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Investimento em Energia Nuclear – uma tese de

investimentos

14 outubro 2021, 07:45


 
 
 
 
Por William Eid Junior.

A menos de três semanas do início da COP26, no Reino Unido, o mundo está se voltando para
medidas que podem preservar o planeta. E quando falamos em teses de investimentos relacionadas
à produção de energia, logo nos vem à mente energias renováveis como usinas eólicas, solares e
outras. Esse parece ser o consenso no mundo atual, e a tese de investimentos vitoriosa. Quem
pensa hoje em investir em geração de energia nuclear? Mas diferente do senso comum, muitos
países pensam na energia nuclear como caminho para a independência energética e limpa.

A Europa tem na sua matriz energética 13.1% de nuclear, muito devido à França. As energias
renováveis já respondem por 15.3% do total consumido, mas praticamente 70% ainda tem sua
origem em combustíveis fósseis, com o gás natural representando 22.4%. Este último recorte é
importante, pois boa parte do gás natural consumido na Europa vem da Rússia.
Os países do G7 investem entre 17% e 63% dos seus orçamentos energéticos em energia nuclear. A
França é o que mais investe. Lá 75% da energia total é produzida a partir de usinas nucleares. O que
a tornou independente do gás russo e de outras fontes, levando o custo da energia ao menor nível
entre todos os países europeus. E mais: com estabilidade de preços, o que é uma grande vantagem
para os consumidores industriais e residenciais.

Mini reatores estão em desenvolvimento na China, Japão, Rússia e Estados Unidos. São mais
simples, mais baratos e de fácil desenvolvimento. Claro, produzem menos energia que os grandes,
mas têm vantagens que superam essa deficiência. Emmanuel Macron, presidente francês, vai
anunciar nos próximos dias sua intenção de construir pelo menos 6 deles, ampliando a participação
da energia nuclear na matriz francesa. É interessante ver que outros candidatos às eleições
presidenciais francesas de 2022 propõe o mesmo, incluindo aí a extrema direita. Parece que está se
tornando um novo consenso.

A França quer que a energia nuclear seja considerada pela União Europeia como verde. Pode
parecer absurdo, mas os argumentos favoráveis a esta tese devem ser levados em conta. A energia
nuclear é muito mais limpa em termos de emissões que outras, afeta menos a paisagem e
eventualmente custam menos. E na França ainda há o argumento do domínio tecnológico do
processo, afinal, com 75% da matriz energética oriunda do nuclear, e há tanto tempo, efetivamente
eles detêm a tecnologia.

Ser considerada verde pela União Europeia trará para a energia nuclear o selo de sustentável. E
muitos recursos que só podem ser investidor em ativos com este selo.

Mas o grande argumento em prol da energia nuclear, e que soa como música para boa parte dos
europeus, é relativo à independência energética. Itália e Alemanha tem mais de 40% do gás
consumido oriundo da Rússia. França 24%. E ninguém confia muito nos humores de Wladimir
Putin. A independência pode levar os preços a uma maior estabilidade e eventualmente a menores
níveis.

Concordando ou não com o uso de energia nuclear, e muitos não concordam, é importante ressaltar
que como tese de investimento ela não pode ser desprezada. Quando um país do porte da França
tem planos de investir nessa área, é importante ficarmos atentos para não perder oportunidades.

* William Eid Junior é Professor Titular e Coordenador do FGVcef – Centro de Estudos em


Finanças da FGV/SP

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