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17/10/2002 - comportamento

A sociabilidade em crianças
como fator de proteção
Pesquisa do Instituto de Psicologia da USP de Ribeirão
Preto mostra que a sociabilidade é um fator de proteção em
crianças que vivenciam situações adversas num momento
significativo do desenvolvimento

Leandra Rajczuk

A dissertação de mestrado intitulada Recursos de sociabilidade em crianças com


dificuldades de aprendizagem: um estudo de seguimento apresentada recentemente
pela pesquisadora Marli Aparecida Silva Campos, no Instituto de Psicologia da USP
(IP) de Ribeirão Preto, conclui que a sociabilidade atua como um fator de proteção em
crianças que vivenciam situações adversas em um momento significativo do
desenvolvimento. As auto percepções positivas que essas crianças tem de si mesmas,
favorecem o enfrentamento dessas situações e as expectativas de sucesso.

O estudo se centralizou em um grupo de 48 crianças com idade entre 10 e 15 anos,


momento de transição da infância para a adolescência, e em suas respectivas mães.
Todas haviam sido encaminhadas ao Ambulatório de Psicologia Infantil por
apresentarem queixa de dificuldade de aprendizagem, passaram por avaliação e
atendimento psicopedagógico, e receberam alta clínica nos anos de 1998 e 1999.

As crianças foram chamadas para o encontro de seguimento, realizado durante os


anos de 2000 e 2001, em que a situação atual dos participantes foi associada com
características pessoais relatadas por ocasião do atendimento. A seleção de
participantes se baseou em entrevistas com mães, na classificação de recursos e
dificuldades de cada criança, numa escala comportamental infantil denominada "A-2
Rutter" e nos prontuários, que forneceram informações sobre as relações de cada
participante com adultos e crianças.

A partir daí, três grupos foram criados. O primeiro foi formado por crianças sociáveis,
que respeitam regras e normas e relacionam-se bem com adultos e crianças; o
segundo grupo foi constituído pelas que têm dificuldades para respeitar regras e
normas, se relacionar e apresentaram agressividade; e o terceiro e último grupo,
considerado intermediário, com crianças de características mistas, que não se
encaixavam nos demais.

No acompanhamento das crianças, foram realizadas entrevistas com elas e com suas
mães, onde se buscou analisar o autoconceito de cada uma, questionários de
investigação de apoio social para a família foram preenchidos e testes de avaliação de
desempenho escolar foram feitos.

As crianças mais sociáveis apresentaram um autoconceito melhor e mantiveram os


ganhos adquiridos com o atendimento psicopedagógico, pois encontram-se bem na
escola e nos relacionamentos com amigos e familiares. Por sua vez, as crianças do
segundo grupo tiveram uma avaliação negativa de seu autoconceito, atribuindo a si
problemas de comportamento e causa de tristeza dos pais, além de menos recursos
para a aprendizagem. Possuem baixo senso de auto eficácia, problemas de atenção,
agressividade e são muito ansiosas. Apesar de terem apresentado melhora com o
atendimento psicopedagógico, anos depois voltaram a ter dificuldades na escola, com
os amigos e a família.

Realização escolar
Segundo Marli, uma ajuda pontual centrada na realização escolar seria suficiente para
crianças com o perfil do grupo de crianças sociáveis seguirem o curso normal de seu
desenvolvimento. "As autopercepções positivas das crianças as ajudam a enfrentar
diferentes situações, gerando maior motivação para novas experiências de
aprendizagem e relacionamento", diz.

Já as crianças com dificuldades nas relações interpessoais, por avaliarem de forma


negativa suas possibilidades, fortalecem ainda mais problemas de comportamento e o
prejuízo para sua saúde mental. "Enquanto essas crianças recebem o apoio
psicopedagógico, o suporte faz com que elas consigam se colocar melhor na escola",
explica a pesquisadora. "Mas, quando isso é retirado, elas voltam a apresentar
dificuldades, inclusive no contexto familiar, onde os relacionamentos prosseguem
marcados por conflitos".

Avaliadas por seus professores como incompetentes no desempenho escolar,


entretanto as crianças classificadas no terceiro grupo foram consideradas competentes
nas tarefas relacionadas à sociabilidade. Isso porque, na percepção das mães, eram
crianças capazes de seguir normas do grupo social, que tinham vários amigos e se
relacionavam bem com eles, com seus professores e familiares".

Segundo a psicóloga, é preciso proporcionar à criança, desde cedo, um ambiente que


tenha regras claras vindas de pais firmes sobre a rotina de seu lar. "É importante que
ela participe das tarefas do lar, que tenha pequenos deveres e aprenda a se organizar.
A regularidade de horários para rotinas básicas como alimentação e higiene pessoal
contribuem para a construção do seu senso de organização, fundamental para a vida
em sociedade."

 
Mais informações:(0XX16) 602-3517, ou e-mail marli_silvacampos@hotmail.com

Agência USP de Notícias


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