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| VERUM DOCTRINA 4. Como Receber a Eucaristia?

Como Receber a Eucaristia?


(Luciano Vernieri S. Júnior)

A Instrução Redemptionis Sacramentum (2004), nos números 91 e 92, traz a


seguinte afirmação:

“91. Na distribuição da sagrada Comunhão se deve recordar que ‘os ministros


sagrados não podem negar os sacramentos a quem os pedem de modo
oportuno, e estejam bem dispostos e que não lhes seja proibido o direito de
receber’. Por conseguinte, qualquer batizado católico, a quem o direito não o
proíba, deve ser admitido à sagrada Comunhão. Assim pois, não é lícito negar
a sagrada Comunhão a um fiel, por exemplo, só pelo fato de querer receber a
Eucaristia ajoelhado ou de pé.

92. Todo fiel tem sempre direito a escolher se deseja receber a sagrada
Comunhão na boca ou se, o que vai comungar, quer receber na mão o
Sacramento. Nos lugares aonde Conferência de Bispos o haja permitido, com a
confirmação da Sé apostólica, deve-se lhe administrar a sagrada hóstia. Sem
dúvida, ponha-se especial cuidado em que o comungante consuma
imediatamente a hóstia, na frente do ministro, e ninguém se desloque (retorne)
tendo na mão as espécies eucarísticas. Se existe perigo de profanação, não se
distribua aos fiéis a Comunhão na mão”.

O fiel possui o direito subjetivo perante a forma de comungar, subtraindo,


assim, o direito de alguém o obrigar a fazê-lo de apenas uma forma. Ordinariamente
se pode optar receber a Sagrada Eucaristia por três formas, sendo, de joelhos e na
boca, em pé e na boca, ou em pé e na mão. Não se pode, por exemplo, afirmar qual a
melhor forma de comungar, pois para alguns a comunhão de joelhos evoca piedade
eucarística, assim como, em pé eleva-se a característica do dom que recebemos.

A Instrução Geral do Missal Romano (2002), nos números 160 e 161, fala a
respeito da forma, dos gestos e das possibilidades e proibições na recepção da
Hóstia Consagrada:

“160. O sacerdote toma, então, a patena ou o cibório e se aproxima dos que vão
comungar e que normalmente se aproximam em procissão.

Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado nem
o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si. Os fiéis
comungam ajoelhados ou de pé, conforme for estabelecido pela Conferência dos
Bispos Se, no entanto, comungarem de pé, recomenda-se que, antes de receber
o Sacramento, façam a devida reverência, a ser estabelecida pelas mesmas
normas.

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161. Se a comunhão é dada sob a espécie do pão somente, o sacerdote mostra a


cada um a Hóstia um pouco elevada, dizendo: O Corpo de Cristo. Quem vai
comungar responde: Amém, recebe o Sacramento, na boca ou, onde for
concebido, na mão, à sua livre escolha. O comungante, assim que recebe a Santa
Hóstia, consume-a inteiramente”.

A Instrução Geral do Missal Romano (2002) continua falando a respeito da


recepção da Eucaristia, entretanto, neste caso, a respeito da recepção pelas duas
espécies, isto é, do Pão e do Vinho consagrados, a partir dos números 284 a 287:

“284. Quando a Comunhão é dada sob as duas espécies

a) quem serve ao cálice é normalmente o diácono, ou, na sua ausência, o


presbítero; ou também o acólito instituído ou outro ministro extraordinário da
sagrada Comunhão; ou outro fiel a quem, em caso de necessidade, é confiado
eventualmente este ofício;

b) o que por acaso sobrar do precioso Sangue é consumido ao altar pelo


sacerdote, ou pelo diácono, ou pelo acólito instituído, que serviu ao cálice e,
como de costume, purifica, enxuga e compõe os vasos sagrados.

Aos fiéis que, eventualmente, queiram comungar somente sob a espécie de pão,
seja-lhes oferecida a sagrada Comunhão dessa forma.

285. Para distribuir a Comunhão sob as duas espécies, preparem-se:

a) quando a Comunhão do cálice é feita tomando diretamente do cálice,


prepare-se um cálice de tamanho suficiente ou vários cálices, tendo-se sempre
o cuidado de prever que não sobre mais do Sangue de Cristo do que se possa
tomar razoavelmente no fim da celebração;

b) quando a Comunhão se realiza por intinção, as hóstias não sejam demasiado


finas nem pequenas, mas um pouco mais espessas que de costume, para que
possam ser distribuídas comodamente depois de molhadas parcialmente no
Sangue.

286. Se a Comunhão do Sangue se faz bebendo do cálice, o comungando, depois


de ter recebido o Corpo de Cristo, aproxima-se do ministro do cálice e fica de pé
diante dele. O Ministro diz: O Sangue de Cristo; o comungando responde:
Amém, e o ministro lhe estende o cálice, que o próprio comungando, com as
mãos, leva à boca. O comungando toma um pouco do cálice, devolve-o ao
ministro e se retira; o ministro, por sua vez, enxuga a borda do cálice com o
purificatório.

287. Se a Comunhão do cálice é feita por intinção, o comungando, segurando a


patena sob a boca, aproxima-se do sacerdote, que segura o vaso com as
sagradas partículas e a cujo lado tem o ministro sustentando o cálice. O

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sacerdote toma a hóstia, mergulha-a parcialmente no cálice e, mostrando-a,


diz: O Corpo e o Sangue de Cristo; o comungando responde: Amém, recebe do
sacerdote o Sacramento, na boca, e se retira.

Nota-se que tanto na recepção sob uma ou duas espécies, o comungando


recebe a Eucaristia, jamais tomando ele próprio em suas mãos e muito menos
tomando ele próprio a Hóstia e a mergulhando no Vinho consagrado.

A recepção da Eucaristia na mão é antiquíssima, como remonta essa


belíssima catequese, do século IV, de São Cirilo de Jerusalém (313-386):

“Ao te aproximares [da comunhão], não vás com as palmas das mãos
estendidas, nem com os dedos separados; mas faze com a mão esquerda um
trono para a direita como quem deve receber um Rei e no côncavo da mão
espalmada recebe o corpo de Cristo, dizendo: ‘Amém’. Com segurança, então,
santificando teus olhos pelo contato do corpo sagrado, toma-o e cuida de nada
se perder. Pois se algo perderes é como se tivesses perdido um dos próprios
membros. Dize-me, se alguém te oferecesse lâminas de ouro, não as guardarias
com toda segurança, cuidando que nada delas se perdesse e fosses prejudicado?
Não cuidarás, pois, com muito mais segurança de um objeto mais precioso que
ouro e pedras preciosas, para dele não perderes uma migalha sequer? (São Cirilo
de Jerusalém, Catequese Mistagógica, V, 21, Tradução de Frei Frederico Vier, O.F.M.)

Neste sentido, cabe ressaltar a importância do cuidado para que nada se


perca, pois em cada fragmento da Hóstia Consagrada está perfeitamente e
completamente a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, ao comungar
na mão, se deve ter o cuidado de observar e manducar os pequenos fragmentos que
ficam na palma da mão, de modo a não profanar o Corpo de Cristo. Ratificando, a
respeito da presença de Cristo em cada fragmento, Santo Tomás de Aquino, na Suma
Teológica IIIa, na Questão 76, art. 3º, cita Santo Agostinho que diz que “Cada qual
recebe a Nosso Senhor Jesus Cristo que está todo em cada uma das partes nem fica
diminuído por estar em cada uma, mas ao contrário da se todo em cada uma delas”. O
Doutor Angélico continua afirmando de forma mais clara essa presença real em cada
fragmento:

“No Sacramento da Eucaristia, em virtude das palavras da instituição, as


espécies simbólicas se mudam em corpo e sangue; seus acidentes subsistem no
sujeito; e nele, pela consagração, sem violação das leis da natureza, o Cristo
único e inteiro existe Ele próprio em diversos lugares, assim como uma voz é
ouvida e existe em vários lugares, continuando inalterado e permanecendo
inviolável quando dividido, sem sofrer diminuição alguma. Cristo, de fato, está
inteira e perfeitamente em cada e em todo fragmento de hóstia, assim como as
aparências visíveis que se multiplicam em centenas de espelhos”. (Summa
Theologiae, IIIa, q. 79).

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Cresce de importância o cuidado para com as espécies eucarísticas, devido ao


perigo da profanação, muitas vezes fora aconselhado a recepção da comunhão na
boca, pois nessa forma dificulta a perda de fragmentos, ou, até mesmo, que a pessoa
que recebe a Eucaristia na mão ao invés de manducá-la, finja que comungou e
profane a Eucaristia.

Diferentemente da comunhão na mão, a recepção da Eucaristia na boca, de


joelho ou em pé, evita que haja a profanação, seja de partículas, ou da Hóstia como
um todo. Contudo, indo além desses sentidos, caberá uma breve explanação a
respeito da devoção que cada fiel possa ter na recepção deste sublime Sacramento.

A recepção da Hóstia consagrada em pé e na mão seja como alguém que


recebe um dom, a mão esquerda como um trono à receber o Rei dos reis, a vênia
antes de recebe-lo, o cuidado a conduzir o Corpo do Senhor, diante do ministro, à
boca, evitando que fique na mão esquerda, ou caia no chão, pequenos fragmentos da
Hóstia consagrada, onde está plenamente o Corpo e Sangue do Senhor. A comunhão
em pé e na boca deve seguir os mesmos passos da recebida na mão, contudo, neste
caso, se evita que na mão fique aqueles pequenos fragmentos. Enquanto a comunhão
de joelhos e na boca, reflete a piedade eucarística, o gesto de adoração perante o
Corpo do Senhor, pois antes de recebermos o Corpo e o Sangue de Cristo se faz
necessário adorá-lo, nisto, o Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum
Caritatis (2007), no número 66, afirmara:

“66. Um dos momentos mais intensos do Sínodo vivemo-lo quando fomos à


Basílica de São Pedro, juntamente com muitos fiéis, fazer adoração eucarística.
Com aquele momento de oração, quis a assembleia dos bispos não se limitar às
palavras na sua chamada de atenção para a importância da relação intrínseca
entre a celebração eucarística e a adoração. Neste significativo aspecto da fé
da Igreja, encontra-se um dos elementos decisivos do caminho eclesial que se
realizou após a renovação litúrgica querida pelo Concílio Vaticano II. Quando
a reforma dava os primeiros passos, aconteceu às vezes não se perceber com
suficiente clareza a relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do
Santíssimo Sacramento; uma objeção então em voga, por exemplo, partia da
ideia que o pão eucarístico nos fora dado não para ser contemplado, mas
comido. Ora, tal contraposição, vista à luz da experiência de oração da Igreja,
aparece realmente destituída de qualquer fundamento; já Santo Agostinho
dissera: ‘Nemo autem illam carnem manducat, nisi prius adoraverit; (...)
peccemus non adorando – ninguém come esta carne, sem antes a adorar; (...)
pecaríamos se não a adorássemos’. De facto, na Eucaristia, o Filho de Deus vem
ao nosso encontro e deseja unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o
prolongamento visível da celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior
ato de adoração da Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude
de adoração d'Aquele que comungamos. Precisamente assim, e apenas assim, é
que nos tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos

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antecipadamente a beleza da liturgia celeste. O ato de adoração fora da Santa


Missa prolonga e intensifica aquilo que se fez na própria celebração litúrgica.
Com efeito, ‘somente na adoração pode maturar um acolhimento profundo e
verdadeiro. Precisamente neste ato pessoal de encontro com o Senhor
amadurece depois também a missão social, que está encerrada na Eucaristia e
deseja romper as barreiras não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas
também, e sobretudo, as barreiras que nos separam uns dos outros’”.

Essa adoração diante do Corpo de Cristo é contemplada diante da recepção


de joelhos da Eucaristia de modo que a uma entrega do fiel diante do Sacramento.
No sentido do zelo pela Sagrada Comunhão, São João Paulo II, na encíclica Ecclesia
de Eucharistia (2003), no número 61, afirma:

“Dando à Eucaristia todo o realce que merece e procurando com todo o cuidado
não atenuar nenhuma das suas dimensões ou exigências, damos provas de estar
verdadeiramente conscientes da grandeza deste dom. A isto nos convida uma
tradição ininterrupta desde os primeiros séculos, que mostra a comunidade
cristã vigilante na defesa deste ‘tesouro’. Movida pelo amor, a Igreja preocupa-
se em transmitir às sucessivas gerações cristãs a fé e a doutrina sobre o mistério
eucarístico, sem perder qualquer fragmento. E não há perigo de exagerar no
cuidado que lhe dedicamos, porque, ‘neste sacramento, se condensa todo o
mistério da nossa salvação’.

Concluindo essa breve explicação a respeito da recepção do Sacramento da


Eucaristia se faz importante tecer alguns pontos relevantes como a piedade diante
de tão grande mistério, a aproximação para a recepção do Corpo do Senhor, não
como que uma obrigação, mas no reconhecimento da tamanha grandeza do Deus
que se fez homem e a pequenez do homem diante desse mistério. Seja na mão ou na
boca, de joelhos ou em pé, se deve sempre observar o zelo na recepção e cuidando
para que nada se perca.

Referências:

1. Instrução Redemptionis Sacramentum


2. Instrução Geral do Missal Romano
3. Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis
4. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia

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