas espiras. A formação do campo na direção Y ocorre de modo
análogo nas bobinas do eixo Y.

Figura 4.5: Bobina para gerar gradiente na direção X

18
Figura 4.6: Bobina para gerar gradiente na direção Y

4.3. As Bobinas de Rádio Freqüência

As bobinas de rádio freqüência são as responsáveis por criar o campo B1 que gira
o vetor de magnetização para o plano transversal em uma seqüência de pulsos. Além de
produzir campo, estas bobinas também são responsáveis por detectar a magnetização
transversal em precessão no plano XY. Assim, as bobinas de rádio freqüência podem ser
classificadas em três grupos: bobinas que transmitem e captam sinal, bobinas que apenas
transmitem sinal, e bobinas que apenas captam sinal. Para cada situação, dependendo
do órgão ou membro que se quer analisar, utiliza-se um tipo de bobina diferente.
A fim de apresentar melhor desempenho, uma bobina de rádio freqüência deve ter
freqüência de ressonância igual à freqüência de Larmor do elemento químico em análise.
Cada uma dessas bobinas é composta por um indutor, ou elementos indutivos, e um
conjunto de elementos capacitivos. A freqüência de ressonância da bobina ω B é
determinada pela indutância L e pela capacitância C do circuito.
1
ωB =
2π LC
Alguns tipos de bobina precisam ser sintonizados para cada paciente (em função
da relação água/gordura) através da variação da capacitância do circuito. Deve também
ser assegurado que o campo B1 gerado pela bobina de RF seja perpendicular ao campo
B0 do magneto.
A seguir, são listados os principais tipos de bobinas RF utilizados em ressonância
magnética.

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• Bobina espiral, ou solenóide.

Figura 4.7: Bobina espiral

Esta bobina é composta de várias voltas de um condutor em torno de um núcleo


ferromagnético. Normalmente, este tipo de bobina fica localizado no magneto, como
mostrado na Figura 4.1.

• Bobina de superfície.

Figura 4.8: Bobina de superfície

As bobinas de superfície são muito utilizadas por serem bobinas que apenas
recebem sinal e possuem uma alta relação sinal/ruído para tecidos próximos à bobina.
Estas bobinas podem ser planas ou moldadas conforme o membro que se deseja
examinar. A Figura 4.9 mostra um exemplo de bobina plana de superfície e a Figura 4.10
mostra uma bobina de superfície que pode ser moldada em torno de um membro.

20
Figura 4.9: Foto de uma bobina de superfície plana

Figura 4.10: Foto de uma bobina de superfície ajustada ao joelho

21
• Bobina tipo gaiola.

Figura 4.11: Bobina tipo gaiola

A bobina tipo gaiola é a mais utilizada para exames da cabeça e do cérebro. A


Figura 4.11 mostra o diagrama esquemático de uma bobina tipo gaiola, e a Figura 4.12
mostra uma foto de uma bobina sendo utilizada para fazer um exame de cérebro.

Figura 4.12: Foto de uma bobina tipo gaiola

22
• Bobina de uma única espira.

Figura 4.13: Bobina de uma espira

As bobinas de uma única espira (única volta) são úteis quando se pretende
examinar extremidades como mama e punho. A Figura 4.13 mostra o diagrama
esquemático de uma bobina deste tipo, e a Figura 4.14 mostra uma foto da sua utilização
para examinar um punho.

Figura 4.14: Foto de uma bobina de uma volta

23
4.4. Detector de Quadratura

O detector de quadratura é um dispositivo que separa os componentes M X e M Y da


magnetização transversal no sinal captado nas bobinas de RF, sendo o seu principal
componente o misturador de balanço duplo (DBM). O misturador de balanço duplo possui
duas entradas e uma saída, de tal forma que se os sinais de entrada forem cos(a) e
cos(b), a saída será ½ cos(a+b) e ½ cos(a-b), sendo assim chamado de detector de
produto, pois o produto de cos(a) e cos(b) é a saída, como pode ser visto na Figura 4.15.

Figura 4.15: Misturador de Balanço Duplo

Normalmente o detector de quadratura possui dois misturadores de balanço duplo,


dois filtros, dois amplificadores e um deslocador de 90o da fase, como esquematizado na
Figura 4.16.

Figura 4.16: Detector de Quadratura

Um detector de quadratura possui duas entradas e duas saídas. As freqüências ω e


ω 0 são as entradas deste dispositivo, e as saídas correspondem aos componentes M X e
M Y da magnetização transversal. Existem alguns artefatos de imagem bem característicos
que são causados por problemas no detector de quadratura. Estes artefatos são tratados
em mais detalhes no item 5.4.

24
5. Visualização da Imagem
Depois de coletados os dados do exame de ressonância, inicia uma das fases mais
importantes do exame: o processamento dos dados e das imagens. Este processamento
é de crucial importância, porque os dados na forma em que foram adquiridos não
representam uma imagem anatômica. A fim de compreender o processamento feito com
estes dados, é necessário rever alguns conceitos, como o histograma da imagem e os
sistemas de coordenadas e de planos utilizados.

5.1. Histograma da Imagem


O histograma de uma imagem é um gráfico informando o número de pontos da
imagem (pixels) que possuem o mesmo valor. A Figura 5.1 mostra um exemplo de um
histograma que representa uma imagem que possui a maior parte dos dados com valores
de 0 a 80 e de 600 a 1000.

Figura 5.1: Histograma de uma imagem

O histograma de uma imagem é útil na hora de decidir como representar um valor


medido referente a um voxel e associá-lo a uma intensidade de pixel no monitor do
computador.

5.2. Coordenadas e Planos


Os equipamentos de imagem médica utilizam um sistema de coordenadas
anatômico para apresentar as imagens ao invés do sistema de coordenadas XYZ. No
sistema utilizado, os eixos são referenciados em relação ao corpo. Sendo assim, existem
basicamente três eixos de referência, sendo eles o da esquerda para a direita (E/D), o
superior-inferior (S/I) e o anterior-posterior (A/P).

25
Figura 5.2: Sistemas de eixos

Analogamente ao que ocorre com o sistema de eixos, o sistema de planos XY, XZ


e YZ não é utilizado em equipamentos de imagem médica, ao invés deles, são usados os
planos axial, coronal e sagital. O plano axial é perpendicular ao eixo superior-inferior. O
plano que separa a parte da frente (anterior) da parte de trás (posterior) é denominado
plano coronal. E o plano que separa o lado esquerdo do direito é o plano sagital.

Figura 5.3: Sistema de Planos

5.3. Processamento da Imagem

Depois de revistos os conceitos físicos que dizem respeito à ressonância


magnética e dos dispositivos utilizados para aquisição da informação, faltam mostrar os
processamentos necessários para se obter uma imagem com informações anatômicas a
partir dos dados coletados. Na forma em que se encontram, estes dados são
denominados dados brutos (raw data).
Normalmente, os dados brutos se encontram na forma de matrizes de 256 x 256
pontos complexos, com resolução de 16 bits. A Figura 5.4 mostra estes dados separando-
os em parte real e parte imaginária.

26
Figura 5.4: Dados brutos, parte real e parte imaginária

Antes de iniciar o processamento que fornecerá a imagem anatômica, é


interessante filtrar os dados para minimizar o ruído. Este filtro corresponde a uma
convolução dos dados brutos com uma função de linha de Lorentz. Tal convolução deve
ser feita no domínio da freqüência, o que equivale a uma multiplicação no domínio do
tempo. Como os dados brutos encontram-se inicialmente no domínio do tempo, na
maioria dos casos, a aplicação deste filtro corresponde à multiplicação dos dados brutos
por um cone exponencial, que corresponde à transformada bidimensional de Fourier da
função de linha de Lorentz. Esta operação é mostrada graficamente na Figura 5.5.

Figura 5.5: Filtragem bidimensional dos dados brutos

Após esta filtragem inicial do ruído, aplica-se a transformada bidimensional de


Fourier do resultado. A transformada de Fourier é necessária para extrair a informação
referente à posição dos spins, que, como visto na seção 3, está codificada em freqüência
e em fase. A decodificação da informação na fase é obtida pela transformada no sentido
vertical (eixo Y da magnetização transversal, M Y) e a informação codificada na freqüência
pela transformada no sentido horizontal (M X).

27
Figura 5.6: Transformada bidimensional de Fourier: a) sentido vertical b) sentido
horizontal

Como podem ser observados na Figura 5.6, os dados começam a fornecer


informações anatômicas, mas ainda estão separados em parte real e parte imaginária. É
interessante notar que, após a última transformação, as imagens apresentam faixas de
intensidades maiores e menores alternadamente entre a parte real e a parte imaginária. A
fim de unificar as informações contidas na parte real e na parte imaginária, calcula-se a
magnitude (valor absoluto) de cada ponto.

Figura 5.7: Cálculo da magnitude

O resultado obtido já corresponde a uma imagem anatômica, sendo necessária


apenas uma preparação para visualização e armazenamento. O cálculo da magnitude
(que é sempre maior ou igual a zero) reduz a resolução de 16 (65536 valores possíveis)
para 15 bits (32768 valores possíveis), pois não há mais a informação referente ao sinal
positivo ou negativo do dado, o que por si só representa uma compactação inicial da
informação.
O sistema de cores padrão utilizado para armazenamento e visualização deste tipo
de imagem é de 256 tons de cinza, o que corresponde a 8 bits de resolução. Com a
redução da resolução, a imagem pode ser ampliada sem a necessidade de aumentar a
28
capacidade de armazenamento, o que normalmente é feito por uma interpolação dos
pontos. Assim, o padrão para imagens de ressonância magnética é de 512 x 512 pixels e
8 bits de resolução por pixel.
A redução da resolução de cada pixel, de 15 para 8 bits, é feita através de uma
relação, normalmente linear, entre o valor do dado e a intensidade do pixel definida em
forma de uma tabela de busca (look-up table - LUT), que pode ser visualizada como uma
curva. Esta relação define o contraste e o brilho da imagem. O contraste é definido pela
largura dos valores a serem considerados, e o brilho é definido como o valor do ponto
médio da curva.

Figura 5.8: Relação entre valor dado e intensidade de pixel

O ajuste dos valores de contraste e brilho pode realçar certos detalhes anatômicos,
facilitando a visualização de determinadas patologias. Alguns exemplos da influência do
contraste e do brilho podem ser vistos na Tabela 5.1, onde a curva que relaciona o valor
do dado àintensidade de pixel está sobreposta ao histograma.

Tabela 5.1: Influência do brilho e do contraste na imagem

Largura (Contraste) Brilho Resultado

1153 576

280 860

29
780 735

320 730

1 470

1 865

5.4. Artefatos

Os artefatos são elementos ou características que aparecem na imagem, mas que


não estão presentes no objeto original. Alguns artefatos podem ser causados pelo uso
incorreto do equipamento de ressonância magnética ou por conseqüência de processos e
propriedades naturais do corpo humano.
Normalmente, os artefatos são classificados em função da sua origem, sendo suas
principais causas: a não-homogeneidade do campo B0, falha no circuito de detecção de
quadratura do sinal de rádio freqüência, falha no gradiente de campo, não-
homogeneidade do campo RF, movimento, fluxo, desvio químico (chemical shift), e
volume parcial.

• Não-homogeneidade do campo B0

Os sistemas de ressonância magnética assumem que o campo B0 é homogêneo.


Um campo não homogêneo provoca distorções na imagem, que podem ser distorções
espaciais, distorções de intensidade, ou os dois tipos ao mesmo tempo. As distorções
espaciais resultam de gradientes no campo B0, fazendo os spins ressoarem em
freqüências diferentes das previstas pelo sistema.

30
Figura 5.9: Artefato causado por não-homogeneidade do campo B0

A Figura 5.9 mostra uma imagem de quatro tubos retos, preenchidos com água,
formando um quadrado. Fica evidente uma forte distorção em um dos tubos devido à não-
uniformidade do campo B0.

• Quadratura no sinal de rádio freqüência

Os artefatos de quadratura de RF são causados por problemas no circuito de


detecção de quadratura, descrito no item 4.4. Em geral, estes problemas estão
associados ao mau funcionamento dos canais do detector. Por exemplo, se um dos
amplificadores apresentar um resíduo constante na saída (DC offset), ao se executar a
transformada de Fourier nos dados, pode aparecer um brilho no centro da imagem. Outro
problema característico é um dos canais possuir um ganho maior que o outro. Neste caso,
aparecem “fantasmas” nas diagonais da imagem, como mostrado no exemplo da Figura
5.10.

Figura 5.10: Artefato causado por quadratura no sinal de rádio freqüência

• Falha no gradiente de campo

Os artefatos causados por falha no gradiente de campo são bem semelhantes aos
causados pela não-uniformidade do campo B0. Quando o gradiente não é constante, a
imagem fica distorcida, o que é comum quando um bobina de gradiente está danificada,
ou a corrente que passa por ela não possui o valor esperado.

31
Figura 5.11: Artefato causado por falha no gradiente de campo

A Figura 5.11 mostra uma imagem onde a corrente que passa pela bobina
responsável pela codificação em freqüência (da esquerda para a direita) possui a metade
do valor esperado.

• Não-homogeneidade do campo RF

Uma não-homogeneidade do campo RF corresponde a uma variação da sua


intensidade ao longo da imagem, o que pode ser causado por deformação no campo
magnético B1 ou por uma sensibilidade não-uniforme nas bobinas de recepção do sinal,
muito comum nas bobinas de superfície. A presença deste artefato indica falha em um
dos elementos das bobinas de recepção de RF ou a presença de materiais
ferromagnéticos no órgão ou membro em análise. A Figura 5.12 mostra uma fatia no
plano sagital de uma cabeça com um artefato na região da boca. Este artefato foi causado
pela grande quantidade de metal que o paciente possui nos dentes devido a tratamentos
odontológicos. O metal impede que os pulsos de campo em RF cheguem até a boca,
provocando uma anulação desta região na imagem.

Figura 5.12: Artefato causado por não-homogeneidade do campo RF

• Movimento

Este tipo de artefato ocorre quando o órgão ou membro que está sendo analisado
se move durante a aquisição dos dados. Se toda a região se move, a imagem fica

32
embaçada, e aparecem imagens “fantasmas” na direção que é codificada na fase (eixo
Y). O movimento de uma pequena parte da região resulta em manchas nesta parte ao
longo da imagem. A Figura 5.13 mostra o artefato de movimento causado pela pulsação
de um vaso sangüíneo durante a aquisição.

Figura 5.13: Artefato causado por movimento

• Fluxo

Os artefatos de fluxo são causados pelo fluxo de sangue ou outros fluidos. No


momento em que uma fatia está sendo captada pelo equipamento de ressonância
magnética, um fluido em movimento através dela pode receber o pulso RF e sair da
região da fatia. Assim, o sinal referente àquele pulso não será captado, o que causa um
vazio na imagem como se naquela região não houvesse spins. A Figura 5.14 mostra uma
fatia axial das pernas com os vasos sangüíneos em preto mesmo havendo uma grande
quantidade de água neles.

Figura 5.14: Artefato causado por fluxo

• Volume parcial

O artefato de volume parcial é causado pelo tamanho do voxel da imagem.


Enquanto um voxel pequeno contém apenas água ou gordura, um voxel grande pode
conter uma combinação destas duas substâncias. Neste caso, a intensidade do sinal de
um voxel grande será uma média ponderada da quantidade de água e de gordura que ele
possui, não permitindo a distinção entre uma substância e outra. Outra manifestação
deste artefato é a perda de resolução. A Figura 5.15 mostra uma imagem de uma fatia de
3mm e outra de uma fatia de 10mm, sendo que nesta última a resolução é menor.
33
Figura 5.15: Artefato causado por volume parcial

34
6. Procedimentos e Resultados

6.1. Preparativos
Devido às elevadas intensidades de campo utilizadas em um exame de
ressonância magnética, algumas precauções devem ser tomadas a fim de evitar
acidentes. Alguns objetos podem ser danificados pelo campo magnético, como cartões de
crédito e aparelhos eletrônicos. Outros objetos podem ser atraídos pelo campo estático e
serem projetados em direção ao magneto, podendo ferir alguém ou danificar o
equipamento. São relatados casos de moedas, chaves, canetas, anéis, brincos e até
ferramentas que foram atraídos pelo campo magnético e provocaram acidentes. A Figura
6.1 mostra uma fivela metálica de um cinto sendo atraída pelo magneto. Estes objetos
devem ser recolhidos do paciente antes de encaminhá-lo ao exame.

Figura 6.1: Influência do campo magnético estático

Alguns acessórios de roupa como zippers e botões ou implantes metálicos podem


provocar distorções na imagem ou aquecer a ponto de provocar lesões no paciente.
Aparelhos auditivos e marca-passos não funcionam sob a ação de campos magnéticos
intensos. Por estas razões, é necessário fazer uma entrevista com o paciente e verificar
se ele pode ou não se submeter ao exame de ressonância magnética. Se for necessário
utilizar contraste (gadolinium), deve-se conhecer a possibilidade de uma reação, as
contra-indicações, ou até mesmo a possibilidade de gravidez da paciente.
Somente depois de tomadas todas as precauções e medidas de segurança
necessárias é que se pode encaminhar o paciente para o exame.

6.2. Bastidores
Uma clínica ou hospital onde são feitos os exames de ressonância magnética
possui uma sala de controle, uma sala do computador, uma sala de leitura e uma sala de
varredura.
A sala de varredura é normalmente a única à qual o paciente tem acesso. É nela
que se localizam os equipamentos que geram campos magnéticos. Esta sala possui
isolamento magnético e para entrar nela devem ser tomadas todas as precauções citadas
no item 6.1. Até mesmo as macas que levam o paciente até a mesa de exame devem ser
projetadas especialmente para esta sala, pois são freqüentes os relatos de macas de
35
metal que foram arrastadas pelo campo magnético estático ferindo pacientes e
enfermeiros. É nesta sala que se localiza o magneto, e uma foto de exemplo pode ser
vista na Figura 4.2, no item em que este dispositivo foi apresentado.
Na sala de controle fica o terminal de onde o operador programa o exame e
visualiza as imagens na medida em que são adquiridas e processadas. Uma foto de uma
sala de controle pode ser vista na Figura 6.2.

Figura 6.2: Sala de controle

O computador, os equipamentos que programam os pulsos a serem fornecidos às


bobinas de campo e os amplificadores de sinal ficam em uma sala à parte, chamada sala
do computador. Em geral, não há a necessidade de ficar um operador nesta sala, sendo
utilizada apenas quando for feita a manutenção do equipamento. A foto de um exemplo
de sala de computador pode ser vista na Figura 6.3.

Figura 6.3: Sala de computador

Depois de impressas as imagens de um exame, os filmes são enviados para uma


sala de leitura, onde médicos especializados preparam os laudos. Esta sala possui
iluminação adequada para este fim e painéis iluminados onde são colocados os filmes a
serem avaliados. A Figura 6.4 mostra uma foto de uma sala de leitura.

36
Figura 6.4: Sala de Leitura

6.2. Resultados

Como exemplos de imagens obtidas em exames de ressonância magnética, as


Figuras 6.5 a 6.11 apresentam alguns resultados de diversas partes do corpo, com
variadas configurações de brilho e contraste.

Figura 6.5: Angiografia do peito e do pescoço, plano coronal.

37
Figura 6.6: Angiografia da Cabeça, plano axial.


Figura 6.7: Cabeça – diferentes contrastes, plano axial.

38
Figura 6.8: Cabeça com patologia, planos axial e coronal
em diferentes configurações de brilho e contraste.

Figura 6.9: Cabeça e pescoço, planos sagital e coronal.

39
Figura 6.10: Espinha na região lombar, plano sagital.

Figura 6.11: Joelho, planos axial e sagital.

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7. Conclusões e Propostas para Estudos Futuros

A ressonância nuclear magnética tem se mostrado uma excelente ferramenta para


análise e diagnóstico de patologias que se manifestam através de deformações
anatômicas. Este método de obtenção de imagens apresenta as vantagens dos demais
métodos não-invasivos, não possuindo as contra-indicações daqueles que utilizam
radiação ionizante como a tomografia computadorizada por raios-X. Além destas
características, a elevada resolução das imagens obtidas é acrescentada às vantagens, e
ainda a possibilidade de fazer exames de funcionalidade através do mapeamento de
outros elementos químicos além do hidrogênio.
A possibilidade de exames de funcionalidade é a proposta imediata a ser
pesquisada em estudos posteriores, avaliando a viabilidade, por exemplo, da substituição
dos exames de medicina nuclear pelos exames de ressonância magnética.
Apesar da ampla utilização da ressonância magnética, pouco se conhece sobre os
efeitos dos campos magnéticos nos seres vivos. O estudo destes efeitos e suas contra-
indicações são de grande interesse, e representam amplo campo de pesquisas
científicas.

8. Referências Bibliográficas

• The Basics of MRI, J. P. Hornak, http://www.cis.rit.edu/htbooks/mri/bmri.htm


• The Physics of Medical Imaging, edited by S. Webb, Bristol 1988.
• The Principles of Magnetic Resonance Imaging, H. Panepucci e A. Tannús, USP
1994.
• Ressonância Magnética Prática, Catherine Westbrook e Carolyn Kaut, editora
Guanabara Koogan, 2a. ed., 2000.

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