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“O pessoal é político”:

lacunas e horizontes da
revolução de gênero
Nathalie Reis Itaboraí

O que, então, outras feministas, assim como as mais radicais, querem dizer com
“o pessoal é político”? Nós queremos dizer, primeiramente, que o que acontece
na vida pessoal, particularmente nas relações entre os sexos, não é imune em re-
lação à dinâmica de poder, que tem tipicamente sido vista como a face distintiva
do político. E nós também queremos dizer que nem o domínio da vida doméstica,
pessoal, nem aquele da vida não-doméstica, econômica e política, podem ser in-
terpretados isolados um do outro. (OKIN, 2008, p. 314)
A escolha do termo – polissêmico e complexo – revolução, devidamente acom-
panhado de uma pergunta e um ponto de interrogação, para título do seminário
mostrou-se feliz ao incitar variadas reflexões sobre o grau e a pervasividade da
mudança nas relações de gênero no Brasil. Há certo consenso de que revolução
expressa mudanças de monta e a pergunta “até onde caminhou?” motivou o ba-
lanço sobre variadas dimensões das transformações nas relações de gênero em
curso e o quanto o agregado das transformações justifica ou não o emprego do
termo revolução e, se sim, qual a adjetivação devida: revolução incompleta, inter-
rompida, inacabada, assincrônica.
Assim como Piketty (2014) questionou a ideia de que haveria um movimen-
to necessário rumo à igualdade social, sendo preciso mensurar ao longo da
história como evoluem (aumentam ou diminuem) os níveis de desigualdades
em diferentes contextos, os estudos de gênero também – questionando a ideia
otimista de que a transformação rumo à igualdade de gênero se processaria
espontânea e progressivamente – têm mensurado os avanços, recuos e per-
sistência das desigualdades entre homens e mulheres, além de outras identi-
dades de gênero e suas interseções com cor, classe etc. A ideia do seminário
foi contribuir neste esforço de mensurar, avaliar e pensar as implicações das
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transformações nas desigualdades de gênero, indagando em que medida são


abrangentes e se difundem e em que medida são incompletas e mais presentes
em alguns domínios que outros.
Um dos impasses mais discutidos é que os avanços na ocupação do espaço
público pelas mulheres não é completo nem igualitário – a política particular-
mente é um espaço hegemonicamente masculino – enquanto a participação dos
homens nas atividades domésticas e de cuidado na vida privada segue diminuta.
Se na esfera pública a revolução de gênero avança mas ainda traz marcas de se-
gregação nas carreiras e ocupações, na esfera privada a revolução de gênero é
frequentemente uma revolução de uma pessoa só, das mulheres que são impor-
tantes protagonistas da transição demográfica, com suas decisões reprodutivas
de reduzir e adiar a maternidade que vêm favorecendo seu relativo sucesso esco-
lar e profissional, bem como revertendo-se em melhorias na renda e condições
de vida de suas famílias (LEONE; MAIA; BALTAR, 2010).
Completar a revolução de gênero supõe (re)unir seus braços público e priva-
do. Demanda, portanto, políticas como as de articulação família-trabalho e as
licenças parentais, oferecendo condições para mudança simultânea de direitos
e preferências de forma a romper a inércia vantajosa masculina, já que eles não
veem benefícios em mudar uma divisão do trabalho que lhes é favorável (SORJ,
2004). As políticas públicas podem dar suporte a decisões mais livres, menos
constrangidas, quanto a arranjos de trabalho doméstico e de cuidado e na esfera
de direitos reprodutivos, incluindo aborto e tecnologias reprodutivas, reduzindo
desigualdades que diferenciam as possibilidades de realização de preferências
devido a iniquidades no acesso a direitos.
Se todos os textos do seminário envolvem dimensões de direitos em especial
nas esferas de educação e trabalho, a mesa “Desafios da promoção da igualdade
de gênero” abordou mais o Estado e as políticas públicas através da contribui-
ção de Mariana Mazzini Marcondes e Maria do Carmo Meirelles Toledo Cruz, que
destacam avanços na política de creches, mas a baixa prioridade do cuidado nas
políticas públicas. Cristiane Soares mostrou os desafios das famílias com o cui-
dado, intensificados diante da questão do envelhecimento populacional. As duas
contribuições destacam as faces pública e privada de uma mesma crise de cuida-
dos que acompanha nossas sociedades há bastante tempo e que está relaciona-
da às desigualdades na divisão de trabalho remunerado (ou não) no mercado, e
não remunerado, doméstico e de cuidado, em um contexto de mudança no papel
público das mulheres sem a concomitante mudança na esfera privada. A mesa
também contou com apresentação de Suzana Cavenaghi que lamentavelmente
não pode participar do livro, mas cujas contribuições foram em parte retoma-
das no capítulo de Glaucia dos Santos Marcondes que aprofundou aspectos dos
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direitos sexuais e reprodutivos, outra interface na discussão da ordem de direitos


que possibilita a autonomia e igualdade na vida privada.
Uma vez que a agenda da revolução de gênero é imensa e multifacetada, e
que por restrições de recursos e tempo alguns temas estiveram ausentes ou pe-
riféricos nos debates, é interessante recuperar alguns deles, como a violência
de gênero, a contribuição (ou não) das concepções e práticas relativas às mas-
culinidades para as transformações em curso, e as desigualdades políticas. São
todas questões que demandam transformações na socialização de gênero, den-
tre as quais a necessidade de socializar as mulheres nas ambições políticas e os
homens no cuidado, além da prevenção da violência de gênero. Neste sentido,
a presente contribuição agrega à discussão algumas acepções do caráter polí-
tico das transformações em curso e, retomando o slogan feminista, atribuído a
Millett (1974), de que “o pessoal é político”, propõe algumas reflexões sobre os
desafios para aprofundar e completar a revolução de gênero.
O texto envolve quatro movimentos. Inicialmente, retoma-se o debate sobre
a revolução de gênero, seu caráter complexo e multidimensional, as lacunas e
horizontes abertos. A seguir, aprofunda-se a questão da politização do cuidado.
Os desafios da transformação da socialização de gênero são, então, abordados
a partir da discussão sobre masculinidades e sobre violência. Por fim, o desafio
de politizar o privado é considerado a partir da própria esfera política, reunindo
questões de representação política das mulheres e do caráter político das trans-
formações e resistências enfrentadas, além da centralidade de políticas públicas
para induzir mais mudanças.

As faces pública e privada da revolução de gênero

Se diferentes autores mostraram uma revolução na condição feminina nas úl-


timas décadas, sinalizando, por exemplo, uma transformação no sentido de uma
despatriarcalização da sociedade (THERBORN, 2006), não se desconhece que
esse processo, que possibilita maior autonomia feminina, convive com a persis-
tência de desigualdades de gênero, em graus variáveis, nas distintas esferas da
vida social e entre os variados grupos sociais.
Nas ciências sociais, o termo revolução refere-se a mudanças radicais, de ca-
ráter político ou não, e que nem sempre ocorrem de modo brusco ou violento – o
que fica mais claro em acepções como revolução científica ou revolução cultural
(GOLDSTONE, 1996). Reconhece-se que revoluções são fenômenos complexos
e contraditórios, além de que revoluções não têm um sentido ou direção neces-
sário, como o progresso do igualitarismo, mas que estão sujeitas a movimentos
contrários, como os de desemancipação (LOSURDO, 2004). Um exemplo da não
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linearidade e tensão presentes no processo de mudança social é a discussão de


Elias (2006) sobre os processos civilizatórios e descivilizatórios (um exemplo do
último seria o crescimento da violência contra a mulher). Ainda que prevaleçam
as acepções políticas, especialmente aquelas inspiradas pela experiência da
Revolução Francesa, e leituras teleológicas, como a expectativa de que a revolu-
ção seria um meio para conseguir liberdade, igualdade ou justiça social, os usos
do termos “revolução” têm se mostrado mais amplos, como na análise de Santos
(1985) que aplicou esta noção para falar das profundas mudanças estruturais ex-
perimentadas pelo Brasil entre as décadas de 1960 e 1980, como a urbanização,
industrialização e transformação da estrutura produtiva.
O termo revolução é tão polissêmico e complexo quanto frequente em mui-
tos dos estudos mais seminais que fazem um balanço das transformações nas
relações de gênero. Nas últimas décadas, diversas obras tematizaram transfor-
mações incompletas, sobretudo se observadas a partir da vida privada, como as
análise de Gerson (2010) sobre The unfinished revolution, de England (2010) sobre
The gender revolution: uneven and stalled e de Esping-Andersen (2009) sobre The
incomplete revolution. É antigo, no entanto, o reconhecimento de que as mudan-
ças nas relações de gênero não são lineares e concomitantes, mas sim marcadas
por assincronias (como sugere o texto de Oliveira e Marcondes nesta coletânea),
além de que existem expressivas desigualdades entre mulheres – e suas interse-
cionalidades, como enfatizam as contribuições de Yumi Garcia e Felícia Pican-
ço – em aspectos como trabalho, violência, contracepção ou acesso à tecnologia
reprodutiva.
Temas demográficos, como o comportamento reprodutivo e suas repercus-
sões nas taxas de fecundidade, também são há muito reconhecidos como cen-
trais nas transformações sociais que possibilitaram novos equilíbrios nas re-
lações de gênero. Ao tratar da “longa revolução das mulheres”, Juliet Mitchell
(2006), por exemplo, realçou a importância da revolução da contracepção, que
permitiu que as mulheres se tornassem donas de suas vidas e repensassem o lu-
gar da maternidade como vocação última da mulher, ainda que reconheça que,
no contexto dos anos 1960, quando seu texto foi originalmente publicado, o uso
de contracepção era ainda, mesmo na Europa, restrito às camadas superiores.
A discussão da convergência ou assincronia entre diferentes dimensões das re-
lações de gênero já estava presente desde a análise pioneira de Beauvoir (1980,
originalmente publicada em 1949) que, recusando o monismo sexual de Freud
e o monismo econômico de Engels, destacou que a transformação da condição
feminina passa por aspectos da produção e da reprodução: “É pela convergência
destes dois fatores: participação na produção, libertação da escravidão da repro-
dução, que se explica a evolução da condição da mulher” (p. 157).
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Sullerot (1966, 1974), outra pioneira nos estudos mundiais sobre a condição
feminina, por sua vez, sublinhou as nuances nos significados das mudanças. Se o
crescimento do trabalho feminino é apontado como outra das grandes transfor-
mações, a grande novidade não é o trabalho em si e sim a profissionalização do
trabalho feminino e seu assalariamento, visto que diversas formas de trabalhos
foram exercidos pelas mulheres ao longo dos séculos, mas a submissão das mu-
lheres incluiu historicamente o tratamento de suas atividades como inferiores às
masculinas, além da restrição às oportunidades de autonomia material para as
mulheres.
Debates presentes desde as pioneiras recebem hoje renovadas leituras mui-
tas das quais reiteram a questão das desigualdades na divisão do trabalho do-
méstico e remunerado que persistem como um problema atual na construção da
equidade de gênero. Ao debater o contexto contemporâneo em que a revolução
de gênero mantém-se desigual e mostra sinais de estagnação, England (2010)
levanta hipóteses sobre os porquês de alguns aspectos terem mudado muito
mais que outros. Nota que as mulheres têm muito mais incentivos – econômicos
e de prestígio – para atravessar as barreiras de gênero rumo a empregos e ou-
tros comportamentos antes definidos como masculinos, enquanto as atividades
tipicamente femininas seguem desvalorizadas e os homens perdem dinheiro e
sofrem desaprovação cultural se atravessam as fronteiras e assumem atividades
femininas. Nesta perspectiva, a mudança nas relações de gênero é uma estrada
de mão única, em que apenas as mulheres mudam. Apesar da tendência de que
as mulheres crescentemente adquiram a qualificação educacional necessária e
integrem ocupações antes dominadas por homens, England constata, dentre os
limites da revolução de gênero, a falência em tratar o cuidado de crianças como
um bem público. As mudanças no sentido de dessegregação foram maiores nas
atividades profissionais que nas pessoais, do que é exemplo o fato de que os pais
dão às filhas brinquedos tipicamente masculinos, mas não dão brinquedos tipi-
camente femininos aos filhos. Portanto, também na vida privada, a dessegrega-
ção é uma estrada de mão única, na qual as mulheres experimentam compor-
tamentos antes tipicamente masculinos, mas menos frequentemente ocorre o
contrário.
O estudo de England sugere que as razões da manutenção da divisão sexual
do trabalho e do descompasso entre transformações no público e no privado de-
vem ser buscadas em dimensões mais profundas da socialização desigual de gê-
nero. Um importante clássico sobre este tema foi o livro Dalla parte delle bambine:
l’influenza dei condizionamenti sociali nella formazione del ruolo femminile nei primi
anni di vita (Da parte das meninas: a influência dos condicionamentos sociais na
formação do papel feminino nos primeiros anos de vida), cuja primeira edição
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é de 1973. Nesta obra, Elena Belotti mostrou como as crianças eram socializa-
das de formas distintas: a cor de seus quartos, os jogos, a literatura, a imitação e
identificação com os adultos, tudo colaborava para as diferenciações de papéis
de gênero entre meninos e meninas. Mais de três décadas depois, Baudelot e Es-
tablet (2007), em Quoi de neuf chez les filles? Entre stéréotypes et libertes (O que há
de novo entre as meninas? Entre estereótipos e liberdades), propõem-se a medir
as dimensões principais apontadas pela enquete de Belotti, fazendo uma revisão
bibliográfica dos estudos atuais.
Baudelot e Establet constatam que houve transformações notáveis em di-
versos aspectos da socialização de meninos e meninas, que os pais de todas as
categorias sociais progressivamente alinharam as ambições escolares para filhos
e filhas e estas chegaram a superar os meninos. A incursão das filhas em domí-
nios antes masculinos ampliou-se e trouxe mais diversidade às salas de aula.
No entanto, as transformações são incompletas em uma série de aspectos. Os
pais continuam a dar soldados de brinquedo para seus filhos e os exércitos são
majoritariamente masculinos. Aceita-se mais facilmente oferecer brinquedos
masculinos às filhas do que deixar filhos usar rosa ou brincar de boneca, e ainda
que surjam brinquedos mistos1, os jogos masculinos com bola e no exterior ainda
favorecem o sentido de espaço, enquanto as brincadeiras com boneca no interior
favorecem as habilidades de linguagem das meninas. A seu ver, estas diferencia-
ções expressam-se no Teste de Pisa, que tem constatado que os rapazes se saem
um pouco melhor em habilidades de matemática e cultura científica enquanto
as moças têm uma vantagem maior em compreensão textual. Os autores con-
cluem que, ainda que a melhoria das mulheres no mercado de trabalho seja real
e o grau de segregação das ocupações diminua nas últimas décadas do século XX,
a observação do percentual de homens e mulheres em cada ocupação ainda vali-
da os estereótipos de gênero mais arcaicos, diante do maior direcionamento das
mulheres para profissões relacionadas a variadas formas de cuidado dos outros
(o que eles chamam de uma “transposição profissional dos papéis de esposa e
mãe”), enquanto os homens seguem majoritários nos empregos industriais (ex-
ceção à têxtil) e nas posições de comando.
Esping-Andersen (2009) é outro autor que questiona os limites das transfor-
mações em curso, argumentando que a revolução de gênero é incompleta sob
diferentes aspectos. Em primeiro lugar, as mulheres experimentam uma “mascu-
linização” de suas biografias mais na esfera do comportamento econômico (em es-
pecial o trabalho) do que na vida familiar, enquanto os homens não experimentam

1
Sobre diferenciação de brinquedos e gênero no Brasil, ver o interessante estudo de Kropeniscki e
Perurena (2015).
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uma correspondente “feminização” de suas trajetórias que implicaria em maior


dedicação à vida familiar e aos trabalhos domésticos e de cuidado. A revolução é
incompleta também porque é altamente estratificada, e gera mais desigualda-
des. A seu ver, quanto mais incompleta a revolução, maior a desigualdade que
ela desperta. Nota que a maioria dos países desenvolvidos experimenta tensões
decorrentes do fato de que a revolução das mulheres não foi acompanhada de
uma reforma das políticas de família. Destaca que as “reservas de cuidado” – re-
presentadas, por exemplo, pelas filhas mais velhas não empregadas – vêm de-
saparecendo. Ademais, a falta de provisão de cuidado tanto dificulta que as mu-
lheres tenham o número de filhos que gostariam2, quanto limita o emprego das
mulheres que já têm filhos.
A incompletude da revolução de gênero demanda respostas políticas na visão
de Esping-Andersen, que defende que o estado de bem-estar social favoreça um
novo equilíbrio de gênero e acelere a revolução das mulheres, enfatizando que o
acesso a cuidado de qualidade é uma condição essencial para o equilíbrio futuro.
Neste sentido, se a família é tradicionalmente fator de proteção social (GOLDA-
NI, 2001), os desafios que nossas sociedades defrontam é justamente desfamilia-
rizar o cuidado, o que não implica em perda de importância da família, mas sim
em mais liberdade para experimentar seus laços.

Politizando o cuidado

A questão do cuidado está no cerne dos debates sobre a incompletude na revo-


lução de gênero e esta é uma discussão intrinsecamente relacionada a antigas de-
mandas feministas, como as de creche, e cada vez mais ligada aos debates demo-
gráficos. Como destacado em relatório da Family Platform da Comissão Europeia
(2010), a crescente consciência para com as políticas de família está relacionada
às transformações demográficas (redução da fecundidade, envelhecimento po-
pulacional, diversificação dos formatos de famílias e enfraquecimento do mode-
lo homem provedor – mulher dona de casa), sendo que o tópico mais estudado
nas políticas para famílias é o cuidado infantil, que inclui a questão das licenças

2
Em países desenvolvidos que experimentam estágios mais avançados de transição demográfica de-
bate-se mais intensamente a fecundidade não desejada por falta. Esteve, Devolder e Domingo (2016),
analisando a infecundidade na Espanha, destacam que nunca todas as mulheres de uma geração fo-
ram mães e hoje menos ainda, mas surpreende o pouco debate sobre o fato de que uma em cada
quatro mulheres não tenham filhos contrariando suas próprias expectativas e desejos. Recordam que
há diferentes razões para não ter filhos (biológicas, desejo de não ter filhos, normativas devido às ex-
pectativas sociais sobre a idade adequada, e a opção pelo adiamento), mas sugerem que a fecundida-
de atual está relacionada sobretudo com o adiamento associado às condições materiais e conjugais/
afetivas relacionadas à decisão de ter filhos.
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parentais, benefícios monetários e serviços de cuidado, além das pesquisas sobre


divisão do trabalho doméstico.
Não obstante, as medidas usuais de “conciliação” entre vida laboral e vida
familiar são criticadas por portar uma visão generificada das responsabilidades
familiares. A questão da conciliação entre vida profissional e familiar é posta
geralmente no feminino e as mães são o principal alvo de tais políticas. Embora
alguns países incluam licenças para os homens, estas continuam sendo usadas
quase exclusivamente por mulheres. O paradoxo é que “a conciliação não será
possível enquanto se tolere o majoritário protagonismo feminino nas medidas
conciliadoras” (TORNS, 2011, p. 8, tradução minha).
Como recordam Esquivel, Fauer e Jelin (2012), outro risco são a expansão de
programas que transferem recursos às custas do reforço do papel materno, aler-
tando que a idealização da maternidade e do familismo pode ser funcional do
ponto de vista da redução de custos, tendo, portanto, um lugar instrumental e
ideológico, mas tal reforço dos papéis tradicionais de gênero é diametralmente
oposto ao esforço de politização do cuidado, que é melhor expresso em creches e
serviços de cuidados a idosos e doentes.
No entanto, a solução pública também não é isenta de desigualdades de gê-
nero, uma vez que nas estruturas públicas de atenção às crianças, doentes e ido-
sos o trabalho continua a ser exercido majoritariamente por mulheres, só que
o que antes era oferecido na esfera privada e de forma gratuita agora se torna
um trabalho remunerado. Outro desafio, portanto, é romper com tal segregação,
incentivando o trabalho masculino em tais áreas de forma a romper com os este-
reótipos tradicionais de gênero, na educação infantil e no trabalho de cuidadores,
por exemplo.
Conjugam-se, portanto, pelo menos três ameaças: de “conciliar” no feminino
(TORNS, 2011); de segregar alternativas – com maternalismo nas classes baixas e
direito ao equilíbrio trabalho-família nas classes altas (ESQUIVEL; FAUER; JELIN,
2012) –; e de estruturas de cuidados que, também no público, continuam a serem
exercidos majoritariamente por mulheres. Portanto, o risco é da “conciliação” ser
exercida no feminino nas famílias e no mercado (de trabalho de cuidados), além
de ser segregada entre mulheres de diferentes condições sociais.
Urge, portanto, avançar na questão das políticas de cuidado e de seu trata-
mento a partir da perspectiva da cidadania, no que é particularmente importan-
te a construção da noção de direito ao cuidado (MONTAÑO; CALDERÓN, 2010).
Uma vez que todas as pessoas necessitam de cuidado ao longo de toda a vida,
ainda que haja momentos em que se necessite mais (infância e velhice, por exem-
plo), Esquivel, Fauer e Jelin (2012) lembram que o que está em discussão não é
a premissa de que os cuidados são necessários ao bem-estar humano, mas sim
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entender como estes são efetuados (o que se dá de maneira desigual por classe e
gênero) e o que pode ser feito para que sejam oferecidos em condições de igual-
dade social que garantam o bem-estar e o desenvolvimento humano de todos.
A definição do cuidado como privado amplia as desigualdades de gênero e
classe, pois “as consequências da privatização do cuidado com os dependentes
incidem de maneira distinta sobre a vida de mulheres e homens, de pobres e ri-
cos” (BIROLI, 2013, p. 172). Situações como o cuidado de crianças, idosos, doentes
e pessoas com deficiência têm impactos diferenciados por classe devido à pre-
sença ou não de recursos para contratar serviços substitutivos e, por gênero, de-
vido às expectativas sociais de que as mulheres cuidem.
As condições institucionais em que se oferta ou não cuidado público para de-
pendentes afetam, por sua vez, as preferências das pessoas e as possibilidades
– ou não – de fazer escolhas de arranjos de gênero mais igualitários. Pedulla e
Thébaud (2015) argumentam que a preferência por arranjos igualitários cresce à
medida que se reduzem os constrangimentos institucionais para exercê-los, aná-
lise que sugere a importância de realizar pontes entre os estudos sobre opinião,
crenças e atitudes acerca de gênero (já existentes para o Brasil, por exemplo,
ARAÚJO; SCALON, 2006) e os estudos sobre legislação e condição de equilíbrio
família-trabalho (OIT; PNUD, 2009).
Ao analisarem a relação entre condições institucionais e formação de prefe-
rências, Pedulla e Thébaud (2015) observam que a impossibilidade de realizar
um “plano A” igualitário frequentemente leva à realização de “planos B” com
características neotradicionais, com homem como principal provedor e a mu-
lher como principal cuidadora, ainda que já não se trate de uma atribuição ex-
clusiva (como no clássico homem provedor – mulher dona de casa), visto que as
mulheres desejam autonomia e independência financeira. Se quando há opção
de escolher arranjos igualitários todos o preferem, quando há constrangimento
institucional as preferências são mais generificadas e variam com escolaridade,
sugerindo o agravamento da interseção entre dinâmicas de classe e gênero na
articulação família-trabalho. A estrutura de suporte também motiva preferên-
cias diferentes para homens e mulheres, lembrando que políticas de apoio são
mais importantes para as mulheres, pois, devido ao passivo de desigualdades
de gênero, elas são desproporcionalmente afetadas. Importa considerar ainda o
quanto as normas culturais que regulam o ambiente de trabalho são generifica-
das, como nas expectativas culturais acerca da masculinidade e a perda de res-
peito experimentada pelos homens ao usufruir de políticas de trabalho-família.
Outra variação importante é se políticas são implementadas pelo governo ou por
patrões, o que afeta sua generalidade ou não. Também no Brasil o Marco Legal
da Primeira Infância (Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016) estabelece direitos de
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licenças maternidade e paternidade estendidas (por 60 e 15 dias respectivamen-


te) que dependem da adesão de empresas, então consideradas “empresas cida-
dãs”, mas muitas empresas optam por não serem cidadãs, o que recoloca a ques-
tão de diferentes cidadanias (SANTOS, 1987) relacionadas aos diferentes regimes
de políticas trabalho-família.
Além das políticas de cuidado, as licenças parentais recordam a importância de
reivindicar o tratamento público da questão do uso do tempo, pois “não se trata de
uma negociação entre um homem e uma mulher dentro de casa, mas da articu-
lação entre vida profissional e vida privada que a organização e o modo de funcio-
namento de uma sociedade permitem ou não” (OLIVEIRA, 2003, p. 20). Trata-se
tanto do direito de mulheres e homens à independência econômica e realização no
trabalho, quanto o espaço da afetividade e de cuidado de si e dos outros.

Violência e masculinidades: algumas agendas pendentes

A divisão sexual do trabalho e com ela a divisão público/privado persistem


como traços distintivos de nossas sociedades. As múltiplas consequências da so-
cialização desigual de gênero podem ser relacionadas às desigualdades em dois
domínios, masculinidades e violência, que incitam a refletir sobre até que ponto
vem se realizando o slogan “o pessoal é político” e quais os horizontes para que
este seja aprofundado.
O tema das masculinidades é uma questão essencial para pensar os limites
e possibilidades de maiores transformações nas relações de gênero. Há ampla
agenda de pesquisas em torno das masculinidades que engloba diversos temas
e desafios para compreender e implementar mudanças na socialização de gêne-
ro. Estudos sobre família destacam aspectos da participação de homens na di-
visão do trabalho doméstico, na gravidez e parto, e cuidados de filhos. Aspectos
críticos incluem questões de poder que dificultam o uso do preservativo, danos
associados à heterossexualidade compulsiva e a relação entre hipermasculinida-
des e comportamentos violentos. Diferentes interpretações associam violência e
construção da masculinidade por diferentes razões, considerando socialização,
machismo, e concepções de honra e virilidade (SCHRAIBER; GOMES; COUTO,
2005, p. 13).
As maiores horas de trabalho das mulheres casadas relacionada aos cuidados
com os outros – como demonstrado nos capítulos de Soares, Wajnman, e Olivei-
ra e Marcondes – merecem ser consideradas em paralelo com outras dimensões
como os cuidados de saúde. Como mostram Schraiber, Gomes e Couto (2005),
os riscos diferenciados de morbimortalidade para homens e mulheres revelam
o caráter social do adoecimento e seus matizes de gênero. A maior incidência de
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 223

câncer de pulmão e próstata do que o câncer de colo de útero expressa contras-


tes de gênero não apenas em hábitos culturais, como o de fumar que também
se dissemina entre as mulheres, mas no cuidado de si e nas atitudes de preven-
ção – sendo visível que os homens são menos sensíveis a campanhas educativas
mesmo quando o que está em jogo é sua própria saúde. Riscos de cardiopatias
graves também estão relacionados ao padrão hegemônico de masculinidade,
particularmente à “figura do homem ambicioso, hostil, obcecado com o tempo,
competitivo e individualista” (SCHRAIBER; GOMES; COUTO, 2005, p. 10), além
da vulnerabilidade a doenças ocupacionais, em especial tarefas perigosas, não
acatamento de normas de segurança, e uso abusivo de álcool.
Ademais, os homens são mais acometidos por acidentes e homicídios no es-
paço público, enquanto mulheres são mais acometidas por violência doméstica.
Além das pesquisas oficiais (como os suplementos sobre vitimização das PNADs
do IBGE, em 1988 e 2009) que mostram como a violência varia por gênero na
bipolaridade público/privado (ITABORAÍ, 2015), existe todo um universo de pes-
quisas de opinião, como as do Instituto Avon e da Fundação Perseu Abramo, que
evidencia que uma parcela expressiva da população experimenta, pratica ou não
problematiza a violência contra as mulheres.
A superação da violência contra a mulher é uma dimensão central da conso-
lidação da revolução de gênero visto que a presença ou a ameaça de violência
constrange as ações das mulheres, mostrando-se um dispositivo político-cultu-
ral de dominação, que impede o gozo de direitos e liberdades – inclusive de cir-
cular no espaço público3 – em igualdade com os homens. A violência contra a
mulher tem sido um tema importante na agenda feminista desde os anos 1970
no Brasil, incluindo intensa mobilização para impedir que assassinatos de mu-
lheres ficassem impunes apoiados em argumentos de honra (ELUF, 2003). O mo-
vimento feminista tem se mostrado um ator importante na construção de uma
agenda política em torno da violência contra a mulher, resultando em avanços na
legislação e na infraestrutura para seu enfrentamento. Desde as Delegacias Es-
pecializadas no Atendimento às Mulheres, que surgiram no contexto da redemo-
cratização, passando pela Lei dos Juizados Especiais Criminais (Lei 9.099/1995),
acusada de banalização da violência contra a mulher – tratada como de menor
potencial ofensivo, sendo os agressores “punidos” com penas como cestas bási-
cas ou multas irrisórias –, os avanços na legislação e em políticas para o enfrenta-
mento da violência contra a mulher não se produziram sem impasses.

3
Ver, por exemplo, CRISTALDO, Heloisa. Pesquisa mostra que 86% das mulheres brasileiras sofre-
ram assédio em público. 20 maio 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-hu-
manos/noticia/2016-05/pesquisa-mostra-que-86-das-mulheres-brasileiras-sofreram-assedio-em>.
Acesso em: 21 maio 2016.
224 Nathalie Reis Itaboraí

Se a Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha4) é considerada um marco importan-


tíssimo na criminalização e enfrentamento da violência contra a mulher na so-
ciedade brasileira5, existem dificuldades em sua implementação, como mostra
o relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito6 para o tema da
Violência Contra a Mulher que analisou as insuficiências da estrutura disponível
para sua aplicação. Um dos problemas frequentemente relatado é que a rede
de apoio está concentrada nas áreas urbanas das grandes cidades, persistindo
expressivas dificuldades de acesso à justiça sobretudo por parte das mulheres
vítimas de violência na zona rural (SCOTT; RODRIGUES; SARAIVA, 2010). Além
disso, a estrutura de apoio a vítimas de violência muitas vezes não funciona nos
fins de semana e à noite, quando os episódios de violência são frequentes.
Muitas limitações de dados dificultam considerações conclusivas sobre o im-
pacto da legislação e políticas de enfrentamento da violência contra a mulher7.
Outro aspecto é que, como este sempre foi um tema subdeclarado, o crescimen-
to das denúncias pode ser uma indicação positiva de visibilização de cifras an-
tes ocultas. Logo, pode haver uma demanda reprimida de acesso à justiça a qual
emerge quando a denúncia ganha legitimidade – tanto por mudanças nos valores
sociais, quanto pelo incentivo de campanhas públicas.

4
Em 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o governo brasileiro no
caso de Maria da Penha – vítima de violência e tentativa de assassinato pelo marido – primeiro caso
de aplicação da Convenção de Belém do Pará. Cf. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará”, adotada em Belém do Pará,
Brasil, em 9 de junho de 1994. Disponível em: < https://www.oas.org/pt/cidh/mandato/Basicos/be-
lemdopara.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015.
5
Outro encaminhamento importante na legislação brasileira é a tipificação do feminicídio como
crime hediondo pela Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. O feminicídio é definido como homicídio
qualificado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. “Considera-se que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menospre-
zo ou discriminação à condição de mulher”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015.
6
Relatório final disponível em:<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getpdf.asp?t=130748
&tp=1>. Acesso em: 30 nov. 2014
7
Pesquisa de Garcia et al., por exemplo, destacou que a Lei Maria da Penha não teve impacto na in-
cidência de feminicídios, pois “as taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período
2001-2006 (antes) e 5,22 em 2007-2011 (depois)”(GARCIA et al., 2013, p. 1) e houve apenas um sutil
decréscimo da taxa anual de mortalidade em 2007 (4,74 por 100.000 mulheres). A própria pesquisa
reconhece limitações de dados e que estados com sistemas de informação ruins figuram com bai-
xas taxas sem que isso signifique efetivamente uma menor incidência de violência contra mulher.
Ademais, como a pesquisa mediu apenas morte, deixando de fora dados sobre violência psicológica,
patrimonial ou agressões físicas, não invalida a hipótese de que a lei pode coibir a violência cotidiana,
mas continuar existindo situações de violência fatal. Já o estudo de Cerqueira et al. (2015) controlou
fatores associados à violência generalizada na sociedade, em particular urbana, que afeta homens e
mulheres, concluindo que a introdução da Lei Maria da Penha teve efeitos estatisticamente significa-
tivos para diminuir os homicídios de mulheres associados à questão de gênero. No entanto, sua efeti-
vidade não é homogênea pois depende da institucionalização de serviços protetivos nas localidades.
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 225

Pode estar havendo igualmente crescimento de situações de violência cuja


causalidade, como mostra a literatura, envolveria tanto vulnerabilidade quan-
to empoderamento, sendo que no último caso é mais provável que as mulheres
acionem órgãos de justiça. Embora seja esperado que o empoderamento femini-
no reduza sua vulnerabilidade à violência, há indicações de que esta relação seja
complexa. Na esfera familiar, se a renda e o trabalho vêm reduzindo a dependên-
cia feminina, ganhos no poder de decisão das mulheres podem estar relaciona-
dos tanto com o aumento (reação masculina à autonomização feminina) quanto
com a diminuição (capacidade de saída de relações danosas) da vulnerabilidade à
violência intrafamiliar (CASIQUE, 2010). Muszkat et al. (2008) discutiram hipóte-
se semelhante para o Brasil, considerando que os rearranjos de gênero instauram
conflitos, abrindo espaço para a manifestação da violência.
Deve-se realçar também que continua a existir a naturalização da violência,
sobretudo doméstica, nem sempre percebida como uma violação dos direitos
humanos das mulheres. A visão acrítica sobre a violência de gênero é também
favorecida pela dramatização de crimes passionais na mídia. Em análise da co-
bertura sobre violência contra a mulher na imprensa brasileira (monitoramento
de 16 jornais impressos no ano de 2010) notou-se que este é um tema frequente,
mas com uma cobertura policialesca que pouco contribui para fazer a população
refletir sobre o assunto, ajudar a monitorar e cobrar mais eficiência quanto à in-
fraestrutura de atendimento de vítimas ou mesmo orientar outras vítimas sobre
onde e como buscar ajuda (SANEMATSU, 2011).
Mudanças no imaginário social são processos lentos e complexos, o que é re-
conhecido pela Lei Maria da Penha ao prever programas educacionais, nas esco-
las e na sociedade em geral. A nova lei não é apenas punitiva, mas tem um forte
componente pedagógico, incluindo a possibilidade do juiz determinar a partici-
pação do réu em programas de recuperação e reeducação de agressores. Ambas
as medidas visam um tratamento mais amplo e com efeitos a mais longo prazo
do problema da violência contra a mulher, em consonância com achados da li-
teratura internacional. Carbajosa e Boira (2013), ao abordar a experiência espa-
nhola, mostram que os programas de reabilitação de infratores são diversos, in-
cluindo aspectos cognitivo-comportamentais e socioculturais, mas as diferentes
abordagens têm elementos comuns, como a aceitação de responsabilidade pela
violência, gestão emocional, reestruturação cognitiva de ideias distorcidas sobre
a violência e as mulheres, além da necessidade de tratamento adicional para os
casos de dependência e abuso de drogas, que dificultam avanços no tratamen-
to. Já Schmukler (2013) enfatiza o sentido estrutural da violência enraizada em
atitudes e estereótipos de gênero na sociedade. O autor observa que a natureza
sistêmica do problema permanece forte e que o padrão da América Latina é agir
226 Nathalie Reis Itaboraí

apenas quando a violência atingiu seu ápice e não há quase nenhuma chance de
reabilitação. O foco da prevenção é um dos temas menos discutidos na região, o
que demandaria a desnaturalização de modelos familiares e hierarquias em que
se baseiam, por valores tradicionais subjacentes, muitas formas de violência.
Ações de sensibilização quanto à violência diária produzem efeitos no longo
prazo, o que evidencia mais uma vez a urgência de iniciar medidas educativas e
empreender esforços para transformar a socialização de gênero. Campanhas in-
ternacionais, como a Cidades Seguras para as Mulheres (Cf. nota 3), lembram a
importância de iluminação nas ruas e transporte público com espaços exclusi-
vos para as mulheres (as quais relataram na pesquisa que as situações em que
sentem mais medo de serem assediadas é andar nas ruas, em especial depois
que escurece, e no transporte público) e enfatizam, sobretudo, que educação é
essencial para mudar a cultura – uma ideia tão básica mas que precisa ser insis-
tentemente repetida num contexto político de repressão ao debate de gênero
(além de político em geral) nas escolas.
A criminalização da violência contra as mulheres foi um passo crucial para
romper a tolerância a situações cotidianas de desrespeito aos direitos huma-
nos das mulheres, ainda que muito reste por fazer para problematizar as rela-
ções de poder na vida privada, aprofundando a compreensão de que “o pessoal
é político”.

Outros lugares da política na revolução de gênero

A revolução de gênero não é apenas incompleta e multifacetada, mas tam-


bém constantemente ameaçada, daí a importância da ação política para com-
pletar a revolução de gênero ou mesmo resistir aos avanços conservadores que
tentam interrompê-la ou fazê-la retroceder. O atual cenário político brasileiro
que se delineia lamentavelmente assemelha-se à ponderação de Chollet (2007)
sobre contextos em que o desafio maior acaba sendo lutar para manter direitos
conquistados, ao invés de conseguir avançar em novos direitos.
A revolução de gênero não é teleológica mas sim movida historicamente
por lutas políticas, notavelmente do movimento feminista, e está igualmente
sujeita a retrocessos. Frequentemente os papéis tradicionais femininos foram
retomados e defendidos em reações conservadoras. Um exemplo paradigmáti-
co foi o backlash norte-americano analisado por Faludi (2001). Este movimen-
to ocorrido nos anos 1980 caracterizou-se pela afirmação de que os avanços
femininos já seriam mais que suficientes e viriam causando a infelicidade das
mulheres, diante dos supostos males que a herança feminista teria infligido
às mulheres – “‘falta de homens’, ‘relógio biológico’, ‘corrida para ser mãe’ [...]
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 227

as mulheres conseguiram tanto e, mesmo assim, sentem-se tão insatisfeitas;


devem ser as realizações do feminismo, e não a resistência da sociedade contra
estas realizações parciais” (FALUDI, 2001, p. 95). A perspectiva que Faludi de-
nomina de Novo Tradicionalismo revaloriza as mulheres que se dedicam à vida
familiar, em especial se isto envolve o abandono da carreira profissional. Diante
desta reação conservadora, Faludi considera que prevaleceu uma versão mais
palatável do feminismo, aquela comercializada pela mídia e pela publicidade,
reduzindo a autonomia feminina a escolhas de consumo e fazendo crer que as
demandas feministas são coisa do passado.
Outro limite da revolução de gênero encontra-se na própria participação e
representação política femininas. Revelando quão profundamente a separação
entre público e privado está enraizada na história e no imaginário social que es-
truturam nossas práticas cotidianas, Perrot mostra que, se ao longo da história
constituiu-se o caráter sexuado das cidades, com espaços masculinos e espaços
femininos, as fronteiras entre os sexos foram se deslocando pouco a pouco, mas
“o militar, o religioso, o político, como as três ordens da Idade Média, constituem
três santuários que [ainda] fogem às mulheres” (1998, p. 117).
A separação entre público e privado continua refletindo-se na desigual parti-
cipação política de homens e mulheres no Brasil, país recordista – às avessas – no
que diz respeito à baixa presença feminina em cargos eletivos (e nos cargos de
poder em geral) nos diferentes níveis e esferas. Como esclarecem Grossi e Miguel
(2001), a política de cotas para candidaturas de mulheres, cuja primeira lei no
Brasil é de 1995 (Lei nº 9.100, de 29 de setembro de 1995)8, foi favorecida pelo
contexto internacional, tendo emergido depois da IV Conferência Mundial sobre
a Mulher (Beijing, 1995) – e como desdobramento dos compromissos firmados
pelo Brasil nesta conferência – a partir de proposta da bancada feminina que se
inspirou em experiências exitosas de outros países. No entanto, Araújo (2013) ob-
serva que, comparado à própria região latino-americana, o Brasil não apresenta
resultados animadores quanto às cotas. Se as cotas impactam o número de can-
didatas, pouco fez para aumentar o número de eleitas. Dentre as muitas críticas
à lei de cotas, destaca-se que o aumento do número de candidatos a tornou ine-
fetiva, além de que não existe qualquer sanção quanto ao seu não cumprimento,
nem qualquer medida de apoio financeiro às candidatas mulheres.

8
A Lei de 1995 estabelecia um mínimo de 20% de candidaturas de mulheres, válido na eleição de
1996. Já a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, definiu um mínimo de 30% para cada sexo, mas
ampliou as vagas de 120% para 150% das cadeiras em disputa. Há ainda chances de se dar passos, ain-
da que tímidos, para além das cotas quanto ao número de candidatas, pois uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC 98), já aprovada no Senado, está em tramitação na Câmara, propondo reserva de
vagas para as mulheres nos parlamentos, garantindo, sucessivamente a cada eleição 10%, 12% até
chegar 16% dos assentos nos Legislativos municipais, estaduais e federal, exceto no Senado.
228 Nathalie Reis Itaboraí

O baixo capital político relacionado à recente e desigual entrada das mulheres


no espaço político num contexto de alta reprodução – pois o fato de ter exercido
um mandato anterior é o maior preditor da chance de ser eleito – é destacado por
Araújo (2013, p. 11-12), que argumenta que as “mulheres necessitam ‘correr atrás
do prejuízo’, ou seja, desocupar o espaço já ocupado pelos homens para conseguir
entrar de forma mais equitativa na política, já que foram explicitamente impedidas
de fazê-lo nas primeiras fases dos experimentos democráticos na maior parte dos
países”. Dentre as razões da baixa representação política das mulheres, são levan-
tadas diversas questões em torno da dominação masculina na sociedade em geral
e no campo político em particular, bem como da socialização desigual de homens
e mulheres e suas implicações em termos de habitus e tipos de capitais políticos.
Considerando diferentes barreiras que afetam o recrutamento político,
Miguel, Marques e Machado (2015) observam que, na primeira etapa de moti-
vações e recursos, em quase todas as culturas os homens, diferentemente das
mulheres, são socializados para ver a política como uma área de atuação legítima
e, além de mais ambição política, costumam ter mais acesso a recursos mate-
riais. Já na etapa de seleção pelos partidos, variam os graus de abertura ou não à
participação das mulheres, unificados no entanto pela visão pragmática de ma-
ximizar os votos, incluindo critérios vários que em geral beneficiam os homens:
“itens como o passado do possível candidato no partido, os mandatos eletivos já
cumpridos, a visibilidade na comunidade, posições de liderança em organizações
sociais e a ocupação de cargos públicos tendem a favorecer mais os homens do
que as mulheres” (p. 736). Sobre a terceira etapa, de escolha pelo eleitor, indicam
que não existem pesquisas conclusivas sobre a existência ou não de preconceito
contra candidatas mulheres. Aparentemente a violência simbólica generalizada
presente em ideias como a de que política não é lugar de mulher retrocedeu bas-
tante junto com as mudanças estruturais e culturais experimentadas pelo Brasil
nas últimas décadas – não há evidência de rejeição significativa a que as mulhe-
res sejam candidatas, ainda que existam bolsões de valores tradicionais, sobre-
tudo entre os menos escolarizados e mais velhos (BOHN, 2008) – mas persistem
grandes desigualdades para participar e competir.
As disparidades entre homens e mulheres nos cargos eletivos estão enraiza-
das em um longo trajeto de desigualdades, que também remetem à divisão entre
público e privado, produção e reprodução. Segundo Mota e Biroli (2014), a pre-
sença reduzida das mulheres na política não é algo conjuntural, mas sim estru-
tural: “um desdobramento dos padrões históricos da divisão sexual do trabalho e
da atribuição de papéis, habilidades e pertencimentos diferenciados para mulhe-
res e homens” (p. 226), “um resultado e ao mesmo tempo um fator atuante na re-
produção da opressão estrutural” (p. 227). Como destacou Phillips (2001), o fato
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 229

das mulheres serem as principais cuidadoras tem enormes impactos não apenas
sobre a estrutura do mercado de trabalho, mas também do poder político.
Ao comentar como nos países nórdicos somam-se avanços no trabalho femi-
nino, na representação política e na divisão do trabalho doméstico e de cuidado,
Mateo-Diaz (2006) discute a relação das políticas de cotas com outros avanços
na equidade de gênero. Ela se indaga se as cotas são causa ou consequência? As
mudanças culturais e avanços econômicos das mulheres ajudaram o seu avanço
na política, ou ocorre o inverso? Ambos devem ser verdade. A ascensão quanto
ao status da mulher na sociedade deve facilitar o acesso à política, bem como
a maior presença feminina no processo decisório deve promover uma socie-
dade com menos desigualdade de gênero em outras áreas, como a econômica
(MATEO-DIAZ, 2006, p. 108).
As mudanças sociais têm causalidade e dinâmica complexas (SZTOMPKA,
1998). Justamente porque as transformações nas relações de gênero não ocor-
rem nas diferentes esferas simultaneamente, é papel das políticas públicas bus-
car corrigir tais assincronias, favorecendo mudanças que se retroalimentem em
direção a maior igualdade social e de gênero. Fazer valer o slogan “o pessoal é
político” significa promover uma revolução de gênero que articule público e pri-
vado, disseminando seus benefícios para mulheres e homens, de todas as classes
e cores. As desigualdades de gênero impõem divisões que cerceiam as oportuni-
dades e potencialidades de homens e mulheres – em todas suas interseciona-
lidades e desigualdades específicas derivadas da cor, classe ou identidades se-
xuais e de gênero –, gerando situações de injustiça social e não reconhecimento,
e também subaproveitamento de capacidades (como a evidente ineficiência da
discriminação das mulheres no mercado de trabalho, sendo elas justamente hoje
mais qualificadas que os homens) e perdas de experiências significativas (como
no afastamento dos homens das esferas do cuidar e seus ganhos existenciais e
afetivos). Como sugere Nélida Piñon (1973) através de um de seus delicados e in-
cisivos contos, há importantes transformações sociais e pessoais a serem “colhi-
das” da transposição das divisões de gênero, entre público e privado.

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