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lacunas e horizontes da
revolução de gênero
Nathalie Reis Itaboraí
O que, então, outras feministas, assim como as mais radicais, querem dizer com
“o pessoal é político”? Nós queremos dizer, primeiramente, que o que acontece
na vida pessoal, particularmente nas relações entre os sexos, não é imune em re-
lação à dinâmica de poder, que tem tipicamente sido vista como a face distintiva
do político. E nós também queremos dizer que nem o domínio da vida doméstica,
pessoal, nem aquele da vida não-doméstica, econômica e política, podem ser in-
terpretados isolados um do outro. (OKIN, 2008, p. 314)
A escolha do termo – polissêmico e complexo – revolução, devidamente acom-
panhado de uma pergunta e um ponto de interrogação, para título do seminário
mostrou-se feliz ao incitar variadas reflexões sobre o grau e a pervasividade da
mudança nas relações de gênero no Brasil. Há certo consenso de que revolução
expressa mudanças de monta e a pergunta “até onde caminhou?” motivou o ba-
lanço sobre variadas dimensões das transformações nas relações de gênero em
curso e o quanto o agregado das transformações justifica ou não o emprego do
termo revolução e, se sim, qual a adjetivação devida: revolução incompleta, inter-
rompida, inacabada, assincrônica.
Assim como Piketty (2014) questionou a ideia de que haveria um movimen-
to necessário rumo à igualdade social, sendo preciso mensurar ao longo da
história como evoluem (aumentam ou diminuem) os níveis de desigualdades
em diferentes contextos, os estudos de gênero também – questionando a ideia
otimista de que a transformação rumo à igualdade de gênero se processaria
espontânea e progressivamente – têm mensurado os avanços, recuos e per-
sistência das desigualdades entre homens e mulheres, além de outras identi-
dades de gênero e suas interseções com cor, classe etc. A ideia do seminário
foi contribuir neste esforço de mensurar, avaliar e pensar as implicações das
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Sullerot (1966, 1974), outra pioneira nos estudos mundiais sobre a condição
feminina, por sua vez, sublinhou as nuances nos significados das mudanças. Se o
crescimento do trabalho feminino é apontado como outra das grandes transfor-
mações, a grande novidade não é o trabalho em si e sim a profissionalização do
trabalho feminino e seu assalariamento, visto que diversas formas de trabalhos
foram exercidos pelas mulheres ao longo dos séculos, mas a submissão das mu-
lheres incluiu historicamente o tratamento de suas atividades como inferiores às
masculinas, além da restrição às oportunidades de autonomia material para as
mulheres.
Debates presentes desde as pioneiras recebem hoje renovadas leituras mui-
tas das quais reiteram a questão das desigualdades na divisão do trabalho do-
méstico e remunerado que persistem como um problema atual na construção da
equidade de gênero. Ao debater o contexto contemporâneo em que a revolução
de gênero mantém-se desigual e mostra sinais de estagnação, England (2010)
levanta hipóteses sobre os porquês de alguns aspectos terem mudado muito
mais que outros. Nota que as mulheres têm muito mais incentivos – econômicos
e de prestígio – para atravessar as barreiras de gênero rumo a empregos e ou-
tros comportamentos antes definidos como masculinos, enquanto as atividades
tipicamente femininas seguem desvalorizadas e os homens perdem dinheiro e
sofrem desaprovação cultural se atravessam as fronteiras e assumem atividades
femininas. Nesta perspectiva, a mudança nas relações de gênero é uma estrada
de mão única, em que apenas as mulheres mudam. Apesar da tendência de que
as mulheres crescentemente adquiram a qualificação educacional necessária e
integrem ocupações antes dominadas por homens, England constata, dentre os
limites da revolução de gênero, a falência em tratar o cuidado de crianças como
um bem público. As mudanças no sentido de dessegregação foram maiores nas
atividades profissionais que nas pessoais, do que é exemplo o fato de que os pais
dão às filhas brinquedos tipicamente masculinos, mas não dão brinquedos tipi-
camente femininos aos filhos. Portanto, também na vida privada, a dessegrega-
ção é uma estrada de mão única, na qual as mulheres experimentam compor-
tamentos antes tipicamente masculinos, mas menos frequentemente ocorre o
contrário.
O estudo de England sugere que as razões da manutenção da divisão sexual
do trabalho e do descompasso entre transformações no público e no privado de-
vem ser buscadas em dimensões mais profundas da socialização desigual de gê-
nero. Um importante clássico sobre este tema foi o livro Dalla parte delle bambine:
l’influenza dei condizionamenti sociali nella formazione del ruolo femminile nei primi
anni di vita (Da parte das meninas: a influência dos condicionamentos sociais na
formação do papel feminino nos primeiros anos de vida), cuja primeira edição
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é de 1973. Nesta obra, Elena Belotti mostrou como as crianças eram socializa-
das de formas distintas: a cor de seus quartos, os jogos, a literatura, a imitação e
identificação com os adultos, tudo colaborava para as diferenciações de papéis
de gênero entre meninos e meninas. Mais de três décadas depois, Baudelot e Es-
tablet (2007), em Quoi de neuf chez les filles? Entre stéréotypes et libertes (O que há
de novo entre as meninas? Entre estereótipos e liberdades), propõem-se a medir
as dimensões principais apontadas pela enquete de Belotti, fazendo uma revisão
bibliográfica dos estudos atuais.
Baudelot e Establet constatam que houve transformações notáveis em di-
versos aspectos da socialização de meninos e meninas, que os pais de todas as
categorias sociais progressivamente alinharam as ambições escolares para filhos
e filhas e estas chegaram a superar os meninos. A incursão das filhas em domí-
nios antes masculinos ampliou-se e trouxe mais diversidade às salas de aula.
No entanto, as transformações são incompletas em uma série de aspectos. Os
pais continuam a dar soldados de brinquedo para seus filhos e os exércitos são
majoritariamente masculinos. Aceita-se mais facilmente oferecer brinquedos
masculinos às filhas do que deixar filhos usar rosa ou brincar de boneca, e ainda
que surjam brinquedos mistos1, os jogos masculinos com bola e no exterior ainda
favorecem o sentido de espaço, enquanto as brincadeiras com boneca no interior
favorecem as habilidades de linguagem das meninas. A seu ver, estas diferencia-
ções expressam-se no Teste de Pisa, que tem constatado que os rapazes se saem
um pouco melhor em habilidades de matemática e cultura científica enquanto
as moças têm uma vantagem maior em compreensão textual. Os autores con-
cluem que, ainda que a melhoria das mulheres no mercado de trabalho seja real
e o grau de segregação das ocupações diminua nas últimas décadas do século XX,
a observação do percentual de homens e mulheres em cada ocupação ainda vali-
da os estereótipos de gênero mais arcaicos, diante do maior direcionamento das
mulheres para profissões relacionadas a variadas formas de cuidado dos outros
(o que eles chamam de uma “transposição profissional dos papéis de esposa e
mãe”), enquanto os homens seguem majoritários nos empregos industriais (ex-
ceção à têxtil) e nas posições de comando.
Esping-Andersen (2009) é outro autor que questiona os limites das transfor-
mações em curso, argumentando que a revolução de gênero é incompleta sob
diferentes aspectos. Em primeiro lugar, as mulheres experimentam uma “mascu-
linização” de suas biografias mais na esfera do comportamento econômico (em es-
pecial o trabalho) do que na vida familiar, enquanto os homens não experimentam
1
Sobre diferenciação de brinquedos e gênero no Brasil, ver o interessante estudo de Kropeniscki e
Perurena (2015).
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 219
Politizando o cuidado
2
Em países desenvolvidos que experimentam estágios mais avançados de transição demográfica de-
bate-se mais intensamente a fecundidade não desejada por falta. Esteve, Devolder e Domingo (2016),
analisando a infecundidade na Espanha, destacam que nunca todas as mulheres de uma geração fo-
ram mães e hoje menos ainda, mas surpreende o pouco debate sobre o fato de que uma em cada
quatro mulheres não tenham filhos contrariando suas próprias expectativas e desejos. Recordam que
há diferentes razões para não ter filhos (biológicas, desejo de não ter filhos, normativas devido às ex-
pectativas sociais sobre a idade adequada, e a opção pelo adiamento), mas sugerem que a fecundida-
de atual está relacionada sobretudo com o adiamento associado às condições materiais e conjugais/
afetivas relacionadas à decisão de ter filhos.
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entender como estes são efetuados (o que se dá de maneira desigual por classe e
gênero) e o que pode ser feito para que sejam oferecidos em condições de igual-
dade social que garantam o bem-estar e o desenvolvimento humano de todos.
A definição do cuidado como privado amplia as desigualdades de gênero e
classe, pois “as consequências da privatização do cuidado com os dependentes
incidem de maneira distinta sobre a vida de mulheres e homens, de pobres e ri-
cos” (BIROLI, 2013, p. 172). Situações como o cuidado de crianças, idosos, doentes
e pessoas com deficiência têm impactos diferenciados por classe devido à pre-
sença ou não de recursos para contratar serviços substitutivos e, por gênero, de-
vido às expectativas sociais de que as mulheres cuidem.
As condições institucionais em que se oferta ou não cuidado público para de-
pendentes afetam, por sua vez, as preferências das pessoas e as possibilidades
– ou não – de fazer escolhas de arranjos de gênero mais igualitários. Pedulla e
Thébaud (2015) argumentam que a preferência por arranjos igualitários cresce à
medida que se reduzem os constrangimentos institucionais para exercê-los, aná-
lise que sugere a importância de realizar pontes entre os estudos sobre opinião,
crenças e atitudes acerca de gênero (já existentes para o Brasil, por exemplo,
ARAÚJO; SCALON, 2006) e os estudos sobre legislação e condição de equilíbrio
família-trabalho (OIT; PNUD, 2009).
Ao analisarem a relação entre condições institucionais e formação de prefe-
rências, Pedulla e Thébaud (2015) observam que a impossibilidade de realizar
um “plano A” igualitário frequentemente leva à realização de “planos B” com
características neotradicionais, com homem como principal provedor e a mu-
lher como principal cuidadora, ainda que já não se trate de uma atribuição ex-
clusiva (como no clássico homem provedor – mulher dona de casa), visto que as
mulheres desejam autonomia e independência financeira. Se quando há opção
de escolher arranjos igualitários todos o preferem, quando há constrangimento
institucional as preferências são mais generificadas e variam com escolaridade,
sugerindo o agravamento da interseção entre dinâmicas de classe e gênero na
articulação família-trabalho. A estrutura de suporte também motiva preferên-
cias diferentes para homens e mulheres, lembrando que políticas de apoio são
mais importantes para as mulheres, pois, devido ao passivo de desigualdades
de gênero, elas são desproporcionalmente afetadas. Importa considerar ainda o
quanto as normas culturais que regulam o ambiente de trabalho são generifica-
das, como nas expectativas culturais acerca da masculinidade e a perda de res-
peito experimentada pelos homens ao usufruir de políticas de trabalho-família.
Outra variação importante é se políticas são implementadas pelo governo ou por
patrões, o que afeta sua generalidade ou não. Também no Brasil o Marco Legal
da Primeira Infância (Lei nº 13.257, de 8 de março de 2016) estabelece direitos de
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3
Ver, por exemplo, CRISTALDO, Heloisa. Pesquisa mostra que 86% das mulheres brasileiras sofre-
ram assédio em público. 20 maio 2016. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-hu-
manos/noticia/2016-05/pesquisa-mostra-que-86-das-mulheres-brasileiras-sofreram-assedio-em>.
Acesso em: 21 maio 2016.
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4
Em 2001, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o governo brasileiro no
caso de Maria da Penha – vítima de violência e tentativa de assassinato pelo marido – primeiro caso
de aplicação da Convenção de Belém do Pará. Cf. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher, “Convenção de Belém do Pará”, adotada em Belém do Pará,
Brasil, em 9 de junho de 1994. Disponível em: < https://www.oas.org/pt/cidh/mandato/Basicos/be-
lemdopara.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015.
5
Outro encaminhamento importante na legislação brasileira é a tipificação do feminicídio como
crime hediondo pela Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015. O feminicídio é definido como homicídio
qualificado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. “Considera-se que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menospre-
zo ou discriminação à condição de mulher”. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm>. Acesso em: 20 abr. 2015.
6
Relatório final disponível em:<http://www.senado.gov.br/atividade/materia/getpdf.asp?t=130748
&tp=1>. Acesso em: 30 nov. 2014
7
Pesquisa de Garcia et al., por exemplo, destacou que a Lei Maria da Penha não teve impacto na in-
cidência de feminicídios, pois “as taxas de mortalidade por 100 mil mulheres foram 5,28 no período
2001-2006 (antes) e 5,22 em 2007-2011 (depois)”(GARCIA et al., 2013, p. 1) e houve apenas um sutil
decréscimo da taxa anual de mortalidade em 2007 (4,74 por 100.000 mulheres). A própria pesquisa
reconhece limitações de dados e que estados com sistemas de informação ruins figuram com bai-
xas taxas sem que isso signifique efetivamente uma menor incidência de violência contra mulher.
Ademais, como a pesquisa mediu apenas morte, deixando de fora dados sobre violência psicológica,
patrimonial ou agressões físicas, não invalida a hipótese de que a lei pode coibir a violência cotidiana,
mas continuar existindo situações de violência fatal. Já o estudo de Cerqueira et al. (2015) controlou
fatores associados à violência generalizada na sociedade, em particular urbana, que afeta homens e
mulheres, concluindo que a introdução da Lei Maria da Penha teve efeitos estatisticamente significa-
tivos para diminuir os homicídios de mulheres associados à questão de gênero. No entanto, sua efeti-
vidade não é homogênea pois depende da institucionalização de serviços protetivos nas localidades.
“O pessoal é político”: lacunas e horizontes da revolução de gênero 225
apenas quando a violência atingiu seu ápice e não há quase nenhuma chance de
reabilitação. O foco da prevenção é um dos temas menos discutidos na região, o
que demandaria a desnaturalização de modelos familiares e hierarquias em que
se baseiam, por valores tradicionais subjacentes, muitas formas de violência.
Ações de sensibilização quanto à violência diária produzem efeitos no longo
prazo, o que evidencia mais uma vez a urgência de iniciar medidas educativas e
empreender esforços para transformar a socialização de gênero. Campanhas in-
ternacionais, como a Cidades Seguras para as Mulheres (Cf. nota 3), lembram a
importância de iluminação nas ruas e transporte público com espaços exclusi-
vos para as mulheres (as quais relataram na pesquisa que as situações em que
sentem mais medo de serem assediadas é andar nas ruas, em especial depois
que escurece, e no transporte público) e enfatizam, sobretudo, que educação é
essencial para mudar a cultura – uma ideia tão básica mas que precisa ser insis-
tentemente repetida num contexto político de repressão ao debate de gênero
(além de político em geral) nas escolas.
A criminalização da violência contra as mulheres foi um passo crucial para
romper a tolerância a situações cotidianas de desrespeito aos direitos huma-
nos das mulheres, ainda que muito reste por fazer para problematizar as rela-
ções de poder na vida privada, aprofundando a compreensão de que “o pessoal
é político”.
8
A Lei de 1995 estabelecia um mínimo de 20% de candidaturas de mulheres, válido na eleição de
1996. Já a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, definiu um mínimo de 30% para cada sexo, mas
ampliou as vagas de 120% para 150% das cadeiras em disputa. Há ainda chances de se dar passos, ain-
da que tímidos, para além das cotas quanto ao número de candidatas, pois uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC 98), já aprovada no Senado, está em tramitação na Câmara, propondo reserva de
vagas para as mulheres nos parlamentos, garantindo, sucessivamente a cada eleição 10%, 12% até
chegar 16% dos assentos nos Legislativos municipais, estaduais e federal, exceto no Senado.
228 Nathalie Reis Itaboraí
das mulheres serem as principais cuidadoras tem enormes impactos não apenas
sobre a estrutura do mercado de trabalho, mas também do poder político.
Ao comentar como nos países nórdicos somam-se avanços no trabalho femi-
nino, na representação política e na divisão do trabalho doméstico e de cuidado,
Mateo-Diaz (2006) discute a relação das políticas de cotas com outros avanços
na equidade de gênero. Ela se indaga se as cotas são causa ou consequência? As
mudanças culturais e avanços econômicos das mulheres ajudaram o seu avanço
na política, ou ocorre o inverso? Ambos devem ser verdade. A ascensão quanto
ao status da mulher na sociedade deve facilitar o acesso à política, bem como
a maior presença feminina no processo decisório deve promover uma socie-
dade com menos desigualdade de gênero em outras áreas, como a econômica
(MATEO-DIAZ, 2006, p. 108).
As mudanças sociais têm causalidade e dinâmica complexas (SZTOMPKA,
1998). Justamente porque as transformações nas relações de gênero não ocor-
rem nas diferentes esferas simultaneamente, é papel das políticas públicas bus-
car corrigir tais assincronias, favorecendo mudanças que se retroalimentem em
direção a maior igualdade social e de gênero. Fazer valer o slogan “o pessoal é
político” significa promover uma revolução de gênero que articule público e pri-
vado, disseminando seus benefícios para mulheres e homens, de todas as classes
e cores. As desigualdades de gênero impõem divisões que cerceiam as oportuni-
dades e potencialidades de homens e mulheres – em todas suas interseciona-
lidades e desigualdades específicas derivadas da cor, classe ou identidades se-
xuais e de gênero –, gerando situações de injustiça social e não reconhecimento,
e também subaproveitamento de capacidades (como a evidente ineficiência da
discriminação das mulheres no mercado de trabalho, sendo elas justamente hoje
mais qualificadas que os homens) e perdas de experiências significativas (como
no afastamento dos homens das esferas do cuidar e seus ganhos existenciais e
afetivos). Como sugere Nélida Piñon (1973) através de um de seus delicados e in-
cisivos contos, há importantes transformações sociais e pessoais a serem “colhi-
das” da transposição das divisões de gênero, entre público e privado.
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