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MOREIRA,T. Pessoa.¹.
Resumo
Neste ensaio será retratado como a obra Indianista, Iracema, de José de Alencar, camufla a
imagem da mulher indigena real, forte, inteligente e símbolo de resistência por uma imagem
idealizada de fragilidade emocional e submissão\endeusamento ao homem branco.
Considerações Iniciais
Desenvolvimento
Podemos observar no trecho a seguir que, não apenas a mulher, mas os homens
também tinham a visão do colonizador como superior, que estava acima até mesmo de seu
próprio povo. “ - Se a virgem abandonou ao guerreiro branco a flor de seu corpo, ela morrerá;
mas o hóspede de Tupã é sagrado; (...) - O coração de Iracema está como o abati n'água do
rio, ninguém fará mal ao guerreiro branco na cabana de Araquém.” (ALENCAR, 2021. p.51).
Na passagem Iracema fala que está extremamente feliz por poder morrer, caso entregue sua
castidade a Martim, e que ninguém o machucará por isso, mostrando assim que, o não
indigena tinha total controle sobre ela, e que a mesma, mostraria total obediência a tudo que o
guerreiro branco lhe pedisse, em nome do amor.
Outro ponto importante a ser observado é, como o amor de Iracema por Martim estava acima
não só dela mesma mas de seu próprio povo.
Na passagem é deixado claro que Iracema matará seu irmão Caubi, caso o mesmo
tente ferir Martim, tanto para protegê-lo quanto para que ele não suje as mãos de sangue,
tentando novamente fazer com que o homem branco tenha uma imagem dominante e que a
virgem tenha uma imagem de submissão, onde o amor dela ultrapassa quaisquer ligações de
sangue, já que era claro a devoção de Iracema pelo guerreiro branco de sangue europeu.
Irapuã, chefe dos Tabajaras menciona: “(...) quando o sangue do guerreiro branco correr nas
veias do chefe tabajara, talvez o ame a filha de Araquém.” (ALENCAR, 2021. p.37), Martim
era tão protegido por todos da taba, principalmente pela virgem, que fez com que seu
inimigo, Irapuã, quisesse ser branco também, apenas para cogitar ter o amor de Iracema.
Através dos pontos destacados durante todo o ensaio, é possível observar que a obra
indianista de José de Alencar apresenta sua primeira protagonista feminina como um
indivíduo submisso a toda a superioridade do homem branco em nome do amor, vendendo a
fantasia de um Brasil colonial idealizado, onde a relação entre a mulher originária e o
colonizador é baseada no amor excessivo, subalterno, que beira quase a relação
escrava/senhor de engenho: “- Senhor de Iracema, ouve o rogo de tua escrava;” (ALENCAR,
2021. p.79.), camuflando toda a real história de dor, sofrimento e resistência das mulheres
originárias.
Elas e tantas outras mulheres originárias, lutam por seus lugares de fala diante de uma
sociedade fantasiosa que acredita que os "índios" são seres brutos mas ao mesmo tempo
inocentes ou que todas as mulheres indígenas são “bem feitas”, “redondas”, como expressa
Caminha. Falas como, “todos os indígenas andam nus” ou “todos os índios moram em ocas”,
implementando que a cultura indigena seja generalizada, excluindo assim, crenças específicas
fazendo com que se crie uma imagem de diversidade superficial, que de certa forma a obra de
José de Alencar ajudou a construir.
Referências Bibliográficas
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INDIANISTA À LITERATURA INDÍGENA: SOBRE A IMAGEM, O LUGAR E O
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