Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ADRIANA PREQUERO
São Paulo
2020
ADRIANA PREQUERO
São Paulo
2020
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca
da Universidade São Judas Tadeu
Bibliotecária: Adriana Aparecida Magalhães - CRB 8/10264
Prequero, Adriana.
P927L A loja física vai morrer? Aspectos históricos da Arquitetura Comercial e
desafios dessa modalidade tradicional do varejo / Adriana Prequero. - São
Paulo, 2021.
f. 162: il.; 30 cm.
CDD 22 – 720
Universidade São Judas Tadeu
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu
Mestrado em Arquitetura e Urbanismo
LP1 – Projeto, Produção e Representação
Aprovado por:
____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
São Paulo
2020
Dedico
À Deus em primeiro lugar e sempre; aos meus pais Neide e
Nelson (in memoriam); à minha irmã Luciana e à minha prima
Soraia; aos avós Angelina, Annita, José e Mário (in
memoriam); aos que me antecederam. O amor de todos me fez
chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS
À Universidade São Judas Tadeu pela concessão da bolsa de estudos de dois anos que
proporcionou a realização deste Mestrado.
Ao meu orientador Prof. Dr. Cláudio Silveira Amaral pela sua dedicação, paciência e
contribuição desde o primeiro momento de pesquisa até a conclusão deste trabalho.
Aos membros da banca Profª Drª Cristina de Campos e o Prof. Dr. Cláudio César
Gonçalves que através de suas considerações, críticas e comentários levaram a minha pesquisa
a um nível de informação mais detalhado e preciso.
Aos colegas de turma, em especial à Mariana Guarnieri de Campos Tebet pela troca de
informações, sentimentos e tudo mais que envolvem dois anos de muito trabalho.
À Profª Drª Paula de Vicenzo Fidelis Belfort Mattos, pela inspiração que despertou em
mim o desejo de realizar o Mestrado e aos professores da primeira turma do Curso de Design
de Interiores da São Judas pelos dois anos de alegria e descobertas que me proporcionaram.
Aos queridos companheiros Kelli Cristina Sanches de Paula Squitino e Felippe Vicente
pelo grande incentivo desde que souberam do meu desejo em realizar o Mestrado. À Ana
Carolina Cavalcante Teixeira pelo apoio e acolhimento que me concedeu.
Ao amigo Prof. Dr. Luis Antônio Baffile Leoni, pelo carinho e por ter aberto novamente
as portas dessa Instituição para mim.
À amiga de toda vida Ana Lúcia Ramos de Oliveira e às amigas do coração, Carina
Proença e Sandra Soares.
À Deus sempre.
RESUMO
PREQUERO, Adriana. A loja física vai morrer? 160 f. 2020. Dissertação. Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu Arquitetura e Urbanismo LP1 – Projeto, Produção e Representação
Urbano. Universidade São Judas, São Paulo, 2020.
PREQUERO, Adriana. Will the physical store die? 160 p. 2020. Dissertation. Post-
Graduation Program Stricto Sensu Architecture and Urbanism LP1 – Urban Design, Prodution
and Representation. São Judas University, São Paulo city, 2020.
The discussion about the relevance of the physical store in the context of a world connected
with cutting-edge technologies is relevant because it impacts more and more on consumer
behavior since virtual tools are inserted more frequently in everyday human activities. A store
today, no longer sells a product or service, but shopping experiences. Thus, these environments
become true scenarios for the display of a certain brand, its values, its personality. Commercial
environments are part of the urban landscape, but often in their typography they do not
communicate the values of a brand and waste their role as a means of communication for a
company or a certain product. The elements of the layout, the showcase, the facade, end up
putting aside all the effort made in managing the Branding of a company, not introducing in its
architecture the elements "symbols" of it, that is, its set of values. It is necessary to understand
the extent to which the layout of a store becomes a language in the communication process and
how the use of technology helps to transform these commercial environments. In addition, it is
important to clearly see the role of architects and interior designers in this transformation of
traditional retail, since information about the market, target audience, products and services
offered, values of a brand and technology will be present in the scope of the project to be
accomplished. To build this content and understand the various stages of changes in consumer
behavior, bibliographic research on the historical aspects of retail in Brazil was necessary,
from the early colonization years, when trade was established exclusively by barter, to the
present day, with the progressive use of technology and online sales. In the 1990s, the Internet
and its widespread use changed the way of shopping, generating an increasingly informed class
of consumers, although they continued to visit physical stores. Until the beginning of 2020, this
was the retail scenario that we found in Brazil and in the world. With the arrival of the Covid-
19 pandemic, possibly many things will change, but experts are not sure what the customs will
be inserted from the isolation and insecurities imposed by this highly contagious disease. The
intention was to demonstrate the importance of the physical store, which, far from being
obsolete, should be valued as an important sales channel, and incorporate the brand's
valuesinto its design, in line with the technology available to retailers. The store, space for the
finalization of the commercial process, must rise to its importance as a history and tradition of
behavior. The results obtained through this dissertation point to evidence of the importance of
retailing through physical stores as a stage for unforgettable and significant shopping
experiences from a perspective of both the utility function of the product or service and the
hedonic function, that is, the object of pleasure.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 15
Capítulo 1. Uma Breve História do Varejo no Brasil – Passado colonizado e futuro tecnológico
.................................................................................................................................................. 21
INTRODUÇÃO
1“Marca é o nome, termo, sinal ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e
serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes” Conceito do Comitê
de Definições da American Marketing Association, de 1960.
2 Branding são todas as ações realizadas para o Brand Equity que é o valor agregado atribuído a bens e serviços.
Esse valor pode se refletir no modo como os consumidores pensam, sentem e agem em relação à marca, bem como
nos preços, na participação de mercado e na lucratividade gerada pela marca (KOTLER; KELLER, 2012)
3 Termos em inglês que significa participação de mercado.
16
Ora, numa economia com tantas opções de consumo, como fazer diferença nesse
processo de fidelização?
Este trabalho tem por objetivo responder ao questionamento mostrando que a loja física
é imprescindível para a aplicação e efetivação dos elementos de uma marca sejam estes
tangíveis (qualidade, design e preço) e intangíveis (status, modernidade, poder, sensualidade)
para torná-la competitiva num mercado dinâmico e de certa forma saturado como o do Varejo.
Os assuntos a serem analisado tentarão ser esclarecidos em sua importância e funções e
como todos se comunicam e entrelaçam para promover a transformação do Varejo e da
Arquitetura de Espaços Comerciais.
A dissertação está dividida em cinco capítulos onde o primeiro percorre alguns séculos
da história do varejo brasileiro para mostrar a relação das mudanças econômicas e como estas
afetaram o modo de consumir. As adaptações, melhorias e expansão que foram realizadas nas
construções dos armazéns, salões e moradias para se transformarem, em local apropriado para
as vendas, a localização geográfica destes e os estudos que se originaram desta problemática
urbana a partir dos anos 1960, são documentos vivos da preocupação que existiu e ainda existe
com o ponto de venda.
recebemos promoções e decidimos o que pode ser mais vantajoso para nós, ou seja, comprar
online ou nos deslocarmos até uma loja física e levar para casa o produto, imediatamente.
O capítulo três mostra os desafios do varejo tradicional onde o que se observa, de fato,
é que há cerca de uma década o varejo mundial tem se modificado devido a muitos fatores:
crise econômica global, inclusão digital, esforços cada vez maiores para redução de gastos com
o processo varejista, mudança de hábitos do consumidor e atualmente, a pandemia do novo
coronavírus. Segundo Vicky Eng, líder da área de Varejo e Consumo da Deloitte Global (2017),
os últimos 20 anos trouxeram mudança radical no varejo e nos clientes que os varejistas
atendem, uma vez que estes estão mais do que nunca, à frente, na direção, no banco do
motorista, sedentos por autenticidade, novidade, conveniência e criatividade.
Os especialistas do varejo mais pessimistas afirmam, sem pudor, que as lojas físicas irão
acabar devido ao crescimento do comércio online ou e-commerce e pelo baixo custo que essa
modalidade tem. Idalgo (2018) reforça que as lojas físicas, dependendo da estrutura da empresa,
são sinônimos de gastos que se equilibram na corda bamba da crise, perdem cada vez mais
espaço.
A pandemia de Covid-19 que se instalou no mundo todo no início de 2020 trouxe a
certeza de que mudanças nos hábitos de consumo ocorreram ou pelo menos acelerarão modelos
de comportamento que ainda encontravam alguma resistência por parte de certos perfis, como
por exemplo, o uso da tecnologia por pessoas da terceira idade, da população de países que
ainda não disponibilizam acesso à internet por limitação de infraestrutura etc.
O distanciamento social aplicado por governos no mundo todo demostrou a necessidade
que as pessoas têm de contato físico, da socialização, de estarem em ambientes comuns como
as ruas, praias, shopping, supermercados e lojas.
Pesquisa realizada pela BTG Pactual e Decode, em maio de 2020, quantificando e
metricando-os com dados do digital indica um aumento de tráfego de informações em sites,
procuras no Google e downloads de aplicativos. Os setores que mais tiveram alta foram:
entretenimento, saúde, alimentação, home office, cuidados com a casa, educação e beleza. A
pesquisa também identificou quais os setores e produtos que surgiram como uma tendência
forte de se estabelecer daqui por diante. São eles: cursos online, e-commerce de farmácias,
contactless payment ou pagamento online, aplicativos de atividade física, web meeting ou
encontros virtuais, logística, entretenimento, educação, saúde.
É mais coerente afirmar que o comércio varejista tradicional já está realizando uma série
de mudanças necessárias para se manter forte e competitivo diante de novos modelos mais
dinâmicos e tecnológicos. É um grande desafio para as empresas que ainda resistem a operações
18
virtuais, frustrando seu público e o perdendo para a concorrência que se dispõe a se modificar
e avançar no mundo digital.
A tendência de migração para o e-commerce já existe há quase 20 anos e caminha-se
para a consolidação dessa modalidade de forma definitiva e irreversível. Mas, o varejo,
principalmente as grandes empresas, percebendo esse movimento, investem cada vez mais nas
atratividades do seu ponto de venda físico e incluem todas as novidades tecnológicas comerciais
que surgem no mercado, como o eyetracking, que é a tecnologia que rastreia e mede a posição
do movimento ocular, iluminação inteligente, que pode ser programada e acionada através de
smatphones, tablets e outros meios. Bridger, em seu livro Neuromarketing (2018, p. 2528)
informa que numerosos cientistas acadêmicos desenvolveram algoritmos de software que
imitam o mapeamento de destaques visuais pelos humanos. Com isso surge o heat map (mapa
de calor) mostrando áreas que atrai mais ou menos atenção e o fog map (mapa de névoa) que
encobre todas as áreas sem destaque visual com uma névoa sombria.
Se por um lado observamos as dificuldades e obstáculos que uma loja tradicional possui
para manter as vendas altas e, em transformar a experiência de compra em algo surpreendente,
por outro lado as lojas virtuais também precisam mostrar um nível de atendimento alto para
esse consumidor que ainda está aprendendo a comprar online.
Alves (2019), explica que se considerarmos a consolidação do omnichannel – integração
dos canais físicos e virtuais de contato entre as marcas e cliente – como uma tendência
irreversível, o varejo tradicional ganha um ponto.
Com isso, o ambiente físico, mais do que nunca, deve receber atenção especial nesse
processo de encantamento, pois é nesse local que há a possibilidade de criar a experiência
emocional, sensorial e psicologicamente favorável ao consumo e a fidelização. A loja é um
canal de comunicação também e como tal, precisa comunicar os valores da empresa através do
projeto escolhido.
O que se pode notar é que para muitas empresas os valores da marca, estabelecidos e
consolidados através de riquíssimos Manuais da Marca, não são contemplados em suas lojas,
locais onde a experiência de compra deveria chegar a níveis muito altos de satisfação e
identificação com o que o consumidor está vendo e sentindo (sensações sonoras, auditivas e
visuais). Gurgel (2014, p.160) expõe que alguns empresários ainda não perceberam a
importância de transmitir os valores e personalidade de sua empresa ou marca nos ambientes
comerciais. Constantini (2017) explica que elementos como logotipo, embalagens, fachadas,
adesivagem devem estar em acordo com o design do ambiente e assim, todos os pontos de
contato com o cliente reforça a mesma história, a mesma estética.
Conclui-se, desse modo, que os elementos arquitetônicos e os de design deveriam
“conversar” com todas as indicações contidas nos manuais das marcas.
Cada elemento ou detalhe utilizado nesse espaço deve ser muito estudado e
principalmente estar alinhado com o planejamento do Branding, contemplando a junção de
todas as técnicas e ferramentas disponíveis para que a marca e o produto sejam sempre os
primeiros na mente do consumidor.
Conhecer o cliente e investir no ponto de venda que lhe proporcione a melhor
experiência de compra é tão importante quanto ter produtos de qualidade, uma vez que, se o
cliente não se sente à vontade, nem efetiva a compra. Por outro lado, se a experiência for
altamente positiva aquele cliente compra mais do que pretendia, retorna à loja e ainda
recomenda a marca para outras pessoas. Morgan (2017, p.20) diz que as tendências ligadas ao
estilo de vida são tão importantes quanto as roupas e que escolhendo uma determinada loja, o
consumidor pode ter sido influenciado pelo lugar onde passou as férias ou pela música que toca
em seu iPod. Não há limites para conhecer o consumidor e se aproximar do que ele é
intimamente.
Diante dos fatores que definem o processo de compra e outros que veremos mais
adiante, fica notória a importância de um Designer de Interiores para traduzir os valores da
marca, sua alma, seus propósitos e sua identidade.
Além disso, o ponto de venda deve oferecer um ambiente que proporcione uma
20
experiência de compras única para seu cliente. Para isso, o Designer de Interiores cria um
conceito para a loja, sempre alinhado as orientações do Branding e que será implantado através
das instalações, mobiliários, iluminação, textura dos tecidos, das paredes, dos estofados, da
comunicação visual, layout do espaço ocupado, vitrine, fachada e obviamente, equipamentos
que permitam a melhor exposição do produto.
No quinto e último capítulo é relatada a migração da empresa Natura para o ambiente
físico, através da inauguração de lojas físicas, exemplificando o movimento que outras
inúmeras empresas estão realizando. A intenção é proporcionar ao cliente da Natura uma
experiência que amplia a interação com os produtos e usando a tecnologia no ponto de venda
para maior comodidade aos que compram ou querem apenas obter informações. Além disso,
mostra-se a consolidação do omnichannel, como modelo abrangente e dinâmico de vendas,
onde vários canais são disponibilizados aos consumidores, estabelecendo uma rede de negócios
capaz de proporcionar mais satisfação e maiores taxas de conversão.
A metodologia filosófica de Folscheild-Wunenburguer (2001) foi utilizada para a
pesquisa da biografia a ser utilizada para embasamento dos dados trazidos ao texto, uma vez
que esse método propõe a leitura, a explicação, o comentário e por fim, a dissertação mostrando
o que foi compreendido nas etapas anteriores.
Embora o texto histórico do primeiro capítulo mencione o cenário brasileiro e o Rio de
Janeiro dos primeiros anos do Brasil Império, o foco desse estudo e campo de praticamente
todo tipo de experimento que ocorre na arquitetura comercial e marketing é a cidade de São
Paulo. Pela importância histórica e econômica, tanto em âmbito nacional como mundial, afinal
é a quarta maior metrópole do mundo, podemos considerar São Paulo como um grande
laboratório de pesquisas, observações e experimentos sendo os resultados positivos e tendências
replicados para praticamente todo o país, no que diz respeito a comportamento, moda, negócios.
Pretende-se concluir este trabalho mostrando que apesar da tecnologia invadir nosso
cotidiano, nos separando cada vez mais das relações interpessoais, sejam essas, sociais,
profissionais e comerciais, ainda podemos enfatizar a importância do varejo tradicional, com
muitas adaptações, e as lojas físicas como cenário para os momentos lúdicos os quais os
consumidores anseiam tanto.
21
Os poucos homens livres que trabalhavam nos engenhos não tinham a mesmas
condições dos senhores proprietários, precisando, na maioria das vezes, plantar seus próprios
alimentos para poder se alimentar, ou seja, não tinha condição para comprar os poucos produtos
encontrados nos armazéns.
Figura 3:Figura 3: A residência colonial, rural ou urbana, manteve uma uniformidade na sua tipologia.
Nesses locais, a população de cada vilarejo comprava mercadorias como açúcar, café,
milho, mandioca, sempre em pequenas quantidades para sua subsistência. Nesses locais, havia
também o comércio de negros africanos, que eram vendidos como escravos. O comércio foi
dando contorno às vilas e cidades do território brasileiro. Fomentava as poucas atividades
sociais da colônia, outra atividade era a missa dominical e também era ponto de referência aos
forasteiros e viajantes.
Fonte: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra61237/tropeiros-pobres-de-sao-paulo
Até o final, nessa fase do Brasil Colônia, muitas atividades comerciais eram
desenvolvidas por pequenos empresários de forma bem variada. Varotto (2018, p. 431)
menciona várias regiões produtoras: São Paulo - amendoim, centeio, batata doce, mandioca,
trigo e milho; Santa Catarina - pimenta, baunilha, arroz copaíba; Rio de Janeiro - café, chá,
cará, mandioca, inhame e cola de sapateiro; Minas e Bahia - tabaco; Maranhão - cacau e
algodão; Pará - trigo, uva, erva-mate; Rio Grande do Sul - cuia para chimarrão; e ao longo do
território - banana, cebola e aguardente. “Eram abundantes e variados os alimentos e produtos
que cultivavam, manufaturavam e revendiam no Brasil daquela época” (SOUZA, 1997, p.6).
A arquitetura dessa época, apesar de simples, já exibia soluções para os inúmeros pontos
27
de comércio que se espalhavam por todas as cidades da colônia para escoar a produção de bens
manufaturados que se desenvolvia e crescia. Freyre (2013, p. 87-88) relata que as lojas
mandavam aos sobrados seus chapéus de abrir e fechar, suas botininhas de duraque, suas fitas,
seus “pentes de marfim para desembaraçar e tirar piolhos”, suas travessas, seus filós, seus
cetins; e a moça escolhia à vontade, muitas vezes, talvez, espalhando, como em cidades do
interior quase nos nossos dias, as amostras pela esteira ou por cima do sofá, e ela, de cabeção e
saia de baixo, o cabelo solto, rodeada de negras, feliz como uma menina doente entre
brinquedos espalhados na cama. Assim, se estabelecia um tipo de serviço exclusivo para o
comerciante atender seu público. Barbuy (2006, p.39) explica que a oficina ou o comércio
ocupava o térreo das residências e foi predominante até fins do século XIX, avançando ainda
pelo início do século XX, na cidade de São Paulo.
O estilo de arquitetura do período colonial brasileiro abrangia todas as vilas e cidades
sendo feita a distribuição dos aposentos da mesma forma tradicional portuguesa. A figura 7
mostra exemplo dessa tipologia tão comum em todo território do Brasil.
Na análise dos espaços varejistas, todo esse longo período, que termina nas últimas
décadas do século XVIII, apresentou duas características básicas fundamentais.
Quanto à inserção urbana dos grandes espaços de mercado, estes, em essência,
assumiam a verdadeira condição de ser um espaço público por excelência, quanto ao
tipo de estabelecimento, esse período encontra na loja o seu maior representante. Isto
é, aquele módulo mínimo destinado a comercializar as mercadorias, frequentemente
utilizado com a própria produção: às vezes como espaços permanentes, às vezes em
forma de tendas ou barracas (VARGAS, 2018, p.103).
No Brasil colonial não havia exatamente nenhum estilo arquitetônico elaborado e nem
regionalismos. Segundo Natal (2013, p.39) a arquitetura tupiniquim teria surgido exatamente
no período colonial, germinada pela matriz lusitana; suas formas seriam resultado da adaptação
aos trópicos de princípios técnico-construtivos centenários. As construções, como citado
anteriormente, eram feitas de modo simples utilizando-se os materiais abundante de cada região
brasileira. A casa do senhorial não se distinguia muito das moradias mais pobres da região,
apenas pelo seu tamanho maior do que as outras.
Devido a estrutura social mantida durante os três séculos da nossa história colonial,
as moradias pouco se alteraram neste período. As plantas mantiveram uma
uniformidade que impressionou os visitantes estrangeiros que por aqui passaram.
(MENDES; VERÍSSIMO; BITTAR, 2011 p. 122)
europeus. Tomemos como exemplo as igrejas localizadas em Olinda, Recife, Salvador, Vila
Rica e Congonhas Esse estilo se fez presente em algumas cidades brasileiras de forma bem
marcante, como mostra a Figura 8, a cidade de Ouro Preto, Minas Gerais.
Figura 10: Vista da Igreja Nossa Senhora do Carmo – Estilo Rococó - Ouro Preto, MG.
A vinda da Família Real Portuguesa em 1808, fugindo das consequências das Guerras
Napoleônicas4, trouxe outras transformações nas características do comércio do Brasil. Desta
vez, podemos dizer, foram grandes transformações. Uma das principais mudanças desta época
foi a abertura dos portos às nações amigas, finalizando – passados cerca de 300 anos – o período
colonial do país.
Logo ao chegar, durante a sua breve estada na Bahia, Dom João decretou a abertura
dos portos do Brasil às nações amigas (28 de janeiro de 1808). Mesmo sabendo-se
que naquele momento a expressão “nações amigas” era equivalente à Inglaterra, o ato
punha fim a trezentos anos de sistema colonial (FAUSTO,1998, p. 76).
4
Nas Guerras Napoleônicas, ocorridas entre 1799 e 1915, houve o bloqueio continental impedindo a Inglaterra de
comercializar seus produtos no continente europeu. Portugal, por ter contratos importante com os ingleses,
desobedeceu às ordens impostas por Napoleão Bonaparte e este ordenou uma invasão às terras portuguesas. A
família real, temendo o que poderão acontecer, veio para o Brasil para escapar do perigo vindo da França.
31
Até o final desse período, Portugal além de ser o comprador da produção brasileira,
tinha o papel entreposto para a distribuição de toda essa mercadoria no exterior, ou seja, detinha
praticamente todos os monopólios vigentes da época. Com a abertura dos portos e os acordos
comerciais e alfandegários feitos com a Inglaterra, Portugal viu todo seu lucro diminuir
drasticamente, pois, segundo Costa (1979, p.34), todo o esquema de lucro desmoronou com a
abertura dos portos e com a concessão de tarifa preferencial, à Inglaterra, mais favorável do que
a outorgada à Portugal.
Os ingleses estavam tão interessados na grande oportunidade de conquistar o mercado
sul-americano que o próprio deslocamento do Príncipe Regente e sua família para a Colônia
fora uma sugestão do representante britânico em Lisboa, Lord Strangford5. Holanda (2003, p.
82) explica que o essencial para a Grã-Bretanha era assegurar o comércio com as possibilidades
de obter mais vultuoso numerário. E as condições de comércio se tinham tornando bem
lisonjeiras na segunda metade de 1807.
A preocupação da Inglaterra era grande, pois com o bloqueio continental imposto por
Napoleão Bonaparte prejudicava muito o comércio britânico na Europa e a maior nação
manufatureira do mundo precisava escoar sua produção que crescia em ritmo acelerado devido
ao desenvolvimento tecnológico resultante da Revolução Industrial que se estabelecia em toda
a Europa e mudava os rumos da história humana. As fábricas começaram a parar e muitos
trabalhadores perderam seu emprego nesse período.
De fato, a revolução Industrial não foi um episódio com um princípio e um fim. Não
tem sentido perguntar quando se completou, pois, sua essência foi a de que a mudança
revolucionária se tornou norma desde então (HOBSBAWN, 2014, p.60).
5
Lord Strangford, ministro de Sua Majestade Britânica junto à Corte do Rio de Janeiro durante a estada de D.
João no Brasil.
32
6
Esse relatório elaborado pelo engenheiro militar Beaurepaire Rohan é considerado o primeiro tratado urbanístico
da cidade, segundo Lucia Silva (2012).
33
Holanda (2003, p. 88) explica que o mercado brasileiro se abriu no momento em que a
maioria dos outros mercados tradicionais se fechou para a Grã-Bretanha fazendo com que os
comerciantes ingleses exportassem grandes quantidades de mercadorias, acima da capacidade
de absorção do mercado brasileiro.
Muitos navios abarrotados de mercadorias vieram da Inglaterra e nossos portos e
alfândegas não tinham estrutura para escoar todos esses produtos. Nem os armazéns foram
suficientes para estocar tamanha quantidade de peças. Segundo Alencastro (1997, p. 47),
chegaram fazendas de algodão, lã e seda; roupas, alimentos, panelas de ferro, carruagens e
artigos como cristais, perfumes, talheres, pentes, antes raros no mercado local, passaram a ser
consumidos pela população de maior renda, que também adotou o modo de se vestir à maneira
europeia.
34
Como havemos de sugerir mais adiante, o contato com as modas inglesas, que se
acentuou depois da chegada de D. João VI, influiria consideravelmente sobre os
estilos de vida e até de arquitetura doméstica do Brasil, contribuindo para o gosto
pelas chácaras cercadas de árvores, para o chá servido pela dona da casa, para a moda
da cerveja e do pão, para a maior limpeza da rua e o melhor saneamento da casa. São
aspectos da influência inglesa no Brasil que procuramos fixar com maior minúcia na
série de ensaios iniciada com Ingleses no Brasil. Essa influência parece ter-se
acentuado na primeira metade do século XIX, em Pernambuco, na Bahia e no Rio de
Janeiro, antes de ter tomado relevo em São Paulo, em Minas Gerais e no Rio Grande
do Sul, pelo fato de ter atraído então o inglês ao Brasil a riqueza daquela parte da
população ou da sociedade patriarcal, enobrecida pelo açúcar (FREYRE, 2013, p.96).
Os franceses, por sua vez, dominaram os negócios de luxo e de moda. Produtos como o
cristal, perfume, talheres, passaram a ser consumidos pela população de maior renda, adotando
o modo de viver e se vestir a maneira europeia. Priore (2010, p.77) explica que “a Rua do
Ouvidor estava ocupada pelo comércio de luxo, em lojas elegantemente decoradas com
enormes espelhos, [...]. As pessoas comuns e a sociedade como um todo aprenderam a comprar
e a consumir como os franceses faziam. Essa influência europeia já poderia ser descrita como
um movimento claro de comportamento do consumidor, uma vez que a oferta de produtos
expostos nas lojas só crescia e a maioria destes já não eram de primeira necessidade. Mas era
necessária uma boa referência para a população da corte acreditar que eram bons para consumir
e os consumindo, naturalmente passariam a fazer parte da corte.
Fonte: Arquivo Nacional, 2020. (Gravura contida no livro "Brasilien: land und leute",
de Oscar Canstatt, publicado em Berlin, 1872-1875.)
Uma região específica da cidade do Rio de Janeiro teve trajetória das mais interessantes
e que deve ser comentada. Trata-se do chamado Corredor Cultural, local onde encontramos
vários exemplos da Arquitetura Eclética através das suas casinhas de dois andares das ruas do
Lavradio, São José, da Alfândega. Nesse local, encontra-se um dos centros de comércio popular
mais conhecidos do Brasil, o Saara.
38
Essa região que abriga o Porto do Rio de Janeiro, o Centro da cidade e se estende até o
relógio da Central do Brasil, tornou-se a partir de 1974 oficialmente Corredor Cultural pelas
mãos e ideias de Augusto Ivan de Freitas Pinheiro. Martins (2009, p. 71) explica que “o
Corredor Cultural foi criado em 1980 pela Lei no 158 de 22 de abril de 1980, onde ficou
constituído abrangente da seguinte área: Lapa, Cinelândia, Praça Tiradentes, as imediações da
Praça da República, o Largo de São Francisco e a Praça Quinze de novembro, sendo que seus
limites só foram definidos mais tarde”. Segundo Someck (2014), a questão da preservação do
patrimônio da área central passou a fazer parte da agenda da cidade. O Projeto Corredor Cultural
estabeleceu os princípios de preservação e abriu caminho para muitas outras iniciativas –
coordenadas ou não – de reabilitação, através de políticas culturais, habitacionais, econômicas
e urbanas.
40
Amaral (2011 ab) nos conta que os desenhos das fachadas ecléticas do Corredor Cultural
do centro Histórico do Rio de janeiro, são produtos de uma livre associação de estilos e que foi
realizado indiscriminadamente. Essas construções datam do final do século XIX e início do
XX. Hoje, muitas são utilizadas para o comércio popular e serviços por conta da sua tipologia
que contempla um salão no andar térreo, apropriado para a instalação de lojas.
O Liceu de Artes e Ofícios (LAO) do Rio de Janeiro, havia sido fundado em 1856 pelo
arquiteto Francisco Joaquim Bethencout da Silva. Amaral (2011a) explica que o LAO teve
origem nas ideias da revolução industrial europeia trazidas pela Missão Artística Francesa. A
intenção do Liceu era transformar a cidade do Rio de Janeiro em uma obra de arte. E “o ensino
do desenho no LAO não se prendeu a nenhum tipo de paradigma estético. Os professores
assumiram uma postura eclética, assim como Bethencout.” Amaral (2011a).
41
De acordo com Amaral (2011ab), é possível que “os desenhos das fachadas dos edifícios
do Corredor Cultural do Centro Histórica da cidade do Rio de Janeiro sejam de alunos do LAO.
Esses desenhos foram chamados de ecléticos” (p. 91), tal como o estilo arquitetônico que se
observa nessas construções.
Por ser uma mão-de-obra livre, a estética e o estilo também seriam livres, daí, portanto,
a característica eclética vista nos Corredores Culturais do Rio de Janeiro. Como explica Amaral
(2011ab) os ornamentos desses edifícios são ricos, o que mostra um profundo conhecimento
das técnicas de desenho e esses artistas são os próprios construtores, o que pode nos levar a
pensar se poderiam esses terem se formado no LAO.
42
O Rio de Janeiro era o principal produtor de café, pois a região montanhosa e os vales
que circundavam a capital do Império possuíam clima e terra favoráveis ao cultivo dessa planta.
Prado J. (1981, p.117) nos conta que as matas da Tijuca, hoje um dos mais importantes e
aprazíveis arrabaldes da ex-capital, já foram cafezais. Vale lembrar que nesse período o cultivo
do café era totalmente baseado em trabalho escravo.
Costa (1979, p. 194) explica que a mão de obra escrava ficou cada vez mais difícil de
ser obtida levando às tentativas de substituição do escravo pelo imigrante e isso provocou o
deslocamento de parte dos escravos das regiões decadentes do Nordeste para as áreas cafeeiras,
que se tornavam cada vez mais prósperas. Houve assim, uma migração da mão de obra escrava
43
dos centros urbanos para as zonas rurais. Mas, o número de escravos não era suficiente para o
aumento da produção do café, cujo plantio já se estendia pelo litoral do Rio de Janeiro e da
província de São Paulo e Vale do Paraíba, que se tornou o primeiro grande cenário da lavoura
cafeeira no Brasil, segundo Prado Jr. (1981)
Fazendeiros e comerciantes começaram a se preocupar com a questão da mão-de-obra
que pudesse dar conta do aumento da produção e da expansão da região de cultivo do café. Em
território brasileiro, sabiam que não encontrariam número suficiente de pessoas para tal serviço
e como relata Silva (1995, p. 37) nos explica que nessas condições, os “pioneiros do café”
voltaram-se pouco a pouco para a imigração, vista como único modo de resolver esse problema
crucial. Lentamente, a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado acontecia, haja
vista que a normatização do trabalho com contrato salarial e a Abolição da Escravatura
demoraram algumas décadas para se estabelecerem. O crescimento desse setor assalariado
ampliou o mercado interno, criando uma base para o futuro desenvolvimento industrial. Ainda
Sergio Silva (1995, p. 38) afirma que nesse mercado de trabalho formado pelos trabalhadores
imigrados, se abasteceram não somente os fazendeiros de café, mas também os primeiros
industriais brasileiros[...]
Nas décadas de 1870 e 1880 São Paulo ultrapassa o Rio de Janeiro e a região do Vale
do Ribeira e se torna a principal produtora de café por diversos motivos. Silva (1995) relata que
nos planaltos de São Paulo houve a substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado
e com isso, houve uma mecanização parcial da produção de café. Além disso, ainda segundo o
autor, a malha ferroviária começou a ganhar grandes distâncias, possibilitando o deslocamento
dessa produção. O fator financeiro também alavancou o crescimento da lavoura cafeeira nessa
região.
cidade abriu grande vantagem sobre o desenvolvimento das demais Brasil a fora.
Reis Filho (2000, p.28) explica que as casas no centro da cidade de São Paulo tinham
praticamente a mesma tipologia vista desde os períodos finais do Brasil Colônia, como podemos
ver nas Figuras 21, 22 e 23. Casas simples, com apenas um pavimento e sobrados alinhados à
rua, sem recuo frontal, com o salão da parte de baixo reservada ao armazém ou loja da família,
com poucos ornamentos, e janelas balcão no andar de cima, eram predominantes nas áreas
urbanos, lembrando que os sobrados eram ocupados por famílias mais abastadas. As ruas
acompanhavam o traçado urbano, que pela falta de equipamentos precisos, não conseguiam
manter traços rígidos por uma grande extensão e pelas próprias delimitações irregulares dos
lotes em que se encontravam, ou seja, ainda não existia uma organização urbana, muito menos
um plano de expansão para os novos bairros e freguesias que surgiam. Ainda em meados do
século XIX surgem os primeiros jardins laterais. O mesmo autor afirma que não havia meio-
termo; as casas eram urbanas ou rurais, não se concebendo casas urbanas recuadas e com
jardins. Nas ruas, havia a delimitação entre o leito carroçável e o passeio e iluminação a gás.
Figura 21: Rua do Ouvidor, atual José Bonifácio - São Paulo – (1862) - Militão Augusto Azevedo
Os sobrados começaram a ser construídos pelas famílias mais abastadas. Estes tinham
o pavimento térreo ocupado pelo comércio e o pavimento superior destinava-se a
moradia da família - a planta baixa do pavimento superior do sobrado continua a
mesma da casa térrea, sem modificações significativas. O pavimento superior
corresponde ao inferior – sem reentrâncias ou balanços. É importante ressaltar que
apenas famílias que possuíam escravos habitavam os sobrados, pois eram os escravos
que faziam todo o transporte de alimentos e demais produtos para a residência
(DEBARBA et al., 2010).
Varotto (2018, p.432) relata que o desenvolvimento da indústria do café em São Paulo
faz surgir a elite urbana que consumia os produtos e serviços mais sofisticados. Na área do
Triângulo, formado pelas Ruas Direita, Rua da Imperatriz (atual Rua XV de novembro) e Rua
São Bento havia cafés, restaurantes, salões de chá, casas importadoras, bancos e grandes casas
comerciais.
as lojas já contam com as grandes aberturas que existiam na fachada do imóvel e que se
transformavam em vitrines, e expunha os produtos dentro do conceito de elegância europeia.
Segundo Bueno (2012, p.25), [..] O estoque ficava aparente e as mercadorias eram
expostas junto das portas, local de melhor incidência de luz numa cidade iluminada por
lampiões.”
Figura 26: Rua Direita - mostra o casarão existente na esquina da São Bento.
Fonte: DEAECTO, 2002 (De Aurelio Becherini, 1910- Memória Paulistana (São Paulo: Secretaria da Cultura,
Esporte e Turismo, 1974)
48
Barbuy (2006) relata que no final do século XIX, proprietários e comerciantes fizeram
reformas literalmente “de fachadas”, para evitar recuos e demolições. Essas reformas tinham a
intenção de modernizar a estética, sem perder a estrutura portuguesa. Portas e janelas
principalmente foram alargadas e adaptadas para se transformarem em vitrinas, pois os
comerciantes desejavam expor suas mercadorias de maneira mais atrativa, de acordo com as
práticas modernas de comercialização e exibição de produtos.
Barbuy (2006, p. 56-57) ainda explica que havia determinações pormenorizadas do
poder público visando a padronização da cidade, medidas de higienização que dava mais
importância a iluminação natural e a circulação do ar.
A Rua da Imperatriz, atual Rua XV de novembro era a preferida para os passeios e nela
se encontrava a Casa Garraux, uma das maiores livrarias da época. Conforme Amaral (2011ab,
p. 36) “[...] havia a Casa Baruel Lee e Vilela, a Augusto Rodrigues e Cia, a Loja do Japão, a
Holmberg Bech e Cia, a Casa Alfredo Krueger e Cia, o Mappin e outros menores.”
A Casa Garroux, inaugurada em 1860, exibia o estilo arquitetônico que ganhou força
nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, o ecletismo, que era próprio do século XIX e trazia
uma combinação de outros estilos como o clássico, renascentista, barroco e neoclássico. Seus
desenhos e traços arquitetônicos era uma atração para a loja, que além disso, exibia vitrinas
ricamente ornadas, exatamente como acontecia nas melhores lojas das capitais europeias.
Barbuy (2006, p. 41) afirma que seu proprietário, o francês Anatole Louis Garraux residia nesse
mesmo imóvel, o que foi uma prática comum até o século XX, por inúmeros comerciantes
locais, como ocorria há séculos no Brasil. A empresa e o Sr. Garraux tornaram-se ícones dessa
região.
50
Figura 30: Henrique Luis Levy residia com sua família no mesmo imóvel da sua loja.
Percebemos assim, a clara ocupação dessa área central para fins comerciais, para
aglomeração de uma população que consome e já tem isso como uma atividade social, e não
mais apenas uma operação econômica para suprir as necessidades básicas de sobrevivência.
Ainda Deaecto (2002, p.191) explica que as ruas São Bento e Boa Vista, possuíam em
seus imóveis um aspecto peculiar. São dotados de amplos salões dos sobrados, estreitos, mais
profundos, o que os tornam ideais para lojas de aparelhos elétricos, ferragens e máquinas.
Conta Heloísa Barbuy que na virada do século XX, precisamente no ano de 1900, Jules
Martin, projetou a Galerias de Cristal, que foi mais uma tentativa de reproduzir em São Paulo,
os elementos da vida cosmopolita das cidades que eram ícones de elegância, modernidade e
sucesso: Londres e Paris. O projeto era bem ambicioso e acabou por não ser construído,
principalmente por dificuldades financeiras enfrentadas pelo seu criador. A figura 32 mostra a
abrangência do projeto de Martin, interligando várias ruas através das passagens propostas e na
Figura 33 vemos no croqui a beleza e a grandiosidade proporcionada pela utilização do aço e
do vidro, materiais marcantes, que junto aos elevadores e escadas rolantes vieram a trazer mais
dinamismo as construções comerciais no mundo e consequentemente, no Brasil.
Outro projeto de galeria, bem mais simples e idealizado pelo arquiteto Max Hehl a
pedido do comerciante alemão Christiano Webendoerfer foi construído em estilo eclético, com
uma passagem que levava o cidadão da Rua XV de novembro, para a Rua Boa Vista. Segundo
Barbuy (2006), em seu interior havia “36 lojas; no 1º andar, 54 escritórios, banheiros e
lavatórios; e pelo lado da Rua XV de novembro, havia ainda um 3º andar com doze escritórios”.
Na verdade, a Galeria de Cristal não chegou a receber no seu interior às mercadorias de luxo
que circulavam nos seus exemplares europeus. [...] “A galeria tornou-se uma espécie de centro
de serviços, com barbeiros, sapateiros, engraxates, alfaiatarias, botequins, lotéricas, e
representantes comerciais de algumas firmas” (BARBUY, 2006, p. 208)
Barbuy (2006, p.208) relata que o Palácio de Cristal não gerou algo importante em
termos arquitetônicos e urbanísticos, apenas mostrou o quanto o estilo de vida europeu
influenciava a vida das pessoas da cidade de São Paulo e o quanto a preocupação com o
54
consumo já era uma pauta relevante naquele momento da nossa história. Veremos mais adiante
no estudo, como os edifícios-galeria tornaram-se importantes para a grande ocupação urbana
que se instaurava com muita velocidade.
Figura 34: Rua 15 de novembro. O prédio marcado é uma das entradas da Galeria de Cristal.
Fonte: Barbuy, 2006. (Acervo da Fundação patrimônio Histórico da Energia de São Paulo)
Segundo Aleixo (2005, p.21-22) com a inserção do aço e do vidro nas edificações,
decorrente de inovações técnicas ocorridas no século XIX, possibilitou-se a construções de
espaços com luminosidade nunca vista anteriormente e grandes vãos que formavam passagens
ou arcadas, como o Palais Royal, localizado em Paris. Esses espaços públicos eram interligados
e protegidos através dos tetos ou cúpulas de vidros, nos dois lados dos corredores haviam lojas,
cafés, barbearias etc.
Um evento importante contribuiu para a mudança da forma de expor os produtos nas
lojas, que foram “As Grandes Exposições”, em Londres, no ano de 1851 onde construíram um
55
pavilhão, chamado de Palácio de Cristal7. Fazio et al. (2011, p. 439) explica que Paxton
revolucionou a arquitetura e com o início da exposição cerca de um quarto da população inglesa
visitou a edificação, que foi admirada pelo seu espaço interno, vasto e arejado. Neste evento os
varejistas perceberam a importância de que seus produtos fossem abertos e estrategicamente
expostos ao público.
O ponto de partida para a criação da obra de Paxton atribui-se a um grupo de
comerciantes liderado por Henry Cole que desenvolveu a ideia de uma grande exposição em
que os produtos do mundo industrializado seriam mostrados (SILVA, 2008, p.3).
7
O Palácio de Cristal é, ao lado de outras edificações, um dos feitos que marca o desenvolvimento da tecnologia
na construção baseada na claridade estrutural e no emprego coerente dos novos materiais. Foi projetado por Joseph
Paxton como um enorme espaço para exposições temporárias, a Exposição Universal de Londres de 1851, e
representou um notável avanço no desenvolvimento da arquitetura da época.)
56
Para o fundador das Casas Bahia, o mais importante era que além de pagar o
“financiamento” o cliente comprasse mais produtos. A maior parte dos clientes era
composta por pessoas de baixa renda que tinham um único objetivo na compra das
mercadorias, o de saber o valor da parcela do financiamento. Enquanto os
concorrentes não concediam créditos às pessoas que aparentemente não tinham
condições de honrar o compromisso, Samuel Klein adotou uma postura contrária. O
resultado foi que em cinco anos o negócio apresentou um crescimento acima de todas
as expectativas. (COSTA, 2006, p. 70)
O sistema de crediário possibilita que pessoas de baixa renda também comprem seus
objetos de desejo. Fustaino (2009, p.30) explica que o sentimento de inclusão e exclusão é
semelhante ao de busca pela compra de produtos de marcas famosas. Da mesma forma que os
mais ricos procuram produtos sob medida para se sentirem únicos, os mais pobres adquirem
produtos para se sentirem parte integrantes da sociedade.
O Mappin foi a primeira loja em São Paulo, no uso das vitrines como elemento para
apelo de vendas e na criação de calendário promocional, criando ações temáticas para cada
comemoração do ano.
Famílias inteiras, habituadas a passear nas ruas do Triângulo e admirar vitrinas passaram
a eleger o Mappin Stores como ponto para compras, almoçar das 12h às 14 horas ou para o
famoso chá a partir das 16 horas (BARBUY, 2006, p. 52).
57
Figura 38: Um elegante espaço paulistano do “chá das cinco” ou five o’clock tea.
A cidade de São Paulo se urbaniza cada vez mais e com a grande influência de
imigrantes, e aumento da população, o varejo começou a enfrentar problemas como o
abastecimento de produtos alimentícios. O início da Primeira Guerra Mundial esse problema se
intensificou, pois o Brasil dependia das importações de produtos alimentícios como a batata,
trigo, arroz e feijão. Junto a essa escassez, obviamente veio o aumento de preços que atingia
diretamente a população mais pobre da cidade. “[...] para o Brasil urbano a guerra se tornou o
gatilho da mais grave crise alimentar até então” (BRINKMANN, 2017, p. 314).
Varotto (2018, p.432) relata que com isso, o preço dos alimentos e outros produtos
dispararam, gerando em 1917 uma greve geral em São Paulo em que aproximadamente 50 mil
trabalhadores pararam reivindicando melhores condições de vida, controle de preço e punição
aos varejistas.
Essa barganha requeria uma arte de negociação além de uma certa disponibilidade de
tempo. Entretanto, não fazer parte desse jogo significava perder dinheiro na hora das
compras. O preço exposto junto ao produto desmontou esse jogo e habilitou muita
gente que se sentia constrangida em ir às compras por não ter habilidade de
negociação. (...), o sistema de prelo exposto e pré-determinado ainda tinha a vantagem
de oferecer uma compra mais rápida, dispensando demoradas negociações
(GARREFA; CORREIA 2002, p. 26)
Fonte: https://rosangelafialho.wordpress.com/
Bueno (2012, p.63) continua relatando que os palacetes e sobrados existentes no Centro
Novo cederam lugar à edifícios modernos, recebendo residências, escritórios, consultórios,
lojas e galerias. Aleixo (2005, p.71) explica que nos anos 1950 o Centro Novo se adensava cada
vez mais intensificando à procura por soluções para a escassez de áreas edificáveis, como a
instalação de galerias ocupando o meio da quadra e terrenos estreitos e descontínuos.
A concentração dessa nova tipologia arquitetônica para o comércio, as chamadas
“galerias metropolitanas” fizeram surgir a Galeria Guatapará, a pioneira, localizada na Rua 24
de maio. Logo em seguira são inauguradas a Galeria Itapetininga, a Galeria Califórnia e a
Galeria Metrópole. Todas as construções alinhadas às ideais de metrópole moderna e agrupando
lojas como joalherias, livrarias, confecções, galerias de arte, entre outras (BUENO, 2012, p.
75).
Estas galerias, na década de 1950 eram locais onde a cultura elitista paulistana se
encontrava, pois abrigavam lojas de alto luxo, bares e restaurantes da moda e se tornaram pontos
de encontro de boêmios, artistas e intelectuais. (VARGAS, 2018, p.222)
66
Figura 43: Galeria Guatapará - Rua 24 de maio - São Paulo, primeira galeria da capital.
Varotto (2018, p. 433) relata que São Paulo recebe em 1949 a loja Sears que traz
67
8
Modalidade de compra onde o próprio cliente pega o produto, experimenta e se dirige ao caixa para pagamento
da mercadoria.
68
êxito nas vendas e para a imagem que o varejista quer que sua marca tenha (VAROTTO, 2018,
p. 434). Por isso, cada vez mais toma-se muito cuidado com as questões arquitetônicas das
lojas, como as cores utilizadas, iluminação, estilo, disposição dos móveis, balcões, prateleiras,
displays para exposição dos produtos, tudo bem planejado para garantir o sucesso das vendas.
Nasce assim, o Merchandising9. Como hoje é conhecido surgiu com o próprio marketing e
intensificou-se com o surgimento do autosserviço nos Estados Unidos, na década de 1930
(BLESSA, 2012, p.7).
Figura 47: Exemplo de arrumação realizada a partir das técnicas de visual merchandising.
Vale ressaltar que até meados do século XVIII, não havia preocupação com a aparência
das lojas e apresentação dos produtos. Estes geralmente não eram expostos, ficando em estoque
nos fundos das lojas, sendo apresentados somente quando o cliente requeria.
9
Merchandising é todo esforço feito pela empresa, no ponto de venda, para tornar o produto mais atraente e
vendável.” AMA – American Marketing Association.
69
A partir do momento em que as lojas começam a expor seus produtos abertamente, onde
as pessoas possam vê-los com mais facilidade, temos uma mudança na percepção do
consumidor em relação a estes espaços, pois o ambiente é planejado para ficar atrativo, seduzir
o consumidor e atraí-lo ao interior da loja, aumentando o apelo pelos produtos e tornando mais
agradável a experiência da compra (VAROTTO, 2018, p. 434).
Na década de 1960, com o ritmo da industrialização crescendo, a cidade de São Paulo
se expandia e as áreas em que se concentravam as atividades comerciais se saturavam. Lojas
do Antigo Centro e as galerias já não eram locais atrativos para os investidores imobiliários,
acontecendo a degradação desses locais.
Segundo Vargas (2018, p. 225) a avenida Paulista foi se transformando no novo centro
dinâmico da cidade, concentrando sedes das grandes indústrias, das multinacionais e dos
bancos.
A década de 1960 é marcada pela inauguração do primeiro Shopping Center do Brasil,
o Iguatemi, em São Paulo, pontuando a crescente urbanização das cidades brasileiras. Villaça
(2009, p.303) explica que esse tipo de empreendimento é o sucessor das lojas de departamento.
Baseia-se na economia de aglomeração e na variedade de produtos que se completam, assim
como as lojas de departamento. A diferença entre esses dois tipos de espaços comerciais é que
o Shopping Center é um empreendimento imobiliário que envolve muitas pesquisas de mercado
para estabelecer o mix dos produtos e onde o comerciante segue uma série de normas como
horário de funcionamento, padrão da comunicação visual, segurança etc.
Vargas (2018) explica que a atividade econômica apresenta um estreito relacionamento
com o espaço físico que lhe dá suporte, criando o que chamamos de localização. Essa condição
faz com que o processo de mudança econômica seja, ao mesmo tempo, causa e efeito dos
padrões espaciais exigentes (Vargas, 2018, p.29)
Além disso, em cidades onde o desenho urbano, ou o espaço natural, não colaboram
no sentido de criar referenciais para orientação na cidade, esses estabelecimentos
surgem como auxílio nessa tarefa. Assim, costuma-se dizer: eu moro duas quadras
depois do McDonald’s ou do shopping Ibirapuera. O primeiro, pela grande quantidade
de lojas, dá uma referência apenas local. O segundo, por ser único, indica
imediatamente o bairro, no contexto da cidade. (VARGAS, 2018, p. 264)
Segundo Garrefa e Correia (2002, p.72) no início, muita desconfiança marcou esse novo
modelo de centro de consumo, principalmente pela sua tipologia fechada para o exterior. Além
70
disso, o comércio de rua era muito forte nas regiões centrais ainda predominava entre os lojistas
a crença de que os produtos deveriam estar expostos para a rua. Aos poucos, as pessoas
começaram a perceber fatores vantajosos como segurança, comodidade, limpeza e facilidade
de estacionamento. Isso tudo conquistou o consumidor brasileiro e incentivou a abertura de
outros shoppings centers.
Fonte: https://vejasp.abril.com.br/blog/memoria/inaugurado-em-1966-iguatemi-foi-o-primeiro-shopping-do-
brasil/. 2017 – Foto Divulgação
A internet surgiu nos Estados Unidos na década de 1950 e teve como base o
desenvolvimento tecnológico financiado e conduzido pelo governo desse país.
Carvalho (2006, p.6) relata que em meio a um período recheado de testes de bombas
nucleares e conflitos bélicos em diversas regiões do planeta, o Departamento de Defesa dos
Estados Unidos conclui um estudo independente sobre sistema de defesa aérea.
Esses estudos deram origem ao ARPAnet em 1969 e tinha a função de interligar os
computadores dos laboratórios de pesquisa e outros pontos estratégicos. As informações
trafegavam de forma segura até seu destino.
Lins (2103) explica que a vantagem desse sistema era o de que cada pacote de
informação iria trafegar na rede de modo independente, buscando seu próprio caminho até o
destino. Desse modo a rede resistiria a interrupções ou ataques, pois a queda de partes dos
computadores não comprometeria a rede: os pacotes seguiram seu caminho pelas conexões
restantes.
Paralelamente aos avanços que ocorriam com as pesquisas referentes à internet,
acontecia o aperfeiçoamento da microeletrônica, que levou a criação de microprocessadores
comerciais de baixo custo. Com isso, abriu-se caminho para os computadores pessoais.
No Brasil, a internet começa a ser implantada em 1989 com infraestrutura voltada para
fins acadêmicos, recebendo o nome de Rede Nacional de Pesquisas.
Mas, nem tudo foi fácil para a implantação e uso da internet no Brasil. A princípio a
Embratel foi a primeira e única fornecedora de serviço de internet através de linha discada, mas
muito setores da sociedade ficaram descontentes temendo um monopólio da telecomunicação.
Em 1995, o então Ministro das Comunicações, Sérgio Mota, segundo Carvalho (2006)
anunciou que a internet era um serviço de valor adicionado, sobre o qual não haveria nenhum
monopólio, através da norma nº 4, de 1995.10
A própria direção da Embratel, através de seu presidente Dílio Penedo declarou que a
estatal não teria condições de suprir o serviço de internet para os usuários da época, precisando
assim, de outras empresas para tal serviço.
10
A Norma nº 4, de 1995, aprovada pela Portaria nº 148, de 31 de maio de 1995, do Ministério das Comunicações,
e a nota conjunta de maio de 1995, do Ministério das Comunicações e do Ministério da Ciência e Tecnologia,
estabeleciam a preferência ao setor privado para a execução de atividades de provimento de acesso à Internet.
73
(2013) para essa ligação, a operadora do usuário passava a operar “no vermelho” e a operadora
do provedor obtinha uma receita expressiva.
Esse cenário fez surgir no Brasil os provedores de acesso gratuito como IG, BOL, entre
outros. Com isso, a empresa que abrigava o provedor gratuito recebia grande número de
chamadas de usuários de outros provedores tarifando essas operações, gerando uma receita pelo
acúmulo de crédito e parte desse valor era repassado ao provedor de acesso. A quantia recebida
era baixa e esses provedores, para manterem as atividades em funcionamento obtinha a maior
parte de suas eletrônico que ocorria nos portais. Desse modo, investiu-se em oferecer conteúdo
jornalístico e de lazer, ofertas de produtos e serviços e outros conteúdos que pudessem atrair
novos usuários. (LINS, 2013).
As páginas na internet ou domínio só cresciam por aqui. Em 1996 já havia 7.500
domínios .br. Em 2000, 170 mil. E, 2006, um milhão. Em 2014, três milhões e meio. (LINS,
2013). Em 2020 são quatro milhões e meio de domínios .br registrados segundo o site registo.br.
Assim como acontecera nos Estados Unidos, a Internet comercial brasileira cresceu
rapidamente com a disseminação da Web, não só em volume de tráfego, mas também
em número de usuários e transações efetuadas por meio do comércio eletrônico.
(CARVALHO, 2006, p. 144)
As redes sociais surgiram como evolução natural dos chats e a possibilidade de criar o
próprio perfil, conversar em tempo real com os participantes e principalmente, se expressar
livremente, criou uma espécie de mundo paralelo, onde os usuários e comunidades só se
multiplicavam.
Segundo Lins (2013) o serviço mais bem sucedido desse tipo é provavelmente o
Facebook, que surgiu em 2004 e alcançou, em 2012, a marca de um bilhão de usuários em todo
o mundo. Outros serviços surgiram: Instagram, Twitter, Youtube, LikedIn, Pinterest.
Com a expansão das redes sociais podemos notar o quanto que a internet está inserida
em nosso dia a dia, transformando-se num dos mais eficientes meios de socialização, de
comunicação, de trocas e consequentemente, de vendas. Castells (2003) define a internet como
a base tecnológica para a forma organizacional da Era da Informação: a rede.
A tecnologia de ponta é cada vez mais utilizada no varejo, principalmente nas compras
online, mas, as lojas físicas não ficam livres de receber as inovações que se integram
perfeitamente aos elementos tradicionais do espaço trazendo comodidade, mais informação e
conexão com o cliente. Prando (2008) reforça dizendo que os e-commerces, embora ofereçam
muita praticidade, não conseguem ainda ocupar o lugar de importância que pertence à loja
física, dentro do varejo. O cliente quer comprar e levar o produto na hora, quer tocar. O
brasileiro “vê com as mãos”, é cultural. Em 2017, os números do e-commerce ainda eram muito
baixos no Brasil somando apenas 3,1%, de um universo de 2,14 bilhões de euros, segundo dados
do site da ABCOMM – Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, em dezembro de 2106.
Segundo Kelly Carvalho, assessora econômica da FECOMÉRCIO-SP, a participação e vendas
online após a pandemia se estabelecerá em torno de 5% a 6% do total de vendas no varejo em
São Paulo. Dessa forma, é possível afirmar que a participação das compras online tem potencial
para crescer, mas ainda esbarra nas questões de principalmente culturais, onde ainda não há o
costume em comprar produtos e serviços de forma eletrônica.
Não podemos pensar na forma de se praticar o varejo hoje, sem falarmos do grande
protagonista desse cenário tecnológico: o smartphone. Esse instrumento mudou a forma das
pessoas se comunicarem e se relacionarem.
Foi em 2000 que o termo smartphone foi utilizado pela primeira vez pela Ericsson,
quando esta lançou o celular, o R380. Nos anos que se seguiram, de 1996 até 2011, O sistema
utilizado era o Symbian OS (sistema operacional da Nokia) e foi líder de mercado dentre os
demais sistemas operacionais de smartphones, durante os anos de 1996 até 2011 perdendo a
76
liderança para o recém lançado sistema operacional da Google, o Android, utilizado até hoje
para a maioria dos smathphone que não sejam da Apple, que utiliza o sistema IOS.
Lançado em 2007 pela Apple, o iphone revolucionou o conceito de smatphone e, a
princípio foi motivo de muita dúvida no mercado e até desprezo por parte do CEO da Microsoft,
Steve Ballmer, num vídeo emblemático, onde o executivo ria exageradamente com tal
lançamento da empresa concorrente.
Com a internet cada vez mais veloz, já estamos falando de transmissão de dados 5G, e
com a popularização dos aparelhos e o avanço das redes sociais, cada vez mais verificamos que
o quanto a cibercultura11 invadiu o nosso cotidiano.
Os smatphones são vetores da convergência dos meios de comunicação. Com eles, o
mundo ficou menor, as pessoas se aproximaram, e não só de outras pessoas, mas de empresas
e governos também. Mas, o aparelho não faz isso sozinho. Há um novo comportamento na
sociedade no que diz respeito a como enxergamos a cultura de nosso tempo e há, de fato, uma
mudança no modo como encaramos nossas relações com as mídias. JENKINS (2008, p.51)
aponta que as habilidades que adquirimos nessa brincadeira tem implicações no modo como
aprendemos, trabalhamos, participamos do processo político e nos conectamos com pessoas de
outras partes do mundo.
A tecnologia dos smartphones evoluíram junto com a velocidade da internet. Nos anos
1980, a tecnologia, ainda analógica, de transmissão com velocidade de 1G, os aparelhos
existentes conseguiam fazer somente ligações telefônicas. Com o 2G digital, nos anos 1990,
era possível também enviar mensagens de texto (SMS). O 3G dos anos 2000, os aparelhos
enviavam e recebiam vídeos, áudios, acesso à internet, e-mail, download de jogos e outros
serviços. Nos anos 2010, surgiu a tecnologia 4G e com ela acontece um salto na qualidade dos
11
O conceito de cibercultura é trabalhado de forma diferente por cada autor. Por exemplo, para Pierre Lévy, esse
conceito trata da reunião de relações sociais, das produções artísticas, intelectuais e éticas dos seres humanos.
Além disso, a cibercultura se articula por meio de redes interconectadas de computadores, ou seja, no
ciberespaço. Pode ser pensado como um fluxo contínuo de ideias, práticas, representações, textos e ações, que
ocorrem entre interconectadas. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Cibercultura#Conceito)
77
12
A Internet das Coisas proporciona aos objetos do dia a dia, com capacidade computacional e de comunicação,
se conectarem à internet. Essa conexão viabilizará controlar remotamente os objetos, e acessá-los como provedores
de serviços, e se tornarão objetos inteligentes ou smart objects. Os objetos inteligentes possuem capacidade de
comunicação e processamento aliados a sensores. (MANCINI,M., 2018)
13
Omnichannel é uma tendência do varejo que se baseia na convergência de todos os canais utilizados por uma
empresa. Trata-se da possibilidade de fazer com que o consumidor não veja diferença entre o mundo online e o
offline (SEBRAE NACIONAL, 2017).
14
Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/integre-seus-canais-de-vendas-a-partir-
do-conceito-de-omni channel,87426f65a8f3a410VgnVCM2000003c74010aRCRD>.10/11/2017. Acesso em 22
jul. 2019.
78
[...] uma legislação complexa, guerra fiscal entre estados, a diferença de ICMS, entre
outros problemas dificultam a fluidez na transição de canais que dependem da atuação
de diferentes centros de distribuição e despachos para localidades diferentes.
(GIRELLI, www.commercebrasil.com.br)
Além disso, integrar todos os sistemas de vendas a uma única plataforma de logística
também prejudica a implantação desse modelo comercial, valores de frete, ainda muito altos.
79
Já se sabe que há muitas décadas o ato da compra deixou de ser uma atividade doméstica
para se tornar um programa social prazeroso e divertido. Empresas utilizam infinitas
ferramentas e argumentos para fidelizar seus clientes devido ao número cada vez maior de
concorrentes no mercado em que atuam. Lipovetsky (2007, p.31) explica que os grandes
magazines foram com a publicidade, os principais instrumentos de elevação do consumo a arte
de viver o emblema da felicidade moderna impressionando a imaginação, despertando o desejo
e apresentando a compra como um prazer.
Comprar um determinado produto não significa mais suprir uma necessidade básica e
sim, satisfazer um desejo, muitas vezes latente, de possuir aquela mercadoria, daquela
determinada marca ou modelo e o que mais for colocado para customizar e tornar exclusivo o
objeto de desejo.
Por conta disso, as marcas se interessam cada vez mais em criar ambientes e serviços
que possam encantar seus clientes e criam experiências inesquecíveis no momento da compra.
O ambiente físico da loja deve receber tratamento especial nesse processo de
encantamento, pois é nele que há possibilidade de criar a experiência emocional, sensorial e
psicologicamente favorável ao consumo e à fidelização. A loja é um canal de comunicação
também e como tal, precisa transmitir os valores da empresa através do projeto escolhido.
A partir do momento em que a empresa consegue detectar qual é de fato seu público-
alvo, como ele age, o que ele quer, o que pensa, ela precisa levar sua marca até o último grau
de comprometimento com esse indivíduo.
O cliente deverá entrar na loja e sentir a marca, respirar a marca, tocar a marca, ouvir a
marca; e depois que realizar a compra sair do ambiente com a certeza de que adquiriu os valores
tangíveis e intangíveis da mesma, através da mercadoria que está levando para casa. E além de
não esquecer da experiência vivida, contá-la a outras pessoas. Lipovetsky (2007, p.44) o
consumo encarrega-se cada vez melhor de uma nova função identitária, que antes era realizada
pelas tradições, pela religião, pela política, que hoje são menos fomentadoras de uma identidade
central. Pinho (1996, p.43) afirma que: “[...] ao adquirir um produto, o consumidor não compra
apenas o bem, mas todo o conjunto de valores e atributos da marca”.
Para que isso aconteça, o cliente precisa, obviamente, se identificar com esses valores,
se enxergar através da marca escolhida. Daí a importância de conhecer profundamente quem é
o indivíduo que deseja comprar produtos e serviços daquela determinada marca.
80
Varotto (2018, p.440) relata que as tecnologias inovadoras são cada vez mais utilizadas
no varejo para atrair os consumidores, já que as lojas físicas que recebem as inovações
integram-se perfeitamente aos elementos tradicionais do espaço trazendo comodidade,
atendimentos mais eficientes, informação e conexão com os clientes.
Embora os e-commerces ofereçam muitas praticidades, as lojas físicas ainda têm um
papel importante no varejo. Nele, o consumidor tem a possibilidade de comprar e levar o
produto na hora, além de negociar descontos; pode tocar e testar o produto. Brasileiro tem essa
mania de “ver com as mãos”, é cultural (PRANDO, 2018).
Uma pesquisa realizada pelo Manhattan Associates15, verificou-se que 70% dos
brasileiros que tem acesso à internet preferem comprar online, mas que cerca de 60% retiram
seus itens em lojas físicas. Esse fenômeno acontece porque o cliente quer comprar de forma
rápida e cômoda, mas também quer desfrutar dos produtos assim que efetua a compra e, na
maioria das vezes, a logística de transporte empregada não permite a mesma facilidade
encontrada na compra online.
Ainda mencionando a pesquisa realizada pela Manhattan Associates, publicada no O
Mundo do Marketing (2018), cerca de 70% dos brasileiros gostam de comprar pela internet,
apesar da existência de barreiras que esse canal traz, como a insegurança ao disponibilizar dados
pessoais, entrega que atrasa ou arrependimento por não ter avaliado o produto pessoalmente.
Do fato, pode-se identificar dois fatores nesses relevantes e distintos achados: o primeiro
é (i) a importância que uma loja física mantém na moderna economia, e o segundo, (ii) a
necessidade dela se ajustar e fazer uso das tecnologias para coexistir com os ambientes virtuais
emergentes, na medida em que o consumidor adere ao e-commerce.
Como exemplo desse ajuste necessário temos a personalização e recomendação de
produtos que existem no ambiente virtual, onde na medida em que o cliente navega e pesquisa
certos produtos, essas informações ficam registradas através de tecnologia cada vez mais
avançada, entrando no campo da Inteligência Artificial. O resultado disso é que, cada vez que
o consumidor entra no site, várias recomendações de produtos começam a aparecer na tela,
porque seu histórico de navegação e compra foi acessado pelo sistema de perfil da empresa.
Além de gerar praticidade, essa tecnologia provoca no indivíduo a sensação de
exclusividade e personalização do atendimento e esses fatores fazem toda a diferença na
fidelização do cliente. Segundo Prando (2018), “Com o empoderamento do consumidor,
independentemente de seu canal de compra, ele quer se sentir único, e não apenas mais um. Ele
15
Empresa líder desenvolvedora de softwares para cadeia de suprimentos, estoque e comércio omnichannel.
81
não quer ser encarado como uma cifra, mas como um cliente exclusivo”.
Com a tendência do omnichannel, explicado anteriormente, no mercado varejista, a loja
deverá se adaptar para não perder seu espaço e diminuir sua importância, apesar de ainda ser
muito cedo para considerarmos uma economia capitalista sem as lojas físicas, pois, mesmo com
as dificuldades apresentadas, ainda são os locais preferidos pela maioria dos consumidores que
tem a possibilidade de experimentar o produto, comprar e levar a mercadoria na hora, sem pagar
taxas de frete que são os maiores obstáculos do e-commerce.
Segundo a pesquisa as lojas físicas são as preferidas em relação a facilidade de troca
(73%), qualidade do atendimento (51%) e pós-venda (46%). Constatou-se ainda que 40% do
público que prefere o ambiente físico acham que há menos decepções nesse tipo de compra do
que no ambiente online e que (38%) gostam de poder levar o produto para casa assim que o
adquirem16.
Ir às compras é um movimento social e lúdico. Trata-se de uma atividade ainda
prazerosa, apesar da correria do dia a dia. E esse é o principal motivo para as empresas
investirem na arquitetura dos seus pontos de vendas, trabalhando o design de forma absoluta
para criar experiências cada vez mais encantadoras às pessoas que adentram naquele
determinado ambiente. Morais (2019) explica que os elementos do design, a ambientação, o
merchandising no varejo 4.017 fazem com que a loja física seja um ponto de contato interativo,
multissensorial e digital. Ainda, o mesmo autor, afirma que as tecnologias complementam os
serviços e as experiências que a empresa oferece aos seus clientes, dentro da loja. A integração
dos canais, o omnichannel, deve permitir maior confiabilidade e agilidade nas operações. Nesse
cenário podemos ter um consumidor que entra na loja, observa o produto, conversa com o
vendedor e depois que decide comprar o produto em questão, busca o melhor preço e condição
de pagamento em vários sites para fechar o negócio. Pode acontecer também o contrário desse
movimento, onde o consumidor, ao ver um anúncio de produto que o interessa, passa a
pesquisar sobre este na internet, mas decide ir até uma loja física para adquiri-lo.
16
Levantamento feito pela Confederação Nacional dos Dirigentes Logistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao
Crédito (SPC Brasil), divulgado por http://varejo.espm.br/22644/47-dos-internautas-so-compram-em-loja-fisica-
apos-pesquisa-na-internet
17
Varejo 4.0 – Modelo de comércio que concilia as tendências da internet com o mundo real para aprimorar a
experiência de compra e o relacionamento com o cliente. Disponível em: https://sebrae.ms/mercado-e-
vendas/varejo-4-0-a-reinvencao-do-varejo-na-era-digital/
82
Nos dois casos, é importante que o cliente tenha a percepção de estar “no mesmo lugar”,
ou seja, do ambiente virtual ao físico e vice-versa, não poderá haver diferença entre
atendimento, clareza de informações e, principalmente, os valores da marca devem se manter
integralmente nesses dois ambientes.
A tecnologia já é uma realidade e ela adentra as lojas transformando o ambiente em um
local de entretenimento, onde a compra é apenas consequência do bem-estar sentindo pelo
consumidor. O consumidor espera por experiências verdadeiras no ponto de vendas, que vão
ao encontro dos seus anseios e expectativas, e este está disposto a pagar por isso. Quer, mais do
que qualquer outra coisa, seus desejos realizados.
O comportamento do consumidor deve ser estudado sempre, pois é tão dinâmico e muda
tanto quanto o cenário político, econômico e social, inclusive é muito sensível ao que acontece
nessas áreas do cotidiano dos indivíduos.
Além disso, as opções de produtos e categorias que as pessoas têm eram inimagináveis
há 70 anos. Cada vez que o consumidor pensa em comprar, um número considerável de marcas,
modelos, cores, estilos de um produto enchem sua mente, tornando sua decisão muito difícil.
Lipovetsky (2007, p.90) diz que para estimular o consumo, as empresas renovam mais
depressa os modelos, fazendo-os sair de moda através da oferta de algo sempre mais atraente e
diferente. Não se trata de produzir mercadorias de baixa qualidade e que precisam ser trocadas
em um tempo curto, mas de seduzir pela novidade e de reagir antes dos concorrentes.
O que observamos, até então, é não só a transformação no processo de comercialização
de produtos e serviços, mas também mudanças consideráveis nos hábitos de consumo, nas
necessidades que passaram a ser maiores, na expectativa sobre os atributos dos itens adquiridos,
no prazer em ter “aquela” determinada mercadoria, o poder de escolher marca ou pacote de
serviços. Enfim, o consumidor passou a ser, definitivamente, a peça principal no mercado de
varejo no Brasil e no mundo.
83
Uma loja física bem planejada onde os elementos arquitetônicos comunicam todos os
atributos, tangíveis e intangíveis da marca é necessária para afetar o comportamento do
consumidor. Assim cria-se uma experiência única para selar uma conexão duradoura entre as
partes, uma vez que dependendo do mercado que a empresa atua, pode-se tratar de um ambiente
altamente competitivo ou mesmo o próprio produto da concorrência apresentar pouca diferença
de qualidade e atributos.
“Os profissionais de marketing astutos percebem que o ambiente da loja é a última e
melhor chance de fazer diferença” (CRESCITELL; SHIMP, 2012, p.495).
Cumpre à loja física planejada, cujos elementos arquitetônicos comunicam os atributos
da marca, tanto objetivos como subjetivos, influenciar o comportamento do consumidor,
oferecer uma experiência única e selar uma conexão duradoura com ele.
As atividades de compras que exigem envolvimento, escolha, experimentação, prazer e
promovem encontro continuarão a exigir seus espaços. E, para felicidade dos arquitetos, cada
vez mais e com melhor qualidade [...]. (VARGAS, 2018, apud VARGAS; BORTOLLI, 2016)
84
Nesse trabalho, o foco de estudo é a última fase, onde tem-se a intenção de apresentar a
sofisticação dos métodos e ferramentas do marketing, branding, o papel do consumidor como
protagonista, o brandsense18, a experiência do consumidor ou UX, que surgiu para deixar os
meios virtuais mais amigáveis e próximos do cliente e que hoje migrou também para o espaço
físico, e o visual merchandising.
Hoje, o Marketing, cada vez mais se sensibiliza e se adapta às ocorrências mundiais,
sejam estas sociais, econômicas, climáticas, avanços tecnológicos, entre outros fatores
relevantes. Segundo Kotler e Armstrong (2015, p.4), não é mais uma questão de efetuar venda,
mas satisfazer as necessidades dos clientes.
Kotler e Keller (2012, p.17) afirmaram que, sem dúvida, as tendências e as forças que
definiram a primeira década do século XXI estão levando as empresas a um novo conjunto de
crenças e práticas.
Empresas utilizam infinitas ferramentas e argumentos para fidelizar seus clientes,
devido ao número cada vez maior de concorrentes no mercado em que atuam. Lipovetsky
(2009, p.136) explica que uma empresa que não cria novos modelos perde sua força no mercado
e enfraquece sua marca, numa sociedade em que o novo é sempre superior ao antigo, segundo
os consumidores.
Comprar um determinado produto não significa mais suprir uma necessidade e sim,
satisfazer um desejo, muitas vezes latente, de possuir aquela mercadoria, de determinada marca,
de um modelo específico e o que mais for disponibilizado para customizar e tornar mais
exclusivo o objeto de desejo para depois exibi-lo como símbolo de todos os valores a ele
ligados.
Segundo Lipovetsky (2009, p.136), é a regra do efêmero que governa a produção e o
consumo dos objetos. É uma atitude sociocultural, uma vez que provoca no indivíduo a
sensação de pertencimento à determinado “mundo”. Kotler e Armstrong (2015, p.5) explicam
que os desejos são moldados pela sociedade e descritos em termos de objetos que satisfarão as
18
Conjunto de percepções sensoriais que envolvem uma marca. Disponível em
https://medium.com/@pierangeli2013/neuroci%C3%AAncia-neuromarketing-e-brandsense-ter-
experi%C3%AAncias-%C3%A9-o-que-vale-83c39262a3ce
86
Para que essa percepção aconteça o cliente precisa, obviamente, se reconhecer através
da marca escolhida. Daí a importância de se conhecer profundamente quem é o indivíduo que
deseja comprar produtos e serviços daquela determinada marca. A partir do momento que a
87
empresa toma posse dessas informações, ela deverá levar sua marca até o último grau de
comprometimento com esse público.
A identificação do público alvo com a personalidade da marca facilita o reconhecimento
das ações realizadas pela empresa, desde campanhas publicitárias até o design de interiores do
ponto de venda, seja este virtual ou físico, porque traz características facilmente identificáveis
para a percepção do consumidor (BEST et al., 2003, p. 188).
Entrando numa loja, o cliente identificou reconhecerá a identidade da marca19 que ele
admira e de tudo que ela representa. Segundo Pinho (1996, p. 43) [...] ao adquirir um produto,
o consumidor não compra apenas o bem, mas todo o conjunto de valores e atributos da marca.
Kotler e Armstrong (2015, p. 6) exemplifica que “você não visita simplesmente o Walt Disney
World Resort: você e sua família mergulham em um mundo de maravilhas, um mundo em que
os sonhos se tornam realidade e as coisas funcionam da maneira como deveriam. Você está “no
coração da magia!”, diz a Disney.”
Após realizar a compra e sair daquele ambiente com seu “objeto de desejo” o cliente
não se esquecerá da experiência vivenciada na loja. Segundo Blessa (2001, p.30), os
consumidores avaliam o ponto-de-venda e os produtos quase em conjunto e é muito importante
que ele se sinta bem dentro da loja, assim a possibilidade de fidelidade aumentará.
A partir desse cenário de “guerra das marcas” o marketing tem um papel essencial e
através de estudos provindos sobre o comportamento humano, mais especificamente do
consumidor, conhecendo profundamente as suas necessidades, motivações e desejos, é possível
a partir dessas informações, traçar as estratégias necessárias para conquistar a preferência do
seu público alvo.
A motivação é o que leva o indivíduo para um determinado comportamento. No caso
do mercado de consumo é o que leva o consumidor a todas as etapas da compra, iniciando-se
como reconhecimento de uma necessidade, até finalizar o processo com a compra em si. O
esquema abaixo, proposto por Kotler e Keller (2012, p.179) mostra os cinco estágios do
processo de decisão de compra.
19
A personalidade da marca é um conjunto de características humanas que se tornam associadas a uma marca.
(BEST, 2003)
88
Busca de informações
Avaliação de alternativas
Decisão de compra
Comportamento pós-compra
apresentadas por Maslow. Cada vez que um nível de necessidade foi resolvido, passa-se para
outro sucessivamente e sempre seguindo a hierarquia proposta, pois não há como o indivíduo
se preocupar com sua posição social, estima e auto realização se sofre carências fisiológicas
como fome e cansaço. Melo (2014, p.104) cita como exemplo desta teoria as companhias aéreas
onde não é possível satisfazer as necessidades sociais dos passageiros sem antes satisfazer a
necessidade de segurança desses.
Apesar de Maslow focar suas pesquisas nas necessidades e motivações humanas e não
especificamente do consumidor, nossas sociedades vivem intensamente o consumo de massa,
no qual a tentativa dos indivíduos de satisfazer suas necessidades humanas básicas manifesta-
se parcialmente na aquisição de bens e serviço (MORSCH, 2005, p. 105).
90
4.1 Neuromarketing
É através da percepção que o indivíduo adquire todo seu conhecimento e, é por isso que
ela precisa ser contemplada no momento de definir valores, personalidades da marca assim
como todos os elementos simbólicos que serão trazidos para compreensão do que é, de fato,
aquela marca. Karsaklian (2000, p.42) se refere a percepção como um processo dinâmico pelo
qual aquele que percebe atribui um significado a matérias brutas oriundas do meio ambiente.
A percepção de algo ocorre através de três estágios: exposição à informação, atenção e
interpretação. Para cada indivíduo o resultado desse processo é diferente pois devem ser levadas
em consideração as experiências de vida, ambientes físico e social e personalidade.
Como mostra o gráfico abaixo, uma empresa pode e deve explorar todos os sentidos do
93
ser humano para facilitar esse processo de percepção e mais, torna-lo algo o mais emocional
possível.
Estímulos Receptores
sensoriais sensoriais
Imagens Olhos
INTERPRETAÇÃO
Sons Ouvidos EXPOSIÇÃO ATENÇÃO
(SIGNIFICADO)
Odores Nariz
Gostos Boca
Texturas Pele
Em nosso cotidiano somos atingidos por milhares de estímulos, em sua maioria, visuais
sendo impossível de serem lembrados em sua totalidade, pois nossa percepção é seletiva.
Morsch (2005, p.125) afirma que nossos olhos e nossa mente procuram e percebem apenas as
informações que nos interessam.
A partir da exposição de um determinado elemento ou mensagem, a atenção fica
responsável por tomar conhecimento destes, selecionando os que atendem às necessidades mais
urgentes do indivíduo. A interpretação entra em seguida, dando significado às informações
recebidas e organizadas. Morsch (2005, p.127) observa que a intensidade, a duração e a
relevância são fatores que podem gerar um estímulo mais forte na atenção do consumidor.
A composição do layout de uma loja também poderá obedecer a esses princípios,
primeiro porque deverá trazer a personalidade da marca para esse local, segundo, porque é
imprescindível criar uma atmosfera da loja acolhedora e ao mesmo tempo dinâmica para
cumprir seu principal papel que é o de vender. Blackwell (2005, p.145) afirma que a atmosfera
de uma loja pode ajudar na modelagem da direção e da duração da atenção dos consumidores
e aumentar as chances de um consumidor comprar produtos que, de outra forma, não seriam
percebidos.
Hoje, existem muitos experimentos usando neuroimagens originárias de ressonância
magnética funcional e a tomografia por emissão de elétrons positivos que detectam áreas dos
94
cérebros que são mais ativadas de acordo com o estímulo que recebem. Ferreira (2019, p. 234)
explica que de posse dessas informações, é possível verificar quais as reações empresas,
produtos e filmes publicitários causam em diferentes públicos.
Uma das ferramentas mais usadas no contexto do neuromarketing é o eye-tracking, onde
através do rastreamento ocular é possível medir o movimento dos olhos, o padrão de fixação
do olhar e a dilatação da pupila. Essa ferramenta já é muito utilizada no Brasil, através da
empresa Forebrain, situada no Rio de Janeiro.
Existem equipamentos cada vez mais sofisticados, com softwares e hardwares de alta
precisão, para realizar essa metodologia. Hoje em dia, com o avanço das webcams de
alta resolução, esta técnica também pode ser aplicada, com algumas limitações,
através de computadores e dispositivos móveis, o que pode diminuir o custo das
pesquisas e permitir um maior alcance. (Nathalie Lorencini, 2018,
www.forebain.com.br)
Fonte:https://neuronioweb.com.br/os-olhos-dizem-tudo-o-eye-tracking-prova-que-sim/
95
Fonte:https://neuronioweb.com.br/os-olhos-dizem-tudo-o-eye-tracking-prova-que-sim/
4.2 O Branding
(2014, p. 5) explica que o branding não se restringe a criação da marca, mas também à gestão,
gerenciamento e eficiência desta marca no mercado.
Essas ações sendo bem elaboradas e executadas reforçam os vínculos dos colaboradores
e engajamento em todas as ações da empresa, assegura a qualidade dos produtos e serviços,
consequentemente aumenta a fidelidade dos clientes e consumidores, aumenta o interesse em
acessar ao seu site e conhecer os canais de vendas. E, ao final de tudo, confere valor para a
marca e aumenta o seu faturamento.
O Branding segue tendências, mas também pode criá-las, muda a cultura de consumo,
conversa com seu público de forma a torná-lo fiel defensor da marca, aumenta o valor intangível
de mercado, refletindo até nos preços das ações da empresa.
Kottler em seu livro Marketing 3.0, explica:
✔ Visibilidade, pois ajuda a reforçar o mapa mental dos consumidores sobre sua
localização;
Morgan (2017, p.35) ainda afirma que arquitetos ou designers de interiores devem
alinhar as ideias do projeto de uma loja com as necessidades do profissional do Visual
Merchandising para que esse possa instalar os elementos de sua criação sem restrição para
compor uma vitrina, distribuição de expositores, balcões e instalações artísticas, se for o caso e
20
Estratégia de varejo que trabalha o ambiente do ponto de venda e cria uma identidade da loja ou a marca a ser
trabalhada. (GOMES, André Luís A. – SEBRAE – www.sebrae .com.br/clientes).
98
21
Disponível em <http://www.wbibrasil.com.br/noticias/varejistas-intensificam-a-experiencia-de-compra-no-
ponto-de-venda/> Publicado em 2017. Acesso em 22/08/2019.
22
Disponível em <http://www.wbibrasil.com.br/noticias/varejistas-intensificam-a-experiencia-de-compra-no-
ponto-de-venda/> Publicado em 2017. Acesso em 22/08/2019.
99
O fato é simplesmente que tudo, animado e inanimado, comunica algo aos clientes.
Não apenas tudo tem algo a dizer como também influencia os clientes. As mensagens
23
Tradução: experiência ambiental
100
transmitidas pelo cenário alteram as percepções dos clientes em relação aos produtos
e serviços que vendemos (DISNEY INSTITUTE, 2011, p. 94)
Um exemplo de ponto de venda físico, no Brasil, que traz ao seu público alvo a
oportunidade de uma experiência esportiva é a da empresa Centauro, que inaugurou em
dezembro de 2019, no Rio de Janeiro, sua loja Modelo Geração 5, como é chamada, segundo
Store Photobook – março/abril – 2019, extraído do site da empresa.
Segundo matéria do Jornal do comercio.com (2020), a loja tem muita tecnologia em
seus elementos, por exemplo, provadores inteligentes, que permitem que as peças escolhidas
pelo cliente sejam identificadas e através de telas obtêm-se informações sobre os produtos,
tablets com acesso aos itens da empresa e caixas móveis para evitar filas, tornando o
atendimento ao cliente exclusivo e confortável. O cliente também pode testar um tênis em
esteiras conectada a telas que simulam circuitos de corrida do mundo todo
(MERCADOECONSUMO.COM, 2020).
A Amazon, livraria gigante da internet, inaugurou em 2018 sua primeira loja física em
Nova Iorque, que disponibiliza para compra seus itens mais populares dentro da loja virtual
(Amazon.com). Apesar do sucesso alcançado no varejo online, a marca percebeu que uma loja
física é imprescindível na era do omnichannel. Segundo Raphael Coraccini, do site Novarejo
(2019), a Amazon aposta em mais um ponto de venda físico, mostrando que tem disposição para
avançar sobre o varejo tradicional depois de dominar as vendas no online.24 Ana Cândida Fraia
Carvalho, do site Olho no varejo, sobre essas ações relata que o objetivo foi de se aproximar
mais do consumidor e oferecer um serviço verdadeiramente omnichannel. Ainda afirma que as
coisas "táteis" não vão deixar de existir, mas apenas se transformar. Irão sumir as lojas físicas
que não se adaptarem aos tempos e novas necessidades do consumidor.25
24
Disponível em: https://www.consumidormoderno.com.br/2018/09/27/amazon-inaugura-amazon-4-star/ -
27/09/2018 – Acesso em 20/02/2020
25
Disponível em: http://olhonovarejo.com/new-blog/amazon-4star-new-york - Acesso em 20/02/2020
103
4.4 O Brandsense
A música pode afetar a compra. A música tocada na loja em um volume mais baixo
pode encorajar maior interação social entre os compradores e o pessoal de vendas. A
música mais rápida ou lenta pode afetar as percepções de tempo gasto na loja e a
música clássica pode emprestar uma imagem mais sofisticada e “cara” que outros
estilos de música. O andamento da música (lenta versus acelerada) também afeta as
compras. Pesquisas indicam que música com andamento lento aumenta não só o
tempo como também os gastos em compras em comparação à música de andamento
acelerado em supermercados. Em restaurantes, os fregueses gastam quase 25% mais
104
tempo e quase 50% mais despesas no bar quando o andamento da música é lento.
(BLACKWELL, 2005, p. 146).
Vários autores descrevem a utilização cada vez mais frequente dos sentidos na
elaboração da atmosfera do ambiente da loja e impactando diretamente na motivação de compra
dos clientes que se encontram nesse espaço. Lavareda (2016, p. 150) em seu livro
Neuropropaganda de A a Z, menciona o escritor francês Marcel Proust que entendeu a ligação
entre o olfato e a memória antes da neurociência comprovar essa relação, em seu livro “Em
Busca do tempo Perdido”. Nele Proust relata as emoções ligadas ao olfato e ao paladar e através
desses sentidos acessava memórias profundas. Lindstrom (2012, p.102) também menciona o
fenômeno Proust explicando as associações com o passado através do aroma das “madalenas”
amolecidas no chá.
Gobé (2012, p. 100) explica que as marcas devem se conectar com os cinco sentidos do
ser humano. A fidelidade a marca ocorre quando ela se conecta com os sentidos do consumidor,
pois a mensagem se torna mais rica e convincente pois atinge níveis profundos da memória e
proporciona experiência positiva por meio da visão, olfato, paladar, audição e tato.
Blessa (2011, p.36) relata que o uso dos sentidos no ponto de venda ajuda o consumidor
perceber a mudança entre o tradicional e o respeito a individualidade de preferências. Fica a
impressão de um tratamento ou atendimento personalizado.
Em 2017, a empresa Cacau Show, inaugurou sua primeira Mega Store, na Rodovia
Castelo Branco, Itapevi, São Paulo. O investimento foi de 7 milhões de reais e o projeto pode
receber até 1000 visitantes por dia. Segundo Ana Carolina Soares para o site
vejasp.abril.com.br, em 10 de novembro de 2017, a loja tem carrossel, cinema e brinquedos
interativos. Além disso, o visitante pode acompanhar todo o processo da produção de uma barra
de chocolate e pode customizar sua própria barra (MERCADO DE CONSUMO, 2020).
105
Em setembro do 2018, a Cacau Show lançou sua primeira loja sensorial, no Shopping
Morumbi, em São Paulo, com 500 metros quadrados e com histórias sobre o cacau contadas
usando todos os apelos sensoriais possíveis.
Passados um pouco mais de três anos a empresa abriu a sua vigésima primeira Mega
Store localizada na cidade de Santo André. O objetivo, segundo o presidente e fundador Alê
Costa, “é proporcionar experiências diferenciadas e saborosas aos nossos clientes”.
Erthal (2019, p.186) lembra que:
Na imagem abaixo, há um trio musical tocando numa das Mega Store da rede, incluindo
a música como atração sensorial, além do aroma de chocolate, baunilha e café que pode ser
percebido no interior do espaço. Alê Costa lembra ainda que “a loja é tão instagramável que as
pessoas esquecem de comprar chocolate e eu preciso lembrá-las a toda hora.” www.consumidor
moderno. com.br. Lindstron (2012, p. 75) afirma que a visão em muitos casos não é tão
poderosa quanto pensávamos — e o olfato e a audição são significativamente mais poderosos
do que qualquer pessoa jamais sonhou.
Apesar de ser a visão o sentido que mais utilizamos para vivenciar nosso mundo e o
olfato sendo cada vez mais requerido, uma vez que pode trazer lembranças profundas e
imediatamente remeter a situações positivas e prazerosas, outros sentidos, como o tato é
imprescindível para atestar e aprovar determinados segmentos como roupas, sofás, lençóis,
lingerie, cosméticos e muitos produtos mais. Segundo Lindstron (2012, p.33), quando todas as
oportunidades de conexão falharem, o tato pode ajudar, pois a pele é um órgão sensorial muito
importante.
Fonte: https://www.tokstok.com.br/modulo-pufe-garnet-sofo/p
109
Fonte: https://www.casaalmeida.com.br
Podemos perceber que todos os sentidos humanos são importantes pois ajudam a nos
conectar com o mundo a nossa volta, nos protege e nos proporciona um conjunto grande de
sensações sejam voas ou ruins. Cabe aos profissionais do marketing e da Arquitetura e Design
de Interiores entenderem a importância e o que cada um deles traz como resultado, porque a
soma de todos esses elementos gera o comportamento humano.
4.5 Vitrines
e a diversidade destes produtos criaram nos cidadãos que podiam comprar, uma necessidade de
consumir e exibir suas aquisições.
Fonte: https://www.quitandafashion.com.br/2020/10/historia-do-visual-merchandising.html
Com isso, o espaço comercial ganha mais importância e surgem as primeiras vitrines no
formato que conhecemos hoje, passando a ser item obrigatório destes locais. Demetresco (1990,
p.16) relata que “se até o início do século XX as mercadorias eram empilhadas, a partir de 1920,
com o desenvolvimento do desenho e o aperfeiçoamento do estilo, limparam-se as lojas e as
vitrinas, melhorando assim sua apresentação.”
Nesse mesmo período, o vidro começou a ser utilizado com mais frequência, pois as
técnicas de sua fabricação haviam avançado permitindo a produção de folhas cada vez maiores.
A partir de 1930 começam, de fato, estudos e pesquisas sobre a estética das vitrines e
daí em diante passou-se a utilizar manequins, mais itens cenográficos, iluminação, entre outros
elementos.
111
A vitrine são expressão de uma marca e tem a liberdade de criar mundos e com isso
provocar o consumo que é o objetivo final da empresa. É o ponto da comunicação direta com o
consumidor e tem as funções de expor o produto e principalmente de atrair a atenção, despertar
desejos, criar vínculos com pessoa diante da vitrine, seja pela temática proposta, pelas cores
utilizadas, pelo produto em si e a forma como está sendo exposto, tudo isso de forma rápida
pois, segundo Demetresco et al. (2004), o olhar de um consumidor não permanece mais do que
dez segundos numa vitrine. Carolina Portilho (2019), do site Flix do Varejo afirma que a vitrine
é responsável por mais de 80% das vendas por causa do impacto visual que provoca.
Fonte:https://vitrineperfeita.com.br/blog/como-fazer-uma-vitrine-simples-e-bonita-desafio-vitrine-perfeita-de-
outono/
Fonte: https://blog.cedrotech.com/o-que-e-a-psicologia-das-cores/
Para a produção de uma vitrina, o criador tem como recurso orientador a palavra,
ideias de cor, noções de sentimentos, e conceitos para os quais precisa criar um
linguajar visual, dotando-lhe de uma materialidade, de uma textura, de uma cor e, por
fim, aportando uma lisibilidade à ideia, pois o briefing quer uma proposta visual
“concreta”, já que uma encenação é visual e matérica. (DEMETRESCO, 2005: 81)
Segundo Furtado (2009) a definição para as lojas conceito ou flagship storers é que são
lojas bandeiras ou lojas conceituais que nasceram com a missão de fortalecimento de marca.
Essas lojas são um laboratório de onde conceitos de layout, materiais de exposição, estruturas,
além de estratégia de vendas e relacionamento são experimentadas e que replicadas nas demais
lojas de uma rede.
Temos vários exemplos de Flagships no Brasil, a maioria delas concentradas na cidade
de São Paulo. Galeria Melissa, Havaianas, Chilli Beans e outras. Essas lojas, acabam se
transformando em referências urbanas, uma vez que, mesmo não sendo consumidor das marcas,
a população local sabe indicar a sua localização.
Segundo Piazza (2017, p. 79) a flagship tem o objetivo de expor e divulgar a essência
da marca sendo representada de uma maneira inovadora, diferenciada das demais lojas pela sua
escala, configuração, custos e design.
Fonte: www.mmdamoda.com.br
114
No site do SEBRAE, encontramos algumas características que uma flagship store deve
apresentar:
Valores da marca explorados pela publicidade do produto;
A comunicação dos valores da marca;
Ambiente customizado;
Novas sensações despertadas no consumidor, por exemplo, por meio da música
e cheiro;
Eventos de apresentação do produto;
Serviços personalizados de consultoria;
Interatividade proporcionada pelo espaço.
Fonte: https://www.revistalivemarketing.com.br/chilli-beans-inaugura-mega-flagship-store-em-sao-paulo-com-
producao-da-catch-visual-merchandising/
115
26
Disponível em: https://propmark.com.br/mercado/espacos-instagramaveis-atraem-os-heavy-users-de-redes-
sociais/ - Publicado em: 01/07/2019 – Acesso em 12/04/2020
116
27
Disponível em <https://portalnovarejo.com.br/2018/03/o-boticario-prateleira-inteligente/> Agosto/2018 – Imagem
Boticário – Acesso em 22/08/2019
120
28
Disponível em <https://jtm.com.mo/actual/alibaba-revoluciona-compras-com-lojas-inteligentes/> publicado em
10/07/2018 - Acesso em 22/08/2019
122
Figura 82: Loja interativa da Alibaba, Tmall Fashion, com jogos de realidade aumentada.
Segundo relatado no site da própria empresa, a Natura foi fundada em 1969, abrindo
loja e fábrica na Rua Oscar Freire, na cidade de São Paulo. Passados cinco anos, fechou o
estabelecimento e adotou a venda direta29 como modelo de negócio, apostando no carisma das
relações pessoais. Essa mudança na abordagem do cliente fez da Natura uma das empresas mais
conhecidas e queridas do Brasil no mercado de cosmético e higiene pessoal, cobrindo todo o
território nacional, apoiada na forte presença física de suas consultoras.
Figura 83: Localização da rua Oscar Freire, 930 em São Paulo, onde a Natura abriu sua primeira loja.
.
Fonte: http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,ERT304538-17172,00.html
29
A venda direta é um modelo de negócios utilizado tanto pelas grandes marcas como por pequenas empresas para
vender seus produtos e serviços diretamente aos consumidores finais, sem a necessidade de um estabelecimento
comercial fixo e eliminando, assim, uma cadeia de intermediários e de custos. O contato com os potenciais clientes
é feito por meio de empreendedores independentes, que são chamados de revendedores, consultores,
distribuidores, agentes, entre outros. (https://www.abevd.org.br/vendas-diretas/o-que-e/, Acesso Em 29/02/2019)
124
A decisão de abrir a loja da própria marca foi tomada em 2015 para completar a proposta
de omnichannel, modelo de vendas adotado pela Natura. Segundo o site do Jornal do Comércio
(2019), com essas inovações, a natura voltou a apresentar crescimento de vendas no Brasil,
registrando no terceiro semestre de 2017 seu melhor resultado desde 2014. As vendas da marca
cresceram 10,4% em comparação ao ano de 2016.
A empresa já havia feito experiência com a linha de banho Sou, que foi introduzida
primeiramente em farmácias de Campinas, interior do Estado de São Paulo e, devido ao grande
sucesso, o projeto foi ampliado para outras cidades. Segundo descrito no Relatório Anual
Natura (2016), o objetivo da empresa é permitir uma experiência complementar, por meio de
pontos de venda preparados para a experimentação.
O portfólio de produtos extenso fez com que fortalecesse a proposta de implantação das
lojas próprias da Natura, portanto, em 2016 a primeira loja foi inaugurada no Shopping
Morumbi, na capital paulista.
O principal objetivo da empresa era criar um ambiente favorável a experimentação dos
produtos, por clientes que não tinham o hábito de consumir Natura, pois não compravam de
consultoras e sim diretamente em lojas de cosméticos e perfumarias. Foram montadas duas
lojas-piloto com propostas arquitetônicas diferentes onde consultoras Natura e colaboradores
puderam avaliar os modelos apresentados.
Os propósitos da loja física, segundo Relatório Anual (2015) Natura significa: “[...]
oferecer uma experiência agradável ao consumidor, ampliar a visibilidade e fortalecer a marca,
além de aumentar as vendas.”
A decisão por abrir lojas físicas foi tomada depois que detectaram em pesquisa realizada,
uma demanda reprimida30 entre classes A e B. Este público conhece a marca Natura, mas não
tem o hábito de comprar os produtos através de consultoras, nem através do site da empresa.
(RELATÓRIO ANUAL NATURA, 2016)
Com a loja física estabelecida, o público das classes A e B podem conhecer melhor os
produtos, experimentá-los e compra-los diretamente. O projeto destes locais tem como partido
o conceito de experimentação, ou seja, o mobiliário e os displays contidos nas lojas facilitam o
consumidor a “pegar” o produto, manipulá-lo, sentir sua textura, perfume, visualizar a cor na
própria pele, e para isso foram instalados até cubas com torneiras para que a experiência seja a
mais real possível.
O Relatório Anual Natura (2018) informa que essa estratégia adotada se mostrou um
30
Demanda reprimida é quando um consumidor deseja adquirir um produto, mas a falta de dinheiro o impede.
Também pode ser uma oferta reduzida ou uma ação do governo. Disponível em: https://jurosbaixos.
com.br/conteudo/o-que-e-demanda-reprimida-encontre-oportunidades/. Acesso em 23/02/2020
132
Figura 95: Fachada de loja da Natura, Salvador, BA - Layout da segunda fase do projeto de lojas físicas.
Natura, 2020.
135
Segundo Gobè, “o toque é gerado pelo consumidor através dos produtos e suas
características, e conclui com reações afetivas. [...] Nas vendas, o toque do consumidor ao sentir
o produto gera o prazer de experimentar” (2002, p.10)
A loja também funciona como ponto de logística reversa, onde os clientes podem levar
as embalagens dos produtos consumidos para descarte e que se transformarão em novas
embalagens. É importante ressaltar que, cada vez mais as questões ecológicas e as demandas
da sustentabilidade influenciarão os consumidores ligados a esse tema o que torna, para a
Natura, um grande atrativo. Segundo Gurgel (2014, p. 81) “cada vez mais, a sustentabilidade e
a ecologia estarão influenciando o design, já que são conceitos importantíssimos que devem ser
considerados em qualquer processo criativo.”
Em setembro do mesmo ano foi a vez de São Paulo receber uma loja omnichannel,
localizado no Bourbon Shopping, no bairro de Perdizes. Segundo Paula Andrade, diretora de
varejo da Natura, “em um ambiente que valoriza a jornada do consumidor, a tecnologia está a
serviço do cliente”31
A Natura, ao exibir de forma criativa seus produtos na loja física, reforça a mensagem
de empresa engajada nas questões de sustentabilidade, desenvolvimento humano, natureza
brasileira e que podem ser conferidos em todos os detalhes dos pontos de vendas.
Segundo Genesini, [...]“transformar um ambiente significa, consequentemente,
transformar as relações que se dão no seu interno. Assim, não se trata de apenas mudar a estética
do espaço, e sim de criar uma completa environment experience32 de compra” (2014, p. 76).
Os materiais utilizados para revestir as paredes, por exemplo, remetem a elementos
naturais como os troncos de árvores (madeira sempre de origem brasileira), os painéis, além de
serem estampados com desenhos de folhagens e flores, também apresentam uma
bidimensionalidade que representa a visão de diversos planos focais dentro de uma floresta.
31
Disponível em: <www.mercadoeconsumo.com.br>, acessado em 50/09/2019.
32
Experiência que o ambiente proporciona.
136
Para Morgan (2017, p. 32), uma equipe formada por arquitetos, designer de interiores e
visual merchandisers devem sempre trabalhar juntos para criar ambiente comerciais que
inspirem e motivem as vendas. A entrada e a vitrine de uma loja são um verdadeiro convite
para o cliente ingressar no ambiente, e por isso é fundamental que esses dois pontos
comuniquem imediatamente “quem é” aquela marca, quais seus valores, o que oferece ao
consumidor em termos materiais e principalmente emocionais, que é o que chamamos de
valores tangíveis e intangíveis. Vilas Boas (2015, p.45) considera o trabalho do visual
merchandising o catalizador da compra e o canal de difusão da marca através do ponto de venda.
Chaia (2016, p.8) afirma que “a vitrine é o início da história contada pela marca”, dentro
da jornada do cliente. A vitrine precisa ser atraente e criar curiosidade imediatamente. Os
elementos arquitetônicos precisam estar alinhados aos conceitos estéticos da marca e devem ser
levados loja adentro. Tudo isso precisa ser comunicado em questão de segundos, para que o
indivíduo se decida em entrar na loja. “As vitrines são fundamentais para atrair clientes para
dentro do estabelecimento e, portanto, a iluminação é de suma importância e devem
137
Fonte: https://metroarquitetos.com.br/projeto/lojas-natura-sao-paulo-2018/
138
O mobiliário utilizado também busca traduzir esse ambiente natural e, até de certa
forma, artesanal, através de formas orgânicas dos balcões, displays e prateleiras. As cores
utilizadas foram escolhidas de forma a não interferir na visualização dos produtos, mas trazendo
também referências da natureza brasileira. A Metro Arquitetos Associados, estúdio que criou o
novo projeto para as lojas, afirma em seu site, que os materiais e técnicas escolhidas mesclam
conhecimento tradicional com recursos avançadas de fabricação, o que traz um equilíbrio entre
tradição artesanal e a indústria contemporânea.
Segundo descrição feita pela equipe da Metro, “é possível atingir diferentes grupos
etários e culturais, gerando simultaneamente a sensação de reconhecimento, pertencimento e
inovação.”33 Ainda descrevendo o conceito do projeto, foram criadas faixas horizontais para
servirem como estrutura básica para a exposição do portfólio de produtos na parte superior, mas
acessível ao público e na altura do maior contato visual. As linhas horizontais têm a função de
organizar física e esteticamente o mobiliário de exposição e apoio e dando direção ao fluxo de
movimento dentro da loja. Segundo Gombrich (2012, p.4), a percepção humana tende para
configurações simples, linhas retas, círculos e essa tendência de “ver a ordem como marca de
uma mente ordenadora é profunda e nos faz reagirmos com admiração quando vemos essa
regularidade no mundo natural.”
O conceito de natureza brasileira que a marca Natura traz está presente desde os
33
Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos?ad_source= search&
ad_ medium= search_result_all>. Acesso em: 22 out. 2019.
139
primeiros esboços do projeto, como podemos ver nos croquis (Figuras 89, 90, 91 e 92), onde
observamos linhas simples, cantos curvos e peças de mobiliário multifunções, como por
exemplo, display que também tem espelho para o consumidor enxergar o resultado da
experiência com a maquiagem.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae742a3312fdd53c0005f0-loja-
natura-metro-arquitetos-diagramas
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae742a3312fdd53c0005f0-loja-
natura-metro-arquitetos-diagramas
140
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae742a3312fdd53c0005f0-loja-
natura-metro-arquitetos-diagramas
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae742a3312fdd53c0005f0-loja-
natura-metro-arquitetos-diagramas
141
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
142
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
O projeto luminotécnico é um ponto a ser levado muito a sério pois, pode ter um papel
de destaque na proposta estética da loja. De modo geral, a iluminação deve ficar concentrada
nos produtos enquanto que as áreas de circulação podem ter menos luz disponível.
A luz é objeto de projeto. Devemos pensar e projetar como podemos utilizá-la para
transformar a atmosfera atual do ambiente. Procure, sempre que possível, desenvolver
o projeto de iluminação concomitantemente com o de arquitetura de interiores para
que haja uma perfeita inter-relação entre eles (GURGEL, 2014, p.52)
Podemos observar nas imagens logo abaixo como essas ilhas recebem uma iluminação
exclusivo através de trilhos de spots acima de onde elas se encontram. Esse recurso garante
iluminação direta, deixando a superfície das ilhas mais iluminadas e sem distorção de cores
causadas por áreas sombreadas.
143
Figura 109: Acima das três ilhas da loja há trilhos de spots com luz direta
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
A planta do projeto foi concebida para que as ilhas de experimentação dos produtos,
atividade de maior duração dentro da loja, ficassem no meio da loja, tirando o fluxo das laterais,
onde ficam os produtos para a compra. Segundo equipe de profissionais da Metro, esse desenho
proporciona tranquilidade para o cliente experimentar os produtos pelo tempo que for
144
necessário, uma vez que ele é deslocado das áreas de circulação, evitando assim, esbarrar-se
com outros clientes dentro da loja. Segundo Underhill (2006, p.3) “a probabilidade de uma
mulher comprar o produto que examina é inversamente proporcional à possibilidade de que,
nesse momento, alguém esbarre nela. Se isso ocorrer, a reação da cliente será a de dar meia-
volta e ir embora. Portanto, não se deve colocar os produtos femininos que exigem avaliação
mais detalhada em locais estreitos.”
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
É possível eleger as ilhas de experimentação como pontos focais do projeto, pois são
nelas que acontecem as experiências sensoriais e emocionais de todo o processo de compra.
Nas ilhas, os cremes hidratantes estão dispostos para serem testados diretamente na pele
do cliente, os batons também podem ser testados diretamente nos lábios, onde a pessoa sentira
sua textura, através da visão enxergará como determinada cor se comporta em seu rosto,
experiência que pode ser repetida com as gamas de cores das sombras, das cores dos blushes,
das máscaras faciais etc. Underhill (2009, p.147) constatou que o toque gera experimentação
dos produtos e que a sensação adquirida é muito importante para a conversão da compra.
145
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
146
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/926918/loja-natura-metro-arquitetos/5dae6fdf3312fd2dbb0000f6-loja-
natura-metro-arquitetos-imagem?next_project=no
No interior da loja o trabalho do visual merchandising deve empregar meios para que
todas as exposições apresentadas sejam desejadas pelo consumidor, transformando-
as em mostras sedutoras, a fim de provocar no futuro comprador o desejo de obter o
que está exposto. (LOURENÇO e SAM. 2018, p. 20)
6. Considerações finais
Procurou-se mostrar através das páginas anteriores a relação existente entre a sociedade,
cultura, comércio e consequentemente, o espaço utilizado para abrigar essa atividade. As
transformações sofridas entre todos esses elementos seguiram simultaneamente e objetivando
uma adaptação para que houvesse interação conjunta nesse processo.
Sendo o comércio, uma atividade que desde os mais remotos tempos existe, sempre
precisou de pessoas reunidas para trocarem as mercadorias e um espaço específico para isso
acontecer. Ele foi e continua sendo uma espécie de agente organizador de povoados, vilarejos
e cidades.
Como afirma Vargas (2018), o encontro necessário para acontecer a troca levou o
comércio a procurar lugares mais adequados para esse encontro, o que coincidia com o
cruzamento do fluxo de pessoas ou com os locais das demais atividades sociais, como as
atividades religiosas, pilíticas, culturais e de lazer.
Portanto, o desenvolvimento do comércio varejista e consequentemente, a arquitetura
de espaços comerciais andaram juntas desde que se instituíram como atividades organizadas e
técnicas.
No Brasil, não diferentes de outros países do mundo, mas sempre com certo atraso em
relação a estes, a atividade comercial se mostrou necessária desde os tempos de Colônia
Portuguesa onde se intalava nos locais que existiam demandas por víveres e o espaço utilizado
para tal, geralmente era a moradia do próprio produtor das mercadorias. Essa condição se
manteve sem muita mudança, até a chegada da família real portuguesa, em 1808 e a instalação
da corte na cidade do Rio de Janeiro.
Nessa época, não só o conhecimento para a organização e urbanização da cidade chegou
até aqui, mas também todo o excedente da produção dos mais variados itens europeus e os
costumes vigentes no Velho Continente, através dos portugueses, ingleses e franceses que
vieram para o Brasil
Desde então, notamos as adaptações e transformações, não só da forma de comercializar
as mercadorias, mas como o ato de consumir se tornou uma prática social e econômica muito
importante, capaz de interferir no crescimento urbano, nas melhorias de infraestrutura e no
desenho da ocupação dos espaços, notados primeiramente, nas principais capitais do Brasil e
depois nas cidades menores.
O que anteriormente era somente um espaço para trocas, os locais de comércio, os
148
mercados e os shoppings passaram a ser ambientes de socialização, de prazer, de ver e ser visto,
de comprar e exibir as aquisições.
A Arquitetura, o Design de Interiores e o Marketing precisaram se unir para entender e
prover o setor varejista de instalações mais adequadas e alinhadas à personalidade da empresa
ou de uma marca, o chamado Branding.
Imaginem que para a troca se realizar é necessário o encontro. E a troca não será
apenas de mercadorias. Ideias, palavras, experiências e sensações fazem parte do
encanto. Essa troca, que nos perdoe o comércio virtual (e-commerce) não pode
prescindir do espaço físico para se materializar.
mostrar que o compra tradicional ainda é a preferida apesar de já ser apoiada por recursos
tecnológicos e pela experiência cada vez maior dos consumidores com as ferramentas virtuais.
Está ocorrendo uma adaptação entre os dois meios e consumo e parece estar dando bons
resultados.
Tivemos, no período em este trabalho estava sendo realizado, a pandemia do Covid-19,
o que levou o mundo todo ao isolamento social e a impossibilidade de seguir a mesma rotina
de compras, passeios, trabalho, fazendo com que o comércio virtual se destacasse, crescendo
em volume de vendas e ganhando novos adeptos.
Assistimos, com isso, a ansiedade que tomou conta das pessoas, de modo geral, com a
falta das atividades sociais, principalmente das compras, um claro sinal de que o comércio físico
ainda é, de longe, a primeira opção de compra para a maioria dos consumidores.
Não sabemos ainda, até que ponto a pandemia afetou a economia e consequentemente,
o comércio em nosso país e no mundo e nem como o mercado se comportará daqui para frente,
o que poderá se tornar objeto de estudos futuros.
Para finalizar a análise proposta na dissertação, a migração da empresa Natura para o
varejo tradicional mostrou que os meios físicos de vendas ainda são muito viáveis, mas desde
que se aliem às ferramentas tecnológicas que os consumidores já assimilaram em suas rotinas.
Esse modelo, com vários canais de vendas convergindo para se tornar uma experiência única e
sem rupturas ao consumidor poderá ser algo duradouro, mesmo sendo o mercado de consumo,
um território tão dinâmico e propenso às mudanças.
Espera-se que esta pesquisa tenha contribuído para a compreensão da importância da
loja física, da necessidade dos profissionais do Marketing, Arquitetura e Design de Interiores
se alinharem nas questões definidas para o Branding de determinada marca, para que possam
ser aplicadas ao ambiente que será o estágio final da jornada do consumidor, que é o ato de
comprar.
150
REFERÊNCIAS
ALENCASTRO, L. F. de. Vida privada e ordem privada no império. In: ______. História da
vida privada no Brasil: 2. 1997.p. 11–93.
AMARAL, C. S. John Ruskin e o ensino do desenho no Brasil. São Paulo: Editora UNESP,
2011b.
ARINS, Bruno. 5 descuidos que podem prejudicar o ambiente de trabalho (e como evitá-
los). Publicado em 10 dezembro, 2019. Disponível em:
https://gptw.com.br/conteudo/artigos/descuidos-com-ambiente-de-trabalho/. Acesso em
20/11/2020.
BARBOSA, M. Espaços instagramáveis atraem os heavy users de redes sociais. Disponível em:
https://propmark.com.br/mercado/espacos-instagramaveis-atraem-os-heavy-users-de-redes-
sociais/ - Publicado em: 01/07/2019 – Acesso em 12/04/2020
BIONDI, L. Atlas Histórico do Brasil – FGV – Greve Geral de 1917. Disponível em:
https://atlas. fgv.br/ verbetes/greve-geral-de-1917. Acesso em: 25 jul. 2019.
BUENO, B. P.S. São Paulo: um novo olhar sobre a história.1 ed. São Paulo: Via das Artes,
2012.
CARVALHO, A.C. F. Amazon Go: a tecnologia contactless nunca fez tanto sentido.
Disponível em: http://olhonovarejo.com/new-blog/amazon-go-new-york. Acesso em
20/05/2020
CRAWFORD, F.; MATHEWS, R. O Mito da Excelência. São Paulo: Editora Manole, 2002.
153
DEAECTO, M. M. Comércio e Vida Urbana na Cidade de São Paulo (1889 – 1930). São
Paulo: SENAC, 2002.
DIAS, G. O 5G está chegando: o que isso pode mudar na relação entre consumidores e
empresas? 2019. Disponível em: https://www.ecommercebrasil.com.br/artigos/o-5g-esta-
chegando-o-que-isso-pode-mudar-na-relacao-entre-consumidores-e-empresas/. Acesso em:
02/01/2021
DIAS, S. R. Gestão de Marketing. Coordenação de Sergio Roberto Dias. Vários autores. São
Paulo: Saraiva, 2003.
DISNEY Institute. O jeito Disney de encantar os clientes. São Paulo: Saraiva, 2011.
DELOITTE. Poderosos do varejo global. 2017. Disponível em: https://www2. deloitte. com/
br/pt/footerlinks/pressreleasespage/poderosos-do-varejo-global.html. Acesso em: 21 jun. 2020
ERTHAL, A. Os que os olhos veem, o coração não sente: percepção e memória para estratégias
de Sensorial Branding. In: Branding e Comunicação: A comunicação e sua importância
para a construção de marcas. Organizador Edmundo Brandão Dantas. São Paulo: Senac,
2019.
FABRIS, A. Arquitetura eclética no Brasil: o cenário da modernização. An. Mus. Paul., São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 131-143, 1993. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=
sci_arttext&pid=S0101-47141993000100011&lng=pt&nrm=iso. Acesso em:19 ago. 2020.
FAUSTO, B. História do Brasil. 6 ed. São Paulo: Edusp, 1998. Disponível em|:
https://doi.org/10.1590/S0101-47141993000100011. Acesso em:19 ago. 2020.
154
FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mocambos. 1 ed. digital. São Paulo: Global Editora, 2013.
FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 18. ed. São Paulo: Editora Nacional, 1982.
GOBÉ, M. Experiências Emocionais. Revista Design to Branding. São Paulo: Toda Palavra
Conteúdo Editorial, 2012.
155
GOBÈ, M. Brandjam. O design emocional na humanização das marcas. Rio de Janeiro: Rocco,
2010.
Guia das APACS – Corredor Cultural. Entorno da Rua da Candelária 2 - Arquivo IRPH -
Disponível em: http://www.pcrj.rj.gov.br/web/irph/competencias. Acesso em 10/02/2021.
HOLBSBAWN, E. J. A Era das Revoluções 1789-1848. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2012.
KOTLER, P. Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser
humano. Tradução Ana Beatriz Rodrigues. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
LINDSTROM, M. Brandsense. Segredos sensoriais por trás das coisas que compramos. Porto
Alegre: Ed. Bookman, 2012.
LORENÇO, F; SAM, J.O. Vitrina – Veículo de Comunicação e Vendas. 2ºed. São Paulo:
Senac, 2018.
MERCADO DE CONSUMO. Cacau Show anuncia sua vigésima primeira Mega Store.
Disponível em: https://www.mercadoeconsumo.com.br/2020/02/28/cacau-show-anuncia-sua-
vigesima-primeira-mega-store/. Acesso em: 28 fev. 2020.
MORAIS, A.A. A transformação digital do varejo. O Negócio do Varejo, São Paulo, 17 jul.
2018. Disponível em: http://onegociodovarejo.com.br/a-transformacao-digital-no-varejo/
Acesso em: 12 out. 2019.
MORGAN, T. Visual Merchandising: vitrinas e interiores comerciais. 2 ed. Rev. e Amp. São
Paulo: Gustavo Gilli, 2017.
NASCIMENTO, D. Uma Breve histórico do Mappin. São Paulo Antiga.com. Disponível em:
https://www.saopauloantiga.com.br/mappin/. Acesso em: 20 jun. 2020.
158
O GLOBO. A história da Sears no Brasil. 2018. Disponível em: Disponível em: https://oglo
bo.globo.com/economia/a-historia-da-sears-no-brasil-23156267. Acesso em: 20 maio 2020.
PASTORE, R. Varejo 4.0: o poder onipresente do omnichannel. Revista ESPM. São Paulo, 9
abr. 2019. Disponível em: http://varejo.espm.br/23708/varejo-4-0-o-poder-onipresente-do-
omnichannel. Acesso em: 24 jun. 2019.
PIRES, M.J. Sobrados e Barões da Velha São Paulo. São Paulo: Manole, 2006.
POINTER. Capital barroca: a arquitetura das igrejas de Ouro Preto. 2019. Disponível em:
https://pointer.com.br/blog/igrejas-de-ouro-preto/. Acesso em: 15 maio 2020.
PRADO JR., C. História Econômica do Brasil. 26ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1981.
PRIORE, M. D.; VENANCIO, R. Uma Breve História do Brasil. 1 ed. São Paulo: Planetas
do Brasil, 2010.
SANTOS, F. R. dos. Surgimentos e expansão das lojas de departamento: do auge nos séculos
XIX e XX a sua reestruturação no período contemporâneo. Revista Formação (Online), v. 27,
n. 50, jan./abr. 2020, p. 53-77.
SEBRAE. Saiba mais sobre as lojas conceito: uma das tendências do varejo. 2015.
Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/saiba-mais-sobre-as-
lojas-conceito-uma-das-tendencias-do-
varejo,f31dae21e224f410VgnVCM1000004c00210aRCRD. Acesso em: 28/12/2020
SILVA, L. G. Engenhos dos séculos XVI ao XIX. UFPR, Setor de Ciências Humanas, Letras
e Artes, 2020. Disponível em: https://docs.ufpr.br/~lgeraldo/imagensengenhos.html . Acesso
em: 18 maio de 2019.
SILVA, S. Expansão Cafeeira e Origens da Indústria no Brasil. 8ª ed. São Paulo: Editora
Alfa-Ômega, 1995.
SKINNER, B.F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
SOUZA, J.; OLIVEIRA, C.; MACHADO, L.; BENATI, R. A Pequena Empresa Familiar
Brasileira: origens e integração multiétnica na gênese da economia mundial. Anegepe.org.br,
1997.
THE CRYSTAL PALACE FOUNDATION. Crystal Palace Royal Charters. Disponível em:
http://www.crystalpalacefoundation.org.uk/history/crystal-palace-royal-charters. Acesso em:
20 maio de 2020.
161
TROPEIROS Pobres de São Paulo. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura
Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em:
<http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra61237/tropeiros-pobres-de-sao-paulo>. Acesso
em: 27 de Fev. 2021. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
VILAS BOAS, J.E; LOPES, E.E.F. Os processos semióticos de significação para o visual
merchandising da moda. IARA-Revista da Modas, Cultura e Arte, São Paulo: Centro
Universitário SENAC, v. 8, n 1. p. 04, 2015.