Você está na página 1de 12

IV EREEC

Teresina - PI
15 a 17 de agosto de 2018

DRENAGEM URBANA: POÇOS DE INFILTRAÇÃO COMO ALTERNATIVA


DE DRENAGEM DE ÁGUAS PLUVIAIS EM UM CONJUNTO RESIDENCIAL

Sandro Almeida Paz Filho (sandropaz.engenheirocivil@gmail.com)


Rebeka Manuela Lobo Sousa (rebekamanuela@yahoo.com)
Paulo Vítor de Sá Nery (pvitor_95@hotmail.com)
Francisco Henrique de Sousa Filho (henriquelpc12@gmail.com)
Laydson Moura Fernandes Amorim (laydsonmoura@hotmail.com)

Resumo: Este artigo tem por objetivo apontar como o uso de poços de infiltração como alternativa de sistema de drenagem
de águas pluviais pode gerar uma redução de escoamento superficial gerado em períodos de chuva. A abordagem da pesquisa
utilizada foi quantitativa, quanto à natureza da pesquisa é do tipo aplicada com estudo de caso e quanto ao procedimento é uma
pesquisa documental. A técnica utilizada para o levantamento das informações foi a análise de mapas do município de Teresina
- PI juntamente com manuais de drenagem e métodos de dimensionamento. Com isso, foi expresso como poços de infiltração
contribuem pra redução de escoamento superficial. Os principais resultados encontrados são que para a área de estudo teriam
que ser implantados 93 poços de infiltração e fazendo uma análise com a chuva média de Teresina foi obtido que os poços de
infiltração reduziriam em cerca de 45% o escoamento de água gerado no condomínio. As considerações finais indicam que a
presente pesquisa apresenta como limitação o fato de encontrar alguns dados relevantes para a pesquisa, porém pode ser utilizada
para embasamento de novas pesquisas com a aplicação prática dos poços de infiltração como alternativa de drenagem de águas
pluviais em um conjunto residencial.
Palavras-chave: Poços de infiltração. Drenagem urbana. Escoamento superficial.

INTRODUÇÃO

O presente artigo está inserido na área de pesquisa da Engenharia Civil denominado por Sistema de Esgoto
e Drenagem e apresenta como tema drenagem urbana: poços de infiltração como alternativa de drenagem de águas
pluviais em um conjunto residencial. A motivação da pesquisa foi expor a importância do dimensionamento de al-
ternativas de sistemas de drenagem urbana para garantir a saúde e a redução de incômodos gerados pelas chuvas.
Nas áreas urbanas, onde o elevado índice de impermeabilização das pequenas bacias hidrográficas e a
insuficiência dos coletores pluviais promovem o desenvolvimento natural de inundações rapidamente. Portan-
to a pesquisa trará possível solução, de modo que seja relatado como a existência e aplicação de um projeto
de drenagem possa interferir positivamente para a prevenção de inundações e para a remediação daquelas que
forem inevitáveis devido à grande quantidade de precipitação aliada a baixa permeabilidade do solo já presen-
te no local (CUNHA et al., 2012).
Atualmente, o aumento populacional mundial juntamente com as mudanças climáticas leva à reflexão
quanto ao que é possível fazer, com relação a inundações, contribuindo, de modo inferencial, para a redução
das consequências de possíveis catástrofes de tal forma que possam ser amenizadas ou até mesmo evitadas.
Identificando o número de poços de infiltração necessários para reduzir o escoamento superficial de uma região
pode-se fazer com que problemas relacionados tanto ao solo local, propício a eventos de segregação de cama-
das, quanto à população que sofre com a mobilidade, devido a vias interrompidas, ou problemas mais graves,
por exemplo acidentes fatais, sejam evitados (RIBEIRO et al., 2014).
A partir de tal problemática, o objetivo do estudo é apontar como o uso de poços de infiltração como al-
ternativa de sistema de drenagem de águas pluviais pode gerar uma redução de escoamento superficial gera-

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 253


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

do em períodos de chuva. A abordagem da pesquisa utilizada foi quantitativa, quanto à natureza da pesquisa é
do tipo aplicada com estudo de caso e quanto ao procedimento é uma pesquisa documental. A técnica utiliza-
da para o levantamento das informações foi a análise de mapas do município de Teresina - PI juntamente com
manuais de drenagem e métodos de dimensionamento.

1. CICLO HIDROLÓGICO

Entende-se como ciclo hidrológico a interação de águas superficiais, como rios lagos e mares, com a at-
mosfera sempre agindo de forma cíclica movida pela gravidade e mantido pela energia solar. Esse ciclo é com-
posto por várias etapas, dentre elas precipitação, infiltração e escoamento superficial.
As precipitações, água oriunda do meio atmosférico, quando intensas ou máximas geram grandes esco-
amentos superficiais, portanto estudar como a chuva se comporta em uma região é de suma importância para
que dessa forma catástrofes sejam evitadas. Segundo Canholi (2014), deve-se prever as vazões máximas que
a bacia hidráulica é capaz de suportar, para que um projeto de drenagem urbana possa atuar de maneira eficaz.
O processo de infiltração corresponde ao momento em que a água percorre os vazios do solo podendo
dessa maneira fazer recarga dos aquíferos subterrâneos, auxiliar no crescimento de vegetações, dentre outros
(DIAS et al., 2015). Esse procedimento ocorre por meio da gravidade, porém ações de origem natural ou an-
trópica podem interromper essa etapa, já que o tipo de solo e o seu uso influenciam na permeabilidade do meio
que deveria atuar como filtro.
A água precipitada que não infiltra se transforma em água de escoamento superficial. Em projetos de
drenagem urbana é adotado um coeficiente de escoamento superficial, denominado C, estimado com base nas
características da bacia hidrográfica da região de estudo, esse coeficiente em áreas urbanas podem variar, co-
mo mostra a tabela a seguir.

Tabela 1. Valores de C por tipo de ocupação


DESCRIÇÃO DA ÁREA C
Área Comercial/ Edificação muito densa:
Partes centrais, densamente construídas, em cidade com ruas e calçadas pavimentadas 0,70 - 0,95
Área Comercial/ Edificação não muito densa:
Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitações, mas com ruas e calçadas pavimentadas 0,60 - 0,70
Área Residencial:
Residências isoladas; com muita superfície livre 0,35 - 0,50
Unidades múltiplas (separadas); partes residenciais com ruas macadamizas ou pavimentadas 0,50 - 0,60
Unidades múltiplas (conjugadas) 0,60 - 0,75
Lotes com > 2.000 m² 0,30 - 0,45
Áreas com apartamentos 0,50 - 0,70
Área industrial:
Industrias leves 0,50 - 0,80
Industrias pesadas 0,60 - 0,90
Outros:
Matas, parques e campos de esporte, partes rurais, áreas verdes, superfícies arborizadas e parques ajardinados 0,05 - 0,20
Parques, cemitérios, subúrbio com pequena densidade de construção 0,10 - 0,25
Playgrounds 0,20 - 0,35
Pátios ferroviários 0,20 - 0,40
Áreas sem melhoramentos 0,10 – 0,30
Fonte: ADAPTADO DE ASCE, 1969; WILKEN, 1978.

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 254


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

2. INTERFERÊNCIA DA URBANIZAÇÃO NO CICLO HIDROLÓGICO

O aumento populacional desordenado não foi seguido de um planejamento ou melhorias de infraestrutu-


ra para comportar esse crescimento. A conduta da humanidade foi negligente quanto aos impactos provocados
ao meio ambiente, muitas vezes ocasionando expansão da cidade para áreas de risco, assentamentos urbanos
inadequados, derrubada de matas, alteração do clima urbano, dentre outros (SCARLATO, 1999).
Seguindo uma linha de raciocínio tem-se que, com o crescimento nos centros urbanos gerou-se uma
massa de ar quente fazendo com que o clima sofresse alterações, portanto resultando em índices pluviométri-
cos cada vez maiores. Com a pavimentação e compactação do solo, a taxa de infiltração se tornou mínima ou
nula, produzindo dessa forma grandes escoamentos de água superficial.
Um hidrograma é a resposta da bacia hidrográfica em função de suas características fisiográficas que re-
gem as relações entre a chuva e o escoamento. O aumento da vazão em áreas urbanizadas podem ser sintetiza-
das de acordo com o hidrograma abaixo.

Gráfico 1.
Hidrograma de bacia rural antes e
depois de urbanizada

Fonte: TUCCI, 2008.

Como mostrado no Gráfico 1, nas áreas urbanas apresentam uma vazão maior em um curto período de
tempo, enquanto nas áreas não urbanizadas a vazão ainda é pequena em um tempo maior. São inúmeras as al-
terações provocadas no ciclo hidrológico devido o processo de urbanização, dentre elas, as mais conhecidas
estão relacionadas ao aumento da precipitação, devido as atividades humanas nas cidades produzirem maior
número de núcleos de condensação, diminuição da evapotranspiração, como consequência da retirada da ve-
getação e a diminuição da infiltração da água como resultado da impermeabilização e compactação do solo
(MOTA, 2003).
Portanto percebe-se que o processo de urbanização aliado com a intervenção antrópica sem os devidos
planejamentos e gestão da bacia em ocupação, traz grandes complicações para gestão de águas urbanas (MO-
TA, 2003).

3. DRENAGEM URBANA

A drenagem pluvial pode ser considerada como um conjunto de elementos que quando interligados em
um sistema são responsáveis por recolher a água precipitada em uma região conduzindo à um destino final de
maneira segura. Diante desse conceito, foram criados manuais, planos diretores e leis para auxiliar os profis-
sionais a elaborar projetos cada vez mais eficientes (MIGUEZ; VERÓL; REZENDE, 2015).
As medidas que podem ser adotadas de drenagem urbana dividem-se em duas, as não estruturais e as
estruturais. As medidas não estruturais são tidas como de âmbito social onde atuam em sua maioria de manei-
ra preventiva. Essas medidas são por meio de programas de alerta, leis, fiscalizações, dentre outros. Segundo
Canholi (2014), as principais medidas não estruturais adotadas na atualidade são:
y Ações de regulamentação do uso e ocupação do solo – Onde são delimitadas as áreas sujeitas a inun-
dação e destinando-as a praças, parques e estacionamentos;
y Educação ambiental – Onde o principal foco é a redução do lixo urbano e erosão do solo em algu-
mas áreas;

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 255


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

y Sistemas de alerta e previsão de inundações – Facilitam ações de isolamento de áreas, desviando o


tráfego e retirando as pessoas de áreas de risco;
y Recuperação de matas ciliares – Que ajudam no processo de captação de água precipitada e reduzem
a velocidade do escoamento.

De acordo com Enomoto (2000), as medidas estruturais não são projetadas para dar uma proteção com-
pleta, pois isso exigiria uma proteção contra a maior enchente possível. Porém o controle da drenagem urbana
na maioria das cidades fazem uso de sistemas clássicos, onde são constituídos por dois conjuntos de estruturas,
conhecidas como microdrenagem e macrodrenagem. Além dos sistemas clássicos de drenagem urbana, como
medidas estruturais tem-se as técnicas compensatórias.
As técnicas compensatórias procuram analisar os impactos da urbanização de forma global, tendo em
vista, o estudo da própria bacia hidrográfica, compensando os efeitos da urbanização de modo que se tenha o
controle do escoamento produzido pelas áreas impermeabilizadas, evitando, portanto, a rápida transferência
para jusante (BAPTISTA; NASCIMENTO; BARRAUD, 2005).
Dentre as técnicas compensatórias mais usadas no Brasil destacam-se a aplicação das seguintes:
y Telhados Verdes: esse dispositivo é a concordância da estrutura do telhado da edificação com a cama-
da de solo e vegetação e se apresenta como uma ótima alternativa no que se refere aos requisitos de sustentabi-
lidade. Por sua vez um telhado verde possibilita a diminuição do escoamento superficial nos centros urbanos,
como também melhoria térmica.
y Pavimentos permeáveis e semipermeáveis: são definidos como pavimentos com superfícies dotadas
de vazios, que permitem a infiltração de grande parte da água das chuvas para o solo, ou mesmo a percolação
da água para algum sistema de drenagem auxiliar localizado abaixo do mesmo.
y Trincheiras de infiltração: constitui-se de uma escavação geralmente retangular no solo, preenchida
com material granular, apresentando porosidade em torno de 30% a 50%, geralmente pedra de mão, seixos ou
brita, em que a paredes e fundo das valas, são revestidas por uma membrana geotêxtil.
y Poços de infiltração: é um poço escavado no solo onde suas principais funções são a captação do es-
coamento superficial melhorando o nível de infiltração no local e o abastecimento dos aquíferos.

4. POÇOS DE INFILTRAÇÃO

O poço de infiltração é um dispositivo conhecido pelo seu sistema de “controle na fonte” de águas su-
perficiais. O sistema de controle na fonte é uma metodologia que visa controlar o escoamento superficial no
meio urbano, a partir do seu de ponto de origem ou fonte. Desta forma, a água proveniente das chuvas em vez
de provocar grandes escoamento nas vias urbanas, passam a ser descarregada gradualmente de volta no cor-
po d’água receptor ou no aquífero simulando processos naturais. Os métodos de controle na fonte podem ser
divididos em duas principais categorias: sistemas de infiltração e sistemas de retenção. Dentro do sistema de
infiltração está incluso uma variedade de técnicas, indo desde pavimentos porosos até poços de infiltração pro-
fundo (GOMES, 2005).
O sistema de controle na fonte apresenta uma série de vantagens: como a infiltração e a recarga de aquí-
feros ajudam a manter as fontes de águas subterrâneas; rápidas descargas de grandes volumes gerando baixa
qualidade de água são evitadas e além disso, constituem um meio de controlar inundações. Um questionamen-
to que se tem feito é a respeito do provável conflito entre promover a infiltração e garantir a qualidade da água.
Diante disso, sempre que se optar pela aplicação desde método de controle, deve-se levar em conta os aspec-
tos quantitativos e qualitativos dos recursos hídricos, havendo a necessidade de ambos estarem relacionados, é
muito importante que a qualidade das águas subterrâneas não seja comprometida. Um padrão elevado de pre-
venção de poluição deve ser considerado na aplicação de qualquer técnica de controle na fonte, que utilize o
processo de infiltração, como ilustra a Figura 1(GOMES, 2005).

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 256


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

Figura 1. Sistema de água pluvial integrado ao sistema de poços de infiltração

Fonte: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2014.

Um poço de infiltração estruturado em pequeno fosso em que o seu interior é preenchido com casca-
lho ou brita. Sua funcionalidade consiste em armazenar e propiciar uma lenta infiltração das águas no terre-
no e sua aplicação está extremamente envolvida na captação das águas de chuva provenientes de telhados de
edificações. Os poços de infiltração se destacam entre as medidas estruturais compensatórias de drenagem de
aguas pluviais, devido principalmente, a pequena necessidade área para sua execução. Outro motivo é que es-
te dispositivo de drenagem, efetua sua função na fonte geradora de escoamento, infiltrando parte do volume
das águas pluviais e amortecendo os picos de escoamentos das áreas em que o mesmo são implantados. Este
dispositivo tem um papel importante, pelo fator de reabastecer a água no lençol subterrâneo, recebendo nor-
malmente duas nomenclaturas, respectivamente poços de absorção e poços de injeção (BAPTISTA; NASCI-
MENTO; BARRAUD, 2005).

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O conjunto residencial escolhido, condomínio Mario Lago, para o estudo de caso fica localizado no
Bairro Portal da Alegria na região Sul do município de Teresina - PI, com as seguintes coordenadas geográfi-
cas 5º11’14,9” S e 42º44’10.0” W (ou -5.1874606,-42.7361027). Esse conjunto residencial tem área total de
7.811,47 m ² composto por 7 blocos com 16 apartamentos por blocos, onde cada bloco apresenta uma área de
cobertura de aproximadamente 465,55m².
Através do mapa de drenagem de 2011 disponível no site da SEMPLAN de Teresina Piauí, notou-se que
a macrobacia correspondente ao local estudado é a PE-31, esta sub-bacia corresponde à região de cabeceira de
uma bacia maior, que aflui ao Rio Poti em sua margem esquerda. Possui uma área de 10,386 km² e um tempo
de concentração de 19,19 minutos. O tempo de concentração é o tempo necessário para que toda a área da ba-
cia contribua para o escoamento superficial na secção de saída. De acordo com o plano diretor de drenagem
urbana de Teresina, a sub-bacia PE-31, localiza-se em uma região de gradiente topográfico relativamente ín-
greme, com cotas que variam dos 155 m, apresentando um formato oval, coeficiente de compacidade de 1,26 e
uma das maiores áreas de drenagem da região, com cerca de 1.038,62 ha. Estes parâmetros indicam que a ba-
cia apresenta pequena tendência às inundações (TERESINA, 2012).

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 257


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

Com a análise do mapa topográfico do município de Teresina, apresentado na Figura 2 a seguir, obser-
vou-se que o local de estudo, apresenta cota montante de 95.56 m e cota a jusante de 91.41 m, portanto uma
inclinação de 1,84%. A declividade encontrada pode ser considerada relativamente baixa, favorecendo pontos
de alagamento dentro do condomínio. Verificou-se também a ausência dos dispositivos de drenagem dentro
do condomínio, consequência critica disso, é que em vários pontos, as calçadas se comportam como barreiras
para o escoamento superficial das águas pluviais, necessitando que estas águas alcancem uma certa altura para
conseguir verter, quando isso não acontece, acarreta em enormes poças d’água, provocando grande desconfor-
to aos moradores locais.

Figura 2. Curvas de nível da área de estudo

Fonte: Adaptado de Perímetro Urbano Geral, 2018.

Como já mencionado, na visita in loco pôde-se observar a ausência de um sistema de drenagem. Foram
encontrados pontos de passagem improvisados pelos moradores e tubulações utilizadas para facilitar o fluxo de
água pelas calçadas, porém não foram dimensionadas ou projetadas para tal função, o que faz com que o pro-
blema de alagamentos próximos as calcadas não sejam totalmente eliminados. Ao procurar os órgãos respon-
sáveis por obras de infraestrutura nessa região, foi informado que há projetos de drenagem, com galerias, para
o bairro, porém por custar um valor muito alto, o Estado declara inviabilidade de execução.

6. MÉTODO RACIONAL PARA DIMENSIONAMENTO DO NÚMERO DE POÇOS DE INFILTRAÇÃO

De acordo com Tucci (1995) é o método racional é mais o comumente utilizado para encontrar a vazão
de pico. Foi apresentado pela primeira vez em 1851 por Mulvaney e usado nos Estados Unidos por Emil Kui-
chling em 1889 e estabelece uma relação entre a chuva e o escoamento superficial. O nome método Racional
é para contrapor os métodos antigos que eram empíricos e não eram racionais. É usado para calcular a vazão

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 258


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

de pico de uma determinada bacia, considerando uma seção de estudo. Na Inglaterra Lloyd-Davies fez méto-
do semelhante em 1850 e muitas vezes o método Racional é chamado de Método de Lloyd-Davies. A chamada
fórmula racional é a seguinte:

Qa = 0,278 C.I.A (Eq. 1)

Sendo:
Qa = Vazão de pico ou vazão máxima (m³ /s);
C = Coeficiente de escoamento superficial varia de 0 a 1, encontrado através da Tabela 1;
I = Intensidade média da chuva (mm/h);
A = Área total do lote (km²).

A intensidade pluviométrica (I) é calculada utilizando-se a curva I-D-F (Intensidade-Duração-Frequên-


cia) de Teresina retirada do Manual de Drenagem da cidade (TERESINA, 2011).

(Eq. 2)

Onde:
I = Intensidade pluviométrica (mm/h);
tr = Tempo de retorno (anos);
td = Tempo de duração da precipitação (min).

O tempo de retorno é encontrado para a cidade de Teresina - PI, segundo a seguinte tabela:

Tabela 2. Período de recorrência para projetos de redes de drenagem pluvial urbana

Fonte: TERESINA, 2011.

O volume de detenção Vd: é o volume que o poço de infiltração precisa comportar e infiltrar no solo pa-
ra que somente a vazão máxima de pré-urbanização continue saindo do lote.

(Eq. 3)

Onde:
Vd = Volume de detenção (m³);
Qa = Vazão máxima (m³/s);
Qe = Vazão efluente máxima (m³/s);

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 259


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

td = Tempo de duração da precipitação (min);


tc = Tempo de concentração (min).

Vazão efluente (Qe) Esse dado determina uma vazão de extravasamento do poço, ou seja a vazão de saí-
da, no caso não foi encontrado nenhum dado relevante para encontrar a vazão efluente no manual de drenagem
de Teresina - PI, portanto foi adotado o valor de 0,03 m³/s para um poço com extravasor de 100 mm e revanche
de transbordamento de 0,5m encontrado no Manual de Drenagem do município de Natal - RN.
Quantidade de poços (Npoços): Esse número é obtido através da seguinte equação

(Eq. 4)

Onde:
Npoços = Número inteiro de poços de infiltração a serem instalados no lote;
Ainf = Área necessária para infiltrar o volume de água escoado (m²);
Atpoço = Área de infiltração total do poço padrão obtida pela soma da área da base com a área das pare-
des laterais (m²).

Ainf será calculada através da equação

(Eq. 5)

Onde:
Ainf = Área necessária para infiltrar o volume de água escoado (m²);
Vdmáx = Volume de detenção máximo encontrado (m³);
q = Taxa de infiltração do solo (mm/h);
tdet = Tempo de detenção de água no poço (h).

7. DIMENSIONAMENTO DA QUANTIDADE DE POÇOS NECESSÁRIOS PARA UM CONJUNTO


RESIDENCIAL

Para dimensionar o número de poços de infiltração é necessário fazer alguns cálculos, como mostrado
no item 5. Para obter o valor de C que é o coeficiente de escoamento superficial recorreu-se a Tabela 1, dispo-
nibilizada no manual de drenagem de Teresina, obtendo- se o valor de 0,6. Considerou-se o tempo de retorno
igual a 2 anos devido as características do local estudado e conforme mostrado na Tabela 2.
A área de estudo foi medida in loco com auxílio de uma trena de 30 m, encontrando o valor de 50,17 m
x 155,70 m, totalizando uma área de 7.811,47 m² ou 0,00781 km², o que implica dizer que é uma área relativa-
mente grande. Para o cálculo da vazão máxima (Qa) mostrada na equação 1, fica faltando só uma variável que
é a intensidade pluviométrica, que depende de outra variável que é o td (tempo de duração da precipitação).
Para critério didático optou-se por adotar esse valor de 10 em 10 min, até achar o volume máximo de detenção
(Vd). Portanto o Volume máximo de detenção também encontra-se dependente do valor de tempo de duração
da precipitação.
Para o cálculo do Vd usamos o tempo de concentração como sendo 19,19 min, que corresponde ao tem-
po de concentração da bacia em estudo, mostrado na Tabela 3, e a vazão efluente (Qe) como 0,03 m³/s.

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 260


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

Tabela 3. Valores do parâmetro tempo de concentração por sub-bacia de drenagem


SUB-BACIA ÁREA (Km²) Tc (min)
...
PE30 2,222 15,09
PE31 10,386 19,19
PE32 0,729 15,25
MOC 2,046
Fonte: Adaptado de TERESINA, 2012.

Dispondo desses dados montamos uma tabela no excel para nos auxiliar a encontrar o Vdmáx por meio
de tentativas.

Tabela 4. Determinação do volume de detenção máximo pelo método racional

Fonte: PRÓPRIA, 2018.

Com o volume máximo determinado foi calculado o número de poços necessários, como 80% da bacia
estudada apresenta solo do tipo B, segundo a tabela 4, a sua taxa de infiltração varia entre 3,81 – 7,62 mm/h,
considerando a pior situação, adotou-se a taxa de infiltração sendo 3,81 mm/h.

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 261


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

Tabela 5. Características do solo


Tipos Taxa de infil-
Características Classificação do solo
de solo tração mínima
Solos arenosos com pouco silte e ar-
Produzem baixo escoamento superficial e alta in-
Solo A gila, ambos profundos e excessiva- >7,62 mm/h
filtração
mente drenados.
Solos arenosos menos profundos do
entre 3,81 –
Solo B Solos menos permeáveis do que o Solo A que o tipo A e com permeabilidade
7,62 mm/h
superior à média
Solos que geram escoamento superficial acima da
Porcentagem considerável de argila e entre 1,27 –
Solo C média e com capacidade de infiltração abaixo da
pouco profundo 3,81 mm/h
média
Solos contendo argilas expansivas e pouco profun-
Solo D das com baixa capacidade de infiltração, gerando a Argilas expansivas <1,27 mm/h
maior proporção de escoamento superficial.
Fonte: Adaptado de TERESINA, 2012.

Para critério de cálculo foi adotado o tempo de detenção como sendo 24h. Por ter sido considerado o
poço com dimensões de 2,5 m de diâmetro e altura de 2,5 m a At poço será igual a 24,54 m². Obtendo dessa
maneira o seguinte resultado:

Tabela 6. Determinação do número de poços pelo do Método Racional

Fonte: PRÓPRIA, 2018.

Considerando que a média de chuva na cidade de Teresina PI é em torno de 60mm por m², o que impli-
ca dizer que para o residencial estudado o volume de água escoada se daria por volta de 468,69 m³, portanto os
poços de infiltração seriam capazes de reduzir o escoamento em no mínimo 45%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente estudo em um Conjunto Residencial na Zona Sul da cidade de Teresi-


na, Piauí possibilitou a descrição das características do fenômeno de alagamento da região, permitindo, assim,
analisar e formular uma solução para o problema, mas sem nenhuma interferência sobre o processo atual. A
identificação das variáveis que levam ao problema em conjunto com a identificação das formas de drenagem
trazem ao estudo como contribuição teórica a sugestão da implementação de possíveis soluções para tais difi-
culdades enfrentadas com a ausência ou a ineficiência da drenagem.
Pode-se obter como contribuições práticas através do conteúdo abordado a possibilidade da utilização
das técnicas mencionadas para a implementação de um sistema de drenagem eficiente, desta forma, evitando
as patologias que venham a acarretar em situações dificultosas posteriormente. O uso desses elementos, além
de tudo, facilita a prática da construção civil, pois possibilita uma facilidade na manutenção de todo o sistema
fazendo com que o mesmo funcione conforme o planejado.
Portanto a realização de um projeto adequado em conjunto com uma implementação correta fomenta a
execução de um sistema adequado para a necessidade local reduzindo gastos posteriores em drenagem e em
soluções com outras patologias em sistemas que são diretamente ligados com a drenagem como as estradas e

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 262


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

as moradias. Devido a tal importância a pesquisa também contribui com a demonstração de como deveria ter
sido o cálculo prático do sistema de drenagem de águas pluviais. Com tudo, as técnicas possibilitam a interli-
gação entre projeto, execução e funcionamento do sistema.
O estudo tem grande importância quanto ao quesito de contribuições sociais, pois o mesmo possibilita
melhorias aos engenheiros que podem observar a importância do sistema de drenagem como um todo mesmo
que seja em uma região habitacional pequena e o quanto influencia na vida da população local. Os engenheiros
também podem extrair como contribuição deste trabalho a importância de ser realizado um acompanhamento
adequado da execução da obra para que seja assegurada a eficiência do projeto. Além de tudo, é possível obter
um destaque no mercado de trabalho com uma capacidade de entregar e gerir projetos de drenagem eficientes.
Para a população, a pesquisa tem grande contribuição, pois os mesmos além de obter uma melhor qua-
lidade de vida devido à redução de gastos com problemas em suas residências causados pelo acúmulo de água
nas ruas, menores gastos com saúde devido aos inúmeros problemas de saúde que podem surgir com uma má
drenagem e os percalços devido à dificuldade de locomoção em momentos de chuva e momentos posteriores.
As principais dificuldades da pesquisa e limitadores do desenvolvimento foram a dificuldade em obter
informações, do sistema de drenagem do conjunto residencial, essenciais para o estudo e para os dimensiona-
mentos necessários para solucionar os problemas. Outra dificuldade foi a organização do material levantado,
adequando os para o estudo de caso para que houvesse uma representação mais fidedigna. Também é impor-
tante ressaltar que a região da pesquisa apresenta diversos problemas de segurança fazendo com que fosse ne-
cessário um maior cuidado com a segurança dos equipamentos.
A partir da presente pesquisa é possível elaborar diversas pesquisas tanto relacionadas à influência do
sistema de drenagem em outros sistemas da construção civil, a problematização surgida na saúde por conta da
drenagem ineficiente e até mesmo a qualidade de vida da população que enfrenta problemas de drenagem urba-
na na região onde moram. Outra vertente de pesquisa que o estudo possibilita é a análise do dimensionamento
de drenagem urbana e é possível até utilizar a presente pesquisa como forma de teste ao desenvolvimento de
novos sistemas de drenagem e novos métodos de cálculos que possam vir a serem criados ou que ainda este-
jam em fase de comprovação científica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASCE. Design and Construction of sanitary and storm sewers. New York (Manual sand Reports of Enginee-
ring Practice, 37), 1969.

BAPTISTA, M., NASCIMENTO, N., BARRAUD, S., 2005. Técnicas Compensatórias em Drenagem Urba-
na. ABRH, Porto Alegre, 2005. 266 p.

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Boas Práticas para Habitação Mais Sustentável. Selo Casa Azul, 2014.

CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.

CUNHA, L. et al. Risco de inundação no município de Torres Novas (Portugal). Revista GEONORTE, Edição
Especial, v. 01, n. 4, p. 961-973, 2012.

DIAS, R. H. S. et al. Influência do uso e ocupação do solo no escoamento superficial na cidade de Ji-Para Ama-
zônia Ocidental. Revista Brasileira de Geografia Física, v. 08, n. 05 (2015).

ENOMOTO, C. F. Estudo de medidas não-estruturais para controle de inundações urbanas. Publicatio UE-
PG: Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, PR. v. 6, n. 1, p. 69-90, 2000.

GOMES, A. H. P. Identificação e Avaliação de Técnicas Não Convencionais para Drenagem Urbana com
Controle na Fonte. Dissertação – Mestrado em Engenharia Civil - UFF. Niterói, 2005. 198 p.

MIGUEZ, M. G.; VERÓL, A. P.; REZENDE, O. M. Drenagem urbana: do projeto tradicional à sustentabili-

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 263


Sandro A. P. F.; Rebeka M. L. S.; Paulo V. de S. N.; Francisco H. de S. F.; Laydson M. F. A. Drenagem urbana: poços de infiltração como
alternativa de drenagem de águas pluviais em um conjunto residencial

dade. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

MOTA, S. Urbanização e meio ambiente. 3. ed. Rio de Janeiro: ABES, 2003, 356 p.

NATAL, Prefeitura Municipal. Manual de drenagem. Natal: 2009.

RIBEIRO, S. A. et al. Modelo conceitual de um sensor microcontrolado 3G para automação do controle de sa-
turação de dispositivos de drenagem urbana (bueiro) aplicado a cidades inteligentes. Anais do CONSISTEC
2014. Vol. 01, Bragança Paulista, SP, 2014.

SCARLATO, F. C. O ambiente urbano. São Paulo: Atual, 1999.

TERESINA, Prefeitura Municipal de Teresina. Plano diretor de drenagem de Teresina: Manual de Drenagem.
Teresina, 2011.

TERESINA. Prefeitura Municipal de Teresina. Programa Lagoas do Norte, acordo de empréstimo nº 7523-BR-
-BIRD: Plano Diretor de Drenagem Urbana. Teresina, 2012.

TUCCI, C. E. M. Dossiê água: águas Urbanas: Estudos avançados. v. 22 n. 63, São Paulo, p. 105.2008.

TUCCI, C. E. M. et al. Drenagem Urbana. Porto Alegre: ABRH/Editora da Universidade/UFGRS, 1995. 427
p.

WILKEN, P. S. Engenharia de drenagem superficial. São Paulo: CETESB, p. 477, 1978.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Plageder, 2009.

IENH. Manual de normas de ABNT. Disponível em www.ienh.com.br

Revista FENEC - 2(2): 253-264, agosto/setembro, 2018 264

Você também pode gostar